Universidade Pedagógica
Maputo
2017
Helga Inácio João Cossa
Universidade Pedagógica
Maputo
2017
ÍNDICE
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE APÊNDICES
LISTA DE ANEXOS
LISTA DE ABREVIATURAS
DECLARAÇÃO DE HONRA
Eu, Helga Inácio João Cossa, declaro por minha honra, que o presente trabalho intitulado
“Avaliação da qualidade microbiológica da água de distribuição pública no Distrito Municipal
Kamubukwana” é da minha autoria e que nunca foi apresentado em qualquer outra instituição
para obtenção de nenhum grau académico que não seja para a minha candidatura ao grau de
Licenciatura em Ensino de Agro-pecuária com Habilitação em Extensão Rural.
_________________________________
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus, aos meus pais Inácio João Cossa e Francisca Sabão Domingos, e
meus irmãos, pelo apoio incondicional em todos os momentos, pela paciência, sabedoria,
compreensão, amor, amizade e dedicação. Sempre estiveram ao meu lado ajudando-me a vencer
mais um desafio e por serem sempre meu maior exemplo de vida.
vi
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por sempre me abençoar com saúde e protecção em todos
os momentos de minha vida;
Aos meus pais, Inácio João Cossa e Francisca Sabão Domingos, por todo amor e carinho que
sempre me dedicaram, e por sempre acreditarem em mim;
A Minha gratidão vai também ao meu supervisor, Mestre Dionísio Virgílio Roque pela
orientação plena, pelo estímulo a pesquisa, pelo exemplo de dedicação, persistência e acima de
tudo por ter confiado em mim durante a execução deste trabalho;
Aos meus irmãos Aida Cossa, Sandra Cossa, Lígia Cossa, e Reginaldo Cossa por sempre estarem
do meu lado nos bons e maus momentos;
Aos meus amigos: Dalton, Delfina Mangaze, Elísio Maluvane, Florentina Mabote, Isabel, Kátia
Chipembere, Kátia Baloi, Neusa Cuamba, Nilza Muiambo, Sérgio Valoi, Sandra Mangue, Tânia
Remane, Zubaida Sandaca, pelos momentos de alegria e companheirismo e grande amizade
constituída;
Meu agradecimento especial aos Doutores Sérgio Cavadias, Miguel Jorge Luís Dramuce, pelas
suas sábias contribuições, ensinamentos e paciência;
Enfim, agradeço a todos aqueles que, de uma ou de outra forma, contribuíram na elaboração do
meu trabalho.
vii
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
A água constitui, actualmente, uma das principais preocupações mundiais no que diz respeito à
manutenção de sua qualidade, despertando atenção do ponto de vista sanitário para o impacto na
saúde pública. Sendo assim, não é apenas suficiente disponibilizar água em quantidade e pressão
adequadas, mas a sua qualidade possui, também, uma grande importância para todos os agentes
envolvidos (RODRIGUES, 2014). Para a organização mundial da saúde (OMS) “todas as pessoas,
em quaisquer estágios de desenvolvimento e condições sócio-económicas tem direito de
suprimento adequado de água potável e segura”, isto é, uma oferta de água que não represente
um risco significativo à saúde, que tenha quantidade e qualidade suficientes para atender as
necessidades domésticas (SCURACCHIO, 2010).
A qualidade mínima da água necessária para o consumo humano é a sua potabilidade, ou seja,
deve ser tratada, limpa e estar livre de qualquer contaminação, seja ele de origem
microbiológico, químico, físico ou radioactivo, não devendo em hipótese alguma oferecer riscos
à saúde humana. Para atender a este padrão, a água de abastecimento público deve apresentar
quantidades limites para diferentes parâmetros físicos-químicos e microbiológicos que são
definidos pelo decreto no 180/2004 do diploma Ministerial (MISAU, 2004).
A Água da Região de Maputo é uma entidade responsável pelo abastecimento de água potável
que abrange Maputo, Matola e Boane cobrindo cerca de 2.120.000 habitantes e estima-se que
65% destes, beneficiam do fornecimento de água potável. Este sistema compreende a captação
inicial da água no Rio Umbeluzi, a estação de tratamento de água (ETA), as condutas adutoras,
as estações elevatórias e centros distribuidores. Para garantir a potabilidade, a água passa por
várias fases de tratamento sendo a etapa inicial, a pré-oxidação com cloro gasoso,
coagulação/floculação, decantação, filtração com filtros de areia, adição da cal para correcção do
pH e desinfecção com cloro gasoso (AdeM, s/d).
