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A ORIENTAÇÃO SEXUAL E SUA IMPORTÂNCIA NO CONTEXTO ESCOLAR

Joelma Oliveira Valdivino*

Resumo
O presente trabalho tem como proposta investigar a importância da Orientação Sexual na
escola. A sexualidade é abordada num contexto histórico social, onde é considerada como um
processo contínuo e complexo, acentuando-se na adolescência. A pesquisa foi realizada
através de um estudo bibliográfico, onde diversos teóricos auxiliaram no desenvolvimento da
temática, relacionando teorias, com as novas concepções sobre sexualidade. Constatou-se que
uma boa orientação sexual depende de todas as variáveis que dizem respeito ao
comportamento emocional e social do sujeito, como: respeito, confiança, diálogo, entre
outros. Sendo assim, se faz necessário à participação da família, da escola e da sociedade,
proporcionando o desenvolvimento do corpo e do espírito do indivíduo abrindo espaço para a
solidariedade e da cooperação na relação de aluno com o meio que ele está inserido.

Palavras-chave: Sexualidade. Orientação sexual. Papel da escola.

1 INTRODUÇÃO

Ao longo dos tempos, a sociedade brasileira vem acompanhando o desenvolvimento


dos avanços tecnológicos em todos os aspectos: econômicos, culturais, científicos, sociais e
educacionais. Entretanto, neste artigo, darei ênfase às transformações e comportamentos
sociais relacionados à sexualidade dentro do âmbito escolar.
Antigamente, a escola funcionava com o intuito apenas de ensinar a ler e escrever.
Algumas questões da história da humanidade não poderiam de maneira nenhuma serem
abordadas nas escolas, como por exemplo, as informações referentes à sexualidade.
Assim como a inteligência, a sexualidade será construída a partir das possibilidades
individuais e de sua interação com o meio e a cultura.
As manifestações da sexualidade afloram em todas as faixas etárias e em especial na
adolescência, portanto ignorar, ocultar ou reprimir não é resposta mais adequada nem
inteligente, pois se assim ocorre, o que poderá acontecer é o acúmulo de incertezas que
provocarão no indivíduo insegurança e imaturidade para uma prática sexual saudável.
A sexualidade do adolescente, nos dias atuais, está tornando-se tema bastante
discutido pela decorrência de fatores como gravidez não planejada, doenças sexualmente

*
Pedagoga com habilitações nas Séries Iniciais e Supervisão Escolar. Especialização em Supervisão Escolar. E-
mail: joelmacampina@hotmail.com

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transmissíveis, aborto dentre outros. Para abordar este tema não se pode deixar de considerar
as relações de gênero.
Scott (1990 p. 4) define gênero “como um elemento constitutivo das relações sociais
fundadas entre as diferenças percebidas entre os sexos e como forma primária de dar
significado às relações de poder”.
Para Connell (1995), as relações de gênero se constituem como um dos principais
componentes de estrutura social, sendo que a política de gênero está entre os principais
determinantes do nosso fato coletivo. A ordenação de gênero tem como referência o que o
autor chama de arena reprodutiva, a qual inclui os desejos sexuais, os atos sexuais e suas
consequências e as diferenças sexuais do corpo humano. As relações de gênero, dentro desta
ótica, se definem como relações entre pessoas e grupos organizados através dessa arena
reprodutiva, e se constituem como uma das principais estruturas de nossas sociedades.
Ressalta-se que masculinidade e feminilidade são configurações práticas de gênero.
Mesmo com a grande transformação dos costumes e valores que vêm ocorrendo nas
últimas décadas, ainda persistem muitas discriminações, por vezes encobertas, relacionadas ao
gênero (BRASIL, 1998).
A discussão sobre relações de gênero tem como objetivo combater as relações
autoritárias, questionar a rigidez dos padrões de conduta estabelecidos para homens e
mulheres e apontar para sua transformação. As diferenças não devem ficar aprisionadas em
padrões preestabelecidos, mas podem e devem ser vividas a partir da singularidade de cada
um, apontando para a equidade entre os sexos (BRASIL, 1998).
Gênero é sempre uma construção social feita a partir de características biológicas. De
modo semelhante, a sexualidade também precisa ser compreendida como distinta do sexo, não
resta dúvida de que a sexualidade se relaciona com componentes naturais das pessoas (se é
que podemos isolar algum componente como exclusivamente natural), mas ela se relaciona
que também, e de forma talvez mais intensa, com rituais, palavras, fantasias, normas, enfim,
com componentes culturais e sociais que um determinado grupo compartilha (MEYER,
2000).
Neste sentido a inclusão da temática da sexualidade nos currículos escolares é de
fundamental importância e urgência, visto que esta é considerada como algo inerente a vida e
a saúde, que se expressa no ser humano durante toda vida relacionada com o direito do prazer
e do exercício da mesma com responsabilidade.

