FORTALEZA-CEARÁ
2017
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FORTALEZA – CEARÁ
2017
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BANCA EXAMINADORA
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AGRADECIMENTOS
À banca examinadora formada pelas professoras Silvia Maria Negreiros Bonfim Silva
e Sebastian Shirley de Oliveira Lima que analisaram meu trabalho com olhos
benevolentes
Sou grata à 2ª turma da Especialização Gestão do trabalho e Educação em Saúde
pelo clima de alegria, boniteza e amorosidade que se estabeleceu em todo o curso,
tal qual preconiza nosso Grandioso Educador Paulo Freire.
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RESUMO
A saúde, no Brasil, é direito de todos e dever do Estado e mais que isso, a saúde é item de
relevância pública, o que assegura a participação da sociedade no cumprimento de suas
prerrogativas legais. O SUS volta-se para as reais necessidades da população e para a
democratização do setor. O objetivo desse trabalho consiste em fomentar novas tecnologias
de trabalho a partir das que já foram criadas e implementadas, pelo Setor de Psicologia, no
seio da atenção primária de saúde, com o propósito de incentivar outros profissionais para
que, também, possam se aventurar nesta fascinante viagem que é a mente humana,
aprimorando cada vez mais o fazer psicológico. Trata-se de um estudo descritivo realizado a
partir do relato de experiência da aprendizagem vivencial da autora em seu campo de
atuação. Este tipo de pesquisa visa à descrição das características de determinada
população ou fenômeno, bem como tem a pretensão de estabelecer relações entre diversas
variáveis. A análise dos dados foi realizada utilizando os pressupostos da fenomenologia,
considerando a relação dos sujeitos pesquisados com o ambiente no qual estão inseridos,
incluindo, ainda, neste mesmo ambiente, a relação com outros profissionais, com os
usuários, os familiares destes e a relação da pesquisadora consigo mesma. No CAPS, o
Psicólogo se utilizava de vários recursos tais como: Entrevista
Psicológica/Anamnese/Avaliação, onde tinha contato com a história do paciente, ou seja,
com a subjetividade deste, contextualizando a queixa e o sofrimento, na dinâmica familiar
e/ou no meio social, avaliando os condicionantes e potencialidades do indivíduo, com o
propósito de propor um melhor plano terapêutico possível. A partir do momento que o
Psicólogo disponibilizava um espaço acolhedor para se discutir tais questões, o indivíduo
podia se reconhecer no outro e perceber que não estava sozinho e, desta forma, podia se
vincular às demais pessoas formando laços sociais. Esta vinculação genuína com o outro,
possibilitava o redimensionamento do problema enfrentado e a atenuação do sofrimento
psíquico, diminuindo a ansiedade e os sintomas da depressão. Promover saúde na esfera
psicossocial é fomentar debates que propiciem a compreensão de fenômenos psicológicos,
bem como a compreensão de fenômenos político-econômico-sociais, onde deve
preponderar o diálogo entre os diferentes atores sociais e a tolerância, como um ingrediente
a ser adotados por todos que se propõe a trabalhar com a saúde mental.
ABSTRACT
Health, in Brazil, is the right of everyone and the duty of the State, and more than that, health
is an element of public relevance, which ensures the participation of society in the fulfillment
of its legal prerogatives. The SUS turns to the real needs of the population and for the
democratization of the sector. The objective of this work is to promote new work technologies
from those that were already created and implemented by the Psychology Sector within the
primary health care with the purpose of encouraging other professionals so that they can
also venture fascinating journey that is the human mind, improving more and more the
psychological doing. It is a descriptive study made from the experience story of the author's
experiential learning in her field of action. This type of research points to the description of
the characteristics of a given population or phenomenon, as well as the pretension to
establish relationships between several variables. The analysis of the data was made using
the budgets of the phenomenology, considering the relation of the subjects investigated with
the environment in which they are inserted, including, even in this same environment, the
relationship with other professionals, with the users, relatives of these and the relationship of
the researcher with herself. In the CAPS, the Psychologist used several resources such as:
Psychological Interview / Anamnesis / Evaluation, where he had contact with the patient's
history, that is, with the patient's subjectivity, contextualizing the complaint and suffering, in
the family dynamics and / or in the social environment, evaluating the conditions and
potentialities of the individual, with the purpose of proposing a better possible therapeutic
plan. From the moment in which the Psychologist offered a welcoming space to discuss such
issues, the individual could recognize himself in the other and perceive that he was not alone
and, in this way, could be linked to other people forming social bonds. This genuine
connection with the other, made possible the redimensioning of the problem faced and the
attenuation of the psychic suffering, decreasing the anxiety and the symptoms of the
depression. Promoting health in the psychosocial sphere is to encourage debates that favor
the understanding of psychological phenomena, as well as the understanding of political-
economic-social phenomena, where the dialogue between the different social actors and
tolerance must prevail, as an ingredient to be adopted by everyone who intends to work with
mental health.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................... 13
2 OBJETIVOS...................................................................................... 20
2.1 GERAL............................................................................................. 20
2.2 ESPECÍFICOS.................................................................................. 20
3 METODOLOGIA................................................................................ 21
4 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................ 23
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ITAPIPOCA.................. 28
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................ 31
5.1 BASES DO APRENDIZADO DA PESQUISADORA......................... 32
5.2 ESTRATÉGIAS E INSTRUMENTAIS UTILIZADOS PELO
PSICÓLOGO NO CAPS................................................................. 34
5.3 DIFICULDADES E FACILIDADES NO ÂMBITO DA ATUAÇÃO DO
PSICÓLOGO NO NASF................................................................. 38
6 DEBATE TEÓRICO.......................................................................... 42
6.1 BREVE HISTÓRICO DA CONCEPÇÃO DA INFÂNCIA ................. 42
6.2 A IMPORTÂNCIA DADA ÀS CRIANÇAS PELO ENFOQUE DO
ALEITAMENTO................................................................................. 43
6.3 A CONCEPÇÃO DA INFÂNCIA HOJE E SUAS IMPLICAÇÕES..... 44
6.4 A CONSTRUÇÃO DA MORAL SEGUNDO O CONSTRUTIVISMO 46
6.5 DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA ABORDAGEM SÓCIO
INTERACIONISTA............................................................................ 47
6.6 APRENDIZADO X DESENVOLVIMENTO: A ZONA DE
DESENVOLVIMENTO PROXIMAL.................................................. 48
6.7 FUNÇÕES DA BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL SEGUNDO A CONCEPÇÃO SÓCIO INTERACIONISTA 48
6.8 IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA VIDA HUMANA SEGUNDO O
PSICANALISTA BRUNO BETTELHEIM........................................ 50
6.9 COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL SEGUNDO O
PSICANALISTA BRITÂNICO DONALD WINNICOTT................... 50
6.10 A FUNÇÃO DOS FENÔMENOS E OBJETOS TRANSICIONAIS
PARA WINNICOTT............................................................................ 54
12
1 INTRODUÇÃO
básicas de saúde, passando pelas unidades especializadas, pelo hospital geral, até
chegar ao hospital especializado.