Em 2007, a OMS estimou que em Moçambique, cerca de 26.900 mortes por ano se deviam a
doenças diarreicas relacionadas com a água, e saneamento (UNICEF, 2011). Em Moçambique a
diarreia é uma das importantes causas de morbidade e mortalidade infantil. Ademais, dados do
MICS (2008), indicam que a prevalência de doenças diarreicas em crianças menores de 5 anos é
de 18%, da qual a cidade de Maputo contribui com 17%. Esta estimativa é apoiada pelo estudo
nacional sobre mortalidade infantil conduzido pela Unicef, segundo o qual as doenças
gastrointestinais infecciosas contribuem com quase 7% do número de óbitos (UNICEF. 2011).
A potabilidade da água e o saneamento básico do meio são parâmetros de saúde cujas limitações
na sua aplicação, expõem a população a riscos de doenças diarreicas incluindo a cólera e mortes
com consideráveis perdas económicas (FRANCA, 2008). A situação do saneamento básico em
Moçambique é no geral precária. O consumo de água imprópria, aliado ao baixo acesso ao
abastecimento de água, e níveis baixos de saneamento aumentam a transmissão de doenças de
veiculação hídrica. O acesso a água potável tem melhorado em Moçambique ao longo dos
últimos anos, mas duma forma muito lenta e desigual. No global, o acesso a fontes seguras de
água para o consumo humano aumentou de 36% em 1990 para 47% em 2010, o que representa
um crescimento de 23% em 20 anos (WHO, 2014).
Em Moçambique foram registados 771.952 casos de diarreias e 450 óbitos no período de 2015,
contra 702.585 casos e 374 óbitos no mesmo período de 2014, representando um aumento em
cerca de 78.066 casos e 140 óbitos. Na cidade de Maputo em 2015, foram registados 45.345
casos de diarreia e 38 de óbitos, contra 41.295 casos de diarreia e 26 de óbitos no período de
2014, portanto houve um aumento de 4.050 casos de diarreia e 12 de óbitos devido ao consumo
de água de qualidade imprópria (MISAU, s/d).
No sistema de distribuição de água potável levada a cabo pela Água da Região de Maputo pode
ocorrer uma série de mudanças, causadas por variações químicas, biológicas ou por integridade
física do sistema fazendo com que a qualidade da água que jorra na torneira do domicílio seja
diferente da que deixa a ETA de Umbeluzi. Com base no fluxograma de tratamento da água
4
praticado na ETA de Umbeluzi até ao consumidor final, são presumíveis três pontos focais de
potencial contaminação de água nomeadamente, na ETA de Umbeluzi depois do tratamento, no
reservatório do Distrito Municipal Kamubukwana e nas torneiras ao nível domiciliário
alimentadas pelo reservatório municipal. Assim, torna-se essencial analisar a qualidade da água
nesses potenciais pontos de contaminação incluindo na fonte inicial (Rio Umbeluzi) na medida
em que segundo BUCKER (2013), podem ocorrer falhas na eliminação dos agentes patogénicos
na ETA, falhas no sistema de controlo no reservatório municipal que pode conduzir ao acúmulo
de resíduos e microrganismos patogénicos, rupturas nas canalizações que levam água ao
domicílio ou falta de saneamento ao nível das torneiras caseiras.
1.2. Objectivos
1.3. Hipóteses
2. REVISÃO DA LITERATURA
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a água é a seiva do planeta, é condição
essencial de vida de todo vegetal, animal ou ser humano, a sua utilização implica respeito à lei,
sendo que o equilíbrio e o futuro do planeta dependem da preservação da água e de seu ciclo,
sendo importante que a água se manipule com racionalidade e precaução (FRANÇA, 2008).
A água é uma substância de fundamental importância para todos seres vivos, pois a sua presença
é vital para o funcionamento das actividades celulares e orgânicas, além de corresponder a 2/3 da
massa corporal humana. Ela importante para a sobrevivência do homem, visto que o corpo
humano é constituído por 80% de água, sendo responsável pelo transporte de nutrientes e
substâncias para dentro e fora das células, além de controlar a temperatura corporal e eliminar
substratos tóxicos advindos do metabolismo energético (FRANÇA, 2008). Para cumprir as
normas de higiene e potabilidade exigidas, a água deve apresentar boa qualidade, ser tratada a
partir da sua captação e conduzida ao consumidor através de boa rede de distribuição
(VASCONCELOS & AQUINO, 1995).