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A orientação sexual é um processo formal e sistematizado que se propõe a preencher
as lacunas de informações erradicarem tabus e preconceitos, como também abrir discussões
sobre as emoções, valores que impedem o uso dos conhecimentos.
São muitos os responsáveis pela formação sexual, como família, escola e sociedade,
cada um assumindo um papel importante nesse processo.
Os pais e educadores devem estar conscientes de que a educação sexual correta desde
a infância promove o desenvolvimento de um ser humano saudável mentalmente e
fisicamente.
O indivíduo aprende a refletir sobre seus valores, distinguindo o conceito de certo e
errado diante do mundo em que vive, aprenderá a respeitar a individualidade e a opção sexual
de cada um, pois o importante é viver bem consigo mesmo (SAMPAIO, 2005).
Para Fagundes, “é preciso criar oportunidades para que as pessoas reflitam sobre suas
ideias, sentimentos e conflitos na área da sexualidade e envolvam a totalidade de seu ser na
reinterpretação e reconstrução da realidade” (1995 p. 32).
Espera-se que a escola seja um ambiente onde o aluno deve ter espaços para refletir
criticamente sobre os seus problemas e os da comunidade onde vive e da sociedade nos seus
diversos aspectos. É nesse contexto que a orientação sexual se insere na prática pedagógica. A
orientação sexual na escola é um dos fatores que contribui para o conhecimento e valorização
dos direitos sexuais e reprodutivos. Estes dizem respeito à possibilidade de que homens e
mulheres discutam sobre sua fidelidade, saúde reprodutiva e criação de filhos, tendo acesso às
informações e aos recursos necessários para programarem suas decisões.
Segundo Duarte (1995) a filosofia hedonista considera que o prazer individual e
imediato seja o único bem possível e desejável. Por isso, a busca do prazer seria o objetivo
precípuo das pessoas. Visão um tanto míope, assim como é míope, por exemplo, a visão da
filosofia pragmática, pelo qual o maior bem seria a praticidade, o modo objetivo e despido de
emoções de ver as coisas. Sejamos ou não como bem principal, nós procuramos prazer em
todas as fases de nossas vidas. Os lactentes buscam o prazer, assim como o fazem as crianças
pequeninas, esse prazer é a SEXUALIDADE, o bebê quando mama sente prazer, ele está
vivendo sua sexualidade, embora mamar não seja prazer de sexo.
A criança ou o adulto sente prazer em suprir algumas faltas. Alimentar-se quando há
fome; beber quando se tem sede; tudo isso proporciona prazer sempre renovado, sempre bom.
É sexualidade, mas, não é prazer sexual. Estar bem consigo mesmo é indispensável fator de
felicidade, para isso é preciso estar bem com sua sexualidade. Há criaturas que não sabem
agradar uma criança, acariciar um bebê, abraçar um amigo essas pessoas fogem de agrados e

