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NOTAS DE INTRODUÇÃO:
Concluído seu período de atividades junto a WIC, Nieuhof, seguiu para Batávia
(Jacarta na Indonésia), passando a atuar junto a VOC (Companhia Holandesa
das Índias Orientais), através da qual efetuou inúmeras viagens, tornando-se a
época a mais autorizada fonte entre os europeus sobre a China. Nieuhof
desapareceu, sem deixar vestígios, durante uma escala de abastecimento de
água no ano de 1672.
Vittorio Serafin
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Violenta tempestade
que foram necessários quatro homens para içá-lo a bordo e, ainda assim, com
dificuldade. Sua carne não nos pareceu muito agradável; sabia a ranço, razão
pela qual os nossos homens não mais quiseram apanhar esses cetáceos,
conquanto aparecessem em abundância em torno do navio.
Ao pôr do sol, soprando mais forte o vento, distanciamo-nos dos outros navios
que demandavam a Espanha e os Estreitos e que nos haviam acompanhado
até a última tempestade, para rumarmos em direção a sudoeste.
Nos dias 2 e 3 ventou muito com trovões e relâmpagos, o que nos forçou a
colher as velas grandes e bombear energicamente, porque, desde a última
tormenta, o navio passara a fazer água.
[*] O fenômeno é também conhecido como fogo-de-santelmo (ou fogo de São Telmo ou ainda
fogo de Santo Elmo) consiste numa descarga eletroluminescente provocada pela ionização do
ar num forte campo elétrico provocado pelas descargas elétricas. Mesmo sendo chamado de
fogo, é na realidade um tipo de plasma provocado por uma enorme diferença de potencial
atmosférica.
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O fogo-de-santelmo origina seu nome de São Erasmo (também conhecido como São Elmo ou
São Telmo), o santo padroeiro dos marinheiros, que haviam observado o fenômeno desde a
Antiguidade, e acreditavam que a sua aparição era um sinal propício.
Nesse momento o inimigo voltou à carga alvejando-nos com tal fúria, com
canhões e arcabuzes, que arrancaram o teto de nossa cabine grande,
danificando, ainda, a cordoalha. Troquei, então, minha cimitarra por um
mosquete que passei a descarregar continuamente sobre o inimigo. Semanas
depois, ainda sofria eu com um ferimento que me causou, naquela refrega, o
mosquete de um companheiro. A arma lhe fora arrancada das mãos por uma
bala de canhão e viera bater violentamente contra mim, atirando-me sem
sentidos ao tombadilho. Momentos depois consegui, entretanto, tornar ao meu
posto. Percebi, então, que o capitão da maior das naus turcas, de turbante à
cabeça se achava à popa do seu barco instigando a maruja. Prontamente
ordenei aos que estavam ao meu lado, que o visassem com suas armas de
curto alcance, o que imagino tenha sido feito com sucesso, pois, logo a seguir,
já o não vi mais.
Corsário turco
víssemos afastar com seus navios atingidos por muitos de nossos tiros. E
assim, com vento forte, pudemos dar todo pano e livrar-nos de tão indesejáveis
companheiros, tomando rumo completamente diferente. Com a vantagem que
nos deram as trevas da noite, já na manhã seguinte estávamos bem longe
deles.
Demos graças a Deus por nos haver salvo do perigo da escravidão 2,
auxiliando-nos na luta contra um inimigo muito mais forte. De fato, o maior dos
navios contrários estava armado com 24 canhões e o outro com 2, enquanto
que nós apenas dispúnhamos de 18 [*], sem levar em conta o fato de terem
eles uma guarnição muito maior que a nossa [ que era como informa no início
de 130 homens]. Depois de vistoriar nosso navio e de verificar que estava em
boas condições, empenhamo-nos em reparar os danos sofridos em combate.
Prosseguimos viagem até o dia 14, sem nenhum incidente digno de nota,
quando então cruzamos o Trópico de Câncer [23° N].
[*] Observar que logo no início do livro Nieuhof, informa que o navio Roo Hert,
ou Roo Herr dispõe de 28 canhões, número esse contraditado acima – deverá
se presumir ou que o número de 28 peças inicialmente informado foi
equivocado, ou então que neste último registro se reduziu aquele número para
valorizar a vitória.
Cerca do meio-dia éramos colhidos por outra tempestade que, por precaução,
nos fez reduzir o pano das grandes velas. Contudo, o tempo logo serenou.
2
O Alcorão proíbe reduzir à escravidão os muçulmanos, mas admite a escravidão dos
idólatras. Durante toda a história turca existiram escravos brancos e negros entre os turcos,
sendo a guerra a fonte de escravidão branca, principalmente na época das Cruzadas. É sabido
que os muçulmanos exerceram a pirataria, roubando habitantes das costas do Mediterrâneo e
vendendo-os como escravos, tráfico este que durou até a metade do século XIX. A ordem da
Mercê foi criada com o fito especial de libertar os cativos.
O exército turco - os célebres janísaros - eram recrutados entre cristãos. Os corsários turcos
exerciam suas atividades especialmente no Mediterrâneo Ocidental, que se tornou um mar
pouco seguro para os cristãos.
Herbert Bloom conta-nos, por exemplo, que um certo judeu Efraim Abensachis libertou, por
essa época, vários cativos de origem holandesa, que foram trazidos à Holanda, onde Efraim
recebeu dinheiro e uma medalha de ouro, mandada cunhar pelo corpo legislativo holandês. (XI,
p. 84).
3
Na edição inglesa está: "duas léguas e meia" (p. 3, 1a coluna 1º §); cf. Edição holandesa,
(p.4, 1ª coluna 4° §).
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No dia 22 fomos colhidos por nova tempestade - a que chamam Travado (*), -
acompanhada de relâmpagos e trovões pavorosos e que surpreende os navios
tão bruscamente que mal lhes dá tempo para reduzir as velas, chegando, o
fenômeno, a se repetir três vezes em uma hora.
Pesca abundante
4
A palavra Kroos significa lentilha d'água, sargaço, erva do mar. Está entre 18 e 30 graus ao
norte da linha equinocial.
5
Bonitos: Curvata Pinima Brasiliensibus Lusitanis Bointo (sic) LXX, 150 e LXXXVI, 338).
6
Na ed. inglesa está: "dez pés de comprimento" (p. 3, 2ª coluna ); cf. ed. holandesa, (p.5, 1a
coluna, 3° §).
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farta; limitamo-nos, por isso, a escolher apenas o que havia de melhor, para
nossa alimentação. Vimos ali um peixe a que chamam peixe rei 7. Como efeito
da insondável profundidade do mar, naquelas paragens, as águas são tão
claras e transparentes, quando o tempo está bom, que se podem ver
perfeitamente os peixes se moverem em grandes cardumes, a dois pés de
profundidade. Basta então um prego recurvo ou qualquer coisa que se pareça
com anzol, preso a uma linha, para se apanhar o peixe que se quiser. A essa
calmaria seguiu-se tremenda borrasca.
7
Peixe Rei. "Guarapucu Brasiliensibus, Cavala Lusitanis, Nostratibus Koninghvisch".
(LXX,1789). [talvez tenham ocorrido equívocos]
8
Peixe Voador. Miivipira & Pirabebe Brasilianis, peixe volador [i](sic)[/i] lusitanis. (LXX, 162).
Pirabebe significa peixe que voa. Barlaeus referiu-se ao peixe voador (VII, 140) e Cláudio
Brandão anotou-o à p. 185. Cardim (XIX, 75) também o descreve e Rodolfo Garcia (XIX, 120)
anota-o como sendo da família dos cefalacantídeos.
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[*]Observar que pela latitude Nieuhof, refere-se ao arquipélago de São Pedro e São Paulo,
situado na latitude 00° 55.1’ N - 29º20.7’ W. E como poderá ser observado formado de 05
ilhotas. Não seria, como sugere o autor da nota 5, São Paulo de Assunção de Luanda
(coordenadas 8.82º S – 13,23° W)
O calor, aí, é terrível e a grande escassez de água potável - pois que se não
pode contar com a das chuvas, alterada pelo ardor dos raios solares - constitui
a causa principal do escorbuto [Nieuhof naquela época não poderia saber a
causa do escorbuto, cuja cura só veio a ser conhecida no século XVIII - esse
mal que acometia aos navegadores ao redor do 30 dia de viagem decorria da
falta de ingestão de vitamina C] .
9
São Paulo de Assunção de Luanda foi atacada e tomada, em 1641, pelos holandeses. Em
1648, Salvador Correia de Sá e Benevides aniquilou e expulsou os holandeses.
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Bonito Corvina
A Ilha Fernando
Pouco tempo depois [em junho de 1644] o Conselho do Brasil despachou para
lá uma leva de negros sob as ordens de um tal Gillis Venant 11, com o objetivo
de cultivar a terra para sua subsistência; e, assim, lá viveram os pretos algum
tempo. Ano e meio depois o Conselho de Justiça desterrava para aquela ilha
10
A quantidade de ratos devastando as plantações é confirmada por outros autores. Assim,
Wätjen (XCVI, p. 128), baseando-se em uma carta de Willem Joosten Glimer a Van Keulen e
Gijsselingh a 9 de fevereiro e a 26 de março de 1634, falamos de que "uma terrível praga de
ratos aniquilou quase todas as culturas". Ayres de Cazal (XXVI, 194) declara, também, que os
"ratos são numerosíssimos". Cf., também, Branner, (XIV, 142).
11
O objetivo era o cultivo do anil. Gillis Venant recebeu 23.000 florins para esse fim. Em junho
de 1644, mandou plantar exemplares que obtivera nas Índias Ocidentais. Wätjen (1938,
pg.442).
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diversos malfeitores que também receberam petrechos com que cultivar a terra
e prover seu sustento.
No dia 12, como estivesse muito densa a cerração, mantivemos o mesmo rumo
ao longo da costa, e, com bastante vento, pelo meio-dia, chegávamos,
finalmente, à vista do Recife. Logo depois deitávamos ferro a várias toesas
[uma toesa=1,82m] de profundidade, terminando assim uma viagem de sete
semanas e um dia.
Chegada ao Brasil
Depois de render graças a Deus por nos haver livrado dos perigos do mar e da
escravidão pelos turcos, desembarcamos, na mesma noite, o capitão, o
comissário e eu, a fim de dar ciência de nossa feliz viagem e entregar uma
carta ao Conde Maurício, e aos Altos Senhores Conselheiros. Passei aquela
noite em terra, mas no dia seguinte voltei para bordo.
No dia 15 os pilotos conduziam nossa nau para o porto do Recife, onde se
encontravam 28 navios e dois iates ancorados junto ao Castelo do Mar.
Vista de Recife
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São Tomé e Príncipe é um estado insular localizado no Golfo da Guiné, composto por
duas ilhas principais São Tomé e Ilha do Príncipe e por várias ilhotas. A cana-de-
açúcar foi introduzida nas ilhas no século XV, mas a concorrência brasileira e as
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constantes rebeliões locais levaram a cultura agrícola ao declínio no século XVI. Assim
sendo, a decadência açucareira tornou as ilhas entrepostos de escravos.
A Ilha de São Tomé tem uma configuração circular, com diâmetro aproximado
de 36 milhas. Altas montanhas, no meio da ilha, têm os seus picos sempre
cobertos de neve, enquanto que as regiões baixas são intoleravelmente
quentes devido à sua situação equatorial. É riquíssima em açúcar mascavo e
gengibre.
O açúcar chegou a São Tomé, aproximadamente na mesma época em que chegou ao Brasil,
senão até um década antes de haver sido introduzida nas capitanias de S. Vicente,
Pernambuco e outras
A Ilha Madeira posiciona-se nos anais da História universal como a primeira área de ocupação
Atlântica, pioneira na cultura e divulgação do açúcar. A cultura açucareira e a tecnologia do
açúcar de cana passaram do Mediterrâneo, inicialmente para a Ilha da Madeira, onde a
produção açucareira sofreu um grande desenvolvimento. Assim, novos termos e técnicas
açucareiras surgem na ilha e difundem-se a seguir no Atlântico, juntamente com os termos e as
técnicas tradicionais do Mediterrâneo, passando para Canárias, Açores, Cabo Verde, S. Tomé
e Brasil, com as canas e os mestres de açúcar madeirenses.
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O ar é, aí, muito quente e úmido durante o ano todo, exceto no verão, pelos
meados de julho 12, quando os ventos de sudeste e sudoeste amenizam
bastante o rigor do clima. Os vapores produzidos pelo sol ocasionam
epidemias de febres intermitentes [malária, paludismo – doença ainda não
erradicada nessa região] que se caracterizam por dores horríveis na cabeça,
sofrimentos indizíveis nas entranhas e vitimam os doentes em poucos dias.
São Tomé e Príncipe tem um clima do tipo equatorial, quente e úmido, com temperaturas
médias anuais que variam entre os 22 C e os 30°C.
12
Na ed. inglesa está junho (p. 4, 2ª coluna , 4° §) ; cf. ed. holandesa, (p. 7, 2ª coluna 2º §).
13
D. João, visando compelir à conversão os imigrantes judeus, vindos da Espanha, ou de, pelo
menos, trazer os ainda inocentes à fé cristã, ordenou que todas as crianças de 2 a 16 anos
fossem tiradas aos pais e transportadas para a Ilha de S. Tomé, que havia sido descoberta há
pouco. Referindo-se a essa ilha, diz Samuel Usque que seus moradores eram lagartos,
serpentes e outros muitos peçonhentos bichos, apresentando-se deserta de criaturas racionais.
(Cf. João Lúcio de Azevedo, V, 24).
14
Nieuhof escreve Pavaosa (p. 7, 2ª coluna , 7º § e p. 8, 1ª coluna , 1° §). Adotamos, aqui, a
lição de Naber, que, na edição holandesa, p. 272, escreveu Povoação (Cf. VIII, 272). O Sr.
Cláudio Brandão aceitou, também, essa grafia (Cf. VII, 391).
15
O tradutor inglês escreveu (p. 5, 1ª coluna , 2° §): "800 casas e 3 igrejas"; cf. ed. holandesa
(p. 8, 1ª coluna 1° §).
16
Trata-se de Cornelis Corneliszoon Jol, cognominado o Perna de Pau, que teve grande
influência nas ações navais da época. Sobre suas viagens e expedições, ver Nederlandsche
Raizen, pp. 4269, tomo XIV. E uma coleção de viagens onde se encontram, entre outras, as
"Togten en Verrigtingen van Cornelis Corneliszoon Jol, bijgenaamd Houtenbeen, na in de
Westindien; in de jaaren 1628 tot 1641" - Expedições e Empresas de Cornelis Corneliszoon Jol,
cognominado o Perna de Pau, para e nas Índias Ocidentais, nos anos de 1628 a 1641.
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Após esta conquista o Comandante Jol dirigiu-se com parte de sua frota para o Golfo
de Guiné e conquistou a Ilha de São Tomé, rica em açúcar e para assegurar as suas
plantações contra saques, os abastados plantadores firmaram um acordo com o
Comandante Jol de um pagamento de soma em dinheiro e da entrega de vultosa
quantidade de açúcar com isto mantinham o direito de conservar as suas propriedades
rurais sob as ordens da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, porém a fortuna
dos holandeses de permanecerem na Ilha de São Tomé não durou por muito tempo,
pois os soldados desembarcados na Ilha de São Tomé começaram a morrer de febre
e a epidemia se estendeu para os navios holandeses onde em 31 de Outubro o
próprio Jol veio a falecer, porém antes do regresso da expedição o sucessor do
Comandante Jol ocupou a Ilha de Ano Bom. Devido a condição insalubre da Ilha de
São Tomé, o Governador Maurício de Nassau teve muita dificuldade em achar
elementos que quisessem desempenhar qualquer cargo na administração daquela ilha
açucareira e por este motivo, Nassau, viu-se obrigado a transformar a Ilha de São
Tomé em uma colônia presídio, e remetendo todos indivíduos culpados de ter
cometido qualquer delito, e propôs a diretoria da Companhia das Índias Ocidentais a
anexação de Angola, da Ilha de São Tomé e da Ilha de Ano Bom a Nova Holanda, e
sujeitar todos estes territórios a uma administração comum, pois a dependência da
vida econômica pernambucana da importação de grande número de negros impunha
uma estreita ligação entre o norte do Brasil e Angola, e por este motivo sendo estes
territórios administrados através de Recife traria grande economia de recursos e
tempo para a Companhia das Índias Ocidentais e além do mais Pernambuco ficava
próxima das novas conquistas que Amsterdã que igualmente não deveriam esquecer
que Pernambuco fora quem fizera as conquistas dessas colônias, através das tropas
enviadas.
Por mais que parte da Companhia das Índias Ocidentais pudesse se interessar pela
proposta de Nassau, ainda assim existia um receio de que o conde rompesse os laços
com a Companhia das Índias Ocidentais e fundasse um principado independente nos
trópicos e com isso não deram atenção a proposta e se dispuseram a administrar
separadamente os territórios americanos dos africanos. No que pese a Nassau,
aparentemente as conquistas empreendidas em 1641, foram decorrentes de uma
atitude oportunista, aproveitando que a restauração iniciada em Portugal em início de
dezembro de 1840, com a aclamação de D. João IV, pareceria àquela época a alguém
com razoável conhecimento estratégico que a independência de Portugal era um
movimento fadado ao fracasso, em virtude de Portugal ter ficado depauperada como
decorrência da subordinação aos Habsburgos e assim, antes que Portugal viesse a
ser novamente subjugada, decidiu apoderar-se de novas colônias e estender a
extensão das posses holandesas no Brasil anexando o Maranhão por temerem que o
Governador Maurício de Nassau rompesse os laços com a Companhia das Índias
Ocidentais e fundasse um principado independente nos trópicos, porém o governador
nesta época estava apenas querendo tirar proveito da situação para aumentar o
domínio colonial holandês
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Em 1591 o preço dos animais em Pernambuco era de 30.000 reis para uma junta
de bois, 10 a 12.000 reis para uma vaca, 15 reis para um porco, 3 a 4 reis para um
carneiro, 1 real para um peru e 6 a 7 tostões para uma galinha.O investimento
total dos senhores de engenho e lavradores, poderia atingir 25% em mão de obra
e a cotação dos escravos negros era feita conforme o sexos, a idade, a origem
étnica e aptidões, sendo mais valorizados os crioulos, aqueles nascidos no Brasil,
os ladinos, já aculturados com o modelo do colonizador, e, por último os boçais,
recém chegados da África. A classificação por idade respeitava o seguinte
critério: o velho; com mais de 35 anos, o barbado; entre 25 a 35 anos, a peça;
homem de 15 a 25 anos, molecão ou molecona; entre 8 a 15 anos, moleque ou
moleca; inferior a 8 anos, as crianças de peito eram incluídas no preço das mães.
O Preço era de 22.000 reis para uma peça, 12.000 reis para um velho e para um
moleque ou moleca, 44.000 reis para e molecões ou 3 moleconas.
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2010_01_01_archive.html
DESCRIÇÃO DO BRASIL
17
Esses nomes geográficos estão, com raras exceções, corretos. Antes de tudo, convém frisar
que Nieuhof escreve, sempre, com K em vez de C. Há apenas pequenos enganos, conforme
veremos. Em primeiro lugar, Nova Inglaterra não é Virgínia, pois a primeira ficava bem mais ao
norte e, entre elas, existia Nova Amsterdã e Nova Suécia, que não sabemos por que não
figuram entre os Estados citados. Laet não se refere a Estotilândia, Quivira, Bakalaos e Amian
(Cf. L). Mas no Mapa de Ortelius (Cf. LXV), encontra-se a Estotilândia ao norte, no Atlântico,
perto do Labrador, embora já se encontre uma península e cabo desse nome. Quevira demora
no Pacífico, perto do antigo e atual cabo Mendoncinho. Amian está mais ao norte. Quevira
nada tem a ver com Nova-Álbion (Cf. L e LXV), pois essa demorava um pouco abaixo do Cabo
Mendoncinho (Cf. Mapa Americae sive Indiae Occidentalis, Tabula Generalis in L). Colini é
Colima, em Janssonius (Cf. XLIII) e com Zacatula constituíam províncias de Mechoacan (Cf.
XLVIII). Janssonius escreve Cuaxacau, em vez de Guaxaca (Cf. XLIII).
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Descobrimento do Brasil
O Brasil foi descoberto pelo português Pedro Álvares Cabral, pouco tempo
depois de Américo Vespúcio, isto é, no ano de 1500. Foi pelo descobridor
denominado de "Santa-Cruz", nome que posteriormente os portugueses
mudaram para o de Terra do Brasil, devido ao lenho20 assim chamado, que aí
se encontra em grande abundância e que, desde então, passou a ser
importado por toda a Europa, para tinturaria.
Sua situação
Extensão
Preferem outros situar o Brasil entre o Rio Maranhão e o Rio da Prata. Até hoje
não foi possível precisar a extensão do Brasil de Leste (onde se limita com o
18
Na edição inglesa está escrito: (P. 5, 2a coluna 1° §) "its whole circuit being of about four
thousand Italian or one thousand german miles"; cf. edição holandesa (p. 8, 2a coluna 4.º §).
19
Pária fica na Venezuela (Cf. L, p. 388). Cumana, província da antiga Nova Andaluzia (L, p.
614); Província Chica, perto da atual província de Tucuman, na Argentina (L, p. 463, 469) e
Caribana deve ser a atual Caraíbas; Popaian, atual Colômbia (Cf. mapa Americae sive Indiae
Occidentalis Tabula Generalis in L).
20
Marcgrave escreveu: "Haec regio primo à Lusitanis appellata fuit Santa Cruz, quod nomem
postea mutarunt in Terra do Brasil,..." (Cf. LXX, liv. 8, cap. I, p. 260).
21
O tradutor inglês escreveu: "may be fixed under the second degree anda half of nothern
latitude near the river Para..." (p. 5, 2a coluna últ. §); cf. Edição holandesa (p. 9, 1ª coluna, 1°
§).
22
Cf. Marcgrave (LXX, liv. 8, cap. I, p. 260).
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Mar do Norte) a Oeste, por ter sido muito pequeno o número dos que puderam
penetrar tão a fundo pelo interior do país. Assim, sua largura de leste a oeste
pode ser avaliada em 742 milhas.
Há, porém, alguns autores que estendem seus limites mais para leste, e, para
oeste, mais além do Peru ou Guiana, o que representa um acréscimo de 188
milhas. Outros, ainda, situam os limites do Brasil ao norte com o Rio das
Amazonas, ao sul com o Rio da Prata, a leste com o Mar do Norte e a oeste
com as montanhas do Peru ou Guiana.
Sua divisão
Enquanto parte do Brasil esteve sob o nosso domínio, conviria melhor dividi-lo
em Brasil Holandês e Brasil Português. Cada uma dessas capitanias é
banhada por alguns rios caudalosos, além de outros de menor importância.
Vários deles apresentam correnteza muito rápida na estação chuvosa e, com
suas águas, inundam as regiões ribeirinhas.
23
Essa divisão do Brasil, Nieuhof tirou-a de Marcgrave, pois os nomes estranhos que aí
encontramos, como Nhoe-Combe e Pacata se encontram, também, na Historia Naturalis
Brasiliae. Assim, escreve Marcgrave (Cf. LXX, p. 261): "Dividitur Brasilia, intra hos limites, in
certas Praefecturas (capitanias appellant vulgo Lusitani) & quidem vulgo in quatuordecim.
Quarum prima versus Boream est Para, sequuntur dehinc ordine Maranhaon, Ciara, Potiyi vel
Rio Grande, Paraíba, Itamaracá, Pernambuco, Quirimure vel Bahia de Todos los Santos, cujus
metropolis S. Salvador, Nhoecombe vel os Ilheos; Pacatâ, vel Porto Seguro; Espiritu Santo;
Nheteroya, vel Rio de Jeneiro, quern Ganabara vulgo vocant Brasilienses; & S. Vicente".
Quirimure, de que fala Nieuhof, foi, também, por outros cronistas, referida. Assim, Soares (Cf.
LXXXVI, p. 223) se refere a Caramurê e Varnhagen, em nota à p. 483, acha que o nome deve
estar certo, porquanto os jesuítas o repetem, escrevendo-o Quigrigmuré. Acha que se trata do
mesmo local a que se referiu Thevet (f. 129), com e nome de Pomte de Crouestimourou. Não
andaria, porém, já neste nome a idéia da residência de Caramurú? pergunta o Visconde de
Porto Seguro. Teodoro Sampaio (Cf. LXXXI, p. 148) afirma que Quimimuras significa gente
silenciosa; e esclarece que é o nome de uma tribo que habitou primitivamente o Recôncavo da
Baia de Todos os Santos. Ayres de Cazal (XXVI, p. 100) escreve: "Aos antigos Quinimuras,
primeiros povoadores memoráveis do contorno da enseada de Todos os Santos, sucederam os
Tapuias, pouco depois expulsos pelos, Tupinás, vindos do Sertão, para onde se retiraram os
segundos, que jamais cessaram de inquietar os seus vencedores". Mais explícito e preciso já
havia sido Cardim (Cf. XIX, p. 179), que diz: "Outros que chamam Quirigmã, estes, foram
senhores das terras da Bahia e por isso se chama a Bahia Quigrigmurê". Batista Caetano, em
nota à p. 234, do trabalho do mesmo cronista, sugere a hipótese acerca da etimologia do
nome.
Restam, ainda, Pacata e NhoeCombe. A primeira, segundo Saint Adolphe (Cf. LXXIX, p. 187),
refere-se a um rio de Porto Seguro.
No Vocabulário da Língua Brasílica publicado por Plínio Ayrosa, (n. 261) S, Paulo, 1938,
registra-se para a Capitania de Ilhéus o nome indígena "Nhueceebê".
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As cristas das serras que correm não muito longe do litoral, despejam suas
águas, aqui como no Peru, em direção ao Poente, dividindo-as em duas
bacias: a primeira que corre para o norte e se junta aos grandes e rápidos rios
de Maranhão e das Amazonas; e a outra que demanda os rios São Francisco,
da Prata e de Janeiro. As águas desses rios que se avolumam
consideravelmente com a contribuição de inúmeros afluentes, lançam-se no
oceano com tal impetuosidade que, não raro, os marinheiros encontram água
doce no mar a distâncias consideráveis de terra.
O aumento de volume deste rio, durante a estiagem, talvez possa ser atribuído
ao degelo da grande quantidade de neve das montanhas que chega a fazer
que o rio transborde de seu Jeito natural. Neste particular, é ele bem diferente
dos outros rios que geralmente extravasam no inverno.
O Brasil Holandês
Seis das capitanias acima citadas, conquistadas pelas armas, achavam-se sob
a jurisdição da Companhia das Índias Ocidentais. Eram elas, a começar do Sul,
a Capitania de Sergipe d'El Rei, Pernambuco, Itamaracá - à qual pertence a
Goiana - a de Paraíba, a de Potigí ou Rio Grande e a de Siará ou Ceará. A
Companhia possuía, também, a Capitania de Maranhão, que foi, porém,
abandonada, por diversas razões, no ano de 1644 24 25.
24
A tradução inglesa não é bem fiel; pois enquanto no original holandês está escrito: "De
Kompagnie bezat ook de Kapitanie van Maranhaon: maer die wierdt des jaers zestien hondert
vier en veertigh, om zekere redenen, verlaten" (p. 10, 2a coluna 2° §); o tradutor inglês
escreveu: "the Captainship of Maranhaon was 1644, by special command of the Company, left
by the Dutch." (p. 6, 2a coluna 2° §). Ora, por várias razões perdido não é o mesmo que
abandonado por ordem especial da Companhia. Veja as razões da perda mais adiante, nota
172.
25
Sobre o domínio holandês no Maranhão, consulte-se João Francisco Lisboa. (Obras, LIII
Lisboa, 1901), p. 318. Foi conquistado em 25 de Novembro de 1641. O domínio durou 27
meses, dezessete dos quais se haviam passado em guerra incessante. Deixaram o Maranhão
a 28 de fevereiro de 1644 e, possivelmente, porque lhes falecia de Pernambuco todo o socorro.
26
Sobre rios, geografia em geral, localizações de engenhos, nomes, etc., etc., devem-se
consultar os mapas relativos à ocupação holandesa do Brasil, feitos por Vingbooms, no vol. II e
os relativos à exploração do Brasil pela Companhia das Índias Ocidentais no vol. IV (Cf. XCVII).
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Tem a aldeia duas ruas, sendo que a principal se estende paralelamente ao rio,
de um forte a outro. Chama-se rua de São José e não contém mais do que
umas três casas de um único pavimento e cerca de 35 ou 36 outras cobertas
São, ao todo, 12 mapas. 26] Sobre rios, geografia em geral, localizações de engenhos, nomes,
etc., etc., devem-se consultar os mapas relativos à ocupação holandesa do Brasil, feitos por
Vingbooms, no vol. II e os relativos à exploração do Brasil pela Companhia das Índias
Ocidentais no vol. IV (Cf. XCVII). São, ao todo, 12 mapas.
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À noite o terreal sopra sobre a aldeia os frescos vapores dos rios próximos.
Existiu outrora certa cidade, chamada Sergipe d'El Rei, um pouco mais para
cima do rio Vasa barris em lugar muito desolado, cidade essa de área extensa,
bem construída, com três boas igrejas e um mosteiro de franciscanos, mas
sem fortificações alguma. Mais para cima dessa cidade, pode-se ainda ver uma
capelinha dedicada a São Cristóvão, para onde os católicos romanos se
dirigem em peregrinações.
27
A edição inglesa se refere a 35 casas (p. 7, 1a coluna , últ. §), enquanto que na edição
holandesa consta: 35 ou 36 casas (p. 11, 2a coluna , 5° §).
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28
Foi, realmente, Cristóvão de Barros que iniciou a conquista e colonização desse Estado. Era
governador interino da Baía, em 1590, e tivera ordem de ElRei Filipe II "a requerimentos dos
povos d'entre rio Real e Itapicurú, que vivião inquietados pelos indigenas deste paiz, e piratas
franceses, que frequentavão a costa em busca do pau brasil." (Cf. XXVI, 2° tomo, p. 124).
29
O Barão do Rio Branco anexou, no exemplar de F. A. Varnhagen "História das lutas com os
holandeses no Brasil" (1871), que lhe pertencera, uma extensa biografia de Bagnoli, com
documentos que mandara copiar ou copiara na Itália. Por aí se vê que Bagnoli é uma pequena
aldeia nos arredores de Nápoles, sobre a praia do mesmo nome. Aí nasceu o Conde de
Bagnoli, Cujo nome constitui puro dialeto napolitano. Também escreveu sobre Bagnoli o sr.
Francisco Pettinati, que lhe dedicou 156 pp. (Cf. LXVII, pp. 161227).
30
A grafia de Nieuhof é muito flutuante e não parece ser a certa. Nieuhof escreveu tanto Schop
como Schoppe. A grafia correta é Schkoppe, dada por Netscher (Cf. LXIII, p. 182), segundo a
assinatura do coronel e encontrada em um documento oficial do Arquivo Real; seu título de
nobreza era Senhor de Krebsbergen, Grana Cotzen. [30] A grafia de Nieuhof é muito flutuante
e não parece ser a certa. Nieuhof escreveu tanto Schop como Schoppe. A grafia correta é
Schkoppe, dada por Netscher (Cf. LXIII, p. 182), segundo a assinatura do coronel e encontrada
em um documento oficial do Arquivo Real; seu título de nobreza era Senhor de Krebsbergen,
Grana Cotzen.
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Todos Santos. Isso dá bem idéia da enorme quantidade de gado que esta
região então produzia.
Recife
A CAPITANIA DE PERNAMBUCO
Mapa da Capitania de Pernambuco de autoria de Geog Margrav inclusa no livro Rerum per
octennium in Brasilia de autoria de Gaspar Van Baerle
Igarassú
31
Nieuhof escreve (p. 13, 1a coluna últ. §): van Inferno en bokko, dat eigentlijk helle - mont
ezeit is; "isto é, Inferno e bokko que propriamente é considerado uma embocadura do inferno".
Batista Caetano (Cf. III, p. 205), escreve: "Afinal Paranambuka será rebentação do rio grande,
designando-se pelo nome rio grande paranã o semimar formado pelos rios Capibaribe e
Bybyrybe". Segundo Teodoro Sampaio (Cf. LXXXI, p. 146), a etimologia é "Ant. Paranambuca,
corr. paranã - buc ou paranã - puca, o mar quebra ou o mar arrebenta, isto é, quebra mar em
alusão ao Recife". Alfredo de Carvalho (Cf. XXVI, p. 63) adota a etimologia de Teodoro
Sampaio. Sobre o nome de Pernambuco, nos velhos mapas, consulte-se o estudo de Orville
Derby (Cf. XXVIII).
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Muribeca
Muribeca fica mais para o interior e para o sul, a cerca de 5 milhas do Recife.
Santo Antônio
Ipojuca
Serinhaém
Porto Calvo
Os dois Palmares
32
Nieuhof escreveu (p. 13, 2a coluna , 10º §) : "Castelo Povoaçano". Barlaeus (VII, p. 42)
refere-se a esse forte Povoação e na edição holandesa (VIII, p. 46) está escrito
Povoação. O Sr. Cláudio Brandão assim traduziu, seguindo a lição de Naber. (Cf. VIII, p.
50). Sobre o forte de Porto Calvo, cf. XV, p. 180, Cf. nota 13.
33
(33 e 34) Nieuhof escreveu Gongohubi (p. 14, 1a coluna , 3° §), como, antes, fizera Barlaeus.
O Sr. Cláudio Brandão anotou, muito bem, que a fonte parece ser Marcgrave (LXX, p. 261 e
VII, p. 253 e nota 321). Escreveu o Prof. Cláudio Brandão Gungouí. Segundo J. van Walbeek e
H. Moueheron, o Mondai despeja suas águas, na Alagoa do Norte, pelo lado ocidental (Cf.
XCV, p. 53).
34
Idem nota anterior.
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35
O tradutor inglês escreveu:"each near half a league in lenght"(p. 8, 2a coluna ), enquanto o
original holandês diz: "ieder van een halve uure lang" (p. 14, la coluna , 4° §). Trata-se, pois,
de meia hora e não de meia légua.
36
O tradutor inglês omitiu batatas e mandioca. Compare-se a p. 8, 2a coluna últ. § da ed.
inglesa com a p. 14, 1a coluna , 8° § do original holandês. A tâmara e a cevada não eram
nativas no Brasil. Possivelmente o autor se refere no primeiro caso a certas variedades
de cocos, e no segundo ao milho americano.
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Compare-se esta nota com a de número 38, onde mais uma vez se mostra
como Marcgrave foi, sempre, a fonte segura dos autores coevos ou posteriores
avistam a grande distância. O caminho mais curto do Recife para esses
Palmares é ao longo do lago da Alagoas do Norte.
Na estação seca, escalam alguns dentre eles para raptar escravos dos
portugueses. O caminho mais curto para os seus domínios vai de Alagoas
através de Santo Amaro, cruzando as planícies de Nhumahu e Cororipe, rumo
à encosta da montanha de Warracaco, até que atinge o rio Paraíba, que se tem
de transpor para alcançar o monte Behe, de onde se vai diretamente aos vales.
37
Este trecho sobre os Palmares é copiado de Marcgrave. (Cf. LXX, Livro VIII, Cap. I, p. 261).
Comparar com Nieuhof, ed. holandesa, p. 214, 2° coluna, os 6 primeiros § §).
38
Nieuhof (p. 14, 2a coluna, 1° §), como mostramos acima, copiou de Marcgrave. O tradutor
inglês, ao invés de 5.000 negros, escreveu 8.000 negros, (p. 8, 2a coluna , 2° §).
39
O tradutor inglês escreveu (p. 9, 2a coluna 1° §): "rocks which in some places is 20, and
in others 30 Paces broad"; cf. ed. holandesa (p. 15, 1a coluna , II. 7, 8 e 9).
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Entre essa franja de pedra e o continente pode-se passar de bote na maré alta.
Durante a vazante, a maioria desses rochedos aflora à superfície do mar até
que volte a cheia para cobri-los de novo.
O Recife de Areia
Entre esse colar de rocha e o continente se estende para o sul de Olinda, com
uma légua de comprimento e cerca de 200 passos de largura, uma espécie de
restinga de areia. É comumente denominada pelos portugueses Recife de
Areia, para distinguir do Recife de Pedra.
Sobre a ponta sul dessa ilhota os portugueses edificaram, a uma milha ao largo
de Olinda, uma aldeia a que chamaram de Povoação, que significa Povoado, e
que veio a ser mais tarde o Recife. Foi muito populosa, por longo tempo, até a
fundação da Cidade Maurícia, na ilha de Antônio Vaz. Tendo Olinda sido
posteriormente abandonada por seus habitantes e por nós destruída, muitos
deles, especialmente os comerciantes, estabeleceram-se no Recife ou na
aldeia de Povoação, onde levantaram magníficas construções. Quando foi de
nosso primeiro desembarque, lá encontramos mais de 200 casas. Esse
número, entretanto, logo depois aumentou para mais de 2.000 e entre essas
construções notavam-se edifícios excelentes. Tratamos de cercá-la com
paliçadas do lado do rio Beberibe, que é vadeável na maré baixa, e, para maior
segurança, fortificamo-la com três bastiões, um voltado para Olinda, outro para
o porto e o terceiro para o Rio Salgado, cada um deles aparelhado com uma
boa bateria de três grandes canhões. O Recife fica a 8 graus e 20 minutos de
latitude sul.
Cerca de cinco milhas mais acima, junto a um afluente do grande rio, encontra-
se uma pequena cidade, sem importância, que nossa gente chamava de
Cidade Nova, e, sobre outro afluente do mesmo rio, do lado oposto à primeira,
uma aldeia chamada Atapuepe.
Para o sul do Recife, do lado oposto, encontra-se a ilha de Antônio Vaz, que a
nossa gente assim denominou em referência ao seu antigo proprietário. Tem
cerca de meia légua 42 de perímetro, achando-se separada do Recife pelo rio
salgado Beberibe
A Cidade Maurícia
Pelo lado oeste é a cidade cercada de alagadiços e a leste banhada pelo mar,
através do colar de pedras. Além disso está fortificada pelo lado da terra por
uma muralha de taipas, por quatro baluartes e um largo fosso.
42
Pela primeira vez o autor escreveu légua (een halve uure gaens, p. 16, 2a coluna, últ. §). O
tradutor escreveu, também, légua, como antes o fizera sempre, em lugar de milha.
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A Cidade Maurícia era guarnecida por dois fortes. Do lado do sul via-se o
chamado Frederico Henrique ou forte Quinquangular em virtude de seus cinco
baluartes - cercado por largo fosso, paliçadas e fortificado por duas cornas,
uma grande, outra pequena com 8 peças de metal 43 de modo a dominar toda a
planície que, na maré alta, costumava ser alagada pelo mar.
Forte Ernesto
O Forte de Pedra
Quando a Ilha de Antônio Vaz foi ligada ao continente por uma ponte, viu-se a
necessidade de ligá-la também ao Recife a fim de facilitar o transporte do
açúcar que, até então, só podia ser para ali encaminhado na maré vazante, a
menos que os comerciantes quisessem correr os riscos do transporte marítimo,
em pequenas embarcações. E assim foi que o Grande Conselho, com a
aprovação do Governador, Conde Maurício, autorizou certo arquiteto a
construir a ponte, sobre arcos de pedra, pela soma de 250.000 florins.
Entretanto, depois de já ter o arquiteto gasto prodigiosa quantidade de pedra e
levantado a alvenaria até a altura das margens do rio, verificando que na maré
baixa ainda haveria 11 pés de água, abandonou a construção em meio, por
não se sentir capaz de levá-la a bom termo 44 .
43
A tradução inglesa omitiu certos detalhes, como, por exemplo, a referência às 8 peças de
metal (Comparar: ed. holandesa, p. 17, 1a coluna , 8° § e ed. inglesa p. 11, 1ª coluna 5.º §).
44
O engenheiro que construiu a ponte que ligava o Recife a Maurícia foi um judeu que vivia no
Brasil anteriormente a 1628. Chamava-se Baltasar da Fonseca e, com seu filho e seu neto,
confessou judaísmo, quando os holandeses se estabeleceram no Brasil (Cf. XI, 135). Barlaeus
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O porto
O Rio Capibaribe
O Rio Capibaribe deriva o seu nome de uma espécie de porco do mar ou do rio
que ali se encontra e que os brasileiros denominavam Capibaribe 46. Esse rio
nasce algumas léguas ao Poente, atravessa a Mata, ou Floresta do Brasil,
Masiapí, São Lourenço e Real onde se junta ao Rio Afogados, próximo a outro
do mesmo nome, e, finalmente, vai desembocar no mar, junto ao Recife. O Rio
Capibaribe divide-se em dois ramos: um que se volta para o sul, e, passando
pelo Forte Guilherme, toma o nome de Afogados; outro que corre para o norte,
e, conservando o seu primitivo nome, continua seu curso entre o continente e a
Cidade Maurícia ou a ilha de Antônio Vaz (a qual se pode atingir pela ponte) e
daí para Waerdenburgh, onde se junta ao rio Beberibe, ou rio salgado, para em
seguida se misturarem, ambos, com o mar. Junto ao braço do rio a que
chamam Afogados, há numerosos engenhos de onde os portugueses
costumam embarcar suas caixas de açúcar em barcos, ao longo do rio, ou em
carroças, para Barreta, daí transportando-as em chatas para o Recife e Olinda.
afirma que o Conselho empreitou a construção da ponte por 240.000 florins (Cf. VII, 156).
Calado fala em 90.000 cruzados pelo custo da metade da obra. Essa parte tinha sido feita de
pedras de cantaria (Cf. XVII, 151). Calado escreve que as pessoas brancas pagavam uma
placa, os negros duas, os cavaleiros quatro, e os carros dois reales (id., id.).
45
O tradutor inglês escreveu 13 ou 14 pés; (cf. p. 11, 2a coluna 2° § da ed. inglesa e p. 18, 1a
coluna , 2º § da ed. holandesa).
46
Segundo Teodoro Sampaio (LXXXI, 119), Capibaribe vem de caapinar - y - pe, que se
alterou em capibar - y - be, rio das capivaras.
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O forte Barreta
Na parte da ilha, que fica entre os rios Capibaribe e Beberibe e entre o forte
Ernesto e o forte triangular de Waerdenburgh, encontravam-se os já citados
jardins do Conde Maurício, providos de todas as variedades de plantas, frutas,
flores e verduras que a Europa, a África ou ambas as Índias poderiam
proporcionar. Havia lá cerca de 700 coqueiros de todos os tamanhos; alguns
deles com 30, 40 e 50 pés de altura, que estavam a cerca de 3 e 4 milhas 47,
deram frutos já no primeiro ano. Viam-se anda nesses jardins, cerca de 50
limoeiros, 18 cidreiras, 80 romeiras e 66 figueiras.
47
O tradutor inglês omitiu as "3 e 4 milhas". Comparar a p. 18, 2a coluna , 6° § do original
holandês, com a p. 12, 1a coluna , 4° § da ed. inglesa.
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O palácio do Conde
48
O tradutor inglês escreveu: 6 a 7 léguas (p. 12, 1a coluna, 5° §); cf. ed. holandesa (p. 19, 1a
coluna , 1° §).[/i]
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O Forte da Terra
Junto ao recife de areia, olhando para o mar ou para o Forte do Mar, havia uma
grande fortaleza de pedra a que os portugueses chamavam S. Jorge, e que
nossa gente denominava Forte da Terra, para distingui-lo do primeiro. Esse
forte defende a entrada do porto com 13 peças de ferro.
O Forte do Bruin
O Forte de Waerdenburgh
Próximo ao continente, não muito longe das salinas, entre o recife de areia e a
Ilha de Antônio Vaz, havia um forte triangular com o nome de Waerdenburgh.
Era a princípio quadrilátero, mas, posteriormente, os holandeses deram-lhe a
forma triangular, à vista da impossibilidade de defender o quarto baluarte, dada
a configuração do terreno. Os três baluartes foram, depois, transformados em
outros tantos redutos armados com canhões de bronze. Por ocasião das marés
altas, o forte ficava inteiramente cercado pelas águas.
A CIDADE DE OLINDA
Olinda
Sobre a mais alta colina dessa região existia outrora um convento de jesuítas,
construção magnífica, mandada construir por D. Sebastião, rei de Portugal, que
o dotou de grande patrimônio49. De lá a vista era belíssima e o convento podia
ser visto do mar, a grande distância. Não muito longe deste havia outro
mosteiro pertencente aos capuchinhos, e, próximo à praia, ainda outro dos
frades dominicanos. Além desses havia duas igrejas, uma chamada São
Salvador e outra São Pedro.
52
As explorações holandesas foram várias. Todas resultaram infrutíferas. Sobre a história
dessas explorações, consulte-se Alfredo de Carvalho (XXI). Conforme asseverou Pandiá
Calógeras: "as explorações modernas nada confirmam dessas jazidas de metal branco". (XVIII,
2° vol. p. 448).
53
Marcgrave escreve sobre o camaleão: "Senembi Brasiliensibus, nobis iguana, cameliaon
(sic), Lusitanis falso, & falsissime Belgis Leguan" (LXX, 236). Parece tratar-se de nome
onomatopaico. Jacob Bontius foi dos primeiros a observar não só a salamandra da Índia, como
o Geco. (LXXI, 57
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54
Esse trecho referente às cobras é totalmente inspirado em Piso, pois até a enumeração é a
mesma (Cf. V, 4070). Piso, naturalmente, observa-as de um ponto de vista médico,
especificando os antídotos. O livro III "De Venenis Eorumque Antidotis" foi que serviu de fonte a
Nieuhof. Marcgrave descreve mais minuciosamente as serpentes que lhe fora dado conhecer.
A sua lista não é, porém, tão longa quanto a de Piso, embora as descrições e desenhos, que
faz, demonstrem o melhor conhecimento de ofiologia.
As diferenças da grafia de Piso e Marcgrave com a de Nieuhof são mínimas. Procuramos,
sempre, anotar as de Piso e Marcgrave, pois são, inquestionavelmente, mais autorizadas.
(Veja-se p. 2224 de Nieuhof e compare-se com Marcgrave (LXX, pp. 239241) e Piso (LXX,
4044).
55
Marcgrave (LXX, 239) escreve: "Boîguacú Brasilianis, cobra de veado Lusitanis", Piso (LXXI,
41) escreve: "Boiguacu, sive Iiboya, cobre de veado, Lusitanis"; Soares (LXXXVI, 304);
Barlaeus (VII, 382), Cardim (XIX, 40) escreve: "Esta cobra que por cá ha, e algumas que se
acham, de 20 pés de comprido; são galantes, mas mais o são em engulir hum veado inteiro".
Rodolfo Garcia (XIX, 101) anota que ela pertence à família dos Boídeos (constrictor constrictor,
L). Batista Caetano (III, 250) explica: "traga cobras, donde o nome mboiçuai, o que traga muitas
cobras, nome dado a uma espécie de gibóia que devora as outras: mboiguaçu, outro nome
dado à gibóia". Artur Neiva (LXII, 334) dedica ao nome gibóia grande número de páginas,
estudando-o demoradamente.
56
Piso (LXX, 42) descreve-a. Marcgrave não a menciona. Teodoro Sampaio (LXXXI, p. III) fala
de araboya, a cobra do ar, a serpente que salta pelos ares. Gabriel Soares (LXXXVI, 306)
escreve sobre a araboya, cobra que se cria nos rios e lagos. Waegler fala de Araramboya (Cf.
XCIV, 45).
57
Nieuhof escreveu Bioby (p. 22, 1ª coluna) e depois Boiobi (p. 24, 1ª coluna). Barlaeus (VII,
138) ; Margrave (LXX, 239) descreve-a como de grande boca, língua preta e venenosa. Piso
(LXX, 34) escreveu: "Boiobi, Brasiliani, cobra verde Lusitanis". O Sr. Cláudio Brandão
equivocou-se ao escrever que é a mesma caninana de Cardim e caninam de Gabriel Soares.
Várias razões demonstram claramente o erro em que laborou. Em primeiro lugar, Nieuhof,
baseado em Piso, distingue bem a Boiobi da Caninana, pois essa está descrita por ambos em
outras passagens de seus trabalhos (Cf. nota 84); em segundo lugar, Piso ao descrever a
Boiobi diz (LXX, 43): "Boiobi Brasiliensibus, Lusitanis cobre verde."; enquanto que para
Caninana diz (LXX, 43): "Caninana serpens, ventre est flavo, dorso autem viridi.". Ora, uma é a
cobra verde, enquanto que a outra tem o ventre amarelo e o dorso é que é verde. Acresce que,
se houvesse lido Soares (LXXXVI, 310) com atenção, teria verificado que este cronista
descreve a Caninana como "cobras meãs na grandura, com a pele preta nas costas e amarela
na barriga" e logo a seguir registra a "Boibu que quer dizer cobra verde, que não são
grandes...". No próprio Nieuhof as duas variedades são bem diferentes. Finalmente, segundo
Batista Caetano (III, 262), mbóyobi significa "cobra azul ou verde ou mboihobi que é cobra azul
ou verde, que por ser mui ligeira podia ser mboí aíbi... " Compare-se com as notas 63 e 81.
58
Barlaeus (VII, 138); Piso (LXX, 41) escreve: Boicininga, à qual os espanhóis chamam
Cascavel ou Tangedor; Marcgrave (LXX, 240) assim a descreve: [i]"Boicininga & Boicinininga &
Boitininga atque etiam Boiquira Brasiliensibus: Ayug, Tapuyis: Lusitanis cascavela, Belgis
Kaetel slange".[/i] Soares (LXXXVI, 308); Laet (L, 488) regista: Boycininga. Varnhagen, em nota
de número 186, p. 476 (LXXXVI) escreve que [i]"Boicininga caíu em desuso, só ficando o de
cascavel."[/i] Cardim (XIX, 42). Para Batista Caetano (III, 250), a palavra é formada de
mboíchinî = mboitinî, isto é, boi tinini em tupí, onomatopaico, para significar cobra tintinante
também aguaí, cobra de guizo ou cascavel (III, 25). Segundo Teodoro Sampaio (LXXXI, 116), a
palavra é composta de mboy - cyninga - cobra ressonante.
