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Capítulo

Despesa Pública

3.1. Introdução
Objetivando cumprir com suas finalidades de promover o bem-estar de todos, garantir
o desenvolvimento da nação, reduzir as desigualdades sociais e preservar o meio ambiente
sustentável mediante ações de educação ambiental, o Estado realiza diversas atividades e
presta serviços à população, ações estas que demandam recursos financeiros, culminando
nas despesas públicas.
Os recursos despendidos ou gastos pelo Estado pertencem ao povo, motivo pelo qual
há regras para a arrecadação de receitas, administração dos recursos e finalmente a execução
de despesas.
As regras gerais são estabelecidas pelo Poder Legislativo em nome dos cidadãos que lhe
conferem tal prerrogativa. Para a eficaz execução das normas o Poder Executivo as regulamenta,
seja através de decretos, portarias, instruções normativas ou outros instrumentos legais admitidos.
O primeiro ponto a ser entendido é que todos os Poderes executam suas próprias despesas,
haja vista a independência constitucional e harmônica dos Poderes de Estado, entretanto,
quem executa a maior parte do orçamento é o Poder Executivo.
Cada Poder elabora sua proposta orçamentária, que nada mais é do que o planejamento
para um exercício financeiro, e a encaminha ao Executivo, o qual tem a competência para
consolidá-las e confeccionar uma única peça orçamentária, um único orçamento, em
obediência ao Princípio Orçamentário da Unidade.
Na União a tarefa de consolidar as propostas orçamentárias dos Poderes, Ministério
Público, entidades e órgãos é exercida pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
– MPOG, através da Secretaria de Orçamento Federal – SOF.
Depois de concluído o planejamento, o orçamento é encaminhado ao Legislativo pelo
chefe do Poder Executivo, através de projeto de lei (Projeto de Lei Orçamentária Anual –
PLOA), recebido, no caso da União, pelo Congresso Nacional, e encaminhado à Comissão
Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização.
Encerrada a tramitação do PLOA no Legislativo segue para sanção ou veto do Executivo,
que o aquiescendo, será publicado e, a partir daí, encontra-se em condições de ser executado.

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3.2. Conceito de Despesa


Em realidade, o orçamento público possui duas faces de uma mesma moeda. Pode-se
dizer que uma das faces é ocupada pelas Receitas, enquanto a outra é preenchida pelas
Despesas, objeto de estudo deste capítulo. Assim, receitas e despesas públicas correspondem
a uma mesma realidade. São, em síntese, lados opostos de uma mesma moeda.
Portanto, despesas públicas são recursos governamentais devidamente autorizados pelo Poder
competente com o objetivo de atender às necessidades públicas, de interesse coletivo, fixadas em
lei e executadas em prol da população para fins de funcionamento dos serviços públicos.
Segundo Aliomar Baleeiro, despesa pública é “o conjunto dos dispêndios do Estado, ou
de outra pessoa de direito público, para o funcionamento dos serviços públicos”.
Para a Secretaria do Tesouro Nacional – STN, despesa pública é:

Despesa pública:
1. Em sua acepção financeira, é a aplicação de recursos pecuniários em forma de gastos
e em forma de mutação patrimonial, com o fim de realizar as finalidades do Estado e, em
sua acepção econômica, é o gasto ou não de dinheiro para efetuar serviços tendentes
àquelas finalidades;
2. Compromisso de gasto dos recursos públicos, autorizados pelo Poder competente, com
o fim de atender a uma necessidade da coletividade prevista no orçamento.

(Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br, Glossário>. Acesso em: 11 abr. 2017.)

Sob o aspecto econômico, as despesas públicas realizadas pelo Estado são divididas em
duas categorias, aquelas destinadas ao pagamento de pessoal e encargos sociais, à manutenção
dos equipamentos e com o funcionamento dos órgãos, ou seja, da máquina administrativa
(Despesas Correntes) e as realizadas com o propósito de formar e/ou adquirir ativos
reais, abrangendo, entre outras ações, o planejamento e a execução de obras, a compra de
instalações, equipamentos, material permanente, títulos representativos do capital de empresas
ou entidades de qualquer natureza, bem como as amortizações de dívida e concessões de
empréstimos (Despesas de Capital).
O Conselho Federal de Contabilidade define “despesa” no item 4.25 da Resolução CFC
n 1.374/2011 (NBC TG Estrutura Conceitual):
o

Despesas são decréscimos nos benefícios econômicos durante o período


contábil, sob a forma da saída de recursos ou da redução de ativos
ou assunção de passivos, que resultam em decréscimo do patrimônio
líquido, e que não estejam relacionados com distribuições aos detentores
dos instrumentos patrimoniais.