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aproximações, e o fazem porque não se aceitam bem, não estão bem com sua própria
sexualidade (DUARTE, 1995).
Duarte (1995) ainda menciona que vivemos a Era Moderna, o período das grandes
descobertas científicas em todas as áreas da ciência. No entanto, ainda estamos começando a
estudar objetivamente a sexualidade, embora o impulso seja parte integrante e básica de
nossas vidas globalmente como espécie humana. A sexualidade é um negócio de Estado, tema
de interesse público, pois a conduta sexual da população diz respeito à saúde pública, à
natalidade, à vitalidade das descendências e da espécie o que por sua vez, está relacionado à
produção de riquezas, e à capacidade de trabalho, ao povoamento e à força de uma sociedade.
A sexualidade é, portanto, uma via de acesso tanto de aspectos privados quanto
públicos, ela suscita mecanismos heterogêneos de controle que se completam, instituindo o
indivíduo e a população como objetos de poder e saber. E a escola é uma das instituições onde
se instalam mecanismos do dispositivo da sexualidade, há de se questionar como isso ocorre
(ALTMAN, 2005).
Segundo Focault, apud Altman (2005), a análise dessa busca da verdade sobre o
sexo, da formação de certo tipo de saber sobre sexo, deve ser feita sob viés do poder, não um
poder que funcione pelo direito, mas pela técnica, não pela lei, mas pela normalização, não
pelo castigo, mas pelo controle.
A sexualidade tem grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica das
pessoas, pois independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-se com busca do
prazer, necessidade fundamental dos seres humanos. Além disso, a sexualidade construída ao
longo da vida encontra-se necessariamente marcada pela história, cultura, ciência, assim como
pelos os afetos e sentimentos, expressando-se então com singularidade em cada sujeito
conforme Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN`S, 1995).
Para o estudo da sexualidade humana necessitamos da abordagem multidisciplinar
tanto quanto possível uma vez que os fundamentos da biologia, da antropologia, da filosofia,
da psicologia, da erótica estão intrinsecamente implicados nela. O método interdisciplinar nos
remete a uma nova antropologia, que visa superar as múltiplas especializações articulando as
diferentes disciplinas científicas (GUIMARÃES, 2002).
A sexualidade é o que há de mais íntimo nos indivíduos e aquilo que os reúne. Hoje
no Brasil, há diferentes grupos construindo sua metodologia de trabalho nessa área, nem
sempre utilizando o termo Orientação Sexual para designar sua ação educativa.
Então porque estudar Orientação Sexual na escola?

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Segundo Wereb (1977), uma das primeiras referências para Educação Sexual no
Brasil, tendo como pressupostos básicos pensar Orientação Sexual hoje mostra que a
educação sexual sendo tomada num sentindo mais amplo compreende todas as ações, diretas
ou indiretas, deliberadas ou não, conscientes ou não, exercidas sobre o indivíduo ao longo de
seu desenvolvimento, que lhe permite situar-se em relação à sexualidade em geral e à sua vida
sexual.
Teles (1992) aborda que as pessoas encarregadas de Orientação Sexual na escola
devem ter autenticidade, empatia e respeito. Se o lar está faltando, neste campo, cabe à escola
preencher as lacunas de informações, erradicar preconceitos e possibilitar as discussões das
emoções e valores.
Para Sampaio (2005), caberá à escola informar aos pais sobre o projeto de orientação
sexual para que os pais concordem e estejam cientes, evitando serem pegos de surpresa.
Devendo existir também uma efetiva parceria, ou seja, os pais não devem delegar e restringir
este assunto apenas no âmbito escolar.
Na medida em que a escola se nega ou não consegue se capacitar para poder dar
conta dessa responsabilidade, ela reforça a ideia de que a sexualidade não faz parte do
conhecimento humano. Ela transmite a informação de que a sexualidade é mesmo para se
aprender na rua, como uma coisa suja e informal, aprendida de qualquer jeito (EGYPTO,
2003).
Para que a sexualidade passe a ser tratada seriamente e seja entendida e debatida pelo
jovem, ela deve fazer parte da estrutura que a escola tem hoje, porque se o assunto
permanecer à margem, se ficar em momentos eventuais, não tem o maior significado na vida
dos alunos, nem dá conta das suas necessidades. É importante que o trabalho da escola ajude a
refletir e a debater valores, porque esses valores não são passados só pela família, mas por
todos esses outros meios, e geralmente não são explicitados. O que a escola quer, além de
evitar problemas como a questão da gravidez não planejada na adolescência e a prevenção de
doenças, é promover a saúde e esclarecer o direito ao prazer. A grande mudança que um
trabalho de orientação sexual na escola traz é poder discutir a questão do prazer, é
fundamental que a escola possa ajudar na formação da identidade e possibilitar um
desenvolvimento mais harmonioso, porque todo mundo sabe que a sexualidade é fator
essencial na questão da identidade: o ser menino e o ser menina, o que é ser homem ou ser
mulher, os comportamentos e ações de cada gênero (EGYPTO, 2003).

