OPERADORES ARGUMENTATIVOS:
ANÁLISE SEMÂNTICA DE PRODUÇÕES TEXTUAIS EM PLE
JOÃO PESSOA
JUNHO DE 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
LICENCIATURA PLENA EM LETRAS
HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGESA
OPERADORES ARGUMENTATIVOS:
ANÁLISE SEMÂNTICA DE PRODUÇÕES TEXTUAIS EM PLE
JOÃO PESSOA
JUNHO DE 2011
Catalogação da Publicação na Fonte.
Universidade Federal da Paraíba.
Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA)
Santos, Miraneide Alves Rodrigues dos.
OPERADORES ARGUMENTATIVOS:
ANÁLISE SEMÂNTICA DE PRODUÇÕES TEXTUAIS EM PLE
Banca examinadora
A Deus por ter me dado forças e iluminado o meu caminho para que eu pudesse
concluir mais uma etapa da minha vida.
Aos meus pais Ednaldo e Maria Cleonice por todo amor e dedicação que sempre
tiveram comigo, pois sem eles não teria concluído essa etapa da minha vida. A vocês meu
eterno agradecimento pelos momentos em que sempre estiveram ao meu lado, me apoiando e
me fazendo acreditar que nada é impossível.
As minhas irmãs Miranice e em especial Mirinalda, estudante de Pedagogia, esta
que me acompanhou nos momentos mais difíceis e presenciou toda a minha ansiedade e
dificuldades que passei, pelo carinho e atenção que sempre tiveram comigo.
Aos amigos que fiz durante o curso, por todos os momentos que passamos durante
esses quatro anos e meio, meu especial agradecimento. Sem vocês essa trajetória não seria tão
prazerosa.
A minha orientadora, professora Mônica Mano Trindade Ferraz, pelo ensinamento
e dedicação no auxilio à concretização dessa monografia.
A todos os professores do curso de Letras, pela paciência, dedicação e
ensinamentos disponibilizados nas aulas, cada um de forma especial e única de ensinar que
contribuiu para a para minha formação profissional.
Por fim, gostaria de agradecer aos meus amigos e familiares, pelo carinho e pela
compreensão nos momentos em que a dedicação aos estudos foi exclusiva, a todos que
contribuíram direta ou indiretamente para que esse trabalho fosse realizado meus sinceros
AGRADECIMENTOS.
RESUMO
Este trabalho de conclusão de curso tem por objetivo fazer uma análise de textos produzidos
por alunos do curso de Língua Portuguesa como Língua Estrangeira (doravante PLE),
verificando os recursos sintático-semânticos e pragmáticos da língua como componentes
essenciais à argumentação. Trata-se de um corpus delimitado de produções de artigos de
opinião, cartas argumentativas e resenhas críticas, de autoria dos alunos dos níveis
intermediário e avançado do curso de PLE, ofertados pelo Programa Linguístico-cultural para
Estudantes Internacionais (PLEI). Para a elaboração deste trabalho foi utilizada a pesquisa de
campo que consistiu na prática como docente de PLE. A base teórica utilizada para o estudo
dos gêneros textuais se sustenta nas ideias de Marcuschi e quanto à concepção de texto e de
argumentação parte-se de Koch. Apresenta-se, em sequência, uma explanação sobre o ensino
de PLE, os conceitos básicos à prática de produção escrita a partir da perspectiva dos gêneros
textuais e, por último, a análise de trechos que exemplificam como o conhecimento de
operadores argumentativos favorece à argumentatividade do texto.