Especificamente para a Contabilidade Pública, o CFC repete o conceito acima (de forma
mais direta) no item 5.30 da NBC TSP – Estrutura Conceitual:

Despesa corresponde a diminuições na situação patrimonial líquida da


entidade não oriundas de distribuições aos proprietários.

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Capítulo 3  —  Despesa Pública   ■  155

Somente ocorre despesa sob a ótica contábil, para fins de estudo do patrimônio, quando
o fato administrativo acarreta descréscimo no patrimônio líquido (saldo patrimonial ou
situação líquida patrimonial), excluídos os eventuais descréscimos que estejam relacionados
com as distribuições aos “detentores dos instrumentos patrimoniais”, ou seja, operações,
tais como, distribuição de lucros ou dividendos aos proprietários ou acionistas da entidade.
A definição de despesa identifica suas características essenciais, mas não se configura
como uma tentativa de especificar os critérios que precisam ser satisfeitos para que elas sejam
reconhecidas nas demonstrações contábeis (Resolução CFC no  1.374/2011, item 4.26).

3.3. Despesa sob a Ótica da Contabilidade Pública


A Contabilidade Pública analisa não apenas o seu objeto, o patrimônio público, mas
se constitui também em uma imprescindível ferramenta para fins de acompanhamento e
controle da execução do orçamento (Lei Orçamentária Anual – LOA), conforme previsto
na legislação brasileira.
Diante dessa atribuição mais abrangente em relação à contabilidade privada, considerando
que irá prestar informações não apenas sob o enfoque patrimonial, mas também sob o enfoque
orçamentário, a Contabilidade Pública necessita classificar e registrar os fatos administrativos
de forma específica e diferenciada.
Assim, considerando as análises variadas que poderão ser alcançadas com os dados
registrados e informações prestadas, e ainda, o rigoroso controle necessário sobre o erário,
a Contabilidade Pública classifica como despesa quaisquer desembolsos financeiros,
independente de modificarem negativamente o patrimônio líquido.
Exemplo 1: Compra à vista de um imóvel por R$ 800 mil:
Recordando a equação patrimonial! Ativo menos Passivo é igual a Patrimônio Líquido:
ATIVO – PASSIVO = PATRIMÔNIO LÍQUIDO
ATIVO: bens e direitos
PASSIVO: obrigações
PATRIMÔNIO LÍQUIDO: saldo patrimonial
Foram afetados os seguintes elementos nesta operação de compra:
• Ativo – Disponibilidades Financeiras (dinheiro): diminuiu R$ 800 mil.
• Ativo – Bens Permanentes – Imóveis: aumentou em R$ 800 mil
Analisando a equação patrimonial, percebe-se que não ocorreu variação no patrimônio
líquido, dado que:
• o valor total do Ativo ficou inalterado, pois foi aumentado e diminuído,
simultaneamente, no mesmo valor, e
• o valor total do Passivo também ficou inalterado, pois esta transação não afetou
qualquer elemento do Passivo, portanto,
• como o valor total do Ativo e o valor total do Passivo ficaram inalterados, o valor
do Patrimônio Líquido também não sofreu alteração.

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Comparando: Contabilidade Pública x Contabilidade Privada:


• Para a contabilidade privada essa compra não gerou despesa, pois não acarretou
qualquer decréscimo no saldo patrimonial. Saiu R$ 800 mil de disponibilidades
no ativo e ingressou o mesmo valor em imóveis, também no ativo. Trata-se de um
fato permutativo.
• Para a Contabilidade Pública os R$ 800 mil de recursos financeiros que saem
do patrimônio público são classificados como despesa pública. É uma despesa
orçamentária de capital.
Observa-se que, apesar de a Contabilidade Pública classificar os R$ 800 mil de recursos
financeiros que saem como despesas públicas, há o registro concomitante do ingresso do
imóvel. Dessa forma, não ocorreu qualquer alteração no patrimônio líquido, assim como,
no exemplo, foi na contabilidade privada. Portanto, analisando a transação sob o enfoque
patrimonial (ativo – passivo = patrimônio líquido), de fato não ocorreu a despesa.
Todo desembolso de recurso financeiro é denominado despesa pela Contabilidade
Pública, mesmo quando o dinheiro que sai do patrimônio de fato não pertença à entidade
e seja meramente reembolso ou devolução ao proprietário.
Exemplo 2: Devolução de garantia recebida em dinheiro de R$ 3 mil:
• Para a contabilidade privada esse valor de garantia reembolsado ao proprietário
não  gerou despesa, pois não acarretou decréscimo no saldo patrimonial. Saiu
R$  3  mil de banco/disponibilidades no ativo e o mesmo valor no passivo, em
virtude da baixa da obrigação de restituição que constava registrada. A garantia
somente passa para a propriedade de quem a detém caso o pagador cometa alguma
infração prevista no contrato.
• Para a Contabilidade Pública os R$ 3 mil de recursos financeiros que saem do
patrimônio público são classificados como despesa pública.
Observa-se neste exemplo também que, apesar de a Contabilidade Pública classificar os
R$ 3 mil de recursos financeiros que saem como despesas públicas, há a baixa concomitante
da obrigação a pagar que constava no passivo, não ocorrendo assim qualquer alteração no
patrimônio líquido. Portanto, analisando a transação sob o enfoque patrimonial (ativo –
passivo = patrimônio líquido), de fato não ocorreu a despesa.

Atenção:
Despesa, para fins de registro das transações pela Contabilidade Pública, ocorre quando há
desembolso de recurso financeiro, qualquer que seja.

Lembre-se:
A Contabilidade Pública reconhece a receita e a despesa patrimonial pelo regime de
competência.
A Contabilidade Pública apenas classifica e denomina o desembolso financeiro como
despesa, todavia, as informações posteriormente geradas serão suficientes para que se
possa verificar se de fato a despesa ocorreu sob o enfoque patrimonial ou sob o enfoque
orçamentário.

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Capítulo 3  —  Despesa Pública   ■  157

3.3.1. Reconhecimento da Despesa sob Enfoque Patrimonial


Apesar de a Contabilidade Pública denominar de despesa todo desembolso de recurso
financeiro, a despesa somente ocorrerá de fato caso a transação acarrete decréscimo no
patrimônio líquido. Para fins de estudo do patrimônio, a despesa surge apenas quando o
fato administrativo proporciona tal diminuição.
Conforme claramente informa a Resolução CFC no 1.374/2011, despesas são decréscimos
nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da saída de recursos ou da
redução de ativos ou assunção de passivos, que resultam em decréscimo do patrimônio líquido,
e que não estejam relacionados com distribuições aos detentores dos instrumentos patrimoniais.
São conhecidas também como “despesas de caráter econômico”, pois afetam
negativamente o patrimônio líquido.
Assim, um bem dado em doação, por exemplo, não é classificado como despesa pela
Contabilidade Pública, pois não se trata de desembolso de recurso financeiro. Todavia, sob
o aspecto patrimonial, esta doação efetuada gerou despesa, pois acarretou diminuição do
patrimônio líquido (fato modificativo diminutivo).

Lembre-se:
A Contabilidade Pública, para fins de estudo de seu objeto, o patrimônio público, reconhece
as receitas e despesas pelo regime de competência.

A utilização do serviço de manutenção de aparelhos condicionadores de ar, por exemplo,


é o fato gerador da despesa, é o momento em que a despesa (sob o enfoque patrimonial)
deve ser reconhecida, registrando-se a obrigação a pagar no passivo e a respectiva variação
negativa nas contas de resultado, que culminarão no patrimônio líquido. Posteriormente,
durante a fase de execução da despesa pública orçamentária, a Contabilidade Pública irá
classificar e denominar despesa ao desembolso financeiro.
Portanto, despesa sob enfoque patrimonial, para fins de análise e estudo do patrimônio,
ocorre quando o fato administrativo provoca decréscimo de valor do patrimônio líquido,
excluídos os que estejam relacionados com distribuições aos detentores dos instrumentos
patrimoniais.