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É evidente que muitas vezes existem diferenças na visão da escola e da família, cabe
à família direcionar o que é certo, o que é errado, quais são os valores em que ela acredita. A
escola faz um papel, que é o de ampliar a conversa e colocar tudo em discussão.
É indispensável admitir que a escola, como qualquer outra instância social, é
queiramos ou não, um espaço sexualizado e generificado. Na instituição escolar, estão
presentes as concepções de gênero e sexuais que, histórica e socialmente, constituem uma
determinada sociedade. A instituição, por outro lado, é ativa constituidora de identidades de
gêneros e sexuais.
Meyer (2000) justifica que “em outras palavras a escola (em espaço físico, em seus
regulamentos, currículos, normas, programas, em suas práticas, nas falas, atitudes e gestos das
pessoas que ali convivem) é atravessada pelas concepções de masculinidade e feminilidade,
pelas formas de sexualidade de uma dada sociedade”.
Ora, parece impossível separar a escola de tudo isso. Se a escola é uma instituição
social ela está, obviamente, envolvida com as formas culturais e sociais de vivermos e
constituirmos nossas identidades de gênero e nossas identidades sexuais (MEYER, 2000).
A postura do educador sexual é básica no sentido de preparar as pessoas em nível de
conhecimento, metodologia e postura para trabalharem na escola com um tema que é ainda
polêmico na nossa sociedade (SILVA, 2002).
Trata-se da comunicação que é especial no trabalho sobre sexualidade humana, que
acaba gerando nas pessoas envolvidas uma proximidade maior, uma disponibilidade para a
aproximação consigo própria e com o outro, sendo o conhecimento do corpo, o próprio e do
outro, o elemento desencadeador da troca de ideias, do contato afetivo, do aprender novos
conceitos, do experienciar o lúdico e prazeroso nos encontros, do explorar o masculino e o
feminino. Tanto do homem quanto da mulher (Silva, 2002).
Ainda para Silva (2002) a sexualidade é um tema que necessariamente coloca as
diferenças de uma forma muito clara, e destas diferenças, deverão surgir conflitos, fator
essencial na construção de novas ideias. Novas ideias garantem novas formas de ver o mundo,
podendo modificar a forma de ser no mundo, e isto significa construção de autonomia, não
centrada apenas na pessoa, mas sim no social ao qual pertence.
Na escola, professores e professoras são pessoas que têm maior proximidade com os
alunos, pois os acompanham durante anos, sabendo melhor que ninguém como são como
pensam,agem e reagem. Os professores, muitas vezes, já são vistos como referência de
aprendizagem da sexualidade pelos seus alunos (SILVA, 2002)