59
Piso (LXX, 42) menciona [i]"Boitiapô Brasiliensibus; Lusitanis, cobre de cipo.."[/i] e Marcgrave
(LXX, 241) escreve: [i]"Boitiapo Brasiliensibus; Lusitanis cobra de cipo."[/i] Segundo Waegler e
Spix, Natriz Bicarinata (XCIV, 24).
60
Piso não descreve essa cobra e tão somente a menciona na lista em que enumera as várias
espécies. (Cf. LXX, 40). Laet (L, 488). Cardim (XIX, 41) escreve: [i]"cobra que tem, espinhos
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A cascavel
pelas costas, he muito grande e grossa, os espinhos são muito peçonhentos e todos se
guardão muito dellas".[/i] Rodolfo Garcia declara achar difícil interpretar esse nome.
61
Nieuhof escreveu Bapeba. Piso (LXX, 40) só a menciona na lista em que enumera as
variedades de serpentes, escrevendo Boipeba. Soares (LXXXVI, 443) escreve Boipeba. Batista
Caetano (III, 250) dá a seguinte etimologia: [i]"mboi péb, cobra chata muito venenosa,
assemelha-se a uma correia no chão".[/i]
62
Nieuhof grafou curucucu. Laet (L, 488) do mesmo modo; Piso (LXX, 42) idem; Marcgrave
(LXX, 241) idem; Soares (LXXXVI, 310), Surucucu; Cardim (XIX, 42), Surucucu, escrevendo:
[i]"esta cobra he espantosa e medonha".[/i] Anotando-a, Rodolfo Garcia (VIII, 103) diz pertencer
ela à família [i]Lachesis mutus,[/i] L. e não ter explicação aceitável o nome indígena.
63
Marcgrave não a menciona. Laet registra-a à p. 488 (L). Piso enumera-a e depois estuda-a
(LXX, 43). Em Cardim, Caninana (XIX, 40). Em Soares (LXXXVI, 310), Caninam; Rodolfo
Garcia considera difícil interpretar o nome indígena. Compare-se com as notas 57 e 81.
64
Nieuhof escreveu Curukacutinga. Piso (LXX, 40) escreve Curucacutinga, enumerando-a na
lista geral.
65
Nieuhof escreveu (p. 22, 1a coluna ) Guinipaiiaguara. Piso (LXX, 40) Guinpaiiaguara. Cardim
(XIX, 40) registrou-a escrevendo guigraupiajoara. Rodolfo Garcia (XIX, 102) explica o nome,
dizendo: "papaovo ou papapinto, da família dos Colubrídeos (Herpeto dryas carinatus, L.) Em
Soares Urapiagarás (LXXXVI, 311).
66
Nieuhof escreveu Ibyara (p. 22, 1a coluna). Piso (LXX, 42) Ibiiaia cobra vega (sic) ou cobra
de duas cabeças. Marcgrave (LXX, 239) escreve: Ibyara Brasiliensibus, Boaty, Tapuijis, Cega
Lusitanis, nostratibus Blind Schleiche. Tanto Piso quanto Marcgrave preocupam-se em afirmar
que é falso dizer que a cobra tem duas cabeças. Batista Caetano (III, 250) explica deste modo
a etimologia: "mboy - íg - cobra curta ou cortada, que dizem ter duas cabeças".
67
Nieuhof escreveu Jakapekoaja (p. 22, 1a coluna ). Piso (LXX, 40) cita-a na lista em que
enumera as variedades de cobras, escrevendo Iacapecoaja.
68
Cardim (XIX, 43) escreve Igbigboboca. Rodolfo Garcia (XIX, 103) escreve: Ibiboboca ou
cobra coral da família dos colubrídeos (Elaps marcgravi, Wied). Ibibobog espécie de cobra, isto
é, mboiibypebabac, cobra enroscada no chão ou cobra coral". Piso (LXX,42), "Ibiboboca ou
cobra de corais". Marcgrave (LXX 240). "Ibiboboca ou cobra de coral". Elaps Venustissinus
segundo Waegler e Spix (XCIV, 6).
69
Piso (LXX, 42) descreve-a; Laet (L, 488) menciona Jararaca e Jararacucu, registrando,
ainda, jaracoaytipinga e jaracopeba; Soares (LXXXVI, 307) escreve gereracas; Cardim (XIX,
42) jararacas e Rodolfo Garcia (XIX, 102) anota: "da família dos Viperídeos (Lachesis
lanceolatus, Lacep.). Para Batista Caetano (III, 573), pode derivar o nome de yarará = yararág,
que envenena a quem agarra. Segundo o mesmo autor (id., 263), davam os índios o nome de
mboy - apiti (cobra que fere com o rabo) à jararaca.
70
Piso (LXX, 40); Cardim (XIX, 88) escreve: "as suas pinturas tomarão os gentios deste Brasil
pintaremse"; Gabriel Soares não a menciona. Rodolfo Garcia (XIX, 125) supõe que se trata da
"amove pinima, que Marcgrave representa". Não nos parece exata a hipótese, porque Piso e
também Nieuhof enumeraram ambas, distinguindo-as. Marcgrave (LXX, 242).
71
Piso (LXX, 40) cita-a na mencionada lista a que tanto nos temos referido.
72
Nieuhof (p. 22, 1a coluna) e Piso (LXX, 40) escrevem Tareiboya; Soares, taraiboia (LXXXVI,
307); Varnhagen anota (LXXXVI, 473) que Abbeville chamou-a Tarehuboy e Baena (Corografia
do Para, p. 114) T'arahiraboia.
73
Nieuhof p. 22, 1a coluna ) escreveu Kakaboya e Piso (LXX, 42) cacaboya.
74
Vide nota 70.
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ferida pode ser interceptada surge logo a necessidade de ligá-la; o que se faz
com junco, que os brasileiros chamam jacaré, e no qual confiam
especialmente78 .
Animais do Brasil
Surucucu
A cobra denominada surucucu tem uma cor cinzenta com manchas amarelas e
malhas pretas no dorso, possuindo também escamas como a cascavel.
A Cobra de Veado
Jararaca
Boitiapo
Ibiara
Ibiboboca
79
Mais uma prova evidente do plagio de Nieuhof. Tendo Piso escrito, a p. 40 (LXX), Manima e
Vona, e a p. 2 Mavina e Vocia, Nieuhof, seguindo-o, escreveu a p. 22, 1a coluna Manima e
Vona, e a p. 23, 2a coluna , Mavina e Voeia.
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Boiobi
Caninana
Ibiracoa
Senembí ou Leguan
80
O tradutor inglês escreveu três quartos de jarda (p. 16, 1 coluna , últ. §). Cf. ed. hol. p. 24, 1a
coluna , 4 §.
81
Mais um exemplo de plágio de Nieuhof. Compare-se a tradução brasileira, fiel ao texto
holandês (p. 24, 1a coluna 6.º §) com a p. 43 de Piso (LXX). Comparem-se, também, com as
notas 57 e 63.
82
Outro pequeno exemplo. Veja-se p. 43 de Piso (LXX).
83
Mais outro exemplo que ilustra a afirmação que fizemos na nota 75. Nieuhof copiou de Piso
(Cf. LXX, p. 43).
84
Marcgrave descreveu o à p. 236 (Cf. LXX). Já nos referimos a ela, na nota 53, que se refere
ao Camaleão. Soares (LXXXVI, 312) registra senembús, referindo-se à sua boa e saborosa
carne. Descreve-o no capitulo 114, onde fala dos lagartos e dos camaleões. Varnhagen
registra em nota (n° 188) à p. 470 Sanambús e Iguana.
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Lagartos
Escorpião
85
Nieuhof escreveu (p. 25, 1a coluna , 7° §) Bibora. Aliás, é essa a grafia de Piso (LXX, 43).
86
Iaaciaiira escreveu Marcgrave (LXX, 25), declarando que assim chamavam os brasileiros ao
animal denominado, pelos lusitanos, de escorpião.
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Animais do Brasil
Mil pernas
Formigas
Possui, na parte anterior do corpo, 6 pernas, cada uma com 3 juntas; tem
quatro asas finas e transparentes, duas internas e duas externas. A parte
posterior, que é arredondada, tem uma coloração parda e brilhante. Esse
inseto constitui petisco muito apreciado pelos negros. Aloja-se na terra, como a
toupeira e devasta as sementeiras.
Porco-espinho
Bicho preguiça
se o mesmo autor nestes termos: Vocem editut sus iii. Nieuhof (p. 26, 2a coluna 3° §) escreveu
Kuandu ou Ouriço Kacheiro. Laet (L, 486) regista Coanduguacu e Coandumiri. Soares
(LXXXVI, 303) menciona Coandu e Cardim (XIX, 35) escreve Canduaçu. Rodolfo Garcia, em
nota à p. 99, do mesmo livro (XIX) escreve que com, o aumentativo açú não se conhece esse
animal na nomenclatura vulgar. Coandu é o roedor da família dos Coendídeos, cuja espécie
maioré o Coendu villosus Licht. Com o diminutivo mirim, conforme o registrou Laet, não se
justifica a mesma observação de Rodolfo Garcia.
93
Laet (L, 487) escreve Hay, declarando que Thevet grafara Haü ou Hautchi. Marcgrave (LXX,
221-222) escreve: Ai sive Iguavus - Ai Brasiliensibus, Lusitanis Priguiza, Nostratibus Luyaert, id
est Ignavus. ..; vocem rarissime edit iiiii, fere ut felis júnior. Marcgrave mencionou, também, o
nome que lhe dera Thevet, de Hay e o de Unáu; Soares (LXXXVI, 301); Cardim (XIX, 39). Frei
Vicente do Salvador (LXXVIII, 43). Rodolfo Garcia (XXXVIII, 83). Segundo Rodolfo Garcia, são
ao todo 4 espécies, enquanto que Cláudio Brandão (VII, 381, nota 153) afirma que são
somente duas. Batista Caetano (III, 27) escreveu; Ai, interjeição de dor, ai! onomatopaico de
grito, nome do bicho preguiça (Bradippus) e depois deste dado ao monjolo de socar milho.
Nieuhof escreveu Luyaert (p. 27, 1a coluna ). Hoje, escreve-se Luiaard.
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É um animal muito lerdo, incapaz da mais leve fadiga, devido ao fato de suas
pernas serem desconjuntadas pelo meio. Contudo, vive sobre as árvores, mas
caminha, ou antes, se arrasta muito lentamente. Seu alimento são as folhas
das árvores. Nunca toma água e quando chove trata de se esconder. Quando
se agarra a qualquer coisa é difícil removê-lo. Costuma emitir, ainda que
raramente, um miado semelhante ao dos gatos.
Tamanduá
94
Marcgrave (LXX, 225) mencionou as duas variedades. Sobre o primeiro, escreveu:
Tamandua-i Brasiliensibus, Belgis Klein Mierenetor Animal vulpeculae Amerieanae
magnituãine, vel paulo major. Sobre o segundo (ibid.) escreveu: Tamandua-Guasu
Brasiliensibus, Congensibus (ubi & frequens est) Vmbulu; Belgae appellanl de Groote
Miereneter. Animal magnitudine canis Lanionwm.. Laet (L, 556). Piso (LXXI, 9) escreveu
Tamendoá. Barlaeus (VII, 138). Em Soares, (LXXXVI, 289) encontra-se Tamandoá. Em Cardim
(XIX, 34) tamanduá. Gandavo (XXXVI, 106). Frei Vicente Salvador (LXXVIII, 41) escreve
Tamandoçú. Em Abbeville (XXXVIII, 47) encontram-se as duas variedades: Tamandouá e
Tamandouáy. Batista Caetano (III, 476) acha difícil admitir-se taei - monduár, caça formigas e
prefere tama - pelos e uguai - cauda, fácil de mudar-se em nduai. Rodolfo Garcia (XIX, 99)
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Porco-couraça
acha que o primeiro étimo condiz melhor com o modo de viver do animal. São três as espécies
da famílias dos Mirmecofagídeos.
95
O tradutor inglês escreveu dois pés e meio (p. 19, 1a coluna , 2° §); cf. ed. holandesa (p. 28,
1a coluna , 5° §).
96
Marcgrave (LXX, 231) escreve: Tatu & Tatu-Peba Brasiliensibus, Armadillo Hispanis,
Encuberto Lusitanis: Belgae nostri vocant een Schild-Vercken Laet (L, 485); Piso (LXXI, 100)
menciona, também, Tatupeba, Tatu eté, Tatu apara. Barlaeus (VII, 138); Frei Vicente do
Salvador (LXXVIII, 41); Gandavo (XXXVI, 103); Abbeville (XXXVIII, 78) registra Tatou e Tatou
Ouãssou; Gabriel Soares de Souza (LXXXVI, 295); Cardim (XIX, 35). Batista Caetano (III, 490)
explica-nos que significa casca densa; entre os citados por Piso - Tatupeba e Tatu apara - o
mesmo autor esclarece: peb é chato e apara arqueado (esse é o tatú-bola em português).
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A cor de todo o corpo tende mais para o vermelho. A cauda tem, no começo,
cerca de quatro dedos de espessura, mas vai se adelgaçando gradativamente,
para se arredondar na ponta, como a dos suínos comuns. O ventre, o peito e
as patas são destituídos de qualquer escama, porém cobertos por uma pele
não muito diferente da do ganso, com pelos esbranquiçados do comprimento
de um dedo. Esse animal é, geralmente, muito gordo; vive de ervas e raízes e
danifica consideravelmente as plantações. Cava buracos no chão, devora
coelhos e pássaros mortos bem como quaisquer outras carcaças. Bebe muito;
vive a maior parte do tempo à superfície da terra, mas gosta de água e dos
lugares pantanosos. Sua carne é comestível. Caça-se o encoberto da mesma
forma que a lebre na Holanda; os cães acuam denunciando sua toca; abre-se
então o buraco e no fundo encontra-se o tatu.
Morcegos
Gansos selvagens
97
Marcgrave (LXX, 213) continua sendo a fonte de Nieuhof. Escreve o citado autor Andiriaca.
Batista Caetano (III, 34) registra andirá, morcego, escrevendo que se encontra, também, andira
por atua, que significa topete, cabelo em monte, topetudo (idem, 53).
98
Esta descrição constitui mais um plágio de Nieuhof (cf. com Marcgrave, (LXX, p. 218). Piso
(LXXI, p. 82). Batista Caetano (III, p. 204) registra ipegatiapua, pato de crista ou pato de cousa
sobre a cabeça erguida.
99
Nieuhof, traduzindo Marcgrave, escrevera: ais een gans van acht of negen maenten (p. 29,
2a coluna , 2° §) ; o tradutor inglês escreveu (p. 20, 1a coluna , 2° §) : of one of our geese of
about nine months old.
100
Mais uma vez Nieuhof traduziu para o holandês o texto latino de Marcgrave (Cf. LXX, p.
217): - Barlaeus (VII, p. 139). Cardim, (XIX, p. p. 48) escreve Tucána. Soares (LXXXVI, p. 264).
Abbeville (XXXVIII, p. 81) menciona o Toucan. Segundo Rodolfo Garcia (XXXVIII, p. 81),
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O pássaro soco
O pássaro conhecido pelos naturais como soco 101 é uma espécie de grou,
muito bonito de se ver e do porte de uma cegonha. Seu bico, de seis dedos de
comprimento, é reto, aguçado e de uma cor amarelada tocada a verde. O
pescoço tem quinze dedos de comprido, o corpo dez e a cauda cinco. As
pernas são cobertas até ao meio de penas brancas, a outra metade é lisa. O
pescoço e a garganta são brancos e as partes laterais da cabeça são pretas,
mescladas de cinzento. Na parte inferior do pescoço há penas brancas
lindíssimas, leves e finas, que Nieuhof escreve Toukan (p. 30, 1a coluna ). Para
Teodoro Sampaio (LXXXI, p. 154) é a seguinte a etimologia do nome: tu - quã,
bico que sobrepuja, exagerado. servem para plumas. As asas e a cauda são
cor de cinza, intercaladas com penas brancas. Em toda a extensão do dorso
podem se ver penas leves e longas, como as do pescoço, mas acinzentadas. A
carne é ótima e de sabor agradabilíssimo.
Thevet foi o primeiro a descrever a ave e a dar-lhe o nome indígena. Para Batista Caetano (III,
p. 541) lucanà vem de ti - cang - bico ósseo, língua óssea ou ainda túb - cáb - quebra ovos.
101
Nieuhof (p. 30, 1a coluna , 5° §) escreveu Kokoi. Marcgrave (LXX, 209 foi ainda desta vez
furtado. O engano gráfico de Nieuhof vem disso, porque Marcgrave escreveu cocoi. Piso (LXXI,
89). Conforme anota Rodolfo Garcia (XXXIX, 43-44) çocoi - nome específico atribuído à ave
pelos naturalistas antigos, é o equivalente de soco, apenas diferençado pela grafia latina
daqueles escritores, à qual era estranho o ç. Baseado em Batista Caetano (III, 95), Rodolfo
Garcia dá a seguinte etimologia: ço = ir + co = batendo. É da família Ardeidae.
102
O tradutor inglês escreveu: The head and Neck (which is two foot long... (p. 21, 1a coluna
1.o §); cf. ed. holandesa (p. 30, 2a coluna , 4° §). Logo a seguir, o tradutor inglês escreveu: The
body is two foot and a half in lenght; and the Taxi...four fingers (id., id., id.); cf. ed. holandesa
(id., id., id.).
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Jabirú-Guaçú
103
Nieuhof escreveu (p. 30, 2a coluna ) : De vogel, by d'onzen Schuurvogelgenoemt, wordt
Jabirú Guaku en Nhandu Apra by de Brasiliaensche volken, en byde Tupinambás Petiguaras
genoemt, o que significa: "o pássaro chamado pelos nossos de schuurvogel, é chamado pelo
povo brasileiro pelos nomes de jabirú guaku e Nhandu Apra e, pelos Tupinambás, Petiguaras".
Na edição inglesa (p. 21, 1a coluna , 2° §) encontra-se omitido Nhandu Apra e pelos
Tupinambás, Petiguaras. Como se vê, Nieuhof equivocou-se, pois só por engano é que poderia
escrever que os Tupinambás denominavam o Jaburu com o nome de tribo. Ainda mais se
considerarmos que o texto de Marcgrave, inteiramente copiado por Nieuhof, está estropiado. O
texto de Marcgrave é o seguinte (LXX, p. 200-201) : Jabirú rruaeu Petiguaribus, Nhandu apoa
Tupinambis: Belgis Scurvogel, Rostrum habet magnwm, septem & Semís dígitos longum, in
extremitate teres. & inferius incurvatum; caret lingua & rostrum inferius canum est. In summitate
capitis mitram osseam coloris albi & cinerei mixti gerit. Oculi nigri & pone eos aurium foramina
ampla. Collum decem dígitos longum, cujus medietas, uti & caput, plumis, et cute squamosa
cinerea est tecta, cujus squamae albicant. Corpore aequat Ciconiam; caudam habet brevem &
nigram, cum qua alae desinunt. .. Alae albae, remiges illarum pennae nigrae, rubini colore
transplendente in nigro... Como se vê, Nieuhof mudou completamente o texto latino, pois
Marcgrave escreveu: jabirú guaçu é o nome dado pelos Petiguaras e Nhandu apoá pelos
Tupinambás". Piso, na edição de 1658 (LXXI, 8), escreveu: quae brasiliensibus quibusdam
jabicu guaçu, alliis mediteraneis Nhandu apoá; nostris scur vogel dieta". Em Soares, (LXXXVI,
269) está Jaború. Rodolfo Garcia (XXXIX, 29) escreve: Convém notar que houve troca, na
Historia Naturalis Brasiliae, entre as figuras do jabirú e do Tuyuyú, o que induziu em erro a
Lineu, cujas descrições específicas se baseiam naquela obra. Etimologia: de y, demonstrativo
(= o que, aquele que), + abirú = farto, repleto, inchado, o que está farto ou repleto - alusão ao
grande papo da ave. Batista Caetano (III, 564) escreve; yabirú ou yaburu,s., nome de
cegonhas; a repleta, a inf atuada, a inchada; abirú (III, 17), farto, cheio, repleto; dão-lhe,
também, o nome de ayayá, pode ser que seja ayapirú, o papo inchado (id., 54) ayayá, o que
tem papo, papudo; nome dado a uma cegonha e, talvez, a outras aves. Teodoro Sampaio
(LXXXI, 134) escreveu: jaburu corruptela de ya-abirú, a que é repleta, ou inchada, alusão ao
grande papo da ave; desse nome, isto é, a papuda, alt.: jabirú.
104
Nieuhof escreveu (p. 31, 1a coluna ) jamdi. O tradutor inglês escreveu [i]bamodi[/i] (p. 21, 2a
coluna , 1° §). lambi registra Piso (LXX, p. 10)
105
Em Gandavo (XXXVI, 111), Macucocaguás. Soares (LXXXVI, 261)escreve Macucagoá;
Abbeville (XXXVIII, 45) escreve como Soares. Staden (LXXXIX,162) Mackukawa; o que não
está de acordo com o que afirmou Varnhagen (LXXXVI,469), em nota n. 153 da obra de
Soares, dizendo ter Staden grafado Mackukaitca; Léry (LII, 135), Mocacouá; Marcgrave
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Periquitos
escreve (LXX, 213) "Macucagua dos Brasileiros, espécie de galinha silvestre". Segundo
Rodolfo Garcia (XXXVIII, 45), Macucagua ou Macagua vem de má por ybá, fruto, e cugiguar
por curinhár que traga, tragador, comedor. Batista Caetano (II, 213) escreve Macagua, Macaua
e acauã, falcão ou mboi-acá-hár, aquele que briga com cobras.
Em Gandavo (XXXVI, 11); Soares (LXXXVI, 262). Segundo Rodolfo Garcia, (XXXIX, 31), jaeú é
composto de y demonstrativo = que, aquele que, a = fruto + eu = comer; o que come grãos.
Lêry (LII, 135), jacú; Abbeville (XXXVIII, 37), iacou; Nieuhof (p. 31, 1a coluna), escreveu jaku.
Batista Caetano (III, 565) escreveu yacu, o que traga ou engole frutos.
Nieuhof escreveu Arakua (p. 31, 1a coluna). Em Abbeville (XXXVIII, 20), Aracouan. Marcgrave
não o menciona. Piso (LXX, 10) registra-o entre o Macucagua e o jacú. Aliás, todo esse trecho,
desde o iambi até a jaçanã guaçú, é tirado de Piso. Segundo Rodolfo Garcia (XXXVIII) é
preferível a seguinte etimologia: ará - alteração de guirá, pássaro e aquã = ligeiro, rápido.[/i]
106
Soares (LXXXVI, 262). Varnhagen (LXXXVI, nota 153, pp. 470-71) diz que mutum é
exatamente o crax rubrirostris de Spix (Av. II, Tab. 67, Cf. XCIV). Abbeville escreve Moyton
(XXXVIII, 52). Rodolfo Garcia anota: nome genéricodos cracidas. De mytun por pytum e
pytuna, noite, escuro, negro por extensão;originalmente, qualificativo, dizendo pássaro negro
ou escuro. - Para alguns é onomatopaico. Laet escreve Mutu ou Mouton (L, 491). Cardim
escreve Mutú (XIX, 49). Nieuhof copiou este trecho de Piso (cf. LXX, p. 10); em Marcgrave
(LXX, p. 194),Mitu ou Mutu; em Léry (LII, p. 135), Muton
107
Nieuhof escreveu guavilon (p. 31, 1° §), seguindo, aliás, conforme dissemos na nota
anterior, Piso (LXX, 10), que escreve guavilaon. Marcgrave (LXX,211) escreveu: Caracara
Brasiliensibus, Gaviaon Lusitanis.
108
Teguata e Inage escreveu Nieuhof. Este trecho foi copiado de Piso (cf. LXX, p. 10), que
registrou Teguato e Inage.
109
Nieuhof (p. 31, 1a coluna ) escreve Jakana-miri e Jakana-guaku. Em Piso, iacana miri &
iacana guacu (LXX, 10)- Em Marcgrave, (LXX, p. 190): Iacana dos brasileiros". Em Batista
Caetano (III, 566) se lê: "yaçana, nome genérico das aves Parras, galinha d'água"; Teodoro
Sampaio (LXXXI, 134) escreve jaçanã, o que grita forte, o que tem grito intenso (parra jaçanã).
Rodolfo Garcia (XXXIX,32) explica deste modo a etimologia: y, demonstrativo = o que, aquele
que: eça =olho -f- ena = alerta; o que está de olho alerta. Batista Caetano (XLVI, 312) registra,
também, nahanâ = yaçanâ, s., nome da ave Parra jaçanã (n - eçá - enâ,o que está de olho
alerta ou erguido".
110
Nieuhof (p. 31, 1a coluna) escreve perkietjes e papegayen. Marcgrave(LXX, 206) dá 7
espécies de papagaios.
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se junto a ele. Para isso gritava incessantemente até que o cão obedecesse:
"Sente-se aqui, sente-se aqui, seu sapo imundo." Esse papagaio foi depois
oferecido à rainha da Suécia.
Animais do Brasil
Peixes
Os rios e lagos brasileiros, bem como o mar junto à costa, são riquíssimos em
todas as variedades de peixes e estes entram tão largamente no regime
alimentar do povo, que nem mesmo os doentes atacados de febre os
dispensam. As lagoas do litoral, que por vezes secam completamente,
produzem grande quantidade de lagostas, tartarugas, camarões, caranguejos,
ostras e várias outras espécies alimentícias. No Brasil, nota-se grande fartura
de peixe, tanto do mar como de água doce, especialmente na estação
chuvosa, quando a enorme descarga das correntes fluviais atrai para os rios os
peixes marítimos, os quais, retidos pela abundância de algas no leito dos
caudais, não mais voltam para o mar.
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Aranhas
Ballar ou cabito
Próximo ao rio São Francisco há um inseto que não difere em muito do grilo
europeu114. Sempre tive grande curiosidade de ver um desses bichinhos, para
me capacitar de sua semelhança com os outros de sua espécie. Apesar de seu
trilar forte, parecido com o dos grilos, jamais consegui avistá-lo, pois, logo que
a gente se aproxima, o inseto se cala e não se sabe mais em que direção
procurá-lo. Chega às vezes a cantar um quarto de hora sem interrupção. Na
ilha de Java, índias Orientais, geralmente se ouve o seu trilar nos meses de
111
Em Piso (LXX, 10) Duja e Piajuba. Em Marcgrave (LXX, 145), Acarapucu. Nieuhof (p. 31, 2a
coluna últ. §) escreveu Akarapuku. Etimologia: cara, cascudo, escamoso, (III, 20); acará,
também escamoso, cascudo, nome de grande número de peixes; pucú, longo, comprido,
extenso (id. 427). Cf. III, 68.
112
Nieuhof escreveu Isokuku e Isokurenimbo (p. 32, 1-a coluna, 2° §). Marcgrave escreve
(LXX, 252): Isocucu Bombyx est, unde & Brasilienses sericum vocantIsocurenimbo.
113
Nieuhof escreveu Nhanduguaka (p. 32, 1a coluna). Em Marcgrave (LXX,248) está: Nhamdu
sive variae Araneorum speeies. Batista Caetano explica (XLVI,570): yandú, s., aranha, s.
avestruz. Convém não confundir com a Ema, chamada por Cardim (XIX, 50) Nhandugoaçú e
que Rodolfo Garcia (id. 106) anota como Ema, citando o registro de Marcgrave. Realmente,
Marcgrave escreveu (LXX, 190) Nhandu guaçú Brasiliensibus, Ema Lusitanis, diferenciou a
Ema da Aranha, escrevendo para a primeira Nhandu e para a segunda Nhamdu. Trata-se de
equívoco, pois nada autoriza essa diferença de m e n, visto Batista Caetano registrar
yandútanto como aranha quanto como avestruz. O sufixo guaçú significa, como se
sabe,grande; logo, avestruz ou aranha grande. A razão da confusão não podemos explicar.
Além disso, Batista Caetano registra, também, nandui ou yanduí, s., aranha pequena,aranha
que faz teias nas casas (III, 570).
114
Nieuhof escreveu Kabito. Será a vespa vermelha, significação de cabítâ, registrada por
Batista Caetano (III, 64) ou a branca, cabati (III, 64).
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março e abril.115. Finalmente, tive, certo dia, ocasião de tomar nas mãos um
desses insetos, graças a uma chinesa que me havia visto procurá-lo na
Batávia, tanto na cidade como fora dela. Os javaneses organizam lutas desses
insetos e apostam como se costuma fazer nas rinhas de galo.
Felinos
Gado
Porcos
Os suínos brasileiros são negros e pequenos, mas sua carne é muito saborosa
e saudável. Há ainda outra espécie de porcos anfíbios, que os portugueses
chamam capivaras117, quase tão pretos como os outros e de carne igualmente
boa.
115
Na edição inglesa está escrito: fevereiro e junho (p. 23, 1a coluna, 1° §);cf. ed. holandesa (p.
33, 1a coluna , 3° §).
116
No original encontra-se escrito: Men vind in Pernambuko en doorgantsch Brasil... (p. 33, 1a
coluna, 5° §), enquanto que o tradutor inglês escreveu: There are also abundanee of ravenous
wild Beast in Brasil... (p. 23, 1a coluna, 3° §).
117
Nieuhof (p. 33, 2a coluna , 6° §) escreveu Kapiverres. Gandavo (XXXVI,p. 102); em Soares
(LXXXVI, 293), capibaras; em Cardim (XIX, 90), capijuaras; em Frei Vicente Salvador (LXXVIII,
p. 40) capyguaras; em Abbeville (XXXVIII,26), capyyuare; Marcgrave (LXX, 20) escreve Capy-
bara e Piso (LXXI, 16; XX,p. 10) Capiverres. Rodolfo Garcia (XXXVIII, 26) escreve que o nome
é formado decapyi - capim, erva, e guára - particípio do verbo ú comer: o que come capim, o
herbívoro.
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Anta
Peixes
118
Gandavo (XXXVI, 103). Em Cardim (XIX, 32) Tapyretê. Em Soares(LXXXVI, 285), Tapiruçu.
Em Abbeville, Tapyyre-été (XXXVIII, 76). Laet (L,484), Tapirete. Léry (LII, 124), Tapirussú.
Nieuhof escreveu Tapereté ou Antes(p. 33, 2a coluna). Em Marcgrave (LXX, 229) Tapiierete
dos brasileiros e Anta dos lusitanos. Segundo Rodolfo Garcia (XXXVIII, 97), o nome tupi é
susceptível de várias explicações, mas nenhuma satisfatória.
119
Nieuhof escreveu Pakas e Kotias (p. 33, 2a coluna ). Laet (L, 484); Soares (LXXXVI, 296,
297). Marcgrave (LXX, 224), Paca e Aguti ou Acuti. Cardim(XIX, 33), Acuti. Gandavo (XXXVI, p.
103). Em Abbeville, XXXVIII, 62) Pac.Segundo Rodolfo Garcia, (XIX, 98) foi Thevet quem
primeiro descreveu esse animal que chamou Açoutin. Batista Caetano (III, 22) explica que
talvez a palavra venha de a de gente e cúr-tl, modo de comer ou tragar, com as patas
dianteiras. A etimologia de Pac, segundo Rodolfo Garcia (XXXVII, 62), é pag, acordar,
despertar: a esperta, a vívida.
120
Em Piso (LXX, 10), Vnuana & Teju - lagartos. Segundo Batista Caetano (III, 515), Teyú ou
teíu ou teiyú, lagarto; literalmente, significa comida da gentalha, da tropa. Em outro cronista,
como Abbeville (XXXVIII, 79), Teiou ouassou. Soares (LXXXVI, 312) tijuaçu, significando
lagarto grande. Unuana deve ser Iguanas (Cf. nota 53 deste livro e p. 476, nota de Varnhagen
n. 188, (LXXXVI).
121
Nieuhof copiou este trecho de Piso (cf. LXX, p. 11), que registrou: "Sindia, Gueba & Noja".
122
Nieuhof escreveu (p. 34, 1a coluna , 6° e 7° § §) Kurima Parati e Karapantangele. Laet (L,
508) registrou Kurema Parati. Em Piso (LXX, 11), Curima parati (Herders Belgis); e
"Carapantagele é similar a perca". Em Marcgrave (LXX, 381) verifica-se que Piso equivocou-se,
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Cumpre observar que, havendo grande quantidade de gado fugido dos currais
durante a guerra e se internado nos bosques e florestas situados além das
margens do São Francisco, o Grande Conselho da Companhia no Brasil
resolveu contratar com certas pessoas a captura desse gado para com ele
abastecer a população do Recife. Quando esse contrato se venceu, cogitou-se
da conveniência de renová-lo, mas, supondo-se que não mais havia gado
extraviado nas redondezas, foi o mesmo abandonado. Essa resolução foi
submetida ao Conselho dos XIX. Entretanto, a população das margens do São
Francisco atirou-se com ardor à tarefa de reunir o gado disperso, e foi tão bem
sucedida na empresa que os currais logo se encheram a ponto de poderem
abastecer o Recife e os engenhos do interior onde a carne caiu para três e
quatro vinténs por libra. Além disso podiam fornecer às guarnições reservas de
carne em conserva e farinha para doze meses quando os armazéns do Recife
já estavam esgotados. Não obstante esse movimento, o povo da região ainda
não estava isento de dívidas, conquanto o de Pernambuco e da Paraíba
estivessem pelos cabelos de responsabilidades. Tem-se aí a prova dos
grandes resultados que se podem alcançar com a criação de gado. Se o Brasil
holandês tivesse continuado em paz, essas estâncias poderiam abastecer de
carne fresca todas as guarnições sem desfalcar o rebanho do necessário à
criação. A questão do gado constitui a viga mestra do Estado brasileiro.
Crocodilos
pois se trata de duas variedades; assim, Marcgrave escreve: "Curema dos brasileiros, espécie
de tainha, maior e mais corpulenta''; enquanto a Parati é a tainha dos lusitanos; e Harder dos
belgas, tendo um pé de comprimento e a figura do corpo como a da Curema. Em Abbeville
XXXVIII, 32) Coureman Ouãssou e Paraty (id. 64). Rodolfo Garcia (XXXVIII, 32) anota que
Curema é um dos nomes da tainha, no que se equivocou, visto a distinção feita por Marcgrave.
123
Nieuhof escreveu Krokodillen e Jakare (p. 35, 1ª coluna ). Em Laet (L, 512). Soares
(LXXXVI, 311). Cardim, (XIX, 89). Em Abbeville (XXXVIII, 86), yacaré. Marcgrave escreveu
(LXX, 242) jacare Brasiliensibus Cayman Aethiopibus in Congo; Crocodilos Latins. Segundo
Teodoro Sampaio (LXXXI, 134), a palavra vem de y - echá - caré, o que olha torto, ou de
banda; ou ya-caré, o que é encurvado ou sinuoso.
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Capitania de Itamaracá
124
Nieuhof escreveu Pomerello (p. 35, 2ª coluna).
125
Nieuhof escreveu Abiay (p. 35, 2a coluna, 5° §).
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Rocha suspensa
O Engenho Mojope
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Ponta de Pedras
Rio Auiaí
Para além do rio Goiana, a mais ou menos três milhas e meia de distância, há
um grande rio chamado Auiaí,126 cuja foz é de tal forma obstruída por bancos
de areia que apenas permite a passagem de embarcações pequenas. Recebe
esse rio vários afluentes, no interior. À margem de um deles assenta-se a
aldeia de Maurício, na de outro, a de Auiaí.
Porto Francisco
Cabo Paraíba
Cerca de meia milha 127 a noroeste desse rio acha-se o Cabo Branco, e daí a
três milhas, na mesma direção, o Cabo Paraíba que é um grande promontório,
tendo ao lado extensa baía. Toda a costa, de Pau-Amarelo ao cabo de
Paraíba, é pontilhada de recifes ou rochedos que, em sua maioria, se alinham
a cerca de meia milha da praia. Isso faz com que as águas situadas entre eles
e a terra seja muito calma e permita o tráfego marítimo mesmo em época
tempestuosa, quando a navegação se torna quase impossível para fora desses
escolhos, devido à violência da corrente procedente do norte e ao vento Sul
que lá sopra continuamente.
126
O tradutor inglês escreveu duas léguas e meia (p. 26, 1a coluna, 3° §). - Nieuhof escreveu
Auyay (p. 37, 2a coluna, 8° §). Terá relação com o Ay, primitivo nome da foz do rio Igarassú.
(Cf. Alfredo de Carvalho, XXV, 12-13).
127
O tradutor inglês escreveu (p. 26, 1a coluna, 5° §): about a league and ahalf to the north
wesí quando, no original, está escrito (p. 37, 2a coluna, últ. §): Ander halve mijle Noorãe ten
Ooeste.
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Cidade de Goiana
128
Nieuhof escreveu (p. 38, 1a coluna, 8° §): Tapasima. Deve ser Itapissuma.(Cf. Alfredo de
Carvalho, XXV, 45). Varnhagen, (LXXII, 58
129
Nieuhof escreveu Kamboa (p. 38, 1a coluna, 8° §). No mapa de Vingbooms (Cf. XCVII), está
escrito Camboa. No mapa de Barlaeus (VIII, entre aspp. 24-25) consta Camboa.
130
No mapa de Vingbooms (XCVII, vol. II, mapa 47), consta uma ilha entre a costa e Itamaracá,
que o autor denomina Macatchtra. O mapa de Vingbooms denomina-se [i]Brazil during the
Dutch occupation seeond the Manuscript Atlas of Johannes Vingbooms, 1665.[/i] .
131
Nieuhof escreveu Tapowa (p. 38, 1a coluna, 9° §).
132
Nieuhof (p. 38, 2a coluna, 7° §) escreveu: o Coronel Martim Leitão. Trata-se de um
equívoco. Martim Leitão era ouvidor-geral de Pernambuco, cargo para o qual fora nomeado em
9 de setembro de 1583. Em 14 de fevereiro de 1585, partia com reforços a fim de assegurar a
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A cidade de Paraíba
Subindo o Paraíba, a cinco milhas de sua foz, encontra-se uma cidade fundada
pelos portugueses que, em honra a Filipe, Rei da Espanha, tomou o nome de
Filipéia. É também conhecida por Nossa Senhora das Neves e por Paraíba
dada a sua proximidade do rio. Quando os holandeses conquistaram a
Capitania, em novembro de 1634, 133 mudaram esse nome para o de Cidade
Frederico, em homenagem a Frederico Henrique, Príncipe de Orange. Por essa
época a cidade era de construção recente e ostentava diversos prédios
imponentes, com colunas de mármore, sendo o restante da construção de
pedra comum. Lá estava a sede do Tribunal de Justiça da Capitania. Antes da
rebelião dos portugueses, era esse lugar habitado tanto por portugueses como
por holandeses e largamente freqüentado pelos habitantes de toda a região,
que lá iam escambar açúcar por outras mercadorias, as quais eram depois
transportadas para outros lugares.
conquista da Paraíba, de onde haviam sido expulsos os franceses por Diogo Flores, espanhol,
e que nessa época se achava assolada pelos índios petiguaras. Ao assumir a direção da tropa,
Martim Leitão foi denominado General. Frei Vicente do Salvador assim relata (LXXVIII, 288) :
"com todo este exército, que foi a mais formosa cousa que nunca Pernambuco viu nem sei se
verá, foi o General Martim Leitão (que assim lhe chamamos nesta jornada), dormir no campo
de Igaraçú. "Em 6 de abril de 1585, volta a Olinda. A luta pela posse definitiva da Paraíba
continuava. Foi organizada a expedição e escolhido o capitão Simão Falcão para dirigi-la.
Tendo este adoecido, escolhe-se João Tavares, escrivão da Câmara e Juiz de Órfãos, o qual,
partindo a 2 de agosto, chegou a 3; e a 5 de agosto de 1585, depois de firmada a paz com
Piragibe, fundou a povoação de Nossa Senhora das Neves. - A cidade chamara-se Filipéia,
nome que lhe dera Frutuoso Barbosa. Varnhagen atribui essa idéia de Frutuoso Barbosa ao
fato de Diogo Florester chamado de S. Filipe, dia de sua partida da Paraíba, a 1° de maio de
1584, ao forte que fizera construir, depois da expulsão dos franceses em 1584, e não 1585,
como escreve Nieuhof. A João Tavares ficou entregue a capitania. Só em agosto de 88
entregou João Tavares a capitania a Frutuoso Barbosa. (Cf. LXXVIII, 287, 288, 299, 301, 303 e
LXXII, tomo I, 490-1, 492, 493 e nota 27 de Capistrano). Sobre Diogo Flores, nota III de
Capistrano (id. id., p. 500).
133
O tradutor inglês cometeu erro de data. Assim, Nieuhof (p. 39, 1ª coluna,1° §) escrevera que
em novembro de 1634 fora conquistada a Capitania, enquanto na tradução está escrito (p. 26,
2a coluna, últ. §): after they had in November 1638.
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O Forte Margarida
O terceiro forte
O terceiro forte está situado numa ilha triangular, chamada restinga, não muito
distante do anteriormente descrito, apenas um pouco mais para cima do rio.
Era reforçado com paliçadas e, nas baterias, havia cinco canhões de bronze e
outros tantos de ferro.
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O rio Paraíba
Porto Lucena
Duas milhas além deste rio, em direção ao norte, existe uma baía que oferece
seguro abrigo até aos maiores navios. É conhecida pelos portugueses pela
designação de Porto Lucena e pelos holandeses por Terra Vermelha, 134 por
ser dessa cor o solo da região. Há, aí, um ancoradouro excelente com cinco ou
seis braças de profundidade e toda essa zona é dotada de ótimos mananciais,
motivo pelo qual os navios holandeses que deixam o Recife, rumo à Metrópole,
costumam aí fazer escala para se abastecerem de água fresca.
134
Tanto Nieuhof (p. 39, 2a coluna) como Herckmans (Cf. XLI, 261) falam de Terra Vermelha
na Paraíba (Roolant, Roodelant). Trata-se, segundo a descrição de Herckmans, de uma terra
alta, formando como que um monte que se interrompe do lado do mar, pelo que os nossos
navegantes chamam-na de Terra Vermelha e os Portugueses de os Barreiros de Mirirí, porque
ali desemboca o rio Mirirí; Em Barlaeus (VIII, mapa da Paraíba entre pp. 32-33).
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Rio Mamanguape
Meia milha mais ao norte, a 6º 34', acha-se o rio Mamanguape135 que ali
desemboca no oceano. Este curso é muito mais largo em suas cabeceiras que
na foz; suas margens apresentam espessa vegetação de sarças, arbustos e
mangueiras. Pouco antes da foz há um recife e, na própria desembocadura,
dois perigosos bancos de areia. Tem ele três braças de água, na maré baixa.
Cerca de duas pequenas milhas ao norte do rio Mamanguape há uma baía que
os portugueses chamam Baía da Traição e onde, a uma milha de distância da
praia, se tem 11 a 12 braças de água. Cinco milhas para o norte dessa baía
encontra-se o rio Barra Konguon ou Konayo, que apenas dá calado para
pequenos veleiros. Perto de meia milha136 desse ponto, há uma grande baía de
cerca de duas milhas de extensão, chamada Pernambuco, e cinco milhas além,
ao norte, o rio Jan de Sta ou Estau 137.
Sua fertilidade
135
Nieuhof escreve (p. 40, 1a coluna, 1° §): "Mongoape ou Mongoanwapy".Trata-se do
Mamanguape. Aliás, já Herckmans escrevia, também, Mongougoappi ou Mamanguape. (Cf.
XLI, 261).
136
O tradutor inglês escreveu légua e meia (p. 27, 2a coluna, 3° §). Cf. ed. hol., p. 40, 1°
coluna, 6° §.
137
No mapa 50 de Wieder (XCVII, 2° vol.) existem, realmente, uma Barra e um rio de nome Jan
de Staa; ficam acima da Ponta e Barra de Pernambuco, na Paraíba.
138
Herckmans (Cf. XLI. 258-9) se refere às duas aldeias existentes - Findaúna e Joacaca - no
distrito de Gramame. "Pindaúna era o nome do potiguar que construiu as primeiras casas, onde
está agora a aldeia do mesmo nome". Em língua brasílica significa anzol preto (id. 259).
Teodoro Sampaio (LXXXI, 34) considera bem traduzido por Herckmans o nome indígena. Em
Barlaeus, edição de Naber, (VIII) entre as pp. 24 e 25.
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talvez por ter sido plantada em terras descansadas. Enquanto a Paraíba esteve
sob a jurisdição dos batavos, tinha cerca de 21 engenhos de cana em ambas
as margens do rio, sendo que 18 deles exportavam anualmente perto de 4.000
caixas de açúcar. À medida que se aproxima do rio,a região se vai tornando
baixa e plana, mas não muito distante da calha fluvial o solo de novo se enruga
em colinas e vales, oferecendo à vista interessantes paisagens. A parte plana
que também é a mais fértil divide-se em várias zonas, algumas das quais
tomaram os nomes dos riachos que as banham, tais como: Gramame, Tapoa,
Tiberí, Ingeby, Monguape, 139 Inererí, Camaratuba e outros. Todas essas terras
são prodigiosamente férteis em virtude das cheias do rio Paraíba. Seus
produtos são: açúcar, cevada, trigo turco, batatas, ananases, cocos, melões,
laranjas, cidras, bananas, pacovas, maracoani, 140 pepinos e todos os demais
gêneros necessários ao sustento do homem e dos animais. Encontra-se,
também, por aí, uma espécie de pêra silvestre, chamada caju, muito rica em
suco e de sabor agradável. Possui ela uma castanha cuja casca é amarga
embora a polpa seja muito agradável quando assada na cinza. A pêra é
refrigerante, mas o caroço tem efeito contrário.
139
Em Herckmans, Tapoa ou Itapoa é um pequeno rio que desemboca à margem do rio
Paraíba (XLI, 256). No mapa de Vingbooms, referente à Paraíba, encontra-se, também, Tapoa
(XCVII, vol. II, mapa 46). "Nieuhof escreveu Ingenbye Monguappe (p. 40, 1a coluna, 1° §).
Quanto ao primeiro, nada encontramos; já o segundo apresenta grafia semelhante
(Monguappe - p. 40, 1a coluna, 1° §) a que indicava o Mamanguape (Mongoapa ou
Mongoauwapy (p. 40, 1a coluna, 1° §). Como se trata de ribeiro, não pode ser o Mamanguape,
que é o segundo rio em importância da Paraíba. Em Barlaeus (VIII, mapa da Paraíba, entre pp.
32-33) está delineado todoo curso ao rio Mongaguaba (Mamanguape), não se vendo aí
nenhum riacho com semelhante nome, Marcgrave (LXX, p. 262) registrou o rio Monguape.
140
Marcgrave se refere a Maracoani Brasiliensibus: câncer parvus.. -, (LXX,184). Nieuhof
escreveu Markomas (p. 40, 2a coluna, 2" §). Trata-se do caranguejo.
141
Artisjoski escreveu Nieuhof (p. 40, 2a coluna, 5° §). A grafia correta é Arciszewski, conforme
mostramos em trabalho sobre o mesmo (LXXVI). Aí esboçamos a biografia de Arciszewski tão
ignorada nos bons autores do período holandês, como também mostramos o erro em que
laboraram Netscher e Wätjen, este ao repetir o primeiro, afirmando que fora Arciszewski
exilado da Polônia por questões religiosas, quando o fora por motivo de ato criminoso. Aí
indicamos, igualmente, a bibliografia do coronel polaco, autor de poemas e trabalhos em prosa.
Desde 1892-93, em Petersburgo editava-se "Dzieje Krsyztofa Z Arciszewa Arciszewskiego",
1592-1656, 2 tomos, da autoria de Alexandre Kraushara, Petersburg. Consultar, também: J. C.
M. Warsinck - Christoffel Artiehewsky, Poolsche Krijgsoverste in dienst van de West-Indische
Campagnie in Brazilié. 1630-1639. Proeve tot eerherstel.'s-Grav. 1937.
142
Stachouver tornou-se, depois, negociante, abandonando o Colégio dos Conselheiros
Políticos do qual fazia parte, razão por que, como conselheiro, tomou parte na expedição
contra a Paraíba. (Cf. XV, 159). No Breve Discurso (XV, 158-160), se encontra exposta toda a
organização e membros do referido Colégio na época de Maurício de Nassau.
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143
Antônio de Albuquerque era capitão-mor e não general; governador da Paraíba até a
conquista holandesa (Cf. Varnhagen, LXXII, tomo II, 310 e 313).
144
Maglianes escreveu Nieuhof (p. 41, 1a coluna, 4° §). Trata-se do comandante Luiz de
Magalhães, do fortim de Santo Antônio, que resistiu 4 dias a mais depois da entrega do forte de
Cabedelo, que se rendeu a 19 de dezembro. (LXXII, Tomo II, p. 315 e nota 102 e 103 de
Rodolfo Garcia).
145
No mapa 46 de Vingbooms, (Cf. XCVII) está escrito Tabiá. Fica próximo à cidade de
Paraíba. Pelo rio Mandarucú, a que chamam Tambiá Grande,subiram os holandeses para
ocupar a Paraíba (Cf. LIV, 47). Nieuhof escreveu Tambra Grande (p. 41, 1a coluna, 5° §). Em
Herckmans, Rio Tambian (XLI, 242).
