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INAGINS DE_NEGROS: udistana no Final do Séeule XIX, © Como Atraveés de \ linprensa Pa suas Miginas, os Brancos Viam os Negros MOR (TZ SCHWARCZ poe] pho 00- Ole we Cowassed QULIA KATRI gana, | 48/03/%b Dissertacte de Mestrado apresentada etn fp (Pawn ao Departamento de Antropetogia So- cial da UNICAMP. Fevereiro de 1986. © era menos nio fosse tanto ¢ era quase” P. Lominski Depois de alguns anos, muitas passagens, certas marcas, parece diffcil tentar procurar abarcar esse tempo todo com a mio, ¢ disso retirar um agradecimento que scja ao mesmo tempo sincero © justo. No entanto, ¢ com o risco de quem sabe nao conseguir to car a todos que de alguma forma me ajudaram esta lese, af va A Antonio Augusto Arantes, oricntador e amigo, obrigada pelas iniimeras leituras criticas e atentas e pelo incentivo, para que essa dissertacio se concretizasse. n especial Ao Departamento de Antropologia da UNICAMP © a Manoela C. da Cunha, Mariza Correa, Carlos Branddo, Peter Fry,Bel qa tdcs, que sem diivida cnriqueceram muito a essa tese. Bianco, agradeco por todo apoio e pelas criticas ¢ suges- Agradeco ainda ao Professor Hernando Novaes pela leitura criteriosa que realizou ainda na época da clahoracito do projeto de tese, assim como a Carlos Vogt que com suas opinides contribuirtm pa ra um melhor andamento dessa dissertagae. Um abraco especialmente carinhoso para leloisa Pontes ¢ para a "velha turma do Panorama Azul"; Clatidio Novaes, Julio Si- mndes ¢ as "sécias-honorarias" Marina Cardoso e Maria Gregori (Bi- bia), que sem divida, através das indmeras idas e voltas no "mondto | no" trajeto que liga Sdo Paulo a Campinas, ou das sempre eriticas (e nfo menos divertidas) reunides de estude, contribufran dems para que essa fosse som chivida una tese eseri te a varias maos. Dbrigga Ginn Nadia Farage ¢ Vanessa bea que aeaupania ram com carinho as di ficuldades Cipicas de todn final de ese. Muito obrigada ainda aos fungiondries de Arguive do ksta Yo de $0 Paulo, do Arquive do Jornal 0 lstade de Sdo Paule, de Instituto liistérico © Geografico de Sao Paulo, que me ajudaram = @ procurar © encontrar, em boa parte, jornais, revistas ¢ Livros de dificil acesso. Foi também basico o apoio oferecido pela CAPES — durante os anos em que realizei os cursos pés-graduacdo ¢ pela FAPESP, que através das bolsas de estudos concedidus, Fizeram com que essa so viavel. pesquisa se torn: A minha famflia: Leié, Keto, Noca, Ju, Sergio, Vova Omi, Yovd, Baba ¢ Pods um grande bei jo ¢ obrigads pelo apolo de sempr Un beijinho estatlado par a dulinha eo Pedvoca, que mt a ao wesno tempo que amassavam papsis © inter tem a ver diretamente com & 1 tese, mas que de qualquer forma onpi m reflexoes, aju daram muito para que Fosse possivel reaiizar uma tese "bem-humora- da", Por fim resta o mais dificil. Agradecer ao Lulz, Compaq nheiro, amigo e 0 maior critico de todos os momentos dessa tese. 0 brigada pelas infindfveis leituras, pelos desabalos, discussdes pe s, ja que se isso tude "nfo fo to cuidado, carinho e por anito mai se tanto era quase". A ele dedico essa tese, como se fosse un declaracdo, com a cortean que essa dissertacio se concretizou tam dm, enquuanto an projeto a dois. _ INDICE. INTRODUCAO - 0 CASO DO “CREOULLO DE BIGODE, PINCE-NEZ E CA~ WAGNAC".. PARTE 1 - A"METROPOLE 00 CAFE" COM SEUS STMBOLOS DE CIVIEL ZAGAO CAPITULO I - 0 ESTADO DA QUESTAO. CAPITULO II - @ CONTEXTO:"UM BANDO DE [DEIAS NOVAS"(S.Rome- } ~ S80 Paulo (Século XIX}: do "Burgo Estudante" a ‘Raciona- Jidade Urbana"... cc ce cece eee eee ee eee ener ees CAPITULO III ~ A IMPRENSA PAULISTANA. 1 = Um breve Historico (Tao Breve como Sua Histéria). 2 = Os jornais da Epoca: Caracteristicas Gerais, Remedios, Amores © OutroS Mais .esccceseeeeeeeeeeeee cee tere eee es 3+ 0 Correio Pautistano: Um Jornal ao Sabor dos Bons Yen- tos 4 - A Provincia de Sao Paulo: o Belo Plano de um Jornal Nao Comprometido 5 - A Redempgdo e os Limites do Pensamento Abolicionista Brasileiro PARTE If = IMAGENS, PERSONAGENS E REPRESE NOS JORNAIS....-. 00002-00052 eee CAPITULO IV - 0 NEGRO NAS DIFERENTES SEGOES DOS JORNAT VISAO SINCRONICA UMA INTRODUCAD .. 1 - 0s Editoriais e Secdes "“Scientificas® 1.1 - A “sciéncia" e 0 grande mito do século XIX.. 3.2 - NOs a bragos com a civilizagao........-- Pag. 20 2l 34 43 60 60 63 7 80 95 108 109 199 110 WwW 121 1.3 - A questdo racial e a fazenda democratica........- 1.4 - Rerica: @ Exemplo da Barbarie.........e eee eee ee 2 - As Noticias: "Uma Fala FSscolhida"....... ese. eevee eee 2.1 = A Violncia........- beet eee ees et eee eeeee eee 2.2 - 0 Negro Dependente 2.3 - 0 Bruxeiro, 0 Feiticeiro........... cece eee eee 2.4.- 0 Negro Suicide © as Mortes Mal Explicadas....... 2.5 - 0 Negro Degenerado.......eceeeeee reece eee eee eee Bom ANUNCIOS... cece eee tee ee ee teens 3.1 - Antincios de Negros .......-e 3.2 - Antincios de Fugas de Escravos ......--. eee sees eee 4 - 0 Negro nos Contos: Quem Conta um Conto, Ganha um Ponto 5 - Outras Secoes 5.1 - "Ocorrencias Policia@s” 20.6... eee cece eee ee eee ee 5.2 - “Obituario" Apendice - Quadro Geral dos Assuntos Pesquisados © Cataloga dos CAPITULO ¥ - IMAGENS DE “NEGROS" EM DIFERENTES MONENTOS : UMA ANALISE DIACRONICA.. 0.0.0.0 c 2c e eee eee eee eee } - 1875 - 1885 - Ba Negro Viotento ao Negro Fiel e Amigo dos Brancos: Entre a Bela e a Ferd .. ss. eee e seen eee e ee 1.1 - 0 Negro Fera ou Quando a Excec#o confirma a re- 2 - 1885 - 1888 - 0 Quilombola e o Escravismo: "Quando o Preto Vira NEGO". . css cee eee eee eee teen eee eres sees 2.1 - A Aboligdo Enquanto Tema 2.2 = O Negro FUgidD 2... cee eee eee etree teen eee ees 169 174 174 178 185 188 188 189 202 202 220 2.3 - Noticias de Libertagao: Comicios, Festas ¢ desfiles ou “Aa Meu Senhor de Hontem"/ Ao Patrdo de HOje.... se. cee eee eee eee eee 2.4 = As Mudangas na Opiniao Pablica............005 3 = 1888 - 1900 - Os Novos Personagens: “0 Negro Degene PadO" cee eee eee eee ee ene eter ee 3.1 = "@ Carrasco Immoral"/O Negro com seus Libri- COS DOSCJOS eevee eee eee eee eee teers 3.2 - 0 “Preto Ebrio"/Os Efeitos da Embriaguez..... 3,3 - 0 “Preto Atienado"/E os Maus Habitos......... 13.4 - 0 Negro Desleal - “A Boa Paga” 0 Ladrdo...... 3.5 - As Praticas Barbaras - "Dos Sambas, as Capied ras e Bruxarias” ...eeee-eeeee esse eee 3.6 - A Familia Negra - Entre a Violéncia e a Barga 3.7 - Uma Nova Polémica: A Guarda Negra ou os Defen sores da Raimha........ cece cess ee eee tence eee CONSIDERAGOES FINAIS.. 0.0. pce eee c eee cence teeters BIGLIOGRAFIA. 2. cece cece eee cee etre ete cee ee 230 239 257 261 262 264 265 266 270 INTRODUCKO 10 O CASO NO VCREOULLO DE BTGODE, PINGR-NES CAYACNACT “ESse8 gritos niedonhos ao nosso re~ dor, € 0 que voces chamam de si len igma de » de Werner Herzog. | cie.” (Frase do filme 01) Em um belo © corriqueive dia de juthe de 1878 um pacato cidaddo da nio menos pacata cidade que era Sao Paulo percorre um pequeno trajeto marcade por russ escuras e esburacadas, cobertas por casebres pobres © cercados de metagais, a fim de comprar um jornal local. Au faz 8 outras -Lo se depara cm meio a tania noth ados ou declaracées de polfti cias, anfincios, classi com a se- gquinte chamada: elles sie" Para nos, leiteres do séeulo XX, 0 contraste e a estrita de um “outro”, implfcito na manchete aci delimitagdo da existénc na, sem diivida chamar 9. Porém, para nos a ateng 0 hipotético personagem do fim do sécalo XIX, el: podoria ou niio despertar inte resse, ja que taivez seu sentido Ihe fosse bastante familiar ¢ sua decodificacao clara "COMO ELLES S40 Ofothetinista da Gazetanarra oa vicigem a Maced e entre outros nar, rou wn cusy ocarride a bordo. O Presidente de Pi que estaye a Lordo trazia consigo un criale bonito, crevullo, de higode o ciwagnacs pisar forte amante condicde negra em si, mas antes os modes como _brancos {tulavam sobre o negro ¢ 0 representa vam em um momento de mudangas e transformigdo nes atribetos que a esses elementos formalmente defini Na busca de entender as representagoes dos brancos desse perfodo sobre os negroes, tanto a cidade de Sion Puulo cono seus jor nais foram-se mostrando essenciais no desenvolvimento deste traba Tho, na medida om que pas aya por um momento de grande transforma cdo ¢ redefinicho em suas fungdcs ¢ pupéis: Sie Paulo, como vere mos , transformava-se aos poucos, de pequena aldcia desimportunte, ho gramle vertro navional do café, para omle convergian interesses politicos e econdmicos que sem davida se Sarde presentes nos dig curses ¢ debates da impreasa- Por outro fale, a selecdo do jornal enquante — decumento pAsico se mostrou significutiva. Em primeiro lugar por sc consti tuir em uma fonte histérica bastante completa c comptexa, ji que nele convergiam posicoes e opinioes diver Se representativas @ devido ac momento histor co recortado. Ou seja, como precuraremos demonstrar cm capitulos mais especificos, osse parece ser um perio do relevante no que tange também & histéria de jornal no Brasil. Esses momentos finais do sGculo corresponderiam entao ao perfodo al, iste é, da trans lormayio de formacio da grande imprensa nacion de jornais que passavam de “experiéneins iseladas, aventuras pas sageiras", a grandes ¢ estdveis empresas constitufdas e mantidas através da verba de grupos que estavam sem duvida envolvidos nesse nine Mehate, enquanto seguentos da soctedade que se or: vam, veicu lande, refletindo © produzinde nevas representagoes . Assim, © sem querer entender ss versées © representacdes sobre a condigdo negra apenis como un reflexo do contexto que mar sau cidade de Sia Paulo © @ propri ca a transformaca 9 por que pas imprensa no Brasil, acreditanos que o "creoullo leitor de Varela" era som dtivida um “produto” desse momento, mas que ao mesmo tempo veproduz og consensos sociais que reflete. Portante, se por um Lado nesta dissertacgio nos deteremos na andlise do surgimento da grande imprensa em S40 Paulo, em fun cdo das préprias necessidades que o material ¢ o perfode nos impu seram, por outro € necessdrio destacur que nosse principal objeti yo @ antes compreender, a partir dessa fonte especifica ec relevan te, diferentes visées © representagdes que se produzow neste momen to em que o negro ganha, ao menos Lormalmente, o direite & cidada nia. Para tanto, dividimos essa dissertacde em duas partes: Na Parte — boscames efahorar vine espéeie de panerana ge ral sobre o pericdo e¢ mesmo sobre o problema tedrico central traba Thado nesta tese, da seguinte mancira: no Capftulo 1 analisanos : mo a questdo que nos propusemos a estudar fol trabalhada a ofvel do debate académico histérico ¢ antropoldgico, visando inclusive melhor especificar também os nossos objetivos. J& no Capitulo tt contextualizamos € Sustificamos o recorte temporal selec ionado (1870-1900), buscando caracterizar o perfodo nao sé em termos na Sfio Paulo. — No cionais como especinimente com relacdo 4 cidade de Capftulo 111, por sur vez, passamos a caricteri bra vimento desse tipo de vefeulo ¢ depois buscando analisar de forma rea imprensa no il, Fazendo um pequeno mpeamento sobre a formagido ¢ desenvel mais detida eo cuidadosu os tres jornais selecianados ¢ trabalhados de forma mais sistemitiou nessa lissertacao. Primeiramente 0 Gar ano (jornal de linha