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Precificação

de Carbono na
Indústria Brasileira
uma iniciativa estratégica
crÉditos

Copyright: Conselho Empresarial Brasileiro para


o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) 2018

PESQUISA E CONTEÚDO:
Ronaldo Seroa da Motta

COORDENAÇÃO:
CEBDS e CPLC

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO:


igmais comunicação integrada

CONTATO CPLC
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Índice

4 CARTA DA PRESIDENTE

5 O QUE É O CEBDS?

5 O QUE É A CPLC?

6 INTRODUÇÃO

7 POR QUE PRECIFICAR O CARBONO?

A INDÚSTRIA BRASILEIRA CONTRIBUI DE FORMA MODESTA


8
PARA EMISSÕES. POR QUE PENSAR EM CRIAR UM MERCADO DE
CARBONO AGORA?

10 COMO O CARBONO DEVE SER PRECIFICADO?

11 QUAIS SÃO AS EXPERIÊNCIAS COM OS MERCADOS DE CARBONO


NO BRASIL?

13 UMA PROPOSTA PARA O SETOR INDUSTRIAL BRASILEIRO

15 CONCLUSÃO
cArtA dA presidente
Seria possível incorporar de forma transparente No Brasil, as iniciativas mais prementes de
os impactos provocados pela emissão de debate sobre a precificação surgem do desejo
carbono na atmosfera aos custos das empresas das empresas em antever os movimentos
emissoras de forma a financiar a transição de transição para uma economia de baixo
para uma nova economia de baixo carbono? carbono. Essa liderança já foi, inclusive,
A resposta para essa pergunta traduz a nossa apontada pelo Banco Mundial, no estudo
capacidade de modificar a economia, minimizar “State and Trends of Carbon Pricing 2018”.
o impacto sobre o clima e efetivamente Essas iniciativas voluntárias permitem que a
influenciar no desenvolvimento sustentável do realocação de recursos se converta em novas
Planeta. Está passando da hora de colocarmos tecnologias, além de permitir que as empresas
em prática no país um mecanismo adequado aprimorem seus processos de gestão de riscos
de precificação de carbono. financeiros relacionados à mudança do clima e
ajudem a identificar riscos e oportunidades de
Iniciativas nesse sentido se espraiam pelo
geração de receitas.
mundo todo. Em 2018, já são 42 jurisdições
nacionais e 25 subnacionais, cobrindo 25% Neste estudo “Precificação do carbono
das emissões mundiais, que colocam em na indústria: uma iniciativa estratégica”,
prática algum modelo de precificação, seja a o Conselho Empresarial Brasileiro para o
tributação direta ou mercado de carbono, ou Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), com
um híbrido que mescle os dois. Para falar de apoio da Carbon Pricing Leadership Coalition
nossos vizinhos latino-americanos, Chile, México (CPLC), aponta os caminhos para a implantação
e Colômbia já precificam o carbono de setores de um mercado de carbono no País e traz uma
importantes do ponto de vista das emissões proposta para o setor industrial brasileiro.
de gases do efeito estufa. Falando em cifras, só
Estamos em um labirinto e precisamos, com
em 2017, o Chile arrecadou US$ 193 milhões em
urgência, descobrir o caminho para cumprir
impostos verdes de 94 empreendimentos.
a meta de contenção da temperatura global
É fundamental que o Brasil, com todo seu prevista no Acordo de Paris e, como efeito,
capital natural, esteja na vanguarda do garantir que as próximas gerações vivam em
tema. Possuímos um enorme potencial um planeta mais saudável.
para nos destacarmos no contexto de uma
Boa leitura.
economia de baixo carbono, entretanto,
é necessário defendermos a valoração do
carbono mundialmente, e principalmente
criar os mecanismos legais locais para nos Marina Grossi
introduzirmos neste mercado ainda em Presidente do CEBDS
formação e não ficarmos para trás.

