ANEXO
Projeto Executivo
I – Justificativa
No final da década de 1980, a política de segurança pública do estado de São
Paulo, em resposta ao avanço da criminalidade comum e organizada, intensificou
esforços e concentrou investimentos na dispersão territorial do policiamento, com
a criação de novas unidades de Polícia Civil. Sem uma matriz operacional definida,
esse rápido movimento de expansão causou distorções na atividade de polícia
judiciária. A fragmentação territorial e pulverização de recursos humanos
decorrente da criação indiscriminada de distritos1 e unidades especializadas
sobrecarregaram as equipes de plantão, reduzindo a capacidade de investigação e
esclarecimento de crimes da Polícia Civil2.
Esta dispersão também afetou a gestão da informação para a investigação e
controle da criminalidade. As ações de polícia judiciária e investigativa – diferente
das ações de polícia ostensiva, desenvolvidas pela Polícia Militar – não respondem
necessariamente de forma positiva à lógica da dispersão territorial e aumento da
presença física policial no território. A equação entre equipes diminutas e áreas
fragmentadas relega aos agentes uma atuação restrita ao varejo de dinâmicas
criminais mais amplas, prejudicando a efetividade e o impacto da ação policial
sobre escalões regionais do crime organizado, que extrapolam a circunscrição de
um distrito. Além do inconteste prejuízo às atividades de investigação, a
pulverização de distritos impacta também o aprimoramento técnico do policial,
que, em razão da escassez de mão-de-obra, não dispõe de tempo para frequentar
cursos de capacitação e aperfeiçoamento. Em decorrência deste quadro, a
população que busca a Polícia Civil encontra, muitas vezes, policiais exaustos e
despreparados, com sua saúde física e emocional debilitada pela jornada
extenuante de trabalho. Por outro lado, a lógica de dispersão territorial tende a
imprimir uma demanda por efetivo que, em médio e longo prazo, exigirá um
empenho expressivo de recursos públicos na seleção, formação e custeio de
recursos humanos. Muito embora seja inegável a necessidade reposição de
quadros, mantida a tendência atual de fragmentação e dispersão, os recursos que
poderiam ser empregados na aquisição de novas tecnologias, sistemas de
informação e capacitação, essenciais para a atividade de polícia investigativa,
seriam absorvidos quase totalmente pela folha de pagamento3.
Propostas de implantação
As propostas de implantação do Projeto de Reengenharia devem, conter as
informações e medidas descritas nos tópicos abaixo.
1) Diagnóstico
O objetivo do diagnóstico é identificar o “marco zero” de implantação do Projeto
de Reengenharia, viabilizando o monitoramento e a avaliação dos impactos das
medidas adotadas sobre a produtividade, condições de trabalho dos policiais e de
atendimento ao público. Além disso, o diagnóstico auxilia as diversas instâncias
envolvidas na gestão do projeto a planejar as providências a serem adotadas para
uma implantação sem improvisos.
A etapa de Diagnóstico deve levantar as seguintes informações junto às unidades
policiais contempladas na proposta de implantação:
1.1) Dados básicos mensais de atividade policial dos últimos 12 (doze) meses, de
modo a antecipar os impactos dos agrupamentos em termos de volume de
trabalho:
* boletins de ocorrência registrados
* termos circunstanciados elaborados
* inquéritos policiais instaurados
* inquéritos policiais relatados com autoria
* casos esclarecidos
* inquéritos policiais que geraram denúncia
* inquéritos policiais em cartório
* mandados de busca solicitados
* ordens de serviço expedidas
* pedidos de prisão temporária
* pedidos de prisão preventiva
1.2) Quadro de efetivos por unidade policial, discriminado por carreira,
contemplando eventuais servidores do município, de outras áreas do poder
público, ou da iniciativa privada.
1.3) Quadro de equipamentos e sistemas disponíveis, por unidade policial, com o
quantitativo de viaturas, armas, mobiliário, computadores, e pontos de acesso à
“intranet” da Polícia Civil etc.
1.4) Condições das instalações físicas dos prédios em que estão instaladas as
Delegacias de Polícia, bem como se são próprios ou alugados (especificar qual
instituição paga o aluguel).