146
A primeira tentativa foi frustrada. Realizou-se em fins de fevereiro de 1634, com uma
esquadra composta de 20 navios, com 1500 homens, dirigida pelo Almirante Lichthart,
Schkoppe chefiando as tropas de terra e indo em sua companhia os diretores Johan
Gijsselingh e Servaes Garpentiex. O ataque foi sem resultado e as forças holandesas foram
obrigadas a retroceder. Em novembro de 1634 é que se tentou o novo ataque. Agora,
Arciszewski voltara da Holanda com o título de coronel. Netscher avalia em 29 navios e iates à
disposição de Lichthart, com 2.354 soldados, sob às ordens de Schkoppe e Arciszewski,
acompanhando a expedição Carpentier e Stachouver. (LXIII, 72). Saiu do Recife em 25 de
novembro (LXXII. 312). Servaes Carpentier foi nomeado em 1635 diretor das duas capitanias
da Paraíba e Rio-Grande-do-Norte (Cf. XLI, 244). Foi substituído por Ipo Eysens em 1636, que
faleceu em outubro do mesmo ano. Elias Herckmans foi o terceiro governador da Paraíba sob
o domínio neerlandês, tomando posse em 14 de outubro de 1638. (Cf. XV, 159 e LV). - Foi por
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essa época que Elias Herckmans escreveu a Descrição Geral da Capitania da Paraíba. O título
do seu trabalho é Beschrijving van der Capitania Paraíba 1639, publicada nas Bijdragen en
Mededeelin-gen van het Historisch Genootschap gevestigd te Utrecht. 2° Tomo. 1879. Foi
traduzida por José Higino e publicada na Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico
Pernambucano (Vide XLI). Foi, também, autor de um poema sobre a navegação, notável pelos
detalhes sobre as viagens no Novo Mundo. Trata-se de uma narração poética das navegações
holandesas. O livro é procurado pelos bibliófilos, por causa de suas estampas, gravadas a
água-forte, sendo uma delas conhecida sob o nome de "a fortuna contrária", da autoria de
Rembrandt. Tem como título: Der zee vaert lof, handelenãe vande Gedenckvraerdighste
zeevaerãen met de op en onderganghen der voornaemste heerschappijen der gantscher
wereld. Amsterdam. J- Pzn. Wachter, 1634-. Nijhoff há algum tempo, avaliava-a em um conto e
quinhentos mil réis. Herckmans nasceu em Amsterdã em 1596 e morreu no Recife, a 8 de
janeiro de 1644. (Cf. XX. Um poeta aventureiro, pp. 98 e 107).
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147
[147] Não é exato o que escreveu Nieuhof, pois os franceses não estavam de posse do Rio
Grande do Norte. Em 1597 é que 13 navios franceses atacaram a Paraíba e logo em seguida o
Rio Grande do Norte (LXXII, tomo II, p. 50-51). Feliciano Coelho de Carvalho, que Nieuhof
chamou de general espanhol e escreveu Feliciano Creça de Karvalasho (p. 41, 2a coluna), era
capitão-mor da Paraíba e auxiliou Manuel de Mascarenhas, capitão-mor de Pernambuco, a
expulsar os franceses do Rio Grande do Norte. Em abril de 1598 é que Feliciano Coelho de
Carvalho pôde, efetivamente, auxiliar com gente da Paraíba a expulsão dos franceses. Sobre a
colonização do Rio-Grande-do-Norte, vide "A colonização do Rio Grande do Norte até a
ocupação holandesa", pelo Dr. A. Tavares de Lira, pp. 1-40, Rev. do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, 1914.
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Rio Grande
148
[148] Em Vingbooms se escreve Mopabu (XCVII, vol. II, mapa 45), Gonhoa e Goayra.
Verdonck escreve (XCIII, 225): "Cunhaú. Três milhas acima de Camaratuba, existe um
engenho chamado Cunhaú, o qual faz, anualmente, de 6.000 a 7.000 arrobas de açúcar. Ali
moram de 60 a 70 homens, com suas famílias"; e logo adiante: (id. p. 226). "Nesta jurisdição do
Rio-Grande pode haver, ao todo, 5 ou 6 aldeias de brasilienses, que juntos devem contar 750 a
800 flecheiros, e a principal destas aldeias é chamada Moppwbú e está situada a 7 milhas ao
Sul do Rio Grande e a 4 ou 5 para o interior". No Breve discurso sobre as quatro capitanias
conquistadas, escreve que ela está dividida em 4 freguesias, a saber: a de Cunhaú, a de
Guajana (Goiana) a de Potingy e. (branco). Souto Maior escreveu (LXXXVIII, 415 e 416 e 424)
Mipibú, Monpibú, Monpebú. Em Baro, Monpabú (IX, 201).
149
[149] Nieuhof escreveu Goraires (p. 42, 1a coluna, 1° §). Cf. XXVI, p. 190, 2° vol.
150
Na edição inglesa está escrito 50 graus e 42 minutos (p. 29, 1a coluna, 2° §); cf. ed.
holandesa (p. 42, 1a coluna, 7° §).
151
Forte Keulen. Vários tradutores como os Senhores José Higino e Cláudio Brandão, têm
grafado Ceulen. Não aceitamos essa grafia, porquanto o fonema representado pela letra k em
holandês é diferente do expresso pela letra o antes de e ou i em português. Segundo a
ortografia oficial, deve-se escrever uma palavra adotando-se a forma vernácula, quando existe.
Como para essa palavra não existe forma vernácula, só se pode adotar, evidentemente, a
reprodução fiel da grafia estrangeira.
152
Nieuhof escreveu Ginapabo (p. 42, 1a coluna, 12° §). Cf. XXVI, p- 190.
153
Quanto a Guasiavi, Vingbooms menciona Guasjou e no mapa vê-se que Atapewappa
(Tappewappe no Mapa 45) fica junto à nascente do Ceará-Mirim e não junto à desembocadura
do Guasjou (XCVII, mapa 45, vol. II) ou Guasiavi, como escreveu Nieuhof.
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pequeno lago no Rio Grande. Em frente ao mesmo forte um riacho aflui para o
Rio Grande, entre dois bancos de terra, e, não muito distante dali, encontra-se
ainda outro rio de água salgada.
Este forte foi capturado pelos holandeses sob o comando de Mathias van
Keulen um dos governadores da Companhia, o qual foi auxiliado por vários
capitães de valor, tais como Byma, Kloppenburgh, Lichthart, Garstman e
Mansfelt, Van Keulen 155 para lá se dirigiu à frente de 808 homens embarcados
em 4 navios e 7 iates. Keulen apoderou-se, não apenas do forte, mas, ainda de
toda a Capitania. Foi então que a velha fortaleza de Três Reis passou a
chamar-se forte Keulen, em homenagem ao chefe da expedição.
Era hábito dos Tapuias fazerem uma ou duas incursões anuais, nessa
Capitania, principalmente durante a seca que os privava de água fresca.
Mantinha-se, assim, viva a animosidade entre portugueses e nativos.
154
Em 5 de dezembro de 1633 é que van Keulen partiu do Recife para atacar o Rio-Grande-do-
Norte. Atacaram o Forte dos Reis Magos e o seu Capitão Pedro Mendes de Gouveia capitulou
em 12 de dezembro. Mudaram, então, o nome do Forte para o de Keulen. Sobre as atividades
dos holandeses no Rio Grande do Norte, cf. Alfredo Carvalho, Os Holandeses no Rio-Grande-
do-Norte, Rev. do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1906, Tomo IV, p.
117-139 e 170-198.
O tradutor inglês comete, neste trecho, outro engano grave. Assim é que Nieuhof escreveu (p.
42, 2a coluna ): By dezen Krijgstoght haãden zich verscheide Nederlandtsche Krijghs-oversten
vervoeght, ais Byma, Kloppenburgh, Lichthart, Garstman en Mansfelt. Van Keulen trok....
Enquanto que na edição inglesa (p. 29, 2a coluna ) está escrito: This Fort was in 1633 taken by
the Dutch under the Command of Matthias van Keulen, one of the Governors of the Company,
who being assisted by several noted Captains, viz. Byma, Kloppenburgh, Liehthart, Garstman,
and Mansfeldt van Keulen, sei sail... Como se vê, a ausência do ponto após o nome de
Mansfeldt altera inteiramente o sentido deste trecho.
155
Em 5 de dezembro de 1633 é que van Keulen partiu do Recife para atacar o Rio Grande do
Norte. Atacaram o Forte dos Reis Magos e o seu Capitão Pedro Mendes de Gouveia capitulou
em 12 de dezembro. Mudaram, então, o nome do Forte para o de Keulen. Sobre as atividades
dos holandeses no Rio Grande do Norte, cf. Alfredo Carvalho, Os Holandeses no Rio Grande
do Norte, Rev. do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1906, Tomo IV, p.
117-139 e 170-198.
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Ceará
O rio Ceará
Em 1630, o interior da região era governado por um rei nativo conhecido por
Algodão, sujeito, até certo ponto, aos portugueses, que lhe construíram um
forte no rio Ceará e dominaram toda a zona litorânea adjacente. Entretanto,
lusos e silvícolas viveram sempre em contínua discórdia até 1638, época em
156
Esse trecho sobre o Ceará já foi traduzido por Pedro Souto Maior, e publicado na Revista da
Academia Cearense, tomo XII, 1907, Ceará, Fortaleza.
Em fins de 1633, fora o seu litoral explorado pelo iate Nieuw Nederlandt, do capitão Joost
Coolster. A 14 de outubro de 1637, partiam do Recife os iates De Brack e De Hemp Haen,
conduzindo 126 soldados sob o mando do major Garstman. A 25 fundeavam na Baía de
Mucuripe. A 26 marchavam, com Algodão, em direção ao forte comandado pelo capitão
Domingos da Veiga Cabral. Aí ficou o Tenente Hendrik Ham, voltando Garstman para o Recife.
Em carta datada de 15 de janeiro de 1638, o Supremo Conselho do Brasil comunicava ao
Conselho dos XIX: "Agora que o Syará foi conquistado não resta em poder dos portugueses
mais nenhuma praça até o Maranhão".
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Contudo essa política não deu os resultados que dela se esperavam, pois, em
1644, vários dos nossos foram massacrados pelos nativos em Camocim, a
cerca de 20 ou 30 milhas 157 de Ceará, como mais adiante veremos.
Assim, André Vlijfs propôs ao Grande Conselho fundar uma aldeia no Rio
Grande para lá se instalarem os habitantes de Ceará que o desejassem fazer,
tornando-se ele o chefe da povoação. Inteirados, o Conde Maurício e o Grande
Conselho, das aspirações de alguns habitantes de Ceará, desejosos de se
estabelecerem no Rio Grande, sua terra natal, e, tendo em vista os benefícios
que para a Companhia poderiam resultar da migração desses brasileiros para
ponto tão próximo, atenderam a sugestão de Vlijfs. Concederam-lhe ainda
autorização para que trouxesse para a nova aldeia - da qual seria ele o chefe,
ou capitão - o número de brasileiros que julgasse conveniente. Tomadas essas
providências, escolheram-se, com a aprovação dos diretores da Companhia,
certos chefes ou cabeças das mais antigas famílias de cada distrito, chamados
Regedores pelos portugueses, bem como alguns juizes. Assim é que de
Goiana veio Domingos Fernandes Carapeba, da Paraíba Pedro Potí, e do Rio
Grande Antônio Paraupaba159. Entretanto, a despeito de tudo isso, os
157
O tradutor inglês escreveu: "cerca de 30 léguas", (cf. p. 44, 2a coluna,1a § da edição
holandesa e p. 30, 2a coluna, 2° § da tradução inglesa)
158
O tradutor inglês escreveu 1641 (cf. p. 44, 2a coluna, 1° § da ed. holandesa e p. 30, 2a
coluna, 3° § da trad. inglesa).
159
A bibliografia sobre estes índios é curiosa, embora pouco extensa. Pedro Potí foi à Holanda
em 1625, na esquadra de Hendrikson e lá ficou até 1630. Voltou em 1631, provavelmente com
Lonck; em 1645, foi eleito regedor dos índios da Paraíba. Na segunda batalha de Guararapes,
a 19 de fevereiro de 1649, foi preso. Morreu em 1652, a bordo do navio que o levava para
Portugal.
Antônio Paraupaba foi, em 1633, intermediário entre Janduí e Arciszewski e Stachouver. Em
1645, foi igualmente eleito regedor dos índios do Rio-Grande. A 6 de agosto de 1654, foi
enviado à Holanda, morrendo em 1656 ou 1657.
Sobre esses dois índios, consultem-se os seguintes trabalhos: Dr. Guilherme Studart,
Dicionário Bibliográfico do Ceará, 1913; Fortaleza, vol. II, pp. 16 e 17 - Pedro Souto Maior, Dois
índios notáveis e parentes próximos. Revista Trimensal do Inst. do Ceará tomo XXVI, 1912, p.
61-71. - Pedro Souto Maior, A missão de Antônio Paraupaba ante o Governo Holandês, Rev.
Trimensal do Inst. do Ceará, tomo XXVI, 1912, p. 72-82.
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A excelência do Brasil
1643, Bas deixava o Maranhão entregue a Wiltschut e Gideon Morris. Foi ao Ceará e, em fins
de 1643, lá se encontrava, sendo, pouco depois, vítima de uma invasão de bárbaros que
igualmente arrasaram as obras feitas nas salinas vizinhas de Upanema, por ele descobertas.
Foi, realmente, uma curiosa figura de aventureiro, e, de certo modo, pode-se afirmar que foi
muito perspicaz na seleção geográfica dos terrenos onde exercer domínio político; pois era
mais inteligente, parece-nos, a expansão para o Norte do que para o Sul, tentada por Brouwer.
Sobre suas cartas e relatórios, ver XXXII, 237-319; I, 127-8, p. 430, nota IV de Rodolfo Garcia e
LXXVII, 120, 121, 122.
161
Consulte-se a nota 52.
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162
Olivier van Noord foi o primeiro navegador holandês que fez a volta ao mundo. Nasceu em
Utrecht. Partiu de Roterdã em 13 de setembro de 1591. Tentou apoderar-se do Rio, mas não
conseguindo o seu intento, continuou viagem pelo estreito de Magalhães, costeou o Pacífico,
seguiu para as Filipinas, as Molucas, voltando pelo Cabo da Boa Esperança, e chegou a
Roterdã a 26 de agosto de 1601. A relação foi publicada em holandês sob o título: Beschrijving
van de Schipvaerd by Hollanders Ghedaen onder Olivier van Noord, door de straet van
Magallam.es en3e\ voorts de gantsche Kloot des aertbodems om. (Amst., 1616). Com 25
estampas. Essa viagem foi publicada, depois, na coleção de viagens holandesas
"NederlandscheRaizen", 2 tomos, MDCCLXXXIV, sob o título: Togt rondom den Aardkloot, âoor
Olivier van Noord, Geduurende Welken zy verscheiden woeste en oubewoonde eilanden
ountdekken, en, noa eene afweezigheid van drie jaaren, den 26 Augusti 1601, te Rotterdam
iveder behouden aanlanden. Te Amsterdam, by Petrus Conradi, Te Halingen. By V. van der
Plaats; ocupando da p. 147 à 253. A mesma viagem foi editada, também, em francês:
Desoription du penible Voyage fait autoivr de Vunivers ou globe terrestre, par Sr. Olivier Du
Nort, d'Utrecht, general de quatre na-vires... Amsterdam, chez la Veuve de Cornille Nicolas,
1610, 22 pp. e uma folha não numerada.
Spilbergen empreendeu a primeira viagem em 1601, 1602, 1603 e 1604; o relato da expedição
foi publicado em holandês, editado na citada coleção "Nederlandsche Raizen", tomo III,
MDCCLXXXIV, pp. 150-224, sob o título: Eeerste Togt van Joris Spübergen, na de Oostindiên,
in de Jaaren 1601, 1603 en 1604, pp. 150-224.
Mais tarde realizou Spilbergen outra viagem com Jacob le Maire e W. Shouten, entre os anos
de 1614 a 1618; foi também publicada em holandês sob o título: Oost ende West-Indische
Spiegel der 2 leste navigatien, ghedaen... 16H-18, daer in vertoont wort, in ivat gestalt Joris van
Spilbergen door de Magallanes de werelt rondom geseylt heeft.... Met de Australische
navigatien, van Jacob Le Maire. Leyden, N. van Geelkereken, 1619. Foi traduzida para o latim:
Speculum Orientalis Occiden-talisque Indiae navigationum; quarum una Georgij à Spilbergen
classis cum potes-tate praefecti, altera Jacobi Le Maire auspiciis imperioque directa, annis
1614-18; Lugduni Batavorum, N. à Geelkereken, 1619. Em 1621, foi traduzida para o francês:
Miroir Oost en West Indicai, auquel sont deseriptes les deux dernieres navigations, faictes
1616-18... p. J. Spilbergen. Amst. J. Jansz, 1621. Foi, ainda, publicada na "Nederlandsche
Raizen", tomo 8°, MDCCLXXXV, p. 1-51- O estreito descoberto entre a Terra do Fogo e uma
ilha foi chamado Estreito Le Maire.
Jacques L'Heremite ou Jakob Heremijt foi outro célebre viajante holandês. Começou como
companheiro de viagem de Steven van der Hagen, na segunda expedição por este realizada às
Índias Orientais em 1603 (LVI, Tomo IV, p. 163, 164, 165) e mais tarde em 1623-1624
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Dispõe ainda o Brasil de clima salubérrimo. Posto que situado entre a linha
equinocial e o Trópico de Capricórnio, sujeito, portanto, à canícula abrasadora
dessas latitudes, o calor é aí consideravelmente amenizado pelos ventos de
Leste, que sopram do mar e não encontram, em seu caminho, montanhas ou
ilhas que os barrem. Por isso, talvez, raramente se encontram, no Brasil, as
moléstias que freqüentemente assolam Angola, Guiné, São Tome e vários
outros lugares aos quais as brisas levantinas não podem proporcionar idênticas
vantagens.
empreendeu outra viagem ao redor do mundo. Na coleção "Nederlandsche Raizen", tomo 8°,
MDCCLXXXV, p. 235-176, encontra-se a Togt rondom den Aardkloot, door Jakob Heremiet,
Gedaan in de jaare 1623 tot 1626, pp. 135-176.
Sobre essas viagens em geral, a melhor autoridade é P. A. Tiele. Para os dois melhores
trabalhos deste autor, vide: XC, XCI.
163
Brouwer publicou: Journael eende historis verheal van de reyce gedaen by Oosten de Straet
Le Maire, naer de custen van Chili onder het beleyt van den heer Generael Hendrick Brouwer in
de jare 1643 voor gevallen etc. Amst., Broer Jansz, 1646, 4°.
Essa obra foi reimpressa em várias coleções, como as de Hulsius, Churchill, 1746, a
"Nederlandsche Raizen", etc. Tiele (XCI, 226-8) trata dessas várias reimpressões. A obra de
Brouwer foi traduzida para o alemão em 1649 (LVII, 50). A edição de Osborne e Lintot
(consulte-se a bibliografia de Nieuhof, onde essa coleção é indicada) publica, no 1° vol., a
Viagem de Brouwer e a relação de Elias Herckmans. Thevenot, no II tomo, dá, também, uma
tradução dessa viagem.
Sobre sua expedição existe um folheto (n. 185 de Asher), que noticia a expedição do General
aos Mares do Sul. Intitula-se: Tydingh uyt Brasil aende Heeren Bewinthebberen van de West-
Indische Compagnie, van wegen den tocht by den Generael Brouwer nae de Zuyd-Zee
gedaen... Amst., by François Lieshout. 1644. A excelente edição de Barlaeus de 1923 publica
dois mapas dos mais importantes para o estudo das expedições de H. Brouwer. São os
seguintes: 1°) uma reprodução do mapa em mss., representando o mar que rodeia a Ilha dos
Estados, navegado pela primeira vez por Brouwer, em 1643; esse mapa encontra-se
depositado no Arquivo Geral do Reino, em Haia, e nunca fora reproduzido; 2°) uma reprodução
do terreno de operações de Brouwer no Chile, conforme um mapa em mss. por E. Herckmans.
O original encontra-se na mesma coleção que o anterior (Cf. VIII, p. 5 dos Aditamentos e
Explicações de S. P. L'Honoré Naber).
A expedição de Hendrick Brouwer, antigo governador das índias- Orientais, que trouxera da
Holanda a incumbência de conquistar o Chile, partiu do Recife a 15 de janeiro de 1643,
levando a bordo Elias Herckmans, a quem seria entregue o governo da nova conquista.
Hendrick Brouwer faleceu quando, depois de fracassado na marcha por terra, prosseguia, por
mar, a conquista da costa. (Cf. Alfredo de Carvalho, XX, artigo Um poeta aventureiro, Elias
Herckmans, p. 97-108, especialmente, p. 104-5).
Sobre a biografia de H. Brouwer, v. Moniteur des Indes, 3 p. 294.
164
Sobre moléstias, febres, etc, no Brasil Néerlandes, cf. Piso, (LXX, 15-38, cap. I, do livro II).
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165
Na edição holandesa está escrito (p. 46, 2a coluna, 1° §): Want de Stroomen gaen daer
langs de knsten, van Lente tot Zomermaent, geheel Noortwaerts.Dan kan men de kust van
Brasil, varít Noorde na't Zuide, niet bezeilen. Maerzoo dra de maenden van Lente-maent tot aen
Ooghstmaent voorby zijn, dan is de Noorder-stroom van Zomer-tot Ooghstmaent heel gedaen.
Daerna gaet de stroom,met den eersten of aenvang van Herstmaent tot den laesten van
Slachtmaent evenzoo snel na de Zuid; dies men dan daer even zoo quaet van't Zuide na't
Noorde, aisvan het Noorde na't Zuide kan komen. De winãen voegen zich altijt na den
stroom,en waeien, op âfaenkomste van Maert, Zuid-zuid-oost en Zuid-oost. En gelijk
destroomen van Zomer-tot Herfstmaent (sic), zoo vertrekken de winden ãan na het Ooste, en
waein tot in Herfstmaent (sic) Oost-zuid-oost- Te weten, twee winden,de Zuid-ooste en Noord-
ooste windt, heerschen by beurte langs deze gantsche kust,en maken en stellen het
onderscheit in de regei van de schipvaert. Enquanto que na edição inglesa o tradutor escreveu
(p. 32, 1a coluna 1° §): For it is observable, that on the coast of Brasil, the stream runs from
February till past July, constantly Northerly, during which time there is no passing from the North
to the South; but after those Months are past the stream turns, and throuw the beginning of
September to the latter end of November, runs as violently to the South as it did to the North
before, and consequently there is no sailling from the North to the South, no more than before
from the South to the North. The Winds here turn with the Stream; and at the beginning of
March blow South, South-East, and South-East. And like the Stream changes its Current till
September, so the Winds continue in the East, and blow till that time out of the East South-East.
For there are but two Winds that reign along this Coast, viz. the South-East and North-East
Winds;according to which Ships must regulate their Course here.
Como se pode verificar, o tradutor inglês, além de não ser fiel, traduziu erradamente os
respectivos meses em holandês.
Onde escrevemos junho grifado estava, no original holandês, agosto, por evidente equívoco,
parece-nos de Nieuhof; de vez que logo a seguir ele diz que nos meses de junho até agosto
finda a corrente; logo, a corrente nordeste só acompanha a costa de março a junho, exclusive.
Escrevendo junho torna-se compreensível a variação das correntes.
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O nosso culto religioso, tanto no que respeita à doutrina como à prática, era
estritamente regulado pelas prescrições do Sínodo Nacional de Dordrecht,
dispensando-se especial atenção à instrução das crianças, às quais todos os
domingos à tarde se explicava o catecismo tanto no Recife como na Cidade
Maurícia. Quatro vezes ao ano administrava-se o Santíssimo Sacramento aos
que aspirassem recebê-lo, devendo, para tanto, confessarem-se perante o
Conselho da Igreja ou aos Ministros os que inscreviam seus nomes em um
livro. Procediam-se do estrangeiro, registravam seus nomes na Congregação.
A disciplina da Igreja era escrupulosamente observada em todos os seus
pormenores.
Conselho Eclesiástico
de suas pesquisas. Nesse relatório, pleiteava sua nomeação para superintendente geral de
minas, como também, o que é curioso, obras de filósofos que escreveram sobre minas, desde
Teofrates, Salomão e Avicebromis (XX, 118-121).
Nieuhof afirma que Stetten servia, também, nas expedições terrestres. É possível que
conciliasse os dois serviços; daí o não falar Nieuhof em suas atividades de aventureiro. Nas
atas se escreve J. a Stetten e Nieuhof Astetten (p. 47, 3° §).
D. Joachim Soler era, em 31 de março de 1637, indicado para elaborar um pequeno e
resumido catecismo na língua espanhola, com algumas orações, para servir na catequese dos
índios. Foi, dos ministros holandeses, o que melhor se distinguiu nesse trabalho, pois várias
são as referências que se encontram a respeito. Falava português, tendo, mesmo, pregado na
nossa língua, a fim de converter os portugueses. O catecismo de que fora incumbido foi
enviado à Holanda, mas não voltou impresso, tendo Soler novamente composto, ajudado,
agora, por Doorenslaer, um "breve, sólido e claro compêndio da religião cristã". Em 1644,
deixava o Brasil. Joachinus Soler se encontra em Nieuhof e nas Atas da Religião Cristã
Reformada; Calado falou-nos (XVII, p. 128) de um "predicante francês Vicête Soler, valenciano
de nação, o qual havendo sido frade augustinho, tinha fugido da Religião e passando à França
se fez, ali, Calvinista e se casou e se fez predicante da seita de Calvino e, com este título,
assistia em Pernambuco"; Nieuhof afirma que quando Soler abandonou o Brasil a igreja
francesa ficou sem ministro; donde se pode supor que ele fosse realmente francês. Calado,
Nieuhof e as atas mostram que assistia no Recife. Terá Calado se equivocado ao escrever
Vicête, tratando-se do mesmo Soler? Se assim for, é preciso não esquecer que Soler,
predicante, Vicente ou Joaquim, escreveu o seguinte trabalho: Cort ende sonderlingh I Verhael
/ van eenen Brief van Monsieur Soler, I Bedienger des H. Euangelij inde Gherofor- I meerde
Kercke van Brasilien. / Inde vvelcke hij aen eenighe syne vrienden, I daer hy aen schrijft,
verhaelt verschey-den singula / riteyten van 't Landt. / Uyt de Francoysehe in onse
Nederlantsehe tale overgeset. I Tot Amsterdam / Voor Boudevvyn de Preys, Broeckvercooper
wo- / nende op de hoeck van de Vygenãam inde Faem. Anno 1639".
Quanto a Samuel Batchelaer ou Samuel Batiler, como se grafa nas atas, foi, em 16 de
dezembro de 1636, examinado e "admitido por voto unânime, como proponente na língua
inglesa, devendo servir no acampamento de Serinhaém". Foi desde essa sessão eleito
Assessor da Assembléia do Sínodo. Em 3 de março de 1637 servia no Forte, na Paraíba, e, em
17 de outubro de 1641, "a igreja do Recife expõe que ela havia nomeado para a igreja inglesa,
em Maurícia, D. Samuel Batiler, assaz conhecido na classe, como predicante pio e devoto"
(LXXXVII, 771). Vide nota 50.
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Abelhas
Bálsamo
168
Nieuhof escreveu Eiruka e Piso Eiruba. Esse trecho referente às abelhas é literalmente
copiado de Piso (LXX, 55-6). Nieuhof escreveu Amanakay-Miri, Amanakay-veu, Aibu,
Mumbuka, Pixuna, Urutuetra, Tubuna, Tuiuba, Eiruku, Eixu, Kubiara e Kurupireira (p\ 47, 2a
coluna 7° §). É preciso indicar que a numeração da obra está com grandes falhas, pois após o
número 47 vem o número 40 e daí segue até 50. A p. 47, que citamos, é a primeira que traz
esse número).
Em Soares (LXXXVI, 279) heru. Segundo Batista Caetano (III, 115) eichú é formado de ei -f
hub = busca mel, ou pai do mel, abelha mestra, uma espécie de abelha negra. Segundo ainda
o mesmo autor, [i]eir,[/i] substantivo, significa abelha e dele provém numerosos compostos,
com os quais se designam várias abelhas e diversas qualidades de mel. Segundo Teodoro
Sampaio (XXV, 124), exú é corr. de eichú ou eira-chú, abelha negra, que faz um ninho rugoso,
áspero; assim como eira é a abelha, a mãe do mel. Para Batista Caetano, Tubuna (III, 540).
Tubuna é uma espécie de abelha, negra, de tub- abelha mestra e ü- pretas. R. von Ihering
regista enchú ou inchú; a pronúncia caipira ichú e também Mombuca. (Dicionário dos Animais
do Brasil, S. Paulo, 1940, pp. 318 e 520).
169
Em Soares, copaíba. (LXXXVI, 227). Em Marcgrave (LXX, 130),copaiba.
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árvore nativa, de grande porte e casca cor de cinza, que se ramifica, no alto,
em numerosos galhos. Tem folhas de meio pé de comprido, colocadas umas
opostas às outras, no meio dos galhos; no mais assemelham-se a qualquer
outra. Na ponta dos galhos mais longos há um sem número de pequenos
brotos, repletos de folhas, dentre os quais surgem as flores e a seguir os frutos,
semelhantes a bagas, de loureiro. Estes, a princípio verdes, tornam-se negros
e doces à medida que amadurecem. Em seu interior há um caroço redondo e
duro, cujo âmago é farinhento, mas impróprio para consumo. Os frutos
amadurecem em junho e os brasileiros extraem-lhe o suco, desprezando a
polpa e o caroço. Os macacos apreciam-nos bastante.
O bálsamo oleoso e aromático de que esta árvore é tão rica flui todas as luas
cheias desde que se procedam, em sua casca, incisões suficientemente
profundas para atingir o lenho. Tal é a quantidade de bálsamo que, em três
horas, se podem colher cerca de doze mingelen170. Se não escorrer
imediatamente, obtura-se com cera a incisão e pode-se ter a certeza de que,
duas semanas após, o bálsamo correrá em abundância. Não se encontra esta
árvore em Pernambuco com a mesma profusão com que prolifera na ilha de
Maranhão, de onde o bálsamo é exportado para a Europa. Esse bálsamo é
quente no segundo grau e compõe-no uma substância oleaginosa espessa e
resinosa. É estomacal e muito bom para dores provenientes de resfriados,
casos em que é aplicado externamente, sobre a parte afetada. Algumas gotas,
ingeridas, fortificam os intestinos, estancam as hemorragias das mulheres bem
como as diarréias ou gonorréias dos homens. Para esses distúrbios pode ser o
bálsamo aplicado tanto na forma de clisteres no ânus como na de irrigações
por seringa com açúcar e suco de tanchagem no pênis171.
Frei Vicente do Salvador (LXXXVIII, 30-31), copaiba. Em Gandavo (XXXVI, 99), copahiba;
Barlaeus (VII, 141). Em Cardim (XIX, 55), cupaigba; em Piso (LXX, 56), copaiba; Piso (LXXI,
pp. 10 e 118), copaliba ou copaiba. Léry (LII, 157) copay. Segundo Rodolfo Garcia, (XIX, p.
108, nota) foi este cronista quem primeiro a descreveu, dando-lhe o nome indígena, cujo étimo
é incerto. Rodolfo Garcia afirma que Soares escreveu copiuba e Marcgrave copiiba. Cláudio
Brandão (VII, p. 385, nota 183) escreveu, também, que Soares grafara copiúba. A edição que
possuímos de Soares não confirma tal asserção. Ele grafou copaíba. Quanto a Marcgrave,
consultamos cuidadosamente a edição de 1648 e lá encontramos copaiba. Trata-se,
evidentemente, de equívoco. Esse trecho é, como sempre, tirado de Piso (LXX, 56).
170
Mengel é medida de leite, valendo mais ou menos um litro. Na linguagem popular, mingel -
mingelen. (XLVIII).
171
Nieuhof escreveu (p. 40 bis, 2a coluna, 7° §): "emissão de sêmen" e o tradutor inglês:
emissão involuntária de sêmen", sendo, além disso, pouco fiel nesse trecho, pois omitiu o
processo de aplicação do remédio (p. 33, 2a coluna, 2° §). O mesmo trecho, que foi tão mal
traduzido para o inglês, encontra-se em Piso (LXX, 56) e dele se depreende tratar-se de
gonorréia e não de emissão de sêmen.
Quanto à Tanchagem, já Soares (LXXXVI, 185) a havia descrito. Trata-se de planta medicinal
da família das Plantagináceas. Vide nota 411.
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Brasil Holandês
Por essa época achavam-se sob a jurisdição dos Estados Gerais as seguintes
Capitanias: Pernambuco, Itamaracá (à qual pertence Goiana),
Paraíba, Rio Grande e Ceará, que constituem a parte setentrional do Brasil. A
parte sul, compreendendo as Capitanias de Baía, Ilhéus, Porto Seguro, Espírito
Santo, Rio de Janeiro e São Vicente, permanecia sob o domínio dos
portugueses, que povoavam o país até o Rio da Prata. Alguns meses mais
tarde, a ilha de Maranhão foi anexada ao Brasil Holandês, mas, não sendo
compensada a despesa que tínhamos para defendê-la dos portugueses,
dispôs-se a Companhia a abandoná-la, o que de fato fez em 1644, ou melhor,
para confessar a verdade, foi forçada a abandoná-la em virtude da aliança
entre os portugueses e os naturais do Grão-Pará172.
Antes da chegada dos novos diretores, expediu-se uma frota à Baía para lá
desembarcar alguns homens com a missão de tudo destruir a ferro e fogo.
Executada a tarefa, regressaram ao Recife. A mesma esquadra, sob o
comando do Almirante Jol, aliás, Perna de Pau, e de Jan Cornelisz Lichthart, foi
enviada às índias Ocidentais, por ordem expressa do Conselho dos XIX, da
Holanda, a fim de aguardar os galeões espanhóis carregados de prata,
procedentes de Terra-Firme e Nova Espanha. Em dezembro de 1640,
regressou, entretanto, sem nada ter conseguido. Pelo contrário, a armada
perdeu quatro ou cinco navios nessa aventura. Mais ou menos pela mesma
época, despachou-se o Coronel Koin, com um contingente de infantaria, para a
Capitania do Rio Real, a fim de conter os portugueses, operando uma diversão
em seus próprios territórios. Não recebendo, porém, a tropa, com regularidade,
os suprimentos necessários em país inimigo, e, forçada a suportar enormes
fadigas, seus homens ficaram de tal sorte debilitados que se julgou
conveniente recolhê-los ao Rio Real, onde ficariam aquartelados para
descanso. O major Van den Brande sofreu ainda maior revés, pois, enviado à
172
A 25 de dezembro de 1641 assomava à barra a esquadra do Almirante Jol, composta de 18
navios, com 2.000 homens. A 31 de dezembro retirava-se a mesma, deixando um governador
com 500 homens e 4 navios. Um ano após a conquista, começaram as guerrilhas, contra os
dominadores. A 28 de fevereiro de 1644, embarcaram os holandeses. O auxílio que os do
Grão-Pará prestaram aos restauradores do Maranhão foi diminuto. A primeira ajuda foi
praticamente nula, pois antes de chegarem ao Maranhão os holandeses receberam socorro de
Pernambuco.
João Velho do Vale e Pedro Maciel, pouco depois, desertaram para o Pará, com o pouco
auxílio que haviam trazido. Mais tarde é que chegou o capitão Antônio de Deus, vindo do Pará,
com algumas arrobas de pólvora, murrão e bala em proporção. (LIII, pp. 308-319). Comparar
com a nota 24.
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frente de uma coluna incumbida de apresar uma ponta de gado, foi derrotado e
aprisionado173.
173
A capitania do Rio Real é o Sergipe. Reforçadas as tropas que Barbalho deixara no Rio-
Real às ordens do Capitão Magalhães e de Camarão, com tropas dirigidas por João Lopez
Barbalho, pelo General D. Francisco de Moura e pelos do próprio mestre de campo D. João de
Sousa, desalojaram os holandeses acampados no Rio-Real, e talvez em 1° de agosto, data de
uma das vitórias conseguidas pelos nossos, é que van den Brande tenha sido feito prisioneiro.
(Cf. Porto Seguro, LXXIII, 212). Sobre Koia, seu elogio e suas ações, cf. Barlaeus (VII, 126,
187). Koin foi promovido ao posto de tenente-coronel no lugar de Arciszewski, depois da
disputa deste com Nassau e de sua ida para a Holanda (Barlaeus, VII, 125)
174
[174] A 21 de junho de 1640, chegava à Baía D. Jorge de Mascarenhas, primeiro Marquês
de Montalvão, como vice-rei e capitão-geral de mar e terra do Estado do Brasil e da
Restauração de Pernambuco, (cf. nota 46 de Rodolfo Garcia, LXXII, p. 39, tomo II e o Barão do
Rio Branco, (LXXV, 375). Promoveu negociações e tréguas com Maurício de Nassau. A 2 de
março escreveu a Maurício de Nassau uma carta, participando-lhe a aclamação de D. João IV.
A resposta a essa carta é datada de 12 do mesmo mês. Escreveu, ainda, uma segunda carta a
Maurício de Nassau, datada de 12 de março. As folhas de rosto das referidas cartas estão
descritas em J. Carlos Rodrigues, Bibliografia Brasiliense, n. 1681 e 1682) e no Catálogo da
Brasiliana de Maggs Bros; são dois folhetos, um de 8 pp. e outro de 7 pp. A segunda carta foi
publicada por Varnhagen (LXXII, 228-230) e por Barlaeus (VII, 246), o qual publicou a primeira
em resumo (VII, 208). Quanto à carta escrita a fim de comunicar a El-Rei D. João IV a
aclamação de seu nome no Brasil e levada por seu filho D. Fernando em companhia dos
padres Simão de Vasconcelos e Antônio Vieira, foi impressa juntamente com a comunicação a
Nassau, da aclamação de D. João IV. Publicou-a, também, Gregório de Almeida na
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Com isso sofreu o comércio rude golpe, pois toda gente receava aventurar-se
em negócios nos quais podiam perder todos seus haveres numa só noite, e
até, possivelmente, pelas mãos de um único homem. As rendas da Companhia
caíram pesadamente e suas despesas subiram, forçada que foi a manter de
vinte a trinta soldados na defesa de cada plantação ou engenho de
"Restauração de Portugal Prodigiosa", Lisboa, Antônio Álvarez, 1643. Dele disse D. Francisco
Manuel de Melo: "Seguiu-se o governo do Marquês de Montalvão. de cujo espírito se
esperavam grandes feitos, em ordem a recuperação de Pernambuco; mas foi tão breve sua
assistência no Brasil, que só teve tempo para se dar a respeitar aos amigos como prudente e
temei aos inimigos como industrioso". Preso no período da aclamação e levado para Portugal,
aí chegou a 25 de agosto. (Cf. Rodolfo Garcia, nota 57, LXXII, p. 394) e o Conde de Campo
Belo (D. Henrique) "Governadores Gerais e Vice Reis do Brasil," ed. oficial e comemorativa,
1940, Porto, p. 65-67).
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importância. Isso também a impedia de organizar uma tropa regular com que
enfrentar o inimigo. Tal era a situação do Brasil Holandês no fim do ano de
1640.
175
O tradutor inglês escreveu: maio ou junho (p. 35, 1a coluna, 2° §). Cf. ed. hol., p. 43, 1a
coluna, 2° §).
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Nesse ínterim, pela mediação do clero que vivia entre nós, mas
principalmente devido ao infatigável zelo de Dirk Kodde van der
Burgh, que para lá fora enviado, com essa missão, conseguiu-se
finalmente levar a bom termo o tratado, em março de 164-1 176.
Conseqüentemente, deviam cessar logo as depredações e os
saques, de ambas as partes. Para isso publicaram-se
proclamações, pedindo aos portugueses que abandonassem
nossas terras. Passamos então a desfrutar a vantagem de podei
concentrar nossas forças onde mais se fizessem necessárias.
Seu declínio
O motivo
177
O tradutor inglês escreveu: "no princípio de 1643" (cf. p. 44, 2aeol., 4° § da ed. holandesa e
p. 36, 1a coluna, 2° § da trad. inglesa).
178
O tradutor inglês escreveu 1641 (cf. p. 44, 2a coluna, 7° § da ed. holandesa e p. 36, 1a
coluna, últ. § da trad. inglesa).
Página 96 de 349
300 e mais peças de oitavo 179 e a pagar preços os mais absurdos, por
qualquer mercadoria de que tivessem necessidade. Compravam armazéns
inteiros sem se dar conta de como poderiam pagá-los. Assim agiam os
portugueses na esperança de vitórias decisivas das grandes armadas que
sabiam estar sendo aprestadas na Espanha para reduzir o Brasil à obediência,
com o que imaginavam libertar-se de suas dívidas. Ignorando os comissários
tais intenções e cegos ante a perspectiva de gordos lucros, continuaram a
vender aos portugueses sem restrições. Entretanto, desfeitas como fumo as
esperanças dos lusos, viram-se estes ante a necessidade de honrar seus
compromissos. Contudo, novos sortimentos chegavam da Holanda e novas
compras faziam os portugueses, amontoando dívidas sobre dívidas até que,
devido à impontualidade dos pagamentos, sentiram estes seu crédito
escassear também com os comerciantes, que passaram a exigir a liquidação
de seus débitos. O comércio do interior, premido pelos comissários e
atacadistas que recebiam tais mercadorias de suas matrizes na Holanda, foi
forçado a solicitar um acerto de contas dos portugueses aos quais havia
vendido a crédito. Por outro lado, como os lusos só haviam feito tais compras
com a intenção de as não pagar, o comércio do interior, obrigado a saldar suas
contas com o do Recife, era obrigado a cerrar as portas, já que nada recebia
dos portugueses.
179
O tradutor inglês escreveu: "300 peças de oitavo" (cf. p. 45, 1a coluna, 8° § da ed.
holandesa e p. 36, 2a coluna 1° § da trad. inglesa).
Página 97 de 349
181
O tradutor inglês escreveu [i]junho[/i] (cf. p. 48, 1a coluna, 4° § da ed. holandesa e p. 38, 1a
coluna, 1°§ da trad. inglesa).
182
Nieuhof, pela primeira vez, emprega a palavra Deecember (p. 48, 1a coluna últ. §). Daqui
em diante, embora vigorando a denominação particular holandesa, aparecerá de vez em
quando a denominação de origem latina.
Página 99 de 349
A prova irrefutável de que tais acordos foram, por todos que tinham
algum conhecimento de negócios, considerados de grande
interesse para a Companhia, temo-la no fato de vários comerciantes
terem celebrado arranjos semelhantes com seus devedores. Para
que o assunto fique perfeitamente esclarecido, damos abaixo cópia
de um desses documentos, onde claramente se evidencia a
circunspeção com que agia o Conselho nos casos em que estavam
em jogo os interesses da Companhia, dos senhores de engenho e
de seus devedores.
CÓPIA DE UM ACORDO
183
A edição inglesa consigna, aqui, três erros: em primeiro lugar, omite a parcela referente a
Abraham Aboab, de 900 florins; em segundo lugar, há erro na parcela de Daniel Cardoso, que
é de 210 florins e não de 910 florins, como escreveu o tradutor inglês; em terceiro lugar, há erro
na soma total, pois o tradutor inglês escreveu (p. 38, 2a coluna, 2° §): the whole amounting to
JfO.526 gilders; enquanto que na edição holandesa está (p. 49, 1a coluna, 12° §): monterende f
zamen een en veertighã duizent vijf honãert zes en twintigh gulden. Portanto: quarenta e um mil
e quinhentos e vinte e seis (41.526) e não quarenta mil e quinhentos e vinte e seis (40.526).
Grande número desses devedores tinha nomes que podem ser de judeus. Assim, por exemplo,
Benjamin de Pina foi um dos autores dos Escamoth, isto é do conjunto de preceitos para
regularizar a vida da comunidade, espécie de consolidação de leis recopiladas e escolhidas
entre as que havia na comunidade (LVIII, 53). Sobre os contratos e as dívidas, é útil a leitura de
"A Bolsa do Brasil" e do "Machadão do Brasil". O primeiro foi traduzido por José Higino e
publicado pela Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, 1883, e mais
tarde no Tomo XXXVII, 1933, da Revista da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, dessa
vez traduzido pelo Padre Geraldo Pauwels. O segundo foi traduzido por Souto Maior e
publicado na Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, 1908, n. 71. A
"Bolsa do Brasil" relata a situação financeira do Brasil, em 1647, e traz cópia de vários
contratos feitos pela Companhia com várias pessoas. É, portanto, complemento indispensável
Página 100 de 349
I - Que o débito total deverá ser liquidado dentro dos três próximos
anos, o primeiro pagamento devendo ser efetuado em janeiro de
164-5. Se acontecer que a quota paga em um ano seja menor que a
de outro, todo o saldo deverá ser liquidado no último ano.
ao estudo das condições financeiras dessa época. Basta dizer que Nieuhof cita os credores de
Manuel Fernandes Gomes, mas pouco trata de Jorge Homem Pinto, cuja dívida montava a
937.997 florins e 13 stuivers, sendo 700.000 à Companhia das índias Ocidentais. Era a
obrigação mais importante da época, pois esse era o segundo contrato, já tendo sido feito
anteriormente um no valor de 340.403 florins e 6 stuivers. Muitos outros devedores são
indicados, sua dívida e suas condições pessoais e, finalmente, estuda-se o prejuízo que
representavam para a Companhia das Índias Ocidentais tais contratos (p. 45-52, ed. da Revista
da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, citada, tradução de Pauwels). - O "Machadão do
Brasil" trata da situação econômica de cada um dos contratantes (especialmente nas pp. 151-
156).
184
As Ordenações Filipinas (II, 856) ordenavam, que, em caso de não declararem as partes
"em que cada hum se obriga, ficará cada hum obrigado in solidum e o credor poderá demandar
qual ele quizer pelo total". O chamado benefício de divisão, de que gozavam os fiadores nestas
condições, foi aqui negado, pois juravam as partes renunciar ao benefício legal. Tal benefício
tem por principal efeito determinar a parte de cada fiador, produzindo, em favor do devedor que
pagar a dívida, a sub-rogação nos direitos do credor, com todas as garantias legais que tinha
este para haver do devedor o que pagou, pois que o fiador solveu dívida de outrem.
Página 101 de 349
Pelo referido Senhor Manuel Fernando Cruz me foi dito que, com
aprovação e consentimento 185 de seus mencionados credores, se
oòrigm de maneira geral e que pelo presente instrumento se obriga
e empenha sua pessoa e propriedades, tanto reais como pessoais,
Até hoje os benefícios de ordem e divisão subsistem e são consagrados no direito brasileiro
(Código Civil Brasileiro, arts. 1491-1493). O benefício da ordem é o que assegura ao fiador
demandado pelo pagamento da dívida o direito de exigir, até a contestação da lide, que sejam,
primeiramente, executados os bens do devedor. É também chamado de excussão. O benefício
da divisão (art. 1493 do Código Civil) consiste em que cada fiador responde somente pela parte
que lhe couber, repartida a totalidade da dívida entre todos. Como se vê, a cláusula do contrato
de que Nieuhof dá notícia consignava a renúncia das partes a esses benefícios de ordem e
divisão. Nieuhof escreveu (p. 49, 2a coluna, 2 §): renuntiatie van beneficie ordinis, divisionis &
executionis.
185
Nieuhof escreveu (p. 50, 1a coluna, 2° §): In conformité van dewelkede voornoemde Manuel
Fernando Cruz, by advis ende approbatie van zijne voorsz,crediteuren...
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186
No distrito de Serinhaém existiam dois engenhos denominados Itapicurú:o primeiro,
chamado Itapicurú de Cima, sob a invocação de N. S. da Ajuda, pertenceu a Pedro Fragoso e,
na ausência deste, foi confiscado e vendido a Willem Placard; o segundo, chamado Itapicurú
de Baixo, sob a invocação de S. Antônio, pertenceu a Álvaro Fragoso Toscano, que ficou do
lado dos holandeses. (Cf. XV, 142). Sobre os engenhos no Brasil holandês, além do Breve
Discurso, acima citado, existe a Relação dos Engenhos vendidos em 1637 e em 1638,
publicados na Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, 1887, n. 34.
187
Nieuhof escreveu (p. 50, 1a coluna, 2° §): Acht Kopere calderos, Tientachos, Paroos... !
188
O tradutor inglês escreveu: 20 escravos, (cf. p. 50, 1a coluna, últ. § da ed. holandesa e p.
39, 2a coluna, últ. § da trad. inglesa).
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Todos os outros contratos foram lavrados pela minuta acima, somando o total
de seus valores 2.125.807 florins, importância essa devida pelos lavradores
aos senhores de engenho, e, por estes, à Companhia.
A principal, senão a única razão pela qual se fizeram tais acordos (como, aliás,
já ficou dito acima) residia nas exigências e nos vexames que aos senhores de
engenho impunham seus credores, pois, a menos que os primeiros se
sujeitassem a pagar juros à razão de 21/4 e 3 por cento 190 ao mês, estes
procediam à apreensão de seus negros, vasilhames de cobre e outros
utensílios dos engenhos. Assim, ante a contingência de pagarem quantias
exorbitantes e a alternativa de se arruinarem completamente, os senhores de
engenho passaram a defender suas propriedades pela força. A situação,
portanto, se encaminhava francamente para uma insurreição geral, que só se
conseguiu evitar com a instituição desses contratos. Conseqüentemente, os
senhores de engenho, livres da opressão
189
Por meio desse contrato, procurava a Companhia das índias Ocidentais realizar o que,
juridicamente, se chama compensação, isto é, desde que um credor venha a dever ao seu
devedor uma quantia semelhante à que este lhe devia,a obrigação do devedor é extinta em
concorrente quantia. (Cf. Correia Teles, Digesto Português, ou Tratado dos Direitos e
Obrigações, etc. Pernambuco, Tipografia de Santos & Companhia, 1841, p. 134, n. 1164).
No caso de que Manuel Fernandes da Cruz faltasse ao pagamento, os devedores ficariam
obrigados a pagar não só a quantia parcelada, como o total, isto é, renunciariam ao benefício
da divisão. Embora a declaração das parcelas os desobrigasse do pagamento in solidum, na
verdade não estavam desobrigados, desde que haviam renunciado expressamente ao
benefício da divisão. (Cf. Coelho da Rocha, Instituições de Direito Civil Português, Tomo II,
1852, p. 689).
