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Introdução

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INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho não foi escolhido através de um processo de


análise e ponderação cuidadas. De facto, a partir do momento em que tomei
a decisão de concorrer ao Prémio Adelino da Palma Carlos, a “Publicidade e
a Ética do Advogado – Análise Crítica do Regime Legal Aplicável” surgiu-me
como uma evidência.
Foi um tema que sempre me prendeu a atenção, desde o momento em
que tive um contacto mais próximo com ele, nas aulas de formação inicial do
Centro Distrital de Lisboa. Foi igualmente um tema sobre o qual não
conseguia definir uma posição pessoal.
Assim, por um lado, via a publicidade como algo fundamental da
sociedade actual, de tal forma que não me recordo de um tempo em que esta
não tenha exercido um enorme impacto sobre mim. O espírito consumista é
parte integrante da sociedade de hoje, sociedade esta onde nascemos, nos
desenvolvemos e nos tornamos pessoas, e a publicidade alimenta-o, aliciando
as mentes humanas com cores e música.
Por outro lado, tinha firmemente implantada em mim uma ideia
muito específica e quase rígida daquilo que, em minha opinião, o advogado
deveria ser, e de quais as qualidades que deveria possuir, como a
integridade, a honestidade, a filantropia e a discrição. Esta última qualidade
era e continua a ser fundamental para mim, na medida em que confere à
advocacia a essencial aura de seriedade e de classe, importante na medida
em que cria, no espírito do potencial cliente, a confiança necessária ao
mandato forense.
Ora, a única forma de encontrar uma solução para este conflito
interior em que me encontrava, seria estudando o tema, o mais
abrangentemente possível, e reflectindo ponderadamente sobre ele, para que
conseguisse chegar a uma conclusão. Foi isso que procurei fazer com esta
exposição.

-2-
Introdução
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Além da motivação supra mencionada, a escolha do tema da


publicidade na advocacia teve ainda outra: o regime actual, recentemente
implantado pelo novo Estatuto da Ordem dos Advogados (de ora em adiante
designado por EOA). Afinal, o que mudou?
Decidido definitivamente o objecto do trabalho, surgiu-me então outra
questão: qual a estrutura que um trabalho deste tipo deve possuir, de modo
a que o encadeamento da multiplicidade de ideias surja e flua de forma
lógica? Solucionei a questão optando por adoptar como critério a ordem
cronológica.
Deste modo, o primeiro capítulo pretende explanar o desenvolvimento
histórico da advocacia e a forma como esta se foi entrelaçando com a
publicidade. O capítulo subsequente expõe o regime da publicidade que
vinha estabelecido no EOA anterior, o Decreto-Lei n.º 84/84, de 20 de Julho,
especificamente no artigo 80.º. O terceiro capítulo ilustra o rompimento
deste regime, os seus motivos, as suas influências e as vozes discordantes.
No capítulo que se segue, é abordado o tema do novo regime da publicidade,
previsto no artigo 89.º do EOA que recentemente entrou em vigor,
procurando-se dissecar todas as disposições da norma e especificar as
inovações e as diferenças. Por fim, no capítulo final, definem-se e
desenvolvem-se os limites a que a publicidade da advocacia está sujeita,
além daquilo que vem estabelecido no artigo 89.º do EOA.
O pouquíssimo tempo de vida deste novo Estatuto faz com que o
trabalho inicial de concretização do regime da publicidade na advocacia
pertença à criação intelectual e doutrinária dos advogados que se
movimentam no meio. Posteriormente virá a materialização jurisprudencial.
É nesta perspectiva que se inscreve o presente trabalho, procurando a
autora conseguir, com ele, abordar algumas questões pertinentes
relacionadas com o tema, dando um contributo para a continuidade do
debate público que sobre ele se tem vindo a desenvolver.

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Introdução
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INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho não foi escolhido através de um processo de


análise e ponderação cuidadas. De facto, a partir do momento em que tomei
a decisão de concorrer ao Prémio Adelino da Palma Carlos, a “Publicidade e
a Ética do Advogado – Análise Crítica do Regime Legal Aplicável” surgiu-me
como uma evidência.
Foi um tema que sempre me prendeu a atenção, desde o momento em
que tive um contacto mais próximo com ele, nas aulas de formação inicial do
Centro Distrital de Lisboa. Foi igualmente um tema sobre o qual não
conseguia definir uma posição pessoal.
Assim, por um lado, via a publicidade como algo fundamental da
sociedade actual, de tal forma que não me recordo de um tempo em que esta
não tenha exercido um enorme impacto sobre mim. O espírito consumista é
parte integrante da sociedade de hoje, sociedade esta onde nascemos, nos
desenvolvemos e nos tornamos pessoas, e a publicidade alimenta-o, aliciando
as mentes humanas com cores e música.
Por outro lado, tinha firmemente implantada em mim uma ideia
muito específica e quase rígida daquilo que, em minha opinião, o advogado
deveria ser, e de quais as qualidades que deveria possuir, como a
integridade, a honestidade, a filantropia e a discrição. Esta última qualidade
era e continua a ser fundamental para mim, na medida em que confere à
advocacia a essencial aura de seriedade e de classe, importante na medida
em que cria, no espírito do potencial cliente, a confiança necessária ao
mandato forense.
Ora, a única forma de encontrar uma solução para este conflito
interior em que me encontrava, seria estudando o tema, o mais
abrangentemente possível, e reflectindo ponderadamente sobre ele, para que
conseguisse chegar a uma conclusão. Foi isso que procurei fazer com esta
exposição.

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Introdução
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Além da motivação supra mencionada, a escolha do tema da


publicidade na advocacia teve ainda outra: o regime actual, recentemente
implantado pelo novo Estatuto da Ordem dos Advogados (de ora em adiante
designado por EOA). Afinal, o que mudou?
Decidido definitivamente o objecto do trabalho, surgiu-me então outra
questão: qual a estrutura que um trabalho deste tipo deve possuir, de modo
a que o encadeamento da multiplicidade de ideias surja e flua de forma
lógica? Solucionei a questão optando por adoptar como critério a ordem
cronológica.
Deste modo, o primeiro capítulo pretende explanar o desenvolvimento
histórico da advocacia e a forma como esta se foi entrelaçando com a
publicidade. O capítulo subsequente expõe o regime da publicidade que
vinha estabelecido no EOA anterior, o Decreto-Lei n.º 84/84, de 20 de Julho,
especificamente no artigo 80.º. O terceiro capítulo ilustra o rompimento
deste regime, os seus motivos, as suas influências e as vozes discordantes.
No capítulo que se segue, é abordado o tema do novo regime da publicidade,
previsto no artigo 89.º do EOA que recentemente entrou em vigor,
procurando-se dissecar todas as disposições da norma e especificar as
inovações e as diferenças. Por fim, no capítulo final, definem-se e
desenvolvem-se os limites a que a publicidade da advocacia está sujeita,
além daquilo que vem estabelecido no artigo 89.º do EOA.
O pouquíssimo tempo de vida deste novo Estatuto faz com que o
trabalho inicial de concretização do regime da publicidade na advocacia
pertença à criação intelectual e doutrinária dos advogados que se
movimentam no meio. Posteriormente virá a materialização jurisprudencial.
É nesta perspectiva que se inscreve o presente trabalho, procurando a
autora conseguir, com ele, abordar algumas questões pertinentes
relacionadas com o tema, dando um contributo para a continuidade do
debate público que sobre ele se tem vindo a desenvolver.

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O Vislumbrar da Mudança

O VISLUMBRAR DA MUDANÇA

Face à evidência de variações cada vez mais nítidas e profundas nas concretas
maneiras do exercício da profissão de advogado na nossa sociedade actual e face às
realidades várias que determinaram a evolução para essa diversidade e que vão
continuar a determiná-la, creio que não vai continuar a ser possível fechar os olhos
à realidade, nem vai ser possível continuar a ocultá-la por detrás de uma aparência
de uniformidade, que é apenas uma ficção.
Pena dos Reis,
in Advocacia – Que Fazer?

Já há muito que se faziam prever as alterações levadas a cabo no


EOA, principalmente no que se refere à Publicidade do Advogado.
De facto, várias legislações europeias, como as da França, da
Alemanha, do Reino Unido ou da Holanda, permitem actualmente a
publicidade dos advogados, salvo algumas restrições impostas pelas
associações profissionais.
Mas não só os países europeus tradicionalmente mais permissivos
neste campo são de mencionar. De facto, a Espanha, tipicamente mais
conservadora, ou a Bélgica, têm vindo a evoluir no sentido de permitir cada
vez mais a publicidade dos advogados.
Existem ainda, no entanto, algumas legislações que permanecem
extremamente restritivas, de que são exemplo a Itália e a Grécia.
Ainda assim, é possível identificar uma forte tendência liberalizadora
da publicidade dos advogados.
Também o Código de Deontologia dos Advogados da Comunidade
Europeia (o Código do CCBE), aprovado a 28 de Outubro de 1988, e alterado
em 1998 e 2002, o qual visa regular e uniformizar as relações
intercomunitárias entre os Advogados, estabelece regras quanto à
Publicidade dos Advogados. Neste, denotava-se, antes da última alteração, a
supremacia do respeito pelos ordenamentos jurídicos internos de cada

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O Vislumbrar da Mudança

Estado-Membro, dispondo o Código do CCBE, no Ponto 2.6.1, que «O


advogado não deve fazer nem promover qualquer publicidade pessoal onde
esta for proibida», e ainda, «Nos outros casos o advogado não deve fazer nem
promover qualquer publicidade pessoal senão na medida em que as regras
da ordem de advogados lho permitem». Como tal, o Código do CCBE deixa
ao critério de cada legislação permitir ou proibir a publicidade dos
advogados. Porém, a revisão de 2002, veio modificar o texto da norma para
«2.6.1. A lawyer is entitled to inform the public about his services provided
that the information is accurate and not misleading, and respectful of the
obligation of confidentiality and other core values.», e ainda, «2.6.2. Personal
publicity by a lawyer in any form of media such as by press, radio,
television, by electronic commercial communications or otherwise is
permitted to the extent it complies with the requirements of 2.6.1.».
(www.oa.pt).
Como se pode verificar, esta alteração representou uma enorme
abertura à publicidade dos advogados, compreendendo-se, por conseguinte, a
recente alteração ao EOA. De facto, ainda que o termo ‘publicity’ não tenha o
mesmo significado que ‘publicidade’ (o alcance do termo ‘publicidade’
aproxima-se mais do ‘advertising’ inglês), possibilita este a divulgação de
informação pessoal com finalidades comerciais.
Mas não foi só ao nível europeu que se firmou esta liberalização.
Também em Portugal várias foram as vozes que se levantaram expondo a
desadequação do EOA à realidade actual.
Como foi supra mencionado, a sociedade de hoje pouco se identifica
com a sociedade de 1984, data em que foi redigido o antigo artigo 80.º do
EOA. Por conseguinte, o mundo jurídico também se alterou. Eis o cenário
que hoje se nos depara: explosão do acesso à profissão de advogado, com a
consequente e natural intensificação da concorrência entre profissionais do
foro; introdução de novos meios de trabalho nos escritórios de advogados,
como o indispensável computador e a imprescindível Internet (de facto, como
se sabe, nos dias de hoje, é possível utilizar este meio para enviar
articulados e todo o tipo de requerimentos, bem como pedir certidões,

