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Cultura e o indivíduo
Um homem da Nova Guiné, examinando povo da Nova Guiné é uma criação cumulativa
com seriedade os borrões de tinta de um teste de dos adultos que reflete suas experiências comun
Rorschach que lhe foi apresentado por um antro- na primeira e na segunda infância?
pólogo, descreve o que vê neles: um turbilhão de Ou será que o processo pelo qual as tradi-
pássaros em movimento, morcegos e criaturas mí-
ções culturais se acumulam e mudam está apena
ticas da floresta onde ele mora. Se um morador de
remotamente conectado com os conflitos e fan-
Los Angeles respondesse às manchas de tinta do
tasias psicológicas de indivíduos crescendo em
Rorschach dessa maneira, seria muito estranho - e
uma sociedade? Se o novo-guineense vê pássa-
indicaria problemas psicológicos profundos. Mas
ros, morcegos e criaturas míticas nos borrões de
e se os outros habitantes da comunidade da Nova
tinta, ele estará simplesmente reagindo a essas
Guiné todos vissem seres espirituais nas estampas
manchas ambíguas com base nas tradições sim-
de borrões de tinta?
bólicas de sua comunidade, apenas secundaria-
Há técnicas psiquiátricas padrão para inter- mente relacionadas com a dinâmica subjacente
pretar os testes de Rorschach. Mas será possível de sua personalidade? E como, uma vez que le-
aplicá-Ias na Nova Guiné? O que significa se os vantamos essas questões, devemos distinguir en-
moradores de aldeias em montanhas remotas, tre a cultura da comunidade e a psicologia do
propiciando os fantasmas dos antepassados e se- indivíduo?
res espirituais, produzem respostas que, em Los
Essas perguntas apontam para questões con-
Angeles, indicariam psicose ou neurose séria?
ceituais básicas sobre significados privados e signi-
Será que isso significa que as técnicas de pontua-
ficados públicos, personalidade e cultura, e como
ção estão corretas ao medir estresse psicológico
as tradições culturais em uma comunidade são
evero, mas que os homens nessa sociedade da
ova Guiné estão condicionados culturalmente construídas, e mudam progressivamente. A menos
para sofrer esse estresse pelos traumáticos ritos que possamos resolver essas questões preliminar-
de iniciação e cultos perigosamente secretos pelos mente, nossos exames dos modos de vida de ou-
quai eles foram elevados à hombridade? E o que tros povos podem começar em um terreno muito
dizer do fantasmas dos antepassados, perigosos escorregadio.
e unitivos? São elas imagens ilusórias psicologi- No entanto, ao tentar resolvê-Ias, deparamo-
enre projetadas de pais autoritários e figuras -nos com um .problema. Nas décadas de 1930,
masculinas autoritárias? Será que a cultura desse 1940 e 1950 os antropólogos - principalmente
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CULTURA E o INDMDUO 71
ricanos, entre os quais os mais conhecidos em desagrado. A partir de 1960, a pesquisa sobre
am Margaret Mead, Ruth Benedict e Ralph "cultura e personalidade" deixou de ser moda e
ton - abordaram essas perguntas diretamente. passou a ser um tanto desacreditada. Uma tris-
a tradição de pesquisa sobre "cultura e per- te consequência disso é que muitas das questõe
nalidade" estabeleceu-se como ponto central empíricas e conceituais críticas foram, com muita
di ciplina, adquirindo uma urgência especial frequência, varridas para debaixo do tapete e e -
rante a Segunda Guerra Mundial por meio quecidas. Uma espécie de fé frívola no antigo dito
tentativas de delinear o "caráter nacional" de metodológico do sociólogo francês Émile Dur-
amigos e inimigos. Como esta área estava infes- kheim de que as explicações psicológicas de fato
- da com problemas conceituai profundos, cir- sociais são sempre erradas serviu de base para a
laridades e paradoxos metodológicos, ela caiu análise antropológica por tempo demai . Mai
72 CULTURA E O INDIVfDUO
rurai podem prescrever a busca de várias metas e reforçam alguns de nossos potenciais e restrin-
em e rilos diferentes - a livre indulgência ou a re- gem outros. Mas todos esses elementos - tendên-
