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88 PHUP MoMICHAEL s ¢ alimentares, Uma economia moral global lecida pela adogio na ONU de uma Convensio Internacional dos Direitos dos Camponeses, atualmente sub judice (Edelman; James, 2011), Conclusao, Este capitulo esbogou os pi :ntada por finangas internacionais eregras multilaterais. A esta- idade de cada regime dependia de varias combinagées de coercio econsentimento, como requerido por determinadas combinagées de acumulagio na provisio de alimentos de baixo custo, Sob oregime alimentar corporativo, oa jjungiode grios do Atlantico Nortecom frutas, vege cdo Sul em uma divisio internacional de trabalho agricola coordenada por cadeias corporativasde abastecimento transnacional, comerciais regidas pela International Financial Institut ticas de ajustamento estrutural e protocolos da OMC. Com 0 efeito combinado de prategdes & propriedade intelectual, do agronegécio subsidiado e centralizado, além de padres de qualidade privados para «a baixo custo vivenciam migragdo e espoliagio, exacerbando a fome ‘mundial. E essa contradicao fundamental, em um regime alimentar que define o regime alimentar corporativo. A medida .sio desse regime pelo movimento de soberania ali- ragio dos debates referentes& seguranga alimentar na ‘desenrola ~indicando uma ctise de alerta de ise terminal de sustentabilidade. 4 REGIMES ALIMENTARES E ‘A QUESTAO AGRARIA ‘A questo agritia € central para os estudos agrarios. Na virada do século XX, revoluicionaios urbanoscolocaram esse tema como ques- tio politica em lealdadedo jinato europeu, Uma preocupagio jimediata era até que ponto poderiam fazer cerodir a propriedade rar ‘contribuiria para ‘uma alianga entre trabalhadores urbanos e rurais. Essa perspectiva tornou-se, desde entio, sinénimo de andlise das transformaghes de classe no campo, do ponto de vista da capitalizagio da terra Este capitulo qualifica .gem a questdo agréria a0 das lentes do regime al olhar amplia e aprofunda as, es intrinsecas questo agréria, demonstrando queseu enfoque centrado no capital, desconsidera a ecologia ¢ também os tores/camponeses como temas histéricos. Ao mesmo tempo, ias lentes do regime aimentar ajustam ofoco paraincorporar a atividade politico-ecoligica e de produtores. ‘No final do século XIX, o regime alimentar e a questo agraria se ligavam por relagies globais de valor. Assim, o foco do regime alimentar em estabelecer no Novo Mundo suprimentos alimentares provenientes do exterior, com o intuitode reduzir custostrabalhistas ina Europa, era tanto uma consequéncia quanto um fator gerador das 20 enue neice REGIMES ALIMENTARESEQUESTOESAGRARAS 91 relagGes da terra no cenario europeu. Quando os gros inundaram os (Akra-Lodhi; Kay, 2009; Bernstein, 2010), sugerindo que grande ‘mercados europeus no final do século XIX, proprietarios de terras, parte do pensamento sobre o tema é regido pela necesidade de re- dads agrarias da atualidade com um conjunto de sricas do século XIX. agricultores capitalistas e camponeses, sem distingao, enfrentaram suma queda de pregos nos produtos agricolas. A contengio imposta aos agricultores europeus incentivou a capi agricola, transformando a propriedade fundidria de acordo com 0 modelo capitalista e desestruturando as classes sobreviventes de proprietirios de terras.e camponeses. Os contomnosda questioagraria foram, portanto, modelados conforme as relagées de valor do regime alimentar, com consequéncias globais (Araghi, 2003). que comecou como uma questo de transformacio de classes ‘mudanga agréria, mas sem um: no interior da Europa foi, desde entao, estendido para todo o mundo Onde a ecologiaé inserida, a tendéncia tem si cumulativa de regimes a : a perspectiva de barreiras biofisicas ao capital a serem superadas por vos, 0 que nao significa que foi um proces métodosde “apropriagio" como mecanizagio, fertilizantessintéticos e/ou adogio universal da agricultura industrial marca o aprofun- ce sementes transgénicas (Goodman; Sorj; Wilkinson, 1988). damento dos mercados capitalistas globais, com a descolonizacao narrativa, a movimentagio de capital impde o privilégio an cstimulando a expansao das tecnologias de revolugao verde, seguida detrimento da anilise das condigBes ecologicas. Em outras palavras, a ‘por um regime comercial fundamentado na dependéncia alimentar e discussio sobre see em que medida o capital écapaz de provocar uma ‘na agroexportagio especializada do Sul, marginalizando consequen- “teal subordinagao” do trabalho agricola e dos processos biolégicos .gricultura industrial apoiada por direciona a versiocléssica da questaoagrétia, Mas essa formulagéo—& cdo agronegécioé reproduzida por métodos de ide que a questio agréria deve ser resolvida pelo capital ~ permanece fu a sustentabilida- ‘unilateral. Na pritica, reproduz uma suposigdo modernista sobre a de ecoldgica de longo prazo pelos ganhos financeiros de curto