O risco de falta de controlo adequado da água para o consumo domiciliário e uso industrial ou
qualquer outro uso, torna-se um grande risco sobretudo em casos de indústria alimentar, onde há
uma cadeia de beneficiação dos alimentos porque incorre-se ao problema de toxi-infecções
alimentares. A preservação da qualidade das águas é uma necessidade universal que exige séria
atenção por parte das autoridades sanitárias, pois cerca de 30% dos casos de intoxicação
alimentar em alimentos industrializados são causados pela má qualidade da água usada tanto
para a lavagem, processamento e outras etapas fabris (GUEDES et al., 2004).
O Diploma Ministerial n°180/2004, define qualidade de água para o consumo humano como
característica dada pelo conjunto de valores de parâmetros microbiológicos, organolépticas e
físico-químicos fixados que permitem avaliar se a água é potável ou não (MISAU, 2004).
A água antes de ser distribuída, deve passar por processos de tratamento, responsável pela
eliminação de microorganismos patogénicos. O sistema de tratamento do tipo convencional, em
condições normais, permite a remoção de até 99% dos microorganismos provenientes do
manancial (GELDREICH, 1974). Porém, o tratamento em si só não garante a ausência total de
microorganismos patogénicos, pois ao longo do sistema a qualidade da água pode sofrer
deterioração o que exige a implantação de programas de monitoramento contínuo (HELLER &
PÁDUA, 2006).
A ausência de sistemas de abastecimento de água potável é responsável por 80% das mortes nos
países em desenvolvimento. Seis mil (6.000) crianças com menos de cinco anos de idade,
8
morrem por dia, devido a doenças relacionadas com a baixa qualidade da água. A água destinada
para o consumo humano não deve conter microorganismos patogénicos e deve estar livre de
bactérias indicadoras de contaminação fecal. Os indicadores de contaminação fecal
tradicionalmente aceites, pertencem a um grupo de bactérias denominadas coliformes. A
principal representante deste grupo é a Escherichia coli. A água potável deve ter zero
contaminações com bactérias de género Escherichia por se tratar de um género responsável pela
maior parte das doenças de veiculação hídrica (OLIVEIRA, 2008)
A água contém, geralmente, diversos componentes, os quais provêm do próprio ambiente natural
ou foram introduzidos a partir de actividades humanas. Para caracterizar uma água, são
determinados diversos parâmetros os quais representam as suas características físicas e
organoléptico (cheiro, pH, turbidez, sólidos, condutividade, sabor e odor, cor), químicas (cloro
residual livre, flúor, nitrato, etc.), e microbiológicos tais como: coliformes totais, fecais e vibrio
cholerae (MISAU, 2004).
Esses parâmetros são indicadores da qualidade de água e constituem impurezas quando alcaçam
valores superiores aos estabelecidos para determinado uso (MISAU, 2004). Os principais
indicadores de qualidade da água são discutidos a seguir separados sob aspectos físicos,
químicos e micobiologicos.
Coliformes totais
(SILVA et al., 2014). A Escherichia coli é o microorganismo mais estudado em todo mundo,
considerado o principal representante do grupo. A ocorrência de E.coli é considerada um
indicador específico e contaminação fecal e a possível presença de patógenos entéricos. A
presença de coliformes termotolerantes é o melhor indicador de que existe risco à saúde do
consumidor (SILVA et al., 2005 & GUERRA et al., 2006).
A tabela 2 apresenta os parâmetros e seus respectivos limites máximos aceitáveis dos indicadores
biológicos da qualidade da água.
Sólidos: são todas as impurezas presentes na água, com excepção dos gases dissolvidos. De
acordo com o tamanho das partículas os sólidos podem ser classificados em suspensos e
dissolvidos. Os sólidos suspensos são constituídos principalmente de matéria orgânica e
sedimentos de erosão e compõem a fracção das partículas que fica retida após a passagem de
uma amostra de volume conhecido por uma membrana filtrante com poro igual a 1,2 µm. Os
sólidos dissolvidos representam a fracção da amostra que passa pela membrana de 1,2 µm.
Temperatura: Temperaturas elevadas (acima de 30º C), têm como consequência o aumento das
taxas das reacções físicas, químicas e biológicas além da diminuição de solubilidade dos gases
como o oxigénio dissolvido.
Cor: A cor pode ser classificada em aparente e verdadeira. No valor da cor aparente pode estar
presente a parcela causada pela turbidez e quando esta é removida, tem-se a cor verdadeira. A
água destinada ao consumo humano deve ser incolor.
