Conceito de desconsideração:
Segundo o art. 1024 do Código Civil: “os bens particulares dos sócios não podem ser
executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais”.
Esse artigo consagra o que André Santa Cruz Ramos chama de “princípio da autonomia
patrimonial das pessoas jurídicas”.
Ex: dois sócios, planejando dar um golpe na praça, “zeram” o caixa da sociedade, isto é,
colocam todos os bens da empresa em seus nomes. Dessa forma, quando os credores forem
procurar patrimônio possível de penhora, nada encontrarão.
Requisitos legais:
Quanto aos requisitos, duas teorias se destacam na doutrina brasileira:
Desconsideração Inversa:
O Enunciado n. 283 CJF/STJ esclarece que: “É cabível a desconsideração da personalidade
jurídica denominada inversa para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica
para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros”.
O exemplo mais comum utilizado pela doutrina é o caso em que um marido, sócio de uma
empresa, sabendo que em virtude do divórcio terá que partilhar seus bens com o cônjuge,
decide esconder seu patrimônio no nome da empresa.
Note que, nesse caso, o sócio esconde seus bens de credores pessoais e não dos credores da
empresa.
Vale destacar que essa modalidade de desconsideração é admitida, inclusive, pelo STJ,
confira:
“O art. 50, CC, sob a ótica de uma interpretação teleológica, legitima a inferência de ser
possível a teoria da desconsideração da personalidade em sua modalidade inversa, que
encontra justificativa nos princípios éticos e jurídicos intrínsecos à própria “disregard
doctrine”, que vedam o abuso de direito e a fraude contra credores” (Informativo 444 –
REsp n. 948.117/MS).
Desconsideração Indireta:
Nesta modalidade de desconsideração da personalidade jurídica existe a figura de uma
empresa controladora cometendo fraudes e abusos por meio de outra empresa que figura
como controlada ou coligada (art. 1097- 1.101, CC).
Desconsideração Expansiva:
Rafael Mônaco, pioneiro desta nomenclatura em nosso ordenamento jurídico, explica que a
desconsideração expansiva tem a finalidade de atingir o patrimônio do sócio oculto de
determinada sociedade.
Aqui, o individuo se esconde atrás de um terceiro (“laranja”) para não ser responsabilizado
por eventual inadimplemento de qualquer obrigação da sociedade. Dessa forma, a
responsabilidade por atos fraudulentos e ilegais recairia sobre essa terceira pessoa e não
sobre o sócio oculto.
Quem tiver interesse, vale a leitura do Informativo 732/STF na parte das transcrições, pois
há um julgado citando exatamente essa espécie.
Desconsideração x Despersonalização
Esses conceitos não podem ser confundidos.
O primeiro apenas desconsidera, de forma episódica (breve), a regra pela qual a pessoa
jurídica tem existência distinta de seus membros.
Resumindo:
Desconsideração “Comum” – atinge bens da empresa que estão em nome dos sócios;
Desconsideração Inversa – atinge bens dos sócios que estão em nome da empresa;
Desconsideração Expansiva – atinge bens do sócio oculto que estão em nome de terceiro
(“laranja”);
Bons estudos!
Mila Gouveia
Fontes:
http://www.emerj.tjrj.jus.br/paginas/trabalhos_conclusao/1semestre2011/trabalhos_12011/
MarianaRochaCorrea.pdf
Manual de Direito Civil – Flávio Tartuce (volume único)