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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Dimas Isac de Souza Junior

CRIAÇÃO DE FRANGO CAIPIRA VISANDO A PRODUÇÃO ORGÂNICA EM


PEQUENAS PROPRIEDADES NO MUNICÍPIO DE BOCAIÚVA DO SUL – PR

CURITIBA
2011

1
Dimas Isac de Souza Junior

CRIAÇÃO DE FRANGO CAIPIRA VISANDO A PRODUÇÃO ORGÂNICA EM

PEQUENAS PROPRIEDADES NO MUNICÍPIO DE BOCAIÚVA DO SUL – PR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de
Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade
Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para
obtenção do título de Médico Veterinário.
Professor Orientador: Dr. Welington Hartmann
Orientador Profissional: Dr. Marcus T. Fusco

CURITIBA
2011

2
TERMO DE APROVAÇÃO

Dimas Izac de Souza Junior

CRIAÇÃO DE FRANGO CAIPIRA VISANDO A PRODUÇÃO ORGÂNICA EM

PEQUENAS PROPRIEDADES NO MUNICÍPIO DE BOCAIÚVA DO SUL – PR

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a

obtenção do Título de Médico Veterinário da Universidade Tuiuti do

Paraná

Curitiba, 24 de Junho de 2011

Orientador:

Prof. Welington Hartmann __________________________

Banca examinadora:

Prof. Elza Galvão Ciffoni __________________________

Prof. Uriel Vinicius Cotarelli de Andrade __________________________

3
DEDICATÓRIA

Dimas Isac de Souza e Marilda Valentim

Thallyta Amato

dedico

4
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por sempre ter sempre me abençoado, me orientando

a trilhar bons e vitoriosos caminhos, sem maiores tristezas. Agradeço a meus

pais; Dimas Izac de Souza e Marilda V. dos Reis, irmã e familiares não só por

essa conquista mas por tudo que já fizeram e continuam fazendo por mim.

Agradeço ao Sr. Kelsons e Maria do Rosário, Sr. João de Barros e dona

Maria Josefa.

Aos professores Welington Hartmann, Uriel V. Cotarelli de Andrade e

Elza Ciffoni e ao dr. Marcus T. Fusco.

Agradeço a todos os meus amigos, Dudu, Jonathas, Elder, Pablão,

Guilherme, Kelsons.

5
SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS................................................................................. 8
LISTA DE FIGURAS.................................................................................. 9
RESUMO................................................................................................... 10
1 INTRODUÇÃO.............................................................................. 11
1.1 OBJETIVOS GERAIS..................................................................... 11
2 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO..................................... 12
3 AVICULTURA NO BRASIL........................................................... 15
3.1 A CRIAÇÃO DE FRANGO CAIPIRA............................................. 16
4 IMPLANTAÇÃO DO PROJETO “FRANGO CAIPIRA VALE DO

RIBEIRA” – ESTÁGIO.................................................................. 19
4.1 ESCOLHA DA ATIVIDADE............................................................ 19
4.2 ESCOLHA DA RAÇA..................................................................... 19
4.3 SELEÇÃO DAS FAMÍLIAS............................................................. 23
4.4 OBTENÇÃO DO FINANCIAMENTO.............................................. 23
4.5 COMPRA DO MATERIAL E INSUMOS......................................... 24
4.6 CONSTRUÇÕES DOS AVIÁRIOS................................................. 25

4.7 CAPACITAÇÃO DOS PRODUTORES.......................................... 32


4.8 ACOMPANHAMENTO DOS LOTES-CONTROLES

ZOOTÉCNICOS............................................................................. 32
4.8.1 Sanidade........................................................................................ 33
4.8.2 Análise do ganho de peso e peso final.......................................... 35
4.9 ALIMENTAÇÃO............................................................................. 38
4.9.1 Forma de arraçoamento................................................................. 40
4.9.2 Apresentação e acondicionamento dos alimentos......................... 40
4.9.3 Importância da água na alimentação das aves.............................. 41
4.9.4 Tipos de alimentos......................................................................... 41
4.9.5 Aditivos ......................................................................................... 43
4.9.6 A estrutura para o preparo das rações.......................................... 44
4.9.7 O preparo das rações.................................................................... 45
4.9.8 Alimentos alternativos ................................................................... 46
4.9.9 Inclusão das plantas forrageiras e frutos na alimentação de

frangos caipiras.............................................................................. 47
4.9.1 Manejo nutricional.......................................................................... 49

0
5 ABATE........................................................................................... 51
6 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDAES DESENVOLVIDAS

EXCLUSIVAMENTE PELO ESTAGIÁRIO.................................... 52


6.1 REUNIÕES COM OS PRODUTORES........................................... 52
6.2 CONSTRUÇÕES DOS GALPÕES................................................ 52

6
6.3 PREPARO PARA O POVOAMENTO............................................ 53
6.4 PESAGEM DOS LOTES................................................................ 53
6.5 APANHA PARA O ABATE............................................................. 53
7 COMERCIALIZAÇÕES DOS PRODUTOS................................... 54
7.1 APRESENTAÇÃO E QUALIDADE................................................ 54
7.2 AVALIAÇÃO E COMPOSIÇÃO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS.. 55
7.2.1 Carne............................................................................................. 55
8 CONCLUSÃO................................................................................ 57
REFERÊNCIAS........................................................................................... 59
ANEXOS..................................................................................................... 62
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 POTENCIAL GENÉTICO DA RAÇA LABEL ROUGE......... 22


TABELA 2 PESAGENS REALIZADAS DURANTE O PERÍODO DE

ESTÁGIO............................................................................ 36
TABELA 3 MÉDIAS DAS PESAGENS NAS IDADES DE 6, 10 E 12

SEMANAS E DESVIO-PADRÃO......................................... 37
TABELA 4 NECESSIDADES NUTRICIONAIS DO FRANGO CAIPIRA

DE ACORDO COM A FASE DE CRIAÇÃO........................ 46


TABELA 5 CONSUMO DE RAÇÃO POR FAIXA DE IDADE................ 50

7
LISTAS DE FIGURAS

FIGURA 1 LABEL ROUGE – XL 431 NA............................................... 20


FIGURA 2 UMA DAS REUNIÕES COM OS AGRICULTORES........... 23
FIGURA 3 ACOMPANHAMENTO DA CONSTRUÇÃO DOS
GALPÕES – I ..................................................................... 26
FIGURA 4 ACOMPANHAMENTO DA CONSTRUÇÃO DOS
GALPÕES – II .................................................................... 26
FIGURA 5 LAYOUT DO MODELO COMPLETO DO SACAC............... 27
FIGURA 6 FACHADA DO AVIÁRIO...................................................... 28
FIGURA 7 PINTOS RECÉM-NASCIDOS.............................................. 29
FIGURA 8 PINTOS ACOMODADOS NA ÁREA DE CRIA.................... 29
FIGURA 9 ÁREA INTERNA DO AVIÁRIO............................................ 30
FIGURA 10 FRANGOS NA FASE DE ENGORDA................................. 30
FIGURA 11 COMEDOURO TIPO CALHA.............................................. 32
FIGURA 12 PESAGENS REALIZADAS DURANTE O PERÍODO DE
ESTÁGIO. EQUAÇÃO LINEAR, COEFICIENTE DE
CONFIABILIDADE E LINHA DE TENDÊNCIA.................... 37
FIGURA 13 PIQUETE COMPOSTO POR VEGETAÇÃO NATIVA......... 49
FIGURA 14 REUNIÃO COM O PROJETO EM ANDAMENTO............... 49
FIGURA 15 CARCAÇA PRONTA PARA COMERCIALIZAÇÃO............. 56

CRIAÇÃO DE FRANGO DE CAIPIRA VISANDO A PRODUÇÃO ORGÂNICA

EM PEQUENAS PROPRIEDADES NO MUNICÍPIO DE BOCAIÚVA DO SUL –

PR

8
RESUMO
O objetivo deste trabalho é relatar as atividades desenvolvidas durante o
estágio curricular de Dimas Isac de Souza Jr., realizado em Bocaiúva do Sul,
no Projeto de Implantação da Criação de Frango Caipira, no período de 14 de
Fevereiro a 20 de Maio de 2011, realizando as seguintes atividades: Cadastro
de produtores, orientação de manejo, acompanhamento sanitário,
acompanhamento da recria, acompanhamento da apanha, transporte e abate.
O plantel atendido foi de 16.000 frangos em 14 propriedades. Este sistema
demonstrou ótimos resultados técnicos e econômicos resultando em uma
importante alternativa viável para geração de renda das pequenas
propriedades da região, possibilitando a sua inserção em um mercado
promissor.

Palavras-chave: Avicultura; Frango caipira; Cooperativismo.

9
1- INTRODUÇÃO

A criação de frango caipira em pequenas propriedades é um sistema

alternativo, que consiste numa tecnologia dirigida ao agricultor familiar, capaz

de organizar de forma gerenciada a atividade de criação destas aves. Esse

sistema alternativo de criação pode melhorar a qualidade de vida das famílias,

seja pela maior oferta de carne e ovos de qualidade na sua alimentação, ou

pela possibilidade de venda do excedente, uma vez que aumenta de forma

substancial e eficiente a capacidade produtiva do plantel.

1.1 OBJETIVOS GERAIS:

O objetivo deste trabalho é descrever as atividades realizadas durante o

estágio curricular obrigatório realizado no período de 14 de Fevereiro a 20 de

Maio de 2011, durante o acompanhamento à implantação do projeto de criação

de frangos caipira no Município de Bocaiúva do Sul concebido como meio de

proporcionar às famílias que aderiram ao programa, a geração de uma fonte de

renda segura, produzindo um produto de excelente qualidade, visando a médio

prazo conquistar uma importante fatia de mercado.