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O Vislumbrar da Mudança

inscrever provisoriamente associações, entre tantos outros, caminhando-se a


passos largos para a imposição da Internet como meio exclusivo de
comunicação entre sujeitos e entidades jurídicas, como, aliás, já acontece
com os requerimentos executivos); a empresarialidade e comercialização da
profissão, com a multiplicação das sociedades de advogados, cuja estrutura
assenta na divisão do trabalho e na especialização, características das
empresas da era industrial, encarando-se a advocacia como uma actividade
comercial; por fim, a globalização da profissão, resultando na tentativa cada
vez mais forte de aproximar as várias legislações e de dissipar as fronteiras
que as separam.
Por outro lado, a grande maioria das pessoas habituou-se a procurar
qualquer tipo de informação de que tenha necessidade na Internet,
inclusivamente se tal necessidade se prende com o acompanhamento
jurídico.
Ora, todo este panorama de velocidade estonteante e de
desenvolvimento constante em que hoje se vive acabou por se fazer sentir,
como não podia deixar de ser, na Jurisprudência dos Conselhos.
De facto, são numerosos os Pareceres, anteriores à recente revisão do
EOA, em que se busca uma interpretação actualista do prévio artigo 80.º,
como tentativa de conciliar a norma com a realidade social. Destes, o mais
relevante é, sem dúvida, o Parecer n.º E-41/02 do Conselho Geral, emitido a
17 de Janeiro de 2003, e estruturante nesta matéria.
Neste Parecer, diz-se expressamente existir «um largo consenso
quanto à desadequação de uma interpretação literal do conteúdo daquela
disposição [antigo artigo 80.º] face às actuais condições de exercício da
profissão e aos meios de comunicação hoje existentes». A interpretação
estabelecida pelo Parecer foi, então, citando: «O problema é apenas o
conteúdo. Aí, sim, os valores que o legislador quis proteger mantêm-se
intocados: o advogado só pode divulgar informação objectiva e verdadeira
que não constitua reclamo e que respeite o segredo profissional». Como tal,
de forma a avaliar se determinada informação deveria ser considerada
publicidade, e, por conseguinte, proibida pelo antigo artigo 80.º, o que

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O Vislumbrar da Mudança

importava era avaliar o conteúdo da mensagem, objectivamente, e não tanto


a forma ou o formato em que esta era divulgada.
Ora, como o próprio Parecer estruturante menciona, já antes da sua
emissão existia «um largo consenso quanto à desadequação de uma
interpretação literal» do artigo 80.º do EOA anterior. De facto, assim é. São,
como se disse, numerosos os Pareceres que expressam a necessidade de
adaptação do preceito ao mundo actual.
A título exemplificativo, é possível fazer referência ao Parecer n.º E-
36/97, do Conselho Geral, no qual se afirma ser «convicção deste Conselho
que o disposto no artigo 80.º do EOA não atende já às necessidades de uma
advocacia internacional e competitiva, nem responde às prementes
exigências de clientes nacionais e estrangeiros, que procuram informação
cada vez mais concreta e específica dos profissionais que escolhem». É
possível mencionar ainda o Parecer n.º E-1055, em que se diz «O regime que
está consagrado no Estatuto assenta num modelo que não corresponde já,
segundo é convicção deste Conselho Geral, às necessidades da advocacia
portuguesa do final dos anos 90, inserida num contexto europeu cada vez
mais aberto à concorrência internacional e onde o processo de escolha do
advogado deixa de ser uma decisão tomada no quadro de uma comunidade,
onde a reputação de idoneidade e competência se transmite verbalmente ou
pelo conhecimento pessoal, para passar a assumir configurações totalmente
diversas, próprias de sociedades urbanas industriais(…)».
O Conselho Distrital de Lisboa (CDL) emitiu igualmente diversos
Pareceres no mesmo sentido, reafirmando a desactualização do preceito: «É
entendimento deste Conselho Distrital que a actividade profissional do
advogado é uma actividade económica exercida livremente e em
concorrência. A proibição genérica de publicidade a essa actividade
representa uma violação do princípio constitucional da publicidade» (Parecer
de 13 de Novembro de 2002). Finalmente, expressa o CDL, em Parecer de 07
de Agosto de 2003, quanto aos vários argumentos a favor da proibição da
publicidade, como o decoro profissional, o evitar o recrutamento de clientela
ou a dignificação da classe, «(…) em boa verdade, tais argumentos não são

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O Vislumbrar da Mudança

minimamente convincentes, pois partem do equívoco de que os serviços de


advocacia não seriam também serviços e de que não teriam uma dimensão
económica. Em muitas actividades comerciais ou industriais transaccionam-
se mercadorias. E os serviços profissionais liberais, como os dos médicos, dos
engenheiros, dos arquitectos, dos advogados ou dos economistas são
obviamente também transaccionados (em liberdade e em concorrência) por
uma remuneração. A remuneração é, com efeito, a contrapartida dos
serviços prestados, o que fez deles serviços de natureza económica».
O V Congresso dos Advogados Portugueses consubstanciou um
prolongamento desta tendência de abertura à publicidade do advogado.
Neste, emitiram-se conclusões no sentido de ser permitida a informação
objectiva, estabelecendo-se um elenco do que poderia ser ou não considerado
como tal. Neste elenco, incluíram-se já informações como ‘a área ou matérias
jurídicas de exercício preferencial’ ou ‘os colaboradores profissionais
integrados efectivamente no escritório do advogado’. Neste V Congresso
concluiu-se ainda pela necessidade de encarar o artigo 80.º então em vigor
como uma norma de carácter geral, remetendo a sua regulamentação para
um regulamento de publicidade.
Nesta sequência, o Dr. António de Magalhães Cardoso elaborou, a
pedido do Sr. Bastonário, um projecto de alteração do artigo 80.º, bem como
um projecto de um Regulamento da Publicidade do Advogado. O projecto de
alteração do artigo 80.º consubstanciava, de facto, uma norma geral, sendo
que no seu n.º 1 se dispunha: «Ao advogado é permitida a publicidade
informativa, a qual deve conter informação objectiva, verdadeira e digna, no
rigoroso respeito dos deveres deontológicos, do segredo profissional e das
normas sobre publicidade». Previa-se no n.º 2 a elaboração do Regulamento
da Publicidade. No projecto de Regulamento, permitia-se no artigo 2.º, n.º 1,
além do estabelecido pelo V Congresso, a divulgação de informações como a
«Antiguidade na profissão» [al. f)], a «Organização e estrutura interna do
escritório» [al. k)], ou ainda a «Participação em estruturas de partilha
comuns de meios, tais como agrupamentos complementares de empresas ou
agrupamentos europeus de interesse económico e em associações ou alianças

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O Vislumbrar da Mudança

de escritórios nacionais ou internacionais» [al. n)]. Permitia-se ainda, como


modos de publicidade, «Folhetos, brochuras e boletins editados pelo
advogado», «menções em revistas, jornais ou outras publicações escritas de
terceiros», «Correio electrónico, sites na Internet e outros meios análogos»,
ou ainda «Conferências, seminários e colóquios promovidos pelo advogado ou
por terceiros (…)» [artigo 3.º, n.º 1, als. d), e), f) e g)].
Ora, se compararmos o conteúdo dos Pareceres mencionados, as
Conclusões do V Congresso e os projectos elaborados pelo Dr. António de
Magalhães Cardoso, a abertura a novas possibilidades é óbvia, e não poderia
ter outra consequência que não a alteração do antigo artigo 80.º do EOA.

Se a modernização passa, antes de mais, por uma urgente adequação estrutural,


ela tem de fazer-se também e sobretudo através da reforma das regras do
exercício da profissão. Urge corrigir normas que tiveram a sua justificação e o
seu tempo próprio de vida, mas que hoje não recolhem já a adesão da maioria
dos profissionais, nem se ajustam ao actual quadro da actividade económica.

José Carlos Soares Machado,


in Advocacia – Que fazer?

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O Regime do Decreto-Lei n.º 84/84, de 20 de Julho

O REGIME DO DECRETO-LEI N.º 84/84, DE 20 DE JULHO

Sentir-se advogado é fazer o pleno da coincidência entre o melhor dos


valores pessoais e o da profissão jurídica.

Adalberto Alves,
in História Breve da Advocacia em Portugal

A formulação que o artigo 80.º do EOA anterior tinha aquando da sua


recente revogação, correspondia integralmente à redacção original, dada
pelo Decreto-Lei n.º 84/84, de 20 de Julho. De facto, nas várias alterações ao
EOA, efectuadas desde a sua aprovação, em 1984, nenhuma reformou o
tema da Publicidade do Advogado.
Estabelecia então o n.º 1 daquele artigo 80.º: «É vedada ao advogado
toda a espécie de reclamo por circulares, anúncios, meios de comunicação
social ou qualquer outra forma, directa ou indirecta, de publicidade
profissional, designadamente divulgando o nome dos seus clientes». Como
tal, estipulava este preceito uma proibição geral da publicidade.
Na ratio desta proibição estava a necessidade de assegurar a
dignidade da classe, não podendo a advocacia «confundir-se com qualquer
actividade comercial ou industrial, pois, enquanto estas transaccionam
mercadorias, o advogado vela pela honra, liberdade, fazenda e, às vezes, pela
vida do seu constituinte» (António Arnaut, in Estatuto da Ordem dos
Advogados Anotado, pag. 91).
Deste modo, a proibição fundava-se, antes de mais, naqueles
princípios gerais do artigo 76.º do Decreto-Lei n.º 84/84, da visão do
advogado como um servidor da Justiça, do Direito e da Paz Social, devendo,
por conseguinte, moldar o seu comportamento, no âmbito da sua profissão e
fora dele, de forma a ter uma conduta moral irrepreensível.

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O Regime do Decreto-Lei n.º 84/84, de 20 de Julho

A norma assentava também na tentativa de preservação do ‘bom


nome’ da profissão, na medida em que se considerava que a publicidade
pessoal seria necessariamente recheada de ostentação, artimanhas e
astúcia, de modo a captar o interesse de potenciais interessados, em
detrimento de todos os outros profissionais do foro. Como tal, essa actuação
seria contrária à ética profissional.
Ademais, considerava-se igualmente que o advogado deveria fazer-se
conhecer pelas suas capacidades técnicas e bom profissionalismo, pois, caso
possuísse tais qualidades, a sua reputação bastar-lhe-ia, não havendo
necessidade de recorrer a campanhas publicitárias.
Finalmente, na base da proibição estava ainda a tentativa de prover a
máxima protecção possível a três outros princípios, constantes do Diploma
supra mencionado nos artigos 78.º, al. f), 81.º e 82.º. O primeiro princípio era
o da proibição de angariação de clientela pelo advogado, integrado no elenco
de deveres para com a comunidade, e corolário do interesse público da
profissão, não devendo o advogado condicionar a liberdade de escolha do
cliente quanto ao mandatário. O antigo artigo 81.º obrigava o advogado ao
segredo profissional, face à confiança imperativamente subjacente à relação
entre o advogado e o cliente. Por fim, o antecedente artigo 82.º, proibia o
advogado de discutir publicamente questões profissionais, consequência
lógica do princípio anterior.
Ora, o n.º 2 do artigo 80.º do Decreto-lei 84/84, dispunha que «Os
advogados não devem fomentar, nem autorizar, notícias referentes a causas
judiciais ou outras questões profissionais a si confiadas». A base deste
preceito é a mesma que a do n.º 1, relacionando-se, porém, mais
intimamente com a proibição de discussão de pública de questões
profissionais, prevista no antigo artigo 82.º, como foi supra referido. A
discrição do advogado é uma das suas qualidades mais importantes, pois só
assim se pode salvaguardar, não só o ‘bom nome’ da profissão, como também
e especialmente, o do cliente.