Ele prevê a participação do setor privado, quer dizer, as ações serão feitas
pelos serviços públicos e, de forma complementar, pelo setor privado;
preferencialmente pelo setor filantrópico e sem fins lucrativos e por meio de contrato
administrativo ou convênio, o que não descaracteriza a natureza pública dos
serviços.
Por fim, deve promover a participação popular. O SUS é democrático porque
tem mecanismos de assegurar o direito de participação de todos os segmentos
envolvidos com o sistema: governos, prestadores de serviços, trabalhadores de
saúde e, principalmente, os usuários dos serviços, as comunidades e a população.
Os principais instrumentos para exercer esse controle social são os conselhos e as
conferências de saúde, que devem respeitar o critério de composição paritária
(participação igual entre usuários e os demais segmentos). Estes instrumentos têm
um caráter deliberativo, ou seja, tem poder de decisão.
Vale ressaltar que o SUS é consequência de muita luta e mobilização da
sociedade. A Constituição Brasileira reconheceu a saúde como um direito de
cidadania e instituiu um sistema que precisa ser implementado com base na
Constituição Federal e na regulamentação da LOS que, por sua vez, trata tanto da
participação da sociedade, como do financiamento da saúde (Lei nº 8080/90 e Lei nº
8142), bem como nas demais leis que de alguma forma se relacionam com o tema.
A saúde hoje passou a ser vista no seu sentido mais amplo, conquistando o status
de direito social.
Infelizmente, o SUS enfrenta muitos desafios à sua consolidação plena.
Incluindo a dificuldade de acesso, pois, em algumas cidades, principalmente nos
grandes centros, é longa a fila de espera para consultas, exames e cirurgias.
Dependendo do local, é comum não haver vagas para internação; faltam médicos,
pessoal para fazer o atendimento básico, medicamentos e até insumos primários.
Também é grande a demora nos encaminhamentos e na marcação para serviços
mais especializados. Muitas vezes os profissionais não estão preparados para
atender bem à população; sem contar que as condições de trabalho e de
remuneração que são geralmente muito ruins. Isso também acontece nos planos de
saúde que remuneram mal os profissionais credenciados.
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Muitos municípios, que assumiram a saúde de seus cidadãos, que respeitam a lei e
investem recursos próprios, estão conseguindo prestar atendimento com qualidade e
dignidade a toda população.
Todos nós podemos dar alguma contribuição. Precisamos participar
diretamente nessa luta, não apenas através de nossos representantes nos
Conselhos, mas por intermédios de fóruns sociais, de reivindicações e pressões
junto às autoridades, no sentido de que o conteúdo legal dos SUS seja
implementado na prática. Somente com o envolvimento de todos é possível
transformar a saúde ideal numa prática real.
A Atenção Primária à Saúde tem papel fundamental na efetivação do SUS,
pois ela representa o primeiro contato da população com a rede de assistência
dentro do sistema de saúde. Tem a função de atender a população de um território,
numa perspectiva integral e de continuidade da atenção, coordenação da Rede de
Atenção à Saúde, no SUS, com foco na família, servindo-se da competência dos
profissionais de saúde e contando com a ampla participação comunitária.
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) vem se consolidando como uma
verdadeira estratégia de reorientação do modelo de atenção à Saúde em nosso
país, expandindo e qualificando suas ações, de acordo com o trabalho e levando-se
em conta a questão de custo-benefício, com o objetivo de aumentar a resolubilidade
e competência de suas ações (BRASIL, 2014; BRASIL, 2016).
Os Núcleos de Apoio a Saúde da Família (NASF) foram criados a partir da
Portaria GM- 154 de 24 de janeiro de 2008 e sua implementação se deu, no ano
seguinte, em 2009. Sua politica está voltada para nove áreas estratégicas: Saúde
Mental, Saúde da Criança/do Adolescente, Reabilitação/ Saúde Integral da Pessoa
Idosa, Alimentação e Nutrição, Saúde da Mulher e do Jovem, Assistência
Farmacêutica, Atividades Físicas e Práticas Corporais, Praticas Integrativas e
Complementares e Serviço Social. Por sua vez, não constituem porta de entrada nos
sistema de saúde, mas sim de apoio às equipes de Saúde da Família e devem atuar
de acordo com algumas diretrizes: Interdisciplinaridade e Intersetorialidade,
Educação Permanente em Saúde, Desenvolvimento da Noção de Território,
Integralidade, Participação Social, Educação Popular, Promoção da Saúde e
Humanização em Saúde.