Por esse contrato, a Companhia ficava habilitada a prosseguir em suas ações contra Manuel
Fernandes da Cruz e seus fiadores e cedia aos diferentes dezesseis credores de Manuel
Fernandes da Cruz - devedores da Companhia das índias Ocidentais - a ação de cobrar
daquele o que lhes era devido. Tratava-se, assim, de uma sub-rogação convencional, chamada
cadencia ou cessão, a qual se verifica quando o credor originário transmite o seu direito,
crédito ou ação a outro, sem acordo do devedor. (Cf. Coelho da Rocha, id., I tomo, p. 105).
Esse benefício é, ainda hoje, consagrado no Código Civil Brasileiro, art. 986. (Vide II, nota 2, p.
856).
190
O tradutor inglês escreveu: "2 ou 3 por cento" (cf. p. 51, 1a col., 3a §da ed. holandesa e p.
40, 2a coluna 1a § da trad. inglesa).
Página 104 de 349
191
Na edição inglesa está 1647 (cf. p. 51, 2a coluna, 3° § da ed. Holandesa e p. 40, 2a coluna,
1a § da trad. inglesa).
192
O tradutor inglês omitiu: "sob pena de nulidade", (cf. p. 52, 1-a coluna,3° § da ed. holandesa
e p. 41, 1a coluna da trad. inglesa).
Página 105 de 349
De tudo quanto acima ficou dito, ressalta claramente quão infundadas foram as
insinuações dos que julgaram tais acordos prejudiciais à Companhia e os
consideraram a causa principal da revolta que a seguir se verificou entre os
portugueses. Ao contrário, é fora de dúvida que tais contratos representavam a
única solução para um estado de coisas que se apresentava calamitoso e no
qual estavam igualmente envolvidos os senhores de engenho, os lavradores e
os sitiantes, acarretando a paralisação dos engenhos e o abandono dos
campos. Ademais, se tal situação se prolongasse, causaria a ruína completa da
indústria açucareira, pois a Companhia já vinha sofrendo prejuízos enormes
que orçavam por 38% anualmente, no Brasil, mais 37% na matriz, ou seja, uma
perda total de 75% por ano, somente nos engenhos.
Além de tudo, não eram poucos os comerciantes que, sendo credores dos
senhores de engenho, deviam à Companhia consideráveis importâncias e que
teriam de ir à falência, pela impontualidade de seus devedores, e, portanto,
com enormes prejuízos para a Companhia, se esta não lograsse encontrar uma
forma de se cobrar de tais dívidas, consideradas perdidas. Tudo isso levou o
Conselho a julgar de necessidade inadiável a realização dos acordos, conforme
sugestão dos senhores de engenho e seus credores, mas não sem antes
submetê-los à aprovação do Conselho dos XIX. Não havia, portanto, razão
para que os contratos fossem considerados nocivos à Companhia, ainda que
certas pessoas maliciosamente os combatessem, alegando que (se não tivesse
havido a rebelião) nem em 20 anos, talvez mesmo nunca, teria a Companhia
prejuízo igual à responsabilidade que os contratos lhe trouxeram. Pois, era
notório que o Conselho jamais desembolsaria como de fato não desembolsou,
nem um único vintém para pagar os contratantes por conta da Companhia.
Ademais, esta ficou plenamente garantida pela hipoteca de 25 engenhos cuja
produção média oscilava entre 230, 240 e 250 caixas de açúcar por ano, cada
uma. Admitindo que a Companhia reservasse para si apenas 140 ou 150
caixas da produção de cada uma delas, já aí se teria um total anual dos 25
engenhos de 420.000 florins. É evidente, pois, que, mesmo não se tomando
em conta os engenhos, seus utensílios de cobre, acessórios e animais, a soma
de 2.125.816 florins, que era o total do débito contraído para com a Companhia
em virtude dos contratos, poderia ser cobrada sem grande dificuldade. O
expediente dos contratos teve ainda o mérito de permitir que os senhores de
engenho permanecessem na posse tranqüila de suas moendas, livres da
pressão dos credores e, portanto, alimentando a esperança de que, mais
folgados agora, os lavradores poderiam dedicar-se mais e melhor às lavouras,
acelerando assim a liquidação de suas obrigações. De fato foi isso que se deu,
e, já em 1645, a safra açucareira apresentava perspectivas excepcionais.
Parecia, porém, que os portugueses, movidos por um ódio inato ao povo que
os havia dominado, estavam decididos a não poupar esforços para minar o
governo batavo, em seus fundamentos, conspirando contra ele. Acresce ainda
notar que, enterrados em dívidas a mais não poder, e não dispondo de
recursos com que liquidá-las, se abandonavam ao desespero e se dispunham
antes a enfrentar os azares de uma luta armada (na esperança de auxílio de
Portugal) que suportar as agruras da miséria. Os mais francos dentre eles
chegaram mesmo a dizer aos nossos, mais tarde, que, caso tivessem
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Veio, também, à baila, nessa ocasião, uma carta datada de 1.° de julho de
1642 193 recebida pelo conde Maurício do Conselho dos XIX segundo a qual
um tal Arent Jansz Van Norden, que durante cerca de quatorze meses servira,
no Brasil, na qualidade de cadete, lhes havia declarado em Amsterdã que
estivera empregado em um engenho pertencente a João Fernandes Vieira,
onde, após haver trabalhado dois meses, fora convidado por Francisco
Berenguer, lavrador, para acompanhar seu filho Antônio de Andrade Berenguer
à Holanda e de lá a Portugal, a fim de servir-lhe de intérprete. Ante as
promessas que lhe foram feitas, Van Norden aceitara o convite e partira com
Antônio de Andrade a bordo do navio de Liefãe para a Zelândia e, a seguir, de
Vlissingen no navio S. Hubes para Lisboa.194 Dizia a carta que, depois de uma
convivência de três semanas, Antônio de Andrade Berenguer revelara a Van
Norden ser portador de uma carta assinada por João Fernandes Vieira,
Francisco Berenguer, Bernardino Carvalho, João Bezerra e Luiz Braz Bezerra,
193
O tradutor inglês escreveu junho (cf. p. 55, 1a coluna, holandesa e p. 42, 1a coluna 1° § da
trad. inglesa).
194
O tradutor inglês omitiu o nome do navio S.Hubes (cf. p. 55, 1a coluna,1° § da ed.
holandesa e p. 42, 1a coluna, 2° § da trad. inglesa).
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As deliberações tomadas
195
O tradutor inglês escreveu fevereiro (cf. p.55, 1a coluna, últ. § da ed. holandesa e p. 42, 1a
coluna, 1a § da trad. inglesa).
196
O tradutor inglês escreveu: "20 de março" (cf. p. 56, 1ª coluna, 1a § da ed. holandesa e p.
42, 2a coluna, últ. § da trad. inglesa).
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AO REI
AO CONDE
►Uma cadeira de braços, forrada com veludo vermelho e guarnecida com
franjas douradas;
197
O tradutor inglês omitiu a data (cf. p. 56, 1a coluna, 2° § da ed. holandesa e p. 43, 1a
coluna, 2° § da trad. inglesa).
198
Esses presentes oferecidos pelo Supremo Conselho concordam, de modo geral, com os
que descreve Barlaeus (VII, 254-5)
Página 110 de 349
199
O tradutor inglês escreveu: "12 de outubro" (cf. p. 57, 1a coluna, 1° § da ed. hol. e p. 43, 2a
coluna, 1° § da trad. inglesa).
200
O texto desde "Diante do portão" até. "e Adriaen Bullestrate" foi traduzido diretamente do
holandês, por estar omitido na edição inglesa. (Cf.p. 57, 1a coluna 3°, 4° e 5° da edição
holandesa com a p. 43, 2a coluna, 2° § da edição inglesa).
201
Vide anexo n. 1. Aí damos a música e letra da canção popular Wilhelmus van Nassau. Foi
composta e escrita por Philippe de Marnix, Senhor de Sain-te-Aldegonde, que nasceu em
Bruxelas, em 1538, e faleceu em 1598. Refugiou-sena Alemanha, quando os protestantes
foram perseguidos nos Países Baixos. Em 1592, voltou novamente para seu país e pelos
escritos, por meio da palaL religion, 1598, considerado, por Bayle, notável, pela mescla de
erudição e lógica. (XXVII, pp. 6 e 7).
Página 112 de 349
A 22 de abril, não muito antes da partida do Conde Maurício, foi lida no Grande
Conselho uma decisão da Diretoria da Companhia das índias Orientais, tomada
na sessão de 4 de junho de 1642 202 e datada de 22 de maio de 1643, segundo
a qual o governo do Brasil Holandês passaria a ser exercido pelo Grande
Conselho, até segunda ordem.
Sua despedida
202
O tradutor inglês escreveu 1 de julho de 1642. (Cf. p. 43, 2a coluna, 3a §da ed. inglesa e p.
57, 2a coluna, 2° § da ed. hol.).
203
Maurício de Nassau deixou um testamento político, que foi traduzido por José Higino e
publicado na Rev. do Inst. Hist. Geog. Brás., 1895, t. 58, p. 223; e um relatório apresentado aos
Estados Gerais, em 27-9-1644, que vem publicado no 2° vol. dos Documentos Holandeses,
coligidos por Caetano da Silva.
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Segunda audiência
Foram eles, então, reconduzidos por Domingos Delgado à residência que lhes
havia sido destinada, onde mais uma vez receberam, ao jantar, toda a sorte de
atenções. No dia seguinte receberam a visita do próprio Governador.
Terceira audiência
CARTA DO GOVERNADOR
Carta do Governador.
Com respeito aos seis pontos das instruções secretas que levaram, foi o
seguinte o relatório apresentado ao Grande Conselho pelos enviados
holandeses:
205
O tradutor inglês escreveu que o preço de um negro não atingia, àquele tempo, mais do que
300 florins (cf. p. 62, 2a coluna, 3° § da ed. Holandesa e p. 47, 1a coluna, 3° § da trad. inglesa).
Sobre esse ponto veja-se a magnífica contribuição de José Antônio Gonsalves de Melo, neto:
"A situação do negro sob o domínio holandês", [i]in[/i] Novos Estudos Afro-Brasileiros,
Biblioteca de Divulgação Científica, vol. IX, 1937, Rio, p. 201-221 (especialmente p. 203).
Página 119 de 349
206
O tradutor inglês escreveu: "22 de fevereiro" (cf. p. 63, 1a coluna, 1° § da ed. holandesa e p.
47, 2a coluna, 1° § da trad. inglesa).
207
Sobre relações entre o Brasil português e Buenos Aires, cf. [i]Los portugueses en Buenos
Ayres, siglo XVII, R. de Lafuente Machain. De La Real Academia de Ia Historia. (Madrid, El ano
MCMXXXI, Libraria Cervantes).
Página 120 de 349
No dia 4 de abril209, o Grande Conselho foi informado por carta, que da Paraíba
lhe dirigiram Isaak Rasiere [o dono do Engenho Gargaú] e o Capitão Blaeubeek,
ser voz corrente naquela região que Camarão, chefe dos brasileiros se achava
em marcha do Sertão para o Ceará, a fim de se reunir com os brasileiros da
região e atacar a Capitania do Rio Grande. À vista disso, o Conselho expediu
208
Nieuhof escreveu (p. 66, 2a coluna, 1° §): [i]die den vijf en twintighstenpassato vertroeken
zijn.
209
Na tradução inglesa (p. 49, 2ª coluna, 2a §) foi omitido o mês de abril. (Compare-se com a
p. 66, 2a coluna, 2° § da edição holandesa).
Página 124 de 349
ordens a Hans Vogel, Governador de Sergipe d'El Rei para que se informasse
e lhe comunicasse com presteza o que conseguisse apurar sobre a presença
de Camarão com sua tropa no Rio Real, ou, caso contrário, se estava em
marcha e quais seriam suas intenções. Transmitiu, ainda, o Conselho
instruções ao povo da Paraíba no sentido de que procurasse saber qual a
origem desses boatos e o informasse a respeito.
210
O tradutor inglês (p. 50, 1a coluna, 1° §) escreveu 10 léguas, quando se trata de 12 léguas
(ed. holandesa: p. 67, 1a coluna, 1° §). Cf. nota 42.
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A carta é a seguinte:
211
Abraham Mercado pertencia à colônia judaica do Brasil holandês. Era membro do
Mahamed, diretório formado de 7 indivíduos. Seis parnassinos e um gabay, isto é, seis
presidentes e um tesoureiro. (Cf. LVIII, p. 14, 15 e 53). Era médico. Segundo afirma Keyserling,
morreu em 1655 (Cf. XLVII, p. 70); segundo Cardozo de Bethencourt (X, p. 9) saiu do Brasil,
indo para Barbados, em 1656; e em 1655, segundo João Lúcio de Azevedo (V, 435).
Menasseh ben Israel dedicou o segundo volume do [i]Conoiliator,[/i] 1641, aos proeminentes
judeus brasileiros: David Sênior Coronal, Abraham de Mercado, Jacob Mescate, Isaac
Castanho (Bloom, XI, p. 130). Abraham Mercado, ao verificar-se a expulsão dos holandeses do
Brasil, não emigrou para Barbados sozinho, pois "eram 30 famílias, algumas das quais muito
pobres; eles são ordinariamente cidadãos e observam as leis, exceto em questão de religião".
(Cf. Friedenwald, XXXV, p. 60). Seu filho chamou-se David Raphael Mercado.
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Essa empresa não apresenta riscos para Vs. Excias., nem mesmo
no caso de insucesso. Concitamos Vs. Excias. a que se interessem
pela sorte desta pobre gente que, caso contrário, será forçada a se
unir aos rebeldes contra Vs. Excias..
Nós três, como súditos fiéis que somos de Vs. Excias., temos a
nossa consciência tranqüila ao propor-lhes o necessário remédio, a
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Assinada
A VERDADE
Plus Ultra
IV - Enviar espiões para todas as direções, mesmo para dentro das matas, a
fim de colher informações sobre a situação das tropas inimigas, avisando o
Conselho, a tempo, de tudo quanto venham a saber.
Certo corretor chamado Koin, que havia proposto tal acordo em nome de
Vieira, fora incumbido de desempenhar a missão de trazê-lo à capital, o que
certamente conseguiria com, facilidade e sem despertar suspeitas. Entretanto,
os feriados de Pentecostes atrasaram por algum tempo essas providências.
Com a mesma diligência empregou o Conselho todos os meios possíveis para
deter outras pessoas da Várzea suspeitas de participação nos planos rebeldes,
recorrendo a pretextos vários, pois que, à força, dificilmente seriam eles
apanhados, não só por não pernoitarem em suas residências ou nos engenhos,
como porque durante o dia estavam constantemente prevenidos.
A 9 de junho 212[o Grande Conselho recebeu aviso, por carta que lhe
endereçou o Senhor Koin, Governador do Rio São Francisco, datada de 1° do
mesmo mês, de que Camarão havia atravessado aquele rio à frente de uma
pequena força. Por esse motivo o informante pedia auxílio de homens e
munições.
A informação foi confirmada por carta de 27 junho, acrescentando, Koin, que
até então o inimigo não tinha ainda aparecido ao alcance do forte.
213
A tradução inglesa não é fiel (p. 52, 2a coluna, 1a §), razão porque o trecho "Na noite
seguinte." até "... e se retiravam" foi traduzido diretamente do holandês. Cf. p. 70, 1a coluna 2°
§ da edição holandesa.
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deveria ser encontrado; eles responderam que nem Vieira nem Berenguer
haviam pernoitado, durante essas três semanas, em suas casas, mas que aí
vinham algumas vezes, durante o dia, a cavalo, e depois de darem algumas
ordens montavam imediatamente e se retiravam. Denniger revistou, ainda, as
residências de Antônio Cavalcanti e Antônio Bezerra, mas com resultados
igualmente negativos. Também aí os escravos o informaram de que esses
revoltosos se haviam homiziado semanas antes.
haver ainda inimigos, especialmente na Mata, onde não viram senão os que se
ocupavam em lavrar a terra.
[*] O topônimo Igarassu, que deu origem ao nome da cidade é oriundo do tupi e significa: Igara
= Canoa; Assu = Grande. Os historiadores acreditam que o nome teria vindo da exclamação de
surpresa dos índios ao avistarem as grandes caravelas portuguesas.
214
Nieuhof escreveu (p. 71, 1a coluna, 1° §): [i]Pater Lourenço d'Alkunha.[/i] Parece-nos tratar-
se de Lourenço de Albuquerque. (Cf. Varnhagen, (LXXIII, p. 269). Nieuhof escreve logo depois
(p. 74, 1a coluna, 2° §) [i]Akunha.
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SUA CONFISSÃO
Que era ele um dos três que ainda poucos dias antes denunciara ao Conselho,
por carta, a Conspiração que se processava em Várzea, da qual o cabeça era
João Fernandes Vieira, que, tanto quanto os seus cúmplices portugueses,
215
O tradutor inglês cometeu um engano, ao escrever cidade de Munheca, ao invés de
Maurícia. (Comparar p. 53, 1a coluna 3° § da ed. inglesa com a p. 71,2a coluna 4° § da ed.
holandesa).
216
Calado (XVII, p. 177, 1a coluna) conta-nos que foram seus intérpretes dois judeus [i]hum
chamado o Febo & outro seu primo ou irmão.
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confiava nos auxílios prometidos pela Baía, com cuja denúncia tinha pensado
poder abortá-la. Que todo o plano da conspiração lhe tinha sido revelado por
meio de um documento pelo qual parecia pretender-se formar uma espécie de
associação, - o qual lhe fora entregue por um empregado do dito Vieira
juntamente com uma carta em que lhe pedia que o subscrevesse. Que apenas
duas pessoas, João Fernandes
Carvalho liberto
A 15, João Pessoa, senhor do Engenho Pantelo, que também tinha contra si
uma ordem de prisão, dirigiu-se ao Conselho por escrito pedindo licença de
comparecer perante o mesmo, alegando que não havia fugido por se
reconhecer culpado, mas simplesmente de receio. Idêntico pedido formulou o
Padre Lourenço de Albuquerque e a ambos deferiu o Conselho.
Pela manhã de 16, recebemos notícias de que André Vidal, à frente de 1.000
portugueses, Camarão chefiando índios Rodelas 218 e Henrique Dias
217
O tradutor inglês cometeu grave erro, ao escrever 1500 soldados, quando Nieuhof
escrevera 1500 florins. (Comparar p. 74, 1a coluna 2° § da ed. holandesa, com a p. 54, 2a
coluna 1a § da ed. inglesa).
218
Nieuhof escreveu Rondelas (p. 74, 1ª coluna, 3° §) e a seguir Rodelas (p. 75, 1a coluna).
Pela carta regia de 14 de maio de 1633, Camarão foi feito capitão-mor, não só dos Petiguaras,
de cuja nação era principal, mas de todos os índios do Brasil (Cf. LXXII, tomo II, p. 309 e nota
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91 de Varnhagen e Rodolfo Garcia). Os índios Rodelas eram os do Rio São Francisco (LXXII,
tomo III, p. 22, p. 279). Segundo Rafael de Jesus (XLIV, p. 477), o maioral dos tapuias do Rio
São Francisco chamava-se Rodela.
219
Nieuhof escreveu Tapekura (p. 74, 1a coluna, 3° §) e Tapikura (p. 75, 1acoluna). Em
Vingbooms, Tapicura (XCVII, 2° vol., mapa 48, ref. a Pernambuco). Em Calado, Tapucura
(XVII, p. 199). Em Barlaeus, Tapecurú (VIII, mapa entre as pp. 24-25). Em Varnhagen (LXXII,
vol. III, p. 16 e LXXIII, p. 272), Tapacurá. Em Ayres de Cazal (XX, 148), Tapacorá.
220
Nieuhof escreveu Sengada (p. 74, 1a coluna, últ. § e p. 125, 2a coluna). Parece-nos que se
trata do Rio das Jangadas. No Breve Discurso (XV, p. 141) se diz:" Rio das Jangadas a 2 e
meia léguas do Recife". Em Vingboons (XCVII, 2° vol.,mapa 48). Em Barlaeus, (VII, p. 127) o
rio Jangada é considerado como um dos rios mais importantes de Pernambuco. Ayres de
Cazal (XXVI, p. 149) menciona apenas a Barra das Jangadas, que fica 2 léguas ao norte do
Cabo de Santo Agostinho e onde desemboca o Rio Jaboatão. Verdonck fala, também, do rio
Jangada, junto a N. S. da Candelária, umas 3 milhas ao norte do Cabo (XCIII, p. 219).
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Nessa mesma data o Grande Conselho recebeu uma carta em que Antônio
Cavalcanti (recentemente indultado) protestava que nem ele nem os demais
habitantes de Várzea estavam envolvidos em qualquer conspiração contra o
Estado e que, se fugiram, foi tão somente pelo receio de serem aprisionados,
pela suspeita que sobre eles certamente levantariam seus inimigos. O
Conselho respondeu-lhe que se ele de fato se considerava inocente, que
voltasse para seu engenho, sendo esta a única forma de se reabilitar. Tendo,
porém, o Conselho razões ponderáveis para suspeitar de que Camarão tentaria
pôr sob suas ordens os brasileiros então sob a jurisdição dos batavos, ordenou
a Listry, comandante em chefe dos mesmos, que tentasse persuadir o povo da
conveniência de enviar suas mulheres e filhos para a Ilha de Itamaracá, sob o
pretexto de pô-los a salvo das investidas do inimigo (à qual certamente
estariam expostos, se permanecessem nas vilas), mas, na realidade, para
conservá-los como penhor de sua lealdade.
Daí marchou para Santo Antônio, e, a caminho, tocou em uma casa também
pertencente a João Fernandes Vieira onde encontrou 50 ou 60 cabras 223 e
grande quantidade de galinhas pertencentes aos rebeldes e seus aliados da
Baía, reservas essas destinadas aos doentes. Aconselharam-lhe a não
prosseguir muito além, pois corria o risco de encontrar com tropas acantonadas
221
[Varnhagen (LXXII, vol. III, p. 221 e LXXIII, p. 272) baseou-se em Nieuhof, enganando-se,
porém, ao escrever "um considerável número de brasileiros comandados por um irmão de
Cavalcanti", quando o considerável número comandado por um irmão de Cavalcanti era
constituído de portugueses e os brasileiros eram chefiados por Camarão; o irmão de Antônio
Cavalcanti a que se refere Nieuhof deve ser Manuel Cavalcanti.
222
Nieuhof escreveu Kasura, Geyta, Tapikura (Cf. nota 219).
223
O tradutor escreveu (p. 55, 2a coluna, 4a §), [i]50 or 60 sheeps.[/i] (Cf. p. 75, 2a coluna, 2° §
da ed. hol.).
Página 136 de 349
***
Essa proclamação foi imediatamente traduzida para o português e enviada, na
manhã seguinte, a Santo Antônio e Várzea para ser lá divulgada. Várias cópias
224
Nieuhof escreveu Dom Pedro d'Akunha (p. 75, 2a coluna, 3a §). Será Pedro da Cunha,
como seríamos levados a supor pela grafia, ou haverá, aqui, equívoco da parte de Nieuhof,
semelhante ao que cometeu ao escrever Lourenço d'Alkunha por Lourenço de Albuquerque?
(p. 71, 1a coluna).
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A 21, de junho 225 dois moradores de Porto Calvo, que chegaram pela manhã
em uma pequena embarcação, informaram o Grande Conselho de que
Camarão à frente de seus brasileiros e Henrique Dias, cem seus negros
armados, formando ao todo sete companhias, se haviam postado nas Alagoas,
junto ao Engenho Velho. Disseram ainda que o número dessas forças havia
aumentado de quatro a cinco mil homens pela junção dos que cruzaram o rio
São Francisco, através da Mata e que já tinham iniciado as hostilidades, de
maneira que o Conselho não tinha mais razões para duvidar das intenções dos
portugueses. O comandante de Porto Calvo mandou idêntico aviso,
acrescentando que estava preparado para uma vigorosa defesa.
225
O tradutor inglês escreveu (p. 56, 2a coluna, 4° §): 19 de junho. Vid 76, 2a coluna 6a § da
ed. holandesa.
226
Tabatinga Amador d'Arrauio (p. 77, 1a coluna, 1a §). Trata-se de um engano de Nieuhof ,
pois Amador de Araújo era capitão-mor e Tabatinga um riacho afluente do Ipojuca, ou o
engenho em Ipojuca que, em 1637, foi comprado por Amador de Araújo, por 40.000 florins,
vencendo a última prestação a 11 de janeiro de 1639. O mesmo engenho pertencera a Cosme
Dias da Fonseca e fora confiscado pelo governo holandês. (Cf. Relação dos Engenhos
confiscados e que foram vendidos em 1637, in Rev. do Inst. Geog. e Arqueol. Pernambucano,
p. 197, 1887-90, vol. 6). Amador de Araújo era, também, proprietário, em Ipojuca, do engenho
Santa Luzia, igualmente confiscado pelo governo holandês e mais tarde adquirido por ele.(XV,
p. 146). Rio-Branco (LXXV, p. 366) afirma que o capitão Jacob Flemming não estava em
Ipojuca quando se verificou o primeiro encontro de armas. Rodolfo Garcia (LXXII, p. 14, nota
19) aceitou a correção de Rio Branco a Varnhagen. Nieuhof, porém, confirma este último. Em
Barlaeus (VIII, mapa de Pernambuco, Pars Borealís, entre pp. 24-25), Tabatinga (em Ipojuca)
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Nesse dia quarenta novos recrutas foram enviados para Itamaracá, sob o
comando do capitão Pieter Seulijn, senhor do Engenho Harlem 229, porque essa
ilha era da maior importância para nós e porque as guarnições do Forte Orange
e da cidade de Schkoppe, de apenas uma companhia em cada uma das
praças, eram muito fracas e os moradores armados não montavam a muito
mais de uma companhia.
227
O tradutor inglês escreveu (p. 57, 1a coluna, 2° §), 20 de junho; compare-se com a p. 71, 1a
coluna, 2° § da ed. holandesa.
228
Vide nota 129. Nieuhof ora escreve Joan ora John Blaer (Cf. ed. hol. p. 77; 2° §).
229
Em Barlaeus (VIII, mapa de Pernambuco, Pars Borealis, entre as pp. 24, 25, em Itamaracá),
Harlem; em Vingboons (XGVII, II, mapa 47).
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Tendo refletido mais maduramente sobre o caso mandou dizer ao seu amigo
Fernando Vale230, essa mesma tarde, que desejava encontrar-se com ele pela
manhã seguinte no morro dos Guararapes. Durante a entrevista ficou
assentado que se desse parte da conspiração ao Grande Conselho, por meio
de uma carta anônima. Tal carta, assinada "Plus Ultra", fora escrita por Vale e
entregue ao declarante para lê-la, cerca de 1 ou 2 dias mais tarde231, em casa
de um padeiro, à Rua da Ponte. Foi, depois, entregue a Abraham Mercado,
médico, que a entregou ao Grande Conselho.
230
Varnhagem escreve Fernão do Valle (LXXII, p. 12, 3° tomo e nota 15 de Rodolfo Garcia).
Era proprietário do engenho São Bartolomeu, situado na freguesia de Muribeca (Breve
Discurso, XV, p. 149). Foi representante de Muribeca na Assembléia Geral reunida em
Maurícia a 27 de agosto de 1640. Aí se escreve Fernão do Valle. (Rev. do Inst. Arqueol. e
Geog. Pern., tomo V, 1886, Atas da Assembléia Geral, p. 174)
231
O tradutor inglês escreveu p. 58, 1a coluna, 10 dias. Vide a ed. Holandesa (p. 78, 2a coluna,
2° §).
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brasileiros e continuar a marcha até Santo Antônio. Daí, essa força combinada
deveria marchar diretamente para Ipojuca e reduzir à obediência os rebeldes,
pois, caso contrário, era de recear-se que estes cortassem todas as
comunicações entre o Recife e as guarnições do Sul. Foi tão bem sucedida
essa expedição que os rebeldes foram batidos e o Tenente-Coronel Haus
passou a dominar tanto a cidade como o Convento, de onde soltou 40
prisioneiros que lá estavam sob ferros e forçou os rebeldes a evacuarem todas
as passagens das circunvizinhanças. Entretanto, informado da aproximação de
Camarão com sua força, pediu ao Conselho que lhe enviasse novos reforços,
mas, estando já bastante reduzidas as guarnições do Recife, não seria possível
àquele atender o pedido do Coronel antes que chegassem recursos da
Metrópole.
Jejum
232
O autor se refere ao célebre e sangrento episódio que se verificou na Sicília, no Domingo de
Páscoa, a 31 de março de 1282, quando foram massacrados 2000 franceses. Foi motivado
pela luta entre Carlos D'Anjou, que por doação do Papa Urbano IV governava a Sicília, e os
Hohenstangers da Alemanha, aos quais cabia o governo da Sicília.
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233
Nieuhof escreveu Supapema (p. 80, 2. coluna, últ. §). Em Vingboons, Supupema (XCVII,
mapa 48, 2° v.). Supupema escreve-se na "Continuação da relação dos engenhos vendidos em
1637", declarando-se que fica em São Bento, que seu proprietário é Jacob de Siqueira (sic) e
pertenceu a Alveiro (sic) Barbalho, sendo o preço 24.000 florins, vencendo a última prestação a
1° de janeiro de 1640.
Jacob Dessine, Jacob Vermeulen, Mattheus van den Broeek e 12 soldados, enviados para
Santo Antônio, foram presos por Fernandes Vieira e escoltados por soldados da Baía. Jacob
Dessine permaneceu em Santo Antônio e enviou uma carta a Bullestrate, na qual acusava K.
van der Ley e Hek de terem conhecimento da revolta. Bullestrate, que era compadre de van der
Ley, mostrou-lhe a carta e este, por sua vez, mostrou-a ao Capitão português Pedro Marinho
Falcão, que o prendera. (Cf. Mattheus van den Broeek. XVI, pp. 14 e 22).
234
Trata-se do Capitão Antônio Gomes Taborda. (LXXII, 3a tomo, p. 7-19).
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235
Nieuhof escreveu Diogo Lopes Leyte (p. 81, 1a coluna, últ. §). Diogo Leite foi um dos que
assinaram a Carta dos Aflitos Moradores de Pernambuco (Cf. Rev. Inst. Arqueol e Geog. Pern.,
n. 34, 1887, vol. 6, p.120-22).
Página 144 de 349
ocasião, notícia no sentido de que João Lourenço Francês236 e João Dias Leite
moradores de Igarassu estavam incitando o povo à revolta.
O Capitão Sluyter comunicou também, de Itamaracá, que cerca de 80 homens
e 110 mulheres e crianças, todos brasileiros, das vilas de São Miguel e
Nassau, tinham ido procurar refúgio naquela ilha e que os habitantes da Aldeia
de Otta pretendiam fazer o mesmo. Os magistrados e os chefes portugueses
de Goiana apresentaram ao Conselho novos protestos de lealdade, sob
condição de, em caso de necessidade, terem eles permissão de se retirarem
àquela ilha. A permissão foi concedida e o Conselho externou o seu
reconhecimento pela prova de fidelidade.
Interrogado por B. van der Voorde e Pieter Jansz Bas, Fernando Vale declarou
que tendo recebido uma carta de Sebastião de Carvalho pedindo-lhe que o
fosse encontrar pela manhã seguinte no Morro Guararapes, porque tinha algo a
lhe comunicar que se relacionava com suas propriedades, vida e honra, o
depoente, sem nada dizer à sua mulher ou ao seu irmão, para lá se dirigiu a
cavalo, acompanhado apenas por um rapaz, apesar de estar, naquela ocasião,
sofrendo de cálculos. No lugar aprazado encontrou Sebastião Carvalho,
igualmente acompanhado por um rapaz, o qual lhe disse que, tendo recebido
uma carta capeando um plano de insurreição contra o governo, achou
imprescindível dar conhecimento do fato ao Grande Conselho, e, por isso,
queria que ele, (o declarante) versado como era, na língua holandesa,
escrevesse uma carta ao Grande Conselho. Que, tendo Vale perguntado se
havia mais alguém que soubesse do que se passava, Carvalho respondera que
seu irmão Bernardino também o sabia e que igualmente era de opinião que se
informasse o Conselho. Que, voltando cada um para sua casa, Vale redigiu
uma carta em português, consoante as instruções que recebera de Carvalho e
deixou-a em casa de um padeiro, num dia de leilão de escravos, para que
Sebastião a visse. Depois disso enviou dita carta, dentro de outra, ao Dr.
Mercado, pedindo-lhe que a encaminhasse cuidadosamente ao Grande
Conselho, sem fazer referência ao seu teor.
236
João Lourenço Francês (A Bolsa do Brasil, n° 47) "deve tanto a particulares, como a
Companhia, 84.509 florins. O contratador tem bastante recursos, seus fiadores são três, sendo
um advogado que não possui nada e os outros dois pobretões. Deu 13.000 florins ao Sr. Kodde
e 3.000 a outros."
237
O engenho de Gonçalo Novo de Lira era o [i]Araripe de Cima,[/i] situado no distrito de
Igarassu. (Cf. Breve Discurso, XVI, p. 152).
Página 145 de 349
Vermelha, prontos para zarpar com destino à Metrópole, pois o governo tinha
urgente necessidade de seu auxílio a fim de impedir que as forças provenientes
da Baía se reunissem aos rebeldes.
Dizia mais, que dois ou três dos cabeças excluídos do último indulto,
procuraram obter idêntico favor e que tinha capturado um tal Francisco
Godinho238 também chefe dos revolucionários, a quem mandou executar na
forca que ele próprio havia mandado levantar.
Que Amador de Araújo partira para Várzea com 150 homens, a fim de se reunir
a Vieira e que ele (Haus) aguardava ordens para persegui-lo, achando que
seria empresa fácil desalojá-lo de lá. Informou ainda o Tenente-Coronel que em
Ipojuca havia mais de 700 pessoas239, inclusive os brasileiros, suas mulheres e
filhos e que, se não recebessem provisões do Recife, logo teriam consumido
todo o gado da redondeza.
De acordo com esta resolução o capitão Johan Blaer recebeu ordens na noite
de 29 de junho de se pôr à frente de 300 homens entre os quais estavam os
100 brasileiros comandados por Pedro Potí, marchar com toda celeridade
possível para fora do Recife,240 e, postando-se de emboscada junto às
principais passagens, procurar interceptar as tropas inimigas, na esperança de
que conseguisse saber, através dos prisioneiros, onde se achava Vieira com
sua força principal, de quantos homens se compunham os seus exércitos bem
como os reforços da Baía que já se presumia estarem ao seu lado.
240
O tradutor inglês (p. 61, 2a coluna, 3° §) omitiu a data e a referência aos 100 brasileiros
comandados por Pedro Potí. Vide p. 82, 2a coluna últ. § da ed. holandesa.
241
Coluna Mongioppe escreve Nieuhof (p. 84, 2a coluna, 1° §) e Magioppe à p. 37
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As condições de Goiana
A maior parte dos rebeldes portugueses havia deixado suas mulheres e filhos
em suas casas e engenhos, o que para eles representava não pequena
vantagem. Assim sendo, alguns portugueses leais aos batavos sugeriram ao
Grande Conselho, a 3 de Julho, a conveniência de forçar essas mulheres e
crianças a seguirem seus chefes. Várias foram as razões alegadas em favor de
tal alvitre.
IV- Que com a remoção dessas mulheres que serviam de espiãs aos rebeldes,
por intermédio de seus escravos, ter-lhes-íamos cerceado toda e qualquer
oportunidade de serem informados quanto aos nossos movimentos.
Pesadas todas essas razões, foi publicada a seguinte proclamação.
Chegada à Bahia
Recebidos em audiência
Falam os delegados
Vossa Excelência sabe com que rigor tem sido observada pelos habitantes do
Brasil holandês, em todas as suas minúcias, a trégua celebrada entre Sua
Majestade, o Rei de Portugal, e os poderosos Estados Gerais das Províncias
Unidas, mesmo segundo a opinião de baianos e cidadãos de outras
procedências, que ultimamente têm passado pelas nossas capitanias. Por
outro lado jamais recebemos a menor reclamação nem de S. Majestade o Rei
de Portugal, nem de Vossa Excelência, e, portanto, isso nos leva a crer que
Vossa Excelência jamais consentiria em que súditos seus praticassem
qualquer ato contrário a essa trégua. Entretanto, alguns de nossos súditos
portugueses, pondo de parte sua lealdade para com este Estado, tomaram
armas e voltaram-se contra o poder constituído, logo que Camarão e Henrique
Dias, à frente de alguns brasileiros, negros e uns tantos portugueses, entraram
em nosso território, em flagrante desrespeito às leis internacionais, sem
permissão e nem sequer o mais leve estímulo de nossa parte, e, reunindo-se
aos rebeldes, abriram hostilidades contra os nossos súditos, não como
soldados, mas como ladrões e assaltantes. Não podemos, porém, nos
persuadir de que tais forças tivessem assim agido por ordem ou com o
consentimento de Sua Majestade, o Rei de Portugal, nem de Vossa
Excelência, contra os seus confederados.
Com a graça de Deus não nos faltam recursos para reconduzir à razão os
nossos súditos revoltados, nem para desbaratar as tropas estrangeiras.
Todavia, para mostrar a todo o mundo como estamos prontos a cumprir as
reiteradas ordens de nossos superiores no sentido de manter inalterada a
trégua firmada entre eles e Sua Majestade, bem como para evitar más
interpretações nas cortes estrangeiras, com relação ao caso e dar a Sua
Majestade, p Rei de Portugal, e a Vossa Excelência oportunidade de convencer
o mundo de que não haveis consentido nem instigado esta conspiração, nós,
em nome dos Poderosos Estados Gerais, de Sua Alteza o Príncipe de Orange
e dos Governadores da Companhia das índias Ocidentais, enviamos os
Senhores Balthazar Van der Voorde, Conselheiro da Corte de Justiça, e
Diederik Van Hoogstraeten, Comandante em Chefe do Cabo Santo Agostinho,
como deputados nossos junto a Vossa Excelência, com plenos poderes para
expor a Vossa Excelência estes pontos e pedir que determine imediatamente o
regresso, dentro de determinado espaço de tempo, de Camarão, Henrique Dias
e outros chefes, por meio de proclamação ou qualquer outro que Vossa
Excelência julgue mais seguro ou expedito, punindo-os de conformidade com
as suas culpas. Caso se recusarem atender às ordens de V. Excelência, sejam
eles declarados inimigos de Sua Majestade, pois sem isso não podemos
imaginar como seja possível dar as devidas satisfações aos Estados Gerais, ao
243
Esta carta foi publicada na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887, n° 34, vol. 6, p. 109-
111. Não se encontra nessa cópia da citada revista o nome de Hendrik de Moucheron.
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Subscritos,
De vossa Excelência,
Amigos bem intencionados,
Hendrik Hamel,
A. Van Bullestrate,
P. J. Bas,
J. Van Walbeek e
Hendeik de Moucheron.
244
No texto holandês (p. 90, 1ª coluna) está 1640, mas na errata o ano está corrigido para
1645 (p. 240).
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Segunda audiência
Quanto ao segundo ponto, no que respeita às forças que diziam ter sido
enviadas para Pernambuco, afirmou o Governador tratar-se de alguns
brasileiros e negros recentemente desmobilizados, os quais, como nós
mesmos o sabíamos, pouco representavam, na ordem das cousas. Que, se
entre eles havia portugueses, era de supor que se tratasse de criminosos
egressos da justiça. Declarou estar disposto a chamá-los por meio de uma
proclamação, mas receava não ser obedecido por indivíduos dessa espécie,
aos quais não conseguia manter em disciplina, nem mesmo dentro dos limites
de sua própria jurisdição. Que, a fim de satisfazer o nosso pedido e eliminar
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Retiram-se os Deputados
245
Esta carta foi publicada na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887, n° 34 p 111-116
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de Sua Majestade, mas sim para serem empregadas nas índias Ocidentais,
conquanto na mesma ocasião empreendessem estas a conquista de Angola. O
mesmo pode-se dizer com, relação à tomada da Ilha de São Tome, a cidade de
São Luiz do Maranhão" o e a captura de um navio português proveniente do
Espírito Santo, carregado de açúcar. O Comissário Greving, foi enviado para cá
sob o pretexto de comprar farinha, mas, na realidade, para conhecer as minhas
intenções como ele mesmo o confessa, quando diz em sua carta, que,
"conquanto tivesse sido enviado com essa missão (a de comprar farinha) fora
principalmente incumbido de tomar o seu pulso e pôr à prova sua lealdade". A
atuação desleal dos Diretores de Angola na capitulação do Governador Pedro
César Meneses;246 o arrasamento do nosso Forte Arraial, em Bengo; os maus
tratos infligidos ao Governador que, além de sua, elevada posição, era General
de Sua Majestade; são ações incompatíveis com as normas da guerra, com, os
sentimentos de humanidade e contrárias não só aos costumes das nações
mais civilizadas da Europa como aos dos próprios bárbaros. Da mesma
natureza foi a resposta que deu o seu Conselho ao nosso embaixador que,
solicitando a pronta cessação das hostilidades em Angola, obteve como
resposta a afirmativa de que aquele território não estava sob a nossa
jurisdição. Esse modo de agir está em flagrante contraste com as intenções
sinceras que sempre pus em todas as negociações com Vs. Excias.. Haja vista,
por exemplo, o caso do Capitão Agostinho Cardoso e de um tal Domingos da
Rocha; tão logo Vs. Excias. me apresentaram queixa contra os referidos
senhores no sentido de terem eles se apoderado de uma barcaça carregada de
açúcar, conduzindo-a para este porto, fiz voltar a embarcação e prendi o
capitão, até que fosse remetido para Sua Majestade. Informado, também, de
246
Pedro César Meneses, terceiro filho de Vasco Fernandes César e de Ana de Meneses,
sucedeu a Francisco de Vasconcelos da Cunha, no ano de 1639. A 24 de agosto de 1641,
apareceu de fronte a Loanda a frota enviada por Nassau. A 25 de agosto, tomaram posse da
cidade os holandeses. Retirou-se Pedro César Meneses para Bembém e depois para Bengo e,
finalmente, para Massangano. Voltou a Bengo devido à trégua entre a Holanda e Portugal, mas
os holandeses, a 26 de maio de 1643, atacaram-no em represália aos ataques portugueses à
ilha de São Tome. Caiu prisioneiro, fugiu para Massangano, onde tomou posse do governo.
(XCII, p. 172-75).
Nessa época, Bengo era habitada por umas 400 pessoas e distava de Loanda 4 horas. Os
territórios do Maranhão, Angola e São Tome foram, em 1648, reconquistados por Salvador
Correia de Sá e Benevides. Sobre os episódios de Angola, vide o Manifesto das hostilidades
que a gente de que serve a Companhia Ocidental da Holanda obrou contra os vassalos d'El
Rei de Portugal, neste reino d' Angola, debaixo da trégua celebrada entre os Príncipes...
Lisboa, na Oficina, Craeesheckiana, 1651, 4°.
Era Luiz Felix da Cunha secretário do governo no reino de Angola (Inocêncio da Silva, LXXXV,
Tomo V, p- 223). Foi, mais tarde, publicada por Edgar Prestage uma nova edição (Coimbra,
1919, Academia das Ciências de Lisboa, Separata do "Boletim da classe de Letras", vol. XIII,
de acordo com a edição original da Biblioteca Nacional de Lisboa). Neste trabalho se conta a
história resumida das lutas luso-holandesas em Angola, desde a conquista do reino em 1641,
pelo Almirante Cornelisz Jol até a sua restauração em 1648, quando sua capital passou a
denominar-se Cidade de São Paulo de Assunção de Loanda (LVI, p. 445, nota de Edgar
Prestage).
Um curioso autor anônimo do séc. XVII, escrevendo sobre a restauração do Maranhão e de
Angola, disse: Toda a água do mar Oceano não lavaria nunca os portugueses do massacre
feito aos holandeses no Maranhão, aos quais prestaram juramento de fidelidade; outro tanto
teriam feito em Angola, se duas pessoas não tivessem avisado ao governador. Trata-se de um
exagero evidente, pois em Bengo, dos 400 soldados, morreram 7. (XIII, p. 14).[/i]
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247
A edição inglesa (p. 68, 1a coluna, 1° §, linha 49) consigna dois soldados; o texto holandês
(p. 94, 1a coluna linha 38) confere com a cópia publicada na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog.
Pern., 1887-1890, 6a vol., n° 34, p. 113.
248
No texto holandês (p. 95, 1a coluna, 1° §) está escrito: vam vier duizent Tapuyas, isto é,
4.000 Tapuias. Na cópia publicada na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887-1890, n° 34,
vol. 6, p. 115, está escrito U0 tapuias. Só a consulta ao original é que poderia certificar-nos da
cifra exata, o que, infelizmente, não pudemos fazer
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prazer a nossa proteção, - 'sendo muito mais natural que no caso de opressão
antes sofram a de seus próprios reis ou príncipes que a de estrangeiros, -
entretanto, quando reflito maduramente sobre as propostas de Vs. Excias.,
formuladas pelos seus deputados, quais sejam as de forçar o Capitão Camarão
e Henrique Dias a regressar à Baía, bem como lançar mão de todos os meios
para reconduzir os portugueses rebelados à razão; quando também reflito, de
um lado sobre as calamidades e de outro sobre quão destituído de meios estou
no momento para atender se% pedido, não posso deixar de me preocupar
profundamente com o caso, pois estou certo de que tais chefes não se
deixarão facilmente persuadir, visto como me faltam meios para os subjugar,
dada a grande distância em que se foram acampar, nas malas. Entretanto
disposto como me acho a satisfazer o mais possível o pedido de Vs. Excias., e
também com a idéia de lhes dar prova da sinceridade do povo português, o
qual, ainda que contra os seus próprios interesses, jamais deixa de cumprir o
que julga ser seu dever para com os confederados, prontifico-me aceitar o
papel de mediador a fim de tentar apaziguar os ânimos com a minha
autoridade. Para esse fim pretendo enviar-lhes o mais breve possível, pessoas
de reconhecida capacidade, com instruções e poderes suficientes para
compelir os revoltosos a retornar aos seus afazeres. Se, porém, a tanto se
recusarem, tomaremos providências para reduzi-los pela força, o que espero
possa constituir o melhor meio de restabelecer a tranqüilidade em seus
domínios e manter as nossas boas relações. Rogo a Deus que mantenha os
laços de amizade existentes entre os nossos países.
249
"Relatório do Capitão van Hoogstraeten sobre o seu proceder na Baía, feito aos senhores
do Supremo Conselho no Brasil", pub. na Rev. do Inst. Hist. Geog. Brás. Tomo 42, vol. 146,
1922. Rio, Imprensa Nacional, 1926, p. 206-210. Esse relatório foi traduzido pelo Padre Frei
Zacarias van der Hoeven, O. F. M.
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250
Na edição inglesa foram suprimidas certas passagens desse trecho. Por essa razão,
traduzimo-lo diretamente do holandês. Vide p. 96, 1a coluna 4° § da ed. holandesa e p. 69, 2a
coluna da inglesa. Cf. com a tradução do Frei Zacarias van der Hoeven, p. 207, vol. 146, Tomo
92 (1922), 1926, da Rev. do Inst. Hist. Geog. Bras.
251
Nieuhof escreveu: wel duitsche verstond (p. 97, 1ª coluna, 1° §). O tradutor inglês escreveu:
"compreendia bem holandês", (p. 70, 1a coluna): the last ofwhich understood Dutch. O Revmo.
Frei Zacarias van der Hoeven (Rev. Inst. Geog. Brás., 1922, vol. 146, p. 20) traduziu: "entendia
bem o alemão". Hoje Duitsche, em holandês, significa alemão, mas já significou o antigo
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holandês e o flamengo. Na letra do Wilhelmus van Nassau, que vem em anexo, encontra-se:
Wilhelmus van Nassau we Benick van Duytsehen Bloet... Cf. anexo I.
252
Nieuhof escreveu (p. 97, 1a coluna, 3° §): Zy zullen een gladde ael by destaert hebben. O
Revmo. Frei Zacarias van der Hoeven (ob. cit., p. 208) traduziu: "Terão presa pelo rabo uma
enguia lúbrica". O tradutor inglês verteu livremente: "They have catch'd a Mackrel, for I intend to
Act the HyDOcrite to the Life", (p. 70, 1a coluna 1° §). Evidentemente, a tradução foi bastante
livre.
253
O tradutor inglês não foi fiel, ao escrever (p. 70, 2a coluna, 1° §): Salvador de Sá e
Benevides, who were expected with four Galleons from, Rio de Janeiro, besides some other
ships; and that 2500 Men were designed for this Expedition, besides those already in Arms in
Pernambuko, who were to be sent from Bahia, and to be landed on the Cape of St. Austin.
Comparar com o texto português e o holandês (p. 97, 2a coluna l° §).
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Alegando, então, que não mais se demoraria a fim de não levantar suspeita
entre os colegas, o Governador retirou-se para o seu salão. Tão logo os
senhores Hoogstraeten e João de Souza deixaram a sala, o Governador
mandou que entrassem os delegados batavos, para com eles tratar das
propostas apresentadas em nome do Conselho do Brasil Holandês. Quando se
encaminhavam para a sala do Governador, o Senhor João de Souza dirigiu-se
novamente ao Senhor Hoogstraeten, em voz baixa, perguntando-lhe se seria
obrigado a aceitar o posto de major; ser-lhe-ia tão fácil dizer que preferia
permanecer como governador da praça, onde se achava, certo de que quando
passasse para o lado dos portugueses, não lhe faltariam posições dignas de
um bom soldado como era ele. O Senhor Hoogstraeten, que não se deixava
levar por tais promessas, estava ansioso para voltar para bordo o mais breve
possível a fim de poder comunicar tudo ao Senhor Van der Voorde. De fato
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assim o fez logo que se viram a sós, na cabina, cuja porta fecharam
cuidadosamente254.
254
Aqui Nieuhof terminou o relatório de Hoogstraeten. Segundo o texto do folheto Extraet ende
Copye, traduzido pelo Revmo. Padre Frei Zacarias van der Hoeven e publicado na Rev. do
Inst. Hist. Geog. Bras., 1922, n. 146, p. 210, a relação continua desse modo: "... de modo que
podemos refletir sobre o caso sabido só por nós, o que, entretanto, não podemos calar para
vossas excelências, conforme à honra e juramento. Pedindo publicação em prol do bem estar
da nossa querida pátria, como também da minha vida e da família e segurança dos bens,
conforme vossas excelências o acharem conveniente, protegendo-me contra todos os perigos
iminentes, que provierem dessas conversas sucedidas e publicadas, prometo ficar como fui até
hoje e quero ser até morrer, de vossas excelências servo humilde. - T. V. Hoogstraeten - 1645".