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O Regime do Decreto-Lei n.º 84/84, de 20 de Julho

Os números 3, 4 e 5 do prévio artigo 80.º, excepcionavam um certo


número de casos à proibição geral do n.º 1. Não eram, deste modo,
consideradas formas de publicidade as seguintes situações:
1) a indicação de títulos académicos (n.º 3);
2) a menção de cargos exercidos na Ordem dos Advogados (n.º 3);
3) a referência à sociedade civil profissional de que o advogado fosse
sócio (n.º 3);
4) o uso de tabuletas afixadas no exterior dos escritórios (n.º 4);
5) a inserção de meros anúncios nos jornais (n.º 4);
6) a utilização de cartões de visita ou papel de carta, desde que com a
simples menção do nome do advogado, endereço do escritório e
horas de expediente (n.º 4);
7) a inserção do curriculum vitae académico e profissional nas
publicações especializadas, com eventual referência à sua
especialização, se previamente reconhecida pela Ordem dos
Advogados (n.º 5).
A razão de ser destas excepções assentava no facto de todas tratarem
da divulgação de informação objectiva, não dando por conseguinte lugar a
enganos pelos potenciais interessados. A informação de divulgação lícita era,
como se pode verificar, reduzida ao mínimo indispensável, assumindo o
antigo EOA uma posição de rigidez e intolerância absolutas.
No entanto, com o crescimento das cidades e a transformação da
sociedade para aquilo a que hoje intitulamos de ‘sociedade de consumo’ ou
‘sociedade de massas’, depressa os efeitos negativos desta inflexibilidade se
começaram a sentir, como adiante se verá.
 

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O Regime do Decreto-Lei n.º 84/84, de 20 de Julho

A profissão de advogado tem rosas e tem espinhos, tem glórias e misérias, e mais
lágrimas que sorrisos. Mas de uma coisa nos podemos orgulhar: enquanto nos
outros casos, a profissão faz e modela o Homem, na advocacia é o Homem que faz
a profissão. Daí que pode haver maus advogados, mas nunca má advocacia.

António Abranches de Soveral,


in Separata da ROA, Ano 49.

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O Vislumbrar da Mudança

O VISLUMBRAR DA MUDANÇA

Face à evidência de variações cada vez mais nítidas e profundas nas concretas
maneiras do exercício da profissão de advogado na nossa sociedade actual e face às
realidades várias que determinaram a evolução para essa diversidade e que vão
continuar a determiná-la, creio que não vai continuar a ser possível fechar os olhos
à realidade, nem vai ser possível continuar a ocultá-la por detrás de uma aparência
de uniformidade, que é apenas uma ficção.
Pena dos Reis,
in Advocacia – Que Fazer?

Já há muito que se faziam prever as alterações levadas a cabo no


EOA, principalmente no que se refere à Publicidade do Advogado.
De facto, várias legislações europeias, como as da França, da
Alemanha, do Reino Unido ou da Holanda, permitem actualmente a
publicidade dos advogados, salvo algumas restrições impostas pelas
associações profissionais.
Mas não só os países europeus tradicionalmente mais permissivos
neste campo são de mencionar. De facto, a Espanha, tipicamente mais
conservadora, ou a Bélgica, têm vindo a evoluir no sentido de permitir cada
vez mais a publicidade dos advogados.
Existem ainda, no entanto, algumas legislações que permanecem
extremamente restritivas, de que são exemplo a Itália e a Grécia.
Ainda assim, é possível identificar uma forte tendência liberalizadora
da publicidade dos advogados.
Também o Código de Deontologia dos Advogados da Comunidade
Europeia (o Código do CCBE), aprovado a 28 de Outubro de 1988, e alterado
em 1998 e 2002, o qual visa regular e uniformizar as relações
intercomunitárias entre os Advogados, estabelece regras quanto à
Publicidade dos Advogados. Neste, denotava-se, antes da última alteração, a
supremacia do respeito pelos ordenamentos jurídicos internos de cada

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O Vislumbrar da Mudança

Estado-Membro, dispondo o Código do CCBE, no Ponto 2.6.1, que «O


advogado não deve fazer nem promover qualquer publicidade pessoal onde
esta for proibida», e ainda, «Nos outros casos o advogado não deve fazer nem
promover qualquer publicidade pessoal senão na medida em que as regras
da ordem de advogados lho permitem». Como tal, o Código do CCBE deixa
ao critério de cada legislação permitir ou proibir a publicidade dos
advogados. Porém, a revisão de 2002, veio modificar o texto da norma para
«2.6.1. A lawyer is entitled to inform the public about his services provided
that the information is accurate and not misleading, and respectful of the
obligation of confidentiality and other core values.», e ainda, «2.6.2. Personal
publicity by a lawyer in any form of media such as by press, radio,
television, by electronic commercial communications or otherwise is
permitted to the extent it complies with the requirements of 2.6.1.».
(www.oa.pt).
Como se pode verificar, esta alteração representou uma enorme
abertura à publicidade dos advogados, compreendendo-se, por conseguinte, a
recente alteração ao EOA. De facto, ainda que o termo ‘publicity’ não tenha o
mesmo significado que ‘publicidade’ (o alcance do termo ‘publicidade’
aproxima-se mais do ‘advertising’ inglês), possibilita este a divulgação de
informação pessoal com finalidades comerciais.
Mas não foi só ao nível europeu que se firmou esta liberalização.
Também em Portugal várias foram as vozes que se levantaram expondo a
desadequação do EOA à realidade actual.
Como foi supra mencionado, a sociedade de hoje pouco se identifica
com a sociedade de 1984, data em que foi redigido o antigo artigo 80.º do
EOA. Por conseguinte, o mundo jurídico também se alterou. Eis o cenário
que hoje se nos depara: explosão do acesso à profissão de advogado, com a
consequente e natural intensificação da concorrência entre profissionais do
foro; introdução de novos meios de trabalho nos escritórios de advogados,
como o indispensável computador e a imprescindível Internet (de facto, como
se sabe, nos dias de hoje, é possível utilizar este meio para enviar
articulados e todo o tipo de requerimentos, bem como pedir certidões,

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O Vislumbrar da Mudança

inscrever provisoriamente associações, entre tantos outros, caminhando-se a


passos largos para a imposição da Internet como meio exclusivo de
comunicação entre sujeitos e entidades jurídicas, como, aliás, já acontece
com os requerimentos executivos); a empresarialidade e comercialização da
profissão, com a multiplicação das sociedades de advogados, cuja estrutura
assenta na divisão do trabalho e na especialização, características das
empresas da era industrial, encarando-se a advocacia como uma actividade
comercial; por fim, a globalização da profissão, resultando na tentativa cada
vez mais forte de aproximar as várias legislações e de dissipar as fronteiras
que as separam.
Por outro lado, a grande maioria das pessoas habituou-se a procurar
qualquer tipo de informação de que tenha necessidade na Internet,
inclusivamente se tal necessidade se prende com o acompanhamento
jurídico.
Ora, todo este panorama de velocidade estonteante e de
desenvolvimento constante em que hoje se vive acabou por se fazer sentir,
como não podia deixar de ser, na Jurisprudência dos Conselhos.
De facto, são numerosos os Pareceres, anteriores à recente revisão do
EOA, em que se busca uma interpretação actualista do prévio artigo 80.º,
como tentativa de conciliar a norma com a realidade social. Destes, o mais
relevante é, sem dúvida, o Parecer n.º E-41/02 do Conselho Geral, emitido a
17 de Janeiro de 2003, e estruturante nesta matéria.
Neste Parecer, diz-se expressamente existir «um largo consenso
quanto à desadequação de uma interpretação literal do conteúdo daquela
disposição [antigo artigo 80.º] face às actuais condições de exercício da
profissão e aos meios de comunicação hoje existentes». A interpretação
estabelecida pelo Parecer foi, então, citando: «O problema é apenas o
conteúdo. Aí, sim, os valores que o legislador quis proteger mantêm-se
intocados: o advogado só pode divulgar informação objectiva e verdadeira
que não constitua reclamo e que respeite o segredo profissional». Como tal,
de forma a avaliar se determinada informação deveria ser considerada
publicidade, e, por conseguinte, proibida pelo antigo artigo 80.º, o que

- 11 -
O Vislumbrar da Mudança

importava era avaliar o conteúdo da mensagem, objectivamente, e não tanto


a forma ou o formato em que esta era divulgada.
Ora, como o próprio Parecer estruturante menciona, já antes da sua
emissão existia «um largo consenso quanto à desadequação de uma
interpretação literal» do artigo 80.º do EOA anterior. De facto, assim é. São,
como se disse, numerosos os Pareceres que expressam a necessidade de
adaptação do preceito ao mundo actual.
A título exemplificativo, é possível fazer referência ao Parecer n.º E-
36/97, do Conselho Geral, no qual se afirma ser «convicção deste Conselho
que o disposto no artigo 80.º do EOA não atende já às necessidades de uma
advocacia internacional e competitiva, nem responde às prementes
exigências de clientes nacionais e estrangeiros, que procuram informação
cada vez mais concreta e específica dos profissionais que escolhem». É
possível mencionar ainda o Parecer n.º E-1055, em que se diz «O regime que
está consagrado no Estatuto assenta num modelo que não corresponde já,
segundo é convicção deste Conselho Geral, às necessidades da advocacia
portuguesa do final dos anos 90, inserida num contexto europeu cada vez
mais aberto à concorrência internacional e onde o processo de escolha do
advogado deixa de ser uma decisão tomada no quadro de uma comunidade,
onde a reputação de idoneidade e competência se transmite verbalmente ou
pelo conhecimento pessoal, para passar a assumir configurações totalmente
diversas, próprias de sociedades urbanas industriais(…)».
O Conselho Distrital de Lisboa (CDL) emitiu igualmente diversos
Pareceres no mesmo sentido, reafirmando a desactualização do preceito: «É
entendimento deste Conselho Distrital que a actividade profissional do
advogado é uma actividade económica exercida livremente e em
concorrência. A proibição genérica de publicidade a essa actividade
representa uma violação do princípio constitucional da publicidade» (Parecer
de 13 de Novembro de 2002). Finalmente, expressa o CDL, em Parecer de 07
de Agosto de 2003, quanto aos vários argumentos a favor da proibição da
publicidade, como o decoro profissional, o evitar o recrutamento de clientela
ou a dignificação da classe, «(…) em boa verdade, tais argumentos não são