2) Medidas de preparação dos agrupamentos
Mesmo que as condições materiais e técnicas permitam um rápido agrupamento, é
importante que ele seja feito de forma planejada. Neste sentido, as propostas de
implantação do Projeto de Reengenharia devem contemplar as seguintes medidas:
2.1) Ações de mobilização do público interno: o envolvimento do público interno é
crucial para a obtenção de resultados de gestão da atividade policial (inquéritos
policiais instaurados, relatados com autoria, casos esclarecidos etc.). Os gestores
de polícia, notadamente os Delegados Seccionais de Polícia e Delegados de Polícia
Coordenadores4, devem deixar claros os objetivos do Projeto de Reengenharia e
seus benefícios para a atividade policial, discutindo com os policiais a melhor
organização das equipes, as novas possibilidades de atuação (maior efetivo, maior
troca de informações, ambiente operacional ampliado etc.) e os desafios
decorrentes do agrupamento (maior afluxo de demandas, cobrança da sociedade
por melhor atendimento e maior sensação de segurança etc.).
2.2) Estratégia de comunicação do agrupamento: tendo em vista os impactos
externos gerados pelo agrupamento de unidades policiais, é importante que os
gestores de polícia, notadamente os Delegados Seccionais de Polícia e Delegados
de Polícia Coordenadores, tenham o mesmo discurso sobre o projeto e esclareçam
a população acerca de seus objetivos e dos resultados esperados, a curto e médio
prazos, no esclarecimento de crimes e no atendimento ao público, dentre outros. O
diálogo deve ser permanente com entidades representativas, segmentos
organizados e meios de comunicação locais, como:
* Defensoria Pública, OAB, Ministério Público e Poder Judiciário;
* CONSEG e Polícia Militar;
* associações comerciais, FIESP e CIESP;
* imprensa (TV, Jornais, Rádio e internet);
* associações de bairro e lideranças comunitárias;
* deputados estaduais e federais da cidade ou região;
* prefeituras e câmaras de vereadores.
2.3) Plano de adequação de estruturas: os gestores de polícia, notadamente os
Delegados Seccionais de Polícia e Delegados de Polícia Coordenadores, devem
identificar o(s) imóvel(s) que receberá as unidades policiais agrupadas,
considerando os dados levantados na etapa de diagnóstico. Caso o(s) imóvel(s)
não apresente condições de uso imediato, deve ser remetido ao Departamento de
Administração e Planejamento (DAP) projeto de construção, reforma e/ou aluguel
de imóvel, devidamente justificado, de modo a garantir condições adequadas de
trabalho e de atendimento ao público.
3) Diretrizes para a proposição de agrupamentos
As diretrizes a seguir orientam como executar os agrupamentos e trabalhar a
gestão das atividades nas unidades policiais agrupadas.
3.1) Estrutura jurídico-formal das unidades policiais agrupadas
* Cabe ao Delegado Seccional de Polícia a escolha do “Delegado de Polícia
Coordenador”, responsável pela unidade policial agrupada, que, por sua vez,
indicará um “Escrivão de Polícia Coordenador” e um “Investigador de Polícia
Coordenador” para auxiliá-lo.
* Cabe ao Delegado de Polícia Coordenador a supervisão de todas as providências
necessárias à plena efetivação do Projeto de Reengenharia em sua Delegacia de
Polícia, como a busca por imóveis, a adequação das dependências, a instalação de
sistemas e a definição de diretrizes para a atividade policial da unidade agrupada,
sem prejuízo das funções de polícia judiciária.
* As unidades policiais agrupadas devem possuir cartório central e setor de
investigação únicos.
* As folhas de ponto devem permanecer vinculadas à unidade policial de origem.
3.2) Registros, estatísticas e prestação de contas das atividades policiais
* As unidades policiais agrupadas deverão adotar, em caráter experimental, os
livros da unidade policial com o maior volume de boletins de ocorrência
registrados.
* Os demais livros e respectivas escriturações pertencentes às unidades policiais
que concorreram para o agrupamento serão suspensos temporariamente,
enquanto durar o projeto ou até decisão em caráter definitivo por parte da
autoridade competente.
