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CONTINUAÇÃO DA AULA ANTERIOR

Eu prometi no segundo artigo desta série, que esta parte seria sobre Redes Industriais. Porém, eu
decidi colocar mais uma explicação sobre transporte dos dados, antes de falar, finalmente, sobre
elas.
Então, neste terceiro artigo, vou falar sobre como é feita a transmissão dos dados pelo meio físico.
Foi falado no artigo anterior que quando uma mensagem é enviada de um dispositivo para outro, ela
passa por várias camadas até chegar à Camada Física, onde ela é transformada em algum tipo de
sinal para que possa trafegar pelo meio físico utilizado.
Este sinal pode ser:
 Elétrico: quando se utiliza cabos;
 Luz: quando se utiliza fibra ótica;
 Rádio, infravermelho, satélite: quando a transmissão é feita sem fios, ou seja, os sinais
trafegam pelo ar.
Para que uma mensagem consiga percorrer o meio físico ela precisa ser codificada, ou seja, ela
precisa ser transformada em alguma coisa que seja capaz de percorrer o meio físico que está sendo
utilizado.
Vamos a um exemplo. Imagine que existam duas pessoas e cada uma delas esteja em um quarto.
Esses quartos são vizinhos e existe no meio da parede um pequeno buraco que os interliga. As duas
pessoas gostariam de se comunicar entre si, utilizando este buraco na parede, porém elas são mudas.
Então, é claro, que não dá para a comunicação ser feita através da fala. Existe em cada um dos
quartos várias pecinhas com letras, números e sinais ortográficos escritos, onde é possível uni-las e
formar palavras.
Assim, cada vez que uma das pessoas resolve mandar uma mensagem, ela coloca as pecinhas em
ordem, de forma que a palavra que se quer enviar seja formada, e ela começa a jogar pelo buraco
uma pecinha de cada vez (também em ordem). A pessoa do outro quarto vai juntando as pecinhas
por ordem de chegada-1. Quando todas as peças são enviadas a palavra está completa no destino e a
pessoa conseguirá ler a mensagem. Ambos os lados agem da mesma forma, formando palavras e
enviando uma peça de cada vez para o destino.
Esse processo de transformar a palavra em pedaços para que a informação consiga “passar” por um
meio físico (neste caso o buraco) e chegar ao destino é chamado de Codificação
Veja Figura 1:
Figura 1 – Exemplo de codificação de dados

Na vida real, quando a mensagem chega na Camada Física, ela é vista por esta camada como uma
sequência de bits. Esses bits são codificados, ou seja, são transformados em sinais (elétricos, luz
etc), são transmitidos por partes e são unidos novamente no destino final. Uma das técnicas mais
simples de codificação é através de impulsos, onde um impulso significa bit 1 e a ausência de
impulso significa bit 0. Com estes dois dígitos é possível codificar todo tipo de mensagem que esteja
representada por uma sequência de bits.
Esse processo de enviar a informação por partes, ou seja, bit por bit é chamada de Transmissão
Serial.
De acordo com [1] esse tipo de transmissão tem as seguintes características:
 Os dados são transmitidos de forma menos complexa;
 Há necessidade de apenas um canal de comunicação (por exemplo, cabo par trançado);
 Menor velocidade na transmissão dos dados;
 Menor custo;
 E maior imunidade a ruídos.
Existem três formas de transmitir uma mensagem. São elas: Simplex, Half-duplex e Duplex. Veja
abaixo a explicação de cada uma delas:
 Simplex: neste tipo de comunicação a transmissão dos dados é feita de forma que não
haja interatividade entre as partes que estão enviando a mensagem e as que estão recebendo. Por
exemplo: a televisão nos fornece informações de vários tipos e nós não conseguimos interagir
com ela. Quando o Willian Bonner nos dá “Boa noite” no final do Jornal Nacional, tem gente
que até responde, mas ele não ouve.
 Half-duplex: aqui, a comunicação ocorre entre todas as partes, porém, quando uma está
enviando uma mensagem, a outra fica quieta e somente quando a primeira termina a
transmissão, é que a segunda poderá enviar sua parte. Exemplo: walk-talk.
 Duplex: neste modo, a transmissão e recepção dos dados pode ocorrer ao mesmo tempo.
Exemplo: telefone. Quando duas pessoas estão conversando, elas podem falar ao mesmo tempo.
Não é necessário que uma escute enquanto a outra fala.
O modo de transmissão utilizado nas Redes Industriais é o Half-duplex.