4
o que É o cebds? o que É A cplc?
O CEBDS é uma associação civil sem fins A Carbon Pricing Leadership Coalition
lucrativos que promove o desenvolvimento reúne líderes do governo, do setor privado,
sustentável nas empresas que atuam no Brasil, da academia e da sociedade civil para
por meio da articulação junto aos governos e a compartilhar experiências de trabalho com
sociedade civil, além de divulgar os conceitos precificação de carbono e expandir a base
e práticas mais atuais do tema. A instituição de evidências para os sistemas e políticas de
foi fundada em 1997 por um grupo de grandes precificação de carbono mais eficazes.
empresários brasileiros atento às mudanças e
A CPLC é uma parceria voluntária de 32
oportunidades que a sustentabilidade trazia,
governos nacionais e subnacionais, mais de
principalmente a partir da Rio 92.
150 empresas de diversos setores e regiões,
Hoje reúne cerca de 60 dos maiores grupos e 67 parceiros estratégicos representando
empresariais do país, que representam cerca organizações da sociedade civil, ONGs e
de 40% do PIB e são responsáveis por mais de instituições acadêmicas que concordam em
1 milhão de empregos diretos. Representa no avançar a agenda de precificação de carbono
Brasil da rede do World Business Council for trabalhando conjuntamente em direção
Sustainable Development (WBCSD), que conta ao objetivo de longo prazo de um preço
com quase 60 conselhos nacionais e regionais de carbono aplicado em toda a economia
em 36 países, atuando em 22 setores industriais, global por meio de: fortalecimento das
além de contar com 200 grupos empresariais políticas de precificação de carbono para
que atuam em todos os continentes. redirecionar investimentos proporcionais à
escala do desafio climático; antecipando e
fortalecendo a implementação das políticas
existentes de precificação de carbono para
melhor gerenciar riscos e oportunidades de
investimento; e intensificar a cooperação para
compartilhar informações, conhecimentos e
lições aprendidas sobre o desenvolvimento e a
implementação da precificação de carbono por
meio de várias plataformas de “prontidão”

Precificação de Carbono na Indústria Brasileira: Uma Iniciativa Estratégica 5


introduÇão

Este texto executivo apresenta uma proposta tecnologias relacionadas ao clima. Esperam
para criação de um mercado de carbono pioneiro ainda que isso gere uma certa flexibilidade na
no setor industrial brasileiro. A construção forma como gerenciam suas emissões e, ao
dessa proposta teve como ponto de partida mesmo tempo, apoiam sua competitividade.
as discussões ocorridas em diversos eventos
Os parceiros da indústria brasileira buscam
organizados pelo Conselho Empresarial Brasileiro
os seguintes elementos em um esquema de
para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)
comércio de emissões:
sobre o preço do carbono, e consultas diretas
com representantes da indústria dos setores de • Metas compatíveis com a participação do
aço, cimento, finanças, e petróleo e gás. setor nas emissões totais;
As consultas com a indústria foram realizadas • Medidas para proteger a competitividade
em resposta a uma Carta Aberta de líderes industrial, por exemplo, através da alocação
corporativos datada de outubro de 2017, que gratuita de direitos de emissão e do uso de
solicitava a criação de um mercado de carbono créditos de baixo custo do setor florestal; e
no Brasil para assegurar uma transição suave para
uma economia de baixa emissão de carbono.1 Os • Uma estrutura de governança para
signatários representaram diversos de setores, tais participação com regras e mecanismos
como eletricidade, papel e celulose, transporte, estáveis e transparentes.
saúde, mineração e entre outros.
Para garantir que esses elementos sejam
Ao preparar este relatório, o CEBDS baseou- incluídos no esquema de comércio de
se nas informações obtidas nos eventos que emissões que desejam ver estabelecido, os
organizou, as quais, por sua vez, foram apoiadas parceiros da indústria acreditam que o projeto
pela literatura econômica e experiências deve ser implementado em etapas. Uma
internacionais.2 O CEBDS também levou em abordagem em etapas facilitaria o processo
conta as discussões relevantes em andamento de aprendizagem para os participantes
perante o governo e a sociedade civil, bem do setor público e privado envolvidos na
como estudos atuais que analisam as opções implementação de um mercado de carbono.
de precificação de carbono no Brasil.3 Também apoiaria o desenvolvimento de
diferentes instituições necessárias para operar
A indústria brasileira está ansiosa pelo o mercado; facilitar ajustes às regras contratuais
estabelecimento de um mercado de carbono e financeiras para apoiar a negociação; e
por várias razões. As empresas esperam que esse auxiliar no teste de instrumentos de controle
mercado possibilite a transição para um futuro de preços, estabelecimento de limite e política
com baixa emissão de carbono, oferecendo de competitividade. Essas questões são
incentivos que impulsionem a inovação em apresentadas detalhadamente a seguir.