No âmbito da saúde mental, as doenças mentais e comportamentais têm
grande impacto sobre os indivíduos, as famílias e a sociedade (OMS, 2016). A OMS
18
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
2.2 ESPECÍFICOS
3 METODOLOGIA
Segundo Geertz (1989), é a cultura que tem papel decisivo nas relações
sociais e compreende um sistema de símbolos que interage com os sistemas de
símbolos de cada indivíduo, numa interação recíproca. Nessa perspectiva, símbolo
abrange qualquer ato, objeto, acontecimento ou relação que representa um
significado. Compreender o homem a partir da cultura, permite a interpretação dessa
teia de significados (MINAYO, 2011).
4 REFERENCIAL TEÓRICO
Num período pós-guerra, segundo esta autora, observa-se uma mudança no campo
da psiquiatria: de uma profissão liberal, torna-se submissa às corporações médico-
empresariais; da atenção focada na doença, transfere-se, agora, para a saúde; do
modelo fechado, autoritário, para um discurso mais humanizado e democrático.
Rosa, citando Birman & Costa (1994), afirma que os supracitados autores
distinguem dois períodos distintos na reforma psiquiátrica. No primeiro período,
apesar de reconhecer que o hospital é um ambiente neurotizante, adoecedor,
acredita-se que se fazendo a reforma por dentro, ou seja, humanizando-o e o
redemocratizando, este poderá cumprir seu objetivo inicial da época de sua criação,
ou seja, tratar e curar a doença. São depositárias desta concepção, a comunidade
terapêutica inglesa e a psicoterapia institucional francesa. O segundo período é
marcado pela transferência do tratamento que era direcionado aos pacientes, dentro
do hospital, para uma abordagem extramuros direcionada à comunidade ou
coletividades que, apesar de ter uma visão preventiva, ainda se centra numa
concepção de “medicalização social”. Representa este período, as psiquiatrias de
setor francesas e a comunitária/preventiva norte-americana. Na década de 60
surgem a antipsiquiatria inglesa, onde seus maiores expoentes eram David Cooper e
Ronald Laing e a psiquiatria basagliana.
As duas abordagens criticam radicalmente, tanto as instituições, como seus
dispositivos asilares e, inclusive, defendiam a derrubada dos muros asilares, ou seja,
o seu fechamento; o que as diferenciavam é que a primeira culpabilizava a família
pelo adoecimento do PTM (Portador de Transtorno Mental) e a segunda
responsabilizava a sociedade; enfim, o hospital psiquiátrico reproduzia as
instituições referidas acima.
Segundo Rosa, o “capitalismo keynesiano” muda o objeto, as práticas e as
concepções da psiquiatria tradicional, de acordo com os diferentes contextos
histórico-sociais; enfim, adota-se novos procedimentos terapêuticos e as relações
dos familiares com seus PTM ganham também ganham novos contornos.
Entretanto, a mesma autora, faz-nos um alerta quanto ao grande risco de as famílias
ficarem desassistidas, pelo poder público, com relação aos cuidados que o Estado
deve prestar ao doente, pois com a adoção do Estado Mínimo - enxugamento de
gastos com as políticas públicas, a partir da Reestruturação Produtiva, os governos
se sentem desobrigados de investirem nas políticas sociais. Esta responsabilidade
poderá recair nos familiares dos PTM, fragilizando-os ainda mais, nesta situação tão
28
coberta por coqueirais nativos e mangues que margeiam o Rio Mundaú. Seu solo é
composto de dunas, falésias, cascudos, salinas e restingas. O clima é tropical
úmido.
A última divisão territorial de Itapipoca data de 2005 e é dividida em 12
distritos: Itapipoca, Arapari, Assunção, Baleia, Barrento, Bela Vista, Calugi, Cruxati,
Deserto, Ipu Mazagão, Lagoa das Mercês e Marinheiros.
Sua área territorial, segundo dados de 2015, é de 1.614,159 km² e, segundo
os dados do último senso (2010) do IBGE, a densidade estava em torno de
71,90hab∕km². Foi estimado que sua população ficaria em torno de 126.234
habitantes, em 2016. Ainda, segundo este mesmo senso, o Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal foi de 0,640.
O esgotamento sanitário adequado (2010) é de 32,9% e a arborização das
vias públicas (2010) é de 85,5%.
O PIB Per Capita (2014) é de R$ 9.620,49 e o percentual das receitas
externas (2015) é 85,4%. O salário médio mensal dos trabalhadores formais (2014)
é de 1,6 salários mínimos e a população ocupada (2014) é de 12.186 pessoas
(9,9%). O percentual da população com rendimento nominal mensal per capita é de
até1∕2salário mínimo (2010), ou seja, 53%. A economia é baseada na agricultura de
família e num pequeno parque industrial e de serviços. Tem um comércio bastante
diversificado o que o torna um centro regional de compras e negócios.
A taxa de escolarização de 6 a 14 anos de idade (2010) é de 97,9%. O IDEB-
Anos Iniciais de Ensino Fundamental (2015) é de 5,6% e o IDEB- Anos Finais de
Ensino Fundamental é de 4,6%. As matrículas, no Ensino Fundamental (2015) ficou
em torno de 20.612 alunos.
Na saúde, o índice de mortalidade infantil (2014) ficou em torno de 10,58 e de
internações por diarreia por mil habitantes girou em torno de um caso somente.
Na Atenção Primária, o município de Itapipoca conta com 45 Unidades de
Saúde (40 Unidades Básicas de Saúde da Família, 1 Indígena, 3 Núcleos de Apoio à
Saúde da Família e 1 Centro de Especialidades Odontológicas). Na Atenção
Secundária, possui 3 Unidades (CAPS II, SAMU e UPA). Só tem 1 Hospital
Filantrópico (Hospital São Camilo). Provavelmente, no 2º semestre, será inaugurado
um Hospital Regional de Câncer, visto que no mês de maio houve um processo
seletivo, para compor o quadro de profissionais que nele irão atuar. Pode-se
acrescentar, ainda, ao território itapipoquense, um Consórcio composto de vários
30
municípios da região que é a Policlínica que, por sua vez, oferece várias
especialidades médicas e demais áreas da saúde.