conservadorad, depois A Provincia reio Paulis de Sdo Paulo (Sraie republicuno e adepto “das nevus idéias do mo mento") ¢, por fim, AR cdempedo (folha noticiosa sbolicionista). Na Parte 11, por sua vez, trabalhamos mais especificamen te com as representayées e diferentes visees sobre a condigae ac gra que foram retiradas dos diversos jornais. Nesse sentide enali samos essas representacdes tendo em vista que existem diferentes nfveis de compreensio ¢ Ieitura desse tipo de material. Assim, per cebemes que as representacdes variayvam na medida em quo ocupavam diferentes locais ou secdes do mesmo jornal (sendo que, por exem plo, © negro da secéo de “ocorrdncias policivis" nfo purecia ser © mesmo que aparecia nas “notfeias" ou andncios). Nes se sentido, on uma leiturs sineronica do tio, o Capitulo 1V visa justamente fas material, analisando ado sé como “o negro” aparece nas diferentes segdes de um mesmo jornal, bem como a logicu ¢ a dinamica de cada um dos jornais om seu encaminhamento polftico, na forma como sete cionavam as noticias e¢ nas visées de mando que traziam em sus — pi ginas. Por outro lado, notamos que 0 material nio se esgotava ape nas com uma leitura sincrénica. E possivel e necessdrio analisd-lo tendo em vista uma perspectiva diacrénica que privilegie néo um Unico momento, mas antes a percepeiio e apreensdo de que existem ac longo do perfodo trajetdrias hetcrogéneas de transformacio de atri putos caracteristicos do negro. $6 através desta visdo é que € pos sivel recuperar a passagem do negro da condigdo de escra vo a liber to com todas as suas nuances, sendo esse justiumente o objetivo do Capitulo V dessa seguada parte da dissertagio. Por fim, nas Consideragdes Finais, nfo s retomamos as ineréni ¢ diacrénicas (bu diferentes leituras scando nfo a any clusdo de uma ou de cutra, mas antes a manutencao da lagdo ou a diversidade de visées), como nos detivemos sobre uma grande ques tio que parece perpassar todos os momentos dessa tese: qual seja. a questdo da constituicdo de uma "jovem nacio" tio “condicionada”, por um lado, por todas as teorias cientfficas da Gpoca que viam ly nossa realidade social ¢ especiticamente "racial" com pessimisie a c, por outre, pelos préprios problemas estruturais per que se pes sava nesse momento. f fundamental destacar, por Sim, que pretendemos entender os diversos enunciados ado enqusuto meros relatos jornalfsticos que er, vlén do que ja esta circunserito av obje ay nada mais teriam se di tividade da noticia, Buscamos antes a "sobrecarga™ do seatide presente ass intinerss Fachnay detanlas por testes mites veses o] frados ou de diffeil compreensio ao menos aos ofhes de pesquisador $ SAO". Procu ¢ dos leitores do Século XX, que mil sabem "COMO GL ramos, portanto, entender esses relatos née apenas na sua dimensio pragndtica como meras informagdes onde a Limgasgeu seria a trddugt dle algun sentigve, mas também come “linguagem de siiénc io" (Merleeu Ponty, 1980, p. td renunci¢ a fazé-lo. Pertanta, © tendo como suposto que o “ato de }, onde a Lingaayem diz por si mesmo, mesmo que descrever ndo se limita a simplesmente vevelar um conhecimento", (sakabe, 1979, p-176), a nossa postura diante dos jornais serd @ , >P -los nao enquanto “expressio verdideira" de uma épo de apreend ou como wn vefculo imparcial de “Cransmissao de informigoes", am antes como uma das maneiras como segmentos localizados @ — relevin tes da sociedade preduziam, refletiam ¢ representavam percepgses e valores da époc Por fim, um aviso técnico e de oricntacdo: no interior dos diversos textos que serdo apresentados » introduzimos palavras cm maidscula quando a intengdo de destacar era do préprio jornal ou redator; sendo que em contrapartida grifamos as palavras ou ex pressdes quando 0 objetivo de ressaltar era nosso. Ub Tapressdo ut iLisads por Nerleau Ponty, ie esphicur que a "Lingrutgem diz pe remtorismente, mesno quindo remmcit © dizor a coisa mesmo" (1980, p. 144). PARTE 1 - A METROPOLE DO CARR COM SEUS STMBOLOS DE CLVULLZAGAG 2AeTTULO FADO DA Que Para que pussies entde entender wethor a “ermwtio Leiter do Varela", € uecessirig que busqoemos Cunhem sitici- lo, ang se ae interive de contexte om que eiren, mis Camben em retago ap elute académico que se trava om diferentes diseiplinas, © que de certa forma travd qwsris efementos para que poss. de bin tar ee. ban cor melhor nesses objetives centre Nesse sentido, podenos dizer que os estudes sobre escra- vismo no Brasil durante um bom tempo se caracterizavam por um di curso que representava o senhor de escravos como amigo ¢ benevolen te, ao tado de um cativo sulmisse ¢ fiel. Tais representaydes ving culavanse, por sua vez, a uma idéia mais ampla na qual reconhecia-se nilo-violenta, ressaltando- se 0 na histéria do Brasil uma tradi carfiter pacifico e harmeniese do brasileiro. fo proprio Gilberto Ereyre que,referindo-se go sistema escravocrata brasileiro, afirma: "O Brasil nunca foi o pats do extremismo, tudo aqui tends a amole cor-se em contemporizacdes, sdocicar-se em transigéncias pelo se- hor de eagenho em geral gordo, um tanta mele com rompuntes apenas de crueldade, pela mulher também gorda, fs vezes obesa e¢ pelo Si-~ Tho © filha, pelo capelio, pelo corone: de mite ¢ pelo fei tort (Brey re, 1979, pede se tipo de ahordagem 6 encontrado tanto nos relatos dos ntes estrangeires que vieram ao Brasil] no século XIX, como vials Saint Wilaire (1953, p.35), Jean Baptista bebret (iv49, vol.IL, p- 202) @ outros, como om varios historiadores: Oliveira Viana 11952, vol.2, p.392), . Varnhagen (1950) © Gilberto Freyre (L979, p41), que procuraram tragar um guadro idflice da escravidde negra no Bra sil com seus senhores scveros mas patermais, e eseraves servigais “hdrbaras" ¢ déccis No entanto, tais conceitas tem sido criticados, revisa- dos severamente, dit na década de 10 alyins autores precuravan wos Lrar os sofrimentes par que passive o ueyre cative, bem como suc revolta com relagao A sua condicoaa. Cldvis Moura F195, pedo 1i,por sua ver, faz a primeira tentativa no sentido de entender os movi- nentos de rebelides negres. Por Fim, mais recentemente, eneontra- gos uma série de pesquisadores que procuram desqualifiear a mite do "escravo submisse’ ¢ de “senhor paternas", tracande os imperati vos ecundmicos que definiram a instituicie eseravista lemtre oun tros destacamos os trabalhos dos socidlogos Florestan Fernandes / (1972), Roger Bastide (19791, Uctivio Lanni (1966), Fernando Henri que Cardoso (1962), Jacob Gorender (4978), € os historiadores Limi lin Vietti da Costa (106), Sucly Robles Reis de Queirés 11977) Fernando Novais 119795. José Alfpio Goulart (L872), Porém, se avo que tudo indica chegou-se a wun consense dk) paternalisne de senhor dec quanto H inconsisténe craves, ene tendide enquante agente em um sistem capitalista ¢ mesmo com re~ jagdo a una discussdo valorativa sobre a oscraviddo ("ja que como qualguer sistema hierdrquice ele tem contide em st a vieleneia ¢ opre: Bo") (Cunha, 1985,p.17) ,perminoce polemics na bistorivgrafia a ques tae dy atitude do cativo frente A sua condicdo eserava, Nesse seatide, s tens as opinides divergem radicalmonte, existinda basicamente dua déncias opostas na produgds historiografica brasiteira: a primel- ya, que acentua o cardter passive e dévil do negro, c a segunda, gue, ae tentar refutar a primeira, termina por cair no outro extre mo, £azendo do escravo negro um verdadeire heréi. No interior da primeira ¢ anteriormente predominante co rente encontrames argumentos que buscam justificar a utilizagdo do silo. As negro, devido & sua “inguestiondvel" inferioridade © subm sim, © indio preguicose ¢ indolente terta side suhstitufde pele ne gre décil ¢ jd habituado & eseraviddo,na medida em que or ante riormente escravizado na Africa (Freitas, 1954, p.1). A partirdes: se raciocfcio, tais autores chogam i conclusfe, entdo, de que oseraviddo seria um beneficio para o nexro, pois esse foi resqatan go de um local cruel e do jugo de senhures “birburos" © trazido pa uma eseravi s humana, ja que ra uma terra harmoniosa ¢ par cristd, A segunda corrente historioyrdfica, opondo—s Paesta vt sfo, destaca a atuacie rebelde do osersve, No entanto, ao buscar negar esse primeiro tipo de histériu, que clide de seu relate, 4 rebelido acabou por cuir no extremo oposto, apresentande uma visio romintica da contestacdo negra. O negro 6 entdo deseritoe como um heréi, de carater impecdvel, bravura extrema e grande sentimento de sofidaricdade grupal Chun, 1908, p.25). Assim, "eo negro 6 idea lizade congo e foi o Indio de José de Alencar, sendo que o debate permance ainda no nivel ideolégico™ (lima, 1981, p.8). fo, persiste também probiematice o debate sobre a participacio escrava no interfer do process de abotigie. A ques tio & polémica: por um lade Lomas, par eascuphe, a posigna de beta jo dal esera vio lanni C1978, p.S4), que procura prover que a abeli viddo foi antes de tudo um “negdcie de brances". Sepunde o autor, aves, inserides em condighes econdmicas, juridicas os ose » polrti cas e sécio-culturais especfficas, nao tinham qualquer possibilida de “de elaborag&o conto coletividade © compreensdo critica da prd pria situago". Loge, segundo lanai, a eseraviddo foi abolida devi do a controvérsias entre faceées da camada dominante branca, na me dida em que os escraves néo tinham possibilidades de vislumbrar a propria sittagdo em que se encontravam. Por outro lado, ndo séo poucos os historiadores que pro curam mostrar que as revoltas de escravos sempre existiram, © que principalmente no perfode precedente ao movimento abolicionista Ce io com auxflio des brancos} lornamsse um fator int tuen ¢ de pres a faver da Fiberagdo. Suety Re ok. de Queirés (L977, pp. 22-3), por ora exemple, procura mostrar através de vasta documentacao que o es ve teve um participacdo ativa, através de fugas, sassinatos sai cidios ¢ insurreigdes, constituindo-se om um fator de pressfo — em proi da aboligfo. Warren Dean (1977, p.113), por seu turno, ao ana diz choga A conclusao de que "6 inacei x 9 processe de libertacdo dos escravos em Rio Claro, — também fivel considerar os escravos co- mo seres inertes e passtvos no decorrer do sécule XIX". Ao contra- mostra como nessa cidade os escravos, através do fugas e rebe $, Promoveran a sua emancipagio "de fato", ndo restando aos proprietarios qurtquer outra opedo. bole eneoutrarene resedy ids Tat questdo, perdi, Lon ainda plena de questionamentos ¢ dividas, polarisande as pesquisas Hus pasicées que precurumos csemplificar através dos autores ci dos. No entanto, pelo menos no interior deste trabathe, come yimos, 0 que importa nfo 6 tanto discutiv e optar pela qualifice- sGo de escravo como "déctI" ou "rebelde", como elemento ative ow passive no interior do movimento abolicionista, mas antes pensar a rehetdia, ou welhor, a forma come gdo negra @ a rebeldia se fula_e© representa" a condi- Nesse sentido, © tendo em mente esse tipe de preocupa- cio, a antropologia brasileira teria também uma importante contri- buigdo a oferecer ja que de Nina Rodrigues a Gilberto Vreyre a an- tropologia abrigou importantes reflexes dos mais diversos mitizes sobre a condicio negra. Nesse sentido, pode-se verificar que so a partir do sGculo XIX & que v elemento negro passou a constituir-s