Este trabajo de conclusión tiene como objetivo hacer un análisis de textos producidos por
alumnos del curso de Lengua Portuguesa como Lengua Extranjera (ahora llamaremos PLE),
verificando los recursos sintáctico-semánticos y pragmáticos de la lengua como componentes
esenciales a la argumentación. Se trata de un corpus delimitado de producciones de artículos
de opinión, cartas argumentativas y reseñas críticas, de autoría de los alumnos de los niveles
intermediario y avanzado del curso de PLE, ofertados por el Programa Lingüístico-cultural
para Estudiantes Internacionales (PLEI). Para la elaboración de este trabajo fue utilizada la
investigación de campo que consistió en la práctica como docente de PLE. La base teórica
utilizada para el estudio de los géneros textuales se sustenta en las ideas de Marcuschi
mientras que la concepción de texto y de argumentación se parte de Koch. Se presenta en
secuencia, una explanación sobre la enseñanza de PLE, los conceptos básicos a la práctica de
la producción escrita a partir de la perspectiva de los géneros textuales y, por último, el
análisis de fragmentos que ejemplifican como el conocimiento de operadores argumentativos
favorece a la argumentatividad del texto.
Introdução ........................................................................................................................... 9
Conclusão ................................................................................................................................28
Referências ......................................................................................................................... 29
Anexos ................................................................................................................................ 30
Anexo A - Textos do nível Intermediário ............................................................................. 31
Anexo B - Textos do nível Avançado ................................................................................... 37
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Introdução
O presente trabalho tem como tema a produção escrita de textos argumentativos nas
aulas de Português como língua estrangeira (doravante PLE). O objetivo é apresentar uma
análise de textos de gêneros argumentativos – artigo de opinião, carta argumentativa e resenha
crítica – produzidos nas aulas de PLE, feitos por estudantes de nível intermediário e
avançado, verificando o uso dos operadores argumentativos nos textos, como recursos
linguísticos favoráveis à argumentação.
Ao levantar algumas hipóteses para tentar compreender a dificuldade mostrada por
muitos alunos estrangeiros ao produzirem textos argumentativos, surgiu a ideia deste tema, a
partir de uma pesquisa realizada no Programa Linguístico-Cultural para Estudantes
Internacionais (PLEI), do qual participei como bolsista PROBEX nos períodos de 2010.1 e
2010.2.
A experiência como docente em um curso de PLE foi inovadora, pois foi lançado um
novo olhar para o ensino de língua materna, uma vez que a metodologia adotada para o ensino
de Português como língua materna não se adequa ao ensino desta mesma língua, quando o
foco é o ensino dela como língua estrangeira. O trabalho em sala de aula se pauta na
perspectiva da abordagem comunicativa, por isso desenvolvemos atividades que buscavam
cumprir com essa proposta.
Vale ainda ressaltar que, além de adquirirmos experiência como docente, ao
ministrarmos os cursos de PLE, temos a oportunidade de realizar pesquisa em uma nova área,
não prevista na grade curricular, o que contribui para a formação em Licenciatura.
Sabemos da importância de trabalhar na sala de aula com a perspectiva dos gêneros
textuais e com produções de textos, visando ao desenvolvimento das quatro habilidades de
comunicação: fala, audição, escrita e leitura. Nesse processo de aprendizado, verificamos os
recursos linguísticos coesivos que sustentam o discurso argumentativo.
As propostas de produções escritas para os aprendizes são vinculadas nesse viés, para
que eles se sintam inseridos em diversas situações de uso da língua. Desse modo, a análise
prioriza uma dessas habilidades – a competência escrita – e, para chegar ao produto final, os
alunos passam por várias etapas do processo de escrita, inclusive a da reescrita textual.
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A incipiência desses estudos acarreta ainda algumas reflexões, visto que a metodologia
própria para o ensino de Português como língua materna não se adequa ao ensino desta
mesma língua, quando vista como língua estrangeira. Entre as dificuldades discutidas nos
textos publicados nesta área, temos: formação básica dos professores, pois quase não há
formação acadêmica em PLE; aperfeiçoamento; desenvolvimento de cursos; planejamento das
aulas; criação de tarefas envolvendo leitura e produção de textos e, por último, seleção e
elaboração de materiais didáticos.
Portanto, cursos de PLE, preparação de professores e material didático adequados são os
primeiros passos para atender uma demanda já expressiva e que tende a aumentar cada vez
mais com o desenvolvimento econômico-social do Brasil.
