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4.

COMPORTAMENTO VERBAL

O comportamento verbal e os operantes verbais:


definições e análise.

“Nenhuma consideração sobre comportamento


humano estará completa se não incluir a atividade
verbal do homem. É a forma do comportamento
mais elevada e mais valiosa; mais que nenhuma
outra o distingue dos animais inferiores (...)”.
Keller & Schoenfeld, 1950
O termo “comportamento verbal” foi introduzido
por Skinner em 1957, na publicação do livro
Verbal Behavior.
Veio como substituição à palavra “linguagem”
pelas varias interpretações que esse último
termo possui. Foi proposto “comportamento
verbal” para enfatizar que a “linguagem” é um
comportamento modelado e mantido por
consequências e não é algo ou uma propriedade
que alguém possua ou, muito menos, uma
entidade interna.
O tratamento da linguagem em termos de
comportamento tomará como dados iniciais os
sons emitidos pelo organismo humano, assim como
se toma qualquer comportamento observável (por
exemplo, pressionar a barra pelo rato).

O comportamento verbal é um tipo de


comportamento: ele altera o ambiente e é
modificado por essas alterações.
Quando a pessoa diz alguma coisa, nossa
preocupação, como analistas do comportamento,
é com o dizer e com as condições que controlam
o dizer.

A característica definidora do comportamento


verbal é: a de que ele é estabelecido e mantido
por reforçamento mediado por outra pessoa.
O reforçamento mediado resulta da ação de um
outro indivíduo. Assim, para que haja
comportamento verbal, um falante e um ouvinte
são necessários.

A dependência da mediação leva ao


desenvolvimento de relações especialmente
interligadas entre falante e ouvinte. A
consequência do comportamento verbal segue
diretamente das ações sobre o objeto
Porém, para que o ouvinte possa mediar o
reforçamento do comportamento verbal do
falante, é preciso que o ouvinte seja
especificamente treinado para tal.

Por exemplo, ao sair de casa com as mãos


carregadas alguém pede que lhe abra a porta. O
pedido como tal não abre diretamente a porta.
É necessário que um ouvinte especialmente
treinado como membro de uma comunidade verbal
específica medeie a ação verbal do falante,
abrindo-lhe à porta.

Significa dizer que o comportamento verbal de


alguém depende de uma dada cultura para ser
reforçado.
Assim, se um japonês, que não entende
português, ouvir um brasileiro falar ou ler um
texto em português, provavelmente ele não
reforçará o comportamento verbal desse
brasileiro.

Portanto, o comportamento verbal, em si mesmo,


não faz coisas. Ele é efetivo pela mediação de
outras pessoas.
A forma (topografia da resposta) não é o ponto
crítico: você pode dizer para alguém o que quer,
quando for às compras – pedindo pelo produto ou
apontando para ele e pode fazê-lo também por
escrito, como quando você faz um pedido pelo
correio ou pelo computador.

A unidade do comportamento verbal pode ser o


fonema, uma parte de uma palavra, uma palavra,
uma frase, o falar, escrever, digitar um texto,
ou mesmo, uso de códigos podem ser exemplos
de comportamentos verbais, desde que haja a
mediação por um ouvinte especificamente
treinado.

É muito importante considerar o contexto em que


o comportamento ocorre para confirmar sua
definição como verbal, dependendo do efeito que
tem sobre o ouvinte. Por exemplo, assobiar pode
fazer parte de um código verbal e, neste caso,
seria um comportamento verbal, desde que
esteja sob controle de estímulos.
O comportamento verbal não é restrito a nenhum
modo de responder como a fala, escrita ou a
gestos. Não há como defini-lo seguramente pela
sua topografia. O importante é o efeito sobre o
ouvinte, ou seja, os aspectos funcionais.