10
2- LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO

O Município de Bocaiúva do Sul está localizado a 30 km da capital

Curitiba, com pavimentação asfáltica (BR 476). A Área do Município é de 831,69

km2 (realidade municipal EMATER - PR 94/95). Seu relevo é ondulado a

montanhoso. Os principais cursos d’água do Município são o Rio Capivari, Rio dos

Patos, Rio dos Patinhos, Rio Marrecas, Lajeado Cerro Lindo e Córrego Pau-de-

Sangue. São todos afluentes do Rio Capivari, formando parte do lado esquerdo da

Bacia Hidrográfica do Capivari.

Quase a totalidade das propriedades apresenta recursos hídricos

abundantes, sendo fontes, córregos, riachos, etc., que são utilizados para

consumo humano e animal e ainda para a exploração da piscicultura de

subsistência e em menor escala, piscicultura comercial. O município apresenta

muitas jazidas minerais, tais como: calcário, mármore, granito e caulim, que já

vem sendo explorado, com a ressalva de que as empresas apenas exploram as

jazidas, sendo o beneficiamento feito em outros municípios, acarretando

empregos e geração de renda. Tendo em vista a baixa fertilidade natural dos

solos, a grande incidência de geadas, os graves riscos de erosão e a

impossibilidade ou dificuldade de mecanização, conclui-se que as áreas dessa

unidade são inaptas para a agricultura. Acha-se em sua maior parte com

vegetação natural, sendo pouco utilizados com agricultura. Estes solos

apresentam problemas com a fertilidade, que é muito baixa. É bastante

susceptível a erosão por ocorrerem em relevo ondulado e forte ondulado, o

mesmo ocorrendo com a mecanização. Para um melhor uso, sugerem-se

práticas conservacionistas, calagens e adubações para elevar o conteúdo de

nutrientes.

11
O Município de Bocaiúva do Sul é um dos poucos da região

metropolitana que ainda possui reservas florestais nativas, e o avanço da

exploração da madeira deu lugar a grandes áreas florestadas hoje por

bracatinga e pinus. A araucária e a erva mate, nativas da região, são as mais

encontradas; outras madeiras de lei existem, porém em pouca quantidade

devido principalmente a sua exploração comercial. Próximo à sede do

Município encontram-se áreas de bracatinga, fruto da derrubada da mata

nativa.

As famílias rurais são compostas em média por 4,6 pessoas (dados

apontados pelo SENSO 2010). Os filhos por volta do 7 anos, já iniciam o

trabalho na agricultura, colaborando com os pais. A mulher, além dos afazeres

da casa, também auxilia na roça, fazendo quase todo tipo de serviço mais

pesado e a comercialização da produção.

A Situação Econômica desses produtores caracteriza-se por uma

estrutura fundiária, as propriedades foram divididas através dos anos, formando

inúmeros minifúndios. Com essa estrutura, a maioria das atividades tornou-se

suficiente somente para o abastecimento da família. A maioria das propriedades

explora em maior ou menor intensidade a bracatinga. Mesmo nas comunidades

onde a olericultura é mais forte, a exploração da bracatinga está presente.

Quase todos os produtores plantam milho em áreas onde se fez o corte da

bracatinga. Economicamente a representatividade da bracatinga tem caído nos

últimos anos, tendo surgido outras atividades que são mais interessantes do

ponto de vista econômico. A a fruticultura e a ovinocultura têm sido tentativas

buscadas para dar uma melhor condição de sustentabilidade da atividade

tradicional. A População do Município, de acordo com último Senso: é de 9047

12
habitantes, vivendo 5.522 habitantes na área rural e 3.525 habitantes na área

Urbana.

Em parceria com a EMATER e Banco do Brasil, no dia 13 de outubro de

2010, a Prefeitura Municipal de Bocaiúva do Sul, através da Secretaria

Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, deu início a solenidade de

implantação do "Projeto Frango Caipira", o qual faz parte de um conjunto de

ações que estão sendo realizadas no município visando proporcionar às

famílias que aderiram ao programa, a geração de uma renda extra que servirá

como complementação e diversificação de recursos desses produtores rurais.

O estagio foi orientado pelo Médico Veterinário Marcus T. Fusco,

totalizando 360 horas, realizando as seguintes atividades:

-Participação da seleção dos produtores;

-Treinamento dos produtores;

-Acompanhamento da construção dos galpões e solários;

-Acompanhamento do manejo nas propriedades nos primeiros dias após

povoamento;

-Acompanhamento sanitário;

-Acompanhamento nutricional nas diversas fases etárias;

-Auxilio na necropsia dos animais mortos, e anotação no fichário.

-Pesagem quinzenal, e ajustes no manejo.

13
3- A AVICULTURA NO BRASIL

Atualmente, a avicultura no Brasil é considerada uma atividade

econômica dinâmica. Iniciada na Região Sudeste, no final da década de 50, e

mais tarde, nos anos 70, na Região Sul. Com a grande produção de grãos nos

Cerrados, no início desse século, os valores com exportação ultrapassaram a

barreira dos dois bilhões de dólares.

A produção de frango, em 2006, alcançou 9.420 milhões de toneladas,

superando os 9,348 milhões alcançados em 2005. Por outro lado, esses dados

demostram que o Brasil se tornou o maior exportador de aves desde 2004,

uma vez que exporta anualmente cerca de 3.040 toneladas de carne de frango,

seguido dos Estados Unidos (2.538 toneladas), da União Européia (780

toneladas), da Tailândia (400 toneladas) e da China (360 toneladas).

Em termos de consumo de ovos, a média é considerada baixa se for

levada em conta a população do Brasil e o potencial da avicultura de postura

nacional. O consumo anual de ovos "in natura" é de 141 ovos enquanto que no

México se consomem mais de 360 unidades, seguido pelo Japão (347) e China

(310). Vale salientar que o México é o sexto maior produtor mundial de ovos e

o Brasil, o sétimo, cerca de 22,212 bilhões de unidades de ovo por ano

(AVISITE, 2007), antes deles estão a China, os Estados Unidos, o Japão, a

Índia e a Rússia (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2010).

Tal produção é basicamente originária de sistemas avícolas altamente

tecnificados e tem mercado garantido. No Brasil, o mercado de frango orgânico

é ainda maior, uma vez que se trata de um produto considerado nobre em

todos os níveis sociais e em toda extensão territorial do País. O preço no varejo

14
dos principais pratos típicos chega a ser elevado devido a pouca

disponibilidade do produto. Em relação aos ovos, as proporções de preços se

repetem. A dúzia do ovo oriundo de granjas tecnificadas é vendida a um preço

25% menor do que das granjas orgânicas. Nesse caso é importante ressaltar

que a genética do frango caipira ainda não se permite ter uma poedeira

competitiva e os ovos comercializados são os que deixarão de certa forma de

serem incubados.

Quanto mais diminuir o custo de produção dos frangos caipira e estas

estiverem mais disponíveis, com certeza, serão mais largamente consumidas.

Para que isso aconteça, a criação deve ser criteriosamente acompanhada e

contabilizado todos seus custos e receitas, mesmo que isso ocorra de forma

bem simples.

3.1- A CRIAÇÃO DE FRANGO CAIPIRA

O frango caipira por meio da qualidade e palatabilidade dos seus

produtos tornou-se um dos pratos mais apreciados no Brasil. Ele é criado na

quase totalidade dos núcleos agrícolas familiares, alimentando famílias e

gerando renda.

Por ser uma ave rústica e capaz de suportar adversidades climáticas e

resistir a algumas doenças, se torna uma alternativa principalmente para locais

com menor infraestrutura produtiva.

Este trabalho apresenta recomendações técnicas e inovações

tecnológicas que viabilizam a criação do frango caipira, tornando-a uma ave

competitiva, inserindo-a no mercado de produtos agro ecologicamente correto,

15
uma vez que pode ser criada com o uso racional dos recursos naturais

renováveis, inclusive com agregação de valor à produção agrícola,

agroindustrial e extrativista, já que pode ser perfeitamente integrada com as

mais variadas atividades.

O Sistema Alternativo de Criação de Frangos Caipira (SACAC), ao

mesmo tempo em que resgata a tradição de criação de frangos caipira, tem

como objetivo o aumento do padrão econômico da agricultura familiar,

melhorando a qualidade e aumentando a quantidade da produção. O sistema

minimiza os danos ao meio ambiente, adotando adequações necessárias a

cada ecossistema onde é implantado, seja com relação às suas instalações e

equipamentos, seja na forma de alimentar ou de medicar alternativamente as

aves (BARBOSA et al., 2004).

Outro importante fato a ser observado no SACAC é a capacidade de

integração de criação de frangos com outras atividades agrícolas,

agroindustriais, extrativistas, pecuárias, que são costumeiramente

desenvolvidas pelo agricultor familiar, o que resulta na agregação de valor e

maior remuneração por produto acabado (SAGRILO, 2002). As aves criadas

em sistemas mais naturais são submetidas a menos estresse do que aquelas

nos sistemas de criação intensiva, em galpões com elevada população, e sua

carne é considerada de melhor sabor e menor teor de colesterol.

Desenvolver uma tecnologia que impulsione a criação de uma ave

doméstica, atividade que é encontrada em 99,9 % dos núcleos agrícolas

familiares (RAMOS et al., 2001), é a forma que a pesquisa tem de inserir o

frango caipira nos diversos mercados consumidores, principalmente porque a

mesma pode ser tratada de forma que se utilizem racionalmente os recursos

16
naturais renováveis, o que indiscutivelmente o torna agro ecologicamente

correta.

Embora seja reconhecida como uma fonte de alimentos de alta

qualidade protéica (carne e ovos), e tenha se transformado ao longo desse

período em um dos pratos típicos conhecidos em todo o território brasileiro, a

criação de frangos caipira é precária em termos zootécnicos, com prejuízos

para a sua produtividade.