em tema de reflexdo nesta disciplina ¢ mesmo assim de forma revi- cente. Assim, antes de 1900(e, portanto, antes de uma série de acon & abolicio da escravidio ¢ 4 Proclamacio da Re tecimentos ligados publica), © negro 86 aparecia de forma lragmentada e dispersa atra- vés da literatura, das fugidias impressées dos viajantes estrangei debate: que, a partir de 1870, giravam rata Moreira, 1981, pe2d. A ros, ou mesmo dos polémicos em torno da questo do regime escravor partir do final do sécuio € que encontramos uma producio ¢ uma re- Clexdo um pouco mais constante, mas que, assim come notavamos com relacdo A producao histéries, passou também por diferentes saborda ons © coneepgées. Ou seja, paralelamente ao préprio movimento da ciéncia antropoldgica como um todo (que nasceu em um contexto mars cado pelo colonialismo © pela “conformagéo de saber" no que se re fere ao entendimento de outros povos? (Corréa, 1983, p.9), no Bra- 1 8 os estudos centraram-se também em torno da questa fractal ¢ dyexplicitacio das car cteoristicus que marcavam as diferentes naq Ses. Particularmente no Brasil, entdo, © negro upareceu ca- racterisao antes de tudo enquanto eypressde de sus ras, (Pere ri, 198], ped). Assim, tendo em mente supestos atributos bioldgi- cos, interpretados f luz da "prepotepte” cidneia de perfede, os tedricos da Gpoca impunhan, como veremes com mais vagar a frente, uma imagem absolutamente neyativa do homem de cor, peraate os ou raciais que compunham a pepulsedo brasileira. Xin tros Tipos agen absolutamente estereutipada © romantizeda veiculada pelas abolicie nistas, os assim chamados antropslogos brasileiros, entre cles Xi na Rodrigues © outros, opunhan a representucdo de um efemento ne- gro totslmonte delimitade pela ciéncia evolutiva, entdo empregada largameate, © pelas teorias rayiais vigeutes, | Hunk Que Se im punha, tomando as palavras de Jode Batista i. Pereira, era uma"im gem de homem adjetivada, negative ¢ patologicamente, pelos seus (Pereira, 1981, p. 5). atributos raciais Assim, se durante muito tempo o problema parecia camul la, do, substitufde por preacupagSes mais imediatas, neste momento res tornava a questdo do elemento negro agora sob o ponto de vista da “sciéncia", gue emergia entado onquanto autoridade crescente Frente ao social, especialmente no que tangia wos problemas raciais. A P: rtir de entdo, o negro sera cntendido enquanto um problema nao social, na medida em que congiderava-se que sua heranga étnice poderia inferir negativamente nos destinos de nosso povo. A questo da constitnicdo de uma "identidade racial" bra a foi reforcada entde primeiramente pelas interpretagdes siled ciuis de teéricos vindes de fora do pafs. 0 fater "raga" era entao 1 civiliz, entendido como am tipo de tnfludncia vitai "ne potenci tério” de uma nacdo, sendo que as teorias raciais publicadas na ropa, e om especial em Paris, causavan aqui ue gramle impacte. 0 Brasil aparecia nestes relatos retratado como primeiro grande exen is tropical de ragas mistas. Buckle, plo de "degene acHo cm uM pd Kidd, Le Bon, Gobineau, hapouge © varios outros durwinistas so- cisis eram entio muito cotados no Brasil, devido a suas teorias so bre a inferioridade negra, a degeneragdio mulata ¢ a decadéncia tro pical. Gobineau, por exemplo, que veto’ ao Brasil em (869, conelita Zo ha Epoca que a Corrupedo no sangue negro levaria sem diivida algume rodecadencia dos povas mesticos (ISh3). hapouue, por seu turn, aereditava que u Brasit se constituiria om um sécule cm um imease tado negro” que reternarig indubitavelmente @ barbaric (Skid p cam estes inteleermars, a Mpro 1. De acorde on more, 1976, p.?. wiscuidade™ que ocorrera om epa colontais, producing clementos degenerados, instdveis e portanto incapazes de acompanhar um desea volvimento progressive. Neste momento, entde, parecia ser necessaria a criaucdo aber espeetlico a respeito de nossas peiprias circunstdneias deus Néo. ainda que cle se legitimasse a partir de teorias curopéias foram poucos portanto os intelectusis que acreditaram o utilizaram em suas teorias as "mdximas" do evolucionismo social europou. Nes- se sentido, am bem esengle Gade Ninn Rodrigues, considerada como o fundador da antropelogia cientT fics no Brasil cy segundo Mariza Cor rév, como © intelectual que pela primeira ves no Krasit eriou um neve comum entye a pericia médico-tegal ea pesquisa aptrapologicn das relagées raciais (1983). Ou seja, Nina Rodrigues, aliando a an tropologia criminal (cujo criador foi €, lombreso, da liscola Ita~ liana), com a pesyuisa médico-legal, entendia a sociedade como um corpo que podia ser conhecido, assim como o préprio corpo — humano negra, acreditava Nina Ro- tvide Corréa, 1982). Com relagdo A rag drigues que a sua inferioridade poderia ser estabelecida fora de qualquer divida cientffica, consideranda ainda como impossfvel ¢ despresfvel a idéia de que "representantes das ragas inferiores"pu dessem atingir através da inteligencia "o clevado grau a que cheg: ram as ragas superiorves? (Nina, 1957). Nesse primeiro perfodo, entae, se par um lado a ciéneia imperava, com seu "realismo", por outre o extremo pessimismo toma~ vu conta dos extudes © easaios que versavam sobre a raca neyra, © tio da miscigenagie. Nesse sentido, Nina mesmo a respeito da ques Rodrigues, por exemplo, pensava que a regiae tropical estava conde ssibilidade de um Brasil r nada, o que @ fevava ainda a temer a po: cialmente dividido entre o Sul hranco © um Norte nestico ¢ degene- vado (Skidmore, 1976, p.781- Da wesina maneira, outros autores nacionais, de Silvio Re mere a tuclides da Cunha, cram uniiaimes quante ae Lemon que nesse ruture racial" parecia inepirar. kafases ¢ interpretacues —pudisim até yariar, mas em todes um grande “incdo" estava presente, princi-~ palmente om Eaclides da Cunha, que, interessado cm catender a re- intes de sisténcia do homem do sertio, conelufa que o mestico er tudo um desequilibrade incapaz de conviver com a civilizacdo (Cu- nha, 1973). Essa escola, come nos diz Mariza Correa, retomava ainda problema da definicio do negre como pessoa ou como coisa, dile ma retérico que remontava aos tempos da escraviddo, recalacundo =o porém sob o ponto de vista cientifico (Correa, 1985, p.130}. Nesde entao o negro passava a ser considerady antes de tude como “objeto de ciéncia", como afirmava Sitvio Romero jv ni época, e para quem a dnica safda nacional seria a perspective de um futuro branco ,que por sua vez salvaria o puis da degeneracdo. Por outre lado ainda, nesse perfodo de inicios do lo, foi deseavolvida e difundida ao Brasil uma outra "tese*, — que buscava tracar novas solucdes para o jd "desacreditade” panorama yucial nacionti que, como vimos, causava grande apreensde, Hssa nova tese, chamada na prépria época de "teoria do branqueamento" mente caleada, por sua vez, nus concepgdes das ragas, estava cla deterministas raciais desenvolvidas nu Guropa. Segundo Giralda Sey ! ferth, essa teoria tinha como principal peculiaridade a sua ambi- piiidade: “via a mesticagem ao mesmo tempo como wn mal que deveria ser extirpado, ¢ cono uma solucdo para a questie racial brasileira” (Seyferth, 1984, p.10). fissa concepedo de branqueamento implicava, por um lado, a crenca na desigtttdade das rucas humanas fo caso, na inferioridade e na incapacidade dos negros ¢ mesticgos se civili sarem), ©, por outro ¢ principalmente, uma sefecdo natural @ So- cial que conduzivia um pove dbrasileiry branco, em um futuro ndo muito remoto. Utilizavan-se ainda do jargo entSo popular da euge nia, sendo que alguns autores nacionais sugeriam inclusive a possi bilidade da depuragao das cu $s dos negros e dos mesti- cos apés algumas geracées (Lacerda, 1911). cteristi a6 A conclusdo etimista a que chegavam os autores que advo gavam a "tese do branqueamenta' repousava, por sua vex, em algun Ma de que a miseigenneio nfo produziria inevi constutagdes-chaves: tavelmente ‘degencrades', io mestiga sadia, — capaz ums popula de torparese sempre mais hraaca tante cultural come Sisteamente" (Skidnore, 1984, p.81). Isso tipo de posigie receheu oa “aval da “eieneia pac ig nal" através de varios autores, entre eles o do entdo director do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Jodo Maptista Lacerds, que inclu sive representou o Brasil no Primeiro Congresso Universat das Ra- gas, que se realizou em Londres em 191]. Lacerda, como médico © a ffgica", como a maior parte dos an- especialista om “antropolog , tropGlegos da Gpoca, cenhecia bem os métodos ¢ técnicus da ciéncia raciais determinis- desenvolvida na Luropa, assim como as teoria tas (Skidmore, 1976, p.8lJ. Segundo esse G]timo auteur, a situacde poderia ser observada com otimisme Ji que "no Brasii js se viram filhos de METIS apresentands na terceira geracia todes os caracte- res ffsicos da raga branca" (Skidmore, 1975, p.82). Assim, na opi- nifio de Lacerd: nao havia motives para malores preocupacdes, — ja que com a abolicdo ea dispersdo dos negras em mais ow menos um sé culo, esta raca, segundo © autor, tenderia a desaparever. Anglise bastante semelhante A cima exposta foi elabora- da na década de 20 por Oliveira Viana, para quem ocorreria no bra sil uma arianizagio progressiva nfo s6 devido i imigragido branca, mas também por causa dos cruzamentos ¢ da mortalidade de negros westigos. Essa tnsistente visdo de um Brasil “branqueado" aparece- rig por outro lade também na ficgdo Jiterdria. Assim, por exem- plo, a novela "A Esfinge’™ (19111, de Afranio Peixoto, que teve gran de repercussio na época,refietia em seus didlegos us preocupagdes raciais da clite carioca (Skidmore, 1983, p.901, sendo que o pré- prio romancista concedia tres séeulos para a Cransfornacio da so- cledade de negra em branca. Da mesma forma, ¢ ‘aca Aranha em seu ro 2 mance Canda (1901) reprodusia também "a expresso da polftica of i cial do governo concernente ao incentive i imigragio curepdia, 4 se evoluir rime a ama nacho predominante- fim de que o Brasil pude niente branca em termos culturais © raciais" (Skidmore, 1985, p.92 Assim, em meio a esse panorama, onde conviviantedricos do branqueamento” com pensadores aatis deterministas © pessimistas, havia homogencidades consensuatmente aceitas. bias, & clave que de toda forma, ¢ a despeito das diferentes Linhas, o negro era con siderado por esses anulistas, em seu conjunto, come um elemento que, apesar de "mais"ou"menos” assimilivel segundo os diferentes vie dJenogria sempre a "eivilizagio". A partir da década de 20 ¢ 30, no entanto, ¢ ligada tam bow a fatores de ordem social, polfticas © ceondmicn que marcayam © alterayam a vida brasileira neste momento, uma nowa fase de estue dos © reflexdo parece ter se aberto. Tulyes nesse perfodo un dos exemplos mais marcantes tenha sido Artur Ramos, que, apes t ar de bas nte influenciado por Nina Rodrigues © pela concepede de evolu- cdo social, retomou o tema criticando antigas conviccdes e preacu- 3, p.232). Are tur Ramos buscou entdo inspiragde e recursos na antropologia culty pando-se em trazer novas bases de estudo (eite, 1% enti ral largamente praticads em centros ¢ cos do exterior nu épo ca (principalmente nos Estados Unidos, com a escola de Franz ous). Viahorow a partir da visfo culturalista novas imagens @ respeite da questio negra, criticande ou tragendo sufdas diver concopedes whiologistas™ gue predominaram até basicamente a década de 30. Ao conceito de raca é agregado cutdo o conceito de cultur » “libertan do-se dessa mancira o destino do racu negra de seu aprisionamento 1ém dh bioldgico inevitdvel" (Pereira, 19ST, p71. so. qucbrava- "realidade étni- s¢ o consenso pessimista que pairava sobre a nossa ca", abrindo-se perspectivas mais otimistas para o "future da na- ga patolégica e negativa, a figurar como um fator de contribuicdo po- io". Assim, o elemento negro passava, de presenca exclusivamente sitiva para a cultura brasileira © para a constituicdo de nossa na cionalidade. 