255
Nieuhof escreveu (p. 98, 2a coluna, 2° § e p. 148, 2a coluna, 2° §) [i]Jan Duwy,[/i] Zacarias
Wagner Jan de Wy (XXXIV, p. 38); Laet, Jandovi (XLIX, p. 40) ; Barleus, edição latina, 1647,
Iandovius, Iandovio (p. 257); edição alemã, 1659, Johann de Wy (p. 693); edição holandesa
(VIII, p. 240 e 332 respectivamente Joan de Wy e Jan de Wy; edição brasileira, Janduí ou João
Wy (?). (VII, p. 260-261); Marcgrave (LXX, p. 269), Iandui; Moreau (LIX, 138, 139, 156) Jean
Dary; Baro (IX, 244, 246 e outras pp.) Iandhuy e não como afirmou Rodolfo Garcia (XLI, nota
89, p. 309, vol. II), Jean Dory. Wätjen escreveu sempre Jandubi (em várias págs.). Alfredo de
Carvalho registra alguma das grafias, sem citar as fontes (XX, p. 659, nota 3).
Trata-se de nome tupi de chefe tapuia das tribus Tarairiús ou Ostchucaianas. Pertencia ao
denominado grupo Carirí. Aliás, quase todos os objetos dos Tapuias eram designados com o
nome da língua geral (XXXIV, p. 42). Significa, segundo alguns escritores, ema pequena. Aliás,
Batista Caetano (III, p. 570) registra no Guarani yandú = nandú, s. aranha; s. avestruz; yandi =
nandü, s. aranha pequena, aranha que faz teias nas casas. Essa tribo dirigida por Janduí
usava, realmente, peles de ema como ornamento.
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256
Pindora escreveu Nieuhof (p. 99, 1a coluna, 3° §). O engenho Pindoba estava situado na
freguesia de Ipojuca, e pertencia a Cosme Dias, que se exilou: confiscado pela administração
holandesa, o engenho Pindoba foi vendido a Mateus da Costa. Era movido por meio de bois.
(XV, p. 146). Em Vingboons, encontra-se o rio e o engenho de Pindoba (XCVII, vol. II, mapa
45). Em Barlaeus, (VIII, mapa de Pernambuco, entre as pp. 24-25), Pindoba. Em Van den
Broeck, Pindova (XVI, p. 6). Segundo Mário Melo, Pindoba, afluente do Ipojuca (LVII, p. 56)
257
Nieuhof escreveu Ajama e Jegoaribi (p. 99, 1a coluna, últ. §). Em Vingboons (XCVII, vol. II,
mapa 47, Itamaracá), são registrados o rio Angama e os engenhos Aujama e Aujama de Baixo,
e o rio e engenho Jeguaribi. Alfredo de Carvalho registra Jaguaribe, como corruptela de yaguár
- y - pe, no rio da onça (p. 49). É um braço do rio Maria Farinha, na ilha de Itamaracá. No Breve
Discurso (XV, p. 141), segue-se um légua ao norte do Tapado, o Rio Doce. Duas léguas ao
norte deste rio, o rio Ajama e uma légua adiante o Igarassú.
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Dois dias antes, o Conselho havia recebido carta do escabino Hoek, datada do
Rio Grande, 25 de junho, e informando que até então não se tinham registrado
comoções naqueles lados, mas, que, apesar disso, desarmara os portugueses,
e, finalmente, que os Tapuias pareciam bem inclinados em favor do Governo.
O Conselho determinou, então, ao Senhor Hoek que cultivasse as boas
relações com os Tapuias, tendo, para tanto, enviado presentes a Janduí, chefe
dos selvagens. O Conselho aprovou igualmente o ato do Hoek desarmando os
portugueses. Na mesma data o Padre Manuel, Luiz Braz, Manuel Fernandes
de Sá, Gaspar de Mendonça Furtado e Jerônimo de Rocha, todos portugueses
e habitantes do Brasil Holandês, deram entrada a uma petição em que,
alegando haver terminado o prazo de seis dias estipulados na última
Proclamação para que as mulheres e filhos dos portugueses revoltados
deixassem o país, solicitavam ao Conselho lhes fosse permitido ficar em suas
casas pelo menos até que melhorassem um pouco os caminhos, tornados
intransitáveis pelo transbordamento dos rios. Todavia, considerando que os
rebeldes portugueses forçaram o povo, por meio de ameaças e de outras
maneiras violentas, a tomar armas contra o Governo, a petição foi indeferida.
A 13 de julho, o Conselho foi informado por carta de Haus, datada de 12, que
havia atravessado o Capibaribe e, marchando pela Mata em direção ao
engenho de Arnão de Olanda, encontrara 400 revoltosos que, ante a
aproximação de suas tropas, fugiram para Muribeca, tendo, porém, perdido
alguns homens; daí poderão, sem dificuldade, marchar para a Mata do Brasil.
Informou, ainda, o Tenente-Coronel, que estava pronto para deslocar suas
forças em direção a Tapacurá e daí para São Lourenço, onde aguardaria
ordens do Conselho. Este despachou imediatamente ordens a Haus para que
perseguisse e atacasse os rebeldes, o mais rapidamente possível, antes que
tivessem tempo de se distanciar muito e para impedir que se acampassem em
lugar onde lhes fosse fácil o abastecimento, pois as suas reservas estavam
reduzidas a ponto de não poderem suprir a tropa. Haus já havia, até certo
ponto, providenciado a respeito, tendo também enviado reforço de 100 homens
e uma Companhia de brasileiros sob o comando do Capitão Fallo, ao Senhor
Ley, Governador de Muribeca e Santo Antônio. O Conselho ordenou também
ao Governador do Cabo de Santo Agostinho que ampliasse as fortificações
com paliçadas. Recebeu, ao mesmo tempo, comunicação do Senhor Ley, de
Santo Antônio no sentido de que os rebeldes, sob o comando de Amador de
Araújo e Pedro Marinho Falcão se haviam postado ao alcance da vista, no
Engenho Novo, acrescentando que logo que recebesse reforços, não tinha
dúvida que os expulsaria de lá, pois haviam falhado as tentativas de Amador de
Araújo para conseguir que o povo de Ipojuca tomasse armas contra o Governo.
para sitiar a guarnição de Santo Antônio que não dispunha de outras provisões
além das que recebia da região adjacente. Consciente do perigo, o Conselho
mandou imediatamente ordens a Haus para que corresse incontinente em
auxílio da praça. Recebendo a ordem, o Tenente-Coronel orientou sua marcha,
na mesma noite, em direção ao Engenho de Luiz Braz, deixando em São
Lourenço o Capitão Wiltschut com uma companhia e todos os doentes.
PROCLAMAÇÃO
258
Parece-nos que Nieuhof se equivocou ao escrever [i]Pedro da Cunha,[/i] pois à p. 108
afirmara que Paulo da Cunha desembarcara e à p. 119 transcreve o ultimatum dirigido pelo
mesmo aos comandantes de Serinhaém- Realmente, Paulo da Cunha, depois de desembarcar,
seguira para Serinhaém, a fim de cercar o forte (Cf. p. 6, referente a 4 de agosto, em van den
Broeck, XVI; Varnhagen, LXXI, 3o tomo, p. 27; e Rio Branco, LXXV, p. 436). Depois de se
encontrarem com Amador de Araújo e Pedro Marinho Falcão, cercaram os restauradores,
dirigidos por Paulo da Cunha, o forte. Calado (XVII, p. 235) escreve que Paulo da Cunha e
Cristóvão de Barros foram avisados da necessidade de cercar a fortaleza por Hipólito Alonso
Vercosa (sic), que veio ter com eles, ao saber que nossa Armada teria desembarcado em
Tamandaré. É curioso que o mesmo equívoco seja cometido pelo autor de uma carta escrita a
2 de agosto de 1645, traduzida pelo Padre Frei Zacarias Van der Hoeven, O.F.M. e publicada
na Rev. do Inst. Hist. Geog. Bras., tomo 92, vol. 146, (1922), Rio, Imprensa Nacional, 1927. Aí
se encontra que 2000 a 2500 homens haviam desembarcado (Nieuhof escreveu 1800 a 2000
homens - p. 107, 1a coluna e p. 118, 1a coluna Cf. p. 164 deste livro)
259
A Biblioteca Histórica Brasileira publicará, brevemente, a relação da viagem de Roelof Baro.
Alfredo de Carvalho escreveu excelente biografia de Jacob Rabbi. (Um intérprete dos Tapuias,
1637-1647, Rev. do Inst. Arqueol. Geog. Pern., vol. XIV, 1912, republicado nas "Aventuras e
Aventureiros no Brasil", edição das obras de Alfredo de Carvalho, sob a direção de Eduardo
Tavares, Paulo Pongetti & Cia. Rio, 1930, p. 165-204). Neste trabalho, traduz Alfredo de
Carvalho o inquérito mandado realizar pelo Supremo Conselho, a fim de apurar as
responsabilidades pelo assassinato de Jacob Rabbi (p. 177-204). Foi assassinado a mando do
Tenente-Coronel Garstman, cujo sogro fora imolado em Uruassú, por ocasião de uma das
espoliações cometidas por Rabbi, contra portugueses. Esse ataque de Tapuias, dirigidos por
Rabbi, realizou-se em outubro de 1645.
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Mais ou menos pela mesma época, cerca de 1.000 índios, sendo 369 homens
e os restantes, mulheres e crianças, refugiaram-se na Ilha de Itamaracá, onde
estavam sendo mantidos com as reservas ali existentes. Resolveu então o
Conselho, a 21 de julho, para lá enviar o Senhor Listry, como administrador, a
fim de ver se conseguia que os índios pudessem providenciar o seu próprio
abastecimento, com víveres provenientes das respectivas aldeias, aliviando
assim a Companhia desse encargo. Até então, tudo corria em paz em
Itamaracá, Goiana e Paraíba, graças à dedicação do Senhor Paulus de Linge,
Governador desta última. Logo que a chama da rebelião irrompeu em Várzea,
Ipojuca e Olinda, o Conselho, já de sobreaviso com relação a Paraíba, onde se
suspeitava que havia diversos simpatizantes dos rebeldes, para lá enviou um
alto funcionário do Tribunal de Justiça, com amplos poderes para tentar manter
a ordem entre o povo, agindo para isso como melhor lhe parecesse. Lá
chegando, teve o funcionário o cuidado de ver que os fortes fossem
devidamente guarnecidos e providos de munições e vitualhas provenientes dos
navios que encontrou no porto, por detrás da Terra-Vermelha. Providenciou
também a detenção de pessoas suspeitas e impôs às demais novo juramento
de fidelidade ao Governo.
260
O tradutor inglês não foi fiel ao texto holandês, pois omitiu que o Sr. Johan Hek houvesse
enviado Ley. Confronte-se a p. 103, 1a coluna, 3° § da ed. holandesa, com a p. 74, 2a coluna,
2° § da ed. inglesa
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III - Que talvez fosse aconselhável retirar a guarnição de Porto Calvo a fim de
parecermos mais fortes no campo.
Resoluções do Conselho
Por cartas datadas de Sergipe d'El Rei, 18 e 27 de julho, o Tenente Hans Vogel
comunicou ao Conselho que havia despachado um destacamento, à procura
de Camarão, força essa que, conquanto não tivesse encontrado portugueses
ou índios com que combater, aprisionou um português que levava cartas
destinadas ao Rio São Francisco. Esse português informou o destacamento
batavo que Camarão marchava à frente de sua tropa, através do São
Francisco, com destino à Capitania de Sergipe d'El Rei, e que três ou quatro
navios ou caravelas, sob o comando de André Vidal, tinham partido da Baía,
com destino a Maranhão e Ceará. O Tenente Vogel enviou ao Conselho as
cartas encontradas em poder do português, as quais davam a entender que a
origem do movimento estava entre os baianos, ou pelo menos que estes se
achavam inteiramente informados sobre o curso dos acontecimentos e tinham
fornecido socorros. Entre outras, havia uma carta do bispo daquela Capitania,
dirigida a um certo frade do Recife, na qual o autor dizia esperar encontrar-se
com o destinatário dentro de pouco tempo. Por esse motivo o fiscal teve ordem
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Haus tendo, já por essa ocasião, proporcionado bom descanso à sua tropa de
Muribeca, escreveu uma carta ao Conselho, em data de 1.° de agosto, pedindo
ordem para partir no encalço dos rebeldes, a fim de atacá-los antes que
recebessem estes os reforços esperados. Recebidas as instruções solicitadas,
o Coronel Haus atacou os revoltosos no Engenho de Baltasar Moreno262.
261
Sobre o massacre de Cunhaú, vide [i]Breve, verdadeira e autêntica Relação das últimas
tiranias e crueldades que os pérfidos dos holandeses usaram, com os moradores do Rio
Grande,[/i] separata do vol. XXVI, das Publicações do Arquivo Nacional, constante de 300
exemplares. Oficinas Gráficas do Arquivo Nacional, Rio, 1922. Foi, pela primeira vez, publicada
por Manuel Calado, no Valeroso Lucideno e, mais tarde, transcrita por J. B. Fernandes Gama,
nas Memórias históricas da Província de Pernambuco, 1844-48, vol. III, p. 80; e também por
José de Vasconcelos, em "Datas célebres e fatos notáveis da História do Brasil", Recife, 1869.
Quem dirigiu a matança foi Jacob Rabbi (vide nota 259).
O texto inglês suprimiu a data do massacre, dando somente a data do recebimento da carta (cf.
p. 104, 1a coluna, 3° § da ed. holandesa, com a p. 75, 1a coluna, 4° § da ed. inglesa)
262
Baltasar Gonsalves Moreno era proprietário do engenho Nossa Senhora da Apresentação,
que era movido a água (XV, p. 148). Em Castrioto Lusitano(XLIV, p. 290) se diz que demorava
a légua e meia do Monte das Tabocas. (Cf. p.155 deste livro e p. 16, III de Varnhagen).
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263
O Barão de Rio Branco (LXXV, p. 430), criticando ter sido Varnhagen infiel na transcrição de
um texto de Moreau, decisivo para a reconstituição do local da luta, que se iniciou a 31 de julho
e findou com a vitória dos brasileiros a 3 de agosto de 1645, incorreu, por sua vez, em lapso
idêntico, pois a sua citação de Nieuhof é inteiramente arbitrária. Assim é que ele escreve:
"Bery Santantan", enquanto que o trecho de Nieuhof está assim redigido: [i]aen hunne
legerplaetse quam, de welke een hooge, steile en rontom getrenoheerde of beschanste en
gesterkte bergh was, SANTANTON by dHnwoonders, en by de Portugesen REAEL NOVO
genoemt:[/i] (p. 104, 2a coluna, 3° §). Convém indicar que o próprio texto citado de Moreau,
talvez por erro de impressão, está, também, truncado.
Quanto ao número de feridos e mortos de ambos os lados, a variação dos cronistas é
impressionante. Segundo Calado (XVII, p. 204, 1a coluna), as forças holandesas eram
constituídas de 1500 soldados e 800 petiguaras, enquanto que os portugueses contavam com
1200 soldados e apenas duzentas espingardas. (Na p. 203, fala em mosquetes e, na p. 204,
por duas vezes, em espingardas). Os outros soldados estavam armados com dardos, facões,
espadas, rodelas e paus tostados. Oito foram os mortos e trinta e dois os feridos, dos quais
três vieram a morrer, sendo de 254 as perdas holandesas - Rafael de Jesus (XLIV, p. 292 e
308) calcula as forças holandesas em 1500 soldados e 800 indígenas, e as restauradoras em
1300 e 100 (p. 308), escravos e índios, também armados com 200 espingardas e outras armas,
como cutelos, paus, espadas enferrujadas "que podiam magoar, mas não feriam". Foram de
370 as perdas sem contar os feridos, entre os holandeses, e 28 os mortos e 37 feridos entre os
nossos, exclusive negros e índios. Do lado holandês, Mattheus van den Broeck calcula em 200
homens perdidos, entre os quais o Capitão Andries Fallo, Capitão Sickema, Tenente
Hoyekesloot, Tenente Jacob Hamel e Tenente Schot. No Diário ou Breve Discurso sobre a
Rebeldia, XXIX, n. 127) calcula-se entre os holandeses de 30 a 40 mortos e 163 feridos. Além
dos citados por Mattheus van den Broeck (XVI), dá, também, o Capitão André van Loo, de
Dort, e o Alferes Dorville, e, entre os portugueses, 460 mortos e 6 feridos, dentre os seus
principais. - Moreau (LIX, p. 71) fala em 100 mortos. Dentre os historiadores modernos, o
Barão de Rio Branco (LXXV, p. 437) aceitou o cálculo de Calado, quanto aos mortos e, quanto
aos feridos, avaliou-os em 37. - Finalmente, Varnhagen (LXXIII, p. 279) foi o primeiro a mostrar
os exageros a que se entregaram os cronistas portugueses, entre os quais Calado, que avaliou
as perdas dos holandeses em 350 homens.
Essa primeira luta tem duas vantagens principais: em primeiro lugar, proporcionar armas de
fogo e munições tiradas aos inimigos mortos (Capistrano de Abreu, (I, p. 105); o que é exato,
pois Calado queixava-se da falta de armas entre as forças restauradoras e lamentava que o
inimigo pelejasse [i]com palanquetes e balas enramadas e muitas delas ervadas, segundo se
viu, porque nas bolsas dos mosquetes, que os mortos deixavam se achou toucinho[/i] (XVII, p.
203, 1a coluna); e Rafael de Jesus (XLIV, p. 306) escreveu: [i]não houve soldado que se não
armasse com escolha e índio que se não vestisse com vaidade.[/i] Em segundo lugar,
conforme afirma Handelmann (XL, p. 232): [i]de fato era enorme o feito; não somente o exército
dos patriotas havia sustentado com sucesso a prova de fogo e imposto a realidade da
revolução, vias, também por seu triunfo ele ficava senhor do interior do pais e as forças
militares holandesas tinham que se recolher absolutamente às suas praças fortificadas.[/i]
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aguardava Tomaz Pais, morador de Tijipió, que tinha tentado congregar tropas
para João Fernandes Vieira264. No mesmo dia o Grande Conselho recebeu
informação de Serinhaém (as cartas secretamente conduzidas à noite, num
pequeno bote que desceu o rio até o litoral) dizendo que os rebeldes estavam
se tornando muito numerosos pelas redondezas e que, senhores do rio, tinham
afundado todos os barcos e saqueado o Engenho Formoso, de onde roubaram
os negros e mataram os animais pertencentes aos holandeses, mas não
tocaram nos dos portugueses. Convicto de que nada, a não ser a força, poderia
subjugar os rebeldes, e que, dia a dia, recebiam eles reforços da Baía, ao
passo que as forças holandesas diminuíam, o Conselho resolveu, a 1° de
agosto, enviar para a Holanda o Senhor Balthazar Van der Voorde, Conselheiro
do Tribunal de Justiça a fim de lá relatar ao Conselho dos XIX a verdadeira
situação do Brasil Holandês e pedir socorros imediatos. Obediente às ordens
do Conselho o Senhor Van der Voorde zarpou no dia seguinte, para a Holanda,
levando as seguintes instruções e credenciais.
264
O tradutor inglês escreveu 1° de agosto, enquanto no original está 1° de julho. Vide p. 104,
2a coluna, últ. § da ed. holandesa e a p. 75, 2a coluna, 2° § da ed. inglesa.
Nieuhof escreveu Tienpio, (p. 104, 1a coluna). Trata-se de Tejipió. (Cf. Varnhagen, LXXII, 3a
vol., p. 28).
Nieuhof escreve Lago mar, S. Alexo, Porto Dosser, Nambous, ou Lagamar de Marakaipe (p.
107, 1a coluna, 3°, 4° e 5° §§). Na carta escrita por Antônio Teles da Silva, datada da Baía, de
21 de julho de 1645, cuja tradução do holandês foi publicada na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog.
Pern., n° 34, 1887, p. 82-84, se encontram as mesmas informações, o que faz supor que
Nieuhof haja escrito baseado nesta carta, que foi apreendida pelo Almirante Lichthart, quando
derrotou J. Serrão de Paiva. Na mesma revista (p. 74-98), encontram-se, também, todas as
outras cartas apreendidas. A carta a que acima nos referimos diz: . [i]tratará de dar
desembarque à gente, com aviso aos pilotos mais práticos, para maior segurança em Una,
Lagamar ou Tamandaré, que fica 3 léguas ao sul ãa ilha de S. Aleixo. Não vindo a tornar os
referidos portos, tomará o de Fernambuis[/i] (?) [i]ou o lagamar de Maracaípe, que demora ...[/i]
(em branco) [i]léguas ao norte da dita ilha de S. Aleixo; e se, tendo feito toda a necessária
diligência, não puder tomar nenhum dos mencionados portos, buscará o das Galinhas,
procurando em todo o caso desembarcar a gente entre Barra Grande e o porto das Galinhas,
com a recomendação de que mui atentamente vigiará que os navios não sejam desviados
dessas paragens por correntes e ventos, e acontecendo que à tarde ou à noite cheguem diante
da Barra Grande lançarão âncoras, para trazerem a terra sempre bem reconhecida.[/i]
No "Breve Discurso sobre as quatro capitanias conquistadas" (XV, 140-1), mencionam-se,
também, o porto de Barra Grande, Lagamar e Maracaípe.
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265
O tradutor inglês escreveu fins de julho, (p. 77, 1a coluna, 3° §); vide p. 107, 1a coluna,
último § da edição holandesa.
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O desembarque de tropas
Aviso ao Conselho
268
O tradutor inglês escreveu 14 de agosto. Vide p. 78, 2a coluna, 2° § da edição inglesa e p.
108, 2a coluna, 7° § da edição holandesa.
Página 177 de 349
269
Esta carta se encontra na Rev. do Inst. Arqueológico e Geográfico Pernambucano, 1887.vol.
6, n° 34, p. 130-131.
270
Esta carta se encontra na Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano,
1887,vol. 6, nota 34, p. 131-132. Em Nieuhof, a carta está datada de 22 de junho de 1654 (p.
109, 2a coluna), enquanto que na citada cópia da Rev. está 21 de julho de 1645. Quanto ao
ano, trata-se, evidentemente, de erro de impressão.
Página 178 de 349
Fiel Servidor,
271
Esta carta encontra-se na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887,n. 35, vol. 6, p. 37-38.
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de Vs. Excias..
Debates do Conselho
A. Van Bullestrate,
P. J. Bas,
J. Van Walbeek,
G. de Wit,
J. Albrecht,
Hendrik de Moucheeon,
J. Van Raesvelt e
J. C. LlCHTHART.
Pela manhã de 14, pudemos ver que toda a esquadra se havia feito ao mar,
sendo que boa parte já estava fora do alcance visual. Ora, sabendo-se que os
dois barcos que transportavam os nossos e os dois deputados portugueses
dificilmente conseguiriam alcançar os navios da esquadra e que os nossos
deputados, ao voltar, deveriam informar o nosso Almirante, a bordo de sua nau
capitânia, se o almirante português havia consentido em mandar o Senhor
Jerônimo Serrão de Paiva ao Recife, a fim de expor as suas instruções ao
Grande Conselho (o que tinha agora motivos de sobra para crer que não faria),
este despachou ordens imediatas ao Almirante Lichthart para dar todo pano
aos navios sob seu comando, no encalço dos portugueses, não só para
observar os seus movimentos como também para tentar aproximar-se, com o
navio capitânia, do barco em que viajava o dito Jerônimo Serrão e pedir-lhe
272
O trecho da tradução portuguesa que começa: "Já que os nossos" até "expulsá-lo ou
conquistá-lo", foi traduzido diretamente do holandês, pois o tradutor inglês o omitiu. Cf. p. 112,
2a coluna, últ. § e 113, 1a coluna, 1° § da ed. holandesa e p. 81, 1a coluna, 1° § da ed. inglesa
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O outro ponto também debatido foi sobre a conveniência de enviar uma flotilha
sob o comando do Almirante Lichthart, em perseguição da esquadra
portuguesa, para atacá-la. Depois de várias considerações, concordou-se em
esperar até que todos os nossos navios estivessem aptos para a empresa,
suprindo-se com operários do Recife a falta de marujos, de maneira a
tornarmo-nos tão fortes quão possível, no mar.
273
O tradutor inglês escreveu: em data de 20, ao invés de 24. Cf. p. 113, 2a coluna § da ed.
holandesa e p. 81, 2a coluna 2° § da tradução inglesa.
274
O tradutor inglês omitiu uma fragata. Cf. p. 114, 1a coluna, 1° § da ed. holandesa e p. 81, 2a
coluna últ. § da ed. Inglesa.
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sobre umas ruínas, de onde dominavam toda a praia até ao Forte dos Cinco
Bastiões275.
275
O Forte dos Cinco Bastiões é o de Frederico Henrique. Cf. Breve Discurso, (XV, p. 182).
276
Segundo Moreau, (LIX, p. 82) as perdas portuguesas foram de 600 a 700 homens. Calado
(XVII, p. 234), consigna a perda de 100 pessoas somente e procura justificá-la dizendo que os
holandeses não mataram a todos, senão que deitando-se a nado, sem saberem nadar, se
afogaram. Segundo o Breve Discurso sobre a Rebeldia (XXIX, p. 136-7), os holandeses
tiveram 3 mortos e 2 feridos. O que é importante, como resultado da luta é que, a bordo dos
navios, acharam os holandeses correspondência do Governador Geral para D. João IV e
epístolas do Rei ao seu representante na Baía, das quais claramente se inferiu que um e outro
não só tinham perfeito conhecimento do plano da insurreição pernambucana, como, até,desde
o início, haviam nela influído. (XCVI, p. 240)
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9 de setembro de 1645.
Sendo voz corrente aqui no Recife que Vs. Ss. dizem, aí, que o
Almirante holandês Jan Cornelisz Lichthart, antes da última batalha,
franqueou a barra hasteando bandeira branca e, surpreendendo os
nossos, matou muitos deles a frio, julguei ser meu dever informá-los
como as cousas realmente se passaram. De fato, dois dias antes da
refrega, apareceram à entrada da barra um iate e uma barca, com
bandeira branca, contra os quais um de nossos navios menores fez
três disparos de peça. Quando, porém, o Almirante ingressou na
baía, levava hasteadas, tanto a bandeira holandesa como a
vermelha. Nem ê verdade o que se diz sobre o massacre de
portugueses, a frio. Nem um único homem foi abatido a bordo de
meu navio a não ser durante a luta. Cinco ou seis deles, que se
haviam escondido no tombadilho inferior, foram aprisionados e um
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277
O tradutor inglês escreveu 20 de setembro. Cf. p. 117, 1a coluna, 3a § ed. holandesa e p.
84, 1a coluna 2° § da trad. inglesa.
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278
É curioso que esta escrito 29 de setembro de 1654 (p. 118, 1a col., linha 34). Não era
possível tal data, devendo ser 1645. Na errata está, novamente, 1654 (p. 240).
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Ao que nos parece, Vs. Excias. não estão ao par das intenções com
que viemos, motivo pelo qual não nos surpreende encontrá-los em
atitude defensiva. O Grande Conselho do Brasil Holandês enviou
uma embaixada ao nosso Governador Geral de Terra e Mar,
Antônio Teles da Silva, pedindo que S. Excia. fizesse uso de sua
autoridade e força no sentido de abafar a insurreição nesta
Capitania. Tendo sido imediatamente atendido esse pedido, a fim
de auxiliar o Conselho e libertar os portugueses das violências
cometidas contras suas famílias e propriedades, tivemos instruções
de desembarcar as nossas forças junto ao Engenho Rio Formoso.
Isso feito, e prontos como estamos para marchar em direção ao
interior do país, achamos conveniente pô-lo ao par das nossas
intenções, o que, provavelmente, já chegou ao seu conhecimento,
pois que já foram publicadas em diversos lugares, através de
nossas proclamações das quais anexamos uma pedindo-lhe que
mande afixá-la à porta da Igreja de Serinhaém. Desejamos,
portanto, que V. S. deponha as armas e deixe de lado qualquer
suspeita, certos de que, de sua parte, teremos recepção favorável,
pois, da nossa, tudo faremos a fim de restabelecer a tranqüilidade
entre os portugueses revoltados, por todos os meios suasórios de
que pudermos lançar mão. Asseguramos-lhe, entretanto, que, se V.
S. se recusar a vir ao encontro de nossos desejos, causará não
pequeno desprazer ao Grande Conselho do Brasil Holandês.
O segundo ultimatum
Diogo de Silveira,
Lopes Lourenço,
Ferreira Bitencourt,
Sebastião de Guimarães.
279
O tradutor inglês escreveu 30 brasileiros (Cf. p. 121, 1a coluna, da ed. holandesa e p. 87, 1a
coluna da trad. inglesa). Segundo Varnhagen, (XLI, p. 27), eram 62 os holandeses que se
renderam e 49 os índios que foram enforcados. Mattheus van den Broeck (XVI, p. 10) fala em
39 indígenas, e afirma que de acordo com o depoimento de La Montagne, os portugueses não
cumpriam a promessa que haviam feito de dar quartel aos indígenas. Isso contrasta com a
asserção de Varnhagen, que declara terem sido abandonados à discrição do artigo 6 da
capitulação, quando, como vimos, segundo Nieuhof, não existe artigo 6 da capitulação. Calado
afirma que eram 62 holandeses e 56 índios (XVII, p. 236). E não demonstra qualquer
sentimento de piedade por essas execuções em massa de indígenas, pois, numa frase, que se
torna chavão no seu livro, sendo repetida sempre que fala desses enforcamentos, diz: [i]índios
Brasileiros aos quais por quanto sendo vassalos dei Rey & criados aos peitos da Santa Madre
Igreja Romana, se avião rebelado contra os portugueses".[/i] - Segundo o Breve Discurso sobre
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alegaram em sua defesa que os brasileiros foram punidos por crimes que
confessaram ter cometido, conquanto, ao contrário, seja mais provável que
tenham eles sido sacrificados aos portugueses descontentes, que se
queixavam amargamente dos brasileiros. Entretanto, 30 deles foram poupados
e entregues aos oficiais, para servirem de carregadores. Suas mulheres foram
entregues aos moradores do lugar. Os portugueses constituíram a Álvaro
Fragoso de Albuquerque Governador da cidade e do forte, e nomearam capitão
a um desertor francês, Francisco de La Tour280, para comandar 40 desertores
que se alistaram entre suas forças.
a rebeldia (XXIX, p. 12 a), eram, ao todo, 30 indígenas. Moreau (LIX, p. 75) calcula em 40
soldados e não se refere ao morticínio dos indígenas.
Francisco de La Tour, francês de nação, natural de Bordéus, católico romano, casado com uma
mulher portuguesa e homem tido entre os moradores em muita conta e por qualificado cristão,
o qual deixando logo sua casa, mulher e filho em Serinhaém, aonde tinha seu domicílio, se veio
logo em companhia de nossa gente para o sítio onde estava o governador da liberdade João
Fernandes Vieira (Cf. Calado, XVII, p. 236 e Rafael de Jesus, XC, p. 318)
Manuel Calado (XVII, p- 187) se refere a um judeu que estava catequizando e a mais sete que
haviam sido enviados para Portugal; e, à p. 244-245, fala de três outros, um dos quais logo
pediu que o batizassem, enquanto os outros dois começaram a discutir com Manuel Calado.
Este termina por convertê-los.
280
Francisco de La Tour, francês de nação, natural de Bordéus, católico romano, casado com
uma mulher portuguesa e homem tido entre os moradores em muita conta e por qualificado
cristão, o qual deixando logo sua casa, mulher e filho,em Serinhaém, aonde tinha seu
domicílio, se veio logo em companhia de nossa gente para o sítio aonde estava o governador
da liberdade João Fernandes Vieira (Cf.Calado, XVII, p. 236 e Rafael de Jesus, XC, p. 318)
281
Manuel Calado (XVII, p- 187) se refere a um judeu que estava catequizando e a mais sete
que haviam sido enviados para Portugal; e, à p. 244-245, fala de três outros, um dos quais logo
pediu que o batizassem, enquanto os outros dois começaram a discutir com Manuel Calado.
Este termina por convertê-los
282
O trecho dessa tradução, que começa "Roelant de Carpentier" até "...nos seus bens" está
omitido na tradução inglesa (Cf. p. 121, 2a coluna últ. § e p. 122, 1a coluna 1° § da ed.
holandesa e p. 87, 1a coluna da ed. inglesa). Conforme se lê no Discurso sobre a Rebeldia,
(XXIX, p. 176): Roeland Carpentier, possuidor do engenho de Rio Formoso, fez acordo com os
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PROCLAMAÇÃO
O Grande Conselho resolveu dar uma resposta sucinta à carta acima a refutar
a Proclamação com outra, e, considerando que as causas de todas as
perturbações e desmandos foram expostas ao Conselho, este ordenou aos
dois Conselheiros da Justiça, De Wit e Moucheron, juntamente com o Senhor
Walbeek, assessor, que respondessem à exposição e representassem ao
Conselho dos XIX, na Holanda, dizendo que tais acontecimentos eram
ocasionados pelos rebeldes e seus simpatizantes.
Tendo examinado o Forte Van der Dussen, deu ordem ao Major Hoogstraeten
para que o colocassem em boas condições de defesa, com toda a urgência
possível, enquanto que o Almirante se incumbiu de circundá-lo com paliçadas.
Disse ainda que, a 7 de agosto, tendo feito pagamento à guarnição e aos
artilheiros passou para Santo Antônio, por caminhos bastante difíceis, onde
também fez pagamento aos soldados, visitou as trincheiras e dispôs as cousas
o melhor que pôde.
284
O Forte do Pontal de Nazaré fora construído pelos holandeses em 1634 e era por eles
chamado van der Dussen. Segundo Barlaeus, (VII, p. 144). o Forte van der Dussen, no Cabo
de Santo Agostinho, era armado de 6 bocas de fogo. Não deve ser confundido com o antigo
Forte português de Nazaré, situado no próprio cabo, que resistiu aos ataques holandeses até 2
de julho de 1635, data em que foi destruído. (Cf. Barão do Rio Branco, LXXV, 490 e 387, onde
trata da capitulação do forte, dirigido por Pedro Correia da Gama e Luiz Barbalho Bezerra,
sendo os holandeses dirigidos por S. van Schkoppe).
Sobre a destruição do velho forte português há referência no Breve Discurso (XV, p. 180),
quando ali se declara: [i]a fortaleza, que o inimigo levantara em, torno da igreja de N. S. de
Nazaré, situada sobre o monte mais alto do Cabo (Santo Agostinho), há muito foi arrasada por
imprestável.[/i] Em Barlaeus, no mapa que abrange o Cabo de Santo Agostinho (ed. 1647),
pode-se ver o Pontal de Nazaré.
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285
O tradutor inglês escreveu 38 voluntários (cf. p. 125, 2a coluna, 1° § da ed. holandesa e p.
89, 2a coluna 3° § da ed. inglesa).
286
Foi Belchior Álvares quem emprestou a Maurício de Nassau o boi que serviu para as festas
da inauguração da primeira ponte no Recife. Um dos divertimentos foi o do boi voador. Calado
(XVII, 131). Em Barlaeus, (VIII, mapa de Pernambuco, entre as p. 16-17), registra-se um curral
de Belchior Álvares e (no mapa de Cirii, entre as p. 8-9) mais dois currais. Em Vingboons
(XCVII, mapa 86),na fronteira de Pernambuco com Sergipe, à margem do Rio São Francisco,
registra-se a propriedade de Belchior Álvares. Segundo o Relatório sobre Alagoas: "Belchior
Álvares disputou com Gonsalves da Rocha as terras ao sul do rio São Miguel, nas Alagoas, e a
questão compôs-se do seguinte modo: Belchior possuiria uma légua em quadro, sendo a
primeira barra para cima e Gonsalves Rocha quatro légua são longo do rio até a igreja de São
Miguel". (XCV, p. 161).
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287
Nieuhof escreve Algodais (p. 126, 1a coluna). Algodais, como registra o Breve Discurso
(XXXII, p. 147), estava situado na freguesia do Cabo de Santo Agostinho (Barlaeus, VIII, mapa
de Pernambuco, entre as p. 24-25), e pertencia a Miguel Pais. Tendo sido confiscado, mas não
vendido, porque nele permanecera o exército por ocasião do cerco do Cabo, sofreu grandes
estragos (XV, p. 147).
288
Desde 15 de agosto sitiava Martim Soares o forte do Cabo e a 23 chegava com reforço
André Vidal, logo depois da capitulação de Serinhaém. A 26 de agosto, André Vidal enviava
Paulo da Cunha a exigir que Hoogstraeten cumprisse a promessa de entrega. A 1° de
setembro André Vidal enviava novamente Paulo da Cunha e o Auditor Francisco Bravo da
Silveira a dizer ao governador da Fortaleza que a entregasse, sob pena de não lhe dar quartel.
(Calado, XVII, p. 241). Aos 3 de setembro, entregava Hoogstraeten a fortaleza (cf. Calado,
XVII, p. 242, e Rio Branco, LXXV, p. 490-91).
O tradutor inglês (p. 90, 2a coluna 1° §) escreveu 23 de agosto e Nieuhof 13 de agosto (p. 126,
2a coluna). Trata-se de infidelidade do tradutor e erro de Nieuhof.
Esse erro de Nieuhof é bem grave, pois a tomada só se deu a 3 de setembro. É curioso que,
na carta de Martim Soares, dirigida a Antônio Teles da Silva, na qual aquele relata a tomada do
Forte, Nieuhof enha traduzido 13 de corrente mês (p. 126, 2a coluna, últ. §), quando Martim
Soares escreveu, domingo, 3 do presente (a carta traz a data de 6 de setembro), Deus nos fez
Tneroê de nos meter de posse desta força do Pontal.
Desde 15 de agosto de 1645, começara o sítio da Fortaleza (Rio Branco, LXXV, p. 491).
Mattheus van den Broeck, que a 17 de agosto assinava sua rendição (XVI, p. 12), foi quem
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melhor relatou a conferência havida entre os vários oficiais sobre dever-se ou não entregar o
forte. Dentre estes, três não aceitaram a capitulação: Isaac Zweers, Johannes Brookhuizen e
Abraham van Milligen, sendo que Klaes Klaesz aceitou a rendição e mais tarde fugiu com 63
soldados.
O Diário ou Breve Discurso (XXIX, p. 134), depois de reconhecer a importância do Pontal, pois
se os portugueses houverem o Pontal, terão um porto livre, e poderão carregar comodamente
de açúcar os seus navios, declara que a, 11 de setembro recebeu-se a notícia de que a 5 do
mesmo mês, Hoogstraeten entregara o forte.
Moreau (LIX, p. 82) calcula em 1800 libras e mais o cargo de coronel para Hoogstraeten e 30
libras para os 650 soldados do forte; Handelmann (XL, p. 235) calcula em 9.000 cruzados para
os quais Vieira contribuiu com 7.000. Segundo Rafael de Jesus (XLIV, p. 349), eram 275 os
rendidos; Varnhagen (LXXII, p. 31, vol. 3°) diz que a entrega do forte ocorreu a 3 de setembro e
conta que foi imposta aos moradores a soma de 4.000 cruzados, à qual se juntou outra igual
mandada da Baía pelo governador geral. Calado (XVII, p. 240 e 251) confirma o que escreveu
Varnhagen, dizendo que João Fernandes Vieira impôs uma furta para a sustentação da guerra,
contribuindo cada um com determinada quantia; declara que eram 275 soldados, aos quais se
deu quatro mil réis por primeira paga. Os nove mil cruzados estabelecidos no acordo com o fito
de pagar os soldos devidos aos soldados pela Companhia não parece que tenham sido
recebidos por estes e sim por Hoogstraeten. Permitiu-se, também, que os que quisessem
tomar armas a favor dos restauradores assentassem praça.
Rio Branco calcula (LXXV, p. 242) em 275 oficiais, declarando certamente que recebera
Hoogstraeten o título de mestre de campo e não de Coronel, como escreveram Nieuhof e
Moreau, pois o cargo de Coronel só foi criado pela re-forma de 15 de novembro de 1707,
quando desapareceram os lugares de mestre de campo e sargento maior.
Nieuhof equivocou-se outra vez ao falar em Regimento Holandês, pois se trata de um terço de
estrangeiros, não só de holandeses, cuja chefia foi dada ao mestre de campo Hoogstraeten.
289
A cópia do original português encontra-se na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887, n.
35, p. 45-47.
O tradutor inglês escreveu (cf. p. 90, 2a coluna da ed. ing. e p. 126, 2a coluna da ed.
holandesa) "por carta datada de 26 de agosto de 1645", onde estava "13 do corrente mês";
ainda assim continua errado, pois conferindo-se com o referido original, acima citado, verifica-
se que a data é "3 do corrente mês" (setembro, pois a carta está datada de 6 de setembro).
Nieuhof escreveu Damiano de Lankois (p. 127, 1ª coluna, 5° §); na referida cópia da Rev. do
Inst. Arqueol. e Geog. Pern., está conforme esta tradução.
Sobre o nome Capivara tudo faz crer tratar-se de índio (cf. Varnhagen, LXXII, p. 33, tomo III).
Sobre os 4.000 ducados levantados por João Fernandes Vieira, cf. nota 288.
O tradutor não foi fiel ao escrever o navio Bispo (cf. p. 127, 1a coluna, 7° §, da ed. holandesa e
p. 91, 1a coluna 4° § da ed. inglesa).
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290
O tradutor inglês escreveu 23 de agosto (cf. p. 128, 1a coluna, 1° § da ed. holandesa, e p.
91, 2a coluna, 2° § da tradução inglesa).
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posse do forte e pediam-lhe insistentemente que fosse para aquele porto com
sua frota. A primeira das 2 cartas de setembro estava assim redigida:
Senhor.
Deus guarde V. S.
291
O tradutor inglês escreveu Pontal (Cabo) (cf. p. 128, 2a coluna da ed. holandesa e p. 92, 1a
coluna da ed. inglesa). A cópia do original português encontra-se na Rev. do Inst. Arqueol. e
Geog. Pern., 1887, n. 34, p. 80-81. Aí está, também, Forte Nazaré.
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lhe depare para vir ter conosco. Soubemos por uma carta escrita no
Recife, apanhada na embarcação que vinha em socorro da praça e
por nós aprisionada, que o inimigo tem duas flotilhas e um navio
artilhado com que pretende expulsar a esquadra de V. S. desta
costa. Julgamos, por isso, dever nosso dar-lhe conhecimento
imediato a fim de que, com sua costumeira prudência, V. S. possa
tomar as providências que entender. Os holandeses, com seus
métodos traiçoeiros, obrigaram-nos a recorrer à força; desejamos,
portanto, que V. S. lhes pague na mesma moeda, com ferro e fogo,
como eles nos fazem a nós. Se V. S. deseja vir para cá, é
necessário que o faça logo, pois toda demora é perigosa em
tempos como estes. Fizemos uma cópia fiel desta carta em nosso
diário, para que mais tarde nos sirva de documento. Deus guarde V.
S.
Espero que esta o encontre com saúde como o deseja este seu fiel
amigo. Acho-me em situação regular em Pontal de Nazaré que,
depois de um cerco de 20 dias, capitulou com relativa facilidade,
porquanto os que o comandavam eram casados com mulheres
portuguesas e tinham propriedades nas circunvizinhanças.
Na mesma revista existe, também, cópia de uma carta escrita de Pontal, datada de 6 de
setembro de 1645 e assinada por Martim Soares Moreno e André Vidal de Negreiros; o
conteúdo da carta anterior dada por Nieuhof está muito truncado (cf. p. 81-82, da citada
Revista).
292
A carta de Gaspar da Costa Abreu para Domingos da Costa encontra-se na Rev. do Inst.
Arqueol. e Geog. Pern., 1887, n. 34, p. 95-97. Nessa cópia do original português escreve-se
2.500 ducados e não 1.500 ducados, como está na edição de Nieuhof (cf. p. 129, 2a coluna, 2°
§): duizent vijf hondert dukaten.
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5 de setembro de 1645.
Por esta e pelas cartas seguintes, vê-se que de há muito havia o Major
Hoogstraeten lançado as bases de seu plano traiçoeiro para a entrega do Cabo
Santo Agostinho aos portugueses, ou seja, desde que em companhia do
Senhor Balthazar van der Voorde foi enviado à Baía, em missão junto ao
Governador Antônio Teles da Silva. Assim foi que um certo sargento também
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vendeu ao inimigo um reduto próximo à cidade de Olinda, por 300 florins. 293Ao
início do cerco do Cabo Santo Agostinho, André Vidal de Negreiros mandou
duas cartas ao Major Hoogstraeten, Ley e Hek, por intermédio de João Gomes
de Melo, em data de 13 de Janeiro,294 na primeira das quais Negreiros
reclamava contra os maus tratos e 09 assassínios perpetrados contra os
portugueses pelos batavos. Na segunda pedia a eles que, de conformidade
com as promessas feitas por Hoogstraeten na Baía, para o Rei de Portugal,
entregassem o forte.
293
Sobre esse reduto, cf. Calado, (XVII) p. 246, 1a coluna e 2a coluna, 1° §. Nessa luta, João
Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros foram acompanhados por Diederik Hoogstraeten
e sua companhia de estrangeiros- Estava esse reduto localizado junto à vila de Olinda, a um
tiro de mosquete, no meio deu ma restinga de areia, que divide a costa do mar das águas do
Rio Beberibe, no caminho por onde se serve a gente que vai da vila para o Recife. Está a uma
légua do Recife e se chama Forte de Santa Cruz; chamava-se, em outro tempo,a guarita de
João de Albuquerque.
Foi Diederik Hoogstraeten quem se dirigiu ao Sargento que se rendeu com 60 soldados. Cf.,
também, Rafael de Jesus (XLIV, p. 345) e nota n. 51.
294
O tradutor inglês escreveu 13 de agosto (cf. p. 93, 1a coluna, 2° § da ed. inglesa e p. 129,
2a coluna, últ. § da ed. holandesa).
295
A cópia do original português encontra-se na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887, n°
35, p. 43-44.
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13 de agosto de 1645.
André Vidal
296
A cópia do original encontra-se na Rev. do Inst. Arqueol. e Geog. Pern., 1887, n. 35, p. 44-
45. Existe, ainda, uma terceira carta, publicada à p. 45, assinada por Martim Soares Moreno e
André Vidal de Negreiros e dirigida a Hoogstraeten e van der Ley e que Nieuhof não noticia.
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D. Van Hoogstraeten,
Johan Hek.
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Além disso essas tropas eram necessárias para a defesa da cidade que, sendo
a capital de todo o Brasil Holandês, naturalmente seria atacada com todo o
vigor.
Tão logo fora o Conselho informado da derrota de Haus e sua retirada para a
casa de De Wit, pertencente ao engenho, foi consultado sobre se poderiam de
alguma forma libertar o Coronel. Apesar da fraqueza da guarnição e da
temeridade da empresa, foi resolvido que se tentasse socorrer Haus com uma
força de 150 soldados e 100 voluntários. Entretanto, antes que o plano fosse
posto em prática, um brasileiro, que assistiu o embate e conseguiu chegar ao
Recife depois de trocar suas roupas com as de um português, trouxe-nos a
inditosa notícia de que o Coronel Haus, com as forças sob seu comando, havia
capitulado incondicionalmente e entregue a casa do engenho, mediante
promessa de clemência.Esse desastre foi atribuído principalmente à incúria do
Tenente-Coronel Haus que só colocou seus homens em ordem de combate
quando já era demasiado tarde, suposição essa depois confirmada em
depoimento feito perante o Grande Conselho, a 6 de julho de 1646, pelo
próprio capitão-tenente da Companhia do Coronel Haus, Willem Jacobsz.
Somente na noite anterior à derrota, foi que Haus recebeu notícias, por um
negro prisioneiro, de que o inimigo partira de Muribeca com numerosa tropa.
Na manhã seguinte, uma das nossas sentinelas informou o Coronel que o
inimigo estava atravessando o rio. Mais tarde um pouco o peão do Coronel,
que fora dar de beber a seu cavalo na mesma aguada, voltou a todo galope,
trazendo idêntica informação.
Decorridos alguns dias299, foi ter com eles um certo Pieter Ritsaart, que estivera
no Cabo de Santo Agostinho, como padeiro. Broekhuizen decidiu-se a
interrogá-lo de algum modo e descobrindo, imediatamente, onde ele estava
hospedado, interpelou-o com palavras brandas (para entrar ao seu serviço), a
fim de movê-lo a levar o mesmo recado com o qual já havia partido o
299
Esse trecho: "Decorridos alguns dias." até "...na primeira noite escura.", foi traduzido do
holandês. (Cf. p. 136, 1ª coluna da ed. holandesa e p. 97, 1a coluna da ed. inglesa).
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O padeiro é interceptado
Entretanto, a 2 de outubro, por pouco que todo o plano não foi revelado pela
imprudência da mulher do corneteiro, pois, tendo-se embebedado, contou a
pessoas de suas relações que o marido havia partido para o Recife. Foi então
levada prisioneira para o Cabo Santo Agostinho, onde a torturaram
miseravelmente, mas, sendo mulher resoluta, nada confessou.
300
Em Vingboons (XCVII, vol. II, mapa 47, referente a Itamaracá), encontra-se Tripicho; no
mesmo autor (coluna II, mapa 48, referente a Pernambuco), encontra-se o engenho Tripicho, à
margem do rio Salgado. Os engenhos Algodais Velho e Algodais Novo, acima e abaixo,
respectivamente, no citado mapa de Vingbooms, referente a Pernambuco, demoravam entre o
rio Salgado e o Jangada.