No SACAC, de acordo com o planejamento e a estrutura de produção, o

agricultor familiar poderá optar pelo aviário completo ou juntar-se a outros

criadores e instalarem um núcleo de multiplicação de frangos caipira. No

primeiro caso, o agricultor familiar vai desenvolver todas as práticas de manejo

nas mais diversas fases de criação. No segundo, o criador adquirirá os ovos já

fertilizados para uma posterior incubação sob sua responsabilidade ou receberá

pintos recém-nascidos, e sua estrutura de criação será um galpão de

crescimento. A aquisição de insumos e a comercialização dos produtos poderão

ser realizadas de forma coletiva nos dois casos. Nos segmentos que tratam de

origem genealógica e raças, reprodução, alimentação, instalações e

equipamentos, sanidade e comercialização, o agricultor familiar terá uma visão

ampla da proposta do sistema de criação e com isso poderá fazer as

adequações que lhe convier, desde que sejam mantidas as características

desejáveis dos produtos, com o mínimo de danos à natureza.

17
4- IMPLANTAÇÃO DO PROJETO “FRANGO CAIPIRA VALE DO

RIBEIRA” – ESTÁGIO

4.1- ESCOLHA DA ATIVIDADE

Devido à origem das atividades econômicas do município de Bocaiuva

do Sul, que são basicamente a exploração de madeira, minério e recursos

hídricos, identificou-se a carência de uma atividade rural. Com o solo pouco

fértil e relevo acidentado, os donos de pequenas propriedades rurais

necessitavam de uma fonte de renda extra e segura, a solução adotada pela

Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente em reunião com os agricultores, foi

discutida a viabilidade das atividades sugeridas, surgindo como propostas: a

Ovinocultura, Piscicultura, Apicultura, e Avicultura.

Após diversas reuniões realizadas em diferentes comunidades rurais,

com a participação do médico veterinário e do estagiário, os produtores

decidiram em consenso pela implantação do projeto de Avicultura de Corte,

entre todos os demais, tendo em vista a facilidade de manejo, baixo custo

relativo para implantação, e rápido retorno dos investimentos.

4.2- ESCOLHA DA RAÇA

Devido as suas características e adaptação ao solo e clima brasileiro,

sabor da carne e ovos, tem-se a raça Frango Caipira “Label Rouge”, também

conhecida como pescoço pelado, a escolhida.

O frango, Gallus gallus domesticus, pertence ao grupo de aves

galiformes e fasianídeas, sendo encontrada em todos os continentes do

18
planeta, com mais de 24 bilhões de cabeças (FUMIHITO et al., 1996;

PERRINS, 2003).

Introduzido na época do descobrimento do Brasil, originária de quatro

ramos genealógicos distintos, o americano, o mediterrâneo, o inglês e o

asiático, o frango caipira, recebendo as práticas de manejo adequadas da

época, adquiriu resistência a algumas doenças e se tornou adaptada ao clima

local.

Através de acasalamentos de todas as formas, inclusive consangüíneos,

os frangos caipira atuais apresentam semelhanças com as principais raças que

as originaram (Andalusian, Buff Plymouth Rock, Silver-Spangled Hamburgs,

Australorp, Columbian Wyandottes, Assel, Partridge Plymouth Rock e Brown

Leghor). As semelhanças se refletem não somente em termos de plumagem e

porte (Figura 1), mas também em características de carcaça.

Figura 1: Label Rouge - XL431NA

O conhecimento da origem genealógica e das raças de frangos

introduzidas no Brasil permitirá que o criador mantenha as características

desejáveis da sua criação, assim como introduzir de maneira ordenada genes

capazes de responder positivamente ao manejo e ao planejamento de criação.

19
A espécie escolhida para a implantação do Projeto no município de

Bocaiúva do Sul foi o Frango Orgânico Pescoço Pelado produto que demanda

um baixo custo de produção devido a sua rusticidade. Um dos objetivos da

avicultura alternativa é diminuir os custos de produção. Por isso o avicultor

deverá construir o galinheiro utilizando material disponível em sua propriedade.

Na França os avicultores melhoraram geneticamente esse tipo de ave,

chegando a linhagem conhecida como Label Rouge "pescoço pelado". Essa

linhagem com dupla aptidão (produção de carne e ovos) foi trazida para o

Brasil e se adaptou muito bem, graças ao nosso clima tropical. Essas aves

atingem níveis de produção bem mais elevados que os nossos tradicionais

caipiras.

A produção do frango caipira nunca poderá ser comparada com a da ave

industrial, este porém, apresenta mais resistência às doenças, carne e ovos

bem mais saborosos e pigmentados, permitindo comercialização a preços

maiores do que os preconizados para os produtos industriais.

Todas as aves podem opcionalmente ser fornecidas sexadas. Todos os

pintainhos são selecionados e vacinados no incubatório contra Bouba Aviária e

doença de Marek e as aves que se destinam à postura recebem a vacina

contra doença de Marek cepa Rispens (Tabela 1):

• Label Rouge - XL431NA "pescoço pelado":

- Origem: SASSO (França);

- Aptidão: Corte / Pesado;

- Idade de abate (dias): 70;

- Peso ao abate: 2.886 g macho / 2.314 g fêmea;

- Conversão alimentar (g): 2.53;

20
TABELA 1- POTENCIAL GENÉTICO DA RAÇA LABEL ROUGE

IDADE SEMANAS
PESO VIVO (g)
CONVERSÃO ALIMENTAR
01

0.11

02

0.23

03

0.35

1.40

04

0.52

1.60

05

0.75

1.5

06

1.00

1.90

07

1.30

2.05

08

1.60

2.15

09

1.92

21
2.27

10

2.20

2.38

11

2.45

2.49

12

2.70

2.60

13

2.92

2.66

14

3.10

2.71

15

3.25

2.83

16

3.40

2.90

17

3.55

2.98

Fonte: Sulave, 2011

4.3- SELEÇÃO DAS FAMÍLIAS

22
Esta etapa foi fundamental para o sucesso do projeto, pois nela foi

possível a identificação dos agricultores interessados em desenvolver e

participar do Projeto “Frango Caipira Vale do Ribeira”.

Nesta etapa foram feitas diversas reuniões para divulgar nas

comunidades a idéia da implantação do projeto e como seriam as etapas.

Figura 2: Uma das reuniões com os agricultores

Após a identificação dos agricultores que realmente daria sequência ao

Projeto, houve outras reuniões para esclarecimento sobre os critérios para a

obtenção dos recursos financeiros.

4.4- OBTENÇÃO DO FINANCIAMENTO

Para obtenção do crédito bancário alguns requisitos deveriam ser

atendidos:

- Possuir a DAP – Declaração Aptidão ao PRONAF – Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, essa

declaração é concedida a quem vive exclusivamente da renda

de sua propriedade ou;

23
- Estar aderida ao PROGER, programa do Governo Federal que

promove geração de renda, no caso dos agricultores que

possuem uma outra fonte de renda, exemplo: aposentados

pelo INSS.

Todos os 14 agricultores que aderiram ao Projeto obtiveram o mesmo

crédito financiado pelo Banco do Brasil, sendo esta linha de crédito o DRS –

Desenvolvimento Regional Sustentável, onde foi cedido ao produtor um crédito

total de 10 mil reais, com prazo de dez anos para pagar, juros de 2% ao ano e

uma carência de dois anos, do total do crédito foi destinado: 5 mil reais para os

barracões, e 5 mil reais para insumos, como ração, bebedouros, comedouros,

campândulas e pintos.

4.5- COMPRA DO MATERIAL E INSUMOS

Nesta etapa os agricultores trabalharam em conjunto, com a assistência

da Secretaria da Agricultura e meio Ambiente; todos os materiais adquiridos,

desde materiais para construção dos galpões a insumos para a criação das

aves, foram comprados a todos os agricultores de uma só vez, concebendo-se

um menor custo, padronização dos galpões e insumos.

A quantidade de material necessário para a construção dos aviários foi

distribuída a cada Avicultor.

Os pintos foram comprados da Sulave, empresa nacional que trabalha

no mercado de avicultura alternativa desde 1988, situada em Caxias do Sul -

RS, com um dia de vida.

24
Todos os pintos ficaram alojados até o décimo quarto dia em apenas

uma propriedade, após esse período eles foram distribuídos às propriedades,

de forma que, os pintos foram alojados coletivamente até o décimo quarto dia

de vida, os pinteiros foram preparados e equipados de forma a propiciar as

condições ideais de temperatura, conforto, ventilação e sanidade.

4.6- CONSTRUÇÕES DOS AVIÁRIOS

Como o Projeto envolve 14 famílias, dentre elas haviam pessoas que

possuíam conhecimentos na área de construção, sendo assim eles resolveram

economizar com mais essa despesa que seria indispensável para o andamento

do projeto, então a construção dos galpões ocorreu em forma de mutirões

envolvendo os próprios agricultores e familiares.

O acompanhamento técnico desta etapa foi especializado, através das

orientações do Médico Veterinário da prefeitura de Bocaiúva do Sul e EMATER

– Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, que acompanhou as

construções, orientando e corrigindo os procedimentos quando necessário.

O objetivo de se utilizar materiais alternativos não diminui a importância

a ser dada aos aspectos de funcionalidade das instalações, de modo a garantir

a limpeza e a higienização corretas (Figuras 3 e 4). Outro ponto importante é o

conforto térmico das aves, principalmente em zonas que apresentem

temperatura e umidade elevadas. Para isso, recomenda-se que o local

escolhido para construção da estrutura de produção seja bem drenado, mais

ou menos plano, ventilado, de fácil acesso e afastado de outros tipos de

criações de animais. Quanto à localização e ventilação, é importante que o

25
aviário se coloque em posição posterior a casa do criador, pois isso evitará a

presença indesejável de possíveis odores e insetos resultantes do processo

produtivo (SAGRILO, 2004).

Figura 3: Acompanhamento da construção dos galpões I

Figura 4: Acompanhamento da construção dos galpões II

No modelo do aviário completo, no qual o criador desenvolve práticas de

manejo em todas as fases de criação das aves (cria, recria, engorda e

reprodução), a área total sugerida é de 1.744 metros quadrados (Figura 5).