Segundo SCURACCHIO (2010) Os parâmetros químicos são aqueles que indicam a presença de
alguns elementos ou compostos químicos. Entre os principais estão:
Ferro e Manganês: têm origem natural na dissolução de componentes do solo. Quando estão em
suas formas insolúveis (Fe3+ e Mn4+) podem causar cor na água e acarretar manchas durante a
lavagem de roupas e em utensílios sanitários, conferem sabor metálico a água; a água ferruginosa
favorem o desenvolvimento das ferrobacterias, que causam maus odores e coloração a água e
obstruem as canalizacoes. Os constituintes responsáveis são os sólidos dissolvidos. Os limites de
ferro e manganês são 0,3 mg/l e 0,1 mg/l respectivamente.
Nitrogénio: está presente na forma de sólidos em suspensão e sólidos dissolvidos. Na água pode
estar sob as seguintes formas: nitrogénio molecular (N2), nitrogénio orgânico (dissolvido ou em
suspensão), amónia (livre NH3 e ionizada NH4+), nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-). O limite
máximo de tolerância em nitritos e nitratos é de 3,0 mg/l e 50 mg/l, respectivamente.
Sulfatos: os constituintes responsáveis por este parâmetro estão na forma de sólidos dissolvidos.
O ião sulfato pode ser um indicador de poluição de uma das fases da decomposição da matéria
orgânica e dependendo da concentração, pode produzir efeitos laxativos. O limite máximo
admissível é de 250 mg/l.
Matéria Orgânica: a matéria orgânica pode ter origem natural ou antropogénica e é mensurada
através do consumo de oxigénio dissolvido na água. A matéria carbonácea (com base no carbono
orgânico) divide-se em fracção não biodegradável (em suspensão e dissolvida) e fracção
biodegradável (em suspensão e dissolvida). E o limite admissível é de 2,5 mg/l, porque acima
deste nível, aumenta a proliferação dos microorganismos.
O sistema de abastecimento de água da AdeM na essência técnica, é constituída por uma estacão
de tratamento (ETA), um sistema de transporte, um sistema de armazenamento e um sistema de
distribuição. A ETA é composta por um sistema de bombagem de água bruta que alimenta as
instalações de tratamento, um conjunto de tratamento e um sistema de bombagem de água
tratada para os diversos centros distribuidores (AdeM, s/d).
O processo de tratamento da água na AdeM, inclui a pré-oxidação com cloro gasoso, mistura
rápida com sulfato de alumínio e polielectrólito para coagulação/floculação (apenas em épocas
de altas turvações); decantação; filtração com filtros de areia, adição da cal para correcção do
pH; desinfecção com cloro gasoso (Figura 1).
15
De cordo com MARTINS (2014), de forma a se compreender melhor como funcionam os sistemas
de tratamento de água para consumo humano, far-se-á seguidamente e de modo sucinto uma breve
explicação sobre as diferentes etapas do processamento da água.
Pré – oxidação
Esta operação utiliza-se sobretudo quando a água é de origem superficial. O objectivo é efectuar
uma desinfecção primária, oxidar a matéria orgânica, remover compostos de cor, sabor, cheiro e
poderá também ajudar na remoção do ferro e manganês. Os agentes oxidantes mais utilizados
são cloro e dióxido de cloro.
Coagulação e floculação
Floculação e sedimentação
Basicamente estes dois processos ocorrem nos decantadores. A sedimentação consiste na queda
dos flóculos de maior densidade que a água, permitindo assim a clarificação preliminar da água.
Uma vez que nem todos flóculos têm densidade suficiente para se sedimentarem, a água passa
para o processo seguinte para uma efectiva clarificação. Na ETA do Umbeluzi, a remoção sob
forma de lamas é feita automaticamente.
Filtração
O sistema de filtração usada na ETA de Umbeluzi é a filtração rápida com leito de areia. Ela
consiste em fazer passar a água decantada por um filtro de um leito poroso de areia com a
granulometria seleccionada para o efeito. A essência deste processo é remover os flóculos
remanescentes do efluente da decantação. A filtração também remove algumas bactérias e algas.
Neutralização
Consiste na correcção do estado calco carbónico da água, de forma a evitar que ela seja
corrosiva, portanto para efeitos de protecção das canalizações tanto do sistema de transporte
como da distribuição. Este processo desenrola-se usando água e cal.