O fazer metodológico é um dos desafios encontrados pelo profissional dessa área,
quando sua formação é em Letras-língua portuguesa e se propõe a atuar em PLE. Para tal,
obriga-se a refletir sobre sua prática no ensino de língua materna, a conhecer as concepções
teórico-metodológicas para o ensino de língua estrangeira, a fazer reflexões críticas e
metodológicas para buscar, através de aplicações práticas, diferentes metodologias para o
ensino de PLE. “Uma abordagem equivale a um conjunto de disposições, conhecimentos,
crenças, pressupostos e eventualmente princípios sobre o que é a linguagem humana, LE, e o
que é aprender e ensinar uma língua alvo.” (ALMEIDA FILHO, 2005, p.17).
O ensino de Português a estrangeiros não se pode limitar apenas ao ensino da língua
como estrutura fechada e isolada, isto é, tratar a língua apenas no seu aspecto gramatical.
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Deve-se ir além, pois, para o aprendiz, conhecer a cultura da língua é, sem dúvida, uma
motivação de extrema importância que acelera a aprendizagem. O ensino não pode e nem
deve se desvincular da cultura do país da língua alvo, pois é fundamental para seu
aprendizado que o estudante comece a se familiarizar com os costumes, com a maneira de
viver e de se comportar das pessoas nativas da língua-alvo. O ensino/aprendizado de uma
língua estrangeira não é e não pode ser visto separadamente do ensino/aprendizado de fatores
culturais e sociais dos falantes nativos desse idioma, já que exercem interferência, pois esses
são parte da língua.
Quando se ensina uma língua estrangeira deve-se, pois, ter-se a consciência de que há
uma necessidade de elaboração de materiais que atendam as diversas situações reais de
comunicação. Com base nisso, o referido autor traz um conceito de nível limiar de uma língua
que visa trazer uma proposta de aplicação ao ensino de português para estrangeiros que
residem no Brasil, vejamos:
Uma parte dos estudantes de língua estrangeira cursa a língua fora de seu país, por
participarem de programas de intercâmbio ou por outros motivos pessoais e familiares. Nesse
caso, esses alunos vivem em situação de imersão no país de língua-alvo, portanto é natural e
lógico que os mesmos se deparem com diversas situações reais de comunicação. Em função
disso, o conceito limiar posto por Almeida Filho se preocupa com esse conhecimento básico
que ele chamou de limiar para que o aprendiz possa conviver socialmente e saiba se
comunicar e interagir nas mais variadas situações de comunicação. Nessa proposta de ensino,
estão implícitos os conceitos de competência comunicativa e abordagem comunicativa de
ensino.
A competência comunicativa deve ser entendida como um conhecimento necessário
das regras gramaticais como também das regras contextuais ou pragmáticas (implícitas ou
explícitas) na criação e desenvolvimento de um texto, seja oral ou escrito, de modo coeso e
coerente. Desse modo, a abordagem comunicativa do ensino está voltada para as situações de
uso efetivo da língua, sem deixar de levar em consideração todos os aspectos, desde os níveis:
fonológico, morfossintático, semântico, pragmático discursivo.
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Diante dessa proposta, podemos verificar que o autor coloca ênfase no ensino de uma
gramática que busque atender as necessidades de um estudante de PLE, no que diz respeito ao
desenvolvimento da competência comunicativa, fazendo com que o aluno adquira
conhecimento da língua, principalmente no uso efetivo da linguagem e com isso fazê-lo com
que se sinta seguro ao falar e escrever.
Tendo vista essa proposta com base comunicativa de Almeida Filho, pautando-se na
proposta de trabalhar com diversos gêneros textuais, possibilitando o desenvolvimento das
competências comunicativas, tanto as de recepção quanto as de produção, temos como
suporte metodológico nesta Universidade a prática pedagógica inserida no PLEI, que trabalha
nessa perspectiva. É importante destacar que o foco deste trabalho está voltado para uma
dessas quatro habilidades, no caso, as produções escritas produzidas por esses aprendizes nas
aulas de PLE.
O PLEI também é cadastrado pelo MEC como um posto aplicador do Exame CELPE-
Bras, responsabilizando-se, assim, pela divulgação e aplicação da prova duas vezes ao ano.