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O aluno, na escola, passa por duas etapas significativas da sua vida: a infância e a
adolescência. Nesse período, a sexualidade se manifesta como parte de seu dia- a- dia com os
colegas, surgindo ás curiosidades, nas dúvidas e nos relacionamentos vividos dentro e fora do
ambiente escolar. Esta mesma sexualidade é, no entanto, negada ou reconhecida de uma
forma inadequada pela escola. Mas a verdade é que a sexualidade é vivida na escola, pois lá o
aluno experimenta o prazer de estar com o outro, em conversas, em trocas, em atividades
lúdicas em discussões e nas seduções, paquera e aproximações possíveis.
A discussão das questões da sexualidade humana traz para a escola muitas das
contradições de nossa sociedade, o que desencadeia um movimento de repensar a sexualidade
tanto individual como coletiva, nos grupos, possibilitando a construção de novas ideias
(SILVA, 2002).
O que também devemos observar é o poder que a mídia: televisão, rádio, filmes,
revistas, a músicas exercem como uma Pedagogia Cultural, porque como qualquer outra
instância, educa disciplina e regula os corpos. Esses locais pedagógicos são, segundo
Steinberg (1997), um espaço onde o poder se organiza e se exercita, exercendo poder e
domínio sobre o comportamento e a educação sexual dos jovens, produzindo assim inúmeros
significados sobre a família, a sexualidade, o gênero, a raça, a justiça, o consumo, e outros
que interagem com os indivíduos.
Autores como Steinberg (1997) e GREEN&BIGUN (1995) tem enfatizado essa
questão, afirmando que a escola não pode ignorar os efeitos produzidos pela mídia. É preciso
que os professores, utilizando os próprios artifícios da mídia, juntamente com os alunos
analisem criticamente essas instâncias e seus objetivos para que lutem contra suas formas de
domínio do corpo para fins lucrativos e só absorvam delas o que realmente for saudável e
aproveitável de forma positiva para a vida sexual de cada um.
Durante as décadas de 60 e 70 do século XX a penetração da Educação Sexual
formal na escola enfrentou fluxos e refluxos, como elucida Rosenberg (1985). Na segunda
metade dos anos 60, algumas escolas públicas desenvolveram experiências de Educação
Sexual. No entanto, elas deixaram de existir em 1970 após um pronunciamento da Comissão
Nacional de Moral e Civismo dando parecer contrário a um projeto de lei de 1968, que
propunha a inclusão obrigatória da Educação Sexual nos currículos escolares.
Em 1976, a posição oficial brasileira afirma ser a família a principal responsável pela
Educação Sexual podendo as escolas inserir, ou não, a Educação Sexual em seus programas
de saúde. Durante os anos 80, a polêmica continuou, atualmente, estas expectativas
modificaram.

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Nos anos 30, a discussão sobre Educação Sexual com a Orientação eclodiu na escola
num momento em que a sífilis fazia numerosas vítimas. Atualmente a intensificação das
preocupações com a Orientação Sexual nas escolas está vinculada à proliferação de casos de
AIDS/DST e ao aumento de casos de gravidez entre adolescentes. Atribui-se à escola a função
de contribuir na prevenção dessas doenças e dos casos de gravidez.
Para Sampaio (2005), o objetivo da educação sexual na escola consiste em colocar
professores com um preparo adequado para desempenhar, de forma significativa seu papel,
ajudando os alunos a superarem suas dúvidas, ansiedades e angústias. Educação Sexual não
significa apenas passar informações sobre sexo. Significa também o contato pessoa/pessoa,
transmissão de valores, atitudes e comportamentos.
Meyer (2002) menciona que parece assustador e difícil esse objetivo, mas não
impossível. Contudo, é preciso ser vista como um caminho que acontece à medida que
aceitamos o desafio do caminhar, à medida que vencemos o medo de não saber fazer, na
medida em que entendemos e aprendemos a aceitar as diferenças e admitir que vários
caminhos sejam possíveis e que as respostas e buscas individuais não precisam ser do nosso
jeito. Conforme Sampaio (2005), este indivíduo terá maiores chances de crescer como um ser
dotado de maturidade suficiente para saber conduzir cada momento novo que vive cada
problema de forma consciente e segura.
A discussão das questões da sexualidade humana traz para a escola muitas das
contradições de nossa sociedade, o que desencadeia um movimento de repensar a sexualidade
tanto no individual como coletiva, nos grupos, possibilitando a construção de novas ideias.
(SILVA, 2002).
Silva (2002) apresenta umas das dificuldades para pôr em andamento o que está no
discurso é que os profissionais da saúde e da educação estão inseridos na mesma cultura que
tem apresentado a sexualidade como um problema em si mesmo, ou seja, simultaneamente
vítimas e mantenedores dessa realidade.
Orientar sexualmente é um desafio para o sistema educacional vigente. O que
podemos perceber, de maneira geral, é que está faltando uma maior atenção por parte dos
‘educadores em relação a um processo interdisciplinar, que concretize uma abordagem mais
significativa na área da Orientação Sexual.
Não querendo incluir a escola como solucionadora de todos os problemas, pois quem
assim pensa tem uma visão ingênua e limitada, mas pelo menos poder contar com uma
instituição social, que forneça informações adequadas e corretas no sentido de contribuir para
uma visão positiva da sexualidade, como parte integrante dos elementos que contribuem para

