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ISSN: 0103-4979
revcrh@ufba.br
Universidade Federal da Bahia
Brasil
Dubet, François
Qual democratização do ensino superior?
Caderno CRH, vol. 28, núm. 74, mayo-agosto, 2015, pp. 255-265
Universidade Federal da Bahia
Salvador, Brasil
DOSSIÊ
François Dubet*
Esse artigo, resultante de uma conferência, discute traços do processo de democratização do ensino superior.
Procura distinguir analiticamente várias dimensões da democratização, baseadas, por sua vez, em concepções
diferentes da justiça: igualdade de oportunidades, meritocracia, utilidades e equidade dos procedimentos.
Cada sociedade constrói modelos de democratização desse ensino. A massificação do ensino superior de-
sempenhou papel democrático objetivo, favorável aos grupos sociais antes excluídos. Mas massificação não
equivale à democratização. Todas as categorias sociais não se beneficiam da mesma forma da massificação.
A democratização do acesso ao ensino superior não depende apenas das famílias. Depende também da estru-
tura geral do sistema educativo. A meritocracia acadêmica constrói uma hierarquia de competências que é
também social, com forte impacto reprodutivo. As desigualdades de utilidade das diferentes formações têm
impacto sobre o conjunto das desigualdades sociais. Os sistemas educativos implementam distintos procedi-
mentos de seleção, de concessão de gratuidades, bolsas e auxílios, que podem ser considerados como mais ou
menos equitativos segundo as normas de justiça que mobilizam.
Palavras-chave: Ensino superior. Democratização. Valor social dos diplomas. Equidade. Igualdade de oportunidades.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792015000200002 255
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aspectos do conceito, mas no qual os diplomas lheres eram excluídas de muitas formações su-
não valessem nada, não seria realmente demo- periores, enquanto hoje em dia elas represen-
crático (Dubet et al., 2010). tam, muitas vezes, a maioria do alunado.
Após ter buscado definir essas dife- A massificação do ensino superior de-
rentes dimensões da democratização escolar, sempenhou, portanto, um papel democrático
tentaremos mostrar como elas se articulam objetivo ao aumentar mecanicamente as pos-
em diversos sistemas nacionais, comparando, sibilidades de se fazer estudos longos. As clas-
por alto e entre si, alguns países europeus com ses médias beneficiaram-se amplamente dessa
condições socioeconômicas semelhantes e ta- massificação e uma parte das classes popula-
xas de massificação próximas. Tudo se passa res também aumentou suas possibilidades de
como se cada sociedade tivesse construído ter acesso à universidade. Mesmo quando se
progressivamente seus próprios modelos de tem prazer em salientar que os filhos de operá-
democratização do ensino superior. rios têm três vezes menos chances de entrar na
universidade do que os filhos de executivos,
o fato é que muitos deles entram atualmente,
DEMOCRATIZAÇÃO E MASSIFICAÇÃO sendo que isso era praticamente impossível
há uns cinquenta anos atrás. No fundo, ocor-
Sob o pretexto de que a abertura dos sis- re com o ensino superior o mesmo que ocorre
temas de ensino superior não cumpriu todas com todos os outros bens: a massificação tem
as promessas, diversas retóricas conservadoras um efeito democrático automático, quer se tra-
ou radicais denunciam essa expansão como te de geladeiras, de automóveis, de televisões
uma ilusão, quando não como uma catástrofe ou de diplomas superiores.