Para reforçar um comportamento verbal,


aumentando a probabilidade de que ele ocorra
novamente numa próxima vez, é preciso que o
ouvinte se comporte, reagindo ao comportamento
do falante.
Uma descrição funcional das relações verbais
básicas considera as contingências vigentes na
comunidade verbal responsáveis pelo
comportamento verbal, ou seja, as inter-
relações entre as variáveis antecedentes do
comportamento verbal, o tipo de controle
exercido por estas variáveis sobre as respostas
verbais, as respostas verbais, e as variáveis
consequentes.
Skinner afirma que o fato da comunidade verbal
assumir o controle operante sobre as
circunstâncias ambientais em que isso ocorre
ainda precisa ser explicitado; mas o que se pode
dizer é que, sem duvida, a comunidade verbal,
através de reforçamento e punição modela o
comportamento verbal.

A vocalização por si só, não constitui linguagem


e os sons que uma criança emite são a matéria
bruta da qual se forma o comportamento verbal.
A princípio, seu repertório de sons é limitado,
mas à medida que se desenvolve, aumenta a
amplitude das respostas verbais.

O repertório de sons da criança aumenta


rapidamente desde o nascimento, de modo que
no seu treino da linguagem, parte do seu
repertório é reforçado e outras extinguidas.
É assim que uma criança pequena aprende a
falar.

Seu comportamento vocal (ainda não-verbal) vai


sendo modelado, tornando-a um falante e um
ouvinte adaptado, que se amplia na medida em
que as interações com outros grupos sociais se
desenvolvem.
Através do comportamento verbal também é
possível verificar o quanto conseguimos produzir
ou controlar comportamento, alterando as
condições na quais eles ocorrem.

As variáveis antecedentes podem ocorrer com


sons produzidos por verbalizações que uma
criança pode duplicar (pelo modelo dos pais), por
visualização de respostas gestuais ou até por
privações, estimulação aversiva.
Muitas vezes, o ouvinte de um comportamento
verbal é o próprio falante: quando falamos para
nós mesmos, ou quando pensamos.

Na maior parte do tempo, o ser humano está se


comportando verbalmente.

Diz-se por isso, que o ser humano age apenas


indiretamente sobre o ambiente: seu primeiro
efeito é sobre os homens.
Assim, no exemplo clássico de Skinner, um
homem sedento, ao invés de se dirigir a uma
fonte de água diretamente, pode simplesmente
pedir um copo de água.

De fato, diz Skinner, a característica desse


comportamento é o de ser impotente em relação
ao mundo físico: palavras não quebram ossos nem
removem montanhas.

É eficaz sobre outras pessoas.


O comportamento verbal envolve tanto o
comportamento do ouvinte, que é modelado pelos
seus efeitos sobre o comportamento do falante,
quanto o comportamento do falante, que é
modelado pelos seus efeitos sobre o ouvinte.

Portanto, o comportamento verbal é modelado e


mantido pelas práticas de uma comunidade
verbal.
O comportamento verbal pode ficar
especialmente sob controle de aspectos da
situação onde o comportamento verbal costuma
ser reforçado.

Por exemplo, se a mãe não permite que a criança


coma balas antes das refeições diminui a
frequência de pedir balas antes das refeições.
Numa comunidade verbal específica certos
estímulos evocam caracteristicamente certas
respostas.

Na situação típica de aprendizagem a presença


de um certo objeto é ocasião para que uma
resposta de determinada forma seja seguida por
um reforçamento.

Ao definirmos o comportamento verbal por sua


função, o distinguimos de linguagem e língua.
Uma língua é definida pela estrutura. As
definições, ortografias e pronúncias que constam
em dicionários e as regras de um livro de
gramática descrevem a estrutura padrão de
várias unidades verbais em uma língua.

O comportamento verbal de um falante ocorre no


contexto dessas referidas práticas, mas as
práticas mantenedoras, ou seja, a linguagem,
não deve ser confundida com o que elas mantem,
que é o comportamento verbal.
O comportamento verbal tem consequências e
como ocorre com todo comportamento operante,
tais consequências afetam o responder verbal
subsequente.

Muitas vezes, as consequências para quem fala


são simplesmente o comportamento verbal
subsequente de quem ouve.