Os NASF começaram a funcionar, em Itapipoca, no ano de 2009, com três
Núcleos (Fazendinha, Violete e Boa Vista). A Equipe é composta de Profissionais da
área de Fisioterapia, Nutrição, Assistência Social, Psicologia, Fonoaudiologia,
Terapia Ocupacional e Educação Física.
Atualmente, cada NASF acompanha entre 11 a 14 Unidades de Saúde da
Família, onde o Ministério da Saúde preconiza entre 5 a 8 Unidades apenas. Mas já
existe um Projeto, por parte de nossa Coordenação, para implantar mais 5Nasf, visto
que atualmente contamos com 41 UBS.
O NASF-Fazendinha, atualmente, faz cobertura de 14 Unidades a saber:
Taboca, Livramento, Encruzilhada, Lagoa da Cruz, Cacimbas, Mourão (onde fica
nossa sede), Estação, Centro I e Centro II, Salgado dos Pires, Calugi, Bela Vista,
Betânia I e II. Até a pouco tempo atendíamos o Posto da Lagoa das Mercês.
31
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
filiados ao Projeto da referida ONG; estes dispunham de um único espaço livre que
era o auditório. O material trabalhado nas oficinas também era limitado, pois a
própria psicoterapeuta tinha de adquiri-los, comprando-os. Outra dificuldade que
surgiu, na ocasião foi devido ao tempo disponível da Psicoterapeuta, onde teve de
adiar a data de alguns encontros, porque foi solicitada, pela Prefeitura Municipal de
Itapipoca, juntamente com outras profissionais da área da saúde do NASF, para
levantar dados sobre problemas enfrentados pelos alunos da educação
fundamental, no que diz respeito às situações que poderiam estar interferindo na
aprendizagem dos mesmos.
Os aspectos que foram investigados foram de ordem nutricional, psicológica e
fonoaudiológica. Estes dados requisitados pelo Ministério da Saúde iriam preencher
o sistema do SUS. Levamos, exatamente, dois meses, para realizamos o
supracitado trabalho, ocasionando a quebra de alguns encontros e,
consequentemente, interferindo sobremaneira no andamento dos grupos.
Mesmo diante de inúmeras dificuldades, estes encontros eram lotados e
tiveram uma duração de quase três anos; final do ano de 2012 até quase o final do
ano de 2015. O objetivo da criação destes grupos era atender o maior número de
pessoas que solicitavam o Setor de Psicologia, contemplando as demandas dos
infantes e também a angústia dos respectivos familiares que demonstravam muita
dificuldade, para lidar com os problemas apresentados por suas crianças. Enfim,
estes encontros visavam desenvolver o potencial cognitivo, trabalhar a autoestima
das crianças, melhorar as relações interpessoais entre seus pares, bem como as
relações intergeracionais, no seio da família.
Enquanto o Grupo Infantil tinha como objetivo facilitar a socialização das
crianças, desenvolver seu potencial cognitivo, trabalhar a afetividade e melhorar a
relação intrafamiliar, por sua vez, o Grupo de Orientação Familiar tinha como
propósito, apoiar, ou utilizando um conceito winnicottiano, “sustentar” esta família
que vinha com uma imensa angústia, para o atendimento clínico. As dificuldades
eram bastante variadas, pois iam desde as questões de aprendizagem da criança,
perpassando por questões de ordem afetiva e comportamental.
A ênfase maior era dada ao Grupo de Orientação Familiar, visto que,
compreendíamos que a inabilidade dos responsáveis pelas crianças ocasionava e
ou acirrava os problemas apresentados por estas. Nossa concepção consistia em
41
não culpabilizar a família pelas dificuldades apresentadas pelas crianças, mas apoiá-
las, para que conseguissem lidar de forma mais competente com seus infantes.
Como pode se depreender do relato exposto acima, houve muitas
dificuldades para implementarmos e darmos continuidade às nossas atividades,
tanto devido falta de aparato por parte da Coordenação de nossa Instituição, bem
como por parte da Secretaria de Saúde. Ficávamos tal qual na condição de órfãos,
ou seja, um pouco desamparados. Acredito que isto se deva por ser a inserção da
psicologia, na atenção básica, uma experiência nova em solo brasileiro, bem como à
dificuldade de se trabalhar interdisciplinarmente. Enquanto no SOS-Criança/Família,
todos os Educadores Sociais, Assistente Social e Psicóloga faziam seus registros,
em um único documento do Usuário, bem como no CAPS, todos os Técnicos e
Profissionais faziam seus registros num único Prontuário do Paciente, facilitando o
contato entre os Profissionais, no NASF, por outro lado, cada Técnico tinha seu
próprio Prontuário, onde se registrava o histórico de cada paciente, o que dificultava
muito a interdiscipliraridade entre os Técnicos.
Outro fator, e que talvez seja de maior relevância, diz respeito à questão do
desvio de nossa função, pois devíamos está mais voltados para situações de cunho
preventivo, através de ações coletivas; função própria da atenção básica. Entretanto,
na maioria das vezes, deparamo-nos com atendimentos clínicos, individualizados,
num típico atendimento que é próprio da atenção secundária. Outro fator que pode
ser apontado para tal dificuldade, diz respeito à enorme quantidade de UBS que os
NASF têm de acompanhar. Atualmente estamos fazendo a cobertura de 14 UBS; o
Ministério da Saúde preconiza, no máximo 8, mas o ideal é o acompanhamento de 5
UBS.
42
6 DEBATE TEÓRICO
famílias mais abastadas. Tal fato só pode ser atribuído às péssimas condições
oferecidas pelas casas de amas-de-leite, além do que essas amas eram bastante
sobrecarregadas, visto que tinham de amamentar inúmeras crianças.