3.3.2. Reconhecimento da Despesa sob Enfoque Orçamentário


O planejamento orçamentário é um procedimento imprescindível para qualquer
entidade, pública ou privada, que objetiva otimizar e priorizar a aplicação das limitadas
receitas às demandas intermináveis.
Sabe-se que as receitas auferidas pelo Estado são limitadas, porém, a demanda por
despesas ou gastos é ilimitada, com uma agravante, cresce ano a ano.
A receita pública é extremamente relevante no processo orçamentário, cuja previsão
dimensiona a capacidade governamental em fixar a despesa pública e, no momento de sua
arrecadação, torna-se instrumento condicionante para execução orçamentária da despesa.
Conforme determina a Carta Magna, o Poder Público deverá planejar, para cada ano,
as atividades que pretende desenvolver. Para tanto, é necessário que sejam estimadas as

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receitas a serem auferidas, tendo por base parâmetros técnicos estabelecidos em normas
infraconstitucionais, para que se possa fixar o valor das despesas a serem executadas.
É através do orçamento público que o Estado materializa a previsão da receita a ser
arrecadada e da despesa a ser incorrida para o período de um ano. Assim, nos entes da
Federação todos os órgãos, entidades e Poderes elaboram suas propostas orçamentárias, enviam
ao Poder Executivo para fins de consolidação e posterior encaminhamento ao Legislativo,
que autoriza a execução do orçamento público, através da Lei Orçamentária Anual (LOA).
Portanto, na LOA são inseridas as receitas orçamentárias que se pretendem arrecadar e
as despesas orçamentárias a serem executadas.
Lembre-se de que o orçamento público é dinâmico. Apesar de planejado e aprovado
antecipadamente, ele poderá sofrer modificações durante sua execução, ao longo do ano,
em virtude de alterações que se apresentem necessárias, por diversos motivos, tais como:
uma epidemia obrigou a aumentar os gastos com saúde; crise financeira que ocasionou a
queda na arrecadação e necessária redução de despesas; arrecadação de receitas acima do
esperado de forma que possam ser executadas outras despesas de projetos inicialmente não
autorizados na LOA.
Diante de tal quadro, para fins de execução do orçamento, a despesa deve ser considerada
sob uma ótica diferente da classificação utilizada para fins de registro pela Contabilidade
Pública ou do enfoque patrimonial. Assim, a despesa sob o enfoque orçamentário possui
uma terceira concepção. Guarde bem esta informação! A Contabilidade Pública classifica
como despesa qualquer desembolso de recurso financeiro, mesmo que seja mera restituição
de recursos de terceiros.
Todavia, para fins de controle e execução do orçamento há necessidade de saber não
apenas se ocorreu o desembolso financeiro, mas se este dispêndio comprometeu a realização
de outras atividades e projetos do Estado.
Conforme já mencionado, a despesa sob o enfoque patrimonial ocorre quando um fato
administrativo ocasiona decréscimo no patrimônio líquido. Porém, para fins de controle e
execução do orçamento, a diminuição no patrimônio líquido pouco importa, pois ela poderá
ocorrer através de fatos que não comprometem recursos a serem aplicados em atividades
estatais, a exemplo da depreciação patrimonial.
Conforme visto no Capítulo 1, o conteúdo do art. 35 da Lei no 4.320/64 trata-se de uma
regra de austeridade fiscal para fins de execução e controle do orçamento público, podendo
ser inclusive denominado Regime Orçamentário.
Assim, sob o enfoque orçamentário, para fins de administração financeira e
orçamentária, acompanhamento da arrecadação das receitas e autorização para execução de
despesas e liberação de recursos financeiros, o administrador público deve observar as despesas
empenhadas, conforme determinado na Lei no 4.320/64.
Lei no 4.320/64:

Art. 35. Pertencem ao exercício financeiro:


I – as receitas nele arrecadadas;
II – as despesas nele legalmente empenhadas.

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Empenho é a primeira fase de execução da despesa pública (as etapas da despesa pública
serão estudadas detalhadamente logo adiante). O empenho é o momento em que o Estado
reserva recursos orçamentários, prevendo a necessidade futura de se concretizar o pagamento,
quando então são necessários recursos financeiros.
Tal regra objetiva evitar que a execução das despesas orçamentárias ultrapasse a
arrecadação efetiva. Assim, a despesa sob o enfoque orçamentário ocorre quando há utilização
de créditos orçamentários.
Despesa pelo enfoque orçamentário ocorre com a utilização de crédito que consta
disponível e consignado no orçamento da entidade (podendo ou não diminuir a situação
líquida patrimonial). Ou seja, é toda transação que depende de autorização legislativa, na
forma de consignação de dotação orçamentária, para ser efetivada (MCASP, Parte I).