30 isse mesmo otimismo caracterizou também a obra de Gilbor to Freyre (talves até hoje um dos intelectutis nacionais mais dix volgados © conhesidos nn cyterior!, tio marcade por sua vex pela vadora © regional do Nordeste agucarcire, come inf lucneia afirma J. BL Borges Pereira ClSTP Assim, come chiofamis aiteriormente, com G. Freyre consagrou-se a representacdo de uma situagio racial gens de senhores ¢ escraves do- amena © “demoerdeica", com as im tornava ainda mais ma. racterisnedo esta que cois © passives, © cante quando o autor acontrastw com a situacdo norte-americana. A obra de Gilberto Freyre trouxe, por outro lado, novos elementos para que se analisasse de uma maneira diversa 4 “horanca africana” ¢ de outras ra Formagao de uma as, contribuindo inclusive para " a sociedade multicacial, ja especie de “nova rationale" para ¢ que a partir desse momento as ragas componentes ~ curopdia, africa- nae india - podiam ser vistas © entendidas come iguatmente vale rizadas (Skidmore, 1983, p.211). Gilberto Freyre, com sua andtise, nfo pretendia — promo- ver no entanto uma espécic de igualitarismo racial (mesmo porque en seu livros a concepedo evolucionista, que hicrarquizava rigida~ nvés diste acabava nite); ao mente a principalmente reforcgande o ideal de branqueanento, mostrando de S ragas, estava sempre pres maneira vivida como a elite branca adyuiria try cos culturais do mi tuo contato com o africano c¢ com o fnudio, em menor eseala (Skidmo re, 1985, p-211). De tods forma, a partir da década de 30, retomay. sow questdo racial de forma menos negativa ¢ agressiva, sendo os temas reelaborados, mesmo na Literatura, de forma ao mesma tempo irdnica © critica, Os assim chamados modernistas, por exemplo, e em espe- cial Mario de Andrade, em Macunafma, ao misturarem folclore nacig nal com temas regionais, tiveram como resultade obras pulsantes que: contrastarum inclusive com o pesado sentimentalisme literdrio até entao dominante. sar uma nova yisdo so- sa geragdo parceia entae expres “aos destinas" do bra bre a identidade ¢ mesmo com relagio sil, fa- 31 tendo-o de varias mangiras: com Sérgio buaryque de Hollanda, —atra- ves da caracterizacdo do "home cordial" (1979) brasileiro; ou mes no com Monteiro Lobato, que “reabilitava", depois de longo debate, © “eaboclo nacional" ,retirando do imobilismo a até entao figura ne gativa da Jeca ‘Tatuy ou com Roquete Pinte, part quem o problem na cional e doméstico se remetia cm Gltina tastancia a uma questag de educacdo (Skidmore, ISS, p-2070. be toda forma, jo pessimistu, av determiotsmo cicn a posi tifico, opunha-se neste momento uma visio que entendia de forma oti mista ¢ até original a nossa “realidade raclal’. Por outro lado, apos um perfodo de relative | esquecimen to, nos anos 50, a questdo racial volta a ser centro de interesses intelectuais no Brasil, Como come ponte de converpéneia — inivial una pesquisa patrocinada pela UNESCO, Dosta vez, a partir do ¢ tudo de virios cientistas sociais (entre oles Hlorestan Kornandes , R. Bastide, Oracy Nogueira e outros), 0 negro & analisado e enten- dido enquanto ninoria © como grupe que encontra ohstaculos cm sua participagde na sociedade brasileira Wereira, 198L, p.10),di al que nos- tanciando-se desta mineiru do modelo de democracia rac o pats parecia até entdo representar. Os resultados desta pesquisa demonstrayan por Fim as pro fundas diferencas reinantes no pais, que levavam por sua vez — ndo sO desigualdade, come também a intincras obstdcalos no que se ren fere ag acesso A educugdo e ao livre voncurse em ecapregos especia licados ou niio. Ressa produgdo mais académica e que em sua miior parte associou © conceite de raga ap de classe social, vém — somando-se nals recentemente varias pesquisas que sbordam a vondigdo e situa cdo desta populacdo, tendo em vista os mais diferentes vieses preocupacées. Assim, por um lado, existen varios estudes que tém se preceupado om analisar s participaeie © represedtagio negra nos jo, tal como fizeran nais diversos meias de commnicacdo ¢ expres por exemplo J. B. Borges Pereira em relagdo ao radio (19673, Mi 32 rian 1. Mendes quanta & produgdo teatral (1982), © mesmo Teofilo de Queiroz Jinior, com sua anflise referente A representacae da mu lata om literatura nacional (lost), Por outro tao, conceites © teorias que pareciam estar d bastante assimilados, tém sico, a partir de varios trubalhos, Cont inuamente questionados. Este 0 case, por exemplo, da relevan te pesquisa reatisada por bob Stones, que, tendo em vista os dados obtidos na cidade de Campinas, acabeu por descaracterizar a asser tiva que determinava a absoluta instabilidade dos casamentos entre escravos (1984). Nesse sentido ainda, M. Carneiro da Cunha, em seu inovadora com & mais recente trabalho, em que Lidow de uma Porn questdo tedrica da identidade étnica, trouxe também muitos noves da dos ao debate historiografico ¢ antrepoldgico, ao acompanhar ¢ ana di a Africa e comstituiu aro percurso e os destinos de um grupe de libertos que voltou se em Ligos, veluntariamente, em uma comund dade de estrangeiros (19851. Retoma-se assim, através deste © de outros estudos, o ja antigo debute sobre a manutengdo de comunid. des ou lacos de relagdes entre africanos no Brasil e¢ mesmo a ques tio da identidade escrava. Cam relagdo fs refigiges nepras, varios trabalhos conti Imente debatido de kdison nuam a repensar o tema ja tie tradicio Carneiro a Roger Bastide. Citamos neste sentido, catre outros, os estimutantes ensaios de Peter Fry sobre a umbanda ¢ outros (1982)e mesmo R. Ortiz, que buscou correlacionar a Cormagde da religido um bandista com a emergéncia © consolidagio da sociedadede classes no Brasil. Ligando antropologia com linglifstics ¢ histéria,outra impertante pesquisa conjunta ainda em curso ea que Carlos Vogt, Peter Fry ¢ » bastante Rob Slenes vem realizande com a pequena oe até enti sola da comunidade do Cafundd, buscando retirar elementos concernentes ao sistema légico da linguagem local, bem como repensart os costu~ mos ¢ praticas de um grepo de ex-escraves que se minteye relativa mente unido © isolade no desenrotar de todes estes anos. Portanio fe sem pretender esgotar o tema, ou mesmo a produciio lista de autores que Lidaram com 9 assunto no interior d histérica © mesmo na antropologial, pedemos perceber que a questio negra continua ainda, ¢ a despeite de certo desinteresse — atual, as imagens e Leo. plena de debates ¢ controvérsias, sondo quo anti adas, ado esto de maneira rias , se sio de alguma forma ultrap: aigume totalmente absorvidas ou elimindus. Assim, representacces outrora hegemdnicas que tragavam cienti€icamente a inferioridude ag gra, se nao sfio mais predominantes, so menos ao nfvel da preducao nda parte de se > comm, 88 geadémica, Pasem de atgums Corme como imagens diversas ¢ conflitivas que vse do mais “arderose pes simismo" ao “otimismo desenfreado” de “atirmagdo de nossa democrs cia racial". Kesse sentido, entia, 6 necessdrio destacar que # "ent xe" desta dissertagdo esta dirigida nde para a delimitagao ou op gdo entre uma das disciplinas, mas sim para um problema que dirige toda a reflexdo: a preocupagdo em buscar reconstituir os diverse’ modes como, através da imprensa, os brancos representaram 0 negro © sua condic¢io, como veremos a seguir, em um contexte ¢ local rele vantes: Sdo Paulo, em fins do sécule SIX. CAPT IULO TE = 0 CunTE Ta: "UM ANDO 01, (DELAS NOV £5, ROMERO S Como apontivums anteriormente, € necessdriv eatender, en- tio, toda essa diversidade discursiva ndo de forma — absolutamente isolada, mas também no interior do contexto brasileiro da época, gue @ rico em contrastes ¢ debates internes. Bu seja, dentro do pe rfodo que delimitames LI8?d-100+, cxistem basicumente duas ques- tS s centrais, ao menos no que tange aos interesses deste traba- Iho, © que servem come gancho de anglise para esse estudo: por urn tado, a questao daa yada eseraviddo, que trazia consi go emba tes priticos ¢ polfticos entre os diferentes grupos dirigente de outro, a "jovem Repiblica", que contava com problemas cruciais, dadania ¢ a bus sie, quis sejam: a race, @ Cormayae de wna naga de um modelo civilizatorio curopeu, Assim, a partir da segunda metade do seculo XIX ocorre una série de mudancas econémicas ¢ sociats, ligadas também ao pro eesso de desenvolvimento do capitalismo industrial a nfvel inter- fo da escravidao como sistema de trahalho, que nacional ¢ A superag passaremos a analisar sumariamente a seguir, tendo em vista o mo mento @ local selecionados,quris sejam, Sfio Paulo nos perfodos Pi- nais do Império. Desde 9 comeco do século 6 Creqtlente a pressdo ingiesa no sentido da abolicde da escraviddo. Ista G, se até how parte do sé culo XVJI1 a Ingtaterra havia incentivado a vinda de escravos, a partir de L807 extingue o trdfico para si © suas coléaias ¢ passa a pressionar outras nagdes, jd que para ela ert nesse momento ima importante garantiy a extsténeia de mereades consumidores, de que apoiar trigdes criadas pelo capitatismo comercial, Ou seja, re o desenvolvimento cr cente do capitalismo industrial tornara ino perantes os mecanismos de comércio © produgao vigentes. Os monopé lios e privilégios que haviam caracterizado o sistema colonial tra dicional © toda polftica mercantilista apareceram cntio como obsta culo aos grupos interessados na predugdo cm grande escala ¢ na ge neralizacdo e intensificacao das relag Porém, upesar da constante pressao inglesa, o trifico de seravos $6 € extinge no Brasil a partir de 1880, seme que este yoda existencia de um traficn interne de oneata em disnte, apess eseraves, ¢ de unt sé ie de leis Clhiramente contemporiaadoras, a tendéncia serd no sentido do esgotamento do braye negro cative © do incremente a nevas iidas para a questao da mio-de-obra (princi palmente na regido do Oeste Paulista, ja que nesse local comegava nse desenvolver a cultura do cule om um momento em que o crave jf era extremamente ore ts Assim, jd na década de 1840 Cantes wesmo do problema apgu car-se), © senador Vergueiro, fazendeiro da regiaie de Lineira,eria em sua fazenda as conhecidas colénias de parceria, que contavamcon trahalho imigrante. A experiéncia frac 1, devida em parte iis con . t _ (icécs rudimentares a que os imigrantes foram submetidos,'') poréw a emigragdo curopéia sera de fato a solucdo encentrada quando ° continue encarecimento, o escasseamente do brace neyre ea cor stan te oxpansio do café exigirem uma alternativa para o trabalho com (2) pulsdrio. Assim, desde os anos 1870, correnics migratorias divi gem-se especialmente para Sao Paulo. No entanto, 6 de 1886 em dian te que a imigragdo intensificar-se-4 winds , Sendo que, a par tir da segunda metade do século XEX, ¢ principalmente nas novas re gides cafeeiras, imigrantes © eseravos p: am a viver lado a lado. \ aholicdo do regime eseravista, pordm, no se fard sem debates © neemo sem o inevitavel abalo de um Impéris ja tae enfraquecide aes 41) Nesse sentido € bdsico o relate de I. Davatz, emigrante suigo que veio para 9 Brasil « fim de trabathar a Caserds do senador Vergueiro. Davatz relata, tante a diffeil situagio em que Ficayam submetidos os imigrantes, como u re volta dos colonos (Davat2, 198). ~ {21 Intre 1870 © [SSD existiram debates sobre as "vantagens' da introdugio dit ado-e-obra chinesa no Brasil. Usta era considerada mis barata, mais facil mente dirigivel, nao se mesticava com a populacao e permanecia s6 — tempora riamente no pars. No entanto, foi gramle u oposi¢do a introdugao desse th pe de mao-de-obra, devido a motivos basicamente raciais. 