1 O setor privado apoia a precificação de carbono no Brasil: Carta Aberta”, http://cebds.org/wp-content/uploads/2018/04/


CARTA-CEBDS_ING_20-04.pdf.
2 Uma análise mais detalhada das questões técnicas discutidas aqui pode ser encontrada no CEBDS, Precification de
Carbono: (Rio de Janeiro: CEBDS, 2017).
3 Esses estudos incluem o projeto Projeto PMR Brasil, que é coordenado pelo Ministério da Fazenda e busca explorar a
viabilidade e as oportunidades de incluir o preço de emissão (via mercado tributário e / ou de carbono) no pacote de
instrumentos para implementação do Política Nacional sobre Mudança do Clima no período pós-2020 .Eles também incluem
as atas das oficinas do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) sobre o mercado de carbono brasileiro e os preços.

6
por que precificAr o cArbono?

As políticas climáticas que envolvem uma meta Em outras palavras, os instrumentos de


de redução de Gases de Efeito Estufa (GEE) preço no agregado permitem alcançar a
devem adotar instrumentos de controle ou mesma meta de controle de emissões que os
instrumentos de precificação. Instrumentos instrumentos de controle, mas por um custo
de controle especificam a emissão ou normas menor de mitigação social para os setores
tecnológicas comuns a todos os emissores de regulados, assim diminuindo também a
uma mesma fonte. Instrumentos de preços competitividade e os efeitos macroeconômicos.
influenciam na decisão entre não emitir ou Além disso, a precificação gera oportunidades
pagar para emitir aos próprios emissores. de negócios para mitigação e inovação
tecnológica, o que reduz os custos de
Os instrumentos de precificação criam
mitigação no médio prazo.
oportunidades de minimização de custos,
dando aos agentes econômicos a liberdade Em suma, se há um compromisso de reduzir as
de escolher tecnologias e tomar a decisão de emissões de GEE, geralmente é mais rentável
pagar o preço pela emissão, de acordo com atingir essa meta com os preços do que com os
seus custos de controle e metas de produção instrumentos de controle.
e expansão. Desta forma, os instrumentos de
precificação oferecem uma abordagem de
menor custo para reduzir as emissões.

Precificação de Carbono na Indústria Brasileira: Uma Iniciativa Estratégica 7


A indústria brasileira contribui
de forma modesta para emissões.
Por que pensar em criar um mercado
de carbono agora?