Diversos factores influenciam a qualidade da água em todo seu trajecto, desde a sua captação,
passando pelo sistema adutor, estacão de tratamento, e rede de distribuição. Dentre eles,
identificam-se os factores biológicos, químicos e físicos (GOMES, 2014).
18
Inúmeras são as impurezas que se encontram nas águas naturais, várias delas inócuas, pouco
desejáveis e algumas extremamente perigosas. No caso das águas em fontes abertas (rios - fonte
primária), diversos factores podem comprometer sua qualidade, o destino final do esgoto
doméstico e industrial em fossas e tanques sépticos, a disposição inadequada de resíduos sólidos
urbanos e industriais, postos de combustíveis, criação de animais, lavagem de máquinas usadas
na agricultura, representam fontes de contaminação por bactérias e vírus patogénicos, parasitas,
substâncias orgânicas e inorgânicas nocivas ao homem (SILVA & ARAUJO, 2003).
A água que sai da estação de tratamento pode chegar ao domicílio com algum material
contaminante dissolvido nela. Dentre o material dissolvido encontram-se as mais variadas
substâncias como, por exemplo, substâncias calcárias e magnesianas que tornam a água dura;
substâncias ferruginosas que dão cor e sabor diferentes à mesma, resultante das actividades
humanas, tais como produtos industriais, que a tornam imprópria ao consumo. Por sua vez, a
água pode carregar substâncias em suspensão, tais como partículas finas dos terrenos por onde
passa e que dão turbidez à mesma; pode também carregar substâncias animadas, como algas, que
modificam seu sabor, ou ainda, quando passam sobre terrenos sujeitos à actividade humana,
podem levar em suspensão microorganismos patogénicos (PASSADOR & FREITAS, 2001).
Para a garantia da qualidade da água tratada não basta a mera existência de estacão de tratamento
de água (ETA), mas também, principalmente de um mínimo de controlo operacional de todos
processos unitários de tratamento (PIEREZAN, 2009); e também de uma avaliação integrada da
sua qualidade ao longo do abastecimento, da fonte primária de captação ao consumidor.
19
3. MATERIAIS E MÉTODOS
A maior parte dos centros comerciais (mercados) que o distrito possui, tal é o caso de Benfica
(Jorge Dimitrov), Choupal (25 de Junho ”A”), Malhazine e outros deparam-se com a grande
problemática de saneamento do meio. Barracas com produtos comerciais bem ao lado de um
canal de água de uma tubagem rompida, ou de um canal de esgoto, são frequentemente
encotrados. Estes problemas são mais notáveis no tempo chuvoso, onde as águas das chuvas e
das tubagens furadas misturam-se por vezes com a dos esgotos colocando em perigo a saúde
pública dos vendedores e dos frequentadores dos referidos centros comerciais (UNICEF, 2000).
de 913,8 hectares e vai desde Luís Cabral até bairro de Zimpeto, distribuída pelos sectores
familiares dispersos, familiar associativo, cooperativo e privado (CHICAMISSE, 2005).
A definição desses pontos de recolha de amostras baseou-se no facto de, segundo o fluxograma
de tratamento de água na ETA de Umbeluzi e sua distribuição até à rede, serem potencialmente
críticos de ponto de vista de contaminação assim como permitirem a identificação do intervalo
do percurso onde possa eventualmente registar-se uma potencial contaminação ao longo do fluxo
da água (BUCKER, 2013). Este desenho ajuda na identificação do possível percurso
problemática e permitir eventuais medidas correctivas no fluxograma do processamento
praticado pelas águas da região de Maputo.
Para o presente estudo foram escolhidos como parâmetros de relevância para avaliação da
qualidade microbiológica da água os seguintes, coliformes totais, coliformes fecais e eschericia
coli uma vez que segundo RUOCCO (2010) a presença destas bactérias na água pode indicar
existência de falhas no processo ou no sistema de distribuição. Todas as amostras foram
processadas pelo método de membrana filtrante (LNHAA, 1997).
Número de amostras
Pontos de recolha a a Total
1 fase 2 fase
Rio Umbeluzi 1 1 2
Cisterna de armazenamento na ETA 1 1 2
Campo de distribuição de Chamanculo 1 1 2
Torneiras caseiras/casas 16 16 32
Total 19 19 38
Após efectuar-se as colectas os frascos foram vedados, identificados com informações relativas a
fonte (torneira), data, mês e ano, local e horas da colecta. Acondicionados em caixas isotérmicas
(colman) para o efectivo controlo da temperatura e evitar alterações das mesmas, os frascos
foram transportados para o Laboratório Nacional de Higiene Água e Alimentos (LNHAA) para
as respectivas análises. Todas as amostras foram colectadas no período da manhã (6 horas) e
22
A análise da água foi efectuada método de filtração em membrana método preconizado pelo
standartd methods for the examination and wasterwater APHA et al. (2012) usados no
laboratório Nacional de Higiene Água e Alimentos (LNHAA).