30 te pamento. Assim, jantamente com esta questo, aparceiam novos temas ¢ embates, ja que, como afirma Sfivie Romera, a partir de Lscd surgen Nom bande ve Ldéias novus, senda que a wenurqnig 6 atacada, u [preja sofre forte reagdo e # campanha aboliclonista to ma volume questionande cnda ves mais fprcemente a Instituie vil. Primeiramente & em 1870 quo termina a desasteosa Guerra do Paraguat (quanto Cres quarts dat popilagde jerome 6 arta entanto, ado 6 tanto a glerru em si que pretendenos ressultar nes te mononto, mas antes alguns de seus eteites, quais sejam: a eleva cdo politica e social do exército e¢ 0 fortatecimento da Campanha abolicionista. A forca militar do Império era até entio a Guards Nacional, formada por grandes latifandiarios, comerclantes © poll tices voltados para o controle da ordem ¢ x manutencdo do poder da aristocracia agrdria. O exéreito mo possufa cntde qualquer signi ni recrutados mais por castigo ou desemprego. F ado social, sendo formade por homens livres, nfio-proprictérios, sé com a Guerra du Pa roguai entéo que o cxéreito passa ter uma posigdo politica e se cia} de destaqne, negando-se depois a capturar eseravos Fugitives @ dando dessa forma um importante apoio & campanha cm favor da abo riche. por outro lado, quando estouron a Guerra do Para gud interesses voltaram-se, 20 menos momentaneamente, para a dos os Miefesa nacional, sende que o probleme servi t foi mut ide prat ton mente em suspenso. No entanto, como final de guerra as contramese novamente em torno da situacdo interna, sendo que # luta em favor da abolicdo da eseravidio toma nove impulso, 3) 0 exércite opunha-se neste wenento a perscguir escravos fugitives primi ramente porte identi ficavamse com aquc les indiyfdues com os queis hav iain tombatido Lado a Lado © sob a mesma condicdo. Alem disse comecavam a ques tionar a propria fumcdo de perseguidores de escravos nteriormente a cles Gostinalas, @ agora considerads Como pouce digna aos "salvaderes da naciol', 37 Nesse sentido, segundo Caio Prado Jr. (1979, p.lvoy, ja desde 1865 a posicdo internacional do Bras J com relagiv ao probly mada escravidde tornara-se ditfeit (ja que com a Lihertagio nes Estados Unidos da América, o Brasil sera como Cuba o tinico pafs da civilizacde occidental a admitir @ eseraviddo}. Fatretanto, com a Guerra do Paraguai, o debate € udtado, sé sendo retomado com o seu final (18701, quando, segundo csse mesmo autor: "A ubolicdo de re nacional’, gime servil se tornard dai por disnte um ponto de hone Xo entanto, em torno des 0, nie havia posicdes unitarias, 1 ques, isto é, se de um lado as regides do Norte tioham powsas razdes pa ra defender @ escraviddo (mesmo porque boa parte dessas provincias haviam vendido grande niimero de escravos com o trdfico interno) ,em contraposicéo, as zonas cafeciras do Sul seriam o baluarte da rea- cdo pré-escravidde. “) porém, mesmo dentre elas vdo existir dife rengas no grau de compromisso com a instituicdo escravista. Assim, enquanto no Vale do Pa aiha a cativeive Linha ainda rafses prefun das, a layoura do Oeste Paulista possufa condicées privilegiadas pa racalotar o trabalho assatariado Glevide inclusive fis suas metho res condigdes finaneeiras). Devido entde 4s pressdées ndo sé externas como internus,o movimento tendeu a radicalizar-se, promlgando-se inclusive nes Gpoca "as famosas" leis emancipadoras. A Lei do Ventre Livre, por exemplo, lavrada om 1871, Significou no entanto apenas uma pequena concessio, ji que consagrava a opcdo entre o direito da proprieda de ou a indenizacao ao senhor Lesado (sendo que este normatmente op tava por censervar o liborto até 21 anos utiliaandoe seus servicos). As Ss imediat sim, os resultados mo s dessa lei, como de outras, foi antes o esfriamento da campanha, ja que os abolicionistas aecredita (4) f necessdrio destacar que aigumas provfncias do Norte do pats, como Ceara a Amezonas, mostraram tal autonomia com relagdo & questo da abolicao da escravidac, que inclusive libertaram seus ,cativos ja on 1884. van ter dado um grande passo para o término da ese fal tipo de atitude revelava por sua vee a caracteristi cravista ne Brasil: o seu cardter ca hasiea do pensamento ainti noderado. Im geral, ao mesmo tempo em que sc caattava a libertacio, mando se por uma revolnean fatal ao pats, at neste senti tomias do a necessidade de unt aboligde Teta e gradnal. Nao havin aesse sentido unt maior eatros mente entre os rebeldes negros eos abot cionistas, sendo que a propria propaganda aboiicionista nfo se di que tendiam a ser considerades come birbaros rigia aos escravo incapazes de exercer acGes pelfticus (ver Moura, 19ST, p. 80; conrad, 1978). Porém, 0 aholicioniswa brasileiro nao foi sé mederado. Principalmente na década de T8800 surgem grupos radicuis que, nao podendo atuar no parlamenta, acabam aginde por awios ilegais. Asq © momento, em diversus regides, diferentes grupos estimu sim, 1 jan as fugas de cativos, que ocorrem con malar intensidade om Sd0 Paulo. Anténio Bento, por exemplo, juntaniente com seu gr po, os caifaces, come veremos commis vagar adiante, a partir da andlise ay com grande Preqtloneia, ine Go jornal deste grupo, comesa sate centivande fugas ¢ criando todo um sistema de protecto ao eserayo tugitive. (5) A lei dos nascituros aprovada na adwinistracde conservadora de Rio Bran- co, além de lidar com a questo dos_recén-nascidos, possufa ainda outras medidas: criou o Fundo de lmmncipacio, para ser util izalo na minumissio ds escravos em todas as provincias (fundo csse que teve escassos efeitos, — j que as provincias retardavan sempre © andeuenta dos processes); facultou a possihilitade dt formaciic de um peetilio, por parte do escravo, ¢ estabele ceu a obrigatoricdale do registro nacional de todos os escravos. AlGm dis- so, tanbén a lei dos sexagendrios, promulgilt posteriomente, cxemplifica o {tor moderado das medidus abolicionistas brasileiras. Essa lei concodeu liberdade i$ pessoas que tivessen mtis de sessenta unos, que deveriam no entantg trabathar de graga por mais trés :mos. [ssa lel gerou reagies, nos io na epoca em que foi promilgala, pois os powos eseravos que consepwiun aleancar tal idade na suat grande mioria estavan invilises ¢ inaptos para o trabalho, Nesse sentido, significavam inclusive uma despesa para os seus proprietirios, sendo entdo vantajeso conceder Liberdiile a esses eseravos, Fé que dessa maneira os proprieGirins descompromet iimese de qgatquer obriga do para com cles . Avo Lumam-St rite nesse momento as fugas ¢ movimentos de rebeldes negros, sendo que a yuestie da suspensde do trabalho ser Vil passa a constituirese cm tn ponte bisicu de debate, — agitande Lodo o jd preedrio equitfbrie do pats. a década de 1870, apesar dus pressdes, os es pbra Cundament craves continugyam a ser a mio-de Topara a bawaura iefpeios do Impdvin brasileira, sendo yuc nessa cpova Codes tts am dos quais havia estatutos, winds continham escravos (Conrad, (978, pio}, No entanto, a partir desse perfodo comecum a ocurrer — fugas om massa que acabam por desorganizar o trabalho agefeola, forgands avs poucos os fazendeiros {hasicamente ox da regide de Oeste Pau- lista) a aceitarem a abolicfo como Cato inevitdvel ¢ até mesmo de sejivel para o estabelecimento da ordem © continuidade da producde. 0 proteste escrave 6 entdo “um geste antigo que assume i) nove Significado” (Costa, 1960, PAXXXVITI], Ou sejn, desde os primgires tempos da Colonia, existiam tensoes entre semliores @ es- cruvos, sendo yue agsassinatos, levantes, quilombos e¢ Fugas eram episddios constantes. No entanto, tais atos constitufram-se em pro testos isolados que se dirigiam aos representantes visiveis do sis temat o capatas ou o senhor. A partir do final da déeada de 1870, a rebefide adquire entdo ut novo significado, nu medida em que a instituicdo eseravecrata encontrava-se em declinio, Assim, conjuga das H ugdo abolictonista, a contestacdo c as fugas de cutivos ad quirem uma dimensdo diferente, Sendo que sfo varios os — proprieta rios de terra do Ooste Paulista que, visando garantir ac de du mao-de-obra, concedem a Liberdade a sens escravos mediante contratos de trabalho. Por outro lado, nas cidades, rtir du segunda metade do séewlo XIX, tomam miior importaneia as centrarias e irmandades omle se reuniam neyeos Live eseraves. Acibuagae dessas associa yoes, por ua vez, no era exclusivamente religioss, pois organiza yam caixas de auuxflie, de empréstimos © também juntas de alferria. ag fF também na década de 1870 que, coms ikingt do cixo doe ea fé ido Vale do Paratha pars o Oeste Paulista), 0 nevo grupo que as a modificar 9 cenarie politico do. tmpério. cende cconomicamente has A partir dessa dpoca, 0 movimento republicano toma mater fora ticas Ub. Pedro 11, eres slo mesmo Tempo que se acumMtavan as cr ; sos dois partidos da monarguia 1 Li cian também os quest ionanentos eral © conservador), que perdiam a pouca importancia que possutan (ji que n&o representavam mais nom os iateresses dos grupos demi fay © transformiram em miquinas sem conteride social). mates: © Assim, a imigom da Repibtice tomava velume c, aliada a cla, surgia uma série de iddias "liberais™ que Craziam — erfticas aos privilégios, as ligucdes entre lstade © Ipreja, 4 eseravidio ce & falta de igualdade. No entanto, mais uma ve © iguatdade © Li berdade pregadas estavam limitadus petos interesses dos cafciculte res, que permancciam ligados ao Partido Republicano. Assim, toman do palavras de Cruz Costa [1967, p.02), iratava-se mais uma vez de “reforcar conservandol, on sea, esvasiar parte das idétas Vibe rais de seu contetide original, mas adaptaundo-as As prativas © con- digdes Jocais (Costa, §967, pp. 109-19). Cerminaya entdo em [8s A eseravid , carvegandy comsige quase que simultancamente um Império, que cafa perante os esforvos conjuntos do Partido Republics no (que representava, por san vez,ox hovos ca cendentes cufeicultores da regido do Oeste Paulista ¢ do exército. A questdo estava entdo Langada: por um Indo, a Repo blica surgia realcanéo os valores “"fiberais' dia Gpoca e Fincada cm toda uma “imagem civilizatéria"; ©, ao mesmo tempo, com o final da no mercado uma grande massa gue agora tinha escraviddo era jogad (0) Paula Beiguelman (L977, p.49] dd um claro exenplo de como os partidos con~ servador ¢ liberal pouco dileriam — cm termos de idéias