Atenção:
Não confundir recursos orçamentários com recursos financeiros. Antes de se efetuar o
pagamento, para o qual são necessários recursos financeiros (dinheiro), são reservados
recursos orçamentários, que são autorizações para que sejam executadas as despesas.

Funciona da seguinte forma!


Exemplo: A União programou em seu orçamento (Lei Orçamentária Anual – LOA) o
reaparelhamento parcial das universidades federais, prevendo compra de novos computadores
e equipamentos científicos.
O Poder Executivo planejou e o Legislativo autorizou tal gasto através da LOA. Durante
o exercício financeiro o Ministério da Educação irá receber o crédito orçamentário, que é a
autorização para que se possa efetuar a compra dos computadores e demais equipamentos.
Tendo recebido o crédito orçamentário necessário, o Ministério da Educação irá adotar
os procedimentos administrativos para culminar na licitação (supondo que seja feita uma
licitação nacional unificada). Depois de finalizado e homologado o certame, será emitido
o empenho, momento em que o recurso orçamentário é reservado especificamente para o
vencedor da licitação. Somente após empenhada a despesa é que o Ministério da Educação
irá receber os recursos financeiros do Tesouro Nacional, que serão utilizados para pagamento
ao fornecedor.
Portanto, a despesa pelo enfoque orçamentário ocorre com a utilização do crédito
orçamentário, ou seja, com o empenho da despesa. No momento em que é emitida a nota
de empenho o recurso orçamentário é reservado especificamente para aquele determinado
fornecedor do ente estatal, indicando que em breve serão necessários recursos financeiros
para pagamento dos bens adquiridos ou dos serviços consumidos.
Mas afinal, já que existem três aspectos para análise da despesa, como ela é abordada
em provas de concursos?
Assim como para a receita, as provas de concurso normalmente utilizam o termo “despesa”
referindo-se ao desembolso de recurso financeiro.Todavia, caso a questão seja específica e
exija uma análise sob o enfoque patrimonial ou sob o enfoque orçamentário, devem ser
considerados os respectivos conceitos.

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Síntese deste tópico – despesa sob a ótica da Contabilidade Pública:


1. Despesa para a Contabilidade Pública, para fins de registro das transações, ocorre
quando há desembolso de recurso financeiro, qualquer que seja.
2. Despesa sob enfoque Patrimonial, ou seja, para fins de análise e estudo do
patrimônio, ocorre quando o fato administrativo provoca decréscimo de valor no
patrimônio líquido, excluídos os que estejam relacionados com distribuições aos
detentores dos instrumentos patrimoniais.
3. Despesa sob enfoque orçamentário, ou seja, para fins de controle e execução do
orçamento público, ocorre quando o crédito orçamentário é utilizado. Portanto, no
momento do empenho da despesa.

3.4. Classificações
Seguem as principais classificações da despesa, segundo a doutrina majoritária, bem
como o entendimento da Secretaria do Tesouro Nacional – STN.

3.4.1. Orçamentária x Extraorçamentária


Despesa Orçamentária: é a despesa decorrente da execução do orçamento público em
curso, podendo estar autorizada na Lei Orçamentária Anual originalmente sancionada ou
em leis específicas que modificam esse orçamento.
Conforme já comentado, o orçamento é dinâmico e, durante o exercício financeiro,
frequentemente são autorizadas novas despesas não incluídas inicialmente na LOA: são
os chamados créditos adicionais. Os créditos adicionais são autorizações para execução de
despesas não computadas (despesa não inserida no orçamento) ou insuficientemente dotadas
no orçamento (despesa fixada, porém, com valor insuficiente).
Apesar de não estarem contidos inicialmente na LOA, principalmente em relação aos
créditos especiais e extraordinários, os créditos adicionais, depois de autorizados e abertos,
passam a compor o orçamento do ente.

Lembre-se:
Só existe um único orçamento público para cada ente da Federação (Princípio Orçamentário
da Unidade) e todas as receitas e despesas devem estar contidas nesse orçamento (Princípio
Orçamentário da Universalidade).