pressão da sexualidade, a expressão dramática ou cias para competir e cooperar, para ser violem
a supressão da raiva. Mas sob esses códigos de ex- ou gentil - estão em aberto e incompletos a me-
pectativa cultural, argumenta Spiro, encontram- nos que lhes sejam dados significados culturai
-se as tendências humanas à raiva, à competição, e canais de expressão. Essa expressão pode ser
à ligação positiva e à solidariedade que os códigos aberta em algumas sociedades, relativamente es-
culturais podem canalizar, empurrar sob a super- condida em outras. Assim o hopi, supostamen-
fície e expressar de maneiras diferentes, mas nun- te gentil, expressa hostilidade de maneiras que
ca eliminar ou em última instância negar (cf. tb. normalmente ficam sob a superfície de controle
JORDAN & SCHWARTZ, 1990; SPIRO, 1982). externo; ela vem à tona quando as bruxas são
expulsas para o deserto. Os balineses gentis no
Essa perspectiva é útil, mas exige certa pre-
trato com seus semelhantes explodiram em orgias
caução. No momento em que começamos a falar
de violência assassina em 1965 quando mataram
sobre uma "natureza humana" biologicamente dezenas de milhares de seus conterrâneos em ex-
estruturada podemos muito facilmente cair nos purgos políticos. Os semais da Malaia, retratados
mesmos erros dos estudiosos antigos que falavam por Dentan (1968) como "o povo gentil" come-
sobre "instintos" - contra quem os deterministas teu atos terríveis de crueldade e violência durante
culturais reagiram de uma maneira que, no final, os tumultos civis em um ambiente urbano. Como
tornou-se exagerada. Se, como uma espécie, os observa Spiro:
humanos têm tendências comportamentais inatas, Os hopis podem ser não menos hostis que
essas tendências estão "em aberto". Ou seja, elas os sioux, apesar de os últimos exibirem
não são programas especificados inatamente para muito mais agressão social e [...] de seus
o comportamento e sim tendências que dependem valores culturais relativos à agressão se-
do aprendizado cultural para sua expressão. Elas rem diferentes [...] (SPIRO, 1978: 358).
representam um lado de um padrão, com a ou-
tra parte deixada em branco para ser preenchida Os erros na visão tradicional de cultura e
pelo aprendizado cultural. Todas as populações personalidade foram bem resumidos por Spiro
compreendem um reservatório de diversidade em (1978) ao refletir sobre o curso de sua própria
carreira intelectual:
temperamento. Uma tradição cultural que reforça
positivamente ou prescreve gentileza e controle Quando antropólogos começaram a con-
será congruente com o temperamento de alguns siderar a cultura como sendo internaliza-
da pelos atores sociais [...] começaram a
indivíduos, mas será considerada repressiva por
argumentar que a cultura era o conteúdo
outros; uma tradição que valoriza as bravatas de
[...] exclusivo do [...] organismo [...]. Já
guerreiros será congruente com o temperamento
que a cultura é encontrada em uma varie-
de alguns indivíduos e não de outros. dade espantosa de manifestações locais,
Portanto, em sua avaliação e canalização di- os antropólogos começaram a ver cada
'erente de elementos no repertório de comporta- cultura como uma criação mais ou menos
en o humano, as tradições culturais selecionam historicamente única, cada uma produzin-
§7 CULTURA E PERSONALIDADE: ALÉM DO DETERMI ISMO CUl 5
mente separáveis. A "cultura japonesa" não tem eles emergem se desenvolvem na maior parte da
predisposições genéticas, reações bioquímicas ou vezes de conceitos ocidentais das doenças. Ele
medos. No entanto o mundo privado peculiar do demonstram os perigos dessas premissas citando
paciente estava intimamente conectado com as um estudo de 1975 de Jablensky e Sartorius que
ideias, valores e códigos comportamentais que observaram que sintomas associados com a esqui-
são amplamente compartilhados pelas pessoas nas zofrenia, tais como algumas alucinações senso-
comunidades japonesas. riais, embora raramente relatadas nas populaçõe
de pacientes europeus, aparecem com alguma fre-
Uma das dificuldades em compreender e com-
quência em pacientes de outros países.