polfticas mais de Limitadas: "No processe geral do encanipharento do problema escrayista veri Teavaese que cada im dos passus ~ extingio do Urilico, libertagio dos mi ituros, aholicdo - @ sancionado por ambos ox partidos’ imperiais; sendo ui deles responsive! pela iniciat iva de inscrever a pedida em sua bandeira par tiddria © cabemo ao outro executasLa..." al direito @ cidadania (ja que, segundo a auitige Constituicdo de tet, Tndios © escravos nde eram considerades cidudios). Conv cntav pen Heron Pormicda dessa “iacde' brasileiea, Jf que nesse uinmente us slamenite ansoeiaden 2 sok estar pret conceitos de rien © nacde parce Come entender a questso da iguatdade, da cidadania ge da ‘eividisa- cdo" perante essa massa de ex-cscruvos! As Leorias © — representacdes parecen Plorescer neste sentido: av luo da cxplicugie — resipiosa lantes totalmente absolutal, o discurso cientifico procurara dar conta também da condigde negra, ja que a partiy deste momento esse elemento sera, na visdo da Epoea, antes de tudo “am objeto de cién cia" (conforme Silvio Romero, 1950). ye aleatirio oa fate de Nesse sontide, parece-nos que ui que virios autores demarquem oo final do século $EX como o perfode do surgimento do racism no Brasil. Segundo Thomas Skidmore, — por exenplo, antes do climax da aboligdo da escraviddo no brasil, a naior parte da elite povca atencdo dave ao problema da raga em si. Para esse autor, o pensamento racial teve seu auge no Brasil — en- tre 1890 ¢ 1920, quando as idéi adquirem foros de tegitimidade cienti de hierarquizagdo da racas eda superioridade da raca brane fica (Skidmore, 1970, pp. 12,035}. Roberto Damatta também gponta o final do século XIX como © perfode de Clorescimenty das teoriss raciais no Brasil. Para e so antropélogo, s elite intelectual brasileira absorveu as teorias detorministas européias tomando-as como doutrinas explicati tuturo sur badas para a realidade do pats. Nelas ohviamente nos gia come ineerto, js que a unige de yacis era totalmeate — condena da, Segundo ele, tais teorias possuTam pressupestos basicos que re lacionavam a biologia & historia, determinando © hierarquizando de forma ixa as diferentes posicdes ¢ condigdes de cada raca: "A ca da raga correspondia uma determinada tendéncia, bavendo na base des pas uma cquagio entre RAGA = CULTURA = NAGAO = TRIBO" — (DaMatta, 1981, p.172). Segundo Carlos Brando, por sua vez, surpem povos atribu Ge identificacde apds a libertagae dos escravos, quando desta © a etnia como forma de classificagiu. isto & “enquanto era avo, o estigma dessa identidade radical encobria ada ‘cor da pele! que por sua vez surge come atributo © atualizagdo de diferen cus quando a liberdade desfaz a primeira’ (Brandaio, L977, p.0?). Assim, como advento da ignatdade formal, comm passugem do eserave a ciduldo parecem surgir nowas concepsoes © esteredti = pos.7? Ness us cireunstancias elaboram-se discursos diferentes vis ais que em nome de uw to que Vera neecessdrio oriar mecanismus, sec Vesiguatdade natwrai permitissem a acomodagae dos negros a um sis s” Ulascubaly, 1979,p.77). tema assimétrico de posicdes © priviléy ce tipo de diseurse cientifico determinista que surge no final do sécule XIX, por sua vez protifers também oa imprensa ga época. Nesta, « afirmigio da inferioridade negra aparece nfo sé nos grandes debates como também n S pequenas secdes © nos diversos icu © cotidiana de anincios que compéem parte ba es jornais, sen lo que ndo foi por mero a $0, por exompio, que em 1888 Fuclidesda Cunha, intelectual que como vimes uplicava em suas andlises as teo rias deterministas curepéias da Gpoca, era acothido pela Province de Sio Paulo como colaborador da segio intitulada "Questao So- cial, 9) & necessfrio destacar, no entanto, que essa questao da “rormavdo de una nacido" seed retomada vom mais detathes na concla sfiny ¢ ref lexoes endo aqui a exposigde apenas de prévins. Por Tim, @ nocessirio ressaliay que trabalhamos ne inte vier de um perfode em que, ec no vercmos a seguir, @ prépria cidade (7) No séeulo XIN visi nea, Louis Aga no Rrasi] uma série de tedricos estrangeiros (Gobi Louis Couty © José ingeni¢ires) que, implicades — nas » claboran andlises sobre a "realidade brani (Nesse sentido, vide T, Skidmore, 1976, p.45-8). ~ teorias deterministas racia leira™. (8) Tuclides da Cunha foi um dos grande divulgadores das toorias cientificas em voga na Europa na Gpoca. fn seus artigos mo Estado de Sdo Paulo cituva Dar win, Spencer, lluxloy, Comte ©, em sua obra principal, Os Sertoes, analisou 2 episodio ue Canudos levamlo om conta dojs fatores detorminantes @ infiuencia do meio. Acreditava na idéia da superioridade natural branca, considerande a miscigenagio prejuxlicial ¢ @ mestico wn desequiit brado (Cunha, OS Sertées, pp. 90-71, de Sho Paulo comege a se comstituir enquanto “we trope le =, (9 a do café" © enquante centro polfticn ¢ social do ascendente gra po de cafeicultores do Oeste Paulista (towmindo neste sentide um ne vo de igue no interior do panorama nacional). Mais especificamente, é também o momento da constitui¢do de um nove tipo de jornulismo, talvez mais adaptado @s novas coniguragdes locais, mtis — prdéximo do que hoje conhecemes e denominanos come grande imprensa. Assim,antes de entrarmes propriamente na analise de 05. tudo, acreditamos ser necessirie — con so material especifico de e& textualizar e acterizar a cidade de Sie Panto cu meados do sécu Jo XIX ¢ hem como compreender ¢ dimensionar a importaacia da impren sa paulistana ne interior deste momenty especifice. P= SAO PAULO (SRCULG XPXD2 DU“ BERGO ESTUDANTE! A MRACTONALLDALE URBANA” Sao Paulo, em meados do século XIX, pouco tinha a ver com a wetrépole de hoje. Na verdade, neste sécule em que o perfodo du reo do bandeirantismo havia acabado sem deixar opulencia, Sio Pau to nfo passava ainda de uma pequena aldeia colonial. Cerca de tré sGculos desde a sua fundache, a cidade pouco se modi ficara esten dendo-se pouco além dos estreitos limites assinalades pelo Taman duate? ¢ Anhaga A €rea urbana central da cidade era fornada pela Conven to de Sdo Bento ao Campo da Porca tuais tarde chamide de Liberda ded, de um lade, ¢ @ Lapeia dos ATLitos, présina ao comitério do mesmo nome, a Chacara des Ingleses, de antre. Ae redor desse peqie. ho nicleo de ruas escuras e esburacadas, al lernavam-se casebres wais pobres, cercados por mttagais, que eram onde os eserayos fugi dos normalmente se escondiam (Dias, 1984, p.15). so utilizada por Lraani da Silva Bruno. a4 0 cfrculo da pequena cidade fechava-se com chdcaras, que mais tarde se transformarianm nos bairros des Campos Hitseos, Havin Retire e adjaceneias. Nayuele pacaty local, plantava-se cha nu via Jute do morre (hoje Saray de Itapetiningad, © colhiamsc mages de aba, onde também se cagavam tatus agriao no atual parque do Ark 78 eo fapartos (Preitas, ppethe Roa parte da cidade, principataente na contlucucia de Pamanduatet cam o Tieté, continunya ata Ine inaproveitada. A sua pequena populagde de no wixino 20 mil pessoas cu #40, durmia ce Jo, j8 que as ruas nfo eram ituninadas, © vivia em ua tock] de pow co movimento ¢ coméreio, A peyuens agilagia que pederia ser senti da cra advinda da passagem das tropas que des jam carregadas em ai recdo a Santos ow a alguma fazenda, ou entao do movimento de tro pas locais que abasteciam Santos de gado ¢ farinha (Silva, 1984,p. $ 1. Nao havia “elegancia’ nos 4 817 prédios tem (#70) ¢ as casas cram feitas de taipa e branqucadas com tabatinga, 0 que tor niva trabalhosa a conservagio das moradias ¢ levava & presenga cons tante de um "telheire' profissional (Silva, (984, p.30). Segundo a visdo de alguns viajantes (Saint-Hilaire, por exemplod, a cidade parecia de barro, ja que com esse material cobrias gadas ¢ igreja Os costumes por sua veg eram sébrios: as dams vestism se de preto, tratavam-se polidamente par "yds", © us procissdes e romarias eram uma constante. Nao havia muitos medicos naquela Gpeca, mas cm compe s gio nde Faltavam os farmacéutices c curanleiros, sendo que a poli tica da terra e os jogos cram realizados nas préprias farmacias. dm contrapartida, a educagdo era feita por prolessores régios, sendo que quem quisesse seguir os extudos superiores tinha gue seguir pa Go) 4 ra Coimbra. sa situacdo permancceu inalterada até 1827, quan (18) Theorodo Simpaio, pole 0 Paulo no sCculo XIN", Suplene do da instaliede da Faculdade de Biretto de Sao laute, de acerdy de agosto [Ssantos, LON, pedi. A pro come Beereto liperial de posta de fundagde de uma facutdade com sede om San Panto, no enran to irias v » foi por v os impugnads, senlo que os mais diversos me rivos cram entdo destacados nos debates: a pos gho geogréfica da cidade {pouco avessivel aos estudantes do Norte do lmpériot; a 6s cassez de recursos, jd que faltavam casas pura os alunos recem- euressos alugarem; a dificuldade dos caminhos da “horrfivel Serra do Cubatdo"; a alogada ma pron ncia ou dialeto do paulista, que pe deris viciar a "fal dos moces" que fossem estudar em Sido Paulose, stica em se aquinhoar sempre esta cidade, methor finalmente, a inju do que outras provincias do lmpérto [vampré, 1924, p.19), Porém, ao final desse embate todo, acabam sendo escolhi sedes: uma em das du: o Paulo c¢ outra em Olinda. A preferéncia pela cidade pawlista acabou prevalecendo devide a imimeros Patores favoraveis, tais como: a proximidade com a cidade de Santos, 0 bai xo custo de vida, o ciima sauddvel ¢ moderado, © bom abastecimento de géneros de primeira necessidade, © por ser um local que concen trava os estudantes das provincias do Sul e do interior de Minas (Olinda, por atender aos cstudantes das provincias do Norte). ua vez, possufa caracterfsticas semelhantes ce podia Assim, loge que se aprovou o decreto que determinava a eriagdo de dois curses jurfdicos no Brasil, tanto Sdo Paulo como Olinda voltaram 1s vistas para a formicio do pessoal que iria di rigir instituigées, ¢ para possiveis edificios {sendo que neste sentido a atengHo centrou-se principalmente nos grandes conventos pouce habitades). fn Sao Panto oe adificte escothide, devide a seu taminho e condigdo, foi o Convento de $40 Francisco, construide em 1024, dlos pelo governe a abandonur — hoa sendo que os frades foram obrig parte do prédio (Rezende, 1977, p.11). Ao A partir de entdo, frades ce estudantes si se encontravam quando desciam & igreja, J& que até as escadas eram separadas. Apesar dos poucos relatos a que se tem acesso, 20 que rece as relagdes entre franciscanos ea academia mio cra das mais Neordatas". Assim, por exemplo, conta-se que as primetros alunos Cinham que entrar na faculdule pela igreja, porque a extensa pre pricdade agefeols des Prades era demarcids por dn wrpe que passage a. Por oulro tado, exisliam controversias com bem em Frente a esce os fransciscunes sobre o badalar do sino, que estava a servico tan educacionais: 0 sincire, so que to da igreja como das stividades parece, entusiasmava-se tanto com a profissdo que acabava — muitas sulas cram constantemente vores por aborrecer os professeres cujas interrompidas (Nulles, 1984, p-21). © cargo de diretor da facuidade coube por Lim a José Arouche de Toledo Rendon, general brasileiro, abastado, de 71 anos. 1 entender mais de armas do Segundo Almeida Nogueira, Rendon