O objetivo do exame CELPE-Bras é testar a capacidade de comunicação oral e escrita
em Português do Brasil nas diversas situações reais do cotidiano. Como o exame é de base
comunicativa, requer do aluno o desenvolvimento das quatro habilidades de comunicação: a
escrita, a leitura, a audição e a fala. O aluno é avaliado por meio da produção de quatro textos
em diferentes gêneros textuais, realizados em duas horas e trinta minutos e por uma entrevista
oral durante vinte minutos.
Considerando essa estrutura indicada pelo exame a mais adequada para verificar a
proficiência do candidato na língua alvo, nós, professores do PLEI, trabalhamos também com
a abordagem comunicativa, pautando-nos na compreensão e produção de Gêneros Textuais,
tanto na modalidade escrita quanto oral.
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A ciência ou Linguística do texto teve início em 1960, mas ganhou maior proporção na
década de 80, tendo por função o estudo dos textos, pois eles exercem um papel comunicativo
muito importante na sociedade. Inicialmente, a Linguística Textual preocupava-se em
descrever os fenômenos sintático-semânticos ocorrentes no nível da frase, ainda de forma
muito limitada, é o que se denominava de “análise transfrástica”, e ainda não havia estudos
mais aprofundados sobre os fenômenos ligados a coesão e a coerência.
Sabemos que todas as nossas produções, sejam orais, sejam escritas, se baseiam em
formas padronizadas denominados de gêneros textuais. Os gêneros textuais são textos
encontrados na sociedade de forma materializada, isto é, são a materialidade linguística dos
discursos, tais como: artigo, resumo, entrevista, notícia, bilhete, receita, conto, crônica,
romance e tantos outros, situados no tempo e espaço:
Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que
apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições
funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração
de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. (MARCUSCHI, 2008, p.155).
Com base na definição dessa autora, passemos agora para alguns exemplos destes
operadores e suas respectivas funções. É importante ressaltar que eles podem aparecer nos
mais diversos contextos de interação e, inclusive exercendo uma outra função.
Ainda- Operador que pode servir como marcador de excesso temporal/ não temporal ou como
introdutor de mais um argumento a favor de uma determinada conclusão.
EX: Ele ainda não se considera derrotado. (marca temporal)
Convém frisar ainda que... (Introdutor de mais um argumento).
A fim de que- Operador de finalidade.
EX: Cheguei cedo, a fim de adiantar o trabalho.
Como- Operador que estabelece relação de comparação ou de conformidade.
EX: Choveu como chove em Manaus. (comparação)
Choveu como foi previsto. (conformidade)
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Os textos selecionados para esta análise foram elaborados em aulas de PLE para os
níveis Intermediário e Avançado. Para tanto, foram destacados trechos retirados de um corpus
constituído por oito textos, produzidos por oito alunos de nacionalidades diferentes. Dentre os
alunos estão 02 de nacionalidade inglesa, 01 haitiana, 02 francesa e 02 alemã.
O corpus que aqui se encontra está delimitado a: 02 cartas argumentativas (nível
avançado); 04 artigos de opinião (02 do nível intermediário e 02 do nível avançado); 02
resenhas crítica (do nível intermediário). Apresentamos nossa análise, cujo objetivo é verificar
o uso de operadores argumentativos como recursos sintático-semânticos e pragmáticos como
responsáveis pela organização da estrutura argumentativa.
Para a realização do trabalho de produção escrita, foram escolhidos textos pertinentes
e atuais, retirados de sites na internet para que pudessem servir de base para a concretização
da proposta de produção textual, a partir da discussão na sala e da troca de impressões. Para a
produção dos artigos foram feitas as seguintes leituras: Pais devem estabelecer limites, de
Chiara Papali; Haja kbça p/ tanta 9idade, de Claúdia Pinho e À procura do próprio estilo, de
Alexandre Taleb. Já para a produção das resenhas, a leitura utilizada foi a seguinte: A
importância do papel da mulher na sociedade, de Ana Claúdia Ferreira de Oliveira. E, por
fim, para a realização das cartas argumentativas foi feita a leitura de A polêmica da
obrigatoriedade do voto, de Marcos Galvão.