Essas famílias, pouca ou quase nenhuma importância davam aos cuidados
que deveriam empreender na infância, tanto devido aos costumes da época, como
também pela falta de conhecimento dos cuidados específicos que se deveria ter em
cada etapa do desenvolvimento do indivíduo.
Isto pode ser verificado pela visão geral que se tinha a respeito da infância.
Essa visão generalizada não era só disseminada pelos teólogos, filósofos e
pedagogos, mas incluía, também, a classe médica.
Nos meados do Século XVIII, por exemplo, os médicos concebiam as
crianças como detentora de uma “estrutura equiparada a uma máquina” (concepção
cartesiana), pois, segundo esta visão, aquelas possuíam mecanismos e princípios
que precisavam ser conhecidos, para se moldarem à vontade do adulto. Conhecer
estas leis que governavam a criança era da máxima importância.
.
cabe o dever de dar proteção e afeto aos seus filhos, e a estes cabem a obediência
total e irrestrita para que ganhem afeição por parte daqueles.
A criança passa a ser excluída do convívio social dos adultos e deixa de
aprender um ofício, deixa de ser produtora para ser consumidora, perdendo, dessa
forma, o direito de opinar. Tal situação coloca a criança à margem da vida adulta.
Ela será, portanto, tudo aquilo que a sociedade deseja, pois passa a internalizar os
valores e normas ditadas pelos adultos. Tal situação poderá desencadear nos filhos
um sentimento de ambiguidade, ou seja, amor e ódio, simultaneamente.
Evidentemente, este estado de coisas ou poderá formar indivíduos conformados,
submissos e ao mesmo tempo infelizes, ou formará indivíduos revoltados e
desajustados ao meio em que vivem.
Esse novo padrão de comportamento, que teve início no final do século XVIII,
é o modelo burguês de família que se estendeu aos mais variados segmentos
sociais. Além de ser caracterizado pelas intensas relações de seus membros,
também se caracterizava pela aquisição dos mais altos hábitos de higiene. Nesta
época, a classe médica recomendava e utilizava as mães como instrumentos, para
repassarem estas ideias aos seus respectivos filhos. Estas exageradas medidas
disciplinares de higiene podem ser tomadas como uma restrição à liberdade da
criança, que, por sua vez, devia obediência incondicional e irrestrita aos seus pais. A
repressão sexual também se fez sentir nesta época e poderia constituir, como na
maioria das vezes acontece, em um empecilho ao desenvolvimento psíquico do
indivíduo.
Tal importância atribuída à educação infantil, também, acarretou inúmeras
restrições às vidas das mulheres. Estas teriam que, primeiramente, primar pela
educação dos filhos, o que as colocaria presas ao próprio lar. Tal situação
desencadeou, segundo Elisabeth Badinter, o pensamento reinante do“mito do amor
materno”, colocando as mães em uma posição ainda mais delicada, pois as que não
se sentiam realizadas e, consequentemente, que não se dedicavam à sua prole
(família) eram estigmatizadas como desnaturadas e/ou, mesmo, monstruosas e
corporificavam o próprio mal. Essa situação provocava tanto uma insatisfação pelo
lado das mães que se sentiam pouco realizadas, bem como pelo lado dos filhos que
se julgavam pouco amados.
Segundo a autora supracitada, a ascensão da burguesia foi marcada por uma
época de grandes transformações político-econômico-sociais, bem como de grandes
46
Vygotsky (1884), apud Rego (1995) faz uma distinção entre Aprendizado e
Desenvolvimento. Na concepção sócio-histórica é o aprendizado que impulsiona o
desenvolvimento (se não existir o aprendizado, o desenvolvimento não ocorre). O
aprendizado é viabilizado pelo legado das experiências humanas transmitidas ao
longo da história.
Esta concepção também estabelece dois níveis de Desenvolvimento:
Desenvolvimento Real e Desenvolvimento Potencial. Desenvolvimento Real: são
aquelas funções e capacidades já alcançadas pelas crianças sem a necessidade de
um auxílio de um adulto. Desenvolvimento Potencial: são capacidades em potencial,
em vias de maturação, existentes nas crianças, mas que necessitam da intervenção
de uma pessoa mais experiente, para que possam ser desenvolvidas.
Vygostsky (1984) apud Rego (1995) criou um terceiro conceito que é a Zona
de Desenvolvimento Proximal ou Potencial, para explicar a distância entre aquilo
que a criança é capaz de fazer sozinha (nível de desenvolvimento real) e aquilo que
ela realiza em colaboração com outros elementos de seu grupo social (nível de
desenvolvimento potencial).
Podemos perceber até mesmo que o lúdico faz parte da evolução natural dos
espécimes superiores, pois ao observarmos um felino, por exemplo, notamos que
este, quando pequenino, brinca de caçar, através de ensaios, com o objetivo de
estar apto, mais tarde, para a “grande caçada”. É uma forma de treino para a
maturidade.
A brincadeira para o ser humano tem a mesma função, ou seja, preparar para
a maturidade. Entretanto tem características próprias, visto que o homem se utiliza
do instrumental simbólico. Essa característica acompanha a evolução humana ,
tanto em seu aspecto filogenético como ontológico, pois podemos atestar, a partir de
uma atenção mais acurada que, desde muito cedo, a criança tem a necessidade de
brincar e, através de jogos simbólicos, adentra num “mundo de faz de conta”, mundo
de fantasia, onde o real é tomado como modelo, adquirindo pouco a pouco,
mecanismos mais sofisticados, instrumentalizando-se, para manipular a realidade de
forma mais concreta uma vez que, na tenra infância, a sua capacidade física ainda
é limitada (REGO, 1995).
