Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO ABSTRACT
O presente trabalho tem como objetivo apresentar o This study aims to present the geological-geotechnical
mapa geológico-geotécnico da Estrada de Castelha- map of the Castelhanos Road, located in Ilhabela
nos, localizada no Parque Estadual de Ilhabela, litoral State Park, on the São Paulo’s north coast, Brazil. The
norte do estado de São Paulo. A metodologia adotada methodology focused on the integrated analysis of the
focou a análise integrada dos elementos do meio físi- physical environment elements by using photogeology
co, a partir de técnicas de fotogeologia e trabalhos de techniques and field work, seeking to identify, describe
campo, buscando identificar, descrever e classificar os and classify the different landforms in the study area.
diferentes tipos de terreno na área de estudo. Basea- Based on the information about the geological context,
do nas informações sobre o contexto geológico, tipos relief and alteration profiles, the mapping resulted in 6
de relevo e perfis de alteração, o mapeamento obteve geological-geotechnical units, covering watersheds of
6 unidades geológico-geotécnicas, abrangendo as ba- the Engenho, Barrinha and Água Branca streams. From
cias hidrográficas dos ribeirões do Engenho, Barrinha e the geotechnical characterization of the properties
Água Branca. A partir da caracterização geotécnica das and characteristics of landforms, was developed the
propriedades e características do terreno, foi elaborado diagnosis of Castelhanos Road’s status, with its division
o diagnóstico de situação da Estrada de Castelhanos, into 8 sections, which were identified and described
com sua divisão em 8 trechos, onde foram identifica- the natural and anthropic factors that influence the
dos e descritos os fatores naturais e antrópicos condi- condition and traffic of the aforementioned road.
cionantes do estado de conservação e tráfego da refe- The results are presented as maps, descriptive tables,
rida estrada. Os resultados são apresentados na forma boards with photographs and geotechnical sketches,
de mapa, cartograma, quadros descritivos e pranchas and intend to assist environmental management in
com fotografias e croquis geotécnicos, e visam auxiliar Ilhabela.
a gestão ambiental em Ilhabela.
Keywords: Integrated Analysis of Physical
Palavras-chave: Análise Integrada do Meio Físico; Ma- Environment; Geologic-Geotechnical Mapping;
peamento Geológico-Geotécnico; Estrada de Castelha- Castelhanos Road, Ilhabela, São Paulo, Brazil.
nos, Ilhabela (SP).
159
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
160
Mapeamento Geológico-Geotécnico da Estrada de Castelhanos, Ilhabela (Sp)
a partir da análise integrada do terreno e com o Anjos (1982), além de Zuquette (1987), Riedel
uso de procedimentos sistemáticos de fotointer- (1988), Lollo (1995), Zuquette e Gandolfi (2004),
pretação requer uma caracterização geotécnica in entre outros.
situ dos materiais (solo, rocha e sedimentos) e das
formas (relevo e processos geológicos exógenos)
2 ETAPAS DE TRABALHO
que sejam relevantes para aplicação pretendida
(VEDOVELLO, 2008). O desenvolvimento da presente pesquisa foi
Para Vedovello e Mattos (1998), os dados de- organizado em três etapas principais. Inicialmen-
preendidos do mapeamento geológico-geotécnico
te procedeu-se a pesquisa bibliográfica com a sele-
podem ser de naturezas diversas e representam
ção da área a ser estudada, fundamentação teóri-
tanto características da área individualizada,
co-metodológica, problematização e definição dos
como propriedades dos materiais que compõem
objetivos. A etapa seguinte consistiu em técnicas
essa área. Destacam-se as significativas contribui-
de cartografia digital com obtenção e correções da
ções na área de geologia de engenharia atribuídas
base topográfica disponível, bem como a aquisi-
a Vaz (1996), na elaboração de um sistema da clas-
ção dos produtos de sensoriamento remoto utili-
sificação genética de sedimentos, solos e rochas
zados na fotointerpretação e compartimentação
em ambiente tropical. O referido autor acentua
fisiográfica da área em estudo. Por fim, os esforços
a importância de se investigarem as condições
concentraram-se na caracterização geológico-geo-
geomorfológicas para caracterização dos maciços
técnica dos diferentes terrenos pelo qual a estrada
terrosos e rochosos, visando à diferenciação entre
se estabelece, e realização do diagnóstico de situa-
os solos residuais e transportados, ressaltando a
ção da via, relacionando o estado de conservação
necessidade de se utilizar outros critérios de in-
e tráfego e os elementos do meio físico analisados
terpretação geológica, através de aproximações
integradamente.