É importante frisar que este trabalho de análise textual é uma prática que é recorrente
nas aulas de português como língua estrangeira, uma vez que os textos solicitados são
corrigidos e encaminhados aos alunos para o processo da reescrita.
Feitas essas observações, vale ressaltar algumas características dos gêneros
argumentativos artigo de opinião, carta argumentativa e resenha crítica para, em seguida, a
análise dos textos selecionados.
O artigo de opinião, como o próprio nome já diz, é um texto em que o autor expõe seu
posicionamento diante de algum tema polêmico e atual. É um texto dissertativo, por isso
espera-se que o autor apresente argumentos sobre o assunto abordado, e isso depende do
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conhecimento que ele possui sobre o assunto. Portanto, o escritor, além de expor seu ponto de
vista, deve sustentá-lo através de informações coerentes e admissíveis. A linguagem desse
gênero é objetiva, mas pode apresentar a subjetividade do autor diante do assunto.
Uma característica muito peculiar deste tipo de gênero textual é a persuasão, que
consiste na tentativa do emissor de convencer o destinatário, neste caso, o leitor, a adotar a
opinião apresentada. Por este motivo, é comum presenciarmos descrições detalhadas, apelo
emotivo, acusações, humor satírico, ironia e fontes de informações precisas. É muito comum
encontrarmos artigo de opinião em jornais e revistas, por isso são textos considerados de fácil
acesso, segundo Cabral, 2010.
Hoje em dia, o uso de computadores para crianças não pode ser proibido. Em muitos lugares
crianças têm acesso ao computador: seja em casa, na lan house, na escola ou nas casas dos
amigos. Por isso é muito importante que a criança não só sabe mexer no computador, mas
também sabe se proteger, pois o uso do computador, principalmente o uso da internet traz
muitos perigos.
No trecho acima, o autor introduz sua opinião a respeito do uso dos computadores
pelas crianças, deixando evidente que é quase impossível essa proibição vigorar. Isso é
demonstrado através do operador de disjunção inclusiva seja, que direciona o argumento
favorável à problemática em questão, pois, mesmo que haja uma proibição, elas terão
facilmente acesso à internet.
Em seguida, temos um operador de conclusão por isso, que irá desencadear um novo
argumento que servirá para sustentar a sua defesa quanto ao uso de computadores pelas
crianças, embora faça no final da oração uma advertência do uso da internet representado pelo
pois, que é operador de coordenação explicativo, responsabilizando-se, assim, pelo
encadeamento de um novo enunciado apresentado como justificativa do que foi dito
anteriormente.
Considerando o estudo sobre escalas argumentativas de Ducrot, segundo Koch (2002),
temos que não só...mas também são operadores que somam argumentos em favor de uma
mesma conclusão, ou melhor, estes operadores têm a mesma força argumentativa. Podemos
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observar que, apesar da presença de problemas gramaticais, como por exemplo a troca do
Presente do Subjuntivo pelo presente do Indicativo (sabe/saiba), e de pontuação, percebemos
que o autor já domina alguns recursos responsáveis pela coesão textual, e, esses desvios da
norma presentes no texto não trazem prejuízos para a coerência do texto.
No momento, nós estamos numa era, em que as crianças e adolescentes criam uma nova
linguagem para facilitar a comunicação na internet ou celular [...] Eu acho que essa maneira de
abreviar tem tanto vantagens como desvantagens [...] como já foi dito, é um método que facilita
os bate papos e mensagens, mas por outro lado, somente deveria ser usado para conversar com
amigos ou pessoas novas, porque eu acho que a gente mais velha não conhece essas abreviações.
Além disso, esse modo de escrever tem desvantagens, sobretudo, para as crianças que estão
aprendendo escrever e já usam a internet e as abreviações para comunicar.
Entretanto há pessoas que querem se vestir de certa forma, mas simplesmente não podem arcar
a roupa, e portanto têm que se vestir numa maneira que satisfaz seus recursos.