cultural. Para os conservadores, a massificação Essa democratização foi, portanto, fa-
teria reduzido o nível cultural das universida- vorável aos grupos que eram praticamente
des e o teria submetido aos interesses sociais. excluídos do ensino superior, mas muitos eco-
Para os radicais, ela não alteraria em nada a nomistas são de opinião que, além disso, ela
ordem das desigualdades sociais, exceto por foi positiva para a sociedade, por aumentar o
lhe conferir mais legitimidade ainda. As duas capital social da população. Nesse processo,
avaliações devem ser bastante matizadas. os conhecimentos acadêmicos e as culturas
É importante, em primeiro lugar, colocar de elite ter-se-iam espalhado pela sociedade,
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dade por parte das culturas das classes popula- as desigualdades de acesso, mas acentua as de-
res, que consideram que esses estudos não são sigualdades internas desses sistemas. Quando
feitos para os filhos de trabalhadores, o que os os sistemas universitários são malthusianos e
leva a limitar, elas mesmas, suas ambições. Na relativamente aristocráticos, são também, ao
Grã-Bretanha, por exemplo, os filhos da clas- mesmo tempo, relativamente homogêneos, e a
se operária ingressam menos na universidade distância que separa seus segmentos de maior
do que os filhos de imigrantes, que valorizam prestígio dos demais é relativamente curta,
muito mais os estudos superiores. Não somen- porque há pouca concorrência entre eles. De
te o ingresso na universidade é determinado modo inverso, quando os sistemas se abrem,
pelas desigualdades culturais, mas essas desi- a hierarquia entre os estabelecimentos e entre
gualdades são mais difíceis de reduzir do que as universidades não para de aumentar. De-
as desigualdades econômicas. corre daí que, nos sistemas mais abertos, as
A democratização do acesso ao ensino desigualdades ocorrem menos no momento
superior não depende somente dos meios finan- do ingresso, deslocando-se para dentro do pró-
ceiros e dos capitais cultural e acadêmico das prio sistema. A relativa igualdade de acesso à
famílias. Ela depende também da estrutura ge- universidade é acompanhada de um aumento
ral do sistema educativo. A igualdade de acesso das desigualdades de acesso aos diversos seg-
ao ensino superior é mais democrática quando mentos do sistema escolar.
o ensino secundário é amplamente aberto e Nos sistemas mais abertos, “as verda-
quando os alunos têm um bom nível e uma re- deiras” desigualdades são medidas dentro do
lativa igualdade de desempenho. É o que ocorre próprio sistema, e pode-se falar de “democrati-
nos países escandinavos, no Canadá, no Japão e zação segregativa”. Com base em seus recursos
em alguns outros. Em contrapartida, quando o financeiros, seu local de residência, suas com-
ensino repousa sobre uma base estreita e é mui- petências acadêmicas, seu capital cultural, os
to desigual, o acesso ao ensino superior é muito estudantes se orientam para formações mais
pouco democrático. Esse foi, por muito tempo, ou menos prestigiosas e mais ou menos rentá-
o caso da Alemanha, onde o ensino secundário veis. Por toda a parte, verificam-se profundos
repousava sobre uma estreita base elitista. É o afastamentos entre as universidades de maior
caso dos países que desenvolveram o seu ensi- e de menor prestígio, separando-se, com frequ-
no superior sobre uma base de ensino primário ência, as mais antigas das mais novas. Em al-
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e secundário extremamente desigual e frágil. guns países, como a França, a principal divisão
Pensamos aqui nos países da África e em alguns se encontra entre as grandes écoles e as univer-
países da América Latina. Em outras palavras, sidades. Em outros lugares, é na distância en-
a democratização do acesso ao ensino superior tre as universidades públicas e as universida-
pressupõe que as sociedades já tenham constru- des privadas que se organiza essa hierarquia.
ído um sistema de educação eficaz e relativa- Em algumas sociedades, são as universidades
mente democrático e que não tenham colocado públicas as que gozam de maior prestígio; em
“o carro na frente dos bois”. outras, são as universidades privadas.
É notável como a história universitária
de cada país acabou construindo um sistema
A democratização interna hierárquico original e, muitas vezes, bastante
sutil, que requer que os atores conheçam to-
A observação dos mecanismos de mas- dos seus mecanismos. Entre os dois polos do
sificação dos sistemas universitários poderia sistema, estende-se uma complexa hierarquia
levar a enunciar a seguinte “lei” sociológica: a baseada na reputação, na capacidade de atrair
massificação dos sistemas universitários reduz os melhores estudantes e os melhores profes-
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continua forte. Todavia, quanto mais “se des- ça, mais de 70% dos possuidores de diploma de
ce” na hierarquia do sistema e mais se aproxi- educação secundária. Nesse caso, aqueles que
ma de formações gerais pouco seletivas, mais a não são diplomados se veem condenados ao
correlação se enfraquece e menos os mercados desemprego, à precariedade e à marginalidade
de trabalho reconhecem as formações escolares profissional. Basicamente, a massificação esco-
pouco seletivas e pouco especializadas. Os es- lar exclui violentamente aqueles que não tira-
tudantes precisam, então, fazer o esforço de se ram proveito dela.