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uma formação harmoniosa do cidadão, visto que não basta apenas acompanhamento familiar,
a escola assume um papel bastante importante na vida sexual dos seus alunos.
Portanto, ao se tratar deste tema, é preciso que se trabalhe com muita sensibilidade
buscando sempre escolher criticamente os procedimentos, observando as necessidades e
interesses das pessoas envolvidas, respeitando a faixa etária, o nível de aceitação, formação
tanto individual como grupal. Assim como promover um processo de formação continuada
dos professores para que, estes possam, conjugar esforços na direção de orientação sexual
curricular.

2 PESQUISA

A pesquisa de campo foi realizada no mês de Junho de 2005, no Grupo Escolar


Dr.Chateubriand localizada à Rua Joana Darck de Arruda, s/n no bairro de José Pinheiro, em
Campina Grande, Paraíba.
A referida escola funciona nos turnos: manhã, tarde e noite, turno onde a pesquisa foi
realizada.
O quadro pessoal composto por 21 professores, 10 funcionários da área de serviços
gerais, 1 vice-diretor que atua no turno da noite. O Grupo Escolar possui 614 alunos
matriculados.
A pesquisa foi realizada em uma sala de aula do EJA, do turno noturno, com alunos
na faixa etária de 18 à 80 anos.
A escola supracitada foi escolhida por entender-se que a mesma constitui numa
ótima fonte de pesquisa prática, em virtude de que a turma onde foi realizada a pesquisa é
composta por adolescentes e adultos.
A coleta de dados foi feita através de um questionário, contendo 09 questões de
múltiplas escolhas, aplicado a uma amostra de 12 alunos. Também foi aplicado outro
questionário à professora regente.
Os dados coletados foram analisados de forma quali-quantitativa.
Abaixo encontram-se descritas as questões abordadas no levantamento de dados.

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Questões:
Idade ______________________________________________________________________
Sexo: MASCULINO ( ) FEMININO ( )
1 – Como é sua família?
( ) Meus pais vivem juntos, e eu vivo com ele;
( ) Meus pais vivem juntos, e eu não moro com ele;
( ) Meus pais não vivem juntos;
( ) Eu não conheço meus pais;
( ) Meus pais são falecidos;
( ) Vivo com outras pessoas. Quais?_____________________________________________

2 – Você já iniciou sua vida sexual?


( ) Sim ( ) Não
Se não passe para a questão 10

3 – Com que idade você iniciou sua vida sexual? ____________________ anos

4 – Você já engravidou? (pergunta para o gênero feminino)


( ) Sim ( ) Não
Com que idade? __________anos

5 – Caso tenha respondido SIM a gravidez foi interrompida?


( ) Sim ( ) Não

6 – Você já engravidou alguma menina? (pergunta para o gênero masculino)


( ) Sim ( ) Não
Com que idade? __________anos

7 – Caso tenha respondido que SIM a gravidez foi interrompida?


( ) Sim ( ) Não

8 – Na ultima relação sexual, você usou algum método de prevenção da gravidez?


( ) Sim ( ) Não

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9 – Você já fez o teste da AIDS?
( ) Sim ( ) Não

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na tabela 1, encontra-se o perfil dos alunos que foram entrevistados. No que diz
respeito à faixa etária, os entrevistados tem entre 18 e 63 anos, sendo quatro do gênero
masculino e oito do gênero feminino. Fato importante é todos residem na zona urbana.

Tabela 1. Perfil dos alunos.


