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antetiormente bastante povoaco, permitia, sem divida, um tréiego importante nos dois sentidos, como se pode supor ainda hoje com o movimento migratbrio dos morcadores Hauss4 quo transitam facilmen- te entre 0 Senegal.¢ a Africa ocidental, levando com suas mercadorias, novas idéias, novas técrieas ete, Foram eles, aliés, um dos elementos importantes na difusio do Isldo na Africa negra. A falta, contudo, d= dados arqueclégicos que venham confirmar uma eventual influencia agiocia. impde-se uma reserva prudente a todo tipo de afirmacao apressada nesse sentido, Muito ao contrérlo, as evidéncias cientiicas, atuais tender a mostrar precsamente que a AFica negra tor-sc-ia desenvolvido de modo bastante auténomo e antorior & constituicao da civilizagde egipcia. Nesse sentida, a resposta a interrogacao que Nok lavanta hoje @ que Ifé suscitou igualmente nas primeiras décadas deste sé- culo deve ser paciantemente esperada do proprio solo da Africa negra 13.3 Compreensao da arte afticana Embora o interesse central do presente trabalho sejam as artes plasti: cas, isso nao significa que a Africa nao tenha praticado, e com muito SuceSSD, OUTTOS Tipos de arte, como as artes decorativas € seculares. Sua mdsica @ dange que tanto influenciaram as Américas sero trata des quando felarmos da erie afro-brasileira. Falaremas igualmente de literatura oral africana que deixou marca bem nitida nos contos populares baianos, reformulada depois na obra litoréria de alguns autores brasileiros, sobretudo do Nordeste'?. Para uma compreensio global, pois, da arte africana impde-se consider&-ta em ts nivais: a) o formal e técnico: b) a finalidade e o sentido; c) sua capacidade de influir sobre outras. culturas. a) 0 formal e técnico Como vimos anteriormente, a escultura em madeira faz-se pelo proces- so subtrativo, enquanto a terracota e ceramica s20 modelades pela ‘técnica acitiva. Essa primeira técnica marcou de tal inodo o artista afi cano que, 20 trabalhar a pedra, modela-a como um tronco de madeira, mesmo quando se trate de material t80 duro como o quartzo. Isto néo impede, contudo, que o artista africano mantenha uma grands fidolida do a propria qualidade do material trabalhado |direcéo dos veios de madeira, forma da pedra etc.), muito pelo contraric, eniatize-a esta- belecando um contato mais direto-entre ele e a obra. As ferramentas utilizadas so sampre um conjunto de enxés que refinem as tungdes de cinzel @ maiha. Essas perfazem o trabalho mais importante de des baste, @ 0 acabamento 6 todo feito por peauenes tacas. A escultura em madeira, feita em tronco de madeira verde por set mais facil de tra balar, compreende desde estatuetes de algumas polegadas apenas até postes esculpides que ornamentamn es varendas, ¢ os impluvia de certas cases. 11249 Mascara ton Janus. magera ‘eveate do e0.r0 do antione. Eki, Nighia, Sel Museu Brtérica, Lordios Dentro as esculturas em madeira sobressaem-se, de maneira par ticular, as méscaras que apresentam tras formas principals: as que apostas ao rosto, as que so pousatas no topo da cabeca @ as mas: caras-elmos; estas recebem a cabeca do portador através de abertura da base e so muitas vezes do tipo Janus. Todo o bronze é tabalnado pelo ja relerido proceso da cera-perdida’?, que ¢ uma técnica essen: Gialmente aditiva, 2 um nGcleo de argila v4o-se aplicando os desenhos ‘em cera. 0 ferro 6 forjado 0, om alguns casos, fundido. Cortes regides, fazom uso importante da oxtrusio manual para obten io de fios de forra do finalidades diversas, 0 minério de ferro bruto 6 ritualizado entra alguns grupos @ certas divindaces tam a sua paraterndlia feita desse material, 0 que pode valer também para qutros metais. 