Da Política Nacional sobre Mudança do Clima Assim, há também uma percepção crescente
ao Acordo de Paris, já existem metas nacionais de que ter compromissos setoriais associados
de redução de emissões. No Brasil, onde as à precificação pode ser estratégico para evitar
emissões de processos industriais respondem barreiras comerciais relacionadas ao clima,
por menos de 2% do total de emissões e as especialmente com a atual intensificação de
emissões de energia representam apenas disputas comerciais.
6%, o setor industrial contribui com menos
Dado que as emissões por indústria
se comparado com o de mudança do uso do
representam uma parcela relativamente
solo (LULUCF), que tem emissões muito mais
pequena em relação ao total de emissões
representativas. Assim, as metas brasileiras
do território nacional e que as emissões, em
estabelecidas na Convenção das Nações
muitos setores, já atingiram baixas intensidades
Unidas sobre Mudança do Clima podem ser
de carbono em termos internacionais, a
amplamente alcançadas pela redução das
iniciativa de mercado pioneiro da indústria
emissões de uso do solo.
busca fortalecer a participação do setor em
No entanto, já é fato que as vantagens de compromissos nacionais para reduzir as
mitigação do Brasil, baseadas em florestas e emissões de GEE.
emissões agrícolas, diminuirão, forçando o país
A precificação do carbono poderia, de fato, ser
em 2025 a começar a considerar novas metas
um componente chave da atual agenda de
para a partir de 2030, quando as emissões de
competitividade do setor industrial brasileiro.
processos industriais e energia certamente
Tanto as preferências dos consumidores,
estarão em discussão.
quanto as cadeias de suprimento, estão
Além disso, com a crescente adoção de mudando rapidamente com as crescentes
mecanismos de precificação de carbono, as tratativas relacionadas ao clima, e a indústria
metas da política climática nacional são cada precisará se adaptar a isso. Com os incentivos
vez mais traduzidas em compromissos setoriais. de longo prazo corretos, a ampla capacidade

8
acadêmica, tecnológica e financeira do Brasil investimentos em inovação para baixa emissão
poderia apoiar e oferecer acesso a opções de de carbono.
produção com boa relação custo-benefício e
O estabelecimento da precificação do carbono
baixa emissão de carbono, para se adequar
por meio de uma estratégia de negociação
às tendências de mercado em constante
alinha-se com os desenvolvimentos regionais.
mudança e reforçar a competitividade do país.
O México, a Argentina, a Colômbia e o Chile
A inclusão da precificação de carbono na já adotaram impostos sobre carbono e estão
devolutiva de mitigação do Brasil é também adotando estratégias de comércio nos níveis
importante em uma perspectiva global. Os nacional e regional. Uma vez que o Brasil tenha
principais parceiros comerciais do Brasil - sua própria estratégia de comércio, o tamanho
China, União Europeia (UE) e vários países da de seu mercado nacional e o domínio de seu
América Latina - já possuem um sistema de setor manufatureiro na região reforçarão a
Comércio de Emissões (ETS), e ao participar liderança do país na agenda comercial dentro
desse movimento, a indústria brasileira pode daquela região e nos seus arredores.
expandir sua presença nesses mercados e atrair

Precificação de Carbono na Indústria Brasileira: Uma Iniciativa Estratégica 9


como o cArbono deVe ser precificAdo?

Existem dois tipos de instrumentos de com a possibilidade de que as receitas fiscais


precificação: a tributação, ou seja, uma sobretaxa possam ser direcionadas a investimentos
sobre emissões; e um mercado com emissões não relacionados à transição climática. Em
negociáveis. Ambos são iguais em termos de muitos casos, um ETS forneceria às entidades
eficiência econômica quando não há incerteza regulamentadas maior flexibilidade e
sobre os custos de transação e mitigação. Caso ofereceria uma base justa para o envolvimento
contrário, é preferível adotar o instrumento que na transição climática.
ofereça menores custos de transação e menos
Um esquema de comércio de emissões
incerteza sobre os custos de mitigação.
requer um arranjo novo e específico, mas
Geralmente, um imposto usado pelo ponto oferece maior flexibilidade em como ele pode
de vista regulatório fiscal existente e pela gerenciar a competitividade - por exemplo,
administração fiscal terá custos administrativos através da distribuição gratuita de direitos
mais baixos do que um esquema de comércio de emissão para os setores de maior risco.
de emissões. Por outro lado, os impostos Embora parte da alocação inicial seja feita com
sobre carbono tendem a vincular os fins fiscais frequência através de leilões gerando receita
aos preços para garantir receitas estáveis e para o governo, essa abordagem ainda permite
crescentes, e essas estruturas existentes podem ajustes após essas alocações para gerar fluxos
não ser nem transparentes nem participativas. de receita entre os regulados. Além disso, os
mercados de comércio de emissões criam
Apesar da simplicidade administrativa de um
outras oportunidades de negócios por meio
imposto, as entidades reguladas geralmente
das atividades associadas ao funcionamento
preferem a estratégia de comércio de emissões.
do próprio mercado e à participação de
Essa preferência tem a ver com o desejo
instituições financeiras.
de evitar um aumento da carga tributária e