parce que de letras (ules, 1984, p.20), pols doutorara-se cm Jeis en “abracara a curred mili fio (Mulles, 1984, Coimbra (fora advogado ¢ juiz) © depoi de sua contrata tar", a que se dedicava na época pelo). Nesmo contanto com cortos problemas administratives © po liticos, a faculdade foi inagurada no dia 18 de marco de 1928, sen do que a partir de entde o wovimeato das diferentes turmus que en té en travan a cada ano foi modificande totaimente o ambiente da tae tao cala cidade. Segundo Nelson Werneck Sodré, foi a seademia que princi, rrancou a capital da provincia de , de 1828 até 1870, Sao cu sono colonial" (Se palmente dré, 1968, p.115). Daf em diante, eu so; Paulo foi sobretudo um “burgo de estudantes™ (Sruno, 1954). com a nova escola de Direite, ulteravam-se entdo as es a filhos do: truturas eos costumes: os estudantes, na sua maior grandes cafeicuttores do Centro-Sul, ou de agriculteres do Norte do pats, ac mesmo tempo que cram introduzidos nas obras dos gran- des pensadores da época ¢ iniciavam-se na poittica local, comeciyaan u alterar o pacato cotidiano da aldeia que era Sie Paulo. Divididos em grupos, 08 estudantes moravan en cubfculos no mosteire ou derrawavan-se por todos os bairres da cidade, encon trando acomodagdes em casas partioulares (que chaumavan de repibl i ca tAlmeida, 1972). Nessa época também eran realigados os primed ros flertes nos "passeios" da cidade, © as discussdes e — rouniées sociais comecuvam a ser temperadas com bebidas. Pe tabonieirae “entie tasmo' estiniantich coulanroaya a cidade que, quando os estudantes deixavam o lecal em {Grias, die sia-se que a provincia recafa cm sua habitual senotéacia — Cruno, 1954, p.459), ja que muitos daqueles rapazes pertencentes a fami lias ricas do Jmpério ¢ contribuindo com dinheiro gratide para o mo yimento do comércio local retornayam nesses perfodos a seus locais de origem (Rezende, 1977, p.67h- No entanto, ndo $6 0 movimento estadantil foi o reponsd- vel pelas grandes jodificucoes que ocorreriam cm Sio Paulo: desde década de 1850, © principalmente a partir de 1870, Sdo Paulo en- tra em uma nova fase, ja que se transforma em uma espécie de "een tro” do coméreio cafeeiro, ou entao, nos termos de Ernani do S$. bruno, na “uctrépote do cafe. Esto cy com a continue acelerada decadéncia das plantagdes do Vale do Paratha o a asconsdo parateta do deste Paulista, Sdo Pauly comceaya a conhecer a rigucza eo bri Iho do café. A capital da provincia beneficiava-se entio com as mu dangas econémicas que ocorriam 09 pais © ia aos poucos se transfor nando na “sede” principal desse lucrativo tipo de produgdo agrico ta Assim, em questdo de dé udas, as duas grandes regides de café alteravam radicalmente sua pesicao cm relagdo & produgio: BR % ANG ARROKAS DE 1854] ¥. Yaratba 2 787 039 O. Paulista io OT 1886 | ¥. Parafba 2.074 267 O. Paulista 8 S00 M65 ROO — ins A partir desse momento ¢ como constante predominio da regido do Oeste Paulista, a cidade aos poucos Fei perdende seu cit rater secunddério em termos de economia nacional ¢ trans formando-se com unm centro dindmico: no @itime quartel do século, Sio Paulo pas sava de décino para o segundo lugar em tamanho no pats. Junto com o café, vinham também outras modificaydes de relevo. Segundo Janice Theodore da Silva, a partir de infcios do século XIX passou-se a organizar ¢ faverecer construgées que des sem a Sa Paulo um perfit nitidamente urbano (Silva, 1984, p.174). Padronizaram-se cntdo critérios para a constragio de prédios, co! partimentou-se (através de ums nova politica de doacdo de terras}a cidade, e separaran-se com mior rigides as dreas piblicas das pri, vadas, 0 que favorecen também uma melhor definigde das proprieda ULE) f amportante destacar a clevacsio em termes de produgdo do café da provin cia de Sio Paulo. eal portactio pete Porto de Santos (90/88) PRODUCAG EXPORT. 4 SORRE TO ARROBAS ARROBAS TAL DA ER PORIACKO 1849-50 1,34 mi thoes - 1s 1850-60 3,62 milhées 1,48 milhées: als 1869-70 4517 mithdes - 555 1870-71 - 2,27 milhdes ~ 1879-80 6,59 mi lhGes 4,22 mi thoes 64% 5889-90 10,680 mi thoes 8,17 wi lldes, 70% CONTE: Daniel FE. levi, AH Prado (Gultura $0). p.59. ay es particulares. fm meades desse séeulo, perlinte, was poucas " cidade representaria a negaedo do rural, transformulo-se em mone mento dessa nova urhanidade" (Silva, 1984, p. 138). Segundo essa mes ma autora ainda, essa recente polftica urbana estava embasada em toda uma nova estrutura na qual o lstado upresentava-se como legt timo defensor dos interesses ptiblicos, 9 tinico capar de estahele cer critérios “ohjetives" para solucionar os problemas "reais" da rcodetividadet. Assim, por um lade, ¢ a partir da ddeada de 87) qua cs sa nova aristocracia do café passa a embelezur a cidade: — lovanta verdadeiros paldcios petos subdrhbios da cidade (como a prone ra Do na Veridiana Prado}, instal lojas de lecidos, destilarias, chara turias, lojas de crédito ¢ escalas, trazendo um pouco de tuxo a esse grupo que ascendia economicamente com muita rapidez. Ne tido © de acorde com Gilberto Preyre, essa nova aristocracia tag cio curopéia através bém buscava se aproximar dos luxos du civil -se vieldes por pianos ingle los habitos © costumes: substitul ses, modinhas pela misica francesa, o rapé da Bahia ou Rio de Ja neiro pele charuto Manilha ou Jlavana, como também os quitutes ca seiros erm substitufdes por doces fis vezes importados da Turopa, ¢ conteitarias (Freyre, 1951, p.39s). adquirides em lusnosa Porém, nem s6 de Juxo vivia essa nova aristocracia do ca #€, mesmo porque & também ny ste momento que a "cieneia © a "racie na tidade™ silo incorperadas & agio do Estado. Com eta viriam nfo sé as melhorias em si (if que, por exemplo, a ifhaminagae publica tra Gicional feita a base de azeite, © mis tarde a querosenc, @ final mente substitulda por um sistema de ifuminacdo a gis, sendo que © Co. instala cerea de O00 lampides pela cidade), como também os gis novos "técnicos", “eientistus" ou especialista Janice Sitva nos Cala nesse sentido primeiramente da Fi gura do engenheiro, que, segundo ela, através do dominio da téeni ca, sera utilizado como “elemento neutro™ capaz de fornecer erité rios “objetivos" para a urbanizagdo da cidade (Silva, 1984, p.154). bt Mas sea Cigura do ongenheiro é caracterfstics da "racio nalidade do sGculo XIX", els ado é dinica, Uu soja, desde infcios desse século, segundo Jurandir Freire Costa, a medicina deu um Tar go passo no sentido de romper com a tutela juridteo-admiaistrativa a que estava sujeita. liste progresso fex-se atrivés da "hiytene™, que incorporou a cidade ¢ a populacde ao campo de saber medico (Cos, ta, 1979, pe28). Assim, Vadministrando antigas téenicus de submis sao, formulando novos concvitos clentificus, criando taticas de cyou harwoniosamente Giteresses da cor intervencdo, a higienc cong poragie médica © objetives dessa clile agrdria™ (Costa, 1979, pes Ver também Machiade, L770. 0 conceite-chave, neste sentido, foi o de "sutubridade", questdo essa que se ligava de imediato sos interesses de um pais constantemente grassado por epidemias, febres ou focos de infec= oso. Entre os trunfos dessa nova “supertoridade médica”, um dos mais importantes referiu-se as técnicas de higienizagdo das. populagées. A acdicina apossava-se entao do espace urhane interie- rindo em locais piiblicos e privados: matos, pintanos, rios, almeri » quartéis, escolas, prostibulos, jos, esgotos, dgua, ar, cemitério s (Costa, 1979, p.s0). fabricas, matadoures e c coulo SUX Meriavam' de Pato Portanto, os higienistas do tet, eposte ae “corpa deentio da iadivi= o corpo saudivel, ¢ rob duo colonial” (Costa, 1979, p.13). Mas se esse movimento higieniza va, so mesmo tempo disciplinarizava, hierarquizava © levava & sub missio. Nessa gpoca om que a Mciéne Uv! passa a ccupar entao 0 trono do saber, comanda também mais de perto uma série de submis des: a do negro eseravo ou recém-liberte, a da mulher sem dired tos e a da miséria que nfo pode ocupar nenhum lugar: tem que ficar margem, Ou soja, enquanto a clite voltava-se basicamente para a exportacdo, todo o espetdculo da pobrev ¢ do trabalho parece — que deveria ser incessantemente isolado, marginulizado e disciplinado. Assim, #0 mesmo tempo em que a cidade cra dotada Com a contratacio de servigos de cagenheiros inglesess de dyua c esgoto em 1874, iniciavan-se também cumpanhas de vacinagdo, visando erradd car os diferentes tipos de moléstins, coma varfola, célera ete., que afetavam Largamente a populsigde. No Taterionr desse processe, wirias inst eturcaes yao som do reestruturadas no sentido de “separar oa is rapidamente pos dbcridit sfvel os Moontes! de ceavivio com a populagas urbanay a de 1870, 0 hospital da cidade é reformada, a cadeia em [84% & remo delada ¢ em $897 surgia o minicdmio de Franco da Kocha, experion- modelo que, #0 mesmo tempo em que murginalizava © separava os cia “joucos" em focais distantes do centro, os submetin fi idcologia do trabalho (j& que o mantcémio « principio era auto-suficiente — com relacdo & sua alimentagdo). Logo, a que a capital crescia, cada vez mais a so cicdade se dividia entre sdas e doentes, pois o mesmo movimento que Cracta os amplos patacetes des proprictarios de café para Site Pau lo, era o que expulsava para os limites periféricos da cidade os doentes e loucos. Neste sentido, Maria Odila Leite da Sitva Dias demonstra ode urba também como o process nizaedo da cidade provecou — tensio permanente entre “Livadeiras e@ satide publica", senso que as postu ras municipais reiteravam proibigdes de lavar em chafarizes pibli- cos Uias, 1984, p.176). & autora acrescenta que, como tode o co mércio ambulante até entdo era feito pelas mulheres pobres, cati- vas ou ndo, ele foi aos poucos “recusndo das ruas do contre da ch dade para oS novos limites da pobreza urbana" (Dias, 1984, p.185)- Portanto, todo esse luxo e riqueza propiciada pelo café nio beneficiava todos os habitantes, ao contrario, a nova ciite, que agora deixava suas fazendas pare viver ¢ desfrutar do conforto fo pobre do lo- da cidade, o fazia sempre om detrimento da popula uutava dessas novas “methorias™. cal, que pouco dest As medidas que se tomavam visavam aC@ controlar o asst chanade “erescimento desgovernado" da cidaue, como indicava a "ne vo cédigo de posturas" que safu em Isho, Atraves desse codigo, de os de flores nao poderian mais terminava-se per exemplo que os ve ficar sob as janelas, os cavalos ndo deveriam galopar pelas ruas leaeeto a cavalaria © em casos urgentes), as mascaradis — pablicas 36 poderiam se exibir nos carnmavais, as tubernas devertai fochar is 10 horas, aléw de criae “ourtnadores publicos, que serviam co rantia de que ninguém poderia mats uriner nas no uma especie de g ruas e pracas da cidade. Além de todas essas medidas, c¢ visando senapre a me Thor articulagdo e mesmo “apresentacio” da produgéo cufecira (e nom tan to o bem-estar social geral), todo um sistema de transporte cra wontado, tanto no interior da cidade como principa Assim, em 1872, a cidade de novos bondes de trugdo animal. A primeira linha ligava a 864 sta Incnte ao Longo de toda a province Jo Paulo ganheva gio da luz, sendo que ja em 1887 existiam sete linhus com 25 guild netros, 319 aniuais ¢ 43 carres transportando um mi lhe © meio de pessoas por ano (Morse, 1970). No entanto, a maior preocupagdo concentrava-se na ques- tio do escoamento do café de interior da provincis até o porto de Santos, jG que o antigo transporte feito em Tombo de burro tornavg “se cada vez mais anticeondmico, Por isso mesmo, como — excedente de capital obtido com o final do trifico de eseravos em 1850, os Em cm es grandes proprietarios paulistas passarsan a investiy ta tradas de ferro. As ferrovias muitiplicaram-se a partir de entio: ilém da linha Santos-Jundiaf, ouwtras surgiram, como a Cia.Paultsta (Jundiaf/Rio Claro/ Capital, 1872); Cia. Ituana (trajete du diat/ 1879); Cia. Sorecabuna (Sao Paulo a Soroc Itn, 1873 © Piracical ba, 1875); Tiet@ (1883); Cia. Mogiana (Campinas a Mogi-Mirim); AD paro (1875); Ribeirdo Preto (1883); Pocos de Caldas (1886) © Gia. Sio Paulo/Rio de Janciro (mais tarde Central do Brasiiy. 