1360 Conjunto do anes para cenlaccdo © scabamento dae mazeatas, fro © madeira erm 48 © locas de 17 ¢ 24, Pebl, Fepuoica Pepuler do Benim, col MAB/USP 1961 Fases de fabrieac de ura oro Guelose, madaira, da aaquerde para lia 75 x 23, 28.6 » 24, 286 x 26 Foxe, epublica Popular do Benim, col Macius?, 1362 Sasides de foro a parr dos quas das esiauetes. Cadinhos para funaitda do fronsa em fornaina e fiber a ogra, col MAEIUSP. 13839, b Elapas de cera percice sha tecmabisea dapeca 6 fale de core recabie © ¢ modeaga en volta da forma de ergte 580 esculbides os derates e arlicam'se decoracées om cera tw) armodoo.é ceberte de ergla ¢ quande Sobre una pequene chema pare qua 8 tata darreta formando assim 0 molde fs bronoe dered ete do molde vezi, Apbe 0 e brows, sti b) a finalidade € 0 sentido Os africanos ritualizam no s6 os metais mas varios outros objetos. A vida do africano pontilhada de rituais, ¢ esta é uma das razdes que levou varios antropélogos e crtices de arte & afirmacio do ser a arte Be africana essencialmente religiosa. Estudos atuais mostram, contudo, que a realidade 6 bem mais matizada do que possa aparentar. Se 2 arte africana tem uma conotacdo religiosa, igualmente intormada de aspectos politicos, econdmicos ou domésticos. Sao precisamente tais rotulos que dificultam uma compreensao maior da arte africana ou de qualquer outra arte chamada ‘exética’. Existem alias exemplos de obje- tos de arte africana sem fungéo veligiosa algumna. € claro que a’prte africana tem uma conotagao religiosa profunda, mas este nfo 6 um critério suficiente para defini-la, sobretudo se tal eritério for acompanhado de toda uma conceituacdo da estética ocidental Esta, de fato, s6 obscureceré 0 sentido de uma realidade que nao foi concebida em seus termos. A arte africana 6 basicamente funcional, mas qual outra nao 0 é em ceria medida? “A arte pelo amor a arte” é um conosito recente e, mes- mo nessa perspectiva, 0 produto artistico adquire ume fungao social, quando mais nao fosse @ de decorar ou conferir status @ seu possui- dor. Mesmo 20 nivel da func, nem todos os objetos de arte africana tém uma finalidade claramente dofirida. Nessa linha de argumentacéo colocam-se 08 bronzes fon, do Daomé, representando cenas da vida cotidiana sem nenhuma finalidade didética ou religiosa, e alguns similares baul8 2 entre outros. Tais objetos estabelecem simplesmente Prestigio Ou status para os seus detentores, pois o material usado é considerado precioso. Quando a arte alricana apresenta finalidade essencialmente religiosa, esta assume toda uma gama de signiticados © préticas diversas. Algumas esculturas africanas so vistas apenas por pequeno grupo de iniciados, como os bronzes de Sociedade Secreta Ogboni dos Yoruba Cortas estatuetas de santuérios ou certas mascaras no slo expostes 0s fiis, enquanto outtas ndo so vistas pelos préprios sacordotes como ocorre com a escultura do orixé Iko de If. Outras esculturas so guardadas ou escondidas.no intervalo dos ‘estivais, quando ent&o aparece. Acontece também que certas esculturas, quando em uso, ‘80 podem ser vistas por certos membros da sociedade. HA certas mas- ‘caras usadas no topo da cabeca que nao devem ser titadas pelos espectadores ou fiéis mas somente pelos espiritos! Enfim, os exemplos poderiam ainda multiplicar-se e talvez nao esgotas- semos 0 assunto. Portanto, pode-se concluir que nem a religiosidade nem a funcionalidade so critérios bastante ebrangentes para definir a arte africana. Talvez a dofinigtio nativa soja realmente a mais pertinente. Assim 6 necessério saber-se 0 que 0 consumidor © 0 critico ou 0 critico-consu- midor pensam da mesma, pois rararente na Africa o artista 6 20 mes- mo tempo seu. préprio esteta como costuma ocorrer no Ocidente Pesquisas nesse sentido foram faitas recentemente, algumas cam bas- : tante sucesso". A primeira tentativa de estabelecer uma estética ati cana foi feita por H. Himmelheber" entre os Guto e os Atutu, da Costa do Marfim. Para grande surpresa e decencao suas, 0 artiste marfiniano ndo sentia nenhuma “alegria criadora” mas trabelhava pare ganhar

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