Dessa área, 28 metros quadrados são destinados ao aviário coberto e 1.716

metros quadrados, a piquetes onde crescem plantas nativas ou cultivadas, de

26
preferência frutíferas ou outras árvores de interesse do criador e que não

produzam material tóxico para as aves.

Figura 5: Layout do modelo completo do SACAC

Fonte: Barbosa et al., 2004

A área construída deve apresentar detalhes que favorecem tanto a

ventilação térmica como a higiene, tornando o ambiente agradável para as

aves. Com esse objetivo, recomenda-se um pé direito de 2,10 metros de altura,

composto de rodapé (30 cm) e área vazada (180 cm), limitada por tela de

arame ou varas numa malha capaz de manter contidas as aves e de protegê-

las de possíveis predadores.

O rodapé poderá ser construído com tijolos, tábuas, taipa ou outro

material disponível. A altura de cumeeira poderá variar, dependendo do

material de cobertura. Se a opção for por telha, a inclinação será de 30º,

enquanto que para a cobertura de palha se sugere uma inclinação de 45º.

Quanto à formatação da cobertura, essa poderá ser tanto de quatro como de

duas águas, desde que os beirais impeçam a penetração de raios solares nas

horas mais quentes e as rajadas de ventos na época das chuvas. Com a

mesma finalidade, poderão ser usadas cortinas, desde que não escureçam o

27
interior das instalações. Em média, os beirais medem 60 centímetros e

obedecem à mesma inclinação do teto (Figura 6).

Figura 6: Fachada do aviário

O madeiramento estrutural e de cobertura poderá ser redondo ou

serrado, dependendo da disponibilidade da região. O importante é que suporte

firmemente o peso da cobertura e a força dos ventos.

No aviário, as áreas destinadas à cria e recria localizam-se no lado

oposto à área de reprodução. A área de cria tem 2,25 m 2 e possui capacidade

de abrigar 60 a 70 pintos, com idade variada entre 1 e 30 dias. Nela estará

disponível comedouro (bandeja), bebedouro e berçário dotado de fonte de calor

para abrigar os pintos recém-nascidos durante a primeira semana de vida.

Após a primeira semana, os pintos terão acesso livre a um solário com as

mesmas dimensões da área destinada à fase de cria. A área de recria tem a

função de abrigar os pintos vindos da fase de cria, ou seja, com 31 a 60 dias de

idade. Compreende 3,75 m2, com bebedouro e comedouro. Nessa fase, os

pintos terão livre acesso a um piquete arborizado, com 20,00 m2 (Figuras 7 e

8).

28
Figura 7: Pintos recém-nascidos

Figura 8: Pintos acomodados na área de cria

No centro do aviário, com 16,00 m2, encontra se a área destinada à fase

de engorda ou terminação, com capacidade de abrigar as aves na fase de

recria, com 61 a 120 dias. Nessa área, estão disponíveis bebedouros,

comedouros e poleiros, tendo as aves livre acesso a um piquete arborizado,

com área de 1.656 m2 (Fig. 9 e 10).

29
Figura 9: Área interna do aviário

Figura 10: Frangos na fase de engorda

Normalmente, a área coberta de engorda tem a capacidade de abrigar

278 aves, porém, esse número pode ser ampliado para cerca de 400 cabeças

dependendo do manejo reprodutivo. Torna-se importante que o criador também

possa dispor de um outro compartimento em local afastado dessa instalação

para abrigar, separadamente, aves que serão introduzidas no plantel, animais

descartados ou, em caso extremo, aves doentes.

O piso do aviário pode ser cimentado, revestido de tijolo deitado e

mesmo de chão batido, compactado de forma que impeça que as aves

escavem. Deverá ter como forro um substrato composto de serragem de

madeira, capim seco triturado, casca de arroz etc. Esse substrato não pode ser
30
tóxico e nem provocar doenças respiratórias às aves, por excesso de pó, e tem

por finalidade reter a umidade resultante do metabolismo e respiração das

aves.

As cercas, para delimitar as áreas de manejo e oferecer proteção contra

possíveis predadores, podem ser confeccionadas de acordo com a

disponibilidade de material. Utilizam-se telas, estacas, arame farpado, varas,

etc., dependendo da disponibilidade. É desejável que o material usado tenha

bastante durabilidade e seja suficientemente forte para suportar ventos e

alguns danos indesejáveis.

Estão à disposição do criador de frangos caipira, nos mais diversos

pontos do país, modelos de comedouros e bebedouros, manuais ou

automáticos, que podem ser largamente utilizados nas condições do SACAC.

Porém, fica a cargo da criatividade do criador utilizar modelos artesanais de

bebedouros e comedouros, desde que as condições de sanidade e

funcionalidade sejam mantidas. No caso específico do SACAC, a opção por

bebedouros confeccionados com garrafas pets e comedouros feitos com varas

de cano plástico em forma de calha foi bem sucedida, facilitando a higienização

quando da renovação sistemática da água e da mistura dietética.

Figura 11: Comedouro tipo calha

31
4.7- CAPACITAÇÕES DOS PRODUTORES

Após a construção dos aviários foram realizadas as capacitações

envolvendo de forma teórica e prática todos os integrantes da família que

estivesse relacionado direta ou indiretamente com a produção das aves. Foi

comum nestas capacitações a presença das mulheres e filhos. As capacitações

foram realizadas pelo veterinário, atingindo 100% dos beneficiários com o

curso de Produção de Frango Caipira.

O Curso sobre Associativismo – também foi oferecido aos produtores,

buscando trabalhar a interação da comunidade em processo coletivo de

produção, estes cursos atingiram a totalidade dos beneficiados.

4.8- ACOMPANHAMENTO DOS LOTES – CONTROLES ZOOTÉCNICOS

Através de fichas de controle de produção foram registrados todos os

dados necessários para acompanhamento dos resultados, a data de chegada,

procedência dos pintos, consumo de ração, peso periódico das aves e

mortalidade, programa de vacinação, compõe esta ficha.

As visitas de acompanhamento técnico foram realizadas com freqüência

necessária a cada fase do projeto. O acompanhamento do projeto é

fundamental para a orientação continuada aos produtores e verificação dos

resultados.

As orientações técnica aos criadores e o acompanhamento (pesagem

sobre amostragem de 10% a cada 15 dias). O abate é feito aos 90 dias, de

32
forma terceirizada, no abatedouro Campo Novo, localizado na Cidade de

Campo Magro-PR.

4.8.1- Sanidade

A maioria das enfermidades que ocorrem na avicultura é controlada pelo

uso correto de procedimentos sanitários, que incluem inclusive coberturas

vacinais elaboradas de acordo com o histórico da região. Esse controle tanto

protege o grupo de aves que se pretende trabalhar como o consumidor dos

seus produtos.

O sucesso do processo de proteção do plantel e do consumidor vai

depender de todos os setores envolvidos na cadeia produtiva, já que a falha

em um único segmento poderá trazer transtornos e danos irreparáveis para o

desenvolvimento da atividade.

O cuidado com a higienização das pessoas envolvidas no manejo das

aves, limpeza e higienização das instalações e equipamentos, processamento

criterioso e controle de qualidade dos ingredientes dietéticos, programas de

vacinação, manipulação correta dos produtos, controle ativo de pragas (insetos

e roedores), descarte de aves problema e manejo adequado para os resíduos

(aves mortas, cama, restos de ração etc.) são as principais medidas que

devem ser mantidas nos núcleos de produção.

Entre um lote e outro é feito o vazio sanitário e passada vassoura de

fogo e pintura com cal.

Não se deve levar em conta somente a influência das doenças sobre o

desempenho zootécnico (peso médio, conversão alimentar, mortalidade,

33
rendimento de carcaça etc.), mas também o efeito negativo sobre a demanda e

a imagem do produto no mercado.

Nos frangos caipira, o programa vacinal deve visar, prioritariamente, o

controle das principais doenças virais, como: newcastle, marek, gumboro,

bronquite infecciosa e bouba aviária. Outras doenças importantes que

provocam efeito negativo sobre a produtividade são: ascite, coccidiose,

doenças respiratórias, salmoneloses e mitoxicoses.

As aves adquiridas são de sexo misto, objetivando diversificar o

tamanho das carcaças. São vacinadas na incubadora contra a doença de

Marek, não sendo feito nem um outro manejo vacinal, sendo que na região o

risco de outras doenças são mínimas.

Como medida de biossegurança deverá ocorrer, rotineiramente, o

combate aos principais vetores das doenças e os procedimentos de limpeza e

higienização das instalações, e o controle de qualidade de insumos e de

materiais. Os programas de vacinação e vermifugação devem ser previamente

estabelecidos e implementados.

O criador pode utilizar alternativas medicamentosas como o

fornecimento de caldas com cascas de plantas medicinais como o angico-preto

(Anadenanthera macrocarpa), o jatobá (Hymenaea courbaril), o pau-ferro

(Caesalpinia ferrea), o alho (Allium sativum L.) e o limão (Citrus limon), para

controle de doenças oportunistas transmitidas por bactérias. Podem também

ser utilizadas como alternativas de vermífugos naturais as sementes de

melancia, mamão, melão e perfilhos de bananeira. Para o controle de

ectoparasitas, banhos com sabão e fumo (Nicotiana tabacum) são medidas

tidas como rotineiras.

34
35
36
4.8.2- Análise do ganho de peso e peso final

A pesagem desde a primeira fase de vida se deu através de

amostragem, a pesagem é imprescindível para o controle zootécnico sendo

possível fazer correções durante as fases de vida do lote,e também fazer um

comparativos entre os produtores, através da pesagem foi possível identificar

erros de manejo, e analisar os diferentes índices zootécnicos entre os

produtores.