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Os que o não queriam foram imediatamente enviados à Baía, por terra, viagem
tediosa que lhes apresentava ainda o risco de serem massacrados pelo
caminho. Muitos, de receio, se prontificaram a trabalhar, mas Zweers e
Broekhuizen, novamente interrogados, responderam que preferiam antes
morrer que tomar armas contra sua própria pátria.
Zweers torturado
Todavia, apenas lá chegaram, Zweers teve ordem de voltar para o Cabo Santo
Agostinho onde foi torturado para que revelasse qual a missão do corneteiro no
Recife, o qual, como supunham, tinha revelado ao Conselho o plano de ataque
a Itamaracá. Entretanto, não conseguindo dele a menor revelação, enviaram-
no para a Baía depois de cinco semanas de prisão.
301
O tradutor inglês omitiu a data 4 de agosto (cf. p. 136, 2a coluna, 4° § da ed. holandesa e p.
98, 1a coluna, 1° § da ed. inglesa).
302
O pequeno trecho referente ao Auditor foi omitido pelo tradutor inglês. (Cf. p. 137, 1ª coluna,
1° § da ed. holandesa e p, 98, 1a coluna, 2° § da ed. inglesa).
303
Nieuhof (p. 137, 1ª coluna, 3° §) escreveu Tapuao. Deve tratar-se de Itapuã, como grafamos
no texto.
304
O tradutor inglês escreveu 18 de janeiro (cf. p. 137, 1a coluna, últ. § da ed. holandesa e p.
98, 2a coluna, 1° § da ed. inglesa).
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São encarcerados
Ficaram nessa prisão durante cinco dias, sem alimento nem água para beber
até que tiveram licença para representar por escrito ao Governador, sobre sua
deplorável situação.
Fornecem-lhes alimentação
305
O tradutor inglês escreveu 1° de fevereiro (cf. p. 137, 1a coluna últ. § da ed. holandesa e p.
98, 2ª coluna, 1° § da ed. inglesa). O Diário de Mattheus van den Broeck (XLI, p. 26) dá o dia
20 de fevereiro como o da prisão.
306
Nieuhof (p. 137, 2a coluna, 1° §) escreveu, textualmente: [i]"Em forca-los caehiores
treidores";[/i] deu, também, tradução holandesa livre dessas palavras, a qual foi utilizada pelo
tradutor inglês (p. 98, 2a coluna, 2° §).
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Postos em liberdade
De lá para Portugal
Quando eles, então, se achavam sós, a bordo, com o piloto 308 e marinheiros,
navegaram para a terra, por vontade própria, contra a ordem do piloto, onde
encontraram o barqueiro Marten Pietersz Honing, que prometeu fazer com que
307
O tradutor inglês escreveu 7 de maio (cf. p. 138, 1a coluna, 7° § da ed. holandesa e p. 99,
1a coluna, 3° § da ed. inglesa).
308
O trecho "Quando eles, então." até "...Governador" foi traduzido do holandês, pela
infidelidade da tradução inglesa. (Cf. p. 138, 2a coluna, 2° § da ed. holandesa e p. 99, 1a e 2a
colunas da ed. inglesa). O tradutor inglês julgou que Moor fosse o nome do governador, talvez
pelo fato de haver Nieuhof escrito Provedor-Moor.
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[Quanto às ilhas Flamengas, trata-se, como se vê do próprio texto, das Ilhas dos Açores. Realmente, as
Ilhas dos Açores foram, durante muito tempo, conhecidos por Ilhas Flamengas. Afonso V doara a ilha do
Faial a sua tia Isabel, duquesa da Burgúndia e, desde então, houve um grande influxo de colonizadores
flamengos. E isso, naturalmente, foi devido ao domínio que o Duque da Burgúndia, Filipe-o-Bom, casado
com Isabel de Portugal, exercia sobre o Brabante e a Holanda, os quais adquirira por herança de sua mãe
em 1433. A Ilha Terceira era assim chamada, por ter sido a terceira a ser povoada.
Josua van den Berge, do condado de Bruges, foi encarregado da sua colonização; e outro flamengo,
Joost van Heurter, sogro de Martin Bahaim, colonizou uma outra dessas ilhas. Sobre essas ilhas,
consulte-se J. Mees: [i]"Histoire de La decouverte des iles Azores et de Vorigine de leur denomination
d'iles flamands". J. Lera 1901,[/i] Cf. sobre o nome A. Montanus, ed. 1671, p. 51 da Nieuwe en
Onbekende Wereld.]
Preparativos do Recife
309
Nieuhof escreveu "9 rijsedaelders" (p. 138, 2a coluna, 3° §). O nome certo é rijkdaalders,
moeda oficial de prata, valendo 2 e meio florins e era curso até a invasão da Holanda pela
Alemanha (1940).
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311
A cópia do original português desta carta encontra-se na Ver. do Inst. Arq. e Geog. Pern.,
1887, n. 35, p. 47-49.
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A RÉPLICA DO CONSELHO
De V. S.
etc. etc.
Nessa mesma noite, ante o aviso de que tropas inimigas haviam avançado até
Olinda, expediram-se ordens a todos os fortes adjacentes no sentido de
prepararem uma vigorosa defesa, bem como de se erigirem duas baterias por
detrás da senzala, de onde poderiam dominar as avenidas que, ao longo do rio,
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Assim foi que o Conselho, com seu infatigável cuidado, conseguiu pôr as
fortificações do Recife e suas adjacências em tão boas condições de defesa
que o inimigo, conquanto muito forte, não ousou tentar, então, qualquer ação.
O Senhor Dortmont tinha transportado para Itamaracá cerca de 1400 pessoas,
das quais 700 mulheres e crianças, e, por isso, precisava de abastecimento de
víveres. De resto, dispôs tudo muito bem na Ilha.
Por sua carta datada de Paraíba, 22, o Senhor Linge comunicou ao Conselho
que, depois da notícia que lhe fora transmitida da derrota do Coronel Haus,
julgara conveniente remover a guarnição e o povo de Frederica para os fortes.
Informava, ainda, o Senhor Linge, que os portugueses continuavam calmos e
que toda sua força consistia em 400 soldados, 100 civis e 50 brasileiros, entre
os quais havia bom número de doentes e feridos. Dizia mais, que os tapuias
haviam assassinado 12 ou 14 camponeses.
Não havia muito tempo que o Major Hoogstraeten, Ley e Hek informaram o
Conselho terem incendiado todas as casas, principalmente o armazém e a
igreja, fora do forte, para facilitar sua defesa e que o inimigo se havia instalado
no morro do Cabo e na Ilha que lhe ficava ao sul.
O Conselho achou indispensável voltar suas vistas para a situação dos fortes
do Rio São Francisco e Sergipe d'El Rei, os quais se achavam apenas
escassamente guarnecidos e tinham interrompidas as comunicações, tanto
entre eles mesmos, como com o Recife, e, portanto, em grave perigo de se
perderem; concluiu por isso o Conselho que, depois da derrota do Coronel
Haus, forçoso era tentar a salvação dessas guarnições, e, conseqüentemente,
de todo o Brasil Holandês, removendo-as para o Recife.
Albektus Oostermans,
L. Van Harkema,
Jan Denning,
Samuel Lambertsz314[314]
Hendrik Advocaet,
Frederick Pistor,
Haelmeister, Capitão,
René de Mouchy.
No último dia de agosto, o capitão de uma das duas barcas voltou e disse que,
tendo avançado pelo Rio São Francisco até cerca de uma milha do dito forte,
recebeu tão tremenda salva de tiros curtos, de um navio português repleto de
mosqueteiros, que se viu forçado a retroceder, já que não poderia prosseguir
rio acima. Disse ainda que, à vista disso, a outra barca não quis se aventurar
até Sergipe, achando melhor voltar com o Zeelandia. Afirmou mais o capitão
que, a menos que os nossos dispusessem de galeões ou iates bem
guarnecidos, seria muito difícil levar a bom termo uma tal missão.
314
[314] Nieuhof varia muito a grafia de Lambertsz: ora escreve Lambartz ora Lambertsz, ora
Lambertz, ora, ainda, Lambert ou Lambertszen. (cf. p. 145, 2ª coluna 2º §; p. 145, 2a coluna últ.
§; p. 146, 1a coluna 2° §; p. 146, 2ª coluna 3° §; e p. 148, 2ª coluna 1° §).
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À vista dessa informação, o Conselho deu ordem para que o iate Spreemv, e
três outras barcas se reunissem ao Zeelandia, a fim de tentar a execução do
plano.
Alguns navios enviados para o Rio São Francisco sob o comando de Willem
Lambertsz.
Relatório da expedição
315
[315] O tradutor inglês escreveu meia légua, quando se trata de meia hora, (cf. p. 146, 1a
coluna 2° § da ed. holandesa e p. 104, 2° coluna 4° § da ed. inglesa).
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Revolta na Paraíba
317
[317] Sobre as atividades de Fernão Rodrigues de Bulhões, convém ler as declarações por
ele feitas e que se encontram na Rev. do Inst. Arq. e Geog. Pern., 1888, n. 35, p. 50-51. Essa
cópia é traduzida do holandês. Nieuhof escreveu Ferdinando Rodrigues de Bulhans ou
Bailloux. (cf. p. 147, 2a coluna 3º §).
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PUBLICAÇÃO DE ANISTIA
319
[319] O tradutor inglês escreveu 2 homens de guerra e 2 pequenos navios (cf. p. 107, 1a
coluna 3° § da trad. inglesa e p. 149, 2a coluna da ed. holandesa).
320
[320] O tradutor inglês omitiu "com a aprovação do Tenente-Coronel Garts man" (cf. p. 107,
l." coluna 4° § da ed. inglesa e p. 150, 1a coluna 2° § da ed. Holandesa).
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Seu relatório
Mais ou menos três dias depois, isto é, a 23321, como já ficou dito acima, o
Senhor Bullestrate chegou no Deventer a fim de providenciar a defesa da praça
e manter a disciplina entre os brasileiros. Trouxe com ele alguns voluntários
escolhidos entre os civis, pois a guarnição do Recife estava já tão fraca que
dela não se poderia retirar mais soldados. Além disso, havia em Itamaracá
cerca de 400 brasileiros em condições de pegar em armas. O Senhor
Bullestrate havia recebido do Grande Conselho e do Conselho de Guerra a
incumbência de superintender tudo quanto se relacionasse com a defesa do
321
[321] Nieuhof escreveu dois dias depois, isto é, 23 (p. 151, 1a coluna, últ. §), enquanto o
tradutor inglês corrigiu, escrevendo três dias após. (p. 108, 1a coluna 3° §).
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forte Orange que deveria ser mantido a todo custo, caso não fosse possível
conservar toda a parte alta da ilha.
Mais ou menos por essa ocasião, o Conselho recebeu cartas de André Vidal,
por intermédio do Major Agostinho de Magalhães, datadas de 5 de outubro,
propondo a troca de prisioneiros. Dizia Vidal, em sua carta, que, tendo o
Almirante Serrão de Paiva pedido sua libertação, em duas cartas, desejava que
o mesmo fosse trocado por outros soldados ou resgatado por Antônio Teles da
Silva, Governador da Baía. Queria mais, que se fizesse um acordo pelo qual os
prisioneiros civis portugueses pudessem ser postos em liberdade mediante um
resgate razoável. A proposta não foi, entretanto, aceita pelo Conselho.
323
[323] O tradutor inglês omitiu a referência ao pregador Astetten (cf. p. 152, 2a coluna 4° § da
ed. holandesa e p. 109, 1a coluna 1° § da ed. inglesa). V. nota 261.
324
[324] Nieuhof não especifica, aqui, qual dos engenhos de Jorge Homem Pinto. Este era
judeu, rico proprietário na Paraíba dos engenhos do Tiberí às margens do rio desse nome e do
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Santo André (cf. Breve Discurso sobre o Estado etc. (XV, p. 156). [i]Os dois engenhos do Tiberí
distam,, entre si, obra, de um tiro de mosquete. Os portugueses chamam o de cima de
engenho de Santa Catarina e o seu proprietário é Jorge Homem Pinto. O outro São Filipe e
Jacó, foi vendido por Manuel Caresmo (Quaresma) Canero (Carneiro) a D. Haen, que o vendeu
a Jorge Homem Pinto. Depois é que, seguindo o Tiberí, encontramos o S. André; é este um
dos principais engenhos desta capitania; fica à margem do Paraíba; o seu proprietário é Jorge
Homem Pinto, Senhor do Tiberí[/i] (p. 251-252, XLI).
Jorge Homem Pinto era um dos grandes devedores da Companhia, não sendo, porém,
considerado como insolvável, por possuir [i]muitos engenhos e por serem seus fiadores
bastante bons.[/i] (Cf. Bolsa do Brasil, trad. por Geraldo Pauwels, Rev. da Sociedade de
Geografia, 1933, T. XXXVII, p. 46). A sua situação não se tornou muito boa mais tarde.
Possuía 9 engenhos (XCLI, p. 335) e tornou-se insolvível, o que motivou o acordo com a
Companhia, de que fala a Bolsa do Brasil.
Em 1645, libertou-se da responsabilidade contraída por esse acordo, passando-se para os
insurretos. (Bloom, XII, pp. 77 e segts.). No apêndice da obra de Bloom se vê que Jorge
Homem Pinto era devedor à Companhia da quantia de 1.245.160 florins, em 1661. (v. também,
p. 139 e segts., XI).
Passou-se para as forças rebeldes por ocasião da proclamação de Vieira, quando este
assegurou aos judeus os mesmos privilégios de que gozavam no período holandês. (Bloom. XI,
p. 140).
Em Vingboons, (XCVII) mapa da Paraíba, vol. II, menciona-se o engenho Tiberí.
Nieuhof confirma, aqui, a retificação que Rodolfo Garcia fez, ao mostrar que a hecatombe de
Cunhaú se verificara no domingo 16 de julho. (cf. Varnhagen, LXXII, Tomo III, p. 34, nota 59).
325
[325] O tradutor inglês escreveu julho de 1645, quando se trata de junho de 1645 (cf. p. 153,
1a coluna 5° § da ed. holandesa e p, 109, 1ª coluna últ. § da ed. inglesa).
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326
[326] O tradutor inglês escreveu 12 de novembro (cf. p. 109, 2a coluna, 2° § da ed. inglesa e
p. 153, 2a coluna últ. § da ed. holandesa).
327
[327] O tradutor inglês escreveu 100 homens (cf. p. 110, 1ª coluna, 1° § da ed. inglesa e p.
154, 2a coluna, 1° § da ed. holandesa).
328
[328] Nieuhof escreveu (p. 154, 2a coluna, 3° §) Coronel e Major. É um equívoco, pois tais
postos não existiam no século XVII e sim os de Mestre de Campo e Sargento-Mor (ver nota p.
290). Antônio Dias Cardoso era militar de primeira linha do exército, com praça de soldado em
1624 (cf. Biografia da A. J. Melo, Tomo I, p. 109). Foi para a Baía e lá voltou em 1645, com 45
soldados e logo foi nomeado sargento-mor de toda a gente do bando da liberdade (Calado,
XVII, p. 188). Como escreveu Varnhagen (LXXIII, p. 260), Antônio Dias Cardoso deve ser
considerado como o verdadeiro orientador militar da campanha, até a chegada de André Vidal
de Negreiros e, mais tarde, de Francisco Barreto de Meneses.
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329
[329] Na freguesia da Várzea existia o engenho de Francisco de Brito (cf. Breve Discurso,
XV, p. 150).
330
[330] O engenho de João de Mendonça estava situado na freguesia da Várzea (cf. Breve
Discurso, XV, p. 150).
331
[331] O tradutor inglês omitiu a data. (cf. p. 155, 2a coluna, 2° § da ed. holandesa e p. 110,
2a coluna, 3° § da ed. inglesa).
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Vieira, que Klaesz fosse preparar uma cilada contra forças nossas, em Salinas,
com uma força de 60 holandeses, composta de elementos tirados das quatro
companhias de holandeses a serviço dos portugueses. Como reforço,
destacaram mais quatro Companhias da reserva. Tendo-lhe sido confiado o
comando supremo dessas forças, Klaesz aproximou-se o mais que pode do
forte Bruin, com seus soldados holandeses. Ao raiar da aurora aproveitou a
oportunidade para atravessar o rio passando com seus homens (todos
desejosos de o seguir) para o nosso lado, no dito forte. O Conselho resolveu
então confirmar Klaes Klaesz no comando de sua companhia, que se dispôs a
entrar para o nosso serviço. Entretanto, logo que o inimigo percebeu que fora
traído, desarmou todos os holandeses, a pretexto de enviá-los para a Baía, e
passou-os todos a fio de espada, em caminho, juntamente com suas mulheres
e filhos.
332
[332] O tradutor inglês omitiu "de 1° do mesmo mês" (cf. p. 155, 2a coluna, últ. § da ed.
holandesa e p. 111, 1a coluna, 1° § da trad. inglesa).
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Sua Resolução
Batidos os portugueses
Consultas
335
[335] O engenho de Obu, situado no distrito de Araripe, pertencia a Francisco Lugo Brito; o
[i]engenho Araripe de Baixo, sob a invocação de Nossa Senhora do Ó[/i] pertencia a Francisco
Lopes Osório; também existia o [i]Araripe de Cima, sob a invocação do Bom Jesus,[/i]
pertencendo ao mesmo Francisco Lopes Osório. Nieuhof não precisa, aqui, qual dos dois
Araripes, foi preciso não confundir com o outro Araripe de Cima, que pertencia a Gonçalo Novo
de Lira e demorava em Iguassii (cf. Breve Discurso, XV, n. 34. 1887, p. 1B5, e quanto ao
segundo Araripe de Cima, p. 152; nota 239).
336
[336] Nieuhof escreveu Magrebbe (p. 159, 2a coluna). Pedro Poti era capitão na Aldeia
Miageriba, na Assembléia dos Índios reunidos em Itapesserica (cf. Souto Maior, LXXXVIII, p.
415).
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Seu resultado
Tomando em linha de conta esse aviso, e sendo de recear que o inimigo, não
resistindo ao assalto no Rio Grande, se retirasse para a Paraíba, ponderou-se,
a 29 de janeiro, se seria aconselhável persegui-lo, até a Paraíba, caso ele para
lá se dirigisse voluntariamente ou impelido pelas nossas tropas, tentando a
seguir, desalojá-lo também daquela Capitania. Entretanto, considerando que,
dada a fraqueza de nossas guarnições, não poderíamos mandar mais reforços
do Recife, de Itamaracá ou da Paraíba, sem que as nossas tropas nesses
lugares corressem grave risco; que, ao contrário, ao inimigo não faltavam
meios de reforçar as suas fileiras com elementos das adjacências; e mais, que
esperávamos a qualquer momento a chegada de socorros da Holanda,
resolveu-se não arriscar, numa empresa dessa ordem, todo o Brasil Holandês.
Mas, voltando ao Senhor Bas. Dizia ele em sua carta de 30 de janeiro, escrita
do Forte Keulen, que o Capitão Reimbach e sua força tinham atacado o inimigo
diversas vezes forçando-o a se retirar de Monpebú e Cunhaú para uma região
pantanosa sem entretanto ter conseguido forçar as posições contrárias.
Perdemos cerca de 100 homens entre mortos e feridos e as nossas forças se
retiraram para a casa de João Lostão com ordem de obter algum gado que já
se tornara bastante escasso pelas redondezas.338
338
[338] O número de feridos varia muito em diversos cronistas. Em Calado (XVII, ,p. 310 e
311), 74 holandeses mortos, 17 índios e 500 feridos, dos quais a maioria morreu em caminho;
do lado de Camarão, apenas 3 feridos. Rafael de Jesus avalia em 115 mortos e no demais
igual a Calado (XLIV, p. 447). Diogo Lopes Santiago (LXXXII, p. 409-411) afirma que os índios
de Camarão aproveitaram da vitória para o abastecimento de armas e munições. Do lado
holandês morreram o capitão comandante Reimbach, seu substituto Otto der Ville, e o
sucessor deste no comando, Breentsma, que ficou ferido. Segundo Santiago e o Jornal de
Arnhem (XXIX, p. 125), o combate verificou-se a 27 de janeiro. Rio Branco (LXXV, p. 75),
porém, assegura que se verificou a 26 de janeiro.
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Notícias da Paraíba
Diversas escaramuças
339
[339] O tradutor inglês escreveu 27 de fevereiro (cf. p. 162, 1a coluna, 3° ed. holandesa e p.
115, 1a coluna 1° § da ed. inglesa).
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341
[341] Nieuhof escreveu Tapesoque. Vingboons (XCVII, vol. II, mapa referente a Itamaracá).
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Prisão de Garstman
sob custódia, por ordem dos Altos Comissários da Justiça e Finanças aos 24
de abril e foi conduzido ao navio Hollandia. Entretanto, o Major Bayert, ficaria
no posto de Garstman, Jacob Rabbi, outrora, fora encarregado de estar no
meio dos tapuias, comissionado pela Companhia, para manter os tapuias em
amizade e boas disposições para com este governo; assim como ele já os
tinha, por várias vezes, conduzido das montanhas (onde eles habitavam), em
nosso auxílio. ele morava no Rio Grande, no forte Keulen, e era casado com
uma brasileira, embora fosse de ascendência alemã.
Seu depoimento
345
[345] O texto desde "Por causa disso." até "...os seus feitos" foi traduzido diretamente do
holandês. Além de omissões, contém erros como o de escrever 24 de março ao invés de 24 de
abril. (cf. p. 164, 2a coluna e 165, 1a coluna da ed. holandesa e p. 116, 2a coluna da ed.
inglesa).
346
[346] O tradutor inglês escreveu 40 homens (cf. p. 165, 2a coluna, 2° holandesa e p. 117, 1a
coluna, 3° § da trad. inglesa). da ed.
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Para resolver todas essas dificuldades, foi decidido a 3 de maio, 353[353] que se
despachasse imediatamente para lá o Senhor Bullestrate, membro do Grande
Conselho, com a missão de combinar com determinados particulares o
fornecimento de peixe à guarnição, bem como de tomar qualquer outra
providência que julgasse conveniente para os interesses da Companhia.
351
[351] O tradutor foi infiel neste trecho, (cf. p. 166, 2a coluna, 2° § da ed. holandesa e p. 118,
1a coluna 1° § da trad. inglesa).
352
[352] O tradutor inglês omitiu o número de brasileiros amotinados. (Cf. p. 166, 2a coluna 2°
§ da ed. holandesa e p. 118, 1a coluna 2° § da trad. inglesa).
353
[353] O tradutor inglês omitiu a data. (cf. p. 166, 2a coluna últ. §, da ed. hol. e d. 118, 1ª
coluna 2° § da trad. inglesa).
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Disse ainda o Senhor Bullestrate, que havia tentado contratar, com diversos
particulares, o fornecimento de pescado para o Recife, mas não o conseguira,
pois ninguém se dispusera a aceitar a encomenda, alegando que, tendo os
negros fugidos ou sido apanhados pelo inimigo, não mais podiam pescar, e o
pouco que apanhavam, vendiam prontamente na ilha, sem despesa de sal e de
transporte. O Senhor Bullestrate propôs, também, ao regedor dos brasileiros,
fornecer-lhes, de futuro, dinheiro ao invés de farinha e três redes com que
pescar para seu consumo próprio; ao que o comandante respondeu que ia
consultar sua gente, tendo-lhe dado esperanças de aceitar a oferta.
Desenvolvimento da pesca
Sua execução
Esse português declarou que o dito Vieira lhe havia entregue certo pergaminho,
escrito em linguagem cifrada, bem como uma caixa contendo diversos outros
papéis, para serem entregues ao inimigo, papéis esses que exibiu ao
Conselho. Rejeitando sua culpabilidade, João Vieira foi submetido à tortura.
Negou sempre, até que, encontrando-se entre os papéis a chave do código, as
cartas foram decifradas por um judeu. Nelas o autor fazia, ao inimigo, completo
relato de nossa situação e dava instruções para a conquista do Recife. Vendo-
se descoberto, o acusado confessou que havia escrito e entregue esses papéis
cifrados ao português, sendo por isso executado a 29 de maio.
354
[354] O tradutor inglês omitiu a data. (cf. p. 167, 2a coluna, 3° § da ed. hol. e p. 118, 2a
coluna 3° § da trad. inglesa).
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Ração de pão
355
[355] Este trecho, devido a omissões e lapsos foi traduzido diretamente do holandês desde:
"Visto que os mantimentos." até "... receberiam três libras como ração", (cf. p. 168, 1a coluna,
3° e 4° §§ da ed. holandesa e p. 119, 1a coluna da trad. inglesa).
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Assim foi que, para mais de 1200 brasileiros, em sua maioria mulheres e
crianças, cujos maridos e pais for am mortos em defesa da nossa causa,
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2 barris de aguardente,
2 galões de óleo,
1 moio de vinagre e
Ouvidos os dois majores, foram estes de parecer que, a vista de não prestarem
eles nenhum serviço extraordinário nos fortes, poderiam ser dispensados.
Assim e que a 14 de junho, o Conselho resolveu pagar-lhes os atrasados e
enviá-los de volta a Paraíba e ao Rio Grande, para seus antigos aldeamentos.
358
[358] Por engano de impressão ou do tradutor, esta escrito, na edição inglesa, 25 de junho
(cf. p. 171, 2a coluna 3° § da ed. holandesa e p. 121, 1a coluna 3° § da tradução inglesa).
359
[359] O tradutor inglês foi inteiramente infiel na enumeração dos presentes oferecidos a
Jandui. Assim, escreveu: 1) 100 canadas de vinho espanhol; 2) omitiu 2 galões de óleo; 3)
omitiu 1 moio de vinagre; 4) inventou 40 galões de óleo. (cf. p. 171, 2° coluna 5° § da ed.
holandesa e p. 121, 1a coluna 3° § da trad. inglesa).
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É abandonado o plano
O plano foi aprovado pelo Conselho, em parte para animar os nossos militares
e em parte para conseguir, pelo menos, algumas provisões para os doentes. A
execução do projeto foi marcada para o dia seguinte; entretanto, devido aos
ventos adversos, e posteriormente, às marés que não favoreceriam o
desembarque da tropa, a tentativa foi abandonada, principalmente quando se
verificou que em vez de 100 voluntários burgueses, apenas 25 se
apresentaram, a pesar de haver-lhes o Conselho prometido tratamento idêntico
ao dos soldados regulares, em caso de ferimento ou outro contratempo
qualquer.
Entretanto, tendo tido conhecimento, por alguns desertores de nosso lado, que,
com a partida dos brasileiros, as guarnições de Itamaracá ficaram
consideravelmente enfraquecidas, o inimigo resolveu aproveitar-se da
oportunidade e desembarcar naquela ilha uma força tal que jamais
pudéssemos expulsar.
Chegada de socorros
360
[360] O tradutor inglês escreveu: "um quarto por 80 a 90 florins". (cf. p. 175, 2ª coluna 1° §
da ed. holandesa e p. 123, 2a coluna 2° § da tradução inglesa).
361
[361] Sobre isso, consulte-se "Moedas obsidionais cunhadas no Recife em 1645, 1646,
1654". Rev. do Inst. Arq. e Geog. Pern., 1906-1907, vol. XII, p. 160-168. Esta foi a primeira
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Mais ou menos por essa ocasião, deu-se comigo estranho acidente: havendo
os navios da Companhia apreendido uma barcaça carregada de vinho, os
marinheiros se embriagaram a tal ponto que, ao procederem ao
descarregamento, no Recife, mal podendo fazer o seu trabalho, deixaram cair
um barril de vinho, do que resultou a morte de um homem, ficando vários
outros feridos. Dirigi-me ao local, a fim de restabelecer a ordem e impedir que
bebessem durante o trabalho e para prevenir outras desgraças. Logo que
entrei no navio, notei que todos os galões de prata do meu casaco negrejaram
e pouco depois fiquei inteiramente cego, para minha grande aflição. Depois de
alguns dias, a cegueira foi pouco a pouco desaparecendo e recuperei a vista.
Atribuo o fato à forte exalação do vinho, que tinha estado fechado por muito
tempo.362[362]
medalha batida no Brasil e precedida de pouco menos de um ano pelas famosas moedas
obsidionais, hoje das mais valiosas raridades numismáticas, conquanto os pormenores da sua
cunhagem até agora tenham permanecido quase ignorados, (id., p. 161).
362
[362] Este trecho, desde "Mais ou menos por essa ocasião." até "...por muito tempo", foi
traduzido diretamente do holandês, (cf. p. 176, 2a coluna 3° § da ed. holandesa e p. 124, 1a
coluna últ. § da trad. inglesa).
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Por essa ocasião surgiu uma divergência entre oficiais do Exército e da Milícia
Municipal com relação ao comando supremo da Guarda do Recife, que os da
Milícia reclamavam para si a sua instituição.
363
[363] O cargo de Advogado ou Pensionário era da maior importância política. Michiel van
Goch era pensionário de Vlissingen e, portanto, sua influência era restrita a este Estado. Mas o
Grande Pensionário era o diretor virtual e o árbitro da política do Estado. Duas grandes figuras
na história holandesa foram pensionárias da República: Oldenbarneveldt e Johan de With (cf.
XXXIII, p. 116). Heremijt era filho do conhecido navegante holandês. (Moreau, LIX, p. 104,
Varnhagen, XL1, p. 48); (cf., também, nota 163). Nieuhof escreveu Wolter Schoonenburgh (p.
177, 1a coluna últ. §) e depois Walter Schonenburgh (p. 179, 2a coluna 1° §). A relação
publicada em 1655 em Middelburgh e da autoria do mesmo traz escrito Wouter Schonenburgh.
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Nessa mesma noite o Coronel Schkoppe marchou com toda a força que
conseguiu reunir, tendo dado ordem para que as embarcações carregadas com
o material necessário para a construção das fortificações planejadas,
seguissem com a maré seguinte. Logo após sua chegada, o Coronel expulsou
o inimigo e tomou posse da Casa da Barreta. Imediatamente mandou pedir
instruções ao Conselho sobre se deveria permanecer nessa posição a noite
toda. O Conselho, com a aprovação do presidente Senhor Schonenburgh, para
lá mandou o Senhor Bullestrate a fim de inspecionar o lugar e apresentar seu
relatório. Este regressou na noite de 14 e informou o Conselho que encontrou
os trabalhos já tão adiantados e as fortificações em condições tais, que logo
estariam em condições de resistir aos ataques do inimigo.
365
[365] O tradutor inglês escreveu 30 de julho (cf. p. 178, 2a coluna, 4° § da ed. holandesa e
p. 125, coluna 3° § da tradução inglesa).
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Revista Geral
O dia 3 de setembro fora escolhido para uma revista geral das forças que
guarneciam os fortes, nas adjacências do Recife. O Senhor Haecxs e o
366
[366] Nieuhof escreveu Pojukus (p. 179, 1a coluna, 1° §). Trata-se de grafia estropiada, pois
o nome certo é Paiacús, do grupo Carirí. [i]Os Paiacús dominavam desde a ribeira do
Jaguaribe até a fronteira do Rio Grande do Norte, com a Paraíba, a serra Cirité. Revoltaram-se
mais tarde várias vezes e no século XVIII estavam aldeados em Jaguaribe.[/i] Alguns outros
chamavam-lhes Baiacús (cf. Rodolfo Garcia, XXXVII, p. 265). Estêvão Pinto, no mapa da
distribuição dos principais grupos indígenas do Brasil, localiza-os próximo dos Janduís,
também Carirís (cf. LXIX, entre as p. 150-151 e p. 151). Consulte-se sobre as sublevações
desses índios Pedro Carrilho de Andrade - Memória sobre os índios do Brasil, [i]in[/i] Rev. do
Inst. Hist. e Geog. do Rio Grande do Norte, vol. VII, 1909.
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A 13 de setembro, foi lida no Grande Conselho uma carta escrita por certo
Coronel português a 11 daquele mês, em resposta à nossa do dia 6, repleta de
inverdades e invencionices. Alegava que o povo impedia as forças portuguesas
de se retirarem para a Baía; que precisavam de navios para o seu transporte,
pois que os seus estavam detidos na Baía de Tamandaré, e, finalmente, que
precisava aguardar ordens do Rei, nesse sentido.
367
[367] Sobre as atividades de Matias Beck, como explorador, consultem-se os "Diários da
Expedição de Matias Beck ao Ceará em 1649", [i]in[/i] Rev. Trimensal do Instituto do Ceará,
1903, Tomo XVIII, p. 331-405, traduzido por Alfredo de Carvalho. Esse trabalho foi publicado
também no livro "Tricentenário do Ceará", 1903 (p. 333-417, com um mapa). Além disso,
Alfredo de Carvalho, em Minas de Ouro e Prata, [i]in[/i] Estudos Pernambucanos, Recife, 1907,
p. 31-34, ou [i]in[/i] Aventuras e Aventureiros, Pongetti, Rio, 1930, p. 123-125, referiu-se às
explorações de Matias Beck. À p. 124, nota 1 deste trabalho, na edição de Aventuras e
Aventureiros, afirmou Alfredo de Carvalho ter adiantada a tradução da correspondência de
Beck. Infelizmente, não sabemos se conseguiu terminar essa tradução antes de sua morte.
Consulte-se, também, Wätjen (XCVI, nota 283, p. 210). Sem nenhuma importância é o artigo
de Alfredo de Carvalho "Jazidas Auríferas do Ceará", [i]in[/i] Rev. Trimensal do Ceará, 1905,
Tomo XIX, p. 123. Nieuhof escreveu Matthias Bek (p. 180, 4° §).
Baltasar da Fonseca era um engenheiro judeu. Na célebre polêmica entre liberdade de
comércio e monopólio, Baltasar da Fonseca assinou, com outros judeus, um requerimento
dirigido ao governo, pleiteando a liberdade comercial, (cf. Bloom, XI, p. 127), Wätjen, XCVI, p.
448-475). Foi o construtor da ponte que ligava o Recife a Maurícia (cf. nota 44).
Duarte Gomes da Silveira era rico proprietário de engenhos. Não só na Descrição da Paraíba
de Herckmans (XXXIV, p. 265) como no Breve Discurso (XV, p. 157), fazem-se referências aos
engenhos em Herckmans e ao engenho [i]Inobi[/i] no Breve Discurso. Na relação dos engenhos
vendidos em 1637, (Rev. do Inst. Arqueológico e Geográfico Pernambucano, 1887, vol. 6, p.
196-197) consta, também, várias vezes o nome de Duarte da Silveira como comprador. Assim
é que comprou a Antônio de Sá, em 17 de junho de 1637, por 10.000 florins, o engenho Velho
de Beberibe, mais tarde denominado Eenkalchoven. (cf. também Pereira da Costa, O passo do
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Os fatos, sem dúvida, já os devem ter convencido das razões que nos levaram
a empreender esta guerra, e v sucesso que vimos obtendo prova à saciedade
que a Deus aprouve infligir esse castigo aos nossos inimigos pelas muitas
violências cometidas contra o povo deste país. Esse sucesso, entretanto, pode
ser, em grande parte, atribuído ao auxílio do povo, que, sacudindo o jugo de
seus opressores, espera de mim - que, indigno embora, sou o chefe supremo
desta guerra - apoio para sua heróica resolução. Não quero que V. S. ignore o
nosso poderio o qual, comparado ao seu, excede a tudo quanto se possa
imaginar. Direi apenas que, com a evacuação das Capitanias de Paraíba e
Goiana, as nossas fileiras foram consideravelmente engrossadas, e, assim, o
povo prefere antes perder seus haveres que suportar por mais tempo as
ignomínias que pesam sobre ele e que constituíram a verdadeira causa de sua
insurreição e não (como se faz crer entre os holandeses) porque não
pudessem satisfazer os seus credores, pois eles abandonaram mais do que
seria necessário para saldar seus compromissos.368[368] Todavia, se
Fidalgo, Rev. Inst. Arqueológico Geog. Pern., 1902, n. 56, vol. X, p. 61). A 17 de junho, o
engenho chamado Bom Jesus ou do Tripicho, pertencente a Dona Isabel de Moura, foi por ele
comprado por 60.000 florins e, finalmente, a 23 de junho, o engenho Novo, pertencente a Pais
Barreto, por 42.000 florins.
Duarte Saraiva foi também um dos que assinaram o pedido para que Nassau permanecesse
no Brasil, no qual pedido se oferecia a Nassau o estipêndio de 7.000 florins anuais, (cf. Bloom,
XI, p. 138).
Gaspar Franco da Costa foi um dos judeus que compraram carga de dois navios espanhóis
apreendidos pelos holandeses. Gaspar Franco da Costa comprou 338:2 florins. (cf. Bloom, XI,
p. 134).
368
[368] Tudo leva a crer que seja exata a afirmativa de que João Fernandes Vieira deixou-se
levar muito mais pelas dívidas que lhe pareciam insolváveis do que pelo programa de idéias de
liberdade divina. Depois da descoberta dos papéis inéditos relativos a fraudes e má fé de João
Fernandes Vieira, feita por Alberto Lamego, ficou comprovado o interesse econômico como
causa principal de ter Vieira se tornado restaurador. [i]Depois de pôr na Baía em mãos de
Antônio de Freitas da Silva, quantidade de dinheiros, jóias, prata, ouro, convidou alguns
homens nobres[/i] e [i]ambiciosos,[/i] devedores remissos da Companhia, a se levantarem
contra o domínio holandês. Os principais chefes são devedores da Companhia. Logo que
assumiu o poder militar, João Fernandes Vieira tornou-se um déspota. Explorava de maneira
pouco digna os moradores pernambucanos, fazendo-os trabalhar para ele, obrigando-os a
pagar para o sustento da guerra. (Cf. especialmente pp. 35 e 43 de LI).
Deste modo tornou-se claro que Vieira fez guerra para ele e para os de seu partido; isto é os
que queriam se libertar das dívidas assumidas.
Todas as desonestidades de Vieira foram expostas por Pereira da Costa e podemos resumi-las
nesta frase: "Converteu sua banca de despachos em balcão de bater moeda".
Varnhagen (LXXIII, p. 242); Oliveira Lima (Cartas aos papéis, inéditos, LI, p. 21; Afonso
Taunay, Anais do Museu Paulista, 1927, vol. II, P'. Manuel de Morais; todos foram unânimes
em atribuir a João Fernandes Vieira intuitos de ganho e não fé ou patriotismo. Aliás, comprova-
se facilmente que a guerra foi, para Vieira, um formidável roubo. Sobre isso, Pereira da Costa
publicou uma magnífica e bem documentada monografia, onde estuda a fabulosa riqueza que
logrou acumular João Fernandes Vieira. Trata-se do estudo: "João Fernandes Vieira à luz da
história e da Crítica", [i]in[/i] Rev. do Inst. Arq. e Geog. Pern., vol. XII, n. 67, 1906, p. 169-275.
Sobre as causas econômicas que levaram os senhores de engenho à luta, vide nosso capítulo:
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acontecesse que o povo não se pudesse manter pela força das armas, estaria
disposto a deixar as outras capitanias na mesma desoladora condição.
Dou-lhe a minha palavra em como tudo quanto disse não é senão a pura
verdade. E, não fora o respeito devido aos Coronéis vindos da Baía e à Sua
Majestade de Portugal, por esta época eu já estaria senhor do Recife e de
alguns dos fortes, ou pelo menos teria feito muito maiores estragos. Entretanto,
se as cousas não terminarem bem, estou resolvido a agir como um
desesperado e a não deixar nenhum engenho, gado ou negro no país. Porei
tudo em ruínas antes de ser de novo obrigado a render obediência aos
batavos. Servindo a presente de aviso, espero que V. S. e os demais
"A queda do domínio holandês", p. 275-307, [i]in[/i] LXXVII. Vide, também, "Verbas Inéditas do
testamento de João Fernandes Vieira", [i]in[/i] Rev. do Inst. Arq. e Geog., Pern., 1903-1904,.
vol. 11, p. 766-768, n. 25, p. 18-32; n. 26, p. 144-149 e Rev. do Inst. Hist. Geog. Bras., vol.
XXIII, p, 387-398.
Sobre atividades de Vieira posteriores à restauração, vide o artigo de Pereira da Costa, onde
se mostra como João Fernandes Vieira apropriou-se, no governo da Paraíba e de Angola, de
bens de ausentes, faltou ao pagamento de impostos, apoderou-se de moradas de casas
pertencentes à fazenda real (casas grandes, senzalas) e finalmente deixou de pagar o imposto
lançado pela Coroa para o pagamento estipulado no acordo entre Portugal e os Países Baixos.
Vide, ainda, "Deposição de Jerônimo de Mendonça Furtado, Governador de Pernambuco, Ano
1666, Anais de Bib. Nac. do Rio de Janeiro, 1935, vol. LVIII, 1939, p. 114. V., ainda, Carta dos
moradores de Pernambuco ao Dr. Pedro da Silva Sampaio, Rev. do Inst. Arq. e Geog. de
Pern., n. 35, p. 32-34.
Do lado holandês, consulte-se o vol. III dos Documentos holandeses, [i]in[/i] Inst. Hist. Geog.
Bras., onde se encontram várias referências às dívidas e a João Fernandes Vieira; e também a
Bolsa do Brasil, onde se encontra estipulado o abatimento feito pelo governo holandês às
dívidas do mesmo (Rev. da Soe. de Geog. do Rio-de Janeiro, Tomo XXXVII, 1933, p. 50).
Constitue documento importantíssimo a carta escrita por Hoogstraeten a Hondius, depois de
bandeado para os portugueses, e que se encontra traduzida em Mattheus van de Broeck. (XVI,
pp. 24-25).
369
[369] O tradutor inglês escreveu 800 negros (cf. p. 181, 2a coluna, 1° § da ed. holandesa e
p. 127, 2a coluna 1° § da tradução inglesa)
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Aos 24 dias do mesmo mês, foram feitas pelo inimigo proclamações de anistia,
em termos arrogantes, propondo um acordo acerca das dívidas; e muitas
outras indignidades, especialmente a de que os nossos deveriam deixar o país.
Forte Maurício, no Rio São Francisco em Penedo – Alagoas - 1671 - Arnoldus Montanus
À noite, quando me dirigia para bordo, o bote em que eu viajava virou devido à
violência da corrente, e não fosse eu bom nadador, por certo ter-me-ia
afogado. O capitão mandou atirar um cabo ao rio, com cujo auxílio, e mercê de
Deus, pus-me a salvo no navio.
370
[370] Na manhã de 9 de dezembro de 1646 chegou do Rio São Francisco a fragata
[i]Sterre[/i] com o cadáver do Almirante Jan Cornelisz Lichthart, que morreu repentinamente a
18 de novembro, estando em seu iate, naquele rio. (cf. XXIX, p. 213).
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Incêndio no acampamento
O Coronel ordenou-me que fornecesse novas roupas aos que tudo perderam,
fazendo o desconto relativo em seus soldos. Respondi-lhe, porém, que sendo
apenas um cumpridor de ordens, não poderia fazer tal fornecimento sem
autorização expressa do Conselho, pois alguns soldados pouco tinham a
receber. A 25 de dezembro fomos informados de que o inimigo começava a
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371
[371] No Diário ou Breve Discurso sobre a Rebeldia (XXIX, p. 215, 216) consta que a 27 de
dezembro deu-se o combate no qual morreram os Capitães Killian, Snijder, La Montagne, os
tenentes Jeronimus Halleman, Bailjaert de Flessinga, Cornaus de Haya, e o Alferes
Middelburgh de Swol; foram aprisionados Gyseling e o pregador Astetten (Moreau, LIX, p. 143);
entre os soldados mortos contam-se 19 da companhia do Capitão Schut; 34 da do capitão
Koin; 14 da do Capitão Kiliaen; 22 da do capitão Gyseling; 14 da do Capitão La Montagne; dois
índios e 9 oficiais, sendo ao todo 114 as perdas holandesas nessa luta. O tenente Jan Jansz
van Yssendijck, da companhia do capitão Gyseling e Adriaen Mebus, alferes do Capitão Schut,
largaram as armas em campo e, por isso, a 29 de dezembro as armas lhes foram quebradas
aos pés e eles condenados, como desleais, a voltar para a Holanda.
Esta derrota é lançada à conta do comandante La Montagne, que a ocasionou em razão da má
ordem que deu. Os Alferes La Pleur, Cornelis van der Voorde e Thomas Rames foram
considerados como bravos pelas ações cumpridas.
O trecho desde: "Por causa desta má." até "...o Coronel deu-lhes graça" foi traduzido
diretamente do holandês (cf. p. 185, 2a coluna 1° § da ed. holandesa e p. 130, 1a coluna 1° §
da tradução inglesa).
O tradutor inglês escreveu 7 anos (cf. id., id.). Nieuhof escreveu Lamontanje, Lamontagne, (p.
185, 1a coluna), e à p. 189, 1 1. La Montagne, e o Diário sobre a Rebeldia, La Montagne.
Varnhagen e Rodolfo Garcia seguindo o relato do Diário adotaram a grafia La Montagne. Em
face da variedade da grafia de Nieuhof preferidos seguir a do Diário.
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372
[372] O trecho desde: "Aos 28 de dezembro..." até "...Jeronimus Hellemans" foi traduzido
diretamente do holandês, pois a tradução inglesa omitiu duas colunas e meia (p. 187, 1a
coluna últ. § até p. 188, 2a coluna 1° § da ed. holandesa). Além disso, o tradutor inglês
cometeu erros de datas, de nomes e resumiu os trechos que traduziu (cf. p. 187, 1ª coluna últ.
§ até p. 189, 1a coluna, 1° § da ed. holandesa e p. 131, 1a coluna últ. § e 2a coluna, 1° e 2°
§§).
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dos prisioneiros portugueses para que eles falassem alguma cousa e quando
eles disseram de nada saber, foram igualmente ameaçados e intimados, pois o
novo governo fazia questão de tudo saber. Caso não o dissessem, a isso
seriam obrigados por meio da golilha. Declaram-lhes, igualmente, que Rodrigo
de Barros Pimentel já tinha sido inquirido e até castigado dessa forma.
Van Goch respondeu-lhe que já tinha ouvido, muitas vezes, tais calúnias, mas
que, até hoje, não tinham aparecido provas. ele julgava oportuno que fossem
citados por meio de cartazes todos aqueles que pudessem fazer algum
depoimento, para, deste modo, chegar-se a uma solução. Os senhores do
antigo governo responderam que eles não eram obrigados a isso e que nem
sequer era necessário expô-los ao escárnio do mundo; se, entretanto, alguém
tivesse qualquer cousa contra eles, podia depor e ser interrogado.
No dia 31, os senhores do antigo governo disseram a Van Goch que tinham
ouvido dizer que um certo Elbert Krispijnsz e Paulus Vermeulen tinham dito, na
noite passada, na praça, em companhia de Jacob, Quirijn Spranger e outros
que os altos comissários tinham deixado de prender João Fernandes Vieira e
outros; que eles tinham mandado prender Vieira por intermédio do Capitão
Denniger, mas que, posteriormente, haviam reformado a ordem, razão pela
qual Vieira escapara. E como fosse esta uma questão de grande importância e
não pudesse passar sem castigo, foi consultado pelo novo governo, a esse
respeito, o Capitão Denniger, que respondeu que nunca ouvira falar tal cousa,
mas que ele e outros, conforme o relatório apresentado, tinham sido, várias
vezes, enviados para prender Vieira e outros, conforme a ordem que lhes fora
dada pelos altos comissários. Tinham, para esse fim, aplicado todo o zelo e
dedicação. Nunca, porém, os encontraram, embora os houvessem procurado
em todos os lugares.
Denniger tinha dito a esse Krispijnsz, a 2 de janeiro de 1647, que ele estava
admirado pelo fato de se levantarem tão vis calúnias. Que não somente ele
com a suas tropas, mas ainda muitos outros oficiais, tinham percorrido os
campos e as florestas da região para investigar e encontrar gente. Que ele,
Denniger, testemunhava, assim como todos os outros oficiais, que os altos
comissários haviam feito todo o possível, constantemente, para manter boa
ordem em tudo e nunca haviam deixado de procurar os rebeldes e de fazer
todos o necessário para isso; ele e seus oficiais estariam sempre prontos a
prestar declarações, quando fossem solicitadas. Isso declarou Denniger diante
do notário Indijk, no Recife, no ano de 1647, a pedido dos altos comissários
Hendrik Hamel e Adriaen Bullestrate.
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No dia 5 do mesmo mês, o Conselho recebeu outra carta do Rio São Francisco
que dizia: como a nossa gente dali tinha enviado uma tropa de 5 companhias
de brasileiros para Orambú, para atacar uma tropa inimiga, que ali estava
acampada; dizia também que logo à chegada dos nossos, apareceu uma tropa
inimiga de cerca de 100 cabeças, a qual foi atacada pelos nossos e fugiu. Mas
perto desse lugar, o inimigo tinha um acampamento com algumas centenas de
homens, que atacaram os nossos e fizeram com que recuassem, deixando
para trás cerca de 150 homens, cinco capitães, três tenentes e alguns outros
oficiais, dos quais morreu um capitão. Os capitães prisioneiros eram Samuel
Lambert, La Montagne, Gerrit Schut, Kiliaen Snijder, Daniel Koin; o tenente
Joost Koyman, Antony Baliart, Jeronimus Hellemans, com um porta-bandeira.
Notícias da Paraíba
Levantamento do cerco
374
[374] O tradutor inglês omitiu a data 24 de dezembro (cf- p. 190, 2a coluna, § da ed.
holandesa e p. 132, 2a coluna 3° § da tradução inglesa).
375
[375] Na edição holandesa o autor enumera os fortes e a sua localização, e, depois,
enumera-os de novo, declarando, então, o seu equipamento. O tradutor inglês, com o fito de
evitar a repetição, enumerou-os, dando-nos a localização e o equipamento de uma só vez. (cf.
p. 191, 1ª e 2a colunas da ed. holandesa e p. 131, 1a coluna da trad. inglesa). Cometeu,
porém, o tradutor inglês um equívoco ao escrever sobre o forte Triangular que "o segundo era
provido de 14 canhões de bronze", pois tal não existe na ed. holandesa, (cf. p. 191, 2a coluna
2a linha da ed. holandesa e p. 133, 1ª coluna 31a linha da trad. inglesa).