sucessivas.
As atividades de fotogeologia focaram na
Dentre os exemplos do uso da interpretação
fotogeológica, Soares e Fiori (1976) destacam o uso avaliação geotécnica preliminar da área de estu-
em mapeamentos geológicos e geologia de enge- do, a partir de execução de atividades sistemati-
nharia, como estudos para implantação de obras zadas de fotoleitura, fotoanálise, fotointerpreta-
de engenharia, visando à avaliação de potenciali- ção e definição dos compartimentos fisiográficos.
dades e limitações do meio físico e algumas pro- A fase de fotoleitura corresponde à identificação
priedades do terreno (estanqueidade, espessura das feições de drenagem e relevo, com a utilização
do solo, exposição de rochas duras, capacidade de de fotografias aéreas, imagens de satélite e outros
suporte, alterabilidade e mobilidade de massa). produtos de sensoriamento remoto.
A escolha da forma de obtenção dos dados Com a utilização dos pares estereoscópicos,
geotécnicos depende do tipo e classes dos atribu- registraram-se os elementos do terreno, dando
tos analisados, da viabilidade ou não de aquisição origem ao mapeamento das feições fisiográfi-
de informação in situ e da precisão necessária às cas da área estudada, possibilitando a compar-
avaliações dos produtos previstos, em função da timentação fisiográfica do relevo e a caracteri-
escala de trabalho. zação geotécnica inicial. As propriedades e os
Segundo Zaine (2011), a obtenção de infor- comportamentos fisiográficos dessas unidades
mações geológico-geotécnicas de uma determi- foram determinados conforme a interpretação
nada área pode ser feita de forma eficaz a partir das informações e dos atributos analisados, com
de técnicas de fotogeologia (leitura, análise e in- a realização de algumas inferências geotécnicas,
terpretação de fotografias aéreas), efetuando-se tomando como base Zaine (2011).
correlações entre as propriedades texturais da A fotointerpretação das propriedades e carac-
foto e informações de interesse geotécnico, de- terísticas do relevo auxiliou na determinação de
finida como inferência geotécnica. Tais correla- compartimentos fisiográficos, cujos limites foram
ções foram debatidas em inúmeros trabalhos, so- definidos pela identificação das linhas de ruptura
bressaindo-se Soares e Fiori (1976) e Veneziani e de declive (limites nítidos), níveis de dissecação
161
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
162
Mapeamento Geológico-Geotécnico da Estrada de Castelhanos, Ilhabela (Sp)
Quadro 2 – Critérios para classificação da susceptibilidade aos processos geológicos, com base na análise e inter-
pretação fotogeológica.