- 12 -
O Vislumbrar da Mudança

minimamente convincentes, pois partem do equívoco de que os serviços de


advocacia não seriam também serviços e de que não teriam uma dimensão
económica. Em muitas actividades comerciais ou industriais transaccionam-
se mercadorias. E os serviços profissionais liberais, como os dos médicos, dos
engenheiros, dos arquitectos, dos advogados ou dos economistas são
obviamente também transaccionados (em liberdade e em concorrência) por
uma remuneração. A remuneração é, com efeito, a contrapartida dos
serviços prestados, o que fez deles serviços de natureza económica».
O V Congresso dos Advogados Portugueses consubstanciou um
prolongamento desta tendência de abertura à publicidade do advogado.
Neste, emitiram-se conclusões no sentido de ser permitida a informação
objectiva, estabelecendo-se um elenco do que poderia ser ou não considerado
como tal. Neste elenco, incluíram-se já informações como ‘a área ou matérias
jurídicas de exercício preferencial’ ou ‘os colaboradores profissionais
integrados efectivamente no escritório do advogado’. Neste V Congresso
concluiu-se ainda pela necessidade de encarar o artigo 80.º então em vigor
como uma norma de carácter geral, remetendo a sua regulamentação para
um regulamento de publicidade.
Nesta sequência, o Dr. António de Magalhães Cardoso elaborou, a
pedido do Sr. Bastonário, um projecto de alteração do artigo 80.º, bem como
um projecto de um Regulamento da Publicidade do Advogado. O projecto de
alteração do artigo 80.º consubstanciava, de facto, uma norma geral, sendo
que no seu n.º 1 se dispunha: «Ao advogado é permitida a publicidade
informativa, a qual deve conter informação objectiva, verdadeira e digna, no
rigoroso respeito dos deveres deontológicos, do segredo profissional e das
normas sobre publicidade». Previa-se no n.º 2 a elaboração do Regulamento
da Publicidade. No projecto de Regulamento, permitia-se no artigo 2.º, n.º 1,
além do estabelecido pelo V Congresso, a divulgação de informações como a
«Antiguidade na profissão» [al. f)], a «Organização e estrutura interna do
escritório» [al. k)], ou ainda a «Participação em estruturas de partilha
comuns de meios, tais como agrupamentos complementares de empresas ou
agrupamentos europeus de interesse económico e em associações ou alianças

- 13 -
O Vislumbrar da Mudança

de escritórios nacionais ou internacionais» [al. n)]. Permitia-se ainda, como


modos de publicidade, «Folhetos, brochuras e boletins editados pelo
advogado», «menções em revistas, jornais ou outras publicações escritas de
terceiros», «Correio electrónico, sites na Internet e outros meios análogos»,
ou ainda «Conferências, seminários e colóquios promovidos pelo advogado ou
por terceiros (…)» [artigo 3.º, n.º 1, als. d), e), f) e g)].
Ora, se compararmos o conteúdo dos Pareceres mencionados, as
Conclusões do V Congresso e os projectos elaborados pelo Dr. António de
Magalhães Cardoso, a abertura a novas possibilidades é óbvia, e não poderia
ter outra consequência que não a alteração do antigo artigo 80.º do EOA.

Se a modernização passa, antes de mais, por uma urgente adequação estrutural,


ela tem de fazer-se também e sobretudo através da reforma das regras do
exercício da profissão. Urge corrigir normas que tiveram a sua justificação e o
seu tempo próprio de vida, mas que hoje não recolhem já a adesão da maioria
dos profissionais, nem se ajustam ao actual quadro da actividade económica.

José Carlos Soares Machado,


in Advocacia – Que fazer?

- 14 -
O novo regime da publicidade na advocacia

O NOVO REGIME DA PUBLICIDADE NA ADVOCACIA

Agora resta arregaçar as mangas e partir para o essencial: adequar a realidade


profissional à realidade social em que se integra. Não resulta criar grandes juristas
se não houver causa para os ocupar. Nem elaborar sábias teorias se não houver
tempo para as pôr em prática.

Guilherme da Palma Carlos,


In Advocacia – Que Fazer?

A Lei n.º 15/2005, de 26 de Janeiro, veio revogar o Decreto-Lei n.º


84/84, de 16 de Março, aprovando um novo EOA.
As razões apontadas para esta revogação foram, por um lado, as
alterações na sociedade portuguesa desde 1984, tornando o antigo EOA
obsoleto; por outro, a abertura de Portugal ao exterior e a consequente
integração no espaço europeu, impõem a aproximação cada vez maior das
legislações.
Como tal, e dando cumprimento ao programa eleitoral apresentado
pelo Sr. Bastonário José Miguel Júdice, em Abril de 2002, foi constituída
uma Comissão de Revisão do Estatuto, a qual concluiu o primeiro ante-
projecto em Fevereiro do ano seguinte. Este passou então à fase de
discussão, a cargo de uma segunda Comissão, concluindo-se todos os
trabalhos em Julho de 2003. Após breve período de discussão pública, o texto
foi finalmente aprovado.
São muitas as alterações efectuadas por este novo Diploma na
deontologia dos advogados portugueses, inclusivamente ao nível da
publicidade.
De facto, a publicidade está, actualmente, regulada no artigo 89.º do
EOA, o qual se desenvolve por uns excessivamente longos 5 números.

- 14 -
O novo regime da publicidade na advocacia

Prevê então o n.º 1, que «O advogado pode divulgar a sua actividade


profissional de forma objectiva, verdadeira e digna, no rigoroso respeito dos
deveres deontológicos, do segredo profissional e das normas legais sobre
publicidade e concorrência». Ora, desde logo se denota aqui uma diferença
fundamental relativamente ao regime anterior: enquanto que o antigo artigo
80.º partia de um princípio geral de proibição, o novo regime parte de um
princípio geral de permissão, podendo o advogado «divulgar a sua actividade
profissional». Está, contudo, nesta actividade vinculado, como não podia
deixar de ser, aos deveres deontológicos, bem como à objectividade, verdade
e dignidade.
A inclusão do legislador pelo menção ao «rigoroso respeito dos deveres
deontológicos» e «do segredo profissional» teve a intenção de salientar uma
vinculação que resulta já do próprio EOA; contudo, não me parece supérflua,
face a toda a polémica que envolveu a revisão deste regime, e às
preocupações de garantia da dignidade da profissão que estavam na base do
regime anterior, como foi já desenvolvido.
A vinculação à dignidade e verdade resultam do artigo 83.º do EOA,
no qual se apontam como obrigações profissionais, a «honestidade,
probidade, rectidão, lealdade, cortesia e sinceridade» (n.º 2). Resultam
também da visão do advogado como um servidor da justiça, e do carácter de
utilidade e necessidade públicas da profissão.
Por seu lado, a objectividade da publicidade do advogado resultava já
da interpretação actualista aplicada ao antigo artigo 80.º na Jurisprudência
dos Conselhos, e exposto no ponto anterior deste trabalho. De facto, pode ler-
se no Parecer Estruturante, n.º E-41/02, do Conselho Geral: «Ora, mesmo na
redacção actual do EOA, admitindo que os actos de publicidade daí estão
excluídos, há certa informação de natureza objectiva que não enferma do
vício que o Estatuto associa ao acto publicitário».
Por fim, a publicidade do advogado deve ainda respeitar as «normas
legais sobre publicidade e concorrência», como toda e qualquer outra
publicidade.

- 15 -
O novo regime da publicidade na advocacia

É possível, então, a partir deste n.º 1 do artigo 89.º, distinguir dois


grupos de limites a que a publicidade do advogado está sujeita: por um lado,
está sujeita a limites internos, previstos no próprio EOA; por outro, deve
respeitar limites externos, aqueles a que todo e qualquer tipo de publicidade
está submetida, e consubstanciados nas normas sobre a publicidade e a
concorrência. Este será o tema do ponto seguinte do trabalho.
 

O Advogado é alguém – tecnicamente preparado no domínio do


conhecimento do ordenamento jurídico e no do manuseamento das suas
leis – que, sempre com idoneidade moral acima de toda a suspeita, está
preparado para ajudar aqueles que estão carentes de que se faça Justiça à
sua Pessoa ou à sua Fazenda.
Augusto Aguiar Branco,
in Advocacia – Que Fazer?

O n.º 2 do artigo 89.º contém um elenco de situações exemplificativas


do que o EOA considera ser informação objectiva, algumas delas
coincidentes com os números 3, 4 e 5 do antigo artigo 80.º, ou seja, as
excepções à regra geral de proibição de publicidade. Vejamos:
● À «indicação de títulos académicos», à «indicação da sociedade civil
profissional de que o advogado seja sócio» (n.º 3 do antigo artigo 80.º) e à
possibilidade de inserção em publicações especializadas do «curriculum vitae
académico e profissional do advogado» (n.º 5 do antigo artigo 80.º),
corresponde agora a alínea a) do n.º 2 do artigo 89.º, na qual se qualifica
como informação objectiva «a identificação pessoal, académica e curricular
do advogado e da sociedade de advogados».
● O antigo EOA excepcionava também «a menção de cargos exercidos
na Ordem dos Advogados» (n.º 3 do antigo artigo 80.º), o que agora vem
integralmente disposto na alínea g) do n.º 2 da nova norma.

- 16 -
O novo regime da publicidade na advocacia

● Ainda, corresponde ao «uso de tabuletas afixadas no exterior dos


escritórios» (n.º 4 do antigo artigo 80.º), a alínea n) do n.º 2 do artigo 89.º.
● Finalmente, a «eventual referência à sua especialidade, se
previamente reconhecida pela Ordem dos Advogados» (n.º 5 do antigo artigo
80.º), tem agora sede na alínea f) do novo preceito.
As restantes situações introduzidas pelo n.º 2 artigo 89.º do novo EOA,
embora não viessem expressamente previstas no regime anterior, não
introduzem nada de novo. De facto, tais situações consubstanciam-se numa
de duas hipóteses: por um lado, encontram-se aquelas que dizem respeito a
elementos de identificação do advogado ou da sociedade, como sejam «o
número de cédula profissional ou do registo da sociedade» [alínea b)] ou a
«denominação, o logótipo ou outro sinal distintivo do escritório» [alínea d)],
ou ainda os contactos do escritório, o seu horário de atendimento ou a
indicação do seu site [alíneas c), i), j) e m)]. Por outro lado, estão aquelas
hipóteses que eram já comummente aceites na Jurisprudência dos
Conselhos como informação lícita a divulgar: «a indicação das áreas ou
matérias jurídicas de exercício preferencial» [alínea e)], «os colaboradores
profissionais integrados efectivamente no escritório do advogado» [alínea h)],
e, «as línguas ou idiomas, falados ou escritos» [alínea l)]. Neste seguimento,
e repetindo uma citação, veja-se este excerto do Parecer n.º E-41/02, do
Conselho Geral: «(…) há certa informação de natureza objectiva que não
enferma do vício que o Estatuto associa ao acto publicitário. É o caso,
nomeadamente, das matérias de exercício preferencial, da lista de
colaboradores efectivamente ligados ao escritório ou à sociedade de
advogados em causa, das línguas de trabalho e mesmo das imagens ou
logótipos do escritório e dos seus colaboradores».

