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Arquitetura barroca Os destaques A viúva de Luís

entre o Mediterrâneo da Pitti Uomo Bellini conta a
e o Etna história da família

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Rio de Janeiro, julho de 2018 Ano XXIV – Nº 240

Um oriundo
na Farnesina
ISSN 1676-3220 R 10,00 R$ 17,90

Ricardo Merlo: nomeação pela

primeira vez de um parlamentar
eleito no exterior para cargo no
governo italiano é clara abertura
para fortalecimento na relação com
cidadãos e descendentes pelo mundo

Enel compra Eletropaulo e aumenta base de clientes em 70%

 Meio ambiente
“Com vontade
política todos
conseguem”
Palestrantes italianos
e brasileiros discutiram
soluções para transformar
o lixo em um recurso
durante o 1º Congresso
Internacional Cidades
Lixo Zero, em Brasília
Stefania Pelusi
D
urante a semana mun-
dial do meio ambiente,
em junho, Brasília rece-
beu a primeira edição
do Congresso Internacional Cidades
Lixo Zero, que contou com a par-
ticipação de especialistas de vários
países, inclusive da Itália, para falar
sobre as melhores práticas e tecno-
logias no gerenciamento de resíduos
sólidos. De acordo com Rodrigo Saba-
tini, fundador e diretor do Instituto
Lixo Zero Brasil, que é também orga-
nizador do evento, a participação da
Itália é muito importante.
— A Itália tem 270 cidades Lixo
Zero. Assim sendo, acredito que se
desenvolveu um modelo italiano de
gestão de resíduos para o Lixo Ze-
ro. Esse modelo é acessível a várias
comunidades do mundo e aplicá-
vel principalmente aqui no Brasil
— afirmou à Comunità o diretor
ítalo-brasileiro.
O conceito “lixo zero” é fun-
damentado na ideia de aproveitar
ao máximo os resíduos recicláveis
e orgânicos e dar-lhes a correta
destinação. Também consiste na
redução ou no fim do envio desses
materiais para aterros sanitários
ou para incineração. Para Sabatini,
o Brasil está precisando do Lixo Ze-
ro como solução.
— O país estava com problema
de resíduos, não aplicava a lei 12.305
26 julho 2 0 1 8 | c o m u n it à it a lia n a
da Política Nacional de Resíduos Só-
lidos e, ao mesmo tempo, estava com
uma crise muito grande. Eu queria
mostrar que existem possibilidades
de investigar como é a questão do
Lixo Zero no mundo todo — diz o di-
retor, contando como surgiu a ideia
de realizar o congresso.
Um dos palestrantes foi o
italiano Alessio Ciacci, que foi
conselheiro pelo Meio ambiente
da cidade de Capannori, primeiro
município italiano a se juntar à es-
tratégia de Lixo Zero. Desde 2015,
ele é consultor da União Europeia
em projetos de sustentabilidade
ambiental ligados à reutilização e à
reciclagem de resíduos urbanos.
— Ilustrarei a situação dos mu-
nicípios italianos que aderiram à
estratégia de Lixo Zero. Em particu-
lar, do primeiro município italiano
que aderiu em 2007, Capannori, na
Toscana, onde foi alcançada a meta
de reciclagem de mais de 80% dos
resíduos e uma redução global de
O primeiro Congresso
resíduos de cerca 40%. Tudo isso
graças a uma coleta seletiva porta-a-
-porta e a inúmeras iniciativas para
reduzir a produção de resíduos que
envolviam os cidadãos e as empre-
sas locais. Graças a este importante
resultado que trouxe benefícios am-
bientais, sociais, econômicos e de
emprego, hoje, os municípios que
seguem tal estratégia são mais de
270, com mais de seis milhões de
cidadãos envolvidos — relata Ciac-
ci, que em março esteve em Brasília
para o lançamento oficial do evento.
O consultor acredita que o ca-
so de Capannori pode ser aplicado
no Brasil, pois existem muitas pe-
quenas e grandes comunidades em
todo o mundo que estão alcançan-
do resultados excepcionais.
— Todos conseguem. Bas-
ta a vontade política e o início de
percursos de participação que pos-
sam compartilhar também com os
cidadãos a importância e as vanta-
gens dessa estratégia — destaca o
italiano de 38 anos.
Ao ser perguntado sobre o que o
Brasil pode aprender da experiência
italiana, ele ressalta que a primeira
coisa que deve ser superada é o con-
ceito do uso do aterro como solução
para resolver o problema do lixo.
— É necessário transformar os
resíduos em um recurso, e não em
uma fonte de poluição, como acon-
tece com os aterros sanitários, e
sim em uma riqueza que pode ser
proveniente dos processos de reci-
clagem — explica Ciacci.
Cidades Lixo Zero
realizado em Brasília
pelo presidente do
Lixo Zero Brasil,
Rodrigo Sabatini
(no alto), contou Especialista em coleta
com a presença de seletiva dos resíduos
vários especialistas detalha o modelo italiano
italianos, como Enzo Outro convidado italiano foi Ra-
Vergalito (acima), phael Rossi que, ao longo dos anos,
especialista em
gestão de resíduos
acumulou uma ampla experiência na
e comunicação idealização de sistemas avançados
ambiental de gestão dos resíduos em diversas
cidades da Itália. Ele ilustrou o sis-
tema de coleta porta-a-porta com
contêineres dedicados a cada tipo de
lixo e para cada usuário, removendo
das ruas as lixeiras, além de ter fa-
lado do sistema de tarifação pontual
com o qual os cidadãos podem pagar
com base no volume de resíduos que
cada um deles produz.
