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Ao ler o seu necrológio no jornal outro dia, o pianista Marcos Resende primeiro
tratou de verificar que estava vivo, bem vivo. Em seguida gravou uma mensagem
na sua secretária eletrônica: “Hoje é 27 e eu não morri. Não posso atender
porque estou na outra linha dando a mesma explicação”. Quando li esta nota,
me lembrei de como tudo neste mundo caminha cada vez mais depressa. Em
1862, chegou aqui a notícia da morte de Gonçalves Dias.
O poeta estava a bordo do Grand Condé havia cinquenta e cinco dias. O brigue
chegou a Marselha com um morto a bordo. À falta de lazareto, o navio estava
obrigado à caceteação da quarentena. Gonçalves Dias tinha ido se tratar na
Europa e logo se concluiu que era ele o morto. A notícia chegou ao Instituto
Histórico durante uma sessão presidida por d. Pedro II. Suspensa a sessão,
começaram as homenagens ao que era tido e havido como o maior poeta do
Brasil. Suspeitar que podia ser mentira? Impossível. O imperador, em pleno
Instituto Histórico, só
hei de morrer nunca mais!” Entre exclamações, citou Horácio: “Não morrerei de
todo.” Todavia, morreu, claro. E morreu num naufrágio, vejam a coincidência.
Em 1864, trancado na sua cabine do Ville de Boulogne, à vista da costa do
Maranhão. Seu corpo não foi encontrado. Terá sido devorado pelos tubarões.
Mas o poeta, este de fato não morreu. [...]
(Adaptado de: RESENDE, Otto Lara. Bom dia para nascer. São Paulo: Cia das
Letras, 2011, p.107-8)
(B) a demora com que a notícia da suposta morte de Gonçalves Dias, no século
XIX, pôde ser contestada pelo poeta à rapidez com que o pianista Marcos
Resende, contemporâneo do cronista, pôde contestar a própria morte.
(C) a comoção com que foi recebida a notícia da suposta morte do poeta
Gonçalves Dias à indiferença com que se recebeu a notícia da morte do pianista
Marcos Resende, buscando-se esclarecê-la com um simples telefonema.
(D) a resistência do navio Grand Condé, onde Gonçalves Dias pôde permanecer
em segurança por mais de cinquenta dias, à fragilidade do Ville de Boulogne,
que levou pouco tempo para naufragar na costa do Maranhão.
(E) a banalização das notícias em seu próprio tempo, mesmo as mais trágicas,
à solenidade com que eram dadas no século XIX, muitas vezes em sessões no
Instituto Histórico, com a eventual presença do próprio Imperador.
Em defesa da dúvida
Numa época em que tantos parecem ter tanta certeza sobre tudo, vale a pena
pensar no prestígio que a dúvida já teve. Nos diálogos de Platão, seu amigo
Sócrates pulveriza a certeza absoluta de seus contendores abalando-a por meio
de sucessivas perguntas, que os acabam convencendo da fragilidade de suas
convicções. Séculos mais tarde, o filósofo Descartes ponderou que o maior
estímulo para se instituir um método de conhecimento é considerar a presença
desafiadora da dúvida, como um primeiro passo.
(B) vale-se astutamente de sua fragilidade como método para poder impor
algumas verdades definitivas.
(A) quem pulverize a certeza inabalável com que alguns afirmam seus pontos de
vista, juízos e convicções.
(C) aquele que se dispõe a se pronunciar sobre algum assunto depois de ter
aberto várias hipóteses de abordagem.
III. O foco de atenção que o cineasta faz incidir sobre as pessoas que retrata é
tão intenso e bem trabalhado que elas surgem como personagens que se
revelam para nós em toda a sua verdade.
(A) I, II e III.
Do adultério
Filosofia de borracharia
nossos estômagos, àquela altura não menos sgonfiati. O que pode a fome, em
especial na juventude: à beira de um himalaia de sofrível espaguete fumegante,
julguei ver fumaças filosóficas na sentença do tosco borracheiro. E, entre
garfadas, sob o olhar zombeteiro dos companheiros de viagem, me pus a
teorizar. Sim, camminando si sgonfia, e não apenas quando se é, nesta vida, um
pneu. Também nós, de tanto rodar, vamos aos poucos desinflando. E por aí fui,
inflado e inflamado num papo delirante. Fosse hoje, talvez tivesse dito,
infelizmente com conhecimento de causa, que a partir de determinado ponto
carecemos todos de alguma espécie de fortificante, de um novo alento para o
corpo, quem sabe para a alma. *
(B) foi tomada em sentido puramente metafórico, já que parecia não se aplicar
ao problema que os fez parar na borracharia.