Cinquenta e uma jurisdições nacionais e subnacionais já adotaram a precificação de


carbono, incluindo alguns dos principais parceiros comerciais econômicos do Brasil.
Destas jurisdições, 25 têm abordagens de mercado e 26 têm abordagens fiscais.

No total, as duas formas de precificação cobrem 20% das emissões globais, com
um valor anual de US$ 82 bilhões - uma quantia que ressalta a importância da
reciclagem desses recursos dentro do setor. Os níveis de preço do carbono tem uma
ampla faixa de variação, ou seja, de US$ 1/tCO2e a US$139/tCO2e; mas em 49% dos
casos, os preços são inferiores a US$25/tCO2e, e em 17% dos casos, são inferiores a
US$10/tCO2e.4

4 Ver World Bank, Ecofys e Vivid Economics, 2018 State and Trends of Carbon Pricing (Washington, DC: Banco Mundial, 2018).

10
Quais são as experiências com os
mercados de carbono no Brasil?

Embora o Brasil ainda não tenha mercado de simula um sistema comercial de emissões,
carbono, teve experiências que proporcionaram contando com 23 empresas voluntárias
importantes lições sobre os mecanismos de de diversos setores da economia brasileira
mercado para controlar as emissões de gases (produção florestal, celulose e papel; serviços;
de efeito estufa. elétricos; logística; indústria de processamento;
construção civil; indústria extrativa; e gestão de
O Brasil é um dos principais participantes
água, esgoto e resíduos). Esta plataforma está
da criação e regulamentação do Clean
em operação desde 2014, com o objetivo de
Development Mechanism (CDM - Mecanismo
permitir que as empresas aprendam sobre o
de Desenvolvimento Limpo) definido no
comércio de emissões. A simulação é baseada
Protocolo de Kyoto. Ocupa o terceiro lugar
nas regras European Union ETS e no California
na provisão de créditos, com 339 atividades
Cap&Trade System.
de projeto. A Política Nacional de Mudanças
Climáticas do Brasil estabeleceu o Mercado As empresas que participam dessa plataforma
Brasileiro de Redução de Emissão (MBRE), que precisam conciliar, com o menor custo
desde 2009 tem como objetivo incentivar o possível, suas emissões com os direitos de
desenvolvimento de projetos. Embora o MDL emissão alocados. Regulamentos e parâmetros
seja apenas o comércio com outros países são revisados anualmente e as transações
com metas definidas no Protocolo de Kyoto, as são realizadas por meio da plataforma de
transações do MBRE permitiram que a bolsa negociação BVRio. Os dados de emissão da
de valores da BM&FBOVESPA desenvolvesse empresa são reais (ou seja, não simulados)
instrumentos de negócios para o mercado de e abrangem o Escopo 1 do GHG Protocol. O
carbono de forma organizada e transparente. montante de emissões simuladas é equivalente
Ele fornece uma boa base sobre como construir a nove por cento (mais de 60 milhões tCO2e)
o comércio de carbono no Brasil. das emissões brasileiras em 2014, excluindo
os de mudança no uso do solo. Os direitos
Outra experiência mais recente e relevante para
são distribuídos por meio de leilões e
um futuro mercado nacional é a Plataforma
alocação gratuita de benchmark com base
Empresas pelo Clima, uma iniciativa do Centro
em indicadores de intensidade carbônica. A
de Estudos em Sustentabilidade (GVces)
experiência das empresas participantes oferece
da Escola de Administração de Empresas
insights sobre como operar no mercado e, mais
da Fundação Getúlio Vargas, a plataforma
geralmente, sugere as seguintes conclusões:5