Variáveis Categorias
Sexo Masculino 4 –Feminino8
Faixa etária 18 - 63
Zona urbana 12

Denota-se na tabela 2, que a maioria dos entrevistados vive juntos com seus pais. Tal
resposta é referente à questão que diz respeito à vida familiar dos entrevistados.
Tal fato demonstra que uma parcela significativa está inserida no âmbito familiar, ou
seja, no convívio familiar. Outro dado relevante é quanto à separação dos pais, o qual se pode
perceber pequeno número de entrevistados em tal classificação, contrariando o percentual de
famílias que possuem casos de divórcios sendo esta a realidade da maioria das famílias do
nosso país.

Tabela 2. Perfil familiar dos alunos


Como é sua família? Número de alunos
Meus pais vivem juntos, e eu vivo com eles; 8
Meus pais não vivem juntos; 3
Pais falecidos 1
TOTAL 12

Na tabela 3 encontra-se o resultado da indagação a respeito da questão dois, que


enfatiza a iniciação sexual. Do total de entrevistados 100% já iniciaram sua vida sexual. Este
fato já era esperado, haja vista a faixa etária dos entrevistados.

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Tabela 3. Atividade sexual dos alunos
Você já iniciou sua vida sexual? Número de alunos
Sim 12
Não 0
TOTAL 12

Sendo assim, considerando o que Duarte (1995) afirma isso demonstra a importância
do trabalho da Orientação Sexual na escola, como forma de preparar, direcionar e
conscientizar sobre as consequências dos atos sexuais na vida psíquica e social dos
indivíduos. Acredita-se que o jovem esteja em rápido processo não só de maturidade sexual,
mas também de amadurecimento emocional, afetivo, intelectual.
Portanto a escola deve direcionar os jovens para que este rápido processo não se
transforme em resultados ainda desastrosos.
A tabela 4 faz referência à questão três acerca da idade da iniciação sexual dos
entrevistados. Comprovando que cada vez mais precoce os adolescentes iniciam sua vida
sexual, tornando preocupante, no que diz respeito a preparação e/ou orientação para a
iniciação de algo tão importante que traz sérias consequências se feitas sem as orientações
necessárias e adequadas.

Tabela 4. Início da atividade sexual dos alunos


Com que idade iniciou sua vida sexual? Número de alunos
13 anos 3
14 anos 1
16 anos 2
18 anos 2
19 anos 1
20 anos 1
22 anos 2
TOTAL 12

Para Duarte (1995), a sensualidade é lenta em algumas pessoas e apressada em


outros. Devido a isto, deve-se, portanto ter respeito a individualidade de cada um, no que se

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diz preparado e o que se considera não preparado. Alertando-se para o que se pode considerar
estar preparado para iniciar uma vida sexual, pois existem vários fatores a serem pensados
antes deste inicio.
Na tabela 5 vislumbra-se o resultado para a questão cinco aplicado para o gênero
feminino. Ressalta-se com os resultados da mesma, que no âmbito das entrevistadas 100% já
engravidaram (Tabela 5). Importante citar, que a maioria engravidou antes dos 20 anos, o que
mostra a precocidade e, consequentemente, o despreparo para vivenciar esta situação.

Tabela 5. Casos de gravidez entre alunas


Você já engravidou? Número de alunos
Sim 8
Não 0
Com quantos anos?
14 anos 1
16 anos 1
18 anos 2
19 anos 2
20 anos 1
23 anos 1
A gravidez foi interrompida?
Sim 3
Não 5

A questão do aborto também se fez presente, com dado relevante, já que três alunas
responderam que a gravidez foi interrompida.
Gandra (2002) menciona que a sexualidade é algo importante e o afeto também. O
sexo pede satisfação, é biológico; o amor pede reciprocidade, é emocional. Sem apressar os
fatos à vida a dois pode ser gratificante. Se alguém vai com muita sede ao pote acaba agindo
precipitadamente e a gravidez ocorre.
Na tabela 6, denota-se o resultado para a questão sete, aplicado para o gênero
masculino, onde na totalidade dos entrevistados apenas um já exerceu a paternidade. Também
se percebe que esta ocorreu com idade desfavorável.