163
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
164
Mapeamento Geológico-Geotécnico da Estrada de Castelhanos, Ilhabela (Sp)
Prancha 1 – Sedimentos Quaternários em Planícies Flúvio-Marinhas. Foto 1: Estrada junto ao Ribeirão do Engenho. Foto 2:
Estrada sobre a praia de Castelhanos. Foto 3: Seixos e areias inconsolidadas. Foto 4: Praia de Castelhanos
Prancha 2 – Depósito de Talus em Base de Encostas e Fundo de Vales. Foto 5: Solo coluvionar avermelhado com textura argi-
losa. Foto 6: Blocos rochosos em matriz argilosa Foto 7: Escorregamento em corpo de talus
165
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Prancha 3 – Rochas Granito-Gnáissicas em Relevo de Morros. Foto 8: Cicatriz de escorregamento superficial. Foto 9: Solo
saprolítico siltoarenoso. Foto 10: Cicatriz de escorregamento em horizonte C. Foto 11: Erosão linear
Prancha 4 – Rochas Granito-Gnáissicas em Encostas em Relevo Montanhoso. Foto 12: Cachoeira sobre dique de rocha alca-
lina. Foto 13: Solo coluvionar vermelho-amarelado. Foto 14: Solo saprolítico com estruturas reliquiares preservadas
166
Mapeamento Geológico-Geotécnico da Estrada de Castelhanos, Ilhabela (Sp)
Prancha 5 – Rochas Granito-Gnáissicas em Topos Restritos em Relevo Montanhoso. Foto 15: Solo saprolítico siltoare-
noso. Foto 16: Rocha granítica e dique alcalino. Foto 17: Solo saprolítico rico e fragmentos rochosos. Foto 18: Colúvio
sobre solo saprolítico
Prancha 6 – Rochas Alcalinas em Relevo Montanhoso. Foto 19: Panorâmica do relevo típico de rochas alcalinas (Pico de
São Sebastião). Foto 20: Bloco de rocha alcalina
167
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
168
A Geoestatística na Espacialização do Coeficiente de Permeabilidade em Solos
Unidade III:
• Baixa e meia-encosta de perfis côncavo e retilí-
Estrada em bom estado conservação devido à • Rastejo;
neos;
1 presença de revestimento primário e sistema
• Declividades entre 5 e 30%;
(2,39 km) de drenagem adequados e seção transversal
• Solos saprolíticos amarelado e vermelho-amare- • Escorregamento.
bem executada.
lado com textura silto-argilosa, material coluvio-
nar argiloso e fragmentos rochosos.
Unidade IV:
• Baixa-encosta de perfil retilíneo;
• Erosão linear;
• Declividades entre 15 e 30%;
2 • Rastejo;
• Solo saprolítico com textura silto-argilosa e • Rochas aflorantes
(2,08 km) • Escorregamento;
estruturas reliquiares, rocha granito-gnáissica
• Rolamento de blocos.
alterada, diques alcalinos e material coluvionar
argiloso.
Unidade IV / V:
• Seção transversal com irregularidades;
• Meia e alta-encosta de perfil côncavo-retilíneo e
• Sistema de drenagem inadequado;
topos rochosos em forma de crista; • Erosão linear;
3 • Ausência de estruturas de travessia sobre
• Declividades acima de 30%; • Escorregamento;
(4,28 km) os cursos d’água;
• Colúvio inexistente a pouco espesso sobre solo • Queda de blocos.
• Rochas aflorantes;
saprolítico amarelado, rocha granito-gnáissica
• Buracos (sulcos e ravinas).
alterada e diques alcalinos.
Unidade IV:
• Sobre divisor de água em topo arredondado; • Seção transversal mal executada; • Erosão linear (área
5 • Declividades entre 5 e 30%; • Sistema de drenagem inadequado; de dispersão de
(1,01 km) • Colúvio pouco espesso a inexistente, solo sapro- • Rochas aflorantes; água);
lítico com textura silto-argilosa e rocha granito- • Buracos (sulcos e ravinas). • Rastejo.
-gnáissica alterada.