* As estatísticas e a prestação de contas são geradas a partir dos livros de registro
adotados pela unidade policial agrupada.
* Os dados e índices criminais referentes às antigas circunscrições policiais são
contabilizados com base na área de atuação resultante do processo de
agrupamento.
* As informações relativas a ocorrências específicas, tais como as pertinentes à
violência de gênero e aos crimes de drogas, continuarão a ser prestadas
normalmente e nos prazos estabelecidos.
3.3) Gestão das atividades policiais
* A unidade policial agrupada será responsável pelo atendimento das
circunscrições pertencentes às unidades policiais que concorreram para o
agrupamento.
* As unidades policiais agrupadas deverão exercer a totalidade do ciclo de polícia
judiciária, buscando consolidar uma visão sistêmica das dinâmicas de toda a área
de atuação e o exercício integral de suas atribuições (inquérito, investigação e
atendimento ao público), enquanto atividades necessariamente complementares.
4) Formalização da proposta de implantação
Concluídas as etapas anteriores, e compiladas todas as informações e ações na
proposta de implantação, esta será remetida à CGPD visando autorização para o
início das ações pretendidas.
Módulo 2: inteligência, investigação e capacitação profissional O Projeto de
Reengenharia visa à capacitação profissional do policial civil, transformando-o
substancialmente, através do seu contínuo preparo e aperfeiçoamento profissional,
ético e intelectual. Visa, ainda, à recuperação do perfil institucional da Polícia Civil,
tornando-a preparada não apenas para atuar, efetiva e legalmente, na repressão,
mas na prevenção qualificada da criminalidade, através de comportamento
proativo e do trabalho científico da informação.
Nesse sentido, a atuação da CGPD no Projeto de Reengenharia envolve um diálogo
constante com o Departamento de Inteligência Policial (DIPOL) e a Academia de
Polícia Civil (ACADEPOL) com vistas ao:
* Provimento de cursos específicos nas áreas de investigação, em suas diversas
formas, melhoria de atendimento ao público, em gestão (pessoas, materiais e
transportes), licitações e contratos, auto-estima e controle das emoções, violência
doméstica, sistemas policiais, armamento e tiro. Outros cursos poderão ser criados
em atendimento à identificação de novas competências a serem desenvolvidas
pelo Projeto;
* A elaboração de propostas que levem à otimização dos fluxos de informação, a
redução de atividades burocráticas e a informatização de processos de trabalho;
* A difusão da cultura de inteligência policial, de modo a otimizar o processo de
coleta, análise e compartilhamento de informações no âmbito da Polícia Civil;
* A concepção de prédio-conceito que garanta identidade visual institucional e
espaços funcionais às atividades de polícia judiciária e investigativa;
* A difusão de métodos de gestão organizacional, com ênfase nos fundamentos da
administração de pessoas, finanças e processos operacionais.
Módulo 3: Plano de Monitoramento e Avaliação
Para que o ‘Projeto de Reengenharia da Polícia Civil do Estado de São Paulo’ tenha
sua efetividade mensurada e sua implantação possa ser acompanhada foi
estabelecido um Plano de Monitoramento e Avaliação.
A partir da aprovação da proposta de implantação, a Comissão Geral de
Planejamento e Deliberação (CGPD) estabelece um cronograma de monitoramento
e avaliação por município e um quadro de metas de curto, médio e longo prazo
para cada Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior. Na
estruturação deste quadro de metas leva-se em consideração, principalmente, a
governabilidade institucional em sua operacionalização, as necessidades concretas
da Polícia Civil nos municípios, a existência de informações prévias ao início do
projeto e sua exequibilidade.
As atividades previstas para o Plano de Monitoramento e Avaliação das propostas
de implantação do Projeto de Reengenharia buscam reunir insumos para que os
gestores, nos mais variados níveis (Gabinete/SSP, Delegacia Geral de Polícia,
Departamentos de Polícia, Delegacias Seccionais de Polícia), possam corrigir
distorções, propor novas diretrizes, outros agrupamentos e fundamentar
intervenções corretivas nas condições de implantação.