prazo autonomia dos processos sociais em relacio a sua base ecoldice. (dominio de valor). © dominio de valor pelo regime alimentar pro- ‘Uma reformulagio do tema da questo agréria na atualidade ‘voca graves consequéncias ecolégicas que exigem uma reformulacdo poderia muito bem invocar uma questio ecolégica, articulada no da questo agraria. pelos analistas ou os que comandam a agroindkstra, m giram acompanhadas por uma variedade de relacdes da clas identficadas no sécula XTX, renovando uma economia logia politica correspondente. por meio da dinami ecolégica” refere-se nao apenas @ degradacao e/ou restauracio do A reformulagao da questao agraria? ccossistema, mas também a questées de ecologia humana, incluindo ‘ superpopulagao urbana, esbocada, por exemplo, na reconceitwali- A reformulagio baseia-se em uma tentativa inicial de situar a zag de Araghi da questdo agraria em lugar do “grande cercamento questo agréria em nivel globsl (McMichael, 1997), enfocando como slobal de nossos tempos” (2000; veja também Menon, 2010). Ale adinamica do regime alimentar ea questo agrétia so mutuamente isso, ha preocupagées crescentes sobre a “biologia da populagio condicionantes 20 longo do tempo e da espaco. Essa formulago re- que Friedmann caraeteriza como uma sindrome corre crucialmente as andlises mais recentes sobre a questo agraria 92 PHILP NICMICHAEL resultante de operagoes industriais de agricultura e criagéo de gado, {que multiplicam niio somente o ntimero de: mas tam bem de seres favorecidos nos mercados: dos muitos serese relacionamentosenv’ -organizados “Ambas as proposigdes salientam as consequéncias da agroindus- trializagao e da espoliacio rural ¢ evocam variantes de movimentos desoberania alimentar eda terra que conectam as questdes ecol6gicas sobre a reparagao da ruptura metabélica (Schneider; McMichael, 2010; Borras; Franco, 2012). “Aaqui, areformulasio da questo agréria significa transferirofoco nasubordinasiode propriedades pelo capital paraa subordinasao de teftas, onde o primeiro é precondigio do segundo, Istoé, de um lado, estdo as esolugies de classe sobre. terra; de outro, como elas afetarn a terra. Aprofundando o assunto, quando. capital é nosso ponto de partida metodolégico, os habitantes da zona rural sio representa- dos necessariamente em termos unidimensionais como “fronteira’” ddo capital (ou barreira a ser superada). Embora essa representagdo aria moderna em que capital éo vetor dominante, provavelmente, sua resistencia despoliasio. E fo se refere simplesmente & perda de perda de conhecimento sobre cultivar a terra como le reprodutiva. Por conseguinte, uma questo agréria fe analisada historicamente) refere-se, meramente, a "A reformulacao permiteidentificar como uma proposi pode ser reconsiderada de modo asalientaro significadoda - ai ltor/camponés atualmente: ‘em torno de questées sobre, Gireitosa terra eagriculturaecelgica. Emboraesses temas possam ter sido marginalizados durante século XX, esto convergindoagora na nesse periodo, oregime slimentar de modo geral concentrou suas relagdes contraditérias, ‘expressas agora em uma crise agraria global e uma mobilizagao rural, REGIMES AUMENTARES EQUESTOES AGRARIAS 93 itos terra esua administragio, Ha duas questoes © soberania alimentar € urn movimento contra to do capital no atual regime alimentar corporativo. Sua oposicdo & agroindustrializagao cristaliza 0 processo da degradagio socioecolbgica de longo prazo e implica um consenso cada vez maior «em relagio ao papel restaurador da agroecologia neste momento his- ‘6rico- mundial de profunda incerteza ambiental. ‘A questo agraria no regime alimentar Na virada do século XX, a questio agrria referia-se a politica de camponesa ‘io. Tratava-se, em primeiro lugar, de uma dimensio significativada politica nacional, dada a crescente emancipagio rural. William Rose: berry sugeriu quea questi agréria foi formulada como uma questo politica em uma resposta primordialmente econdmica—em outras palavras,arelagéo docamy ‘coma politicanacional eraavaliada Jocalizagao de classe variével (1993, p.336). Nos termos de Lenin ‘aidentidade politica poderia ser extrapolada se ocampesinato ruindo-se” ou, de ato, “desintegrando-se”, Sobre essas config de classe transitérias, Karl Kautsky observou: CO que define se um agricultoresté preparado para se juntaraluta doproletariadonio€o fato deeleestar passandofome ou endividado, :mas se ele vai ao mercado como um ventledor de forga de trabalho ou como um vendedordealimentos.A fomee oendividamentopor sisé nao criam uma comunidade de interesses com o proletar ‘um todo; na ealidade, podem agugar acontradigo existente entre 0 campontseo proletariado depois da fome saciada e das dividas pagas, ‘caso 0 prego dos alimentos venha a subir e impedir que os trabalha- dores se beneficiem de produtos acessiveis. (Kautsky, 1988, p.317)

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