O artigo 89.º do novo EOA nomeia ainda, no seu n.º 3, e, mais uma
vez, a título exemplificativo, o que considera serem ‘actos lícitos de
publicidade’. Também aqui é possível encontrar pontos coincidentes com a
redacção do antigo artigo 80.º:

- 17 -
O novo regime da publicidade na advocacia

● A «utilização de cartões de visita ou papel de carta» (n.º 4 do antigo


artigo 80.º) deu lugar à actual alínea b) do preceito;
● À «inserção de meros anúncios nos jornais», correspondem agora,
com alterações pouco significativas, as alíneas c), d) e e), da norma.
Já as alíneas f) a l) deste n.º 3 constituem uma novidade em matéria
de publicidade, por isso torna-se necessário desenvolver um pouco mais o
tema.
Considera a alínea f) como acto lícito de publicidade, «a promoção ou a
intervenção em conferências ou colóquios». O Parecer Estruturante, n.º
41/02, do Conselho Geral, tinha já admitido a divulgação de «(…) qualquer
informação objectiva e verdadeira, relacionada com o exercício da advocacia,
que se limite a denotar um facto susceptível de confirmação e que não tenha
qualquer intuito publicitário (…) é, em nosso entender, lícita face ao artigo
80.º ». Como tal, a intervenção em conferências ou colóquios, contendo os
requisitos do que se entende por informação objectiva, é perfeitamente
admissível. Contudo, não posso deixar de salientar ter sido, em minha
opinião, má opção do legislador, a inserção da palavra ‘promoção’ nesta
alínea; de facto, embora compreenda que o sentido do vocábulo é aqui o de
organização, planeamento ou iniciativa, não deixa de ser curiosa a escolha,
face ao outro significado que dele se pode retirar, o qual constitui
precisamente o âmago da publicidade proibida.
Por outro lado, a alínea g) considera como acto lícito de publicidade «A
publicação de brochuras ou de escritos, circulares e artigos periódicos sobre
temas jurídicos em imprensa especializada ou não, podendo assinar com a
sua condição de advogado e da organização profissional que integre». Esta
possibilidade parece-me respeitar também os requisitos da informação
objectiva, na medida em que se trata de permitir aos advogados publicarem
textos da sua autoria sobre temas jurídicos, e, tratando-se de temas
jurídicos, tem toda a lógica que o advogado possa assiná-los enquanto tal.
Por outro lado, tais textos tratar-se-ão sempre de uma opinião que o
advogado tem sobre determinado tema jurídico, sendo passível de críticas
positivas ou negativas.

- 18 -
O novo regime da publicidade na advocacia

A alínea h) faz incluir nos actos lícitos de publicidade, «A menção a


assuntos profissionais que integrem o currículo profissional do advogado e
em que este tenha intervindo, não podendo ser feita referência ao nome do
cliente, salvo, excepcionalmente, quando autorizado por este, se tal
divulgação for considerada essencial para o exercício da profissão em
determinada situação mediante prévia deliberação do conselho geral». Esta
será provavelmente a alínea passível de mais críticas entre aqueles que se
opõem à redacção do artigo 89.º do novo EOA. Quanto aos assuntos
profissionais que integram o currículo profissional do advogado, nada de
especial há a relevar, estando tal previsão igualmente implícita na alínea i)
(veja-se, para tanto, o parágrafo seguinte). Contudo, o preceito cria ainda a
possibilidade de, em situações excepcionais, o advogado poder divulgar o
nome dos seus clientes, o que para muitos constitui uma grave violação da
relação de confiança entre advogado e cliente. A questão não é, todavia,
totalmente nova, tendo o Conselho Geral, no Parecer n.º E-35/97, se
pronunciado sobre a matéria, nos termos que se seguem: «A divulgação de
nomes sonantes de clientes corresponde, na maioria das vezes, a uma
intenção promocional. Porém, há casos em que são clientes ou potenciais
clientes que fazem depender da indicação pelo advogado dos nomes de
clientes (anteriores ou actuais) o patrocínio de determinadas causas.
Quando a prestação de um serviço profissional depende de tal condição,
entendemos que o advogado, ao fornecer os nomes, não está a pactuar com
uma eventual promoção pessoal, mas apenas a prestar uma informação
indispensável ao cliente». Devo confessar que, ainda assim, me parece que
está aqui eminente um carácter promocional, na medida em que a
informação profissional sobre o advogado basear-se-á no prestígio que este
alcança por ter determinados clientes e não propriamente pela forma como
conduz os assuntos destes, embora entre uma coisa e outra exista,
tendencialmente, correspectividade. Também me é difícil, provavelmente
devido ao meu ainda curto contacto com o mundo da advocacia, avaliar que
tipo de situações poderão ser consideradas de tal forma essenciais para o
exercício da profissão que criem a necessidade de divulgar nomes de

- 19 -
O novo regime da publicidade na advocacia

clientes, mesmo com o seu acordo. Contudo, o facto desta divulgação ter o
controlo prévio do Conselho Geral é uma garantia de que esta divulgação
não será usada com fins promocionais.
Nos termos da alínea i) é igualmente um acto lícito de publicidade, «a
referência, directa ou indirecta, a qualquer cargo público ou privado ou
relação de emprego que tenha exercido». Esta hipótese era já Jurisprudência
assente dos Conselhos; de facto, na continuação do excerto citado quanto à
alínea f), diz-nos o Parecer Estruturante, «É o caso dos elementos de
informação acima identificados, nomeadamente: (…) informação curricular
do advogado ou da sociedade e dos seus advogados, menção dos anos de
prática e experiência em assuntos similares.». Este Parecer, ia ainda mais
longe, admitindo a disponibilização de outro tipo de informações relativas ao
advogado, como o «nível de inserção deste na comunidade local, seja qual for
a sua dimensão, ou do seu crédito no seio da profissão». Não obstante,
parece-me ser de aplaudir a inclusão desta alínea. De facto, por detrás do
advogado está o indivíduo que o personifica, indivíduo esse que poderá ter
certas qualidades que o destacam dos outros, na perspectiva de determinado
cliente. Tais qualidades poderão passar pela experiência adquirida em
determinada função, a qual poderá ter uma relevância decisiva na resolução
de um litígio. Como tal, o conhecimento destes factos pelo cliente é essencial,
na medida em que, desta forma, escolherá o advogado que melhor poderá
servir os seus interesses.
«A menção à composição e estrutura do escritório» deverá, nos termos
da alínea j), ser incluída no elenco dos actos lícitos de publicidade. Esta
alínea relaciona-se com a tendência que se verifica hoje em dia no sentido
dos escritórios serem constituídos por cada vez mais advogados, e,
naturalmente, com as sociedades de advogados. Actualmente, sobretudo nos
grandes espaços urbanos, grande parte dos escritórios de advogados em
Portugal estão a adoptar, à semelhança do que acontece na maioria dos
países europeus, uma estrutura bastante mais complexa do que aquela que
era tradicional. De facto, muitos são os escritórios organizados numa
estrutura do tipo empresarial, com o consequente aumento do número de

- 20 -
O novo regime da publicidade na advocacia

advogados em cada um, e a divisão em departamentos, em áreas de acção.


Como tal, é perfeitamente legítimo que se possa divulgar, por exemplo, quais
os departamentos em que se divide o escritório, em que áreas exerce a sua
actividade, o que, no fundo, não é mais do que uma decorrência lógica da
alínea e) do n.º 2 e da alínea a) do n.º 3, deste mesmo artigo 89.º.
Finalmente, a alínea l) determina que «a inclusão de fotografia,
ilustração e logótipos adoptados» é um acto lícito de publicidade. Para tal,
veja-se o seguinte excerto do Parecer n.º E-41/02, do Conselho Geral: «(…)
somos da opinião que a divulgação da fotografia do advogado, do seu
escritório e ou dos seus colaboradores não é susceptível de ser encarada
como convite à compra ou à contratação dos seus serviços profissionais (…)».
Como se pode verificar, esta alínea veio apenas formalizar aquilo que já era
Jurisprudência assente dos Conselhos.

Como se pôde verificar, tanto o n.º 2 como o n.º 3 apresentam elencos


exemplificativos, ou seja, apontam uma série de situações sem, contudo,
esgotarem o leque de situações possíveis de enquadrar nos conceitos de
‘informação objectiva’ e ‘actos lícitos de publicidade’. Ora, tal significa que,
de modo a que se possa qualificar determinada informação e determinar se
cai no âmbito de algum destes grupos, o critério a seguir é o estabelecido no
n.º 1.

Por fim, o n.º 5 manda aplicar as disposições do artigo 89.º, tanto ao


exercício da advocacia a título individual, como às sociedades de advogados,
consequência da alteração dos modelos da prática da advocacia em Portugal,
já por várias vezes mencionado neste trabalho.

O artigo 89.º do novo EOA tornou então acessível o mundo da


publicidade aos advogados portugueses, com as restrições mencionadas, algo
incontornável com a revogação do Código.
As reacções às novas regras de publicidade na advocacia não se
fizeram esperar, sendo indubitável que a grande maioria das manifestações

- 21 -
O novo regime da publicidade na advocacia

foram concordantes; afinal, como se disse, já há muito que o regime do


antigo artigo 80.º estava ultrapassado e desadequado à realidade em que
hoje vivemos.
Contudo, uma voz opositora permanece inabalável, a do Dr. António
Arnaut, prestigiado doutrinário em matéria de deontologia forense: «Como
se vê do cotejo entre o anterior e o actual regime, operou-se uma verdadeira
transfiguração do paradigma do advogado. A parcimónia tradicional, própria
de uma profissão que deve ser uma verdadeira magistratura cívica, foi agora
subvertida por uma concepção industrial-mercantilista da advocacia,
resultante da influência das grandes sociedades de advogados, cuja maioria
de sócios nem, sequer, usa toga». (in Boletim da Ordem dos Advogados n.º
37, pag. 37).
Embora compreenda perfeitamente a posição do Dr. António Arnaut,
não penso que este regime vá deturpar aqueles valores e princípios
tradicionais que fazem do advogado o servidor da Justiça e do Direito, na
medida em que, a esses, continua este vinculado, pelo artigo 83.º do EOA.
Por força dessa disposição, a publicidade do advogado nunca será uma
publicidade como qualquer outra, mas sim uma necessariamente efectuada
com «honestidade, probidade, rectidão, lealdade, cortesia e sinceridade» (n.º
2 do artigo 83.º do EOA).

Num mundo em que, como o actual, a denominada globalização, fruto do


inexorável avanço da Humanidade rumo ao futuro, cria novos desafios e
oportunidades, mas igualmente também potencializa e gera inevitavelmente
maiores desigualdades económicas, novas contradições e mais injustiças sociais,
pode talvez afirmar-se que nunca, como hoje, o papel e a função social do
Advogado assumem tanto relevo, actualidade e importância.
Luís Loureiro,
in Advocacia – Que Fazer?