A diferença de peso entre os produtores foi dada devido às diferenças

entre os manejos, sendo que todas as aves possuem a mesma origem e o

mesmo potencial genético. Naturalmente, com o ganho de experiência dos

produtores e o auxilio técnico essa diferença de peso diminuirá com as

correções feitas pelo veterinário e com o ganho de experiência dos produtores.

37
TABELA 2: PESAGENS REALIZADAS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO.

PROPRIETÁRIO
IDADE DAS AVES
(semanas)
PESO (kg)
A
6
10
12
1,592
2,565
3,000
B
6
10
12
1,456
2,340
2,990
C
6
10
12
1,770
2,500
2,790
D
6
10
12
1,432
2,290
3,200
E
6
10
12
1,380
2,510
2,790
F
6
10
12
1,528
2,560
3,150
G
6

38
10
12
1,670
2,080
2,700
H
6
10
12
1,690
2,430
3,035
I
6
10
12
1,350
1,885
2,780
a...i: produtores
Ganho de peso médio:
Período da 6ª a 10ª semana: 215 g/semana
Período da 10ª a 12ª semana: 227 g/semana

TABELA 3: MEDIAS DAS PESAGENS NAS IDADES DE 6, 10 E 12 SEMANAS

E DESVIO-PADRÃO.

IDADES

(semanas)

PESO MÉDIO (kg)

DESVIO-PADRÃO

1,57525

0,146221

39
10

2,35111

0,23378

12

2,88277

0,228215

Os dados referentes às pesagens permitiram estimar as médias e a

equação linear, conforme apresentado na Figura 12.

FIGURA 12: PESAGENS REALIZADAS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO.


EQUAÇÃO LINEAR, COEFICIENTE DE CONFIABILIDADE E LINHA DE
TENDÊNCIA

pesos frangos (kg) y = 0,705x + 0,8167


R2 = 0,9789
3,5
3
peso (kg)

2,5
2
1,5
1
6 10 12
idade (semanas)

a b c d e f g h i Linear (e)

40
a...i: produtores

R2: coeficiente de confiabilidade

Observa-se que o produtor B apresentava resultados de desempenho de

suas aves semelhante aos demais até a 10ª semana, porém na 12ª semana os

pesos foram os menores se comparados aos outros produtores. Este fato foi

observado e na visita técnica realizada, pode-se observar que havia falhas de

manejo importantes: como falta de higiene em vários pontos, como cama,

bebedouros, comedouros, incorreto armazenamento da ração, e não

comprometimento com horários. Foi realizada a prescrição técnica, com a

anotação no fichário referente às modificações recomendadas. No lote

seguinte, foi possível observar que as correções de manejo apresentaram

significativas melhorias, com o desempenho zootécnico do seu novo lote.

No lote do produtor I foi observado um desempenho baixo em relação

aos outros. Isso foi devido a alguns fatores como por exemplo: umidade da

41
cama, manejo errado das cortinas, e no recebimento dos pintinhos não houve

número de campânulas suficiente. Dentre esses fatores também se observou a

falta de higiene e dificuldade de aprendizado do manejo em relação aos outros

produtores, e o conjunto desses diversos fatores resultou em péssimo

desempenho do lote.

4.9- ALIMENTAÇÃO

A alimentação representa cerca de 70 % do custo da produção das aves,

principalmente porque as matérias-primas são largamente usadas tanto para

criação de aves altamente tecnificadas quanto para o consumo humano.

Portanto, devem-se buscar fontes alternativas de alimentos, principalmente

energéticos e protéicos, como também de formulações que atendam às

necessidades qualitativas e econômicas de produção do frango caipira.

No caso dos frangos, não é permitido acelerar o crescimento por meio

de promotores como antibióticos1 e hormônios2, e nem aumentar a

digestibilidade e a eficiência digestiva por meio de enzimas e aminoácidos

sintéticos. O desafio na criação de frangos caipira é tornar a produção mais

eficiente com a diminuição dos custos com alimentação, sem perder as

características dos seus produtos. A saída, então, seria se conhecer mais o

potencial nutritivo que se tem em cada ecossistema, grãos, folhas, frutos etc.,

processá-los sem perdas, torná-los disponíveis sempre que necessário, e

1 Antibiótico: É nome genérico dado a uma substância que tem capacidade de interagir com
micro-organismos unicelulares ou pluricelulares que causam infecções no organismo.

2 Hormônio: É uma substância química específica fabricada pelo sistema endócrino ou por
neurônios altamente especializados.

42
ofertá-los às aves de acordo com as necessidades e peculiaridades de cada

fase de criação.

Graças ao seu sistema gastrointestinal, o frango caipira tem maior

capacidade que o frango industrial de converter alimentos de menor qualidade

em carne e ovos. Essa vantagem se deve à capacidade de trituração da sua

moela (estômago mecânico) e à presença da flora no ceco (parte do intestino

grosso), porções importantes do sistema gastrointestinal.

A grande maioria dos produtos que compõem a dieta dos frangos caipira

é de origem vegetal, portanto, a qualidade desses produtos depende do

processamento, ambiente de origem (clima e solo) e da planta (espécie, tipo ou

variedade e idade).

4.9.1- Forma de Arraçoamento

O consumo de alimento está relacionado à fase de criação, tanto em

termos quantitativos como de diversidade de ingredientes. A alimentação

correta diminui os riscos da ocorrência de doenças oportunistas. A fase de

reprodução é a que merece mais atenção do criador, uma vez que o sucesso

reprodutivo depende de uma boa alimentação.

Na fase de cria, os pintos necessitam de uma boa alimentação, que será

a base para atingirem o desenvolvimento final desejável. Recomendam-se

incluir nessa primeira dieta ingredientes de alta digestibilidade e evitar o

fornecimento de frutos e folhas verdes, pois os animais estão com o aparelho

43
digestivo imaturo. O consumo observado nessa fase de criação é de

aproximadamente 1.040 g de ração por pinto.

Nas fases seguintes, estima-se um consumo médio de 2.540 e 3.430 g

por ave para recria e engorda, respectivamente. Vários alimentos podem ser

utilizados, podendo ocorrer o fornecimento sem restrição de frutos e folhas

verdes, contanto que a mistura seja farelada e devidamente balanceada para

as necessidades nutricionais de cada fase.

Os comedouros devem estar sempre limpos e distribuídos em locais e

alturas que permitam o acesso das aves aos alimentos.

4.9.2- Apresentação e Acondicionamento dos Alimentos

O fornecimento de rações secas é recomendável, tendo em vista a

facilidade de ocorrência de fermentação nos materiais úmidos, resultando em

casos de doenças oportunistas. Para facilitar a digestão, os ingredientes após o

devido processamento, desidratação e moagem são transformados em farelos

e farinhas, podendo ser incluídos nas dietas, de acordo com o plano de

alimentação estabelecido para o plantel.

Alimentos em apresentações diferentes de rações secas também são

fornecidos aos frangos no projeto, como por exemplo: hortaliças, frutas e

verduras, além de plantas, capins e minhocas que elas possuem acesso

quando estão no piquete.

4.9.3- Importância da Água na Alimentação das Aves

44
O fornecimento de água para as aves deve ser feito em quantidade

suficiente e com boa qualidade. Estima-se que as aves consomem de água o

dobro da ração fornecida. A água de boa qualidade deve ser incolor, sem sabor,

sem odor e livre de impurezas, devendo ser renovada diariamente.

Os bebedouros devem estar sempre limpos e em locais e alturas que

permitam o livre acesso das aves. (Barbosa et al.,2004)

4.9.4- Tipos de Alimentos

Os alimentos essencialmente energéticos são aqueles que apresentam,

em mais de 90 % da matéria seca, elementos básicos fornecedores de energia.

Podem ser utilizados em pequenas proporções (açúcar, gordura de aves,

gordura bovina, melaço em pó, óleo de soja bruto) ou em proporções maiores,

como no caso da raiz de mandioca integral seca.

Os alimentos energéticos (com mais de 3.000 kcal/kg do alimento)

também podem ser fornecedores de proteína, por exemplo, a quirera de arroz,

a cevada em grão, o soro de leite seco, o grão de milho moído, o sorgo de

baixo tanino, o trigo integral, o trigo mourisco, o triguilho etc., mas só são

considerados protéicos os alimentos com mais de 16 % de proteína bruta.

A fibra bruta é um elemento limitante na digestão dos alimentos.

Portanto, devem ser fornecidos com cuidado, alimentos com mais de 6 % de

fibra bruta. Alguns ingredientes energéticos, tais como o farelo de arroz

integral, o farelo de amendoim, a aveia integral moída, a cevada em grão com

casca, a polpa de citrus, o grão de guandu cozido, a raspa de mandioca,

45
apesar de possuírem energia metabolizável acima de 2.600 kcal/kg, têm teor

de fibra bruta acima de 6 %.

Alguns alimentos com menor energia (valor máximo de 2400 kcal/kg) e

menor proteína (abaixo de 17 %) e com fibra bruta acima de 6 % são o farelo

de arroz desengordurado, a casca de soja e o farelo de trigo.

Outro grupo de alimentos que tem alta fibra bruta (acima de 10 %), baixa

energia (energia metabolizável menor que 2.400 kcal/kg) e uma razoável

percentagem de proteína bruta (maior que 17 %), tais como o feno moído de

alfafa, o farelo de algodão, o farelo de canola e o farelo de girassol devem ser

incluídos criteriosamente na dieta das aves.

O leite desnatado em pó, a levedura seca, o glúten de milho, as farinhas

de origem animal (de penas, vísceras e sangue), a soja cozida seca, a soja

extrusada, alguns tipos de farelos de soja e a soja integral tostada são

considerados alimentos mais completos por apresentarem elevado teor

protéico (mais de 36% de proteína bruta) e energético (acima de 3.200 kcal/kg

de alimento). Tais alimentos são usados como opções de ajuste nas dietas das

aves.

Outros alimentos, ao mesmo tempo em que são altos fornecedores de

proteína, também possuem elevada densidade mineral, tais como, as farinhas

de carne e ossos e a farinha de peixe.