A criança projeta suas dificuldades de resolver determinados problemas ou
desafios, em uma brincadeira. Através dela, é capaz de imaginar uma ficção como
se fosse real. Dada a sua impossibilidade de lidar com um fato real, devido a uma
falta de conhecimento e de instrumentalização, imagina, projeta uma situação fictícia
em uma brincadeira, através da qual é capaz de solucionar um problema. É por isto
que Vygotsky, coloca o brinquedo como um instrumento importante para criar “uma
zona de desenvolvimento proximal, na medida em que impulsiona conceitos e
processos em desenvolvimento” (REGO, 1995, P. 83). Portanto, na brincadeira, a
criança sempre está à frente de seu desenvolvimento real, possibilitando e
impulsionando, desta forma, seu desenvolvimento potencial.
Essas atividades lúdicas são de suma importância, porque irão
instrumentalizar, cada vez mais, o infante a lidar de forma mais competente, com o
mundo que o cerca, além de poderem proporcionar um bom desenvolvimento
cognitivo, afetivo e social.
50
O Conto Infantil, por sua vez, tem sua especificidade, porque auxilia a criança
a lidar com os conflitos intrapsíquicos inerentes ao seu próprio desenvolvimento
(BETTELHEIM: 1983), além de cumprir uma função educativa, visto que todos eles,
de forma implícita ou explícita, contêm uma mensagem instrutiva ao abordar uma
determinada temática. Por exemplo,a estória do Chapeuzinho Vermelho, dentro da
concepção psicanalítica, aborda a temática da sexualidade chamando atenção, para
esta fase particular na vida de uma menina, quando surge seus primeiros raios de
mulher, menarca (BETTELHEIM, 1983).
Como função educativa, este conto recomenda a garota não se iludir com as
aparências e se precaver diante de estranhos. Já a estória de João e Maria, dentro
da visão psicanalítica, aborda a questão da ansiedade da criança e de sua
incapacidade de adiar a satisfação de seus desejos, simbolizada pela voracidade
das crianças, diante da escassez do alimento. Portanto, este conto recomenda que
se deva adiar a satisfação dos apetites (impulsos) mais primitivos, sob o risco de
incorrer em perigosas armadilhas. Dentro desta mesma visão, Cinderela e Branca de
Neve abordam a temática da rivalidade fraterna e o complexo de Édipo,
respectivamente (BETTELHEIM, 1983).
Outros contos, de forma mais explícita, têm uma função mais educativa. Por
exemplo, os Três Porquinhos recomendam prudência; o Gato de Botas aborda a
importância da perspicácia para a sobrevivência, bem como temas mais universais
como a fidelidade, a esperança e a perseverança; já o conto “A Cigarra e a
Formiga”, em sua segunda versão, apregoa a compaixão e a solidariedade.
poderá formar uma estrutura psicótica. Menos grave, mas um resultado também
ruim e não preferível, é numa situação em que o bebê já foi capaz de construir este
objeto, graças à capacidade de adaptabilidade desta Mãe.
No entanto, este foi desapossado, ou seja, tinha este objeto, mas o perdeu;
foi privado, em certa intensidade, da presença deste, o que poderá ocasionar a
construção de uma personalidade com tendência antissocial que podemos observar,
desde uma simples enurese noturna, até comportamentos mais ousados tais como
furtos, mentiras e manifestações altamente destrutivas em crianças e adolescentes.
Segundo o Autor, a Mãe-Objeto é o “alvo para as pulsões excitadas, apoiada
pela rudimentar tensão do instinto” e a Mãe-Ambiente é “quem recebe tudo que
pode ser chamado de afeição e coexistência sensual” (WINNICOTT, 1987). A Mãe-
Objeto tem de ser capaz de sobreviver aos ataques das pulsões instintuais
amorosas e agressivas; já a Mãe- Ambiente “tem de ser empática em relação ao seu
bebê e presente para receber o gesto espontâneo dele e ser agradada”
(WINNICOTT, 1987, P. 108). Portanto, para o Autor, só será possível um
desenvolvimento emocional, por parte do bebê, se houver uma integração da mãe-
objeto com a mãe-ambiente. Enfim, a Mãe-Objeto tem de resistir às pulsões que
vem do id sob a forma de “fantasia de sadismo oral” que ao mesmo tempo quer
comer o objeto e destruí-lo; e é por isto que Winnicott se utiliza de uma frase
impactante de Oscar Wild: “Todo homem mata aquilo que ama” (WILDE apud
Winnicott). Desde muito cedo, podemos atestar que o bebê machuca aquilo que
ama, ou seja, mordendo, arranhando.... É esta agressividade nata, instintual, que
permitirá que a criança ame, brinque, crie e, mais tarde, trabalhe. E mais ainda: é
esta Mãe-Objeto que poderá satisfazer as necessidades prementes do bebê. Por
outro lado, a Mãe-Ambiente é aquela que representa o ambiente total e tem a função
de cuidar, amparar e proteger a criança. É bom que tenhamos clareza que o Autor
faz esta separação dos conceitos, apenas para fins didáticos, com a intenção de
facilitar a compreensão do fenômeno.
O Autor faz uso do conceito de posição depressiva de Melanie Klein, para
explicar como surge e se desenvolve a capacidade desenvolvimento que é de vital
importância, para o desenvolvimento emocional normal do bebê que, por sua vez,
permitir-lhe-á um trabalho construtivo, posteriormente. Fazendo uso da fantasia, o
bebê, imaginariamente, devora e destrói este objeto, porque o ama. Mas esta
destrutividade nata direcionada para o objeto, incitará um sentimento de culpa,
53
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
humanas. Estes contos, segundo o autor, fascinam as crianças, até hoje, apesar de
serem muitos antigos, porque as permitem realizarem uma catarse (segundo a
filosofia grega antiga, catarse significa libertação, expulsão ou purgação do que é
estranho à essência ou à natureza de um ser). Estes contos, além de povoar de
fantasias o mundo dos infantes, aumentando-lhes sua capacidade de imaginação,
também os auxiliam a lidar com os conflitos intrapsíquicos que são inerentes à
existência humana. Abordando temas universais, os contos infantis também auxiliam
as crianças a terem iniciativa e fazerem escolhas, na busca de melhores soluções,
diante dos dilemas vividos.