(D) deu aos turistas a certeza de que se encontravam na Itália, embora eles não
atinassem com o sentido daquelas palavras.
(E) acabou propiciando uma interpretação mais abrangente, que resultou numa
teoria posteriormente levantada numa refeição.
I. A frase dita pelo borracheiro nada indiciou aos jovens turistas, que não sabiam
em que país estavam − o que só veio a se esclarecer durante a refeição
tipicamente italiana.
II. A familiaridade que um dos jovens revelou ter com o idioma italiano permitiu-
lhe deduzir da frase do borracheiro uma súmula filosófica.
(B) na expressão quase tão calvo quanto ele (1º parágrafo), qualifica o
borracheiro com um termo familiarmente aplicado a um pneu já muito gasto.
(D) na expressão num distante verão europeu (4º parágrafo), utiliza um indicador
de tempo para denotar a extensão do território percorrido.
(E) em à beira de um himalaia (4º parágrafo), deixa claro que os viajantes agora
se acercavam de uma alta cordilheira, semelhante à asiática
(A) − Com o uso os pneus estão esvaziando, problema este que seria fácil
resolver.
(B) − Os pneus com o uso tinham esvaziado, mas seria fácil resolver o problema.
(D) − Com o uso os pneus terão se esvaziado, seria fácil resolver esse problema.
(E) − Os pneus com o uso estavam vazios, vai ser fácil resolver seu problema.
Texto
Quero deixar aqui, entre parêntesis, meia dúzia de máximas das muitas que
escrevi por esse tempo. São bocejos de enfado; podem servir de epígrafe a
discursos sem assunto:
* Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros. * Não se compreende que um
botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de pau. Esta reflexão é a
de um joalheiro. * Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das
nuvens, que de um terceiro andar. (Machado de Assis, Memórias póstumas de
Brás Cubas, capítulo CXIX)
II. Numa das máximas, um cocheiro entende que o prazer advindo do uso de
uma carruagem perderia muito caso esse uso deixasse de ser um privilégio de
uns poucos.
III. A reflexão de um joalheiro, numa das máximas, leva a crer que ele condena
o referido hábito dos botocudos porque ele é contra o uso vaidoso de adereços.
(A) II e III.
(B) I e III.
(C) I e II.
(D) III.
(E) II.
Texto
(A) o período da adolescência, em que não se sabe ainda dar o devido valor às
palavras, e a maturidade, em que se adquire a capacidade de reconhecer um
grande escritor justamente por conta das palavras que ele emprega.
(B) a leitura desinteressada dos dicionários, que não tem reflexo imediato na
produção escrita, e a procura de palavras difíceis e raras para conferir ao texto
um estilo pomposo e supostamente mais nobre.
(C) um vício inocente, como a leitura de dicionários para passar o tempo, e vícios
que podem ser transmitidos dos adultos para as crianças, levandoas ao uso de
substâncias que causam dependência e podem mesmo levá-las à morte.
(D) a leitura de livros que contam sempre a mesma história maçante e a leitura
de livros que, devido ao vocabulário variado e sugestivo, podem ser ao mesmo
tempo interessantes e tão importantes para o aprendizado como a leitura dos
dicionários.
(E) a influência prejudicial de Coelho Neto sobre os novos escritores, ainda que
fosse considerado um grande estilista, e o grande exemplo de Rui Barbosa, cuja
expressão era tão rica como a nossa natureza.
Texto
(A) apontam que a ópera é sempre bastante dispendiosa porque esse tipo de
teatro renuncia a personagens que não se fazem presentes em cena por meio
do canto.
(B) acusam a incongruência que existe entre a sociedade sustentar produções
caríssimas e as pessoas, diferentemente deles mesmos, não investigarem o que
justificaria manter esses projetos.
(C) indicam como usual que se tome a ópera como um gênero dramático
excêntrico, pelo fato de representar situações estranhas ao que se considera
"vida real".
