Você está na página 1de 8
Nutrigdo na Adolescéncia Karle Coelho Evelyn Eisenstein [Abordagem nutriconal frente ao crescimento e desenvolvimento, Adolescéncia como grupo de risco nutriconal. Avahaséo ruteicional em um contexte s6cio-econémico-cultura Palovas-chave: nutrséo, obesidade, desnutigao ‘Aadolescéncia € um periodo de crescimento répido ¢ de muitas modificagdes corpora, requerendo um aumento ras necessidades de energia e de nuttientes. Neste perfodo podem aparecer novos habitos de consumo, inclusive com reflexos na alimentacio didria, explicaveis por motivos psicoldgicos e sécio-econdmicos. Estes novos hébicos decorrem da influéncia de amigos, rebeldia contra os controles exercidos pela familia, estabelecimento de novos limites, mudangas de valores, estlos de vida, busca de autonomia eidentidade. Em telagio & nuttigéo, o habito de comer fora de casa, ou 0 preparo dos préprios alimentos sio freqiientes entre adolescentes ¢ repercute, em longo prazo, na sate futura do individuo adulto e no padrio de consumo alimentar (DUARTE, 1993) Os adolescentes tém sido considerados um grupo de risco nutricional, devido ao aumento das necessidades nutricionais frente ao crescimento aos habitos alimentaresirregulates. Muitos néo tomam o desjjum e substi- ‘tuem refeigdes por lanches répidos de conteddo nuticional néo muito adequado (SAITO, 1993). As freqiiéncias crescentes do excesso de peso ¢ da obesidade também preocupam, assim como, o habito de “fazer regime para cemagrecer” que, especialmente entre as meninas, pode determinar niveis de ingestio inferiores aos recomendados « padrées alimentares inadequados (FONSECA et al., 1998) Nas ilimas trés décadas, aantropomettia nutticional conquistou reconhecimento como método de investigagio cientifica que “se ocupa da medigio das variagbes nas dimensées fisicas e na composigio global do corpo humano cem diferentes idades ¢em distintos graus de nutrigio” (JELLIFFE, 1968). Este eampo da cigncia aleangou avangos consideriveis, incorporando um conjunto significativo de descobertas, oriundas do desenvolvimento cientifico € tecnolégico de distintas Areas do conhecimento. ‘A medida que foram sendo acumulados indicios sobre a influéncia da nutrigéo nas dimensées fiscas ¢ na composicio global do corpo, sobrerudo quanto 20 processo de crescimento, desenvolvimento ¢ maturagio, as ‘medidas antropométricas foram sendo transformadas, universalmente, em importantes indicadores diretos do estado nutticional e da satide de individuos ¢ de populagses (VASCONCELOS, 1993). ‘A avaliagio nutticional de individuos ou de populagées pode ser definida como um conjunto de ages € pro- cedimentos que tém por objetivo diagnosticar a magnitude, a gravidade e a nacureza dos problemas nutticionais: identficar ¢ analsar os seus determinantes, com a finalidade de estabelecer as medidas de intervengio adequadas (VASCONCELOS, 1993). A antropometria € considerada importante instrumento na avaliagio das condigées de satide e de nutrigéo de populagées humanas (WATERLOW et al, 1997; ORGANIZACAO MUNDIAL DA SAUDE, 1990). Entre suas vantagens incluem-se 0 baixo custo, afacilidade de exccusio ea sensibilidade e especificidade dos indicadores. Por estas raze preconiza-se a utlizagio da antropometria nutricional nas rotinas de vigilancia nutticional até nos Capitulo 2 ‘Crescent © Desenvehine 2 inquéritos populacionais de grande abrangéncia, £ importance também, usar dados antropométricos obtidos durante a avaliacio clinica individual, principalmente de grupos sociais mais vulneriveis, como criancas ¢ adolescentes. © {indice de massa corporal (IMC) foi recomendado como um indicador antropométrico essencial durante a adolescéncia (ORGANIZAGAO MUNDIAL DA SAUDE, 1995). Calcula-se 0 IMC pela divisio do peso em uilos pela altura em metros quadrados (Kg/m.), (KEYS et a., 1972). Para a clasifcagao do estado nutricional, utilizam-se pontos-de-corte do IMC segundo sexo ¢ idade baseados no estudo de NHANES-I e Il, realizado para populagio americana. Este indicador tem sido utilizado em estudos de obesidade em adolescentes em paises de senvolvidos, por apresentar uma boa cortelagio com medidas mais especificas de gordura corporal (ANJOS etal, 1992; VEIGA; SIGULEM, 1994; SICHIERIi; ALLAM, 1996). Assim, o IMC é considerado um bom indicador pata classficagio nutrieional de adolescentes. Usilizamos como pontos de corte os critérios recomendados pela OMS (1995) ¢ pelo manual de Vigilincia Alimentar ¢ Nutricional do SISVAN (BRASIL, 2004). Percentil do IMC para Idade_Diagnéstico Nutricional =PereentlSe-= Percent 85 RISCO DE SOBREPESO < Percentil 85 ¢ >= Percent 90 pars obras subcutinesstriciptal esuber- OBESIDADE capular em relagio dade A larga utilizacao do IMC como método de avaiacio nutricional deve-se ao fato de apresentar uma metodolo- gia de baixo custo ficil acesso, necessitando apenas de aferiges de peso ¢ estatura, © IMC, por apresentar boa corrclagio com a massa corporal em torno de 80% ¢ menor correlagao com estatura, em torno de 10%, tem sido proposto, basicamente, como indicador de obesidade (ANJOS, 1992), embora seja uma medida somética que reflete todos os compartimentos corporas, sendo influenciado também