“inserir”, ou seja, transformar suas competên- As desigualdades de utilidade das for-
cias acadêmicas em competências profissionais. mações universitárias participam, portanto, das
Às vezes, essa perda relativa de valor desigualdades: quanto mais elas são desiguais,
dos diplomas é vivida pelos envolvidos como mais aumenta o impacto das desigualdades
um processo subjetivo de perda de status so- educacionais propriamente ditas. É possível
cial. Os estudantes cursaram muito mais es- demonstrar, assim, que a influência dos diplo-
tudos superiores do que os seus pais para mas sobre o acesso ao emprego e sobre o salário
ocupar, ao término de seu percurso, posições aumenta as desigualdades educacionais e a sua
profissionais e sociais próximas das que eles reprodução. Os sistemas nos quais os diplomas
tiveram. Muitas vezes, esses estudantes se sen- têm um valor menor podem ter desigualdades
tem traídos pela universidade que lhes “ven- educacionais relativamente mais fortes, mas o
deu” uma esperança de mobilidade social que impacto sobre as desigualdades sociais que de-
ela não lhes ofereceu. Com a multiplicação das las decorre é mais fraco7. Não se deve, portanto,
formações universitárias, é preciso pagar cada ignorar as desigualdades dos outputs ou da si-
vez mais para alcançar a mesma posição so- tuação à jusante das formações para apreender
cial. Certos analistas falam disso como “over todas as dimensões das desigualdades.
education”, designando, assim, uma ruptura
da relação entre o mercado dos diplomas e o
do trabalho.5 A essa “inflação” de diplomas é DEMOCRATIZAÇÃO E EQUIDADE
preciso acrescentar a redução da correlação
entre as formações ou cursos e os empregos. O mecanismo geral que acabamos de des-
Isso ocorre quando uma porcentagem muito crever não funciona de forma automática, por-
alta de estudantes - na França, a proporção é de que cada sistema educativo implementa proce-
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um estudante sobre dois - trabalha num campo dimentos de escolha e de seleção que podem
sem relação com sua formação.6 ser considerados como mais ou menos equitati-
Um dos efeitos induzidos pela massifi- vos do ponto de vista das normas de justiça que
cação do ensino superior é a deterioração da si- mobilizam. Afinal, é provável que um sistema
tuação da população que não possui diploma. puramente meritocrático e gratuito não impeça
Quando os diplomas eram raros, sua ausência a reprodução das desigualdades no ensino su-
não era um estigma, o que não é mais o caso perior e, mesmo assim, possa ser considerado
hoje, quando as taxas de escolarização aumen- 7
N. E. Essa ideia, que pode parecer contraditória, consti-
tui um dos pilares importantes do trabalho de Dubet et al,
tam a ponto de alcançar, como é o caso na Fran- 2010. Indica, na verdade, a complexidade das relações que
se estabelecem entre o sistema de ensino e a organização
das hierarquias sociais. O que o argumento de François
5
N. E. Esse tema é clássico na sociologia da educação fran- Dubet mostra é que essas relações não são lineares. Ao
cesa. Entre os estudos do autor, pode-se tomar como refe- contrário, naquelas sociedades que consideraríamos mais
rência Dubet 2004 e 2010. democráticas, justamente por serem mais abertas ao mérito
medido como escolarização, podemos encontrar um siste-
6
N. E. Todos os dados sobre o ensino superior francês e, ma escolar mais fechado, mais competitivo, mais hierar-
em geral, todas as estatísticas da população francesa estão quizado. Assim, fica claro porque, numa sociedade que dá
disponíveis no site do Institut National de la Statistique pouco valor à escolarização ou aos diplomas, as desigual-
et des Études Économiques (INSEE). Em particular, os da- dades escolares, por maiores que sejam, não constituem
dos sobre o sistema de ensino podem ser encontrados em um fator muito forte de produção de desigualdades sociais.
http://www.insee.fr/fr/themes/theme.asp?theme=7 . Ver também, sobre essa questão, Duru-Bellat, 2009.