No geral, penso que o estilo pessoal é algo importante para cada pessoa porque é um modo de
alto-expressão, e de mostrar essas personalidades. Ao mesmo tempo de vez em quando
precisamos ajuda, não somente para elegir a roupa mas também para nos vestir dentro de um
orçamento.
Neste artigo, podemos observar que ele apresenta alguns problemas gramaticais, como
problemas de pontuação, de escrita de algumas palavras ( elegir/eleger) e de regência verbal,
quando o autor usa o verbo precisar sem a preposição de. Embora haja esses problemas, o
sentido do texto não fica prejudicado, pois percebemos o emprego de alguns conectores
coesivos que estabelecem a coerência do texto.
Verificamos o uso do operador entretanto introduzindo um enunciado com valor de
ideia contrária a uma anterior, e mais adiante, o uso do conectivo portanto para se chegar a
uma conclusão em direção ao enunciado anterior.
Temos também o operador discursivo porque que, segundo Koch (2002), introduz um
ato de justificativa ao enunciado anterior e, um outro que liga dois argumentos a favor de uma
mesma conclusão, representado pelo mas também.
Na nossa sociedade a aparência define a primeira idéia que os outros vão ter de você. Você
queria conhecer uma pessoa mal-vestida, com roupas mal-ajustadas? Não, já teria um
julgamento negativo dela. Então eu posso entender que algumas pessoas precisam de ajuda afim
de encontrar seu próprio estilo.
A maioria das pessoas querem somente estar bem vestidas para dar uma boa imagem na
sociedade ou no meio do trabalho. Por isso o personal stylist encontra sucesso. Se a pessoa tem o
dinheiro eu não vejo onde está o problema para pagar um especialista. É muito caro, mas existe
pessoas pouco seguras de si que precisam de conselhos.
Escrevo ao senhor em relação ao voto sendo obrigatório neste país. Embora seja bom que todo
mundo decida quem vai ser o nosso próximo presidente, governador, deputado, etc, a realidade é
que muitas pessoas não sabem nada sobre a política e alguns simplesmente não querem votar.
Já que o Brasil é uma democracia, devemos ter a liberdade de não votar, se não quisermos. Na
maioria da Europa, não é obrigatório votar, e os resultados lá geralmente têm sido positivos. Por
um lado, é bom que muitas pessoas exerçam o seu direito de votar, mas por outro lado, o voto
não obrigatório reforça a democracia. Espero que o senhor pense em sério sobre mudar o
sistema.
Sr presidente, eu sei que votar em todos os países do mundo é um dever que cada cidadão deve
cumprir, mas chegar até obrigar as pessoas é, digamos, um pouco absurdo. Se estamos falando
da democracia que é um sistema permitindo as pessoas de expressar livremente, porque tem essa
obligação de votar?
Nesta primeira passagem do texto, podemos ver o conector mas opondo dois
argumentos orientados em direção contrária, fazendo prevalecer o segundo, pois é o que ele
irá defender no desenvolvimento do texto. O operador se tem valor de condição, uma vez que
se tratando de um país democrático, o voto não deveria ser obrigatório, e isso é questionado
pelo autor no decorrer do texto.
Imagine um país que não anda bem, que não tem escola suficiente, onde as pessoas passam fome,
onde não existe a segurança, é absurdo de obligar a população a votar, pois votamos quando
queremos que nosso pais seja capaz de responder à necessidade do povo.
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A resenha crítica pode ser conceituada como um texto cujo objetivo é apresentar um
outra obra (texto, livro, filme, peça teatral, espetáculo, exposição, evento etc). É um texto que,
além de resumir o objeto ao qual se refere, faz uma avaliação sobre ele, uma crítica, isto é,
apresenta uma análise ou julgamento de valor sobre o texto resenhado, com base em uma
argumentação convincente, apontando seus aspectos positivos e/ou negativos. Trata-se,
portanto, de um texto de informação e de opinião, segundo Fabrino, 2008.
Mesmo que ao longo da história o papel da mulher já mudou, na maioria dos casos ela ainda é
responsável pelas tarefas de casa e a educação dos filhos. Isso não é justo, mas ainda hoje eu vejo
que a mulher mesma tem a imagem na cabeça de que fosse ela que tem de fazer as tarefas da
dona-de-casa.