- 22 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

OS LIMITES INTERNOS E EXTERNOS À PUBLICIDADE DO


ADVOGADO

É hoje neste âmbito, numa sociedade cada vez mais hierarquizada e mais dominada
pelos valores económicos, a que se não associa qualquer valoração ética, que a acção
dos advogados mais se deve sentir.

José Joaquim Sampaio e Nora,


in Advocacia – Que fazer?

Como foi já supra referido, o artigo 89.º do EOA prevê, no seu n.º 1,
que «O advogado pode divulgar a sua actividade profissional de forma
objectiva, verdadeira e digna, no rigoroso respeito dos deveres deontológicos,
do segredo profissional e das normas legais sobre publicidade e
concorrência».
Deste modo, a actividade publicitária do advogado está interna e
externamente limitada: os limites internos são os impostos pelo próprio
EOA, nas suas várias disposições; os limites externos consubstanciam-se nas
normas do regime jurídico da publicidade e da concorrência, a que toda a
publicidade está sujeita.
É o que me proponho em seguida desenvolver.

- 22 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

I- OS LIMITES INTERNOS: O ESTATUTO DA ORDEM DOS


ADVOGADOS
 

O Advogado foi, é e sempre será o conselheiro


  e o refúgio dos que clamam por Justiça
que, - acreditando no segredo profissional  a que aquele nunca poderá deixar de estar
obrigado – lhe confidenciarão os seus problemas, angústias e desejos mais
particulares e íntimos.
O EOA contém várias disposições que restringem a publicidade do
Augusto Aguiar Branco,
advogado. in Advocacia – Que Fazer?

A) O Dever Geral de Probidade e o Cumprimento da Lei, Usos, Costumes e


Tradições
Constituem parâmetros de comportamento as regras contidas no
artigo 83.º. Este dispõe: «1- O advogado é indispensável à administração da
justiça e, como tal, deve ter um comportamento público e profissional
adequado à dignidade e responsabilidades da função que exerce cumprindo
pontual e escrupulosamente os deveres consignados no presente Estatuto e
todos aqueles que a lei, os usos, costumes e tradições profissionais lhe
impõem. 2- A honestidade, probidade, rectidão, lealdade, cortesia e
sinceridade são obrigações profissionais.». Esta norma corresponde ao artigo
76.º do EOA anterior, o qual considerava o advogado como um «servidor da
justiça e do direito». Na mesma linha, esta nova redacção impõe ao advogado
um comportamento moral irrepreensível, tanto no exercício da profissão,
como fora dele, na medida em que se refere ao seu «comportamento público».

- 23 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

O fundamento para esta imposição, que transcende o campo profissional,


reside na função ético-social da profissão de advogado, a qual, tanto
participa como serve a administração da justiça. Esta característica da
profissão de advogado está patente igualmente no Ponto 1.1 do Código do
CCBE, onde se diz: «In a society founded on respect for the rule of law the
lawyer fulfils a special role. His duties do not begin and end with the
faithful performance of what he is instructed to do so far as the law permits.
A lawyer must serve the interests of justice as well as those whose rights
and liberties he is trusted to assert and defend and it is his duty not only to
plead his client's cause but to be his adviser. A lawyer's function therefore
lays on him a variety of legal and moral obligations (…)».
Ora, por força do artigo 83.º do EOA, a publicidade do advogado só
poderá ser efectuada mediante um comportamento moral irrepreensível,
com cumprimento de todos os deveres impostos pelo EOA, pela lei, usos,
costumes e tradições profissionais, bem como, das obrigações jurídicas
contidas no n.º 2 da norma, relativamente às quais o advogado está
especialmente vinculado.

B) A Independência do Advogado
Por seu lado, o artigo 84.º do EOA vincula o advogado ao exercício da
actividade profissional «livre de qualquer pressão, especialmente a que
resulte dos seus próprios interesses ou de influências exteriores, abstendo-se
de negligenciar a deontologia profissional (…)».
A obrigação de independência estava estabelecida no n.º 2 do artigo
76.º do EOA anterior, sendo que actualmente, além de lhe ter sido concedida
a individualização numa norma própria, tem uma formulação bem mais
ampla, aproximando-se do que vem estabelecido no Ponto 2.1 do Código do
CCBE: «2.1.1. The many duties to which a lawyer is subject require his
absolute independence, free from all other influence, especially such as may
arise from his personal interests or external pressure. Such independence is
as necessary to trust in the process of justice as the impartiality of the
judge. A lawyer must therefore avoid any impairment of his independence

- 24 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

and be careful not to compromise his professional standards in order to


please his client, the court or third parties. 2.1.2. This independence is
necessary in non-contentious matters as well as in litigation. Advice given
by a lawyer to his client has no value if it is given only to ingratiate himself,
to serve his personal interests or in response to outside pressure.»
Como tal, esta imposição deontológica não comporta só a
independência técnica, mas a independência «em quaisquer circunstâncias»
pelo que também na publicidade, a qual só será nestes termos admissível, se
efectuada com totais imparcialidade e objectividade.

C) A Proibição de Angariar Clientela


Diz-nos a alínea h) do n.º 2 do artigo 85.º do EOA, constituir dever, e
especial, do advogado para com a comunidade, «Não solicitar clientes, por si
ou por interposta pessoa». Daqui emerge, mais uma vez, a função ético-social
do advogado, bem como o decoro e a dignidade da profissão. É o que na gíria
se designa por «cambão».
Este limite interno é dos mais importantes em matéria de publicidade
do advogado. De facto, um dos objectivos da publicidade é, precisamente, o
de angariar clientes ou consumidores; contudo, o advogado não pode utilizar
a publicidade com esse propósito, sob pena de violação desta norma
deontológica, bem como dos artigos 62.º, n.º 2, e 93.º, n.º 1, do EOA, os quais
impõem a escolha livre e directa do advogado pelo cliente. De facto, ao
angariar clientes, ou seja, ao usar de expedientes para captar, solicitar ou
agenciar clientela, o advogado estaria a restringir a escolha livre e directa
do cliente, na medida em que conduziria o cliente a uma decisão que poderia
não corresponder àquela a que o mesmo chegaria na ausência da acção
ilícita do advogado, e, até, à mais favorável.
Então, o advogado apenas poderá utilizar a publicidade como meio de
transmissão de uma mensagem objectiva, imparcial e meramente
informativa, de modo a que o cliente, face às várias informações que vai
obtendo, possa decidir-se pelo mandatário que mais beneficie o litígio que se
pretende ver resolvido.

- 25 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

À redacção actual da norma correspondia, no antigo EOA, a alínea f)


do artigo 78.º, não se tendo verificado uma alteração significativa do regime
jurídico.

D) O Segredo Profissional
O segredo profissional é uma das normas estruturantes da
deontologia profissional do advogado, na medida em que assenta no vínculo
de confiança existente entre o cliente e o mandatário. De facto, se o cliente
não tivesse uma garantia de que os factos que divulga ao advogado ficam
sempre e imperativamente sobre um sigilo absoluto, nunca os revelaria. Isto
é especialmente evidente se tivermos em conta que tais factos são
frequentemente desfavoráveis ao cliente, ou que muitas vezes se relacionam
com o seu foro mais íntimo e privado.
Como tal, dispõe o n.º 1 do artigo 87.º do EOA, que «O advogado é
obrigado a guardar segredo profissional no que respeita a todos os factos
cujo conhecimento lhe advenha do exercício das suas funções ou da
prestação dos seus serviços (…)». Ou seja, na publicidade que efectuar, o
advogado nunca poderá divulgar os factos enquadráveis nesta norma, ou
seja, aqueles de que tenha conhecimento no exercício das suas funções, seja
em regime de mandato ou de prestação de serviços. É importante, então,
concretizar o que se entende por factos conhecidos no exercício de funções
profissionais, de modo a que seja possível delimitar aqueles cuja divulgação
publicitária é proibida.
Ora, o n.º 1 do artigo 87.º contém um elenco exemplificativo de tais
factos, sendo por conseguinte:
● aqueles «referentes a assuntos profissionais conhecidos,
exclusivamente, por revelação do cliente ou revelados por ordem deste»
[(alínea a)]. Esta alínea corresponde à alínea a) do n.º 1 do artigo 81.º do
EOA anterior, não tendo sofrido grandes alterações, e enquadrando-se na
relação advogado-cliente. «O segredo profissional não é um direito mas uma
obrigação legal do advogado. A obrigação de segredo profissional não é
estabelecida em benefício directo de cada um dos clientes, pois vincula o

- 26 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

advogado mesmo contra a vontade e o interesse do seu cliente. A obrigação


de segredo profissional é um dever de ordem pública (...) O segredo
profissional abrange, entre outros, todos os factos referentes a assuntos
profissionais que tenham sido revelados ao advogado pelo seu cliente, bem
como os documentos com esses factos relacionados.» (Parecer n.º E-14/02 do
Conselho Geral).
● aqueles «de que [o advogado] tenha tido conhecimento em virtude de
cargo desempenhado na Ordem dos Advogados» [alínea b)]. Com esta
formulação, a alínea alargou o campo de vinculação ao segredo profissional,
na medida em que a alínea b) do n.º 1 do antigo artigo 81.º, previa esta
vinculação apenas quanto aos factos «que, por virtude de cargo
desempenhado na Ordem dos Advogados, qualquer colega, obrigado quanto
aos mesmos factos, lhe tenha comunicado». Como tal, actualmente, o
advogado tem a obrigação de guardar segredo profissional relativamente a
todos e quaisquer factos de que tenha conhecimento no exercício de um
cargo na Ordem dos Advogados, o que me parece fazer todo o sentido, na
medida em que existem muitas formas de se ter conhecimento de factos de
natureza sigilosa, quer na forma escrita, quer por intermédio de outrem que
não esteja vinculado ao segredo profissional, mas cujo sigilo é essencial para
a boa prossecução da causa ou para a reputação do advogado objecto desta.
● aqueles «referentes a assuntos profissionais comunicados por colega
com o qual esteja associado ou ao qual preste colaboração» [alínea c)]. Esta
obrigação de o advogado guardar segredo profissional relativamente a factos
respeitantes a uma causa na qual não é mandatário, mas com a qual
colaborou, já estava prevista no n.º 2 do antigo artigo 81.º. Contudo, a
tendência é no sentido de alargar ainda mais o campo de vinculação ao
segredo profissional, abrangendo igualmente os empregados e colaboradores
do escritório. Neste sentido, dizia-nos António Arnaut, ainda a respeito do
Estatuto anterior: «a obrigação estende-se a todos os advogados os
advogados que, directa ou indirectamente, tenham qualquer intervenção no
serviço, como pode acontecer com um colega substabelecido para uma
diligência, e com os estagiários. O espírito da lei e o fundamento de sigilo,