REDES INDUSTRIAIS

Agora, que entramos em Redes Industriais de fato, a comunicação não é mais feita entre pessoas, e
sim, entre os próprios dispositivos. É como se eles tivessem vontade própria.
Quando falamos em automação, estamos falando de “coisas” sem vida, que trabalham sozinhas,
executando ordens vindas de outras “coisas” sem vida. Não é necessário que uma pessoa faça o que
precisa ser feito. Complexo? Vejam este exemplo simples. Suponhamos que temos um tanque de
água de 1000 litros. Este tanque deve manter seu nível entre 30 e 80% de sua capacidade.
Num modelo antigo, esse tanque era controlado por uma pessoa, que ficava vigiando seu nível.
Quando o tanque estava com o nível abaixo de 30%, a pessoa responsável iria até a válvula que
controla a entrada de água dentro do tanque e abriria esta válvula de forma que a quantidade de água
entrando no tanque, fosse maior. Com isso, o tanque começaria a se encher de água. Em um
determinado momento, o nível de água ultrapassa os 80% permitido. Então, esta mesma pessoa,
corre até a válvula, e a fecha, cortando ou diminuindo o fluxo.
Enquanto o nível estiver dentro do normal, a situação está controlada (e esta pessoa tem seu
momento de descanso). Só de escrever isso, confesso que já fiquei cansada.
Agora imagina a pessoa que é realmente responsável por esta atividade. Ela encontra uma série de
dificuldades, por exemplo, a válvula pode ser longe do tanque, fazendo com que ela fique andando
por distâncias longas o tempo todo, nesse processo: “verifica o tanque – abre a válvula – verifica o
tanque – fecha a válvula”. Além de ser desgastante toda essa andação da pessoa, muitas vezes ela
pode não ter uma noção do tanto que esta válvula deverá ser aberta ou fechada, até mesmo pra evitar
que ela tenha que andar tanto. Mais um probleminha….essa válvula pode ser grande e seu manuseio
pode ser complicado, já que, esse processo de abrir e fechar pode ser pesado.
Enfim, são vários os motivos, nesta história, que fazem com que este processo precise ser
automatizado.
Veja Figura 1:
Figura 1 – Esquema de um Processo Manual
Agora essa abertura e fechamento da válvula será feito de forma automatizada. Para isto, precisamos
dos seguintes equipamentos (além do tanque e da válvula):

 Um CLP (Controlador Lógico Programável);


 Um sensor de nível;
 Um posicionador de válvula.
Quem vai controlar todo o esquema de fechamento e abertura da válvula é o CLP. Este equipamento
é chamado de Mestre nas redes industriais, pois ele dá ordens, ou seja, envia comandos para os
equipamentos escravos, que neste caso são o sensor e o posicionador. O CLP é programado com
uma sequência de lógicas e, sua atuação vai variar de acordo com informações que ele receber sobre
o processo. Ele compara o valor recebido do sensor com o valor que ele tem registrado e que é
considerado normal. Se este valor estiver abaixo do normal, neste caso 30%, o CLP manda uma
informação para o posicionador e este abre a válvula. Se o valor recebido for superior ao valor
considerado normal, ele manda uma mensagem para que o posicionador feche a válvula. Se o valor
estiver dentro da faixa, então o CLP não toma nenhuma atitude.

O sensor de nível será o responsável por detectar o nível de água dentro do tanque e enviar esse
valor para o CLP. O envio desses dados é feito constantemente, em tempo real.

Já o posicionador é o responsável pela interface entre o CLP e a válvula. É ele quem atua na válvula
abrindo ou fechando, de acordo com a necessidade.

Veja Figura 2:
Figura 2 – Esquema de Automatização de um Processo
Vocês conseguem notar, através destes exemplos simples, a necessidade de se automatizar um
processo? Agora imaginem uma indústria inteira, com muitos processos variados e complexos. A
automação é totalmente necessária. E as Redes Industriais é quem interliga todos os envolvidos
no processo de automação e faz o transporte dos dados de um lado para outro.