A dieta balanceada tem que possuir ingredientes que supram as

necessidades estruturais, produtivas e também influenciem na capacidade de

absorção de nutrientes das aves. Tal função fica a cargo dos minerais como o

cálcio, o fósforo e o sódio, que se encontram no calcário calcítico, fosfato

46
bicálcico, fosfato monoamônio, farinha de ossos calcinada, farinha de ostras e

sal comum.

4.9.5- Aditivos

Na produção de frango não é permitido o uso de antibióticos e

hormônios como aditivos.

Para facilitar a captura de ração farelada pela ave, é aconselhável que

sejam inseridos como aglutinantes das partículas aditivos como o óleo e açúcar

em proporções que não comprometam o balanceamento da dieta.

O uso de probióticos é permitido e traz grandes benefícios de ordem

sanitária. As bactérias acido-lácticas (BAL) sob condições normais, não

causam patogêneses e inflamações, contribuiem com a homeostasia e

funcionamento do organismo, manutenção de uma camada que funciona como

barreira à colonização intestinal por patógenos, e ajudam a digestão e

assimilação de nutrientes. A utilização de pré e probiótico ou imunosuplemento,

pode inibir microrganismos intestinais patogênicos ou tornar o indivíduo mais

resistente a eles. A ação de probióticos ocorre não somente no intestino, como

também em outros órgãos, pelo estímulo do sistema imune (Ciffoni et al 2005).

4.9.6- A Estrutura para o Preparo das Rações

A estrutura necessária para o preparo das rações compreende desde o

local apropriado, que deve ser limpo e isento de qualquer tipo de

contaminação, aos equipamentos moinho, balança e misturador. O responsável

47
pela execução da atividade deve dominar os cálculos matemáticos para

composição das dietas e a operacionalização dos equipamentos.

Conhecidas as proporções de cada ingrediente e estando os mesmos

moídos e em estado próprio para o consumo, inicia-se a pesagem pelos

ingredientes de menores quantidades, fazendo-se com eles uma mistura

prévia, de modo a facilitar a sua distribuição uniforme na mistura total. .

Se a quantidade de ração a ser feita for pequena, podem-se misturar

manualmente os ingredientes e utilizar o misturador somente para maiores

quantidades. Recomenda-se que seja verificada a uniformidade da mistura e se

o tempo utilizado corresponde ao que se espera para a ocupação de mão-de-

obra e gasto de energia.

4.9.7- O Preparo das Rações

As necessidades nutricionais das aves mudam de acordo com a idade,

sexo, raça, estado nutricional e sanitário, fase produtiva e finalidade

econômica.

O SACAC recomenda que as necessidades das aves sejam atendidas

de acordo com as recomendações da Tabela 4 (ROSTAGNO et al., 2000). Os

ajustes necessários com o uso dos alimentos localmente disponíveis devem

ser acompanhados, de modo a verificar o suprimento das necessidades das

48
aves e assim evitar o aumento do custo com alimentação e o surgimento de

doenças carências e metabólicas.

49
TABELA 4: NECESSIDADES NUTRICIONAIS DO FRANGO CAIPIRA DE

ACORDO COM A FASE DE CRIAÇÃO

FASE NIVEIS NUTRICIONAIS


PB(¹) EMA(²) Ca Pdisp(³) Na Cl

(%) (Kcal/Kg (%) (%) (%) (%)


de ração)
Cria 21,4 3.000 0,95 0,45 0,22 0,20

Recria 21,4 3.100 0,87 0,40 0,19 0,18

Engorda 18,0 3.200 0,80 0,36 0,19 0,18

1: Proteína Bruta
2: Energia metabolizável
3: fósforo disponível
Fonte: Embrapa, 2010

4.9.8- Alimentos Alternativos

Além dos grãos de milho moído e do farelo de soja, que são os mais

largamente utilizados em dietas de frangos, outras opções de alimentos podem

ser utilizadas desde que tenham composição química adequada e sejam

isentos de substâncias antinutricionais que dificultem a digestibilidade e a

absorção de nutrientes.

Essas alternativas alimentares geralmente resultam do processamento

de produtos comestíveis, por isso são chamados de subprodutos. Também

podem ser restos culturais da agricultura ou pecuária, tendo, geralmente,

ocorrência sazonal. Uma vez selecionados para compor a mistura dietética,

devem ser limpos e processados, isentos de qualquer toxidade e perfeitamente

apropriados para o consumo.

50
A alimentação alternativa usada no projeto foi casquinha de soja, rolão

de milho, frutas, hortaliças, disponíveis nas propriedades, e plantadas

especificamente para a alimentação das aves. A casquinha de soja, e o rolão

de milho foram comprados, mais foram plantados nas propriedades abóboras,

mandioca, algumas já produziam frutas e verduras, que foram aproveitadas na

dieta dos frangos, alguns produtores fizeram em suas propriedades

minhocários, que complementavam a dieta dos frangos.

4.9.9- Inclusão de Plantas Forrageiras e Frutos na Alimentação de Frangos

Caipira

No SACAC, predomina o sistema de criação de frangos soltos em

piquetes, com as aves buscando considerável porção da sua alimentação nas

partes mais tenras das plantas, nos frutos e nos restos de colheita e de

culturas, insetos, minhocas, etc. De fato, dada a grande diversidade, frutos e

partes das folhas de inúmeras plantas são selecionados e ingeridos pelas aves,

contribuindo para a riqueza da sua dieta e para a economia de ração

balanceada, reduzindo os custos da criação.

O cultivo e uso mais adequado de plantas possuidoras de maior

potencial de produção e valor nutritivo, com certeza, contribuirão para a

melhoria do sistema de criação. A vantagem de tal sistema será a alimentação

mais barata, saudável, produzida na propriedade e que resultará no aspecto e

sabor peculiar "caipira" da carne e ovos.

É necessário frisar que, para a alimentação das aves, as plantas

precisam ter elevado valor nutritivo, baixo teor de fibra e alta digestibilidade.

51
Mesmo quando alimentadas com plantas de elevada qualidade, as aves,

devido às suas exigências nutricionais, necessitam de complementação da

dieta com ração balanceada. O valor nutricional varia entre diferentes plantas e

depende da fertilidade do solo. Em uma mesma planta, depende da parte

considerada (folhas, ramos e frutos) e da sua idade. Folhas tenras são mais

ricas e nutritivas que folhas maduras, com maior teor de fibra.

É comum o uso de restolhos de culturas, como as raízes e as folhas de

mandioca (Manihot esculenta Cranz), da batata-doce (Ipomoea batatas), de

frutos como a abóbora (Cucurbita pepo L.), mamão (Carica papaya L.), banana

(Musa spp), melancia (Citrullus vulgaris Schrad) e além de uma infinidade de

hortaliças.

Essas alternativas alimentares podem ser oferecidas verdes ou

processadas como farinha. Isso vai depender da quantidade, das condições de

consumo e de armazenamento. No caso de leguminosas como o feijão-guandu

(Cajanus cajan), a leucena (Leucaena leucocephala), pau-ferro (Caesalpinia

ferrea), dentre outras, os folíolos podem ser desidratados, moídos e misturados

à dieta, pois são boas fontes protéicas.

Outra forma dos frangos caipiras terem acesso a alimento verde é

através do uso de áreas de pastagens, compostas de plantas herbáceas

nativas ou cultivadas. Nessas áreas, além de ingerir as partes mais tenras das

plantas, as aves também se alimentam de alguns insetos que são bastante

ricos em proteína. As gramíneas mais adequadas são as de folhas finas e

raízes firmes, difíceis de serem arrancadas pelas aves. As partes mais tenras

de outras gramíneas, como o capim-elefante, podem ser fornecidas picadas.

52
Figura 13 Piquete composto por vegetação nativa.

4.9.10- Manejo Nutricional

No projeto foi utilizada ração balanceada comercial, cuja composição se

encontra em Anexo. O manejo nutricional foi desenvolvido da seguinte maneira:

a ração foi fornecida aos frangos à vontade durante a fase de cria, na fase de

recria e engorda era fornecida somente na parte da manhã sendo a

alimentação complementada com alimentos alternativos, como exemplos

usados foram: rolão de milho, misturado com casquinha de soja e abóbora,

cultivada nas próprias propriedades. A mistura do rolão de milho e da

casquinha de soja era feita na proporção 3 para 1 (sendo 3 porções de rolão de

milho, para uma porção de casquinha de soja).

A abóbora, frutas, hortaliças sempre quando disponíveis podiam ser

fornecidas a vontade, e em qualquer período do dia, além das plantas, capins e

minhocas, fornecidas as aves quando estavam nos piquetes.

53
FASE A- Cria

Alimentação exclusivamente oriunda da ração balanceada

FASE B- Recria

Alimentados no período da manha com ração balanceada e no período

da tarde alimentados exclusivamente, com rolão de milho misturado com

casquinha de soja, e abóboras, frutas e verduras oriundas da própria

propriedade.

FASE C- Engorda

Alimentados no período da manha com ração formulada pela AVIPEC e

no período da tarde alimentados exclusivamente, com rolão de milho misturado

com casquinha de soja, e aboboras, frutas e verduras oriundas da própria

propriedade. Nessa fase a partir do 75° dia foi fornecido as aves apenas 100g

de ração diária, e o restante dos alimentos foi fornecido a vontade.

TABELA 5– CONSUMO DE RAÇÃO POR FAIXA DE IDADE

IDADE (dias)

PESO VIVO (g)

CONSUMO DIÁRIO OBSERVADO (g)

01

40

10

120

24,5

22

325

40,2

54
30

510

51,5

37

738

77,1

45

1007

91,2

57

1465

98,1

64

1720

110,0

80

2250

100,0

• A partir do 75° dia foi feita uma restrição alimentar fornecendo apenas 100g de ração

por ave por dia e verde, rolão de milho, casquinha de soja e aboboras a vontade.