Preparação da mostra
A análise laboratorial da água iniciou 6 horas após a sua colheita. Antes de iniciarem as análises,
esterilizou-se a área de serviço com álcool a 70%.
Filtração:
Colocou-se assepticamente com pinça esterilizada (flamejada com álcool) a membrana filtrante
sobre porta-filtro colocou-se cuidadosamente o copo (funil), filtrou-se 100ml de água para
consumo. Após filtração, removeu-se assepticamente a membrana do equipamento de filtração
com auxílio de uma pinça esterilizada colocando-a sobre a placa já preparada com meio
membrana Lauryl Sulphate Agar solidificado e seco, certificando-se que não fiquem bolhas de ar
por baixo da membrana (3). (LNHAA, 1997).
Incubação e contagem
Coliformes fecais e Escherichia coli: As placas já com a amostra a analisar foram incubadas
invertidas (44,0±0,5o C) durante (21±3) horas (Figura 5), após a incubação considerou-se todas
as colónias de cor amarela típicas com halo e as atípicas de cor amarela sem halo e as de cor de
laranja independemente do tamanho e faz-se a contagem. A cor das colónias pode-se alterar com
o arrefecimento pelo que é conveniente fazer a leitura das placas o mais rapidamente possível
depois de retiradas da incubadora LNHAA (1997).
Coliformes totais:
As placas já com a amostra a analisar foram incubadas invertidas a (36,0±0,2o C) durante (21±3)
h, após a incubação consideram-se todas as colónias de cor amarela típicas com halo e as atípicas
de amarela sem halo e as de cor de laranja independemente do tamanho e faz-se a contagem
LNHAA (1997)
24
Após a incubação contam se colónias típicas e atípicas. Seleccionar colónias amarelas com halo
(típicas), colónias amarelas sem halo e colónias laranja para fazer subcultura em PCA/NA
incubar a (36,0 ± 2) durante (21 ± 3) horas para fazer o teste de oxidase. Colónias típicas e
atípicas com oxidase negativa e lactose positiva confirmam a presença coliformes fecais.
Oxidase negativa: repicar para calda bílis verde brilhante (BVB) e incubar a (44,0 ± 0,5) oc
durante (21 ± 3).
Tubo com lactose positiva: repicar para caldo de Tryptona e incubar a (44,0 ± 0,5)oc durante (21
± 3). Após a incubação adicionar 0,2 a 0,3 ml de reagente de Kovacs. O desenvolvimento da cor
vermelha na superfície do meio confirma a produção do indol (presença de Escherichia Coli).
(LNHAA, 1997)
Após a incubação contam se colónia típica e atípica, uma placa que não apresenta formação de
colónias na membrana significa ausência para coliformes totais. Seleccionar colónias amarelas
com halo (típicas), colónias amarelas sem halo e colónias laranja para fazer subcultura em
PCA/NA incubar a (36,0 ± 2) durante (21 ± 3) horas para fazer o teste de oxidase. Colónia típica
oxidase negativa: confirmação de coliformes fecais.
Colónias atípica oxidase negativa devem ser confirmadas transferindo para calda bílis verde
brilhante a 2% (BVB) e incubar a (44,0 ± 0,5oc) durante (21 ± 3). Oxidase negativa, produção de
gás nos tubos e viragem da cor do meio (confirmação de coliformes totais LNHAA (1997).
Aos dados colhidos, aplicou-se o teste F, através da Análise da Variância (ANOVA), com
recurso ao pacote estatístico (SPSS) versão. 20 a um nível de significância de 5%, com objectivo
de tirar inferências no que concerne a presença ou ausência de contaminantes microbiológicos da
água recolhida nos diferentes pontos. Assim, fez-se o teste de comparação de médias (teste de
25
4. RESULTADOS
90%
79%
80% 76%
68%
70%
Percentagem (%)
60%
50%
40% Ausente
32%
30% 24% Presente
21%
20%
10%
0%
Coliformes Totais Coliformes Fecais Escherichia Coli
Tipos de Coliformes
Gráfico 1: Percentual de potenciais contaminantes microbiólógicos obtidos nas águas do Rio, ETA, CD
Cnamanculo e torneiras caseiras.