Tendemos a parar de falar quando as pessoas


não reagem ao que dizemos.
Não apenas objetos e eventos evocam
comportamentos verbais, mas também suas
propriedades e relações entre elas. A
comunidade verbal ensina a criança a responder
a cor vermelha, por ex.: reforçando a resposta
vermelho em diferentes ocasiões: diante de uma
flor, de sua camisa nova, do carro do pai ou do
batom da mãe. Se a resposta é, agora,
estendida para uma bola vermelha ou para uma
maçã, admite-se que esta propriedade isolada
controla a resposta da criança.
Desde muito pequena a criança aprende os nomes
dos objetos, das pessoas e dos eventos.

Em pouco tempo não só domina um repertório


vasto, como também produz construções verbais
novas, ou seja, que não foram diretamente
treinadas.

Ela pode nomear objetos novos ou propriedades


desses objetos combinando unidades já
aprendidas.
O grande número de contingências verbais
diferentes é responsável pelo tamanho
considerável dos repertórios de comportamento
verbal, assim como pelo estabelecimento de
controles múltiplos.

No controle múltiplo um único estímulo evoca


várias respostas ou uma única resposta é
evocada por vários estímulos.
Por exemplo, um mesmo estímulo verbal “água”
pode evocar várias respostas verbais diferentes
como lago, mar, rio, chuva, neve, gelo, etc.,

ou por outro lado, vários estímulos verbais


diferentes como lago, mar, rio, chuva, neve,
gelo, etc., podem evocar uma mesma resposta
verbal, “água”.
Uma das consequências mais gerais do
comportamento verbal é que, por meio dele, um
falante pode mudar o comportamento de um
ouvinte. As palavras são meios de levar as
pessoas a fazerem coisas.

As consequências que podem servir de


reforçadores para o comportamento verbal são
numerosas e variadas:
→ algumas vezes, são não verbais (exemplo: ☺ o
aparecimento de uma pessoa a um chamado);
→ outras vezes, são verbais (exemplo: ☺ alguém
responde a uma pergunta);
→ algumas vezes são nitidamente previsíveis
(exemplo:☺dizer “obrigado” é frequentemente
seguido por “de nada”);
→ outras vezes não são previsíveis (exemplo: ☺nem
todos os pedidos são atendidos);
→ muitas vezes, são muito específicas (exemplo: ☺
como respostas a perguntas específicas ou tomar
atitudes apropriadas ao que é solicitado).
O comportamento verbal é mantido por
consequências variadas que fazem parte de
contingências naturais na interação, que podem
ser concebidas como uma rede complexa de
esquemas de reforço.

Assim o comportamento verbal se constitui de


boa parte da complexidade do comportamento
humano. A investigação do comportamento verbal
tem sido, por essa razão, muito importante para
a Análise do Comportamento.
Abordar o comportamento verbal por meio de
análise funcional é obter dados sobre a função e
o efeito sobre o ouvinte.

A investigação da aquisição e manutenção de


comportamento verbal está voltada
necessariamente para o exame das contingências
de reforçamento mantidas pela comunidade
verbal, buscando-se os determinantes do
comportamento nas interações entre falante e
ouvinte.
O papel do ouvinte, nesse caso, é fundamental,
pois diferentes auditórios controlam diferentes
repertórios verbais.

Referências Bibliográficas

BANACO, R. A. Sobre comportamento e cognição:


volume 1 : aspectos teóricos, metodológicos e de
formação em análise do comportamento e terapia
cognitivista. São Paulo: ESETec, 2001.
BAUM, William M. Compreender o behaviorismo.
Comportamento, cultura e evolução. Capítulo: 7 –
Comportamento Verbal e linguagem; p. 135-160

CATANIA, A. C. Aprendizagem. Porto Alegre:


Artmed, 1999.

KELLLER, F. S. & SCHOENFELD, W. N. Princípios


de psicologia. São Paulo: Herder, 1950.

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