Por isso concordo com a autora e acho também que a conscientização de igualdade entre homem
e mulher tem que acontecer de dentro das famílias [...] Mas eu acho que no mercado de trabalho
é muito difícil mudar a situação delas. Mulheres ocupam cargos ou postos de trabalho mais
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desqualificados do que os homens, recebem menos salário, enfrentam barreiras imensas na hora
de contratação, ficam menos tempo num determinado cargo e custam a chegar aos postos de
chefia.
A autora desse texto fala sobre o papel da mulher na sociedade e sobre os preconceitos que
existem com respeito ás mulheres. Ela tem a impressão que há ainda muitos preconceitos em
relação ás mulheres hoje em dia. Ela acha que os problemas originam-se das diferenças entre os
sexos e que a discriminação da mulher tem o origem nos anos de domínio social essencialmente
masculino.
Ainda hoje em dia muitas mulheres tem desvantagens porque elas são mulheres. Eu penso
especialmente no mercado de trabalho [...] embora elas tem a mesma possisão como os homens.
Com esta análise, podemos verificar que alguns textos de determinados gêneros se
apresentam com mais marcas de argumentação do que outros textos. No entanto, é importante
ressaltar que os gêneros textuais analisados neste trabalho são de natureza argumentativa.
Observamos que os textos solicitados como artigo de opinião possuem mais traços
argumentativos do que a carta argumentativa. Isso pode causar certa estranheza, pois é
esperado por parte do produtor de uma carta que ele use seu máximo poder de
convencimento, pois ele se dirige a um único interlocutor.
Para que possamos entender isso, a hipótese é a de que o produtor do texto fica tão
preocupado com a questão da formalidade e o respeito para com seu interlocutor que acaba
deixando sua carta com menos marcas de argumentação. Como já foi dito, todos esses
gêneros analisados exigem um alto grau de argumentação, no entanto, uns mais que os outros.
Diferentemente do esperado, ocorre maior uso dos operadores nos artigos, do que nas cartas,
onde seria o mais esperado.
O estudo dos operadores argumentativos nos textos produzidos por estudantes
estrangeiros nos permitiu avaliar o comportamento que esses operadores exercem e o efeito de
sentido que eles causam nos textos.
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Conclusão
Com este trabalho, podemos concluir que o ensino de português como língua
estrangeira é uma área que merece mais atenção, para que novas pesquisas possam ser
realizadas, embora já existam algumas investigações nesse campo.
Esta análise nos possibilitou perceber que as dificuldades encontradas pelos aprendizes
destes níveis intermediário e avançado ainda estão no campo lexical, pois o que se pode
verificar é que os alunos sentem muita dificuldade no uso das palavras. Portanto, como alguns
têm ainda um vocabulário restrito, podemos comprovar que essa é uma das dificuldades
encontradas por eles. É importante destacar que, mesmo com essas dificuldades, conseguem a
coerência do texto, pois, como observamos, escrevem textos bem elaborados e bem
construídos sintaticamente.
No entanto, a análise feita à luz da semântica argumentativa, revelou-nos que, mesmo
com esses problemas com o uso do léxico, os operadores argumentativos estudados nestes
gêneros textuais artigo de opinião, carta argumentativa e resenha crítica aparecem bem
colocados, exercendo cada um a sua função no texto, estabelecendo assim a coesão textual.
Além do mais, algumas hipóteses foram confirmadas a partir da análise dos textos,
pois os estudantes de PLE tendem a usar com mais frequência um mesmo operador
argumentativo, devido à falta de vocabulário mais amplo e, além disso, observamos que na
escrita de textos de determinado gênero argumentativo, um operador é usado com mais
frequência do que outros, principalmente nas relações de causa e consequência e nas relações
de oposição.
Com efeito, como foi apresentada na nossa análise, o papel que esses operadores
argumentativos exercem nos textos dos alunos de PLE, foi satisfatória, tendo em vista que
eles aparecem de forma bem colocada e, cada um exercendo sua respectiva função nos textos.
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Referências
SITES
ANEXOS
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