Os resultados dos potenciais contaminantes em média, por ordem decrescente de presença estão
em UFC em cada 100 ml estão ilustrados no Gráfico 2. Através do mesmo, verifica-se
claramente que houve mais presença de bactérias do grupo Coliformes Totais.
27
25
19.9
20
UFC/100ml
15
10.7
10
6.1
5
0
Coliformes Totais Coliformes Fecais Escherichia Coli
Tipos de Coliformes
Gráfico 2: Potenciais contaminantes microbiológicos da água (UFC/100ml) por ordem decrescente de presença
Tabela 5: Teste de comparação de médias (Tukey) relativamente a presença ou ausência de Coliformes Totais
Tabela 6: Parâmetros microbiológicos em UFC/100mL obtidos Rio Umbeluzi, ETA CD Chamanculo e torneiras
caseiras.
seguido do Bairro de Bagamoio, Bairro 25 de Junho “B”, Bairro Jorge Dimitrov, Inhagoia “B”,
Bairro Luis Cabral.
60
50 48.17
40
UFC/100ml
30 26.33 24.83
20
11.33 10.92 9.50
10
0
Rio Bairro Bairro 25 de Bairro George Bairro Inhagoia Bairro Luis
Bagamoio Junho B Dimitrov B Cabral
Bairros
4.3. Comparação dos resultados das análises laboratoriais com os parâmetros ideais do
padrão de potabilidade da água
Comparando os resultados da análise laboratorial da água nos diferentes pontos de colecta com
os parâmetros ideais do padrão de potabilidade da água segundo a legislação moçambicana,
verificou-se que apenas quatro (4) pontos ou locais, nomeadamente, ETA, C.D Chamanculo,
Bairro 25 de Junho A, e Bairro Inhagoia A, apresentaram-se próprias para o consumo humano,
porque apresentam limites ideais de acordo com a legislação. Porém, os restantes bairros
apresentam-se impróprias para o consumo humano (Tabela 7).
30
Tabela 7: Comparação entre os resultados laboratoriais (UFC/100 ml) com os parâmetros ideias do padrão de
potabilidade da água.
Bairro Luís 13 0 8 0 8 0
Cabral
a
– Resultado Laboratorial. b – Limite Admissível pela legislação Moçambicana
31
A outra razão para a presença de contaminantes (Coliformes totais e fecais e E. coli) ao nível das
torneiras caseiras, pode estar relacionada à roturas das condutas causando pressão negativa ao
longo das tubulações, sobretudo ao nível dos bairros no percurso entre CD Chamanculo e
torneiras das casas pois, de acordo com GOMES (2014), os vazamentos provocam a
contaminação, quando ocorre pressão negativa responsável pela introdução de contaminantes
para dentro da tubulação.
Segundo DIAS (2006), a rede de abastecimento público deve ser doptada de equipamentos de
monitoramento contínuo de qualidade da água. O ideal seria que toda a rede fosse monitorada
para promover a máxima protecção da saúde pública. Porém, por razões de economia, o
monitoramento é realizado com um número reduzido de equipamento localizados em pontos
estratégicos da rede tais como, a estacão de tratamento e centro de distribuição, de forma a
auxiliar na detecção de contaminantes, na identificação das suas fontes e consequente redução de
riscos a população, que é o caso dos bairros do Distrito Municipal Kamubukwana onde o
32
De acordo com a hipotese inicial (H2) o consumidor final (no domicílio) e a fonte de captação
inicial (Rio Umbeluzi) são os principais pontos de contaminação. Os resultados mostram ainda
que a ETA, CDChamanculo e alguns bairros nomeadamente, Bairros 25 de Junho A e Inhagoia
B não são fontes de contaminação, remetendo a ideia de que o maior problema está ligado ao
consumidor final. O saneamento básico do meio de forma individual e colectivo, exposição das
condutas de água pela erosão provocada pelas chuvas podem ser as razões da contaminação pois
segundo BAQUETE (1996), para além da falta de saneamento, alguns bairros do Distrito
KaMubukwana, estão desprovidos de valas de drenagem para o escoamento das águas, sejam de
chuvas, provenientes das rupturas de tubos de canalização de água, bem como as negras, o que
pode contribuir para contaminar a água através das tubagens expostas pela erosão ou
proximidade das torneiras a esses locais.