O Conto Infantil é um modelo, com o qual a criança pode se espelhar, visto
que o protagonista da estória é um herói em busca de sua bem-aventurança e
redenção. Diferentemente da tragédia, os contos infantis têm sempre um final feliz,
pois garantem ao público infantil que, mesmo incorrendo em algumas transgressões
e ou mesmo sofrendo injustiças podem, através da perseverança, dar outro
encaminhamento aos problemas e dilemas, com os quais se deparam
(BETTELHEIM, 1983).
A escolha da psicanálise francesa doltiniana, deu-nos um alicerce, uma maior
segurança, enfim, uma desenvoltura para desenvolvermos nossas atividades em
grupo. Foi à autora que mais recorremos, por ter um conhecimento profundo da
psique humana, uma larga experiência clínica e uma leveza para lidar com os
problemas e dificuldades apresentadas pelas crianças e seus respectivos familiares.
Também nos chamou particular atenção, porque que foi bem-sucedida, no campo
profissional e afetivo; uniu a teoria à prática.
Françoise Dolto era médica pediatra e desenvolveu a psicanálise infantil, na
França, onde era bastante admirada por Jacques Lacan, famoso psicanalista de
adultos. Trabalhava atendendo crianças psicóticas e com outros distúrbios
emocionais, bem como orientava os pais, em Programas de Rádio em Paris, na
década de 70, o que ensejou a criação de sua obra: “Quando os filhos precisam dos
pais”.
Esta psicanalista era muito requisitada por estes pais que eram ávidos por
informações e desejavam tirar suas dúvidas. Estes temiam falharem e queriam
empreender melhores cuidados à sua prole, para proporcionar um ambiente mais
adequado, com o propósito de propiciar um bom desenvolvimento afetivo e, por sua
60
vez, obter êxito na educação dos filhos. Em sua concepção, pais competentes eram
aqueles que proporcionavam uma vida feliz para os filhos.
A escolha de Donald Winnicott deu-se, porque este estudou o
desenvolvimento humano, desde a concepção, passando pela fase intrauterina,
infância, puberdade, fase adulta e velhice, ou seja, toda a evolução humana ao
longo da vida. A escolha deu-se, ainda, porque priorizou o desenvolvimento afetivo
infantil, dando ênfase à relação inicial entre a Mãe e seu bebê ou quem se coloca
sendo papel da função materna. Mas o critério que mais consideramos, dentre todos
apontados acima, diz respeito à sua dedicação em elucidar o fenômeno dos
comportamentos antissociais que pôde verificar, na ocasião que foi conclamado a
atender crianças evacuadas das grandes cidades, por ocasião da 2ª Grande Guerra,
no ano de 1939.
Em nossa prática clínica é bastante comum deparamo-nos, com muitos
problemas comportamentais tais como teimosia, desobediência e utilizando um
termo do Manual de Doenças Mentais XI, o transtorno opositivo-desafiador, onde
tais crianças apresentam uma agressividade elevada, um comportamento
intempestivo, descontrole emocional e um baixo limiar à frustração, justamente pela
incapacidade de avaliar a situação em que se encontra, apresentando raiva e
ressentimento.
Geralmente tais crianças não são toleradas em seu meio familiar e social, o
que intensifica mais ainda os problemas e dificuldades destas. Devido à rejeição
destes infantes em seu meio familiar e seu entorno, é que os parentes, não
conseguindo lidar com tais comportamentos, vêm à consulta psicológica, para lidar
mais competentemente com esta situação. Portanto, existe por parte dos familiares,
o desejo de cuidar destes garotos e garotas que em nossa compreensão é muito
positivo, porque quanto mais cedo fizermos esta reparação, em relação a esta falha
e/ou aos cuidados que os familiares devem auferir a estes infantes, mais êxito
obteremos. Utilizando uma linguagem winnicottiana, é uma “tendência antissocial”
que surge muito precocemente, na relação Mãe-bebê, devido a uma falha neste
suprimento, no qual o infante requisita de sua família e meio social, aquilo que por
bem acredita que seja seu direito; reivindica de seus parentes e, posteriormente, de
seu meio social, tais como escola e comunidade, este suprimento que lhe foi
precocemente negado.
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Para Winnicott, esta tendência antissocial é muito salutar, pois sinaliza que a
criança ainda tem esperança de restituir o que foi perdido. Em suas próprias
palavras, a criança tinha o objeto mãe e foi despossada; entretanto, não o perdeu
definitivamente e, por isto, provoca seu meio familiar e social, para que lhe restituam
tal objeto, ou o suprimento cultural, do qual necessita. Do ponto de vista do autor,
isto é muito positivo, visto que quanto mais cedo for feita esta reparação em relação
a esta falha no cuidado, melhor. E ainda, estes acontecimentos têm de se dá, antes
que a criança obtenha ganhos secundários. Portanto, o interessante é trabalharmos
preventivamente.
Para Winnicott, existe uma agressividade nata fruto das pulsões instituais
amorosas e agressivas que aparece, muito cedo na vida do bebê; entretanto, este
ainda não é capaz de efetivar uma destruição real, no campo externo (só
imaginariamente), devido sua limitação física. Esta agressividade vai aos poucos
sendo externalizada e é muito importante que assim seja, para que, posteriormente,
o ser humano possa ser capaz de executar um trabalho construtivo. Para isto é
fundamental que familiares e a sociedade, sejam capazes de conter esta
agressividade.