5 Plataforma Empresas pelo Clima, Aprendiz da Simulação do Sistema de Comércio de Emissões Propostas a partir da
Experiência Empresarial (São Paulo: EPC Iniciativa / GVCES, novembro de 2016).

Precificação de Carbono na Indústria Brasileira: Uma Iniciativa Estratégica 11


• A heterogeneidade de custos permite a O Brasil também poderia basear-se nos
minimização dos custos de controle. Assim, padrões da ABNT NBR 15948:2011 (Princípios,
quanto mais amplo for o escopo do preço, requisitos e diretrizes do mercado de carbono
menor será o custo para se atingir uma meta; voluntário para negociar reduções verificadas
de emissões), embora ajustes fossem
• A alocação de direitos de emissão
necessários, dado que o novo mercado de
deve responder pelo impacto sobre a
carbono seria compulsório, não voluntário.
competitividade das partes reguladas mais
expostas ao comércio internacional; Por fim, algumas das grandes empresas
brasileiras monitoram, relatam e verificam
• A padronização dos procedimentos de
suas emissões de GEE de forma voluntária em
monitoramento, reporte e verificação (MRV) é
plataformas como o Programa Brasileiro GHG
fundamental para a criação de um sistema de
Protocol e o CDP Climate Change, e também
informações robusto, transparente e atualizado;
há relatórios sobre os sistemas estaduais
• A aprendizagem deve ser contínua e obrigatórios gerenciados. Essa experiência com
gradual; o mercado deve evoluir em estágios o MRV será muito valiosa para os esforços de
que representem níveis crescentes de padronização dos regulamentos contábeis e de
comprometimento e deve contar cada vez relatórios do mercado de carbono brasileiro.6
mais com leilões para alocar direitos;

• Mecanismos que controlam a variabilidade


de preços são benéficos, assim como o uso de
compensações que oferecem oportunidades
de mitigação de baixo custo em setores da
economia não cobertos pelo mercado;

6 A convergência dos relatórios existentes com o mercado de carbono já está sendo analisada no Relatório sobre a
Componente de Emissões do Programa de Políticas para Mudanças Climáticas (POMuC), coordenado pelos Ministérios
das Finanças e do Meio Ambiente.

12
umA propostA pArA o setor
industriAl brAsileiro

A seguinte proposta para um mercado de do preço e das oportunidades de financiamento