Encontra-se no Breve Discurso (XV, p. 179-189) outra minuciosa descrição dos fortes em
posse dos holandeses
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O forte Restinga, situado na ilha do mesmo nome, no Rio Paraíba, armado com
quatro canhões de bronze e cinco de ferro;
No Recife:
Sergipe d'El Rei, Rio São Francisco e Porto Calvo, reduzidos pela fome, foram
demolidos pelos portugueses cientes de que os nossos não poderiam lá se
manter sem construir novas fortificações o que não se conseguiria sem
grandes despesas. Junto a ponta de Tamandaré, onde os portugueses
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Por essa ocasião o inimigo tinha já de tal forma apertado o cerco do Recife, por
terra, que mal podíamos arriscar um olhar para fora dos portões. Certo cidadão
português havia nos preparado surpresa ainda pior, pois convidara todos os
nossos chefes militares para o casamento de sua filha, a fim de que, durante a
cerimônia, o inimigo surpreendesse a cidade. Todavia, o plano foi descoberto
em tempo por alguns portugueses e judeus que o fizeram frustrar.
376
[376] O tradutor inglês escreveu Frederick William (p. 133, 2a coluna, 2° §); não existiu forte
algum com este nome, pois havia o forte Frederick Hendrik ou Quinquangular ou o Forte Prins
Willem (Príncipe Guilherme). O autor escreveu Vijfhoek, isto é, Quinquangular (p. 192, 1a
coluna)
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Medonha cena
Foi então que tive ocasião de assistir uma cena horripilante: certa moça,
sobrinha do falecido Almirante Lichthart, quando em visita a uma sua
conhecida recentemente casada, teve ambas as pernas decepadas por uma
bala de canhão que, ao mesmo tempo, matou no lugar a recém-casada. Aos
primeiros gritos das vítimas, corri ao local - pois morava nas vizinhanças - e
presenciei o martírio dessas pobres criaturas. A moça agarrou-se às minhas
pernas com tal fúria, que dificilmente consegui tirá-la. Era um espetáculo
compungente ver-se o soalho coberto de membros dilacerados dessas pobres
vítimas. A moça também morreu três dias depois. Logo após essa
impressionante ocorrência, por pouco escapei de idêntica sorte, pois,
conversando com algumas pessoas, quando estava de ronda, duas delas
foram atingidas por um tiro de canhão que as abateu imediatamente. Uma
terceira teve ambas as mãos decepadas, no momento em que acendia o
cachimbo. Removemos do porto todos os navios, receando que fossem os
mesmos postos a pique. Por essa época o Coronel Schkoppe havia
conquistado e arrasado Itaparica de onde apenas 2000 portugueses
conseguiram fugir. Contudo, os vários encontros mal sucedidos que tivemos
com os portugueses reduziam diariamente as nossas forças, ao passo que as
deles aumentavam. O Coronel Schkoppe teve ordem de determinar ao Coronel
Hinderson que abandonasse o Rio São Francisco e fosse se ajuntar a ele em
Itaparica. Entretanto, de pouco valeu o expediente, pois logo tivemos que
abandonar Itaparica para socorrer o Recife.
377
[377] Nieuhof deixou de relatar a primeira batalha de Guararapes, fazendo apenas
referência à derrota que, no ano anterior, haviam sofrido os holandeses. O tradutor inglês
inventou, porém, a data de 15 de janeiro de 1647 (cf. p. 195, - está 195, mas deve ser 193 - 2a
coluna 3° § da trad. inglesa).
A primeira batalha verificou-se no domingo da Páscoa, dia 19 de abril de 1648. As forças
brasileiras compunham-se de 2.200 homens dirigidos por Francisco Barreto de Meneses e os
holandeses, chefiados por Sigemundt Schkoppe, de 4.500 homens. Essa é a melhor cifra,
aceita por Netscher (LXIII, p. 158), Barão do Rio Branco (LXXV, p. 291), Wätjen (XCVI, p. 264),
Souto Maior (LXXXVIII, p. 382), Varnhagen (LXXII, p. 59, 61). Souto Maior (LXXXVIII, 382-391)
mostra-nos que Haecxs calculou as forças holandesas em 5.000 e as nossas em 3.000. De
With, em 5.500 as holandesas e as nossas em 2.350 (cf. Relatório do Presidente e
Conselheiros aos Altos e Poderosos Senhores, 22 de abril de 1648, Liassen Staten-General
Westindische Compagnie, n° 5775). O relatório de Haecxs foi publicado por Naber (cf.
Prefácio). Entre os nossos, Rafael de Jesus (XLIV, 369-570) calcula em 7.400 soldados, 1.400
negros, 700 gastadores, ao todo, com escravos, etc, 12 a 13.000 homens e os nossos em
2.500. Fernandes Pinheiro (LXVIII, p. 317) calcula em 4.500 soldados e 150 tapuias da parte
holandesa.
Variam, também, os cômputos dos feridos e mortos; mas o certo é, sem dúvida, o dado por
Varnhagen (LXXII, p. 62), isto é, 515 mortos e 523 feridos, sendo 74 oficiais fora de combate.
Rodolfo Garcia confirmou a relação dada por Varnhagen, ao transcrever o ofício do Supremo
Conselho no Recife aos Estados Gerais, datado de 22 de abril de 1648; esse documento
encontra-se entre os Documentos Holandeses coligidos por Caetano da Silva na Holanda;
encontram-se aí especificados os nomes dos oficiais mortos e os soldados pertencentes às
respectivas companhias (LXXII, p. 75-79, nota VII de Rodolfo Garcia). O Barão do Rio-Branco
aceita o mesmo relato. Wätjen e Netscher (XOVI e LXIII, pp. 264 e 158 respectivamente)
calculam em 470 mortos e 523 feridos. Handelmann (XL, p. 247-248) avalia em 400 mortos e
500 feridos; finalmente, o sempre inexato e hiperbólico Rafael de Jesus (XLIV, p. 594) em
1.200 mortos, entre os quais 180 oficiais. Entre os brasileiros, 84 mortos e 400 feridos (Barão
do Rio Branco, LXXV, p. 291). Rodolfo Garcia (LXXII, p. 79, nota VII) baseou-se no relato oficial
de Francisco Barreto (Rev. do Inst. Hist. e Geog. Bras., 56, parte 1, 71/75). J. F. Pinheiro
(LXVIII, p. 321). Handelmann exagerou as nossas perdas, calculando-as em 500 brasileiros
entre feridos e mortos (XL, p. 248).
Quanto à segunda batalha de Guararapes, que Nieuhof datou de 16 de abril, laborando em
erro, verifica-se que o tradutor inglês piorou o erro, marcando-lhe a data de 16 de maio (cf. p.
193, 2a coluna 4." § da ed. holandesa e p. 134, 2a coluna 23ª linha da trad. inglesa). Sobre
essa segunda luta, variam também os cálculos sobre os efetivos e os mortos, parecendo-nos,
porém, que os melhores foram os feitos por Varnhagen e Rodolfo Garcia. Segundo o Barão do
Rio Branco (LXXV, p. 146, 147), as nossas forças compunham-se de 2.750 homens e as dos
holandeses de 4.200 ou, segundo os escritores portugueses, 6.000. Rafael de Jesus (XLIV, p.
618) calcula em 5.000 homens; as perdas foram em número de 1.800, contando com índios,
pretos, marinheiros e feridos; e os brasileiros 60 mortos e 250 feridos. Essas cifras de mortos e
feridos estão exageradas, pois, segundo Varnhagen (LXXII, p. 94), os holandeses perderam
1.045 homens e os nossos 45 mortos e duzentos feridos. Rodolfo Garcia, nota II a p. 128-39)
mostrou que as perdas holandesas montaram a 1.044 e as nossas ele as calculou no mesmo
número que Varnhagen. Segundo documento Lyste vande hoge ende lage Officieren
mitsgaders de gemeene soldaten dewelcke in Batalie teghens de Portugiesen aenden Bergh
van den Guararapes (3 mijl varít Redf) doot zijn gebleven op den 19 Fehruarius 1649 (isto é
Relação dos Oficiais, sub-oficiais e soldados rasos que caíram mortos a 19 de fevereiro de
1649, na batalha contra os portugueses no monte dos Guararapes (3 milhas do Recife),
existente na Bib. Nacional, Miscelânea, IV, 428, n° 139 do Catálogo da Exposição Nassoviana,
1929, vol. LI, 1938, o número das perdas holandesas foi de 1.043. Do lado holandês, deve-se,
portanto, comparar esta lista (Anexo II) pela primeira vez publicada, com a que se encontrava
nos Documentos Holandeses, vol. 4, fls. 198-201, publicada por Rodolfo Garcia LXXII (nota II a
p. 128-139). Do lado brasileiro, a Relación de Ia Victoria que los portugueses de Pernambuco
Alcançaron de los de la Compania dei Brasil en los Garerapes a 19 de Febrero de 1649,
Traducida dei Aleman, publicada en Viena de Áustria, Ano 1649 (B. Nacional, IV-211,2,19 (3),
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São derrotados
Essa foi a última tentativa que poderíamos ter feito em campo aberto. Todos os
nossos cuidados futuros se concentrariam na manutenção e defesa do Recife,
a menos que recebêssemos novos reforços da Metrópole. Entretanto, sendo
assaz demorada a remessa de recursos, começou-se a recear que, se Deus
Onipotente não nos enviasse algum alívio repentino, seríamos finalmente
forçados a abandonar também aquela praça à mercê do inimigo. O Grande
Conselho atirou a responsabilidade dos últimos desastres sobre o Conselho de
Guerra e este, por sua vez, alegou que a tropa estava mal equipada e há
tempos não recebia soldo. Quanto a mim, vendo que as cousas iam de mal a
pior, achei que o melhor seria pedir um passaporte para voltar à Holanda,
documento esse que só com grande dificuldade consegui. Pus-me então a me
preparar para a viagem.
Entretanto, antes de deixar o Brasil, desejo dar ao leitor rápida notícia dos
produtos do país.
FLORA BRASILEIRA
A raiz de mandioca
10 pp., publicada na Rev. do Inst. Hist., Geog. Bras., vol. 22, p. 331-337; e nos Anais da Bib.
Nacional, vol. 20, p. 153-157.
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378
[378] Nieuhof não foi absolutamente original neste trecho referente à Mandioca. Em alguns
trechos se baseia em Marcgrave ou em Piso, e, em outros, copia literalmente o que
escreveram os mesmos. Os capítulos plagiados são: De Piso:Capítulo II do livro IV - De
Mandioca (p. 52-55); de Marcgrave: o capítulo IV do livro II (p. 65-68). Indicaremos nos
respectivos lugares os trechos plagiados. Não sabemos o motivo que terá levado Wátjen
(XCVI, p. 445) a afirmar que a melhor descrição da Mandioca foi a feita por Nieuhof. O curioso
é que ele não desconheciao trabalho de Piso e não ignorava a descrição de Barlaeus. Pondo
de lado o trabalho de Barlaeus, que se utilizou de material acumulado por outros, é de se
admirar tal afirmação, pois melhor do que a descrição de Piso, só a de Marcgrave. E isso
admitindo ainda a originalidade de Nieuhof, que, como sabemos, é inexistente. Cabe,ainda,
acrescentar que a tradução alemã feita por Wätjen da descrição da Mandioca de Nieuhof, além
de resumida, contém lapsos (cf. p. 283-284 da ed. alemã Das [i]hollandische Kolonialreich in
Brasilien.[/i] Haia e Gotha, 1921, ou p. 445-446 da trad. Brasileira, XCVI). Em Piso (LXX, 52),
Maniiba & Mandioca: em Marcgrave (LXX, 65), Mandijba & Maniiba, Mandioca; (Vide sobre os
nomes diferentes Hoene,CHI, p. 205). Em Soares, Mandioca (LXXXVI, p. 186-188); em
Gandavo (XXXVI,p. 43 e 95); Cardim (XIX, p. 60). Em Abbeville (XXXVIII, p. 46), Manioch; era
Léry (LII, p. 112), Maniot; segundo Batista Caetano não é fácil explicar a etimologia desta
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caule, que se caracteriza por numerosos nós, não excede de uma polegada de
diâmetro, mas atinge a seis e às vezes sete pés de altura: daí brotam diversos
ramos que, por sua vez, produzem galhos mais finos de onde nascem as folhas
já descritas. A planta dá uma florzinha amarelo-claro, com apenas cinco
pétalas, dentro das quais se notam tênues filamentos que, finalmente, se
transformam em sementes. A raiz, mandioca, assemelha-se ao nabo em
formato, mas tem dois ou três pés de comprimento e mais ou menos a
grossura de um braço. Sua casca parece-se com a da aveleira, mas sua polpa
é branca e produz um suco que faz mal aos animais. Essa planta prolifera em
terreno seco, adusto e arenoso, e tal é a sua natureza, que se torna necessário
plantá-la somente durante o verão, quando mais se beneficia do efeito solar.
Para o seu plantio, abatem o mato, tanto no morro como nas planuras, por
meio de queimadas, e depois preparam o solo. Essas plantações são
denominadas, pelos brasileiros Co, pelos portugueses Roça ou Chokas e pelos
nossos Rossen. As plantações desenvolvem-se em montículos como os que
fazem as toupeiras; a eles chamam os portugueses Monte de Terra Cavada, e
os brasileiros Cujo 379.[379] Esses pequenos cômoros distanciam-se cerca de
dois pés e meio um do outro e têm mais ou menos três pés de circunferência
por meio de altura, de maneira que as águas pluviais se escoam facilmente.
Em cada um desses montículos, plantam-se, geralmente, três hastes de
mandioca, de 9 ou 10 polegadas de comprimento, ou mesmo de um pé, sem
folhas. Essas hastes logo brotam e dão novas folhas, produzindo, finalmente,
outras raízes que não podem ser transplantadas, porque, tão logo são
desenterradas, apodrecem e cheiram mal. Cerca de 10 dias depois de fincadas
no chão, essas hastes produzem tantos novos ramos quantos nós têm. Os
novos galhos têm o comprimento de um dedo e deles brotam muitos outros
menores, arroxeados. As plantações precisam ser capinadas três ou quatro
vezes ao ano, pois o mato cresce em abundância no mandiocal, asfixiando-o
antes que se desenvolva completamente. Os galhinhos e as folhas da
mandioca são, em geral, terrivelmente infestados de formigas. Também as
cabras, o gado, os cavalos e os carneiros apreciam as folhas da mandioca, e,
por isso, as plantações precisam ser cuidadosamente cercadas com moirões e
ramos de árvores. As abelhas e vários outros insetos brasileiros também
atacam esse arbusto que, entretanto, ainda mesmo quando totalmente despido
de sua folhagem, nada sofre, desde que fiquem intactas as raízes. Estas não
atingem o seu desenvolvimento máximo antes de um ano; entretanto em caso
de necessidade, podem-se desenterrá-las com seis meses de idade, mas,
nesse caso, é reduzido seu rendimento em farinha. Cada pé produz duas, três,
quatro e até vinte raízes, conforme a fertilidade do solo, e quando estão
maduras conservam-se por dois ou três anos em baixo da terra. Entretanto, ao
cabo de um ano é bom colhê-las, pois, caso contrário, muitas delas podem se
dicção, que se acha modificada em outras línguas; não resta dúvida que vem do abafieenga;
os vocabulários não a registram (III, p. 216, 127). Mandiiba segundo o mesmo autor (XLVI, p.
216) é nome da árvore da mandioca; registra também (III, p. 217) manib - como árvore de
mandioca.
Maniçoba em Piso (LXXI, p. 116). Segundo Batista Caetano (III, p. 216), mandiiçob ou maniçob
= folha de mandioca.
379
[379] Em Marcgrave (LXX, p. 66) qui Brasiliensibus vocatur Co, Lusitanis Eoza. Cô,
segundo o Dicionário Português-Brasiliano (XXX, p. 223), significa roça,quinta, sítio.
Em Marcgrave (LXX, p. 66), [i]Terra elaborata efformatur in monticulos, Lusitani voeant[/i]
Monte de terra cavada, Brasilienses Cujo.
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Preparação da farinha
380
[380] Em Marcgrave (LXX, p. 66) Mandiibimana e Mandiibparata.
381
[381] Em Marcgrave (LXX, p. 66) Rota haeo vocatur Brasiliensibus Jbecem Babaca
Lusitanis Roda de farinha.Etim. talvez de Ibecê = aquilo que rala ou lima (Batista Caetano, III,
p. 188) + babaca, ger., revirando, ou para revirar (B.Caetano, III, p. 56) = aquilo que rala
revirando.
382
[382] Em Marcgrave (LXX, p. 66) [i]Linter qui excipit rasurum vocatur Brasiliensibus
Mieecaba Lusitanis Coche de ralar Mandioca.[/i] Deve ser cocho de ralar mandioca. Em Batista
Caetano (III, p. 265), Mêguâ - o que se introduz, s. o receptáculo.
383
[383] Em Piso (LXX, p. 53), Tapiti. Em Staden (LXXXIX, p. 141), tippiti. Em Soares (LXXXVI,
p. 189), tapeti; segundo Varnhagen (LXXXVI, p. 458, nota 114), a pronunciação tipeti ou
aportuguesadamente tipitim, temo-la por mais conforme à dos indígenas do que a de tapeti,
tapetim. Segundo Batista Caetano (III,p. 529) tipiti - prensa.
384
[384] Em Marcgrave (LXX, p. 66) Miamiama dos Brasileiros e Espremedouro de Mandioca
dos Lusitanos. Em Batista Caetano (XLVI, p. 267), a etim. da palavra é miami, espremido,
ordenado, daí miamiama, prensa, espremedouro de mandioca em tupi.
385
[385] Em Marcgrave (LXX, p. 67) também Manipoera dos Brasileiros e Água de Mandioca
dos Lusitanos. Em Piso (LXX, p. 53), Manipuera. Em Schmie del, Mandeboere [i](in[/i] Hoehne,
XLII, p. 70). Manipuera é o suco tóxico extraído da mandioca ralada, quando se faz farinha.
Segundo Batista Caetano (III, p. 216), Mandiopuera e mandípuera em tupi, vulgo manipuera.
386
[386] Em Marcgrave (LXX, p. 67) Vrupema dos Brasileiros e Joeira dos Lusitanos. Em
Soares (LXXXVI, p. 193) urepema "que é como joeira". No Dicionário Brasileiro (XXX, p. 291)
peneira; Varnhagen (LXXXVI, p. 458, nota 114) anotou outras grafias.
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387
[387] Em Marcgrave (LXX, p. 67), Vimovipada dos Brasileiros, e Forno de Farinha dos
Lusitanos. Em Batista Caetano (III, p. 553) ui moyípáb, forno de farinha. Em Hans Staden
(LXXXIX, p. 143), yneppaun. Teodoro Sampaio (LXXXIX, p. 143, nota 118) explica a palavra,
como significando forno. Dicionário Bras. (XXX, p. 290), Vipucuitaba. Em Marcgrave (LXX, p.
67), a espátula Vipucuitaba dos Brasileiros.
Vitinga - Em Marcgrave (LXX, p. 67). Vitinga dos Brasileiros, farinha ralada dos Lusitanos.
Segundo o Dicionário Bras. significa Vitinga ou Uitinga, farinha meio moída, branca. Batista
Caetano (III, p. 553) registra uiti, farinha branca, farinha torrada. Era, segundo Marcgrave,
usada contra a úlcera.
[i]Viata e Vicica.[/i] Em Marcgrave (LXX, 67) [i]Viecacoatinga, integre autem decaia, ita ut
durare possit vocatur Viata & Vicica, Lusitan. farinha seca, farinha da guerra...[/i] Hans Staden
(LXXXIX, p. 142) registrou V. y. than, que foi anotado por Teodoro Sampaio: uitã = farinha dura.
A farinha de guerra foi descrita por Soares (LXXXVI, p. 194). Cardim (XIX, p. 61). Gandavo
(XXXVI, p. 44 e 95). A farinha de guerra não era somente usada pelos índios quando faziam
algumas jornadas, mas também como matalotagem pelos navios que da Baía seguiam para
Portugal (LXXVIII, p. 38).
388
[388] Em Staden byyu (LXXXIX, p. 142). Teodoro Sampaio (id., id., nota 116) explicou que a
palavra vem do tupi mbeyú, que quer dizer o enroscado, o enrolado. Hoje, vulgarmente, beijú.
Em Vicente Salvador (LXXVIII, p. 37), beijús "que é muito bom mantimento e de fácil digestão".
Em Soares (LXXXVI, p. 189): afirma que é mantimento que se usa entre gente de primor, [i]o
que foi inventado pelas mulheres portuguesas, que o gentio não usava deles.[/i] Gandavo
(XXXVI, p. 44 e 95). Cardim (XIX, p. 62). Batista Caetano (III, p. 229) registra mbeyú, s. bolo ou
filo de farinha torrada. Existia uma espécie mais grossa, muito torrada de beijús, que
costumavam levar para o mar (LXXXVI, p. 195). Em Marcgrave (LXX, p. 67), Bejü.
389
[389] Este trecho foi, talvez, copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que também registra:
"Tipioja, Tipiaca & Tipiabica; Tipiocui".
390
[390] Marcgrave (LXX, 67) registra a Marmelada de Mandioca, feita com adição de arroz e
açúcar, enquanto que Nieuhof acrescenta ainda água flor de laranjeira. Piso (LXX, 54) fala
também na flor de laranjeira. Isso faz crer que o arroz fosse usado no nordeste no séc. XVII.
391
[391] Este trecho foi, talvez, copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67). Piso(LXX, p. 54).
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Tapurú, pelos brasileiros392. Entretanto, sabe-se por experiência, que ele perde
as qualidades daninhas depois de 24 horas. Muitos brasileiros fervem-no e o
consomem livremente. Pode-se também cortar a raiz da mandioca em fatias,
logo depois de colhida, e deixá-las de infusão em água durante três, quatro ou
cinco dias até começar a amolecer. Chamam-se então Puba, Mandiopuba ou
Mwniopuba393 .Os selvagens que habitam os desertos e as florestas, torram na
cinza essas fatias e comem-nas, sem muito trabalho. A mesma Mandiopuba,
torrada ao fogo, é chamada Kaarima, e depois de moída em pilão de madeira
toma o nome de Kaarimaciu 394.Com esta farinha fazem uma papa em água
fervente que, temperada com um pouco de pimenta brasileira, chamada Quiya
ou flor de Nhambi, constitui delicioso prato, principalmente quando servido com
carne ou peixe, caso em que se chama Mingui-pitinga395 e é considerado pelos
brasileiros uma de suas mais finas iguarias. E' também muito saudável, pois
essa Kaarima cozida juntamente com flor Tipiaka 396 em água de flor da
laranjeira e açúcar até adquirir a consistência de um xarope constitui um bom
antídoto. Fazem, também, uma espécie de goma, com a farinha chamada
Kaarima, a que dão o nome de Mingaupomonga397 preparam, ainda, bolos
magníficos a ela adicionando água, manteiga e açúcar. Com os resíduos da
mandioca, ou raiz Mandiopuba de infusão na água, preparam uma farinha
semelhante ao miolo do pão, a que os brasileiros chamam Vipuba e Viabiruru e
os portugueses farinha fresca e farinha d'água398 . É muito saborosa, mas, não
dura mais que 24 horas. Se, entretanto, se fizerem bolas ou rolos umedecidos,
deixando-os depois secar ao sol, a farinha d'água conserva-se por muito
tempo. A esta última forma chamam Viapuâ e Miapeteka. Os tapuias, e quase
todos os outros brasileiros, preparam-na assim, e depois misturam-na com
outra farinha chamada Viata 399,que lhe dá um paladar ainda mais agradável.
392
[392] Este trecho é, também, copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que registra: Tapurü.
393
[393] Este trecho é, talvez, copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que registra: Mandiopuba
& Maniopuba. Piso (LXXI, p. 116) registrou Puba; e (LXX,p. 54), Mandiopiba.
394
[394] Este trecho é, talvez, copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que registra:
"Mandiopuba; Caarimâ e Caarimâciu". Piso (LXX, p. 54).
395
[395] Este trecho referente ao Mingau é copiado de Marcgrave (cf. LXX, p.67), que registra:
"Quiya e Minguipitinga". Em Piso (LXX, p. 54), Mingau-petinga; Piso (LXXI, p. 116) registra a
flor Nhambi.
396
[396] Marcgrave (LXX, p. 67) não a menciona; Piso (LXX, p. 54) registra Tipioca.
397
[397] Este trecho foi copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que registra:farinha de Caarima
e Mingaupomonga.
398
[398] Este trecho foi, também, copiado de Marcgrave (f. LXX, p. 67), que registra:
Mandiopuba; Vipuba & Viabiruru; Farinha fresca & Farinha d'água. Em Piso (LXX, p. 54),
Vipeba.
399
[399] Este trecho foi copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que registra:Viapuâ, Miapeteca
e Viatâ.
400
[400] Este trecho foi copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67); Tina & Mixacuruba.
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401
[401] Este trecho foi copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que registra: Tipirati; Miapeatâ.
402
[402] Este trecho foi copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67), que registra: Aipimacaxera;
Cavimacaxera; Caon Caraxu.
403
[403] Este trecho foi copiado de Marcgrave (cf. LXX, p. 67) que registra: Aipimacaxera.
404
[404] O tradutor inglês não foi fiel (Cf. p. 202, 2a coluna da ed. holandesa e p. 138, 1a
coluna da trad. inglesa).
405
[405] Trata-se da Vitinga, pois Marcgrave (LXX, p. 68) ao escrever sobre o uso da mandioca
na Medicina afirma que a [i]Vitinga[/i] sara as úlceras.
406
[406] Compare-se com o cap. VII, p. 68, de Marcgrave (LXX), onde ele dá os diferentes
nomes da planta em diversos países (Yuca, Cazave, Quauhcamotli) e afirma que a planta é
originária do Continente Americano. A mandioca é nativa no Continente Americano e tem o seu
centro no Brasil meridional e central. Cf. Hoehne, p. 30, XLII.
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Desde a guerra de 1645, o preço da farinha subiu para seis, sete, oito, nove,
dez ou onze florins por alqueire, e, como essa situação levaria à ruína os
engenhos, o Grande Conselho baixou ordens rigorosas para que cada
habitante da zona rural, de acordo com suas possibilidades, plantassem - sob
penalidades severas - cerca de mil covas de mandioca por ano. Assim foi que o
preço da farinha caiu a ponto de ser vendida no Recife à razão de quatro
schellingen por alqueire, e por menos ainda no interior407.
407
[407] O tradutor inglês escreveu três ou quatro florins por [i]bushels;[/i] omitiu as mil covas
de mandioca e, mais adiante, escreveu dois [i]shillings[/i] por três [i]bushels.[/i] (Cf.p. 138, 1a
coluna, l.o § da ed. inglesa e p. 201, 1a coluna, 3° e 4° §§ da edição holandesa)- [i]Schelling:[/i]
antiga moeda de prata, no valor de seis [i]stuivers.[/i] O [i]stniwr[/i] vale 0,05 florins.
408
[408] Em Marcgrave (LXX, p. 73, cap. XII) Caaeo dos Brasileiros; Herbaviva do vulgo; Em
Gandavo (XXXVI, p. 100-101). Em Cardim (XIX, p. 69).
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Cabaças
A árvore Imakaru
Paço Caatinga
409
[409] Nieuhof escreveu Kalabassen (p. 201, 2a coluna, 1° §).
410
[410] Em Marcgrave (LXX, 125) [i]Iamacurú[/i] (árvore de tamanho médio) e(LXX, 126)
[i]Imacuru,[/i] árvore de grande tamanho, chamada pelos brasileiros [i]Caxabu[/i] e pelos
Lusitanos Cardon. Marcgrave (id., 23) registra também a planta
411
[411] Em Marcgrave (LXX, p. 102 a árvore e p. 48 a planta) Paço Caatingados Brasileiros e
vulgarmente Cana do Mato.
Nieuhof escreveu - emissão de sêmen - ao invés de gonorréia e o tradutor holandês escreveu
emissão involuntária de sêmen. (cf. p. 40, 2a coluna e p. 202, 1ª coluna da ed. holandesa e p.
139, 1a coluna da trad. inglesa). V. nota 171.
Nieuhof extraiu este trecho de Marcgrave (cf. LXX, 48), onde se verifica que a cana do mato
era empregada contra a gonorréia ou esquentamento, como já era chamada pelos
portugueses, segundo afirma Marcgrave. Em Piso (LXX, 98), Paço caatinga.
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quais, abrindo gradativamente, exibem uma flor cinza claro que esconde, por
baixo, vinte ou mais sementes pretas, brilhantes. O talo, mastigado, age como
expectorante e dissolve as pedras da bexiga. É considerado, pelo Brasil todo,
excelente remédio contra a gonorréia, distúrbio que regulariza em oito dias.
O pé e o fruto do Caju
Pinoguaçú ou Papaia
Entre os vegetais que proliferam tanto nas índias Ocidentais como nas
Orientais, acha-se o que os japoneses e holandeses chamam Papaia e os
americanos apelidam Mamoeiro, e Pinoguaçú 413;os nossos às vezes chamam
árvore de melão dada a semelhança de seu fruto com o nosso melão. Há. duas
qualidades dessa árvore: macho e fêmea. Cresce e morre em curto espaço de
tempo. Seu tronco é de tal forma esponjoso que se pode cortá-lo com a mesma
facilidade com que se corta um talo de couve. As folhas são grandes e largas e
assemelham-se às da videira, desenvolvendo-se na ponta de longas hastes em
torno do topo, onde protegem os frutos, que nascem agrupados. Estes, verdes,
quando novos, tornam-se finalmente amarelos e têm o formato de uma pêra;
seu porte, entretanto, é o de um melão pequeno cuja polpa também lembra,
tanto em cor como em paladar, quando maduros. Quando verde, coze-se com
a carne a fim de dar-lhe certo gosto picante.
412
[412] Nieuhof escreveu Kasjoui ou Kasjou (p. 202, 2a coluna). Em Cardim (XIX, 50). Em
Soares (LXXXVI, 205). Em Marcgrave (LXX, 94), Acaiaiba & Acaiuiba dos Brasileiros, cujo fruto
chamam Acuiü e vulgarmente caju. Em Piso(LXX, 57), Acaju e Acayaiba: Em Léry (LII, 159),
Acauí. Batista Caetano (III,p. 21) registra acavu, por ser desconhecida no Sul só é registrada
nos Dicionários tupis. Segundo Plínio Ayrosa (LII, p. 159, nota 382), provém de aká, caroço e
jú, sufixo, ou júm amarelo. Sobre a expansão do fruto e do nome e os seus derivados,vide Artur
Neiva, Estudos da Língua Nacional, vol. 178, 1940, Brasiliana.
413
[413] Em Marcgrave (LXX, 102-104), Mamaoeira dos Brasileiros, vulgarmente Papay, cujo
fruto os Lusitanos chamam Mamão. Em Piso (LXXI, p. 159) se lê; [i]Utraque Pinoguaçú,
Mamoeira Lusitana dicitur, vulgo Papay, cujos fructum Mamam vocant...[/i]
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Há ainda outro arbusto, encontradiço das índias Orientais, que não difere muito
do acima descrito, tanto na conformação como no tamanho, e que produz
flores amarelas; os árabes chamam-no Halikakabus ou Alkekengi e é bastante
conhecido nestas paragens. A flor produz uma pequena vesícula que encerra o
fruto e as sementes. Não é tão grande quanto a nossa pimenta. Os indianos e
chineses misturam-na com certa fruta a que os portugueses chamam a Poma
d'Oro e Tamatas [tomates] e os italianos Melansana [berinjela – talvez tenha
ocorrido um equívoco em italiano pomodoro = tomate]; comem-na, também,
com pimenta brasileira. Os portugueses cortam a pimenta brasileira em fatias
finas, a que adicionam óleo e servem como salada. Esse prato é considerado
ótimo remédio para as convulsões estomacais, tão comuns nessas paragens.
Tanto os naturais do país como os holandeses mastigam essa pimenta, pura,
mas é um cáustico terrível para a língua414.
Cana de açúcar
A cana de açúcar, a que os brasileiros chamam Viba, prolifera tão bem nas
índias Ocidentais quanto nas Orientais. No Brasil, dá em quantidade prodigiosa
por todo o país, mas, especialmente na Capitania de Pernambuco. São duas
as variedades aí conhecidas: uma de folhas pequenas e outra de folhas
maiores. A última, considerada a melhor, desenvolve-se em um longo caule da
414
[414] Nieuhof cometeu um engano ao escrever que os brasileiros chamam apimenta de Chili
Lada. Em Marcgrave (LXX, 39) Quiya dos Brasileiros, pimentados Lusitanos. À pimenta
malagueta chamavam de Quiyaqui. Marcgrave registra 4 espécies: a primeira, já citada acima;
a segunda, Quiya cumari; a terceira, Quiya apua; a quarta, Quiya uca, pimenta grande ou
pimentões. Em Piso (LXX,107), Quiya, ou pimenta da terra. Registra também Quiyagui,
Malagueta dos Lusitanos; Quiya apua ou pimenta redonda; Quiya cumaci & Quiya-carapo; e a
pimenta dolce (sic).
Talvez do nome indígena mexicano Chili venha a confusão de Nieuhof Aliás, Piso, na
"Mantissa Aromática" (LXXI, p. 180), descreve a [i]De Lada, aliis Molanga, sive Pipere
Aromatico Maré & Foewdna[/i] (índias Orientais)- Trata-se, portanto, de uma confusão de
Nieuhof, juntando Chili, nome que os mexicanos dão à pimenta e Lada, nome indígena de
Málaca, Java ou Sumatra.
Em Jacob Bontius (LXXI, p. 149), Halicabo ou Alke-kingi, nome árabe e Poma d'oro dos
Lusitanos; Piso (LXXI, p. 183) registra Acha e Marcgrave (LXX, p. 40), Axi. Em Herckmans
(XLI, p. 275), Achy. Soares (LXXXVI, p. 203-205) registra cuihem, juquiray, cuihemoçu, cuieniá,
sabãa, cuihejurimu, cumari. Em Batista Caetano (II, p. 438), qulyi - pimenta. No Dicionário Port.
Bras. (XXX, p. 248), Kyynha; Kyynha avi = pimenta malagueta, Kyynha cobaigoara = pimenta
do Reino, Herckmans (XLI, p. 276) descreve a Piger longum.
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Índigo
No ano de 1642, um tal Gillis Venant trouxe das ilhas das índias Ocidentais,
para o Brasil, algumas sementes de índigo, e, tendo-lhe sido designado um
terreno perto do riacho Mercera e concedidas, por ordem especial do Grande
Conselho, todas as facilidades, fez diversas plantações de anil ou índigo.
Vendo que as formigas devoravam a maioria das folhas, o senhor Venant com
auxílio de numerosos camaradas e negros deu-lhes tão eficiente combate,
queimando-as e enterrando-as, que o solo ficou inteiramente livre dessa praga
e o índigo atingiu à sua perfeição máxima, tanto que diversos exemplares
foram remetidos para a Holanda.
415
[415] Em Marcgrave (LXX, p. 82): Vvbae & Tacomaree dos Brasileiros, Al-feloa da Zuquere
ou Cana d'azuquere dos Lusitanos. Piso (LXX, p. 50), Viba dos Brasileiros. Em Batista Caetano
(III, p. 549) : Ubá em vez de ulb - á, s., cana; e p. 553 - uíb - á, mais próprio ulbae, s espécie de
cana; uíbâ = uimâ - cana.
Em Marcgrave (LXX, p. 83) Guirapeacojâ dos Brasileiros e Pau de galinha dos Lusitanos; Piso
(LXX, 50) Guirapeacoca dos Brasileiros e vulgarmente Pau de galinha.
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Remédios
416
[416] Em Marcgrave (LXX, 41): Ieticucu dos Brasileiros, raiz Mechoacan, Batata de purga
dos Lusitanos. Em Piso (LXX, p. 93) Ieticucu ou Mechuacan;Batata de purga ou Mechoacan
dos Lusitanos e íiticucu dos Brasileiros.
Em Herckmans (XLI, p. 276) [i]Mechoacana: é aí tão abundante que ninguém se dá ao trabalho
de a secar; era empregada como purgativo.[/i]
Radix Chinae, em Piso (LXX, p. 99). Herckmans (XLI, 276): Radix china ou a mesma raiz, posto
que não seja da China, dá em abundância no Brasil, e certamente é tão vigorosa e própria para
a cura da bexiga, para a purificação do sangue e para combater outras moléstias quanto a da
China. Tem-se-lhe dado o nome de Radix Brasílica para distingui-la da China.
Paquoquanha como escreve Nieuhof é a Ipecacuanha (Marcgrave, LXX, p. 17). Piso (LXX,
101), Ipecacuanha. Piso escreveu (LXX, 102): Quamobrem religiose à Brasiliensibus
reservatur, qui illius virtutes primi nobis revelarunt.
417
[417] Nieuhof escreveu novamente Akaju (p. 205, 1a coluna, cf. nota 412); Marcgrave (LXX,
p. 105) registra: Aracaiba dos brasileiros, cujo fruto chamam Araca-guacü, semelhante a
Guayabo; e Araca-miri (fruto). Em Cardim, Araçá (XIX, p. 52). Os nomes iniciais conservam a
grafia de Nieuhof.
[i]Guaiaba[/i] em Piso (LXX, 75). Em Marcgrave (LXX, 104) [i]guayaba, granaet peeren[/i] dos
Belgas. Em Herckmans (XLI, 273), Choabes.
[i]Murucuja[/i] em Piso (LXX, 106-107), registrando sete espécies silvestres: Murucuja satà, Eté,
Mixira, Peroba, Piruna, Ternacuja, Vna; menciona ainda a Murucuja-guacu e, em capítulo
especial (cap. LXXXIV, p. 107), Murucaja-mirim.
Em Marcgrave (LXX, 70-71), Murucuya ou flor das paixões. Murucuia guacu & Guainumbi
Acaiuba. Registra 4 espécies.
[i]Ibapiranga.[/i] Em Marcgrave (LXX, 116) Iba Puruga.
[i]Akaja.[/i] Em Soares (LXX, 211); em Margrave (LXX, 129), Acaja (no título). e Acaia (no
texto); em Piso (LXX, 68), Acaja.
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Fertilidade do Brasil
O solo brasileiro é todo ele extremamente fértil, agradável e irrigado por muitos
rios e lagos, a maioria dos quais procede das montanhas e atravessa vastas
planícies pantanosas (a que os portugueses denominam várzeas) onde se
encontram numerosas variedades de frutas, mas especialmente cana de
açúcar. Os prados e as pastagens não são tão agradáveis no verão como na
estação chuvosa, época em que sua verdura refulge. O trigo e o centeio
desenvolvem-se rapidamente, em parte devido à natureza do solo e em parte
ao calor do sol. Portanto, a fim de evitar o crescimento excessivo, põe-se areia
no solo ao invés de estrume. O mesmo pode dizer-se com respeito a todas as
outras sementes alienígenas que precisam ser mantidas em baixo da terra por
tempo considerável. Em fevereiro e março, fim do verão, época das chuvas e a
estação úmida procedem-se às semeaduras à noite, não durante o dia ou às
últimas horas da noite418. Tem-se o cuidado de não enterrar as sementes fundo
demais, pois tudo quanto escapa ao alcance dos raios solares raramente
produz frutos; e isso o nosso povo aprendeu por experiência. Há grande
disparidade quanto à época de maturação das diversas sementes e frutas
produzidas em terras altas e as que crescem nos pantanais. Contudo, o
coqueiro e as palmeiras são aqui transplantadas sem a menor consideração
pelo tamanho, idade ou estação e se desenvolvem bem. Quase todos os
arbustos e árvores dão flores durante o ano todo, de forma que se podem
gozar ao mesmo tempo os encantos da primavera, do verão e do inverno. O
mesmo se observa com relação à videira, à cidra, ao limão e outras árvores
trazidas de Angola pelos portugueses e com respeito a diversas raízes,
hortaliças e árvores frutíferas transplantadas pelos holandeses. Quem quiser
obter uvas maduras durante o ano todo terá apenas que podar a vinha em
épocas diversas, conseguindo assim uvas excelentes e vinho tão doce como o
de Malvasia. Infelizmente, porém, as formigas atacam furiosamente as vinhas,
sugando todo o néctar e deixando ao viticultor apenas a casca. Diversas
espécies de árvores frutíferas foram transplantadas da Holanda para o Brasil,
onde se desenvolvem perfeitamente e produzem frutos excelentes.
[i]Aratiku.[/i] Em Marcgrave (LXX, 93-94), Araticu dos Brasileiros; menciona três espécies:
Araticu ponhe; Araticu pana; Araticu ape. Piso só registra Araticu pana (LXX, 48). Cardim (XIX,
53) e Rodolfo Garcia anota (XIX, p. 107) que o araticu pana é o Anona palustris, L.; de étimo
incerto. Em Soares (LXXXVT, 217), Araticu. Em Abbeville (XXXVIII, p. 21), Araticou. Segundo
Batista Caetano (III, p. 48), é nome genérico das anonas, de a - rati - cui = cuia ou vaso de
bagaço ou sabugo de frutas.
[i]Guitokory.[/i] Em Marcgrave (LXX, 114), Guiti-coroya dos Brasileiros, outra espécie guiti. Em
Piso (LXX, 66), Guiticoroja; registra guetijs de várias espécies, guetitoroba, guiti-miri e
Gueticoroya. Em Soares (LXXXVI, 215), guti. Em Ayres de Cazal (XXVI, p. 57 do 2° vol.),
Goyty. E Frei Vicente do Salvador (LXXVIII, p. 32), gyitis.
[i]Nhambi.[/i] Em Marcgrave (LXX, 49), Nhambi dos Brasileiros. Em Piso (LXX, 89), Nhambi. Em
Soares (LXXXVI, p. 224) nhamby;
[i]Umbi.[/i] Marcgrave (LXX, 108), lua vumbu. Em Piso (LXX, 77) Umbu. Em Cardim (XIX, 321).
Soares (LXXXVI, p. 462, nota 127) registra as seguintes variantes: ambu, imbú, ombú ou
umbu- Hoehne (XLII, p. 335) escreve que ela é o recurso dos viajantes do nordeste brasileiro e
o mata-fome dos cearenses.
[i]Munduy.[/i] Piso (LXX, 83) registra Munduy-guacu, Pinhões do Brasil dos Lusitanos. Em
Marcgrave (LXX, 96) Mundubiguacu dos Brasileiros, Pinhones dos Lusitanos e Nux cathartica
do próprio Marcgrave.
418
[418] O tradutor inglês escreveu: "estação chuvosa e o inverno deste clima" (cf. p. 205, 2a
coluna, 2° § da ed. holandesa e p. 140, 2a coluna últ. § da trad. inglesa). Vide nota 425.
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Pau-Brasil
419
[419] Em Marcgrave (LXX, 118), Guapereiba ou Mangue vereadeiro (sic)dos Lusitanos. Em
Piso (LXX, 114), Mangue Guaparaiba (3a espécie de Mangue). Em Soares (LXXXVI, 241)
Quaparaiva. Varnhagen (LXXXXVI, p. 466,nota 139) escreve Guaparaiva.
420
[420] Em Marcgrave (LXX, 101), Ibirapitanga dos Brasileiros e Pau Brasil dos Lusitanos. Em
Gandavo (XXXVI, p. 99). Em Cardim (XIX, 60). Em Barlaeus (VII, 134). Ibírá (Batista Caetano,
III, 192), pau, madeira pítâ oupítang = pytang (III, p. 397), vermelho, rubro, sangüíneo.
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O Timbó ou Tipo
Combustível
Laranjas
421
[421] Em Marcgrave (LXX, 106), Arariba; refere-se à cor vermelha era água fervida. Em Piso
(LXX, 5) Tatajba ou Pao Amarello. Em Soares,(LXXXVL 249) Tatajiba e Varnhagen anota
(LXXXVT, p. 468, nota 144) Tatajiba ou Tatajuba (juba é amarelo). Em Marcgrave (LXX, 136),
Icacaranda dos Brasileiros. Em Cardim (IX, 60) jacarandá. Em Soares (LXXXVI, 253),
jacarandá. Batista Caetano (III, p. 565) menciona yacarandá = yacârâtâ, adj., o que tem cabeça
dura; também, talvez, o que é galho duro. Em Piso (LXX, 120) Massarandiba. Em Herckmans
(XLI, 273), Massaranduba. Em Soares (LXXXVI,219) Maçarandiba. Em Frei Vicente do
Salvador (LXXVIII, 32) Mussurunduba.
422
[422] Em Piso (LXX, 115) Timbo e tipi. Registra várias espécies Timbo-guacu; timbo de
cono; guaiana Timbo; e timbo ou cipó (LXX, 5). Soares(LXXXVI, 258) Timbó. Batista Caetano
(III, 527), tímbó = tímbór = vara;e (p. 529) tipo do qual cipó
423
[423] Em Marcgrave (LXX, 87) Caraguatá guacu; assim em Piso (LXX,111-112). Em Soares
(LXXXVI, 288) Embaiba. Varnhagen (LXXXVI, p. 464,nota 133) registra as seguintes variantes:
embauba, imbaiba, ambaiba e ambayva. De suas folhas se alimenta a preguiça. Batista
Caetano (III, 31) averbaambaíb = embaíb, nome genérico das cecrópias, dado também a
alguns [i]ficus.[/i] Em Frei Vicente do Salvador (LXXVIII, 30), Caragatá.
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arroz, milho, batatas, ananás, bananas, melão, abóbora, melão d'água, pepino,
feijão, figo, maracujá, mangaba, araticú, ape424, couve, rabanete, alface,
portulaca, cenoura, etc.
O caju
424
[424] Em Soares (LXXXVI, 218) apé é "uma árvore do tamanho e feição das oliveiras".
425
[425] Marcgrave (LXX, 95) registrou esse fato, ao escrever que a árvore começa a florescer
no fim do mês de agosto, atingindo o máximo em setembro. Chove muito nos meses de agosto
e setembro, quando caem as flores, e os frutos começam a nascer em novembro e dezembro,
atingindo em dezembro e janeiro o máximo de frutos maduros. Depois começam as chuvas e o
aspecto das árvores é triste. Marcgrave registra também o fato de os brasileiros contarem os
anos pelas castanhas de caju. Piso registrou, também, o mesmo fato (LXX, 58); e Morisot (LIX,
nota 9) cita a tábua astronômica de Marcgrave (LXX, 265-267), onde ele afirma que em 1640,
41 e 42 a máxima de chuva foi atingida nos meses de fevereiro, março, abril, maio, junho, julho
e agosto.
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Palmeiras
Coqueiros
428
[428] Em Piso (LXX, 63), o fruto da Pindova é a Inaia miri, que são cocos pequenos;
Inajaguacuiba as árvores (coqueiro) e Inajaguacu (ao fruto); em Marcgrave (LXX, 138), [i]Inaia
Guacuiba[/i] (árvores) e [i]Inajaguacu[/i] (o fruto); e acrescenta que no Congo chamam-na de
[i]Ejaquiambutu[/i] e aos frutos [i]Quitiinga, quiambtu;[/i] os lusitanos chamam-no de coquiero
(sic). Marcgrave não registra Inaiamiri; Soares (LXXXVI, 221) Anajámirim.
429
Marcgrave (LXX, 273) escreveu: Universale Brasiliensium alimentum est Vi Lusitanis
Farinha de Mandioca dicta.
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As águas dos rios Paray Paratyb 432i são consideradas excelentes remédios
contra cálculos e gota. Isso explica porque muitas pessoas que só bebem
dessas águas, passam às vezes dos cem anos sem qualquer moléstia ou
distúrbio. As pessoas de idade distinguem tão bem o paladar dessas águas
como os europeus o de seus vinhos e consideram inábeis os que usam
qualquer água indiscriminadamente. Nascendo a maioria das fontes, de que se
servem os naturais, nas elevadas montanhas orientais, não sofrem elas nem a
influência do degelo nem de substâncias metálicas, e, constantemente
purificadas pelos raios solares, suas águas são muito límpidas e agradáveis.
Entretanto, é preciso que se diga que durante os meses de inverno, algumas
águas não são tão leves e frescas como durante o verão, devido às chuvas. Os
negros fazem, às vezes, uma mistura detestável de açúcar preto e água, sem a
mínima fermentação, à qual dão o nome de Garapa433.Bebida barata, os
negros usam-na em suas festas que chegam a durar 24 horas entre danças,
cantos e beberagem. Só brigam, nessas ocasiões, por ciúmes. Às vezes
430
arcgrave (LXX, 273) registra Camu, como as panelas redondas de terra, onde se cozinha a
carne
431
Em Marcgrave (LXX, 273), Biaribi (carne assada). Em Marcgrave (LXX, 273), Inquitaya.
Comiam peixe assado e caranguejos cozidos com Inquitaya cum simplice sale, vel Inquitaya,
Lusitanis Sal-pimenta.
432
Em Piso (LXX, 11) Paray paratybi. Afirma Piso as propriedades da água no combate aos
cálculos e doenças das articulações
433
Em Marcgrave (LXX, 84); Piso (LXX, 51) diz em que consiste e à p. 12 refere-se sobre o uso
entre os africanos e a mistura com folhas de caju.
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adicionam à garapa, folhas de cajueiro que, dada a sua natureza quente, torna
a bebida mais forte. Os portugueses e holandeses preparam um refresco com
água, açúcar e limão. Às vezes põem de infusão certas ervas, outras vezes
usam apenas água com limão. Além disso, os naturais preparam bebidas com
diversas raízes e frutas, que servem em suas ruidosas festas. Dentre as frutas
usadas para esse fim contam-se principalmente Pacovas, Ananás, Mangaba,
Jenipapo, Caraguatá, etc.,434 pois, conquanto a videira produza, no Brasil, três
safras ao ano, a quantidade não é suficiente para o fabrico do vinho.
434
Em Marcgrave (LXX, 137), Pacoeira dos Lusitanos; não é natural do Brasil; no Congo
chamam-na Quibuaaquitiba e ao fruto Quitiba ;Pacobete dos Brasileiros e Pacoba dos
Lusitanos. Em Cardim (XIX, 63), Facoba. Em Léry (LII, 159), Pacoére e Pacó. Em Soares
(LXXXVI, 207), Pacobeiras e Pacobas.