parar a interação de sistemas psicobiológicos em
várias culturas e sociedades diferentes reside nas Tentativas para padronizar critérios de diag-
construções culturalmente dependentes daquilo nósticos levam à padronização de métodos e me-
que é considerado comportamento "normal" e tas de tratamento. Uma vez mais, as ideias, va-
o que é considerado comportamento "anormal". lores e códigos comportamentais culturais fazem
Além disso, o conceito dos processos físicos do com que a padronização seja praticamente impos-
corpo pode diferir e isso, por sua vez, irá influen- sível. Mesmo as restrições logísticas impostas pela
ciar as percepções de processos normativos ver- falta de pessoal treinado e instalações adequadas
sus processos doentios. Por exemplo, Sudir Ka- para o tratamento de doentes mentais em algumas
kar (1991), em sua discussão de se os conceitos áreas, ela própria muitas vezes resultado de con-
freudianos de mente e corpo eram expressões de dicionamento cultural, faz com que a comparação
leis universalmente constantes ou sujeitas a modi- entre as culturas seja difícil.
ficações culturais, relata que o conceito hindu de A interação entre o privado e o social, o in-
"corpo sutil", embora análogo em alguns aspectos divíduo e o coletivo, o biológico e o cultural,
ao conceito ocidental de "psique", não é consi- emerge surpreendentemente nas formas de doen-
derado como uma categoria psicológica na Índia. ças mentais bastante diferentes daquelas familia-
Tentar então aplicar critérios diagnósticos para res à psiquiatria ocidental. Doenças associadas à
estados de enfermidade específicos entre culturas cultura foram descritas nas quais episódios apa-
que podem definir conceitos tão básicos quanto rentemente psicóticos adotam modelos padroni-
contextos que também diferem torna-se difícil mes- incorporam sistemas de crença que se tornaram
mo no melhor dos casos. A diagnose de esquizofre- parte da tradição cultural. Nessas doenças, uma
nia uma vez mais serve como modelo para ilustrar pessoa pode expressar uma ruptura psicótica com
Agressão qolla
Os qollas dos Andes sul-americanos e outros povos dência neurofisiológica e bioquímica, Bolton sugere que
de língua aimará foram descritos por muitos observa- a hipoglicemia moderada pode ativar padrões de reação
dores por mais de um século como sumamente agres- agressiva no sistema neural de tal forma que indivíduos
sivos, hostis, violentos, traiçoeiros - a lista de adjetivos afetados dessa forma estão inclinados à excitabilidade e
derrogatórios continua. Vários observadores atribuíram a à violência que são facilmente provocadas por estímulos
turbulência social e psicológica dos aimará ao difícil meio normalmente inócuos da vida social cotidiana. Bolton tes-
ambiente de grandes altitudes, uma existência de pobreza tou os níveis de glicose de homens qollas e, separadamen-
e cruel dominação por outros grupos sul-americanos e te, fez com que os próprios qollas avaliassem mutuamente
depois pelos espanhóis e classes dominantes mestiças. sua agressividade segundo uma escala de quatro pontos.