carbono para o setor industrial brasileiro das reduções de emissões.
baseia-se em consultas com representantes
Por exemplo, um mercado de direitos de
do setor, bem como lições aprendidas de
emissão poderia começar com uma fase inicial
experiências internacionais e de experimentos
de cinco anos e cobrir as emissões de energia
simulados no Brasil. A proposta destaca as
e processo para usinas industriais acima de um
questões de preocupação para a indústria
determinado tamanho ou limite de emissões.
brasileira que precisarão ser consideradas
Durante essa fase, as empresas participantes
no desenho do mercado de carbono.
seriam incentivadas a se envolver, isentando-
as de quaisquer mecanismos adicionais
IMPLEMENTAÇÃO GRADUAL
de precificação de carbono que sejam
A precificação de carbono envolve desafios implementados, incluindo impostos
técnicos e institucionais e, portanto, pode se sobre carbono.
beneficiar de uma abordagem gradual. Muitos
sistemas de precificação de carbono foram PROTEGENDO A COMPETITIVIDADE
implementados em etapas e se tornaram mais EMPRESARIAL
ambiciosos ao longo do tempo - refletidos nas
A indústria brasileira tem feito esforços para
mudanças dos compromissos de redução de
melhorar sua competitividade internacional, e
emissões, do escopo das fontes reguladas, dos
muitas empresas prefeririam adotar políticas
critérios de alocação de direitos de emissão e
climáticas - e, em particular, políticas e
em outros aspectos do esquema. Experiências
medidas de precificação de carbono - que não
internacionais também mostram que o tempo
ameacem suas conquistas. Entre as sugestões
é necessário para que os participantes do
apresentadas, está um preço teto de US$10/
sistema aprendam como lidar com ciclos
tCO2 para a primeira fase, combinado com
econômicos e mudanças nas políticas setoriais.7
alocação gratuita para aqueles setores com
As partes interessadas do setor brasileiro têm maior exposição ao comércio internacional,
enfatizado que as entidades reguladas, bem altos custos de mitigação e alta intensidade
como os reguladores, devem ter a oportunidade de carbono. Permitir compensações do setor
de aprender e melhorar as operações da florestal e fornecer isenção de impostos sobre
estratégia. A implementação pode ser gradual ganhos de capital em transações comerciais de
para permitir que os participantes tenham uma emissões também poderiam ser usadas para
boa compreensão das regras, dos determinantes ajudar a conter os custos.

7 Ver World Bank, Ecofys e Vivid Economics, 2017 State and Trends of Carbon Pricing.

Precificação de Carbono na Indústria Brasileira: Uma Iniciativa Estratégica 13


BOA GOVERNANÇA

A eficácia do sistema de precificação de Para ser eficaz, o arranjo institucional que apoia
carbono depende da boa governança e, mais tal estratégia deve identificar claramente os
especificamente, do arranjo institucional mandatos de entidades públicas e privadas.
estável, com regras e procedimentos Deve ser uma agência governamental executiva
transparentes de participação. Para promover a no nível federal responsável por implementar
boa governança, o marco regulatório proposto e coordenar o mercado regulador e seus
deve ser criado por lei e estabelecer ou definir participantes, incluindo a bolsa de valores,
princípios, diretrizes gerais, fases, nomeações, agentes, operadores e entidades MRV.
escopo, a natureza legal dos direitos de
emissão e mecanismos de participação de
agentes regulados. Normas e padrões para
o registro e monitoramento de transações
e emissões também devem ser regulados,
juntamente com os padrões da MRV e uso de
derivativos financeiros.

14
conclusão

Muitas partes interessadas do setor brasileiro Para manter o momentum, os representantes


desejam desenvolver um mercado nacional da indústria precisarão permanecer proativos
de comércio de emissões. Eles reconhecem em conceituar e apoiar o desenvolvimento do
a necessidade de aproveitar o momento mercado, já que serão peças-chave em sua
gerado pela simulação do ETS, bem como implementação. Eles precisarão, portanto,
os desenvolvimentos globais atualmente em continuar engajando as partes interessadas em
curso, para garantir que eles permaneçam todo o setor para avançar no entendimento
competitivos com seus pares em outras regiões, de como podem responder dentro de suas
em um momento em que as economias próprias operações, bem como contribuir
globais estão cada vez mais integradas e para a construção do conhecimento e da
impulsionadas pelo clima. A ação está em capacidade necessários em torno do comércio
ascensão. Os representantes da indústria de emissões.
envolvidos neste estudo recomendam buscar
um diálogo com o governo federal - isto é, os
Ministérios da Fazenda; do Meio Ambiente;
e da Indústria e Comércio - para explorar
como avançar e traçar os próximos passos no
desenvolvimento da estrutura institucional e
legal do ETS.

Precificação de Carbono na Indústria Brasileira: Uma Iniciativa Estratégica 15

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