5- ABATE

O abate foi feito de forma terceirizada, sendo o abatedouro responsável

pelo transporte, abate, embalagem, e resfriamento das carcaças, e o

armazenamento e venda e de responsabilidade dos produtores. O abate teve

um custo de R$0,80 centavos por ave, sendo feito através do ABATEDOURO

DE AVES CAMPO NOVO LTDA- CAMPO MAGRO-PR.

55
6- DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

EXCLUSIVAMENTE PELO ESTAGIÁRIO

6.1- REUNIÕES COM OS PRODUTORES

Na reunião foi onde começou o projeto, sendo mostrado aos produtores

como funcionaria a implantação do mesmo, foi apresentada a linha de crédito,

e como deveria ser implantado. A segunda etapa foi a reunião, a inscrição dos

produtores que já estavam decididos a implantar o projeto em suas

propriedades.

FIGURA 14 Reunião com o projeto já em andamento

6.2- CONSTRUÇÃO DOS GALPÕES

Durante a construção dos galpões foi dado todo o acompanhamento

técnico necessário, desde o sentido em que os galpões deveriam ser

construídos, como altura de pé direito, cortinas, aeração, disposição dos

bebedouros e comedouros.

56
6.3- PREPARO PARA O POVOAMENTO

No preparo para o povoamento foi colocada e espalhada a cama para os

pintinhos, foi reduzido o espaço para colocar a campânulas, os bebedouros e

comedouros, e deixado tudo pronto para o povoamento.

No dia da chegada dos pintinhos, foi feita a pesagem das caixas com os

pintinhos, para termos o peso inicial do lote, e foram feitas todas as anotações

necessárias para o acompanhamento nutricional e sanitário dos lotes.

Após os galpões povoados foi feito o acompanhamento na freqüência

necessária para o bom andamento zootécnico do plantel.

6.4- PESAGEM DOS LOTES

A pesagem do lote e feita a cada 15 dias, por amostragem de 10% do

total, ate o dia do abate aos 90 dias. A pesagem é feita para uma possível

correção nutricional, já que existe um histórico da raça, para a montagem de

um banco de dados do projeto, para possuirmos um histórico do projeto.

6.5- APANHA PARA O ABATE

A apanha é feita aos 90 dias de idade do lote, para o transporte e abate

dos mesmos, é realizada de forma calma e correta, apanhando os animais pelo

dorso e colocando calmamente nas caixas, para que não haja lesões e

fraturas, causando perdas de carcaça.

57
7- COMERCIALIZAÇÕES DOS PRODUTOS

Os produtores foram orientados em dividir a produção em fases com:

compra de ração, pintinho transporte, abate e vendas, cada produtor ficou

responsável por uma etapa sendo do abate crucial na comercialização do

produto, uma vez que o mesmo recebeu o carimbo do SIP “Serviço de

Inspeção do Paraná” desta maneira sendo certificado, podendo entrar no

mercado sem restrição alguma.

Os produtores desenvolveram uma marca FRANGO CAIPIRA VALE DO

RIBEIRA e confeccionaram, banner, panfletos e a articulação junto às

prefeituras e outras entidades nos municípios bem como mercado local e

regional para comercializar seu produto.

7.1- APRESENTAÇÃO E QUALIDADE

Vários fatores influem na qualidade dos produtos dos frangos caipira,

dentre eles, a nutrição, a sanidade, o clima, a genética e o manejo, inclusive a

forma de abate, o acondicionamento e a embalagem.

É comum, se transportar aves por longas distâncias, geralmente

penduradas de cabeça para baixo, ou então acomodadas em gaiolas

superlotadas. Isso causa estresse, às vezes, danifica a carcaça, e pode até

levá-las à morte.

58
7.2- AVALIAÇÃO E COMPOSIÇÃO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS

7.2.1- Carne

A carne do frango caipira além de ser rica em proteínas é, também, fonte

importante de energia e de outros nutrientes como vitaminas, minerais e

lipídios. O frango tem uma carne bastante rica em ferro e nas vitaminas do

complexo B, em especial niacina (músculo escuro) e riboflavina (músculo

claro). A pele é rica em colesterol e seu consumo deve ser limitado (FERREIRA

et al., 1999).

A principal diferença entre os músculos claros e escuros está no nível de

gordura (GALVÃO, 1992). A carne do peito é bem mais magra, com cerca de

1,4% de gordura, enquanto a carne da coxa apresenta cerca de 5,1% de

gordura.

Com o aumento da idade, cresce a quantidade de proteína e gordura e

diminuem a umidade e cinzas da carcaça, tanto em machos como em fêmeas.

Maiores percentagens de umidade e proteína e menores de gordura ocorrem

na carcaça dos machos, enquanto os teores de cinza são similares entre

machos e fêmeas. A carcaça fica mais rica em gordura com o aumento da

quantidade de gordura da dieta (MOREIRA et al., 1998).

Rendimento de carcaça - é a relação entre as partes comestíveis e as

não-comestíveis e as perdas (RIBEIRO, 1992). Pode-se considerar a carcaça

eviscerada inteira, isto é, com patas, pescoço e cabeça, ou então, o que é mais

comum, a carcaça sem patas, pescoço e cabeça.

59
Em valores absolutos, os machos são mais pesados que as fêmeas,

quando submetidos a um sistema alternativo de criação e a climas quentes

(BARBOSA et al., 2005). As fêmeas acumulam mais gordura na carcaça que os

machos, independente do nível de energia na dieta, isso está relacionado à

presença de hormônios e ao metabolismo mais intenso dos machos.

O frango caipira ainda não detém na sua carcaça a massa muscular

disposta nos seus cortes mais nobres como o frango de corte de criações

tecnificadas. Porém, quando devidamente manejado, apresenta na carne fibras

musculares mais consistentes e escuras. Além de saborosa, o odor nada

lembra a carne oriunda de criações intensivas, que contém odores e sabores

de alguns ingredientes da dieta (Figura 15).

Figura 15 Carcaça pronta para comercialização

60
8- CONCLUSÃO

A produção familiar de carne de frango caipira é uma alternativa de

renda e segurança alimentar para os agricultores familiares de Bocaiúva do

Sul.

O sistema de produção proporciona o envolvimento das mulheres e

jovens no trato com as aves e necessita de pequenas áreas de terra para sua

instalação, possibilitando ao homem sua ocupação em outra atividade,

diversificando as fontes de renda da família.

O acompanhamento técnico dos projetos foi fundamental para a

implantação e consolidação da atividade no meio rural.

A adoção de critérios sanitários adequados traz segurança na produção

local e reflete positivamente junto as ameaças vividas pelo setor avícola

industrial, potencial exportador e refém de surtos e doenças.

As principais dificuldades encontradas pelos produtores foram a falta de

comunicação entre eles, uma vez que o telefone rural não funciona nas

localidades e a falta de uma câmara fria para o estoque de produto recém-

abatido bem como um veiculo próprio para fazer o transporte do mesmo.

Diante das motivações e possibilidades aqui expostas, há de se

considerar que este projeto é plenamente viável do ponto de vista econômico é

social. As dificuldades apontadas são pequenas, pontuais e conhecidas, o que

facilita a adoção de medidas eficazes para a sua superação. Há ainda

inúmeras possibilidades que podem ser adotadas como, por exemplo,

diversificação da produção, tendo em vista que só a fase de recria, faz parte

desta fase inicial do projeto, uso de alimentos alternativos como rolão de milho,

61
casquinha de soja, abóboras restos de frutas e hortaliças, o que pode baixar o

custo de produção e a adoção de práticas de manejo que podem melhorar

ainda mais os dados de desempenho e os resultados do projeto.

Este Projeto passa por uma fase de iniciação e adaptação de todos os

envolvidos, assim sendo, existem grandes dificuldades e ajustes a serem

feitos. Futuramente o Projeto visa à produção de Frango Caipira Orgânico 3

tendo em vista o grande boom na procura de produtos deste gênero. (Vide

ANEXO B, um extrato da Revisão Bibliográfica: As limitantes ao uso de

fármacos (antibióticos, antihelmínticos, hormônios) nos sistemas de produção

orgânica no marco da sustentabilidade e proteção ao consumidor).

Para que esse objetivo seja atingido toda a forma de alimentação, desde

todos os insumos que envolvem o preparado da alimentação destes frangos

terão obrigatoriamente de ter origem orgânica.

REFERÊNCIAS

AVICULTURA INDUSTRIAL de frango já supera o de carne bovina. Avicultura


Industrial, Itu. Disponível em: http://www.aviculturaindustrial
.com.br/site/dinamica.asp?
id=22925&tipo_tabela=negocios&categoria=mercado_interno.

AVISITE,2007, oito países produzem acima de 1 milhão/t/ano de ovos (7


ago.2007). Avisite, o portal da avicultura na internet. Disponível em:
http://www.avisite.com.br/noticias/noticias.asp?codnoticia=8176

BARBOSA, F. J. V.; ARAÚJO NETO, R. B. de ; RIBEIRO, V. Q. ; SILVA, R. de


S. A.; SOBREIRA, R. dos S. ; ABREU, J. G. de . Características de carcaça e
3 Orgânico: É o termo frequentemente usado para designar a produção de alimentos e outros
produtos vegetais que não faz uso de produtos químicos sintéticos, tais como fertilizantes e
pesticidas, nem de organismos geneticamente modificados, e geralmente adere aos princípios
de agricultura sustentável.[

62
composição corporal de frangos naturalizados submetidos a sistema
alternativo de criação. In: SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, 6., 2005, Teresina. Anais... Teresina:
UESPI, 2005. p. 214-214.

BARBOSA, F. J. V.; ARAÚJO NETO, R. B. de; SOBREIRA, R. dos S.; SILVA, R.


A. da; GONZAGA, J. de A. Seleção, acondicionamento e incubação de ovos
orgânicos. Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2004. 1 Folder.