169
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
170
A Geoestatística na Espacialização do Coeficiente de Permeabilidade em Solos
de escalas maiores visando o detalhamento dos 1995. 2 v. Tese (Doutorado em Geotecnia) – Esco-
trechos problemáticos, mais susceptíveis aos pro- la de Engenharia de São Carlos, Universidade de
cessos geológicos, além de estudos dirigidos e São Paulo, São Carlos, 1995.
ensaios pontuais, os quais não foram elaborados
no âmbito desta pesquisa. RIEDEL, P.S. Estudo das Coberturas de Alteração de
Parte do Centro Leste Paulista Através de Dados de
Sensoriamento Remoto. Dissertação (Mestrado em
Agradecimentos Sensoriamento Remoto) - Instituto Nacional de
Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoa- Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, 1988.
mento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bol-
ROSS, J.L.S. Análise e sínteses na abordagem geográ-
sa concedida durante o período de mestrado, ao Parque
fica da pesquisa para o planejamento ambiental. Rio
Estadual de Ilhabela e Prefeitura Municipal de Ilhabe-
Claro, v. 9, n.1, p.65-75, 1995.
la, pela relevante colaboração ao longo de toda pesquisa.
SOARES, P.C. & FIORI, A.P. Lógica e sistemáti-
REFERÊNCIAS ca na análise e interpretação de fotografias aéreas
em geologia. Notícia Geomorfológica, v. 16, n. 32,
ALMEIDA, F. F. M. Fundamentos geológicos do p. 71–104, 1976.
relevo paulista. Boletim Instituto Geográfico e Geoló-
gico, São Paulo, v. 41, p. 167-263, 1964. VAZ, L.F. Classificação genética dos solos e dos
horizontes de alteração de rocha em regiões tropi-
ALMEIDA, F.F.M. The system of continental rifts cais. Solos e Rochas, São Paulo, 19, (2): p. 117-136,
bordering the Santos Basin, Brazil. Anais da Acade- 1996.
mia Brasileira de Ciências, v. 48, p. 15–26, 1976.
VENEZIANI, P.; ANJOS, C. E. Metodologia de in-
CENDERO, A. Mapping and evaluation of costal ar- terpretação de dados de sensoriamento remoto e aplica-
eas for planning. Ocean & Shoreline Management, ções em geologia. São José dos Campos: INPE, 1982.
v. 12, p. 427-462. Holanda, 1989.
VEDOVELLO, R. Zoneamento geotécnicos por sen-
FONTANA, C.R.; LIMA, W.P.; FERRAZ, S.R. soriamento remoto, para estudos de planejamento do
de B., Avaliação da Remoção de Sedimentos meio físico - aplicação em expansão urbana. Disserta-
pela Operação de Nivelamento de Estradas Flo- ção (Mestrado em Sensoriamento Remoto) - Insti-
restais. In: Scientia Forestalis, n. 76, p. 103 - 109. tuto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos
Piracicaba, 2007. Campos, SP, 1993.
GRANT, K. The PUCE Programme for terrain VEDOVELLO, R. Zoneamento geotécnicos por sen-
calculation for engineering purposes. Part 2. pro- soriamento remoto, para estudos de planejamento do
cedure for terrain classification. Victoria: CSIRO meio físico - aplicação em expansão urbana. Disserta-
– Division of Applied Geomechanics, Technical ção (Mestrado em Sensoriamento Remoto) - Insti-
Paper, n. 19, 1974. tuto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos
Campos, SP, 1993.
IAGE COMISSION ON ENGINEERING GEO-
LOGICAL MAPPAING; UNESCO. Guide pour VEDOVELLO, R. Análise Comparativa da Técni-
la preparation dês cartes géotechiniques. Paris: Les ca de Compartimentação Fisiográfica de Terrenos,
Press de I’Unesco, 1976. por Sensoriamento Remoto e com a Obtenção de
Unidades Básicas de Compartimentação (UBCs),
LOLLO, J. A. O uso da técnica de avaliação do terreno em Três Diferentes Regiões do Estado de São Paulo.
no processo de elaboração do mapeamento geotécnico: Ipojuca, PE. In: 12º CBGE – Congresso Brasileiro de
sistematização e aplicação na quadrícula Campinas. Geologia de Engenharia e Ambiental, Ipocuca, PE,
171
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
172