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formalmente justo e equitativo. No que tange a necessários pela sociedade? É provável que os
isso, parece que os sistemas de ensino superior sistemas mais justos sejam os que outorgam as
combinam critérios de justiça diferentes. bolsas com base numa combinação de critérios
Um desses critérios é a questão da gra- econômicos e de mérito acadêmico. Há ain-
tuidade dos estudos. A priori, os sistemas nos da a questão dos empréstimos garantidos que
quais os estudantes pagam apenas taxas re- existem no Canadá, nos Estados Unidos ou na
duzidas de matrícula são nitidamente mais Grã-Bretanha. Esses sistemas podem ser consi-
equitativos do que os que exigem uma eleva- derados justos desde que o mercado de trabalho
da contribuição financeira dos estudantes. No absorva rapidamente os estudantes que se bene-
primeiro caso, o peso das desigualdades eco- ficiaram da utilidade das formações superiores.
nômicas é neutralizado de forma global. Mas Os procedimentos de seleção também
as desigualdades culturais e os desempenhos podem ser questionados quanto à justiça. Seria
acadêmicos dos estudantes continuam exer- mais justo selecionar os estudantes no início
cendo seus papéis nos sistemas gratuitos. E, de seus estudos superiores, garantindo-lhes
se os melhores estudantes que ingressam nas que prosseguirão até o término, ou seria mais
melhores universidades gratuitas são proce- justo abrir as portas da universidade e selecio-
dentes das categorias sociais mais favorecidas, ná-los ao longo de seus percursos acadêmicos?
seus estudos são pagos pelo conjunto dos con- A primeira escolha não é muito equitativa,
tribuintes, dentre os quais todos aqueles cujos porque se sabe que ela favorece os estudantes
filhos não estudam nessas instituições. É o que mais privilegiados, que estão mais aptos a pas-
ocorre em certos países, como o Brasil e a Fran- sar nesses exames e a se beneficiar de um pre-
ça, onde as formações de maior prestígio são, paro específico. Mas a segunda solução pode
ao mesmo tempo, gratuitas e, na realidade, re- também não ser mais justa e mais democrática,
servadas às elites acadêmicas e sociais. Tam- pois se sabe que os estudantes que não logra-
bém não é incomum que os estudos de menor rem concluir o curso terão perdido muitos anos
prestígio feitos por estudantes de meios mais e feito sacrifícios muitas vezes desnecessários.
modestos sejam pagos. Nesse caso, a gratuida- Na França, em certas formações universitárias,
de é um presente dado aos ricos. Para decidir um em cada dois estudantes abandona os estu-
sobre a equidade do financiamento dos estu- dos durante o curso. Além disso, ao longo dos
dos superiores é, portanto, importante avaliar, anos, são os estudantes menos privilegiados
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temem não ter um percurso acadêmico perfei- a si mesmo durante os estudos. O sistema uni-
to e ter-se orientado mal, sabendo que é muito versitário é pouco hierarquizado, e a cada es-
difícil mudar de direção. Ao mesmo tempo, os tudante se oferece a possibilidade de ter seis
estudantes também reconhecem que esse siste- anos de estudo, que podem ser cursados entre
ma lhes oferece certa segurança e, em geral, se os 18 e os 54 anos, com base no modelo da
opõem a reformas que consideram arriscadas. formação ao longo de toda a vida. Trata-se de
oferecer aos estudantes tempo para escolher e
combinar, da melhor forma possível, os estu-
O liberalismo britânico dos e o trabalho assalariado. Quase 50% dos
estudantes suecos são assalariados ou vêm do
Esse sistema repousa sobre as escolhas mundo do trabalho para se formar.