Bolton considera essas interpretações como ape- Na amostra, a suspeita de Bolton foi surpreendentemente
nas parciais: elas não explicam as variações individuais na confirmada: dos treze homens classificados pelos qollas
agressividade entre os qollas, os mecanismos pelos quais o como altamente agressivos, onze mostraram ter uma de-
estresse social e psicológico é traduzido em um compor- ficiência moderada de glicose enquanto um era normal e
tamento agressivo e o comportamento bastante diferente um tinha deficiência baixa. Entre os treze na extremidade
exibido por outras populações sujeitas a pressões aparen- inferior da escala de agressividade oito tinham níveis nor-
temente semelhantes. Deve haver um elemento faltante mais de glicose, três tinham deficiência moderada e dois
e uma maneira de escapar da circularidade da explicação. tinham deficiência severa. (A hipótese de Bolton era que
uma deficiência severa levaria a um nível baixo de energia,
Bolton levantou a hipótese de que a grande altitu-
e isso talvez limitasse a agressividade.)
de e a dieta de má qualidade colocam muitos indivíduos
em um nível muito mais baixo do que os níveis ideais de A amostra é bastante pequena, as medidas inevitavel-
glicose, embora a bioquímica e a dieta individual levem mente menores que o ideal, e o conhecimento biológico dos
a graus diferentes de hipoglicemia. Baseando-se em evi- mecanismos envolvidos infelizmente ainda é um tanto limi-
da mente. Mencionamos alguns elementos dessa oncos são padrões que nós interpretamos como
compreensão que surge nos dois últimos capítu- reflexos; sabendo que as ruas não são feitas de
los - a maneira como os humanos constroem em vidro, que elas refletem a luz só quando cober-
uas mentes as coisas que veem e ouvem, a natu- tas com água, "vemos" a rua molhada e dirigi-
reza de conceitos tais como "cadeiridade" com mos de acordo. O conhecimento do mundo de
relação ao significado e os modelos aparente- que dependemos para construir percepções disso
mente universais e parcialmente inatos de lógica foi descrito por Gregory como nossos "modelos
que subjazem à diversidade linguística. internos de realidade" (1969, 1970).
o domínio da percepção, R.L. Gregory ex- Se ampliarmos o termo um pouco mais, ele
lorou a maneira pela qual aquilo que vemos é incluirá não só nosso conhecimento da rua mo-
rruído a partir daquilo que conhecemos. Nós lhada e de mesas e cadeiras, mas também nosso
"vemo ' a calçada molhada; ao contrário conhecimento de eventos e atos e o que eles sig-
rennas passam para nossos nervos nificam. Assim, nOSS0Smodelos internos da reali-
§8 A CULTURA COMO MODELOS INTERNOS DA RE..tIUOADE 7
""""=,-""" esse exemplo realmente sugere que há uma cone- gião do Lago Titicaca do Peru e da Bolívia. Hoje, além dessas
-~. ~",,",Iógica em uma rede complexa de variáveis - envol- áreas, eles podem também ser encontrados na Argentina.
era, altitude e estresse social - que torna os qollas
Durante a década de 1970, Ralph Bolton continuou a
••• ~aveis a conflitos interpessoais e a explosões social e
investigação de sua hipótese de que há um elo causal entre
J5(:::i::~lcamente perturbadoras de hostilidade. (BOLTON,
hipoglicemia crônica e comportamento agressivo. Estudos re-
probabilidade de que essa conexão fisiológica, en-
centes (1994-1995) do comportamento de prisioneiros vio-
O!ierxk> hipoglicemia, contribui para a agressão entre qollas
lentos na Finlândia também postularam uma correção entre
':Mc!uaJs foi reforçada por pesquisas adicionais.
hipoglicemia e comportamento irritável, impulsivo e agressivo.
ministrando o Teste de Complexão de Frases aos
Bolton (1976) descobriu diferenças nas respostas
e por parte de indivíduos com deficiência mode- Para maiores informações
glicose ou glicose normal. Indivíduos hipoglicêmi- BOLTON, R. (1976). "Hostility in Fantasy: A Further Test
ram respostas agressivas ao teste significativamente of the Hypoglycemic-Aggression Hypothesis". journal of
IS frequência. Mas é ilustrativo da complexa intera- Aggressive Behavior, 2 (4), p. 257-274.
tre fatores fisiológicos e culturais que as respostas
SALLNOW, M.J. (1989). "Cooperation and Contradiction:
as eram provocadas com mais frequência quando
The Dialectics of Everyday Practice". Dialectical Anthropo/o-
es referiam-se a áreas especiais nas quais a agres-
gy, 14 (4), p. 241-257.