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Tabela 6. Casos de paternidade entre os alunos.
Você já engravidou alguma menina? Número de alunos
Sim 1
Não 3
Com quantos anos?
23 anos 1
A gravidez foi interrompida?
Sim 0
Não 1

Diante de tais resultados, isso leva a pensar que os alunos tomam alguma precaução
para evitar uma gravidez indesejada, embora não se pode generalizar.
Segundo Gandra (2002) quando ocorre a gravidez, tanto a garota que engravida
como o namorado que a engravidou são jovens demais e não tem, nem podem ter planos
concretos em curto prazo.
Na tabela 7 encontram-se os resultados para a questão oito, a qual questiona o uso de
métodos contraceptivos. Segundo os entrevistados, 50% responderam que fazem uso de
algum método contraceptivo e 50% não o fazem.
Mesmo existindo um incentivo através da mídia e secretarias da saúde, no que diz
respeito a propagandas, campanhas e distribuição gratuita de métodos contraceptivos, os
jovens ainda não se sensibilizaram e/ou se conscientizaram para o risco de uma gravidez
indesejada ou contrair uma doença sexualmente transmissível (DST).

Tabela 7. Uso de métodos contraceptivos pelos alunos


Na ultima relação sexual você usou algum Número de alunos
método de prevenção da gravidez?
Sim 6
Não 6

Gandra (2002) ressalta que no caso da gravidez indesejada, muitas vezes surge à
ideia do aborto, que costuma trazer más consequências, pois alem de ser fisicamente um ato
de violência que requer cuidados especiais, frequentemente deixa sequelas e acarreta uma
grande carga emocional quem nem todos suportam.

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Na tabela 8, encontra-se o resultado para a questão nove, que diz respeito sobre a
testagem da AIDS.
Diante dos resultados, um número reduzido de entrevistados já a realizaram.
Lamentavelmente, isto indica que não há uma demonstração em se preservar contra esta
doença que possui um dos maiores agravantes, a TRANSMISSÃO através das relações
sexuais. Portanto, se tiver uma vida sexual ativa, se fazem necessários exames periódicos,
evitando a cadeia de transmissão- quando se passa o vírus para outros parceiros.

Tabela 8. Testagem para AIDS entre alunos.


Você já fez o teste da AIDS? Número de alunos
Sim 3
Não 9
Total 12

Como nos confirma Gandra (2002) qualquer um pode fazer gratuitamente o teste
para HIV. Quanto mais cedo se souber que uma pessoa é portadora do HIV, maiores as
chances de atuar no processo da infecção, preservando a qualidade de vida das pessoas
contaminadas, retardando o desenvolvimento da AIDS e impedindo a transmissão a outros.
Salienta-se que todos os entrevistados residem na zona urbana com acesso a
informação, proximidade e acessibilidade de instituições de saúde que realizam a testagem
das DSTs.
Abaixo encontra-se as questões a as respostas aplicadas a professora regente da
turma.
Perfil e respostas da professora:
 Formação: Pedagogia
 Tempo de exercício da profissão: 17 anos
 Faixa etária dos seus alunos: 18 a 60 anos.
 Qual a sua reação diante do questionamento dos seus alunos, sobre o tema
sexualidade? Normal, porque eles encaram com muita naturalidade.
 Seus alunos demonstram algum tipo de preconceito a este tema (sexualidade)?
Não
 Qual o nível de conhecimento dos seus alunos em relação à orientação sexual?
Eles não têm preconceitos, levam na naturalidade.

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Podemos observar uma atitude um tanto vaga desta professora, no que diz respeito a
suas respostas. Lamentavelmente, nos deparamos com profissionais que não
desenvolvem sua prática correlacionando com o tema orientação sexual, deixando seus
educandos desprovidos de informações psíquicas e sociais.
As pessoas encarregadas de orientação sexual na escola devem ter autenticidade,
empatia e respeito. Se o lar esta faltando, neste campo, cabe à escola preencher
lacunas de informações, erradicar preconceitos e possibilitar as discussões das
emoções e valores (TELES 1992).

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