Segundo Plínio Ayrosa (LII, p. 159, nota 388), opá + oba = tudo folha.
Ananás. Em Piso (LXX, 87), Ananás, ou Nana. Em Cardim (XIX, 62), Nana; em Soares
(LXXXVI, 225), Ananás. Segundo Rodolfo Garcia (XIX, 113), na - nã, cheira cheira.
Em Marcgrave (LXX, 121), Mangabiba ou Mangaiba, fruto Mangaba. Em Piso (LXX, 76),
Mangaiba. Soares (LXXXVI, 210). Cardim (XIX, 51). Segundo Teodoro Sampaio (LXXXI, 138),
manguaba, cousa de comer.
Em Piso (LXX, 67) Ianipaba. Em Marcgrave (LXX, 92), Ianipaba dos Brasileiros e Ienipapo dos
Lusitanos. Em Cardim (XIX, 58), Genipapo. Soares (LXXXVI, 214). Frei Vicente do Salvador
(LXXVIII, 32), janipapos. Segundo Batista Caetano yandipáb, s, genipapo (III, p. 569).
Sobre Caraguatá, cf. nota 423. Sobre Cauim vide Hoehne XLII, p. 145 e Léry LII, p. 118 e p.
105 nota 187 de Plínio Ayrosa.
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NO LITORAL BRASILEIRO
Salinas
Na costa Noroeste do Brasil existem várias salinas. A que fica perto da casa
denominada "Deserto" está a cerca de 3 ou 4 milhas de distância do Rio
Aguarama, do qual um braço se estende para Leste e deságua nesta salina,
435
Pety = petim, tabaco (III, p. 372). Cf. Plínio Ayrosa (LII, p. 163, nota 400)
436
] Urucuri é nome dado a palmeiras (III, p. 559) e iba, árvore (III, p. 184)
437
Êste é todo plagiado de Marcgrave (LXX, 274). Parece-nos tratar-se de tradução para o
holandês do texto latino de Marcgrave. É necessário registrar pequenas diferenças de grafia:
assim, Nieuhof escreve sempre com k quando Marcgrave usa c ; com j (letra que não existe no
tupi), o i de Marcgrave, com u a inicial V; y final em vez de i. Além disso, notam-se as seguintes
diferenças: Nanaî (Marcg.), Nanâi (Nieuh.); Tipiacî (Marc), Tipiaci (Nieuh.); Amrupetimbuaba
(Marc), Amrupetunbuaba (Nieuh.); Acauì (Marc), Akavi (Nieuh.);Aipiî(Marc), Aipii (Nieuh.).
Soares (LXXXVI, 206), Cardim (XIX, 51) e Staden (LXXXIX, 145) referem-se à bebida, mas não
a denominam. Em Léry (LII, 118), Cauim. Soares (LXXXVI, 376) escreve que os Tupinambás
usavam-na em suas festas. Segundo Batista Caetano (III, 72) caú = v. beber vinho; e escreve:
"como se tem u de comer e uí farinha, é possível também caú, beber vinho e cauí, vinho.
Em Piso (LXX, 52), Macaxera é a nona espécie de Mandioca. Segundo Marcgrave (LXX, 66),
aipi macaxeira é uma das espécies de aipi, que por sua vez é espécie de Mandioca.
Caracú em Batista Caetano (III, 68) é vinho de raízes de batatas; cavicaracú deve ser formado
de cui (B. Caetano, III, 72), beber vinho caracu (B. Caetano, 68), vinho de batatas. Soares
(LXXXVI, 199) refere-se ao vinho de milho. Cardim XIX, 63) menciona o vinho de naná, e
também Soares (LXXXVI, 226). O nome indígena do milho é avati ou abati e não [i]maiz[/i]
como escreve Nieuhof. Cf. LII p. 115, nota de P. Ayrosa e III, p. 16.
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nas altas marés, tão comuns em ocasião de lua nova. Esta salina fica a cerca
de 500 ou 550 passos438 da orla marítima e não recebe água de qualquer outra
fonte senão do Rio Aguarama. Não existe, nas proximidades, qualquer baía ou
porto; apenas uma região onde, por cerca de meia légua, o fundo do mar é
arenoso e chato e onde se pode ancorar a três braças de profundidade. O
terreal, que sopra constantemente nessa região, cessa geralmente à noite, de
maneira que os navios aproveitam a calmaria para o embarque de sal. Tais
salinas podem produzir uma quantidade certa de sal por mês, desde que se
tenha o cuidado de fechar as comportas logo que estejam cheias, pois, caso
contrário, a maré alta que se seguir poderá inutilizar quanto se tenha
conseguido anteriormente. A leste destas salinas acham-se as famosas rochas
conhecidas pelo nome de Baixos, que daí podem ser vistas durante a vazante.
Essas pedras estendem-se por cerca de três milhas, mar a dentro, mas só
começam a cerca de uma milha da praia, deixando, assim, livre uma passagem
onde a profundidade é de dez pés na maré baixa. Mesmo nas vazantes
extremamente pronunciadas, essa passagem dá cerca de 8 pés de calado,
mas, quando sopra o vento Oeste-Sudeste, o canal atinge sua profundidade
máxima. A cerca de cinco ou seis milhas ao poente da casa denominada
"Deserto", acha-se a grande salina Karwaratama [Canguaretama], que recebe
água do mar e, retendo-a por meio de comportas, produz ótimo sal em três
semanas. Mais cinco léguas para o ocidente passa o Rio Maritouva, o segundo
em importância, nessa região ocidental; mesmo assim, porém, não dispõe de
mais que 12 pés de água, na cheia. Em sua extremidade oriental, a cerca de
meia légua do desaguadouro, existe ótima salina. Ao que se diz, aí trabalham
10 ou 12 brancos, 10 ou 12 negros e cerca de 20 ou 30 brasileiros.439 Sua
produção é de 2.000 toneladas de sal por ano, podendo ser transportada,
durante o verão, para todas as regiões do Brasil Holandês, em pequenas
embarcações. A cerca de meio caminho entre Rio Grande e Ceará, existe,
ainda, diversas salinas junto ao Rio Wapanien.
Comércio brasileiro
438
O tradutor inglês escreveu 550 (cf. p. 213, 1ª coluna, da ed. hol. e p.145, 2a coluna da trad.
inglesa).
439
O tradutor inglês escreveu 10 a 12 negros, 10 cristãos e cerca de 30 brasileiros, (cf. p. 213,
2a coluna da ed. holandesa e p. 146, 1a coluna da trad. inglesa).
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Os judeus
Escravos
440
O tradutor inglês não foi fiel (cf. p. 215, 2a coluna da ed. hol. e p. 146, 2a coluna da trad.
inglesa).
Sobre os excessos judaicos no comércio, cf. Wätjen (XCVI, 365-376), especialmente p. 371,
onde se documentam os absurdos das especulações dos mercadores judaicos. Vide também o
capítulo "A queda do domínio holandês", in Civilização Holandesa no Brasil (LXXVII, 274, 307)
e, finalmente, Bloom (XI, especialmente pp. 128-144).
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Dança de negros
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Vi, também, um garoto, filho de pais negros, que tinha pele branca, cabelos e
sobrancelhas claros, mas, encaracolados, e nariz chato como o dos pretos.
Tive ocasião de ver negros velhos com longas barbas brancas e cabelos
grisalhos, apresentando aspecto nobre.
Indígenas
441
Compare-se com Marcgrave (LXX, 268), donde Nieuhof tirou essa classificação. Tabbajarás
em Ayres do Cazal (XXVI, 198). Em Cardim, (XIX, 171) Potyguaras e Pitiguaras. Afora os
cronistas portugueses, do lado holandês o trabalho de Marcgrave é o mais importante. (V, cap.
IV, De Incolis Brasiliae, p. 268-279, afora o texto de Rabbi e Herckmans).
442
O tradutor inglês escreveu 100 anos (cf. p. 217, 1a coluna da ed. hol. e p. 148, 1a coluna da
trad. inglesa).
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Vestes
443
O tradutor inglês omitiu este trecho (cf. p. 217, 2a coluna, 3° § da ed. holandesa e p. 148, 1."
coluna da trad. inglesa).
444
Em Marcgrave (LXX, 278) está escrito Guau, Urucapi, Curupirara,Guaibipaie,
Guaibiguaibiabucu. Também neste trecho Nieuhof plagiou Marcgrave.
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manhã munido de arco e flecha para a caça, ou então vai pescar, no mar ou no
rio, enquanto a mulher se ocupa das plantações. Algumas delas seguem seus
maridos a fim de apanhar as presas. Dão caça aos animais selvagens de
diversas maneiras. Matam alguns a flechadas, apanham outros em covas feitas
a propósito e disfarçadas com ramos e folhas de árvore, dentro das quais
colocam alguma carniça para atrair o animal que pretendem apanhar. A essa
armadilha chamam Petaku. Constroem também mundéus de madeira e
empregam diversos métodos para agarrar animais selvagens, a cada um dos
quais dão nome diferente. Para caçar pássaros, usam três qualidades de
arapucas a que dão o nome de Jukana. A primeira delas - a Jukanabiprara -
segura as aves pelos pés; a segunda prende-as pelo pescoço e é conhecida
por Jukanajuprara; e, finalmente, a terceira apanha-os pelo corpo e tem o nome
de Jukanapiteraba. Matam os peixes com flechas ou pescam-nos com
ganchos, usando para isca vermes que chamam Kanduguaku, minhocas,
caranguejos ou peixinhos. Preparam o pesqueiro pondo na água folhas de
Japikaj, Timpotiana, Tinguy ou Tinguirri.
Utensílios domésticos
Quando vão dormir, amarram a rede a duas traves de sua tenda, ou em duas
árvores, ao ar livre, a certa altura do chão, para evitar os animais daninhos e as
exalações pestilíferas da terra. Os tapuias denominados Carirís fazem redes
bem grandes, de doze e quatorze pés de comprimento, capazes de conter
quatro pessoas. As portuguesas também fabricam lindas redes decoradas.
445
Este trecho de Nieuhof desde: "A mulher segue constantemente o marido." até "...Apeiba"
parece-nos ser uma tradução do texto latino de Marcgrave (LXX, 272-273). Como acentuamos
na nota 437, há pequenas diferenças de grafia.
Marcgrave escreve Timbopotiana e Nieuhof grafou Timpotiana; Apeiba (Marc) e Apiba (Nieuh.).
Em Soares (LXXXVI, p. 251) Apeyba.
O tradutor inglês omitiu o trecho "vermes que chamam Kanduguaku" (p. 149, 1ª coluna).
Jucana (XXX, 246) o laço; (XXX, 246) jucanabipiára - o laço dos pés; jucanaiurípiára - o laço do
pescoço, jucanapiteréba, o laço do meio corpo.
Anda (XXX, 205), certa árvore. Segundo Batista Caetano tem diversas significações: contr. de
anta, fruto duro, nome dado a vários frutos e cocos (III, p. 34).
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Armas
Não tendo a menor noção de aritmética, os aborígines contam a idade por meio
da castanha do caju a que chamam Acaguakaya, Acajuti ou Itimabara. Essa
árvore frutifica apenas uma vez por ano, entre dezembro e janeiro e os nativos
guardam, então, uma castanha de cada colheita. Começam o cômputo da
idade ao nascer de determinada estrela - Teixu ou estrela da chuva - o que se
verifica no mês de maio. Chamam o ano pelo mesmo nome448.
446
Este trecho parece-nos ser também plagiado de Marcgrave (LXX,271 e 272). As diferenças
de grafia são, afora as citadas na nota 437, as seguintes: Itaque (M) - Ituque (N); Taquoaquice
(M.) - Taquoaquia (N); Patiguâ(M.); - Patigua (N); Kuite (N) - Cuieté (M); Kribuca (N) - Cuibuca
(M).
O trecho de Nieuhof apresenta ordem diversa da de Marcgrave.
No Dic. Brasiliano XXX, 272), Panacú - carro, cesto. Secundo Batista Caetano (III, 362) Patigua
contr. de patuá = pataná, s., cesto que as mulheres traziam às costas amarrado à cabeça com
os pertences da rede. Cuieté (III, p. 80), s., vaso real, cuia grande ou capaz, cuia boa.
Taquice (III, 484), faca de taquara cortante ou perfurante.
447
Este trecho parece-nos ser também plagiado de Marcgrave (cap. X: De Armis Brasiliensium,
& exercitiis illorum, p. 278). Marcgrave anota que os portugueses chamam aos arcos
nomeados pelos brasileiros Guirapariba & Vrapariba, Pau d'arco. Em Batista Caetano (III, p.
549), Ubá = cana de flecha, cana, caniço; (III, 205); Marcgrave escreveu Vúba (p. 278); íperú =
peixe, tubarão.
448
Este trecho parece-nos plagiado de Marcgrave (LXX, 269, cap. V). Marcgrave escreveu
Acajû; Nieuhof Akaju. Acajûacaya (M.) - Akajuacaya (N.); Acaiuti & Itemboera (M.) - Akajuti &
Itimabara (N.); Ceixu (M.) Teixu (N.); o tradutor inglês escreveu Taku (p. 150). Em Morisot (IX,
p. 276) [i]Ceixu.[/i]
Acajú - o ano (XXX, 156).
Acajucaia, a amêndoa ou a castanha do caju. .
Cejuçú - setestrelo, as Pléiadas (XXX, 220). Em Batista Caetano (III, p. 115) êichú - nome dado
à constelação das Pléiadas ou Setestrelo.
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As mulheres são muito férteis, têm parto fácil e raramente abortam. Logo que
uma delas dá à luz, vai ao rio e lava-se, sem auxílio de ninguém. Enquanto
isso, o marido permanece deitado pelo menos por 24 horas, compenetrando-se
tanto de seu papel como se estivesse de fato doente. As mães lamentam a
morte de seus filhos chorando e gritando durante três ou quatro dias
consecutivos.
Um brasileiro
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Religião
Não têm noção do Céu, nem do Inferno, conquanto seja crença generalizada
entre eles que a alma não deixa de existir, com a morte do corpo; ao contrário,
ou transforma-se em demônio, ou espírito, ou, então, vai desfrutar existência
feliz dançando e cantando em um prado delicioso, que acreditam estar situado
além das montanhas. Essa felicidade está reservada aos bravos - homens e
mulheres - que, em vida, mataram e devoraram muitos de seus inimigos. Ao
contrário, os negligentes que jamais praticaram atos de valor serão, noutra
vida, torturados pelo demônio a que dão vários nomes, como: Anhanga,
Jurupari, Kurupari, Taguaiba, Temoti e Taubimama. Entretanto, os aborígines
têm, em suas tribos, uma espécie de sacerdote, cuja função é sacrificar e
predizer o futuro. Esses indivíduos são consultados principalmente antes de ser
[empreendida qualquer viagem ou guerra. A eles chamam Payê e Pay. Os
nativos temem horrivelmente os espíritos a que chamam Kuripira, Taguai,
Macachera, Anhanga, Jurupari e Marangigoana, conquanto cada um desses
nomes tenha significação diversa. Por exemplo: Kuripira significa o deus do
espírito ou do coração; Macachera, o patrono das viagens; Juripari e Anhanga
significam o demônio; e Marangigoana quer dizer manes, ou os remanescentes
da alma depois da morte.
É tal o pavor que aos brasileiros inspira este último que se dão casos de morte
repentina ante a aparição imaginária desse espírito. Não rendem culto nem
praticam cerimonial de qualquer espécie a tais espíritos; apenas indivíduos
isolados imaginam aplacar o ódio desses seres por meio de presentes que
deixam pendurados em estacas fincadas no chão. Alguns dos brasileiros
admitem o trovão como sendo o ente supremo, outros, a Ursa-menor, e,
finalmente há, ainda, os que veneram outras estrelas. A tribo dos Potiguaras é
tida como feiticeira a ponto de causar a morte a seus inimigos através da
magia. A tal prática chamam Anbamombikoab 449.
449
Este trecho parece-nos tirado de Marcgrave (cap. XI, p. 278-279 De Brasiliensium religione).
As diferenças de grafia são: Tupa (M) - Tuba (N); o tradutor inglês escreveu Tubacununga (p.
150) e Akununga (p. 150), ao invés de Tupakununga e Akunung, como estava na ed.
holandesa (p. 221, 2,a coluna)- São de se notar as diferenças de grafia com Marcgrave, que
são as já observadas na nota 437 Segundo o Dic. Brasiliano (XXX, 288), Tupã = Deus. Em
Batista Caetano (III, 544), tupã = Deus.
Acunúng (XXX, 173), fazer qualquer estrondo, troar, produzir som.
Anhanga - fantasma, alma que passa fugidia, o Diabo. Em Batista Caetano (III, 37), anang =
aiang = afia, s., diabo, demônio.
Jurupaii (XXX, 247), o diabo, demônio, anjo mau.
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Doenças e remédios
Tembioti (III, 507) contr. de tetemoti - diabo; e taguaib ou taguaùb (III, 472), fantasma, visão;
taubimâ, s., fantasma, duende velho ou o velho das visões; em tupi taubimana (III, 490).
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Tapuias
450
O trecho desde: "Os tapuias habitam o interior." até "Cuaçumandiiba" pouco pertence a
Nieuhof. Assim, desde "Os tapuias" até "Kara-kara" o trecho é talvez inspirado em Herckmans,
por intermédio de Marcgrave, do pequeno resumo que este deu do trabalho "Breve Descrição
dos Costumes dos Tapuias", [i]in[/i] Descrição Geral da Capitania de Pernambuco. O texto de
Herckmans saiu no cap. XII, pp. 282-283, de Marcgrave: [i]Alia quaedam de Tapuys ab Elias
Herckmanns descripta.[/i] O texto completo se encontra na Rev. do Inst. Arq. e Geog. Pern.,
tomo V, 1886, p. 279 e sgts. O trecho desde: "outras tribos" até "...Dremmenge" é tirado de
Marcgrave (LXX, p. 269). O texto "Os súditos." até "...é considerado entre eles como
ornamento todo especial" é, talvez, igualmente, inspirado em Herckmans, (cf. p. 279-280 da
Revista citada). O trecho que vai de "Ambos os sexos." até "...Guará ou Kaninde" é semelhante
ao de Herckmans (cf. p. 281 da referida Revista).
O trecho referente a trajos é tirado de Marcgrave - cap. VI, p. 270-271, [i]De Vestitio & Ornatu
Virorum, & Mulierem Brasiliensium[/i] - até a palavra Miapapacaba, com omissão do nome
português dado por Marcgrave - Alpargatas (alpercatas) . Neste passo cometeu Nieuhof, ao
traduzir, um engano, pois ao ornato que consiste no ajuste dos corais com as penas, é
chamado [i]Papixoara[/i] e não [i]Aracoya,[/i] como ele escreveu. Marcgrave escreve (LXX, p.
271, linha 25): "Ligam, também, muitas penas de Avestruz ou penas de Araras, formando
quase um círculo, e reúnem-nas com um fio grosso, ajustando-as à região lombar e cobrindo
com elas o ânus; e a esse ornato, que pende quase até os joelhos, chamam [i]Aracoaya,".[/i]
Nieuhof descreveu o ornato [i]Papixoara[/i] como se fora o Aracoaya, e omitiu a descrição
deste, embora se encontre o nome Aracoya e esteja omitido o nome Papixoara.
O texto referente às armas é também copiado de Marcgrave - cap. X, p. 278, [i]De Armas
Brasiliensium, & exerdtiis illorum[/i] -. Finalmente o trecho sobre alimentação é inspirado em
Piso (LXX, p. 55, parte final do cap. II - De Mandihoca).
Afora as citadas diferenças gráficas já apontadas na nota 437, convém notar os seguintes
enganos e diferenças de grafia: Tararijou (N) - Tarairyou (M); Arigpaygh (N) - Arigpoygh (M);
Arara ou Kamud em Nieuhof (p. 223) - Arara ou Caninde (M., p. 271); Kazinde (N., p. 223) -
Carinde (M., p. 271); Apiyati (N. p. 224) - Apiyatê (M., p- 271); Miapakabas (N., p. 224, 2a
coluna) - Miapapacaba ou Alpargatas (alpercatas) dos Lusitanos (M., p. 271): Nhumbugaku (N.,
p. 225) - Nhumbugoacu (M., p. 278); Meumbrapara (N., p-225) - Membiapara (M., p. 278);
Cuaçumandiiba (N. 225) - Cuacümandijba (Piso, p. 55).
Os índios tapuias assim chamados pelos holandeses eram os Carirís. Os tupis denominavam-
nos tapuias, o que significa - estranhos à sua tribo, que não falavam o tupi. Os Janduís eram
Carirís, assim como os Paiacús e as outras tribos. Foram os indígenas que mereceram maiores
cuidados dos estudiosos, como Marcgrave e Herckmanns, e dos aventureiros como Rabbi e
Baro. Os Janduís habitam os ribeiros do Assú, Mossoró e Apodi (cf. Rodolfo Garcia, p. 266).
Paul Ehrenreich (XXXIV, p. 42), depois de um minucioso estudo baseado no material
acumulado pelos cronistas holandeses e nos retratos que Wagner e Eckout deixaram, chegou
à conclusão de que os tapuias pertenciam ao grupo Gês. Mais tarde, no trabalho "Etnografia"
(Die. Hist., XXXVII, p. 249-277), Rodolfo Garcia afirmava à p. 261 que os tapuias deviam ser
considerados como proto gês e, à p. 262, como Carirís. O mesmo fez Estevão Pinto (LXIX),
que à p. 127 afirma que os tapuias, tão estudados pelos holandeses, eram gês, e à p. 451, na
qual explica o mapa de distribuição dos principais grupos indígenas, coloca os Janduís e
Paiacús entre os Carirís.
Trata-se, evidentemente, de lapso proveniente da grande confusão dos autores da época,
Nieuhof, Marcgrave, Herckmans falam em Carirí.
Sobre os outros tapuias do Rio Grande e os do Rio São Francisco, consulte-se Marcgrave -
cap. IV, p. 268, especialmente a nota 2 de Morisot, que fala em 76 nações tapuias (cf. IX, p.
247).
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Os tapuias são muito fortes. Certa vez o Príncipe Maurício, estando de bom
humor, quis experimentar a força e a agilidade dos indígenas, em luta contra
um touro bravio. Mandou então que trouxessem o animal para um recinto
cercado, onde dois tapuias, para isso escolhidos, deveriam enfrentá-lo. Houve
grande afluência de curiosos para assistir o espetáculo. Em dado momento
surgiram os dois tapuias inteiramente nus, sem outras armas que seu arco e
flecha. Logo que o touro os percebeu arremeteu-se contra eles que,
extremamente ágeis, esquivaram-se das marradas e crivaram de flechas os
flancos do animal. Urrando horrivelmente e espumando de raiva, o touro
lançou-se de novo com todo furor, contra os indígenas. Mais uma vez os
tapuias se esquivaram, escondendo-se atrás de uma árvore existente no meio
da arena, de onde chefe se chamava Carapoto; a seguir vinham os Caririjou e
depois os Tararijou, muito conhecidos nossos. Seu rei era Janduís, não
obstante alguns deles viverem sob a autoridade de um tal Kara-kara. Outras
tribos eram governadas por vários reis a saber: Prityaba, Arigpaygh, War
nasewajug, Tsering e Dremenge.
Sua cor é morena escura, têm cabelos pretos pendentes sobre as espáduas,
pois aparam-no apenas na testa, até às orelhas. Alguns cortam os cabelos à
maneira européia. De resto, arrancam todo o pêlo do corpo, até mesmo as
sobrancelhas. Os reis e as pessoas de destaque distinguem-se dos demais
pelos cabelos e pelas unhas; os primeiros cortam os cabelos em forma de
coroa e conservam unhas longas nos polegares. Entretanto, os parentes do rei
e outros indivíduos de destaque na tribo têm unhas compridas em todos os
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dedos, menos nos polegares, pois este detalhe é considerado entre eles
ornamento todo especial.
Os tapuias são muito fortes. Certa vez o Príncipe Maurício, estando de bom
humor, quis experimentar a força e a agilidade dos indígenas, em luta contra
um touro bravio. Mandou então que trouxessem o animal para um recinto
cercado, onde dois tapuias, para isso escolhidos, deveriam enfrentá-lo. Houve
grande afluência de curiosos para assistir o espetáculo. Em dado momento
surgiram os dois tapuias inteiramente nus, sem outras armas que seu arco e
flecha. Logo que o touro os percebeu arremeteu-se contra eles que,
extremamente ágeis, esquivaram-se das marradas e crivaram de flechas os
flancos do animal. Urrando horrivelmente e espumando de raiva, o touro
lançou-se de novo com todo furor, contra os indígenas. Mais uma vez os
tapuias se esquivaram, escondendo-se atrás de uma árvore existente no meio
da arena, de onde continuaram a atirar seus dardos contra a fera, até que,
quando esta já se esvaía em sangue, um dos bugres saltou-lhe sobre o dorso
e, tomando-a pelos chifres, atirou-a por terra. Ajudado por seu companheiro,
matou o animal. A seguir prepararam a carne, assando-a enterrada, segundo o
costume selvagem, e com ela banquetearam-se em companhia dos demais
tapuias presentes.
Os aborígines têm também mantos tecidos com fio de algodão, como rede. Em
cada furo enfiam uma pena vermelha de Guará, acompanhada de penas
pretas, verdes e amarelas de Aakukaru, Kazinde e Arara, arrumando-as de
maneira semelhante às escamas de peixe. Dentro dessa capa existe uma
espécie de boné que cobre a cabeça, deixando que o manto caia sobre os
ombros e o corpo, de forma a cobri-lo até mais ou menos o meio. Assim é que
esse abrigo pode ser usado tanto para ornamentar como para agasalhar, pois a
chuva não o atravessa. Tal capa é conhecida na língua dos selvagens pelo
nome de Guará, Abuku. Os aborígines colam, ainda, com mel silvestre sobre a
testa, a crista de certas aves, e a esse ornato dão o nome de Aguana.
Os tacapes são feitos de madeira muito dura e largos numa das extremidades,
onde também fincam agudos dentes e ossos pontiagudos. Enrolam no cabo um
cordel ou outra cousa qualquer e atam, na extremidade, um punhado de penas
da cauda da Arara; no meio, colocam mais uma ordem de penas. A essa arma
dão o nome de Atirabebe e Jatirabebe. As trombetas, a que chamam
Kanguenka, são feitas de ossos humanos; todavia, as chamadas Nhumbugaku,
de tamanho muito maior, são de chifre. Existe ainda outra modalidade de
cometa feita de taquara e chamada Meumbrapara.
Os tapuias não são tão bons guerreiros quanto os demais brasileiros, pois
quando a luta é dura eles fogem com incrível rapidez. Não semeiam nem
plantam qualquer outra cousa que não a mandioca, e sua alimentação usual é
constituída de frutos, raízes, ervas, animais selvagens e, às vezes, mel
silvestre, que colhem do oco das árvores. Dentre todas as outras raízes os
nativos apreciam de maneira particular uma variedade de mandioca nativa que
atinge o porte de uma árvore pequena. Seus galhos e folhas lembram os da
mandioca comum, mas nem de longe se lhe assemelha em qualidade. A essa
variedade os brasileiros do interior chamam Cuguaçuremia e os do litoral
Cuaçumandiiba.
Logo que uma mulher concebe, afasta-se de seu marido. Quando dá à luz vai
para o mato onde corta com uma concha o cordão umbilical do recém-nascido.
Depois cose o umbigo juntamente com a placenta e come tudo. Lava-se,
juntamente com a criança, pela manhã e à tarde. Enquanto a mulher estiver
amamentando, o companheiro a ela se não une a menos que só tenha uma
esposa. Se a mulher prevarica, o marido a repudia; mas, se os culpados são
apanhados em flagrante, o esposo ofendido pode matá-los. As mães têm
extraordinário cuidado em impedir que se consume o matrimônio das filhas
antes do primeiro catamênio [menstruação]. Verificado o aparecimento do
mênstruo, a mãe da noiva informa o curandeiro e este ao rei que então dá
permissão para que a moça e o noivo coabitem. Este, então, agradece à sogra
o cuidado que teve com a filha. Se uma jovem em idade de casar não é
cortejada por nenhum rapaz, sua mãe pinta-a com tinta vermelha em torno dos
olhos e leva-a à presença do rei que faz a moça sentar-se numa esteira e
sopra fumaça de tabaco sobre o rosto. Depois deflora a rapariga e se esta
perde sangue o rei o suga, o que é considerado honra singular entre os
selvagens.
De resto os tapuias são piores que todos os outros brasileiros e ignoram tudo
quanto se relaciona com Deus e a Religião. Também não aceitam instrução de
qualquer espécie. Há entre eles sacerdotes, ou antes, feiticeiros que têm a
pretensão de predizer os acontecimentos e invocar espíritos que, segundo
afirmam, lhes vêm em forma de moscas e outros insetos. Quando esses
espíritos desaparecem, as mulheres gritam horrivelmente e se lamentam, nisso
consistindo o seu principal exercício de devoção. Evitam viajar à noite com
receio de cobras e outros animais venenosos; também não viajam enquanto o
sol não faz secar o orvalho da manhã.
O que ficou dito acima sobre costumes, modo de vida, indumentária etc. dos
nativos do Brasil, é o bastante. Passarei agora a descrever minha viagem de
regresso à Holanda.
Corvo e Flores são duas das nove ilhas a que os portugueses chamam ilhas
Açores e os holandeses chamam ilhas Flamengas. A maior delas é a Terceira,
que tem um perímetro de 16 léguas. É muito rochosa, mas, apesar disso,
produtiva, pois lá existe grande quantidade de gado. E' rica, também, em
canários e outros pássaros. Aí existe uma fonte que transforma pau em pedra e
diversas águas termais onde se pode cozer um ovo. Parece que o solo está
cheio de concavidades, o que explica os numerosos terremotos que destroem
casas, homens e animais. A ilha denominada Pico tem uma rocha que atinge
às nuvens, ao que se supõe, talvez seja comparável ao pico da Ilha das
Canárias. Entre a costa do Brasil e essas ilhas a bússola indica precisamente o
Norte-Sul. Tínhamos avançado oito graus mais para Leste do que
pretendíamos. Por volta do meio-dia, encontrávamo-nos a 40° 34'.
451
O tradutor inglês escreveu "28 léguas" (cf. p. 154, 2ª coluna da ed. inglesa e p. 226, 2a
coluna da ed. holandesa).
452
O tradutor inglês escreveu "60 léguas" (cf. p. 226, 2acoluna da ed. holandesa e p. 154,
2acoluna da trad. inglesa)
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As acusações que faziam aos Altos Comissários eram no sentido de que estes,
com louvável perícia, inventavam e realizavam contratos dos quais resultavam
para eles, como recompensa, não só grandes regalias, como até vantagens
pecuniárias. Diziam, também, que a Companhia teria sido prejudicada pelos
referidos contratos e que os contratantes, endividados por causa disso, teriam
pensado numa revolta ou pilhagem, a fim de, assim, subtrair-se ao governo
453
Cf. nota 1. O trecho desde: "Assim, depois de uma viagem." até o fim foi traduzido
diretamente do holandês, pois o tradutor inglês omitiu 12 pp. e meia, ou sejam 25 colunas da
ed. holandesa, resumindo-as em 2 colunas e um terço de coluna, ou sejam 1 p. e 1/3. (Cf. p.
228 a 240 da ed. holandesa e p. 155-156 da trad. inglesa).
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Esta era a mesma notícia que passara por todos os colégios respeitáveis do
governo, que dela tinham tomado conhecimento e lhe haviam dado a mesma
interpretação que os Altos Comissários perante o Grande Conselho do
Presidente Schonenburgh e os novos comissários. Tal notícia foi, mais tarde,
levada ao Brasil pelo próprio Presidente e pelos citados comissários, com
ordem expressa do Conselho dos XIX de examinarem esta e outras acusações
semelhantes e de, em seguida, informá-lo a respeito. Chegou-se, mesmo, ao
ponto de não deixar partir o Alto Comissário Hendrik Hamel e os outros Altos
Comissários, até que o Presidente e os novos Comissários tivessem obtido
instruções completas; após o que, se encontrassem qualquer cousa contra
eles, deveriam castigá-los, uma vez provada a culpa.
Estas causas, tomadas em conjunto com as outras, fizeram com que eles não
deixassem passar a ocasião de valer-se da fraqueza dos nossos,
principalmente porque estavam certos do auxílio de Portugal e do da Baía.
Além disso tinham a impressão não só de que o nosso Estado se encontrava
no fim de seus recursos, e impotente, portanto, para mandar, durante mais
tempo, alguns socorros ao Brasil, como a de que esses ataques constituiriam
motivo de alegria e satisfação para o nosso país, porque este procurava livrar-
se, com honra, do pesado fardo brasileiro.
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Acresce também que. nenhum homem sensato poderia acreditar que esta
guerra (que foi feita aos nossos sem declaração ou aviso, mas, até, contra
várias promessas e declarações feitas pelo Governador da Baía Antônio Teles
da Silva aos nossos deputados, quebrando um tratado feito tão solenemente
entre o Rei de Portugal e os Altos Comissários) tivesse começado sem o
conhecimento e ordem expressa do Rei de Portugal, pois que essas mesmas
pessoas podem avaliar e compreender, suficientemente, que um governador,
como Antônio Teles da Silva, não teria coragem de empreender tal cousa sob
sua própria responsabilidade e autoridade. Por aí se vê como alguns estavam
grandemente enganados em acreditar que, prendendo e detendo uns poucos
residentes portugueses, poderia ter sido evitada pelos Altos Comissários,
daquela época, esta guerra ou revolta. A única vantagem que os portugueses
conseguiram e obtiveram, depois da sua aberta revolta, sua apostasia e
inimizade em relação aos nossos, de nenhum modo se originou da sua
coragem e combatividade, mas somente de que os socorros e auxílios
enviados do nosso país para o Brasil aí chegavam num ritmo muito lento e
separadamente, de tempos a tempos.
Aliás, eram eles dos homens mais abastados que viviam em fazendas desta
região, e, das investigações procedidas, nada ficou apurado contra eles.
Naquela época, a revolta não atingira, ainda, várias regiões, como o Rio
Grande, Paraíba, Goiana e outros lugares, cujos habitantes tinham renovado, a
17 de julho de 1645, o juramento de fidelidade. Paulus de Linge, da Fortaleza
Frederica, situada na Paraíba, nos informara desse juramento e de que, aí,
tudo estava em paz e sossego, embora fosse difícil conservar a ordem entre os
brasileiros das Aldeias, a fim de evitar que os mesmos pilhassem os residentes
portugueses. Informava, mais, que para evitar essas pilhagens fizera tudo
quanto lhe fora possível. Diante disso, havia, então, esperanças fundadas de
que, brevemente, se restabelecesse a ordem ou, pelo menos, de que o conflito
se não alastrasse. A Companhia estava, então, em dificuldades, devido ao
excesso de escravos, e recebera ordem expressa do Conselho dos XIX de
vendê-los em três prestações, já que não se podia esperar vendê-los à vista,
pois, devido ao grande número de escravos, o seu preço caíra de 100 oitavos a
25 ou 26 oitavos. Por conseguinte, não se podia imaginar o motivo pelo qual
João Carneiro de Morais e Francisco Dias Delgado haviam ido se reunir aos
rebeldes, de vez que eram ambos idosos, tinham sempre se mantido em paz,
haviam sido acusados falsamente por pessoas que, como outras, não
mereciam, então, mais confiança, e que costumavam vir comprar negros.
Neste momento, a Companhia precisava vender escravos, pois não podia
mantê-los sem grandes prejuízos, conforme ficou provado mais tarde. Os
negros não vendidos eram levados para as Ilhas Caraíbas, livrando-se deles,
assim, a Companhia. Reinavam grande preocupação e descontentamento
entre a população e a burguesia do Recife, e os que acusavam os Altos
Comissários alimentavam esses sentimentos com considerações sobre a ruína
e a decadência do Brasil Holandês. Pode-se crer que alguns elementos da
população se preocupassem com os rumores que então corriam, vendo que
seria difícil abafá-los. Isso se evidenciou no dia 13 de outubro de 1645, quando
alguns comissionados escabinos e outros da milícia da burguesia, bem como
alguns dos principais burgueses, propuseram aos Altos Comissários, para
maior tranqüilidade e contentamento dos burgueses, que alguns dos mais
importantes membros tanto do Colégio dos escabinos como da burguesia
fossem adidos ao Conselho dos Altos Comissários durante a crise, com o fito
de servirem de Conselheiros de todos os negócios e para prover à proteção de
todos e ao bem comum. A isto responderam os Altos Comissários que eles
sabiam de como, em casos importantes, relacionados com a manutenção do
Brasil Holandês, os Altos Comissários se tinham servido não somente do
Conselho dos Senhores da Justiça, das Finanças e do Alto Comando Militar,
mas também dos escabinos e da milícia burguesa; e que eles estavam
dispostos a continuar este uso e ouviriam de bom grado todos aqueles que
propusessem algo para o bem deste Estado.
As colônias que eles levaram para vários países eram como que sentinelas
vigilantes dos povos dominados, a fim de observar se eles planejavam alguma
revolta, e avisá-los a tempo de poderem providenciar, enviando socorros. O
estabelecimento dessas colônias se fazia com grande extermínio dos
residentes dominados, pois estes, de repente, eram despojados de suas terras
e obrigados a cedê-las aos soldados licenciados dos Romanos, sem esperança
alguma de, jamais, poder retomá-las. Não se deve pensar, porém, que
somente com tais colônias e com o prestígio do nome romano, povos tão
poderosos fossem dominados. Além das colônias, os Romanos tinham, por
toda a parte, exércitos permanentes, que impediam levantes e revoltas. Jamais
foi mantido um grande Império somente com postos de vigilância e castelos,
sem poderio militar suficiente, com ou sem colônias. Há, ainda, um outro modo
de colônias ou povoações, diferente do precedente, que oferece maior
estabilidade e durabilidade, evitando o estabelecimento de guarnições, com
todas as despesas e incômodos daí decorrentes, embora seja o mesmo
contrário à religião cristã: a saber, matando e expulsando, depois da vitória, a
maior parte dos antigos residentes, e estabelecendo-se nos mesmos países,
povoando-os com colônias e populações próprias.
454
Não é exata a afirmativa de Nieuhof. Os Caetés, índios tupis que coabitavam desde o São
Francisco até a Paraíba (cf. Soares, LXXXVI, 34), levantaram-se contra os portugueses de
Igarassú, sitiando-os. Duarte Coelho Pereira conseguiu dominá-los e em seguida partiu para o
Reino. Em sua ausência, governou Jerônimo de Albuquerque, irmão de Dona Brites de
Albuquerque, e cunhado de Duarte Coelho. Outro levantamento verificou-se nessa época, e
obtiveram, então, os índios Caetés uma grande vitória no Cabo de Santo Agostinho, contra
Jerônimo de Albuquerque. A rainha Dona Catarina apressou a vinda de Duarte Coelho de
Albuquerque, filho de Duarte Coelho Pereira e seu sucessor, Duarte Coelho de Albuquerque
chegou a Pernambuco em 1560, acompanhado do seu irmão Jorge de Albuquerque Coelho e
vários amigos e gente assalariada. Durante cinco anos combateu Jorge de Albuquerque os
Caetés, condenados anteriormente a perpétua escravidão por um edito régio de 1557. Foi
Jorge de Albuquerque favorecido pelas lutas dos tupinambás e tupinaês confederados contra
os Caetés, que foram inteiramente desbaratados, e os mais tornados cativos. [i]Destes cativos
iam comendo os vencedores quando queriam fazer suas festas, e venderam deles aos
moradores de Pernambuco e aos da Baía infinidade de escravos a troco de qualquer cousa, ao
que iam ordinariamente caravelões de resgate, e todos vinham carregados desta gente, a qual
Duarte Coelho de Albuquerque por sua parte acabou de desbaratar.[/i] A 16 de maio de 1566
partia Jorge de Albuquerque para o Reino, um naufrágio à costa, porém, salvou-o. A 29 de
junho do mesmo ano partia e de lá só voltaria em 1582, para suceder a Duarte Coelho. - Por
erro de revisão, mais provavelmente, ou por lapso, na 3ª edição de Frei Vicente do Salvador
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Do que ficou dito, vê-se claramente qual a razão por que, até o ano de 1629,
quando os nossos tomaram Olinda, existiam no Brasil tão poucos residentes
portugueses. De fato, este só pôde ser habitado no litoral até 7 ou 8 léguas
para o interior, a saber, enquanto havia possibilidade de estabelecer engenhos
de açúcar, de vez que, se os mesmos estivessem muito afastados, as
despesas seriam demasiadamente grandes.
Esta sua impotência e fraqueza foi a causa da nossa vitória: pois que o nosso
ataque teria sido frustrado se o tivéssemos feito nas ilhas a sotavento das
índias Ocidentais ou em outros países populosos. A pesar do nosso grande
poderio, nada pudemos conseguir além da ocupação da cidade aberta de
Olinda e a fortaleza de pedras São Jorge, sem se conseguirem outros
progressos durante muito tempo, sob o ponto de vista do principal interesse
deste Estado. Aparentemente, pode-se verificar, pelas várias maneiras de
povoamento usadas pelos espanhóis e pelos portugueses nas índias
Ocidentais, a razão pela qual os espanhóis, segundo cálculos humanos, eram,
aí, invencíveis, enquanto que os portugueses do Brasil puderam ser
subjugados e derrotados pelos nossos. Os ingleses e franceses não foram
negligentes quanto ao povoamento das Ilhas Caraíbas e da parte norte da
América, à moda dos espanhóis, embora ali, com maior extermínio dos nativos
do que aqui, tornaram-se, em poucos anos, tão fortes, que não temiam nem o
perigo interior nem o exterior. Os nossos, pelo contrário, depois da ocupação
do Brasil, não somente não imitaram qualquer dessas quatro nações,
povoando completamente as novas terras conquistadas, a fim de assegurar, de
uma vez por todas, seu domínio sobre elas, como, o que é pior, nos longos
anos em que as dominaram nem sequer conseguiram que os dois principais
portos de todo o Brasil Neerlandês, Recife e Paraíba, pudessem ser protegidos
por gente livre, além do exército. Da mesma forma, não conseguiram que, em
tão vasta região, se estabelecessem duas colônias particulares com
capacidade, embora as mesmas fossem necessárias e embora se tratasse de
manter subjugadas estas terras conquistadas, com castelos e guarnições.
desorelhamento aos escravos, nos seguintes termos: "Lei III. [i]Dos que furtão vuas em Lisboa
ou riba Tejo, ou na corte. Ordenou o dito Senhor, q qualqr pessoa, q fosse tomada no termo da
cidade de Lisboa, ou da banda dalê, ou riba Tejo, ou em qualqr lugar onde a corte stiuesse, cõ
vuas furtadas, assi de dia como de noite, se fosse pião, fosse açoutado publicamente: & se
fosse escrauo, ale da pena dos açoutes, fosse desorelhado. ... Per hu aluara de 8. de julio de
1521"[/i] (foi. 12 do liv. 3).
Pero Borges, em carta a D. João III, datada do primeiro ano de governo de Tome de Souza, de
7 de fevereiro de 1550, queixa-se de que [i]"nom ay homens pera serem juizes ordinários nem
vereadores e nestes hofficios metião degradados por culpas de muita infâmia e[/i]
DESORELHADOS [i]e ffazião outras cousas muito fora de vosso serviço e rezão"[/i] (Cf. Porto
Seguro, LXXII, 1° tomo, p. 233, nota X de Rodolfo Garcia).
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Sexto: Pouco auxílio ou mesmo nenhum foi dado às pessoas livres; estes não
foram socorridos nem com boas terras, nem com negros (com os quais, no
Brasil, se fazem todos os trabalhos agrícolas), por um preço razoável ou a
longo prazo, a fim de poderem iniciar tais trabalhos.
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A 20 de dezembro de 1653 fundeava diante de Olinda a esquadra portuguesa, composta de
64 navios, inclusive os mercantes e comandada por Pedro Jacques de Magalhães e Francisco
Brito Freire. No dia 25 de dezembro, depois da reunião do Conselho de Guerra, a esquadra
começou o ataque às fortificações do Recife, sitiando-o por mar. (cf. LXXV, 686, 697).
Schonenburgh e Haecxs em seu relatório escrevem 65 a 66 navios (cf. LXXXIII, p. 1). Sobre o
sítio, cf. LXXXIII do lado holandês e do nosso lado [i]"Relaçam Diária do Sitio, e Tomada da
forte praça do Recife, recuperação das Capitanias de Itamaracá, Paraíba, Rio Grande, Ciará, &
Ilha de Fernão de Noronha, por Francisco Barreto Mestre de campo general do Estado do
Brasil, & Governador de Pernambuco. - Lisboa. Com licença. Na Officina Craesbeeckiana.
1654".[/i] A 23 de janeiro de 1654 era suspensa a luta e a 26 assinada a capitulação; a 28
entravam solenemente no Recife as forças restauradoras, tendo à frente o mestre de campo
Francisco Barreto de Meneses. A capitulação assinada em acordo foi publicada na [i]Relacion
Verdadera de Ia recuperacion de Pernanbuco, sitio de su Recife, entrega suya, i de las
Capitanias de Itamaracá, Paraíba, Rio-grande, Ciará, é Islã de Fernando de Noronha, todo
rendido a las armas Portuguesas regidas por Francisco Barreto Maestre de canpo general dei
Estado dei Brasil, i Governador de Pernambuco. Lisboa. Com licêcia. En la Officina
Craesbeeckiana. 1654;[/i] e no [i]Articulen end conditien gemaeckt by het overleveren van
Brasilien. .. beslloten 26 january 1654 gedruckt te's Gravenhage bij Jan Pietersz.[/i] Os artigos
da capitulação foram transcritos por D. Francisco Manuel de Melo (LVI, p. 410-411 - a trégua -
e p. 412-418.- os Assentos e condições; e por Biker no Suplemento à Coleção dos Tratados de
Borges de Castro, vol. IX, p. 122 - segundo Edgar Prestage, LVI, contém essa cópia erros
evidentes, como sejam [i]índios[/i] em vez de [i]judeus;[/i] Varnhagen (LXXIII, p. 368-376)
transcreve a capitulação e os Assentos.
Assinaram a capitulação André Vidal de Negreiros, Francisco Álvares Moreira, Afonso de
Albuquerque, Manuel Gonsalves Correia, confirmados por Francisco Barreto e por parte dos
holandeses, Gysbert de Wit, Huybrecht Brest, Willem van de Wal, W. Falloo. Assinaram, ainda,
W. Schonenburgh, Hendrik Haecxs e Sigemundt van Schkoppe. No citado [i]"Articulen"[/i] falta
o nome de Schkoppe, e na transcrição de D. Francisco Manuel o de Brest.
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Walter van Schonenburgh e Hendrik Haecxs chegaram à Zelândia a 13 de julho, depois de
uma viagem de 4 meses; e a 4 de agosto apresentavam um relatório aos Estados Gerais.
Nesse documento afirmavam que haviam freqüentemente informado os Estados da situação
dos negócios no Brasil, pleiteando remediara falta de socorros e o abandono a que se viram
deixados, e que pretendiam apresentar outro relatório no qual a conduta deles e de seus
soldados seriam justificadas, (cf. Histoire generale des voyages, Paris, Didot, MDCCLVII, Tomo
14, p.206). Sobre o relatório do Presidente e do Conselheiro, vide LXXXIII. Haecxs escreveu
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um diário que vem citado no prefácio, nota 3. Souto Maior traduziu parte desse diário, que vem
publicado em LXXXVIIÍ, p. 435-437. Schkoppe foi, por sentença do conselho de guerra de 20
de março de 1655, privado de seus soldos. (cf.LXXIII, p. 386). É curioso, também, consultar as
opiniões de Groot filho sobre a derrota dos holandeses, (cf. Observações sobre a
transplantação dos frutos da Índia ao Brasil de Duarte Ribeiro de Macedo, in Antologia dos
economistas portugueses, séc. XVII, Antônio Sérgio, Lisboa, 1924, p. 379-382).
460
A luta e a restauração no nordeste brasileiro suscitaram muitos problemas e questões para
a dilomacia portuguesa. No quadro das relações diplomáticas , muitas foram as missões
enviadas a Haia e muitos os residentes cujos trabalhos resumiam-se no ajustamento dos dois
países.
Em agosto de 1651, D. João IV, por alvitre do cônsul holandês em Portugal, enviava a Haia um
projeto de acordo, que não foi aceito. Somente de 1661 os Estados Gerais dos Países – Baixos
apresentaram ao embaixador extraordinário D. Henrique de Souza Tavares, Conde de
Miranda, um ultimatum, pelo qual o acordo combinado com o Estado de Holanda deveria ser
assinado dentro de 10 dias, ou então ele teria de retirar-se. A 06 de agosto foi assinado e
somente a 24 de maio de 1662 ratificado por D. Afonso VI, sendo proclamado apenas a 27 de
abril de 1663. O tratado estipulava o pagamento de 4 milhões de cruzados dentro do prazo de
16 anos, como indenização pela perda do Brasil e a restituição de toda a artilharia que tivesse
as armas da Holanda; o preço pelo qual podiam comprar o sal de Setubal devia ser fixado
anualmente por mútuo acordo.; seria concedida liberdade de cmércio nas colônias,nas
mesmas condições em que os ingleses dela gozavam nessa época ou de futuro viessem a
gozar; deviam cessar as hostilidades na Europa dois meses depois da assinatura e fora dela
depois da sua publicação; os territórios e fortalezas ficariam em poder de quem ao tempo os
Em agosto de 1651, D. João IV, por alvitre do cônsul holandês em Portugal, enviava a Haia um
projeto de acordo, que não foi aceito. Somente de 1661 os Estados Gerais dos Países – Baixos
apresentaram ao embaixador extraordinário D. Henrique de Souza Tavares , Conde de
Miranda, um ultimatum, pelo qual o acordo combinado com o Estado de Holanda deveria ser A
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Ceará
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Jürgens Reijmbach