Pode-se dizer que a despesa orçamentária é aquela autorizada mediante lei pelo Poder
Legislativo, e executada por todos os órgãos e entidades da Administração direta e indireta.
Tendo em vista o Princípio da Legalidade, como regra o Legislativo necessita autorizar
previamente a execução das despesas orçamentárias para que ela possa ser executada,
porém, existe exceção, a exemplo do crédito adicional extraordinário, o qual só é analisado
pelo Legislativo depois de aberto pelo Executivo. Ou seja, no caso de abertura de crédito
extraordinário, primeiro o chefe do Executivo abre o referido crédito orçamentário e inicia-se
a execução da despesa, posteriormente o Poder Legislativo aprova ou não o gasto realizado.

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Capítulo 3  —  Despesa Pública   ■  161

Caso não seja aprovado, cabe ao Poder Legislativo regulamentar, mediante Resolução,
a situação do gasto já realizado.
É importante salientar que a abertura de tal crédito em nível federal e nos Estados onde
existe previsão constitucional deve ser realizado através de medida provisória.
Nos Estados onde não existe previsão constitucional de edição de medida provisória, a
abertura de créditos extraordinários se dá através de decreto do chefe do Executivo.
No caso dos Municípios, a edição de medida provisória necessita de previsão na
Constituição estadual e na sua lei orgânica. Havendo tal previsão, os créditos extraordinários
podem ser abertos por MP, caso contrário, por decreto.
Conclusão: despesa orçamentária é aquela prevista na Lei Orçamentária Anual ou em
leis especiais que modificam ou alteram a dotação inicial do orçamento.

//Questão de concurso!
(Cespe – Analista-Gestão Financeira/INPI – 2013) A despesa orçamentária pode ser
definida como aquela que depende de autorização legislativa, na forma de consignação
de dotação orçamentária, para ser efetivada.

Resolução
O Poder Legislativo deve autorizar a realização da despesa pública orçamentária, e o faz
através da Lei Orçamentária Anual – LOA, na qual irão constar as dotações orçamentárias,
que são, simplesmente, autorizações de gastos.
Assim, por exemplo, caso determinado Município queira construir creches, deverá
constar na LOA a dotação orçamentária dessa despesa. CERTO.

Despesa Extraorçamentária: é a despesa que não consta na Lei Orçamentária Anual


em curso nem em leis específicas que tratam desse orçamento.
Algumas despesas, em virtude de suas características, não necessitam passar pelo crivo
do Poder Legislativo na Lei Orçamentária Anual do exercício em curso para que possam ser
realizadas.
Exemplo: Pagamento/restituição de valores descontados de servidores aos seus
consignatários. Ora, se o valor foi retido do contracheque do servidor mediante sua
autorização, não há necessidade de autorização legislativa para seu pagamento. Trata-se de
uma obrigação de curto prazo e em princípio deve ser paga logo depois de sua retenção.

Algumas despesas, em virtude de suas características, não necessitam passar pelo crivo
do Poder Legislativo na Lei Orçamentária Anual no exercício em curso para que possam ser
realizadas. Eis alguns exemplos:
Exemplo 1: Devolução de caução em dinheiro ao legítimo dono
A obrigação de restituição da caução recebida em dinheiro será registrada no passivo
circulante e não dependerá de autorização legislativa para que possa ser reembolsada ao seu
proprietário, geralmente ao final de contrato.

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Exemplo 2: Pagamento de restos a pagar


Os restos a pagar são despesas que já foram executadas no exercício passado, mas não
foram pagas na época. Quando efetuado o pagamento no exercício financeiro seguinte, tais
gastos serão classificados como despesas extraorçamentárias. Os recursos para pagamento
dessa despesa não provêm do orçamento atual, mas sim do orçamento anterior. E ainda,
o Legislativo já autorizou a execução dessa despesa no ano anterior, não sendo necessária
nova autorização no exercício atual. Assim, os restos a pagar são obrigações que compõem
a dívida flutuante.
Exemplo 3: Pagamento de operação de crédito para Antecipação de Receita
Orçamentária (ARO)
A Antecipação de Receita Orçamentária é um tipo especial de operação de crédito
que objetiva suprir exclusivamente eventuais insuficiências de caixa, antecipando receitas
orçamentárias previstas para serem arrecadadas.
O ingresso financeiro oriundo dessa operação gera uma receita extraorçamentária e,
consequentemente, o pagamento do principal da dívida será classificado como despesa
extraorçamentária. Apenas os juros e demais encargos cobrados por esse empréstimo serão
despesas orçamentárias.