Para CHEREWA et al. (1996) um dos principais problemas ambientais na maioria dos bairros do
Distrito Kamubukwana relaciona-se com deficiente saneamento do meio ambiente, que resulta
na sua contaminação, caracterizado pelo deficiente abastecimento de água e propagação de
doenças diarreicas. Estas situações fazem com que a água mesmo saindo do reservatório limpa,
sem contaminação, durante o percurso até a sua chegada nas torneiras das famílias a água sofra
alguma contaminação microbiológica. Resultados idênticos foram encontrados por OKURA
(2005), onde em 20% das amostras colectadas nas residências encontraram se contaminadas por
coliformes, evidenciando que, mesmo após tratamento, podem ocorrer contaminações hídricas.
O Rio Umbeluzi (fonte de captação inicial) figura como um dos principais pontos de
contaminação. Isto pode estar relacionado ao descrito por EVANS et al. (2006), pois segundo
estes autores, duas formas principais de contaminação microbiológica das fontes de captação
(rios) são conhecidas: a primeira é directamente através da actividade de insectos, pássaros e
pequenos mamíferos e outras diversas formas de uso de terra nas ribeirinhas do rio, desde
abeberamento de gado, lavagem de roupas pelas comunidades, prática de agricultura nas zonas
ribeirinhas, remoção da vegetação que de alguma forma ajudaria a limpar a água; e a segunda é a
deposição atmosférica de organismos no ambiente. Este é o caso das ribeirinhas do Rio
umbeluzi, onde pratica-se agricultura, abebera-se o gado que normalmente defeca, entre outras
formas de uso de terra que contaminam a água.
PETERS (2006) concluiu que dentre os diversos materiais e substâncias presentes nestas
superfícies que podem contaminar a água, citam-se: fezes de aves e roedores, artrópodes e outros
animais mortos em decomposição, poeira, folhas e galhos de árvores, entre outros que ocasionam
tanto a contaminação por compostos químicos quanto por agentes patogénicos.
5.3. Comparação dos resultados das análises laboratoriais com os parâmetros ideais do
padrão de potabilidade da água
De acordo com a hipótese inicial (H3) as anaise microbiológicas de água da ETA Umbeluzi, CD
Chamanculo estão dentro dos padrões de potabilidade de água. Porém, contrariamente a hipótese
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inicinial (H3) os Bairros de Bagamoio, Bairro 25 de Junho B, Bairro George Dimitrov, Bairro
Inhagoia A, e Bairro Luís Cabral apresentam água com um nível de potabilidade que não
corresponde ao padrão ideal de água exigido para o consumo humano. A ausência de
potabilidade nestes bairros relaciona-se sobretudo às bactérias do grupo coliformes. De acordo
com SOUZA & PERRONE (2000) a existência de coliformes totais na água que sofreu
desinfecção, torna-se um risco para a saúde e está relacionado ao tratamento inadequado ou
inabilidade de manter o desinfectante residual na água distribuída e torna-se um risco para a
saúde. Resultados semelhantes de potabilidade de água em torneiras residenciais foram
encontrados por RUOCCO (2010), onde um total de 50% das amostras, não atendiam ao
preconizado pela lei nacional de água em relação aos parâmetros microbiológicos. LIBANEO
(2010), também apresentou amostras reprovadas em seu estudo, sendo que das 20 amostras
analisadas, 35% apresentaram não potabilidade pela presença de coliformes totais e fecais.
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6. CONCLUSÕES
7. RECOMENDAÇÕES
Aos pesquisadores
Que façam estudos semelhantes em outros bairros, com a inclusão de outros parâmetros
como os físicos e químicos de modo a se aferir o grau de contaminação ao nível destes
parâmetros.
Que façam um controlo extensivo até ao nível dos bairros e não se circunscreverem
apenas a ETA E CD Chamanculo, para garantir que a água chegue ao consumidor com a
mesma qualidade que deixa esses dois locais;
Que façam regularmente exames bacteriológicos, físicos e químicos da água ao nível das
casas por forma a aferir o grau da potabilidade da água consumidas pelas populações e
promoverem campanhas de educação cívica e sensibilização acerca dos riscos à saúde
pública do consumo de água com baixa potabilidade.
Aos consumidores
Que tenham hábito de ferver ou promoverem outro tipo de tratamento à água das
torneiras das casas.
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8. BIBLIOGRAFIA
9. APÊNDICE
10. ANEXOS
Marracuene
Vale de Infulene