(E) anunciam que têm muito a dizer e deixam entrever que suas reflexões
desnudarão alguns mitos sobre a ópera, como a visão idealizada de que a
profusão de obras já constituiu o sangue vital desse tipo de teatro.
(A) Nesse sentido, é muito óbvio que ela não seja realística. [...]
(D) Essas perguntas são mais sobre a ópera tal como ela é hoje em dia [...]
(E) Nosso objetivo é lidar com uma forma de arte cujas obras mais populares e
duradouras foram quase sempre escritas num distante passado europeu.
Texto
Outro dia, numa mesa de bar, hesitante e assustado, me dei conta de que eu
não sabia a minha idade. Como pode, a esta altura do campeonato − qual altura
exatamente? − a pessoa ignorar quantos anos tem? Quando você é criança, a
idade é um negócio fundamental. É o dado mais importante depois do seu nome.
Lembro que, na época, eu achava de uma obviedade tacanha esse “vou fazer”,
mas hoje entendo: o desejo de crescer é parte fundamental do software com que
viemos
ao mundo. Seis, vou fazer sete, é menos uma constatação óbvia do que uma
saudável aspiração. Dos 20 aos 30 anos, avança-se lentamente, com
sentimentos contraditórios. A escola foi há séculos, mas ser adulto ainda é
estranho. A resposta sincera a quantos anos você tem, nessa fase, seria: “26,
queria fazer 25”, “25, queria fazer 24”, até chegar a 20 − acho que ninguém, a
não ser dopado por doses cavalares de nostalgia e amnésia, gostaria de ir além,
ou melhor, aquém, e voltar à adolescência.
Trinta anos é uma idade marcante. Agora é inegável que você ficou adulto. Mas
aí você faz 35 e entra numa zona cinzenta (ou grisalha?) em que idade não
significa mais muita coisa. A impressão que eu tenho, a esta altura do
campeonato − qual altura, exatamente? − é que todo mundo tem a minha idade.
Não sendo púbere nem gagá, estão todos no mesmo barco, uns com mais dor
nas costas, mas no mesmo barco, trabalhando, casando, separando e
resmungando nas redes sociais. Deve ser por isso que, sem perceber, parei de
contar. (Adaptado de: PRATA, Antonio. Folha de S. Paulo, 01/02/2015)
(A) ao desejo de crescer que se manifesta nas crianças, que, desse modo,
acabam se referindo a uma idade futura ao dizerem quantos anos têm.
Pátrio poder
Pais que vivem em bairros violentos de São Paulo chegam a comprometer 20%
de sua renda para manter seus filhos em escolas privadas. O investimento faz
sentido? A questão, por envolver múltiplas variáveis, é complexa, mas, se
fizermos questão de extrair uma resposta simples, ela é "provavelmente sim".
Uma série de estudos sugere que a influência de pais sobre o comportamento
dos filhos, ainda que não chegue a ser nula, é menor do que a imaginada e se
dá por vias diferentes das esperadas. Quem primeiro levantou essa hipótese foi
a psicóloga Judith Harris no final dos anos 90. Para Harris, os jovens vêm
programados para ser socializados não pelos pais, como pregam nossas
instituições e nossa cultura, mas pelos pares, isto é, pelas outras crianças com
as quais convivem. Um dos muitos argumentos que ela usa para apoiar sua
teoria é o fato de que filhos de imigrantes não terminam falando com a pronúncia
dos genitores, mas sim com a dos jovens que os cercam. As grandes
aglomerações urbanas, porém, introduziram um problema. Em nosso ambiente
(A) a escola, ao contrário do que se imagina, tem efeitos tão poderosos quanto
os que decorrem da convivência familiar.
(B) as influências dos pares de um educando numa escola pública são menos
nocivas do que os exemplos de seus pais.
(E) a escola particular, mesmo sendo cara, acaba por desenvolver nos alunos
uma subcultura crítica em relação ao ensino.
II. O fato de um mau aluno se deixar atrair pela amizade de outro mau aluno
prova que as deficiências da vida familiar antecedem e determinam o mau
aproveitamento escolar.
(A) I.
(B) III.
(C) II e III.
(D) I e II.
(E) I e III.
GABARITO