CIFFONI ET AL. As limitantes ao uso de fármacos (antibióticos,


antihelmínticos, hormônios) nos sistemas de produção orgânica no
marco da sustentabilidade e proteção ao consumidor. VI Congreso
Latinoamericano de la Asociación de Especialistas em Pequeños Rumiantes y
Camélidos Sudamericanos 9 a 11/09/2009, Santiago de Queretaro –
México,2009.

FARIA, D. E.; FARIA FILHO, D. E.; RIZZO, M. F. Qualidade do ovo para


industrialização. In: CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIAS E TECNOLÓGIA
AVÍCOLA, 2003, Campinas. Anais de Palestra... Campinas: Fundação Apinco
de Ciência e Tecnologia Avícolas, 2003. p. 325-346.

FERREIRA, J. M.; SOUZA, R. V.; BRAGA, M. S.; VIEIRA, E. C. Efeito do tipo


de óleo adicionado à dieta sobre o teor de colesterol em partes de
carcaça de frangos de corte de acordo com o sexo e linhagem. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 19, n. 2, p.
189-193, 1999.

FUMIHITO A.; MYIAKE, T.; TAKADA, M.; SHINGU, R.; ENDO, T.; GOJOROBI,
T.; KONDO, N.; OHNO, S. Monophyletic orign and unique dispersal
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Sciences, Washington, v. 93, n. 13, p. 6792-6795, 1996.

GALVÃO, M. T. E. L. Utilização da carne de frango e da carne


mecanicamente separada em produtos cárneos. In: BERAQUET, N. J.
Industrialização da carne de frango. Campinas:Instituto de Tecnologia de
Alimentos, 1992. p. 41-51.

MOREIRA, R. S. dos R.; ZAPATA, J. F.F.; FUENTES, M. de F.F.; SAMPAIO, E.


M.; MAIA, G. A. Efeito da restrição de vitaminas e minerais na alimentação
de frangos de corte sobre o rendimento e a composição da carne. Ciência
e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 18,n. 1, 1998. Disponível em:
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php/textos/periodicos/
ciencia_e_tecnologia_de_alimentos/vol_18_no_1

PERRINS, C. M. Firefly encyclopedia of birds. Buffalo: Firefly Books, 2003.


640 p.

63
RAMOS, G. M.; GIRÃO, E. S.; AZEVEDO, J. N. de; BARBOSA, F. J. V.;
MEDEIROS, L. P.; LEAL, T. M.; SAGRILO, E.; ARAÚJO NETO, R. B. de.
Modelo de desenvolvimento sustentável para o Meio-Norte do Brasil:
sistema regeneração de agricultura familiar. Teresina: Embrapa Meio-Norte,
2001. 73 p. (Embrapa Meio-Norte. Circular Técnica, 31).

RIBEIRO, D. F. Influência do manejo do pré-abate e das operações de


abate na qualidade e rendimento das carcaças. In: BERAQUET, N. J.
Industrialização da carne de frango. Campinas: Instituto de Tecnologia de
Alimentos, 1992. p. 22-31.

ROSTAGNO, H. S.; ALBINO, L. F. T.; DONZELE, J. L.; GOMES, P. C.;


FERREIRA, A. S.; OLIVEIRA, R. F. de; LOPES, D. C. Tabelas brasileiras para
aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa:
UFV / DZO, 2000. 141 p.

SAGRILO, E. (Ed.). Agricultura familiar. Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2002.


74 p. (Embrapa Meio-Norte. Sistemas de produção, 1).

SAGRILO, E a criação. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica;


Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2004. 17 p. (ABC da Agricultura Familiar.
Criação de Frangos caipira, 1). Elaboração: Edvaldo Sagrilo; Firmino José
Vieira Barbosa; Raimundo Bezerra de Araújo Neto; Robério dos Santos
Sobreira.

SILVA, R. D. M. & NAKANO, M., Sistema orgânico de criação de frangos.


Piracicaba.1998.

SULAVE. Potencial genético. Disponível em http://www.sulave.com.br/


pelado_000.htm . Acesso em 16/04/2011.

VEIGA, J. B. da (Ed.). Criação de gado leiteiro na Zona Bragantina. Belém:


Embrapa Amazônia Oriental, 2005. (Embrapa Amazônia Oriental. Sistemas de
Produção, 2. Versão Eletrônica). Disponível em:
http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Leite/
GadoLeiteiroZonaBragantina/index.htm.

64
ANEXO A

65
ANEXO B

As limitantes ao uso de fármacos (antibióticos, antihelmínticos,


hormônios) nos sistemas de produção orgânica no marco da
sustentabilidade e proteção ao consumidor

Elza Maria Galvão Ciffoni


Gabriela Ciffoni Arns

Produção sustentável
A produção sustentável preconizada atualmente encontra-se vinculada a um
conceito filosófico do desenvolvimento da cadeia produtiva, onde o conceito de
orgânicos não se restringe apenas a de "produto livre de química, pesticidas,
hormônios, antibióticos, radiação e outros tratamentos feitos e produzidos pelo
homem" mas busca o tratamento das pessoas, animais e do meio ambiente
como fatores determinantes para sua certificação e aceitação junto ao
consumidor final (LIU, 2009).
Considera-se que existe um aumento de 30% ao ano na busca por produtos
oriundos da produção sustentável e os principais países produtores são a
Austrália, Argentina, Brasil, Estados Unidos e China, nesta ordem.
Os principais aspectos dos produtos ditos orgânicos estão relacionados a
(GLOBALGAP, 2009) - Produção Integrada (Integrated Crop Management),
sistema de produção que atinge as necessidades de sustentabilidade a longo
prazo, considerando toda a unidade de produção, com respeito pelo ambiente,
adaptando as condições de solo, climáticas e econômicas e, - Proteção
Integrada (Integrated Pest Management), cujo objetivo é a avaliação de todas
as técnicas disponíveis de controle sanitário e a integração de medidas de
controle fitofarmacêutico em níveis economicamente justificáveis com redução
ou minimização dos riscos para a saúde humana e ambiente.
Deseja-se um desenvolvimento de uma produção saudável com a menor
interferência possível com os ecossistemas agrícolas e o uso de mecanismos
de controles naturais ou não químicos.
As diversas denominações como agricultura orgânica, agroecologia e
agricultura biodinâmica, significam formas sustentáveis de exploração da

66
propriedade. São baseadas no uso mínimo de insumos externos e em métodos
que recuperam, mantém e promovem a preservação ambiental, através de
práticas como rotação de cultura, adubação orgânica, sementes de variedades,
uso de defensivos naturais, uso de biofertilizantes e isolamento da área contra
contaminações externas, e no caso de produção animal, enfatizando os
aspectos de bem-estar animal e métodos de manejo e curativos que
dispensam tratamentos químicos (Guarienti et. al, 2004).
Para a denominação de um sistema de produção como orgânico, não
basta somente ocorrer troca de insumos “sintéticos” por insumos
orgânicobiológicos/ ecológicos. Existe uma série de procedimentos para que
uma unidade de produção seja considerada orgânica, desde a seleção de
animais adaptados, alimentação, instalações, manejo e sanidade, e estão
regulamentados no Brasil pela Lei 10831 (Brasil, 2003) e Instrução normativa -
IN 64 (Brasil, 2008). As normas e os padrões para a certificação orgânica
internacional são desenvolvidos pela International Federation of the Organic
Movement (IFOAM, 2002) e pelo Codex Alimentarius (FAO/OMS, 2001). A
IFOAM é reconhecida pela International Organization for Standardization (ISO)
e seus padrões são usados pelas agências certificadoras para estabelecimento
de seus próprios padrões de certificação. As normas do Codex Alimentarius
são a base para as regulamentações governamentais de cada país.
Também, segundo Neves (2009), o programa Mercado Justo (ou Fair
Trade) objetiva divulgar as melhores estratégias para o acesso aos mercados e
as condições comerciais para os produtores familiares e trabalhadores rurais,
sendo que as normas de certificação são estabelecidas pela Fairtrade
Labelling Organizations International.
Assim sendo, a propriedade deve manter um controle integrado e
sustentável da produção.

Alimentação
No que diz respeito à alimentação, deve ser equilibrada e suprir todas as
necessidades dos animais. Para os ruminantes, o consórcio de gramíneas e
leguminosas na pastagem é recomendado e é exigida a diversificação de
espécies vegetais. Sugere-se a implantação de sistemas silvipastoris, nos
quais árvores e arbustos estejam associados a pastagens, ou ainda sistemas

67
rotativos alternando-se pastejos e lavouras. Incentiva-se também a introdução
de bancos de proteínas e cercas vivas. Suplementos devem ser isentos de
antibióticos, hormônios e vermífugos. São proibidos aditivos, promotores de
crescimento, estimulantes de apetite, uréia, etc.
O uso de probióticos é permitido e traz grandes benefícios de ordem
sanitária. As bactérias acido-lácticas (BAL) sob condições normais, não
causam patogêneses e inflamações, contribuiem com a homeostasia e
funcionamento do organismo, manutenção de uma camada que funciona como
barreira à colonização intestinal por patógenos, e ajudam a digestão e
assimilação de nutrientes. A utilização de pré e probiótico ou imunosuplemento,
pode inibir microrganismos intestinais patogênicos ou tornar o indivíduo mais
resistente a eles. A ação de probióticos ocorre não somente no intestino, como
também em outros órgãos, pelo estímulo do sistema imune. Ciffoni et al (2005)
Avaliaram a ação de uma cepa de BAL sobre a prevalência de parasitos
intestinais e desenvolvimento (ganho de peso, consumo de alimento e
aspectos clínicos) em cabritos que receberam a cepa e observaram que
tiveram ligeiro aumento no hematócrito e na contagem de eritrócitos, presença
de ovos de estrongíleos e oocistos de Eimeria sp. Cerca e 50% menor do que
no grupo controle, e peso corporal ligeiramente superior.

68

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