- 27 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

alarga a obrigação de segredo aos empregados e colaboradores do escritório e


aos juristas ou peritos consultados sobre o caso, quer tenham ou não emitido
parecer.» (in Iniciação à Advocacia, 7.ª Edição, pag. 81).
● aqueles «comunicados por co-autor, co-réu ou co-interessado do seu
constituinte ou pelo respectivo representante» [alínea d)]. Esta alínea
manteve a formulação da alínea c) do n.º 1 do artigo 81.º do EOA anterior,
não levantando questões de interpretação. Assim, o advogado continua
vinculado à obrigação de segredo profissional, ainda que os factos de que
tenha conhecimento lhe tenham sido comunicados por outros interventores
na causa, que não o seu cliente, mas que com este último partilham um
interesse equivalente na causa.
● aqueles «de que a parte contrária do cliente ou respectivos
representantes lhe tenham dado conhecimento durante negociações para
acordo que vise pôr termo ao diferendo ou litígio» [alínea e)]. Esta alínea é ‘a
outra face’ da alínea anterior: não só o advogado está vinculado a factos que
lhe advenham de uma fonte cujo interesse coincide com o do seu cliente, mas
também, quanto a factos cujo conhecimento obteve da parte contrária,
durante negociações para acordo que vise pôr termo à causa. Esta
vinculação é crucial na resolução extrajudicial das causas, pois nenhum
advogado arriscaria, numa fase de negociações, em que nada é certo e
definitivo, revelar factos desfavoráveis ao seu cliente, sabendo que, caso o
acordo não se concretizasse, poderiam estes ser utilizados posteriormente
contra o seu cliente. A previsão tinha sede no n.º 1 da alínea d) do anterior
artigo 81.º.
● por fim, aqueles «de que tenha tido conhecimento no âmbito de
quaisquer negociações malogradas, orais ou escritas, em que tenha
intervindo» [alínea f)]. A ratio desta alínea é a mesma da que preside à
alínea anterior. No EOA anterior, vinha prevista na alínea d) do antigo
artigo 81.º, bem como na alínea e) do n.º 1 do artigo 86.º anterior.
Ora, o facto de o elenco ser exemplificativo, significa que, mais uma
vez, há que enquadrar outro tipo de situações na norma, abrangendo então
todas aquelas em que os factos advenham ao advogado «do exercício das

- 28 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

suas funções ou da prestações dos seus serviços», ou seja, o critério geral de


vinculação ao segredo profissional é o do n.º 1 da norma.
Quanto às restantes previsões do artigo 87.º do EOA, de relevante
para a questão da publicidade do advogado, é de mencionar a extensão da
obrigação de segredo profissional a documentos ou a coisas que se
relacionem com os factos sujeitos a sigilo, prevista no n.º 3.
A vinculação ao segredo profissional tem como consequência óbvia a
proibição da divulgação dos factos supra mencionados, nos termos expostos.
Mas repare-se: o leque de factos proibidos é de uma amplitude
verdadeiramente vasta, o que deixa uma margem muito reduzida de factos
cuja inclusão na publicidade é permitida. De facto, acabam por ficar estes
restringidos à mensagem objectiva, imparcial e objectiva prosseguida pelos
outros limites deontológicos estabelecidos no EOA.

E) Discussão Pública de Questões Profissionais


Esta é, a meu ver, uma das mais significativas restrições
deontológicas ao nível da publicidade do advogado, e está prevista no artigo
88.º do EOA.
De facto, diz-nos o n.º 1 que «O advogado não deve pronunciar-se
publicamente, na imprensa ou noutros meios de comunicação social, sobre
questões profissionais pendentes». Ora, como se sabe, a publicidade é
necessária e obviamente pública, pois, caso contrário, a sua utilidade prática
seria nula. O que remete a publicidade do advogado para factos sobre a
pessoa do advogado, e não propriamente sobre os seus feitos. A intenção da
norma não é propriamente a de restringir a publicidade, mas antes a de
evitar que o advogado utilize os meios de comunicação social para
influenciar o público em determinado sentido do litígio ou da questão; mas
claro que tem subjacente a tentativa de acautelar a auto-promoção dos
advogados, na medida em que, ao aparecerem, por exemplo, nos telejornais,
a falar sobre questões profissionais, perante um público leigo, criam uma
falsa credibilidade de competência, que poderá não corresponder à realidade.

- 29 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

Por isso mesmo, o advogado está deontologicamente proibido de


discutir questões profissionais em público, exceptuando as situações
previstas nos restantes números do artigo 88.º, e que não se aplicam à
questão da publicidade.

II- OS LIMITES EXTERNOS: O REGIME UNIVERSAL

Para os curiosos a justiça tornou-se um espectáculo como os demais, de que se


desejava conhecer, não só a cena e os personagens, mas até mesmo os bastidores e a
maquinaria. Nós, advogados, vemo-nos convertidos em actores, tendo ganho em
vaidade o que perdemos em orgulho.

Edmond Rousse
(1871)

Não só as normas deontológicas limitam a actividade publicitária do


advogado, mas também, e como não podia deixar de ser, aquelas que
restringem a publicidade em geral.
De facto, a publicidade não é uma actividade de exercício ilimitado.
Com a transformação das sociedades na direcção do consumismo, assistiu-se
a um progressivo desenvolvimento das técnicas persuasivas publicitárias,
criando-se a necessidade de intervenção legislativa, de modo a proteger, por
um lado, o consumidor, das empresas que o tentavam angariar como cliente
ou comprador, e, por outro, as empresas umas das outras, na luta pela
supremacia no mercado concorrencial. Ora tal levou à aprovação das normas

- 30 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

protectoras do consumidor, no primeiro caso, e das normas relativas à


concorrência desleal, no segundo. Com a intenção de prover estas duas
vertentes de protecção, foi igualmente criado o regime jurídico da
publicidade, que me proponho analisar já em seguida.

A) O Regime Jurídico da Publicidade

Nos termos do n.º 1 do artigo 3.º do Código da Publicidade (C. Pub.),


«considera-se publicidade (...) qualquer forma de comunicação feita por
entidades de natureza pública ou privada, no âmbito de uma actividade
comercial, industrial, artesanal ou liberal, com o objectivo directo ou
indirecto de : a) Promover, com vista à sua comercialização ou alienação,
quaisquer bens ou serviços; b) Promover ideias, princípios, iniciativas ou
instituições.»
Como tal, através deste conceito que a lei nos fornece, é possível
identificar quatro elementos na noção legal de publicidade: um elemento
estrutural, sendo a publicidade sempre um acto de comunicação; quanto ao
elemento subjectivo, a publicidade poderá ser efectuada por todas as pessoas
singulares ou colectivas, de direito privado ou público; o terceiro elemento
reporta-se ao objecto da publicidade, devendo esta desenrolar-se no âmbito
de uma actividade comercial, industrial, artesanal ou liberal; por último, o
fim da publicidade será sempre a promoção de um acto de aquisição de bens
ou serviços por parte do destinatário ou a adesão deste a ideias, princípios,
iniciativas ou instituições.
Mas a publicidade não é uma actividade relativamente à qual não se
estabeleçam limites ou restrições. Aliás, pela sua própria natureza, a
publicidade é uma actividade que necessita imperiosamente de ser
regulamentada, sob pena de se cometerem abusos inadmissíveis na relação
que se estabelece entre o vendedor/publicista e o destinatário/consumidor.
Daí que o C. Pub. tenha estabelecido uma série de princípios
reguladores da actividade publicitária. São eles:

- 31 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

a) O Princípio da Ilicitude, que consiste na preservação da ordem


pública social, ordem esta que não deverá em caso algum ser
prejudicada pela publicidade ilícita (artigos 6.º e 7.º do C. Pub.).
b) O Princípio da Identificabilidade, nos termos do qual toda a
publicidade deve ser inequivocamente identificada,
independentemente do meio de difusão utilizado (artigos 6.º e 8.º
do C. Pub.).
c) O Princípio da Veracidade, de acordo com o qual a publicidade
deverá sempre respeitar a verdade dos factos, nunca os
deturpando, pelo que todos os factos divulgados deverão ser
comprováveis perante as instâncias competentes (artigos 6.º e 10.º
do C. Pub.).
d) Por fim, o Princípio do Respeito pelos Direitos dos Consumidores,
pretendendo com este princípio o legislador evitar a existência de
situações enganadoras (artigos 6.º, 12.º e 13.º do C. Pub.).

A.1) Em especial, a Publicidade Enganosa e a Publicidade


Comparativa
O C. Pub. proíbe, no seu artigo 11.º, a publicidade enganosa,
consistindo esta naquela que utiliza artifícios que induzam ou possam
induzir em erro os seus destinatários, independentemente de lhes causar
qualquer prejuízo económico ou poder prejudicar um concorrente. Para que
ocorra esta publicidade enganosa, basta a omissão de algum dado essencial
relativo ao produto ou ao serviço, não sendo por conseguinte obrigatória uma
violação positiva de alguma das normas constantes do C. Pub.
Por outro lado, e de extrema relevância para o tema do trabalho, e,
consequentemente, para a advocacia, é a proibição da publicidade
comparativa, prevista no artigo 16.º do C. Pub. De facto, é proibido como
regra geral identificar na publicidade, explícita ou implicitamente, um

- 32 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

concorrente ou os bens ou serviços por este oferecidos. Tal identificação só é


permitida se cumpridas as condições estabelecidas no n.º 2 da supra citada
norma, as quais garantem que esta comparação não coloque em risco os
valores e princípios nos quais se baseia todo o regime da publicidade, já
desenvolvidos neste Trabalho.

B) A Concorrência Desleal

A concorrência desleal está prevista no artigo 317.º do Código da


Propriedade Industrial (C. Prop. Ind.).

Artigo 317.º
Concorrência desleal
Constitui concorrência desleal todo o acto de concorrência contrário às
normas e usos honestos de qualquer ramo de actividade económica,
nomeadamente:
a) Os actos susceptíveis de criar confusão com a empresa, o
estabelecimento, os produtos ou os serviços dos concorrentes,
qualquer que seja o meio empregue;
b) As falsas afirmações feitas no exercício de uma actividade
económica, com o fim de desacreditar os concorrentes;
c) As invocações ou referências não autorizadas feitas com o fim de
beneficiar do crédito ou da reputação de um nome,
estabelecimento ou marca alheios;
d) As falsas indicações de crédito ou reputação próprios, respeitantes
ao capital ou situação financeira da empresa ou estabelecimento,
à natureza ou âmbito das suas actividades e negócios e à
qualidade ou quantidade da clientela;
e) As falsas descrições ou indicações sobre a natureza, qualidade ou
utilidade dos produtos ou serviços, bem como as falsas indicações
de proveniência, de localidade, região ou território, de fábrica,

- 33 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

oficina, propriedade ou estabelecimento, seja qual for o modo


adoptado;
f) A supressão, ocultação ou alteração, por parte do vendedor ou de
qualquer intermediário, da denominação de origem ou indicação
geográfica dos produtos ou da marca registada do produtor ou
fabricante em produtos destinados à venda e que não tenham
sofrido modificação no seu acondicionamento.