Este Autor, também, ressaltou a importância do “suprimento cultural”, para
que o ser humano possa desenvolver-se emocionalmente. Acredito que, nos
pressupostos teóricos de Winnicott, fica subentendido que a sociedade é capaz de
fornecer este suprimento mínimo aos indivíduos. Entretanto não é exatamente o que
podemos entrever examinando mais acuradamente a organização atual da
sociedade, em todo o planeta; principalmente depois do fenômeno da reestruturação
capitalista, onde grandes contingentes humanos ficam excluídos dos bens sociais.
Também podemos entrever esta situação, a partir do atendimento clínico,
onde podemos atestar que muitas pessoas ficam numa situação de extrema
vulnerabilidade social, porque o mínimo não lhes é fornecido pelo Estado como
alimentação, saúde, educação, moradia e lazer...Fica muito difícil para nós,
psicólogos, lidar com a subjetividade de nossos usuários, quando a maioria não
pode nem garantir a própria sobrevivência. Estas pessoas têm de ficar atentas e
alertas, quase que exclusivamente, para a questão da manutenção do próprio corpo.
Refletindo sobre todas estas questões é que, também, fez-se necessário
recorrermos ao epistemólogo Luís Cláudio M. Figueiredo, para fazermos um recorte,
e tentar compreenderesta complexa realidade. Tal Autor nos chama a atenção e
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Segundo Lúcia Rosa, a psicanálise reforça a visão de que a mãe, por ser a
cuidadora da criança é responsável pelo desenvolvimento afetivo desta e, se algo
falha, nesta relação dual, também é responsabilizada por tal falha! Comenta que a
psicanálise universaliza o modelo nuclear burguês de família, através do complexo
edipiano não fazendo a devida contextualização histórico-político-econômica. E,
ainda, ao incumbir o papel de cuidadora à mulher, restringe sua atuação ao lar,
ficando relegada a uma cidadania de 2ª categoria; enfim, reforça e reproduz a
organização do modelo capitalista.
Lúcia Rosa menciona o livro “Um Amor Conquistado - O Mito do Amor
Materno”, de Elisabeth Badinter, onde a supracitada autora critica esta concepção
naturalista do papel pré-definido à mulher, na sociedade burguesa. Acrescenta que
esta visão não dá importância aos desejos e anseios desta mulher, dentro deste
modelo pré-estabelecido.
Concordamos com Lúcia Rosa, sobre a importância da contextualização
histórico-político-econômica deste agrupamento primário denominado família e,
também, no que diz respeito à importância do movimento feminista, para se
considerar as necessidades e desejos da mulher, no seio da sociedade. Mas quando
Donald Winnicott dá ênfase ao vínculo Mãe-Filho, não restringe esse papel, de
cuidadora, somente à mulher, mas quem se coloca no lugar da Função Materna, ou
seja, quem se responsabiliza em prestar estes cuidados primários à criança. Este
psicanalista, além de ressaltar a importância do suprimento cultural que garantirá às
novas gerações os bens conquistados pela humanidade, também, empresta uma
enorme atenção e importância à questão ambiental. Se não for garantido este
suprimento cultural básico (alimentação, vestimenta, moradia, lazer...) à criança,
esta não poderá desenvolver-se normalmente.
Winnicott não desconsidera o ambiente externo, a realidade externa, a
cultura, ou como muitos queirama questão social; tanto é assim que faz uso de
vários conceitos como “Suprimento Cultural”e“Ambiente Sustentador”, ou seja, um
ambiente que envolve que abraça...E fazendo uso de sua própria metáfora, com
outras palavras: um suprimento cultural e/ou ambiente sustentador deve ser capaz
de“sustentar a criança, tal quais os braços da Mãe”! Portanto, sua concepção não
omite que o suprimento ambiental é deveras importante, para que o infante se
desenvolva emocionalmente, pois é através do “princípio da realidade” que a criança
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REFERÊNCIAS
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de Janeiro: Campus, 1998.
______. A psicanálise dos contos de fadas.18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987.
BRAGHIROLLI, Elaine Maria. Psicologia geral. 30. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
CALDIERARO, Marco Antônio Knob. Depressão In: NARDI, Antônio Egídio; SILVA,
Antônio Geraldo da; QUEVEDO, João Luciano de. PROPSIQ Programa de
atualização em psiquiatria: Ciclo 3. Porto Alegre: Artmed; Panamericana, 2013.
PIAJET, Jean. Seis estudos de psicologia. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitário, 1995.
ROSA, Lúcia Cristina dos Santos. Transtorno mental e o cuidado na família. São
Paulo: Cortez, 2003.
TIBA, Içami. Disciplina: limite na medida certa. 22. ed. São Paulo: Gente, 1996.
ANEXOS
73
http://cnes2.datasus.gov.br/Lista_Es_Municipio.asp?VEstado=23&VCodMunicipio=2
30640&NomeEstado=CEARA
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ce/itapipoca
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ce/itapipoca/panorama
www.mhinnovation.net/sites/.../Report_12-edicao-do-Saude-Mental-em-Dados.pdf
https//youtube/plEpBSQW0CQ
A Concepção da Natureza Humana de D.W. Winnicott (Parte 1):
https//youtube/QchPhiUzC9
A Evolução Histórica do Trabalho: https://www.youtube.com/watch?v=HdJ4Ni9UHug
Escritores da Liberdade: https://www.youtube.com/watch?v=Nt0Zfl6V9EM
Relações de Trabalho no Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=GeKs6rjffA0
Tempos modernos: https://www.youtube.com/watch¿v§
Winnicott 01 – Principais Conceitos: https//youtube/1CrEdo9Whu8
Winnicot 02 – Papel da Família e Ambiente: https//youtube/V53-ObJGg78
Winnicott 03 – Falso Self e Verdadeiro Self: https//youtube/Q1dNNf0Mkto
Winnicott 04 – Fenômeno Transicional e Objeto Transicional: Winnicott 05 – Manejo,
Ódio, Tipos de Pacientes: https//youtube/Od34SOffWxl
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ANEXO B - EVENTOS