individuais. Os estudantes escolhem seus es- Esse sistema, embora possa parecer mais
tudos em função de suas competências aca- justo, funciona numa sociedade profunda-
dêmicas, de seus recursos econômicos e de mente igualitária, em que o mérito conta me-
seus projetos pessoais. São menos auxiliados nos do que na França ou na Grã-Bretanha. Ele
por bolsas do que por financiamento, já que, funciona também num Estado do bem-estar
no modelo liberal, as formações universitárias social eficaz e generoso, cuja continuação nes-
são investimentos que devem trazer um retor- sas condições é incerta no futuro. Ao mesmo
no para os indivíduos. Enquanto os estudantes tempo, esse modelo, tanto quanto o britânico,
franceses são encaminhados para formações é individualista, pois importa dar às pessoas
específicas rígidas, os estudantes britânicos o tempo de se formarem e saberem o que que-
podem definir seu currículo de modo mais rem. Os estudantes suecos são, em geral, oti-
pessoal, escolhendo as formações para cons- mistas e confiantes em si mesmos, ainda que o
truir um curriculum vitae mais pessoal. padrão de igualdade seja às vezes vivido como
É com base nesse currículo que os jovens uma forma de conformismo. Ao mesmo tem-
ingleses se apresentam no mercado de trabalho, po, formações mais elitistas são criadas para
onde o diploma conta menos que o perfil pesso- colocar a Suécia no “mercado” da competição
al do candidato. Assim, os dispositivos de au- universitária internacional.
xílio aos estudantes desfavorecidos focam mais
nos projetos dos estudantes, não se restringin-
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This article discusses features of higher education Cet article analyse quelques traits du processus de
democratization process. It seeks to distinguish démocratisation de l’éducation. Il cherche à établir
analytically various dimensions of democratization, une distinction analytique entre les différentes
based in turn on different conceptions of justice: dimensions de la démocratisation, basée à son tour
equality of opportunity, meritocracy, utilities and sur les différentes conceptions de la justice: égalité
fairness of procedures. Each society constructs models des chances, la méritocratie, l’emprise des diplômes et
of democratization of education. The massification of l’équité des procédures. Chaque société construit ses
higher education played democratic role, favorable to propres modèles de démocratisation de l’éducation.
social groups previously excluded. But massification La massification de l’enseignement supérieur a joué
is not equivalent to democratization. All social un rôle démocratique, favorable aux groupes sociaux
categories do not benefit in the same way from it. précédemment exclus. Mais massification “n’st pas
The democratization of access to higher education équivalente à la démocratisation. Toutes les catégories
depends not only on the families. It also depends on sociales n’en bénéficient pas de la même manière. La
the overall structure of the education system. The démocratisation de l’accès à l’enseignement supérieur
academic meritocracy builds a hierarchy of skills ne dépend pas seulement des familles. Elle dépend
that is also social with strong reproductive impact. aussi de la structure globale du système éducatif. La
Utility inequalities of different courses have an méritocratie scolaire construit une hiérarchie des
impact on all the social inequalities. Educational compétences qui est aussi sociale, avec un impact
systems implement different selection procedures, important sur la reproduction sociale. Les emprises
provide gratuities, grants, scholarships, which can inégales des diplômes de différents cours ont un impact
be considered as more or less equitable according to sur toutes les inégalités sociales. Les systèmes éducatifs
the norms of justice that they mobilize. établissent des procédures de sélection différentes,
fournissent les subventions, les bourses, qui peuvent
être considérées comme plus ou moins équitable selon
les normes de la justice qu’ils mobilisent.
François Dubet - Sociólogo. Pesquisador na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS)
e também do Centre d’Analyse et Intervention Sociologiques (CADIS). Foi professor na Université
Bordeaux II até sua aposentadoria em 2013. Autor de estudos já clássicos na sociologia, como: La Galère:
jeunes en survie, Fayard, 1987; Sociologie de l’expérience, Seuil, 1994; L’hypocrisie scolaire, Seuil 2000;
Les Inégalités multipliées, éditions de l’Aube, 2000; Le Déclin de l’institution, Seuil, 2002; Injustices,
Seuil, 2006; Travail des sociétés, Seuil, 2009. Seu trabalho publicado mais recentemente é La préférence
pour l’inégalité, La République des Idées, 2014. Vários de seus livros e alguns artigos estão disponíveis
em português.
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