Da leitura da norma é possível identificar o âmbito de aplicação


subjectivo, só sendo possível falar-se de concorrência desleal entre
concorrentes que actuem no mercado.
De facto, para que seja possível apurar se existe deslealdade, parte-se
do princípio de que se está perante concorrentes. E concorrentes que
disputam uma mesma clientela, em relação às necessidades que se propõem
satisfazer. Como tal, estamos perante um acto de concorrência se tal acto
tiver influência sobre a clientela, directa ou indirectamente, e resultar numa
posição relativa do agente mais favorável, em detrimento dos restantes que
agem no mesmo mercado. Esta concorrência deve ser analisada em concreto,
face ao grau de afectação de uma actividade no mercado em que se
desenvolve.
A questão que fica é a da possibilidade do regime ser aplicado à
advocacia. A situação ficou resolvida com a aprovação do novo Estatuto,
como se viu. De facto, e relembrando, o artigo 89.º, impõe, no seu n.º 1, in
fine, o respeito pelas normas legais de concorrência.
Contudo, já anteriormente se considerava ser de aplicar a proibição
de concorrência desleal à advocacia, como se pode ver no excerto que se
segue, retirado da Revista da Ordem dos Advogados de Dezembro de 1995, e
da autoria do Dr. Luís Bigotte Chorão: «Repare-se no dado de facto, embora
recente entre nós, da organização empresarial das profissões liberais (v.g.
sociedades de advogados). Esta realidade justifica perfeitamente que às
profissões liberais sejam aplicáveis as regras relativas à concorrência
desleal».

- 34 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

Também o Professor Doutor José de Oliveira de Ascensão, manifestou


a sua opinião relativamente a esta matéria: «É evidente que nas profissões
liberais se praticam actos de concorrência, enquanto um avantajamento de
um profissional se faz à custa da restrição da profissão ocupada pelos
restantes. E praticam-se actos de concorrência desleal. Basta examinar os
estatutos das ordens ou outras instituições profissionais corporativas, para
nelas encontrar actividades que coincidem com as previstas no artigo 317.º,
embora pelo prisma das infracções disciplinares. (...) Os profissionais
liberais têm, não menores, mas pelo contrário maiores responsabilidades
que os restantes. Pelo que se não compreenderia que acabassem por ser
beneficiados, quando não estivesse prevista nenhuma reacção disciplinar
contra um acto que, se fosse praticado por outro agente económico, poderia
até ser um crime. Assim, um advogado que praticasse um acto de confusão
não cometeria infracção a nenhuma das previsões expressas no Estatuto da
Ordem dos Advogados? Não haverá maneira de o impedir? Ou é livre ao
advogado dar falsas indicações próprias, que seriam vedadas aos restantes
agentes económicos pelo artigo 260.º, d)?» (in Concorrência Desleal, 2002).

C) Os Direitos dos Consumidores

O essencial do regime de protecção dos consumidores, não obstante a


vasta produção legislativa neste campo, está estabelecido na Lei de Defesa
do Consumidor, ou seja, na Lei n.º 24/96, de 31 de Julho, com as alterações
introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 67/2003, de 8 de Abril.
Assim, de acordo com aquele Diploma, consumidor será «todo aquele a
quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos quaisquer
direitos, destinados a uso não profissional, por pessoa que exerça com
carácter profissional uma actividade económica que vise a obtenção de
benefícios» (artigo 2.º, n.º 1). Como tal, o cliente particular do advogado, a
quem este presta serviços jurídicos no âmbito da sua actividade profissional,
é perfeitamente enquadrável naquele conceito de consumidor.

- 35 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

Ao consumidor são conferidos mediante esta Lei vários direitos, sendo


os mais relevantes em matéria de prestação de serviços:
1) O direito à qualidade dos bens e serviços [(artigo 3.º, al. a)], ou
seja, os bens e serviços destinados ao consumo deverão ser aptos a
satisfazer os fins a que se destinam e a produzir os efeitos que se
lhes atribuem, segundo as normas legalmente estabelecidas, ou,
na falta delas, de modo adequado às legítimas expectativas do
consumidor (artigo 4.º). Não basta, portanto, a adequação do que
foi prestado ao serviço em concreto ou ao bem fornecido, mas é
igualmente necessário que não se frustrem as legítimas
expectativas do consumidor, isto é, aquelas que, directa ou
indirectamente, se formaram por acção do prestador.
2) O direito à informação para o consumo [artigo 3.º, al. d)]. Inclui-se
neste âmbito o que a lei denomina de «Direito à informação em
particular», estabelecido no artigo 8.º. Diz-nos então o n.º 1: «O
fornecedor de bens ou prestador de serviços deve, tanto nas
negociações como na celebração de um contrato, informar de forma
clara, objectiva e adequada o consumidor, nomeadamente, sobre as
características, composição e preço do bem ou serviço, bem como
sobre o período de vigência do contrato, garantias, prazos de
entrega e assistência após o negócio jurídico».
3) A prevenção e a reparação dos danos patrimoniais ou não
patrimoniais que resultem da ofensa de interesses ou direitos
individuais homogéneos, colectivos ou difusos [artigo 3.º, al. f), e
artigo 12.º].
Resta apenas, quanto à relação dos direitos dos consumidores com a
publicidade, fazer referência à criação, pelo Instituto do Consumidor, e em
colaboração com a Escola Superior de Comunicação Social, do Observatório
da Publicidade, cujo objectivo é o de proceder ao acompanhamento da
publicidade dirigida aos consumidores nacionais, de modo a detectar
quaisquer procedimentos desconformes com a legislação em vigor em
matéria de protecção do consumidor. Para tal, o Observatório monitoriza as

- 36 -
Os limites internos e externos à publicidade do advogado

mensagens publicitárias colocadas no mercado nacional, através dos


diversos tipos de suporte existentes, confrontando-as com as normas legais,
e produzindo posteriormente uma série de relatórios periódicos, com funções
muito distintas, entre as quais se encontram a detecção de ‘trends’
publicitários, a emissão de recomendações dirigidas às empresas, e outras
integradas no âmbito de competências do Instituto do Consumidor.
Como tal, além do que vem já estabelecido na Lei, também este
Observatório serve como controlo da actividade publicitária em geral, e,
igualmente, da praticada pelos advogados.

O futuro da Advocacia estará assim no respeito permanente e rigoroso daquilo


que são os seus princípios e a sua essência basilares, que aliás lhe permitiram
reconhecer e atribuir privilégios e prerrogativas excepcionais, saber acompanhar
e responder eficaz e adequadamente às novas transformações, realidades,
conflitualidades e exigências sociais, como forma de assegurar, através do
exercício da profissão, o respeito pelos direitos fundamentais do cidadão, a sua
integridade, o direito à cidadania, à reserva da intimidade da vida privada, à
liberdade, à segurança, à honra e à defesa do património.
Luís Loureiro,
in Advocacia – Que Fazer?

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Conclusão
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CONCLUSÃO

A Sociedade sempre ditou o modo e a forma de estar e de ser da


advocacia. De facto, a advocacia sempre esteve ‘presa’ à ideia que cada
comunidade social, em cada momento histórico, teve da Justiça: a Justiça
sempre foi um espelho social, mostrando, como se de uma tela
cinematográfica se tratasse, as teias de relações, tensões e opressões
existentes em cada época social. E os advogados foram sempre um dos
protagonistas deste filme.
E o que nos diz a sociedade de hoje? Consumo, massas, tecnologia,
impessoalização, enormes aglomerados populacionais, proliferação de serviços
e empresas... um mundo onde tudo se passa a uma grande velocidade, em que
uma distracção momentânea pode pôr em causa a subsistência económica.
Numa realidade social e económica como a descrita, o artigo 80.º do
EOA anteriormente em vigor estava já claramente desenquadrado. As
normas não podem permanecer imutáveis, na medida em que a sociedade
está em constante movimento, e o Direito é o ordenador e regulador social por
excelência. Como tal, também ele deverá actualizar-se, sob pena de ser
obsoleto. E, se num primeiro momento, este papel de actualização pode ser
deixado a cargo da jurisprudência, como aconteceu com a interpretação
actualista da Jurisprudência dos Conselhos, é obrigatória, posteriormente, a
intervenção do legislador.
E o legislador interveio, com a recentíssima Lei n.º 15/2005, de 26 de
Janeiro, que substituiu o regime restritivo da publicidade por um regime bem
mais permissivo, e que dividiu as opiniões entre vozes concordantes e vozes
discordantes. De acordo com as primeiras, a alteração do regime da
publicidade dos advogados era inevitável, beneficiando claramente a
actividade profissional, na medida em que introduziu nesta, livre das
restrições que anteriormente a limitavam, as características próprias de

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Conclusão
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qualquer actividade económica: a concorrência e a informação ao consumidor.


Em oposição, estão aqueles que consideram a alteração uma ponte para o
desprestígio da profissão, pois subverte os seus valores basilares.
Embora seja perfeitamente compreensível esta última posição, entendo
que por via desta alteração, foi possível adaptar o EOA à sociedade do
consumo. Já não é possível conceber um mundo sem publicidade, na medida
em que esta é parte integrante das nossas vidas, ditando a forma como vemos
e nos movimentamos no mundo. Prova evidente disso é o meio de informação
a que praticamente todos recorrem hoje em dia para obter qualquer tipo de
informação: a Internet. Daí a importância dos sites, reconhecida pela
Jurisprudência dos Conselhos ainda antes da entrada em vigor do novo EOA.
Mas a Internet não poderá ser o único meio de um advogado se dar a
conhecer como profissional do foro. De facto, o mundo vive actualmente uma
dualidade complexa: se por um lado existem meios de aproximação das
pessoas a título planetário, com o desvanecimento das fronteiras entre os
países e a penetração da globalização em todos os sectores de actividade, por
outro lado, dentro de cada comunidade, as pessoas estão cada vez mais longe
umas das outras. Os aglomerados urbanos impessoalizam os indivíduos na
sociedade, tiram-lhes o rosto, o nome, a unicidade, classificando-os em grupos,
em classes. Ou seja, se se tornou mais simples o acesso a alguém do outro
lado do Mundo, poucos são, numa cidade grande, os que conhecem os seus
vizinhos. E, relativamente a estes, e a todos os outros que fazem parte da
mesma comunidade que o Advogado, a Internet não é o único meio adequado
para este se fazer conhecer, existindo outros meios mais pessoais que
igualmente prosseguem esse fim, como sejam a ‘publicação de brochuras ou
de escritos, circulares e artigos periódicos’, ou a ‘colocação em listas
telefónicas, de fax ou análogas da condição de advogado’.
Ora, apesar de à primeira vista a publicidade do advogado parecer
ofensiva dos valores deontológicos da profissão, tal não é mais do que uma
mera ilusão, na medida em que o cerne destes deveres, ou seja, aquele elenco

- 37 -
Conclusão
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que constitui a essência desta actividade profissional, sem o qual perderia a


unicidade, tornando-se igual a qualquer outra actividade comercial,
permanecem intactos e inatingíveis.
Como tal, não creio existirem motivos para temer esta abertura à
publicidade no Estatuto; há que encará-la como algo que já se mostrava
necessário deste há muito, e cuja efectivação era absolutamente inevitável,
colocando os advogados português em pé de igualdade com os estrangeiros.

- 38 -
Bibliografia
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BIBLIOGRAFIA

Doutrina

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