Só pra reforçar: em uma rede de comunicação como a internet, a troca de dados é feita entre
pessoas através de dispositivos eletrônicos; nas redes industrias a comunicação é feita entre os
próprios dispositivos eletrônicos, que neste caso, são: sensores, atuadores, controladores,
posicionadores, PC, workstation etc. Aqui, não se faz apenas um controle dos equipamentos, como
citado no exemplo acima, mas também é possível acompanhar todo o processo de produção, estoque
de tudo que existe na empresa, controle de compra e venda, fazer rastreio de produtos…enfim.
Através desta interligação entre todas as áreas de uma planta, consegue-se controlar toda ela.
Veja na Tabela 1 uma relação entre cada um desses dispositivos e a área onde atuam:
Tabela 1 – Relação entre Dispositivos e sua Área de Atuação

De acordo com [1], a necessidade da automação na indústria e nos mais diversos segmentos está
associada às possibilidades de aumentar a velocidade de processamento das informações, uma vez
que as operações estão cada vez mais complexas e variáveis. Isso ocorre, pois, no modelo de
indústria atual, todas as partes de uma planta podem ser automatizadas, o que faz com que se tenha
variados benefícios. Entre eles estão:
 Economia de energia;
 Aumento da produtividade;
 Um melhor controle de qualidade do produto;
 Segurança operacional;
 Entre outros.
Todos estes benefícios são conseguidos através da utilização de redes industriais. Estas redes podem
ser divididas de três formas:
 Rede de informação;
 Rede de controle;
 Rede de campo.
As Redes de Informação representam o nível mais elevado dentro de uma arquitetura. Em grandes
corporações é natural a escolha de um backbone de grande capacidade para interligação dos sistemas
ERP (Enterprise Resource Planning), Supply Chain (gerenciamento da cadeia de suprimentos) e
EPS (Enterprise Production Systems). Estas redes atuam nos Níveis 4 e 5 da Tabela 1.
Já as Redes de Controle tem como função interligar os sistemas industriais de Nível 2 aos sistemas
de Nível 1. É possível também, que equipamentos de Nível 3 estejam ligados a este barramento.
Por fim, as Redes de Campo, também conhecidas como fieldbus, garantem a conectividade entre os
diversos dispositivos atuantes diretamente no Nível 1 (chão de fábrica) com os níveis superiores
(sistemas de controle ou gerenciamento).
Então, visando a minimização de custos e o aumento da operacionalidade de uma aplicação
introduziu-se o conceito de rede industrial para interligar os vários equipamentos de uma aplicação.
A utilização de redes e protocolos digitais prevê um significativo avanço nas seguintes áreas:
 Custos de instalação, operação e manutenção;
 Facilidade de diagnóstico da rede;
 Procedimentos de manutenção com gerenciamento de ativos;
 Fácil expansão e upgrades;
 Informação de controle e qualidade;
 Determinismo (permite determinar com precisão o tempo necessário para a transferência
de informações entre os integrantes da rede);
 Baixos tempos de ciclos;
 Várias topologias;
 Padrões abertos;
 Redundância em diversos níveis;
 Menor variabilidade nas medições com a melhoria das exatidões;
 Medições multivariáveis.
Bom pessoal, como foi mostrado nesse artigo, as vantagens de se automatizar os processos em uma
planta são numerosas e o uso das Redes Industriais para se fazer a ligação entre todos os níveis da
pirâmide de automação, a qual eu chamei de Tabela 1, facilita, e muito, a vida das pessoas que
trabalham em indústrias.
A facilidade de se diagnosticar um problema, por exemplo, é muito maior do que quando se utilizam
as redes convencionais do tipo 4-20 mA. O diagnóstico pode ser realizado analisando as formas de
onda produzidas na Camada Física da rede ou os telegramas de mensagem produzidos na Camada
de Enlace. Com um diagnóstico rápido, é possível diminuir o tempo de parada de uma planta e
reduzir possíveis prejuízos no processo.
Bit é a sigla para Binary Digit, que em português significa dígito binário, ou seja, é a menor
unidade de informação que pode ser armazenada ou transmitida. É geralmente usada na computação
e teoria da informação. Um bit pode assumir somente 2 valores, como 0 ou 1.

Rede. Estrutura de comunicação digital que permite a troca de informações entre diferentes
component.

Rede industrial. Rede de comunicação dedicada ao contexto e ambiente industrial.

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