Estas atividades – realizadas trimestral, semestral e anualmente – encontram-se
detalhadas abaixo. São elas:
* Reunião de Metas (anual) – estabelecimento e/ou revisão de metas, estratégias
e da linha de atuação do projeto para o ano, realizada entre o Departamento de
Polícia Judiciária de São Paulo Interior e a CGPD, sendo a primeira logo após a
aprovação da proposta de implantação e, as demais, a cada ano de vigência do
projeto.
* Reunião de Seccionais (semestral) – reunião de prestação de contas em que os
Delegados Seccionais de Polícia relatam o estágio atual do processo de
implantação do Projeto de Reengenharia em suas sub-regiões. Nesta ocasião, os
Delegados Seccionais de Polícia entregam relatório escrito com a síntese dos
agrupamentos, os cursos de capacitação e aperfeiçoamento realizados e o número
de policiais civis formados, dificuldades a serem superadas, estratégias adotadas
para tal, inovações administrativas implementadas e outras informações que se
mostrarem pertinentes.
* Visitas de Monitoramento (semestral) – uma equipe formada por Delegados de
Polícia, indicados pelo Diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo
Interior, e representantes da CGPD, realiza visitas de modo a verificar as condições
de implantação dos agrupamentos e tirar encaminhamentos específicos, gerando
um relatório para cada unidade visitada.
* Pesquisa de Clima Organizacional (semestral) – contempla dois tipos de
questionários de percepção: um a ser aplicado, no mínimo, três meses após o
agrupamento, outro, a partir do primeiro ano de implantação. O objetivo da
pesquisa é medir o grau de adesão do público interno, buscando incorporar
perspectivas de diferentes carreiras e funções policiais ao Projeto.
* Relatório de Gestão de Atividades (trimestral) – envio de relatório pelas unidades
policiais agrupadas para a CGPD, informando: boletins de ocorrência registrados;
termos circunstanciados elaborados; inquéritos policiais instaurados; inquéritos
policiais relatados com autoria; casos esclarecidos; inquéritos policiais que geraram
denúncia; inquéritos policiais em cartório; mandados de busca solicitados; ordens
de serviço expedidas; pedidos de prisão temporária; pedidos de prisão preventiva
e número de policiais com aproveitamento no módulo de recapacitação continuada
e recuperação do perfil institucional.
* Reunião de Avaliação (anual) – objetiva a avaliação das metas estabelecidas, das
estratégias e da linha de atuação do Projeto no Departamento de Polícia Judiciária
de São Paulo Interior.
O prazo mínimo de monitoramento é de dois anos, contados a partir da efetiva
implantação do Projeto de Reengenharia.
1 - Na Capital (DECAP), em 1987, por meio do Decreto nº. 26.925, o Governo do
Estado de São Paulo formalizou a criação de 49 (quarenta e nove) novos Distritos
Policiais, dobrando o número de unidades na cidade. No Interior (DEINTERs 1 a 9)
foram criados 304 (trezentos e quatro) novos distritos. A região metropolitana
(DEMACRO), por sua vez, conta hoje com um total de 61 (sessenta e um) distritos,
dos quais a grande maioria foi criada nos últimos 20 anos. No período em foco,
foram contabilizados 468 (quatrocentas e sessenta e oito) novas unidades de
polícia civil em todo o estado de São Paulo.
2 - Segundo diagnóstico de processos realizado ao longo do primeiro trimestre de
2010, nos Distritos Policiais do DEINTER 9, investigadores-chefes entrevistados
estimaram que apenas 24% do seu tempo, em média, seria empregado em
atividades de investigação, enquanto as atividades extras consumiriam 76% do
turno de serviço. Estas ‘atividades extras’ envolvem o preenchimento de livros
obrigatórios, confecção de relatórios de prestação de contas, remessa de
documentos, dentre outros processos ligados à administração de um Distrito
Policial.
3 - Um outro viés de análise para o descompasso entre a velocidade de criação de
unidades e de criação de cargos aponta para facilidade normativa para criação de
Distritos Policiais através de Decreto e dificuldade legislativa e orçamentária para
criação de novos cargos por meio de Lei Complementar.
4 - Para maiores explicações sobre a função do ‘Delegado de Polícia Coordenador’
ver itens “estrutura jurídico-formal” e “gestão da atividade policial” deste projeto.