pela massa livre de gordura, Para adolescentes, o IMC estd significativamente relacionado gordura subcutinea e cota, sendo altamente cespecifico para aqueles com grande quantidade de gordura corporal (ORGANIZACAO MUNDIAL DA SAUDE, 1995). © Comité Especializado em Diretrizes Clinieas para Prevencio de Sobrepeso em Adolescentes nos Estados Unidos (HIMES; DIETZ, 1994) também props a utilizagio deste indice, dado a sua correlagéo com a pressio arterial, lipidios elipoproteinas do sangue. Seu aumento durante a adolescéncia parece ser indicador de fator de risco para doenga crénica no inicio da vida adult ‘Uma limitagio importance para a utilizacéo do IMC na adolescéncia esta na sua correlagéo coma estacura, que apesar de pequena cxiste. Em fungio do crescimenco estatural acelerado de adolescentes, denominado de estirio puberal, o IMC pode tornar-se um importante indicador da adequacio do crescimento ¢ do estado nutticional, ¢ :menor da composigio corporal. Sempre que possivel, é importante também se realizar o exame clinico e cortelacionar (os estigios puberais de desenvolvimento sexual, segundo os ertérios de Tanner (1962) ¢ também recomendados pela OMS (1995). Quando isto nao for possivel, em pesquisas de campo ou comunitirias de rastreamento popt- competi aaa lacional, torna-se importante avaliar se a adolescentejéiniciou o desenvolvimento mamitio (estégio 2) sim ou nio, que precede o aumento da velocidade de creseimento geralmente em 1 ano e/ou se também jé ocorreu a primeira menstruacio (menarca)_sim ou nio, que aparece geralmente 1 ano apés 0 inicio do aumento da velocidade de crescimento. Neste periodo, as necessidades nutricionais, cléricas e protéicas da adolescente sio maior. Para 0 adolescente do sexo masculino, pergunta-se geralmente sobre o aumento de genitilia ¢ inicio de pelos pubianos (cstégio 3) sim ou nao e que precede o aumento da velocidade de crescimento em 1 ano e/ou sobre a mudanga da voz, que ocore geralmente 1 ano apés 0 inicio do estiréo puberal. Neste perfodo, as necessidades nutticionais, caléricas e procéieas do adolescente sio maior. Torna-se importante sempre avaliar também, préticas esportivas, dangas, ou qualquer outro tipo de desgastecalérico, além dos tipos de nutrientes que estio accessveis, na familia ena escola, nesta época de intenso crescimento desenvolvimento puberal Para avaliagio da composicio corporal, sempre que for possivel, é melhor correlacionar o IMC com as medias obtidas para as dobras cutineas trcipital e subescapular. A combinagio entre medidas de peso, altura e dobras ccutineas tem sido © método mais utiizado para avaliar a composigio corpora ‘A definigao de um peso adequado, que jé é dificil em adultos, torna-se particularmente problematica entre adolescentes, uma vez que um padrio de peso adequado em adolescentes deve levar em conta 0 sexo, a idade & a estatura, bem como o estigio de macuragio sexual, além da grande dispersio e variabilidade de peso entre a populagio, de acordo com os padrées genéticos e etnicidade. ‘Um estudo com adolescentes de baixa renda no Complexo do Macaco uma drea de favela do Rio de Janeiro, ‘mostrou que a maturagio sexual estava mais asociada ao IMC do que 3 idade (COELHO, 1999). Além disso, ‘mostrou que, para uma adolescente de 16 anos, 0 valor do IMC pode variar de 15 a 21 kg/m, dependendo da fase de maturagio sexual. Incluir a maturagio sexual no critério de elassficagio de sobrepeso, talver seja parti- cularmente importante, em populagées que tenham sofrido alguma restrgso pregressa no seu desenvolvimento (SICHIERI: VEIGA, 1999) O inicio, a duragio ea velocidade do estiréo puberal séo influenciados pelo estado nutticional. Comega-se a ganar peso em corno de 4-6 meses antes do aumento da velocidade do ganho em estacura puberal. © maximo cde ganho de peso coincide com o estiréo puberal nos homens, mas ocorte seis a nove meses apd estirio puberal ‘nas mulheres. O estégio 2 do broto mamério geralmente precede o estitio em 12 meses ea menatca ocorte, quase sempre, seis a 12 meses apés 0 méximo do estirio, no inicio da fase de desaveleracio, restando ainda, em média, 5 a8 cm de erescimento final. Nos homens, o inicio das mudangas da genitilia e aumento do pénis ou o estigio 3, precede o esttio. A semenarea ocorre 12 meses apés o estitio puberal em média, Nesta época, aumentam as necessidades nutricionais, principalmente no teor das proteinas e calorias em geral,além dos nutrientes especifi- cos como edlcio, ferro, viaaminas B e C, cortelacionadas 4 maior velocidade de crescimento e desenvolvimento puberal. Apés a menarca é importante o aumento do teor de ferro, 0 que também ocorre em atletas, ginastas ou dangarinas. ‘A necessidade de aportes energéticos para atender as exigéncias associadas ao aumento da atividade fisca e a acelerasio do crescimento é fundamental na anilise do comportamento alimentar e das exigéncias nutticionais dos adolescentes (JACOBSON et al,1997). Atualmente se utiliza como seferéncia as cotas DRI (DIETARY REFERENCE INTAKES) para o planejamento dietético, acessiveis no enderego eletrdnico www-nal.usda gov! fnicletext/000105.heral Capitulo 2 (Crescimente« Desenvehimento 83

Você também pode gostar