— Estes sistemas permitem
alcançar um percentual de coleta
seletiva superior a 85% e reduzir
os resíduos indiferenciados em me-
nos de 60-80 kg per capita por ano
— detalha o especialista.
De acordo com ele, a Itália es-
tá desenvolvendo uma importante
economia de reciclagem que vai
além dos setores industriais nos
quais era historicamente forte, co-
mo a indústria de papel usado.
— A Itália teve a oportunida-
de de comparar-se a outros países
europeus e de recusar modelos
vencedores em outros lugares devi-
do a sua especificidade. Da mesma
forma, o Brasil pode fazer isso, pois
tem um território muito diferente
do italiano, mas pode contar com
algumas semelhanças culturais —
comentou.
Outro especialista que participou
do congresso é Stefano Ambrosini.
Sua experiência pessoal com gestão
de resíduos começou em 2009, du-
rante seu primeiro mandato como
vereador e delegado em ambiente
natural em Gardone Riviera, na pro-
víncia de Brescia. Ele implementou
o projeto de uma coleta seletiva com
cinco fluxos (papel e papelão, em-
balagens plásticas, vidro e metal,
orgânico e resíduos residuais) em
2013. Em 2017, os resultados foram
o aumento de taxa divergente em um
intervalo entre 70 e 90%, o aumen-
to da qualidade de reciclagem com
uma grande redução de impurezas e
a diminuição da quantidade total de
resíduos produzidos pela população.
Apesar do sistema de coleta de
resíduos ter evoluído na Itália nos úl-
timos anos, Ambrosini considera que
pode ser melhorado com a introdução
obrigatória da tarifação pontual, que
permite a redução da taxa de lixo para
usuários que fazem a coleta seletiva.
— Isto é feito através da in-
trodução de uma variável ligada à
produção de resíduos indiferencia-
dos ou secos. Quanto menos resíduos
indiferenciados produz o cidadão,
menor é a taxa de lixo — explicou.
Enzo Vergalito é um especialista
em gestão dos resíduos e comunicação
ambiental e há muitos anos se interes-
sa além do panorama italiano, também
do setor na América Latina. Por isso,
foi um dos convidados ao evento. Para
ele, a Itália e o Brasil, apesar de terem
alguns pontos de contato, têm dois
sistemas muito diferentes.
— A Itália pode orgulhar-se de ter
implantado sistemas muito virtuo-
sos baseados na coleta porta-a-porta
e na tarifação pontual. Em particu-
lar, nos últimos 20 anos, os sistemas
de gestão estão indo nessa direção:
contêineres individuais que são colo-
cados pelos cidadãos de acordo com
um calendário pré-estabelecido. No
entanto, nos anos 1980, a coleta se-
letiva não era uma prioridade. Os
resíduos, em menor volume, eram
coletados em grandes lixeiras na rua,
portanto não havia responsabilidade
do cidadão — conentou.
Faltam lixeiras
coletivas no Brasil
Ao analisar a situação no Brasil,
Vergalito percebeu que há um siste-
ma misto: não há lixeiras coletivas
e os cidadãos entregam os resíduos
diretamente aos operadores ou em
locais designados.
— Existe uma espécie de porta-a-
-porta, porém de lixo indiferenciado.
São os catadores que recuperam os
materiais que têm um valor econômi-
co. A chave poderia ser uma tentativa
de coordenar o serviço formal com
o serviço informal dos catadores, re-
forçando e dando dignidade à sua
função, e responsabilizando os ci-
dadãos, forçando-os a separar os
resíduos, também com incentivos es-
pecíficos — sugeriu.
De acordo com ele, na Itália, o
cidadão é muito controlado em seu
comportamento em relação aos
resíduos, pois corre o risco de ser
multado se separar erradamente os
materiais. Com a tarifação pontual,
a pessoa paga proporcionalmente a
quanto recicla.
Enquanto isso, no Brasil, uma pes-
quisa recente da Ciclosoft mostra que
a coleta seletiva está presente em ape-
nas 18% dos municípios brasileiros.
Rodrigo Sabatini ressalta que o país
produz 80 milhões de toneladas de re-
síduos sólidos por ano, o equivalente Alguns dos
a 200 estádios de futebol, perdendo palestrantes italianos:
120 bilhões de reais por ano em pro- o consultor da UE,
Alessio Ciacci, e
dutos que poderiam ser reciclados. o especialista em
— Na América Latina, a reci- gerenciamento de
clagem é muitas vezes feita por resíduos, Stefano
catadores e os cidadãos não são su- Ambrosini
Dario Lanzetta
“No Brasil, a chave poderia ser uma
tentativa de coordenar o serviço formal
com o serviço informal dos catadores,
reforçando e dando dignidade à sua
função, e responsabilizando os cidadãos
em relação à separação dos resíduos
com incentivos específicos”
Enzo Vergalito, especialista italiano em
gestão dos resíduos e comunicação ambiental
ficientemente responsabilizados,
por isso estão menos interessados
em procurar informações — con-
cluiu Enzo Vergalito.
Para Sabatini, o Brasil precisa
do Lixo Zero como solução.
— Cada um de nós produz 450
quilos de resíduos por ano. É muito
impacto! O Lixo Zero significa que
você faz todo o esforço possível
para diminuir o encaminhamento
para o aterro. Não existe nenhuma
mudança que possamos provocar
no meio ambiente se não começar
pela gente — concluiu o organiza-
dor do evento, que reuniu mais de
mil participantes.
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