PAGAMENTO DE “ARO” DESPESA


Juros e
ORÇAMENTÁRIA
Demais valores decorrentes
Amortização (principal da dívida)
EXTRAORÇAMENTÁRIA
Atualização monetária ou cambial

Exemplo 4: Recolhimento de contribuição sindical


Quaisquer valores descontados na folha de pagamento, a título de consignação ou
retenção, são receitas extraorçamentárias, pois tais receitas não ingressam definitivamente
no patrimônio, devendo ser entregues ao seu proprietário (no exemplo, o sindicato dos
funcionários públicos). Quando tal valor é finalmente entregue ao seu proprietário, classifica­-se
contabilmente como despesa extraorçamentária.
Conforme exemplos acima, pode-se perceber que as receitas extraorçamentárias, ingressos
financeiros transitórios que não se incorporaram definitivamente ao patrimônio (recebimento
de cauções em dinheiro, Antecipação de Receita Orçamentária etc.), acarretam, em momento
futuro, despesas extraorçamentárias.
Assim, quase sempre a despesa extraorçamentária ocorre em virtude da desincorporação
do passivo gerado em função de uma receita extraorçamentária.
Todavia, a despesa extraorçamentária poderá também ocasionar a incorporação de um ativo.
Exemplo 5: Pagamento antecipado de benefícios previdenciários
Os benefícios da Previdência Social adiantados pelo empregador, por força de lei, tais
como, pagamentos de salário-família, salário-maternidade e auxílio-natalidade, possuem
natureza extraorçamentária.

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Capítulo 3  —  Despesa Pública   ■  163

Posteriormente, tais desembolsos serão objeto de compensação ou restituição, motivo


pelo qual será registrado um direito no ativo em virtude dessa operação.

Lembre-se:
Se o desembolso financeiro é extraorçamentário, não há registro de despesa orçamentária,
mas uma desincorporação de passivo ou uma apropriação de ativo.

A incorporação de ativo consta demonstrada neste exemplo 5. Já as desincorporações de


passivo, que são muito mais frequentes, estão demonstradas nos exemplos anteriores 1, 2, 3 e 4.
Portanto, despesa extraorçamentária é aquela que não consta na Lei Orçamentária Anual
em curso e nem em leis específicas que tratam desse orçamento.

//Caiu em concurso!
(Cebraspe – Analista – Contabilidade – TRT – 8a Região – 2016) De acordo com a
Constituição Federal de 1988, a lei orçamentária anual deve compreender o orçamento
fiscal, o qual conterá receitas e despesas referentes a todas as entidades da administração
direta e indireta; o orçamento de investimento das empresas estatais; e o orçamento
da seguridade social. Esse mandamento constitucional relaciona-se aos princípios
orçamentários da:
a) uniformidade e da unidade;
b) universalidade e da especificação;
c) universalidade e da unidade;
d) unidade e da especificação;
e) universalidade e da programação.

Resolução
Princípio Orçamentário da Unidade ou da Totalidade: deve existir uma única peça
orçamentária, um único orçamento. Mesmo que existam fragmentações ou partes especializadas
do orçamento, tais partes devem ser consolidadas e totalizadas em uma única peça orçamentária.
Princípio Orçamentário da Universalidade: todas as receitas e despesas do ente público
deverão estar contidas no orçamento, de todos os Poderes, órgãos, entidades, fundos e
fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público.
Letra C.

3.4.2. Resultante x Independente da Execução Orçamentária


Quanto à dependência da execução orçamentária, a despesa será:
Despesa Resultante da Execução Orçamentária: é aquela que depende de autorização
orçamentária para ser realizada, como ocorre, por exemplo, com os vencimentos do
funcionalismo público, aquisição de bens, contratação de serviços. Tais despesas foram
realizadas mediante autorização do Legislativo.
Despesa Independente da Execução Orçamentária: é aquela que independe de autorização
orçamentária para sua execução, como ocorre, por exemplo, com despesa de depreciação, consumo
ou perda de bens. Tais despesas não recebem autorização do Legislativo para serem realizadas.

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