112) (12) Morse, 1970, p. 234. E interessante notyr ainda a catenss provincia dé Sf Punto no decorrer de diferentes anos 1870 = 138 ha 1875 = 055. haw 1888 - 1 212 kn JONTE: Morse, 1970, p.229. dos trilhos ma fe Fenn = 2 425 ku As estradas de ferro contavin sempre como capitul advin do da produgdo de café para « sua consirugioe ¢ ampliagio, tanto fazendus que muitas vezes suas linhas passavam diretsmente peles dos proprictarios emprecndedores ¢ interessados. fom exemplo nesse sentide & @ de Antonio Prado (futuro proprictirio do jernad Cor- reio Paulistanol, que Pinaneiow a Cia. Pandista, © que por isse mesmo providenciow para que um rimo de sua Linki fosse const ruide ligands Firassununga & sua fazenda (hevi, 1240, pp. 130, 157). alten de eda do. Iiysas novas ferrevias, iyi lisarem a exper café, deram uma feigdo diferente 4 cidade de Sdo Paulo, jd que es ta passou a constituir-se em uma espécie de entroncamento das di yersas linhas. Além disso, coma facilidude do transporte, também os fazendeiros e suas familias passaran « freqtlentur com maior as sidnidade a cidade, sendo gue muitos deles inchusive — ingressaran nesse momento em atividades econdmicas urbana Aos poucos, também a industrializacdo, que contava em bow parte com o capital da agricultura, impetia Sao Palo a um pas tiam 94 ¢s pel econémico ¢ pelftico diferente. Assim, em 1901 exi tabelecimentos relacionades, sendo que destes 41 foram abertes de i870 a 1890, entre fabricas de fiaedo © tecelagem, coramicus, t bricas de méveis e artefatos de madeira, chapGus, fésforos © oun tros. Por outro lade, 0 préprio crescimento da populacde urba na refletia por sua vez a expansdo comercial que apontdvamos, sen do que neste sentido os niimeros em si sie muito relevantes: Isso - 12 250 1855 - 15 471 1872 - 23 243 Is75 - 25 000 1sso - 44 050 Is90 - of 9540 1895 - 192 409 F impossfeel entender esses mineros, porém, sem pensar nes na populacio nigrante que comecava a afluir para o brasil de vide ao financiamento direto dos cafeicultores do Oeste Paulista (que recorriam ao trabathador estrangeiro devido ao escassamento da mao-de-obra escrava, que se acentuara desde o final do triafice, om 1850). No cntante, devido aos intimeros motives que levaram av Cracasso do sistema de parceria, ¢ 4 pessima situacaa de vida nas fasendas, oS imigrantes pouce se defiveram nebis e, ae contririo, das yrandes propriedades. $1 qs cida- am a sain em mas comeca des, por sua vec, funcfonavam como ume espéeic de fd, sende — que nelas essa populacgao desempenhaya as mais diferentes ecupagées: os alendes realizavam servicos de pedreiros, os portugueses de tari, os italianos es servicos de mascates ¢, por fim, os yos © ex-escravos cohriam ax ocupacdes pouco desejadas, como Jota de lixo. Neste sentido, Maria Odilm Lette da Silva Dias, que analisou especificamente o papel da mulher pobre em Sdo Paulo ne te perfode, acrescenta que "un forte precenceito envolvia o desem penho de atividades consideradas mais aviltantes como: a disposi cho do Lixo, o carregamento de dgua das fontes, servicos de favan de venda, scrvigos ambulante , cozinhe, caixviros deri etc., que na spaca cram Fungdes geraimente realizadas por nepras e mulatas = Homens ¢ mulheres de cor, dives ou ainda cutives, cum forra priam por sua ves nas cidades as mais diferentes Cungdes, em espe cial as preterids fio nativa ou inigrante. pelo resto da popul A participacdo negra em Sao Paulo tornavu-se particular mente significativa a partir do momento em que a regido se trans formava no maior centro produtor de dividindo com os imigran tes 0 trabalho bisico da produ Desde entdo, os nimeros neste sentido vide Buarque de Holanda, Sérgio - Prefa- Yenoria ake um no Brasil”, (850.'S.P. Ixusp, 1980. Naiores informacoes jo in:Mawats. ‘Ty clo in tenderao a se inverter pois Sdo Paulo passaria de uma das provin chas com menor nimero de cativos a uma regide de destaque neste sep Lido. Podemos veriticar entao que, no recenscanente felt em 1872 jo Paulo ji aparecia como a terceira provincia em termes de popu Tago Meaptiva't: 18) Minas Gerais - 29) Rie de Janeiro - SM) Sie Pahoa: 12) Uspirito Sante = 22 669 822 397 FONTE: Taunay, 1939, p.450. © que chama a atenedo ainda & que as quatre — provinctas acima destacadas correspondom também as quatro principais regises de predugdo de afé (sendo que ag provincias agueureiras, como Ba hia, Pernambuco, Maranhie, Alagoas, Sergipe, Puratba ce Rio Grande do Norte, juntas, contarian s6 com 424 452 escravos), Na provincia de Sdo Paulo, ainda em 1872, populacio escrava cor saindo-se espondia a 192 do totwl da populagde, sobre o seu elevado nimero (principslmente se pensarmos que a maior par : ° itd) te cra proveniente do tréfico internes. Portanto, a cidade ja na de@cada de 1870 chamava a aten= cho devido 4 mistura c 4 3 diferentes origens de sua populacio le cal. A clevacdo de sua populacio, por sua vez, como yimos, se fez a partir do trafico interno de escravos (que safam das lavouras de cadentes de cana-de-acticar ¢ cram vendidos pura os grandes propric Ud) Taunay, 1939, p. 450. Total da populicio servit em Sio Paulo: 1873 - 174 oo! 1374 - 169 Yod 1SSD - 168 950 1887 - 107 829 . Tiries de café), © Camben devide ao grande inecutive i entrada ab poputacao imigrante: Populacdo Imiyrante em Siu Paulo LS7L - TBR4 Lovsy [R85 6 5m) Isso 9 536 IS8? : 0 Sa the IS8S 92 ORD i889 > 27 OS 1s90 ; 28 2gt 1s9t : 108 730 1970, p.25o. Esse nove centro de stividade era tauhem o paleo de ne vas e polémic jdéias. De um lado, o positivismo cra nessa époea eo finice conjunte formal de principies reconhecidos &, por outro, o evelucionisme social de Spencer penetrava de manvira forte, — como que justificando toda a estrutura social vigeate. Além dis O5 partir da década de 1870/89 0 abolicionismo toma forea, sendo que imimeras elubes, sociodades ¢ jornais como a Redempedo, que anali sarenos a seguir), vao sendo erindos © passam a difundir esse novo ideal. Segundo Francisco de Assis Barbosa, "a confeitaria ec a acalemia simbolicayam ontée @ nosse panorama". bo um lado, a consa aragio da anedots, do outro, o apogeu do saber ¢ de cenvenciona— lism". A cidade era povoada cntio pelos "doutores™, de que tanto ber c com a ciéneia em nus fala hima Barreto,quc, cientes de seu sins mios, desfifavam pela cidade com suas casacas (Barreto, 1280, pp. 8-86), ov entdo freqtiontavan as famosas livrarias come a Harroux que, repletas de obras estraupeiras, pareciam querer repre sentar em si @ “cultura c a civilizacao™. ta-se sentir waa so neste A penetracio estrangeira f setor, Ou seja, ao Findar do sécule XIX a cidade organiznva-se apenas pela intervyeucdo do Fstado. Companbias privadas, obtende a coneess fo do Estado, passa sistematizur prioritariamente a 5 Come tambeu contro. distrifuicde de dgua, sv coleta de esgotos etc lariam os transportes coletivos da cidade. Hssas companhias tra ctr: ngeire que, 6 clare, era an por sua vez a marca do capital ¢ aqui investide visando um tucro bastante imediato iSilva, 1984, p. Too). As y Pante Tramway, hight and fener im, companhias cane The con, Cia. Agua e Lun, Pucci & Micheli, Sdo Paulo Rai tway Company, Companhia City de Desenvolyinento, 80 mesmo Tempo que int roduy iam novos Componentes para a ordenagay de "neve" espace urbane represen tau também a gonstante compartimenlagdo secial ce funcional dentro da urbe. Com isso, & chepada dos anos 1890, se por um lado a vida ge perdia muite de sua antiga aparéncia colonial, trans formaundo-se em um centro dindmico © basico para a economia de pais (principal- mente em 1889, com a instalacéo do regime republicune © a concomi- tunte mudanca no cixo ccondmico, politico © geogrifico do pats ),por outro, ¢ — juntamente coma “racionalizagde urbana" © o brilhodas melhorias, destacavam-se a desigualdade crescemte, a pobreza eo a a de submissio de boa parte da populagio, que pouce absorv © con junte de novas introdugées. Como reflexo, mas Camber come produgda de valores ¢ pos turas, a imprensa paulists cumprira neste local um papel de grande importancia. Os jornais acompanhardy inclusive o creseimento da ci dade, pois, tomando as palavras de Nelson Worneck Sodré, "a passa gom do século assinala no Brasil a transicdo da pequena i grande de estrutura simples, as folhas tipo imprensa. Os pequenos jornais graficas, cede lugar entdo A imprensa jornalistica, com estrutu ras especificas e dotadas de equipamentos grificos necessdrios 2 SJ. sua funcdo" (Sodré, 1968, p- 58 Nessa trajetoria, como veromos, os periodicon vow pro prios jormalistas cio ywihando cada ver mais destaque ate counts tufrem-se (nos termos irénicas de Lima Barretod, na “Onlpoteate prensa, 9 quarts poder tera da Com Citar Ciierete, Tinh, pe LISh. A prépria impren se transtbormces cael ves mats terse Meanie nhese aparelho de aparicgdes © eelipses, vspceie complicada de ti blado de migica © espetho de prestidipitader, pravecamle i Lusues fantasmagéricas, ressurgimentos, glorific#coes ¢ upoleoses vom pe dacinhos de chumbo, uma wiguing © a ostapides das muliiddes Carre to, 1980, p11). © jornal era entio aquele Famoso escultor ou “fabricador de Bale som, deveriam ser obrigutoriamente inventados (barreto, 1980, p. de boatos", nos termo. ca c, pois, caso os futos nfio existis L141. Por isso mesmo o jornatista, mas pulavras do triste persons gem de Lima Barreto, o escrivie Isafas Caminha, ern sempre um ho mem importante ¢ respeitade até mesmo pela poifeia, pols ele th nha o poder de “tudo publicar ¢ a todos ferir (urreto, 1989, p. sh. Logo, nado & fate acidental, mus antes digno de neta, vo no descreve Atfredo Moreira Pinte (1948, p. 7201, que na principal rua de Sdo Paulo, a 15 de rovembro "onde trafegam bondes e Lausto sos trens, ¢ onde esto Jocalisadas as sedes de London and River Plate Bank, do Banco AlemHo, do Ulub Internacional, do Jockey Club, da importante livraria Garroux ..." estejam funcionando tambem as redacées dos principais jornuis paulistanos: o Correio Paulistano,o tado de decane da imprensa paulista, © O Es Anal aremos as gquir, entio, o que foi a impreasa em She Paulo desde seus primdrdios até o perfodo em que esta pesquisa se detém (1900). L demonstra o quio recente ¢ a pratica do jornalisme wo Brasil ¢ a te trajeto, em nosso entender, é relevante pois dimensdo de sua Torgn no final do século XIX © infeie do secula xX.

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