:ocalizada na sociedade qolla; terra, mulheres, figuras
toridade, parentes do sexo masculino e dinheiro (cf. VIRKKUNEN, M.; KALLlO, E.; RAWLlNGS, R.; TOKOLA,
_~ON, 1976, 1978). T.R.; POLAND, R.E.; GUIDOTTI, A.; NEMEROFF, BIS- c,
SETTI, G.; KALOGERAS, K.; KORONEN, S.L. & LlNNOI-
LA, M.M. (1994). "Personality Profiles and State Aggressive-
ização do caso ness in Finnish Alcoholic, Violent Offenders, Fire Setters
Os qollas (ou collas) são parte dos aimarás, uma popula- and Healthy Volunteers". Archives of General Psychiatry, 51
igena sul-americana que tradicionalmente vivia na re- (I), p. 28-33.
quai antropologicamente falando, esse ataque A cultura como um modelo interno de rea-
interdisciplinar nos mistérios da mente é crucial. lidade não compreende tudo que um indivíduo
"sabe" sobre o mundo (KEESING, 1974). O que
sei sobre a cadeira mais confortável na sala de vi-
Cultura como um modelo interno
sitas, as peculiaridades do Tio Jake, e as preferên-
Lembrem que no Capítulo 2 examinamos a cias dietéticas de meu cachorro são parte de meu
cultura a partir de duas direções. Como físicos modelo de realidade, talvez, mas não são exata-
que devem ver a luz tanto em termos de partículas mente parte da minha cultura. Aqui uma vez mais
e em termos de ondas - porque cada perspectiva obtemos uma linha divisória entre o domínio da
exige e implica a outra - os antropólogos devem "personalidade" no sentido de minha integração
considerar a cultura tanto como um sistema cog- e orientação psicológica para o mundo como um
nitivo organizado em mentes individuais e como indivíduo e organismo biológico único, e aque-
um sistema compartilhado em uma comunidade, le segmento do meu modelo de realidade que é
um sistema de significados públicos e coletivos. útil chamar de minha versão da cultura. O último
Vendo a cultura como um sistema de signi- consiste na minha teoria sobre significados e códi-
ficados acima e além dos indivíduos nos permi- gos para o comportamento que outros na comu-
te ver como a realidade é socialmente definida e nidade estão usando.
construída. Como Geertz (1973) colocou: Assim, quando aprendemos que roupa usar,
Do ponto de vista de qualquer indivíduo ou onde e como apertar a mão de outra pessoa,
específico, os símbolos culturais são em é com referência a um código que - presume-se -
grande parte dados. Ele os encontra já em os outros estão acompanhando. Quando apren-
atuação na comunidade quando ele nasce
demos o que uma palavra significa, é com refe-
e eles continuam, com algumas adições,
rência à maneira como outras pessoas presumi-
subtrações e alterações parciais para as
velmente a estão usando e compreendendo. Nos-
quais ele pode ou não ter contribuído, em
so conhecimento de nossa cultura compreende
circulação depois de sua morte. Enquanto
nosso modelo desse código que está sendo usado
vivo, ele os usa, ou alguns deles [...] para
colocar uma construção sobre os eventos em nossa comunidade. Enquanto nossa memória
pelos quais ele passa. compreende o conhecimento do particular, de
experiências e eventos, o conhecimento cultural
Examinando a cultura como um sistema cog- é generalizado. Ele compreende princípios e sig-
nitivo, como modelos internos de realidade dis- nificados e "regras" construídas como teorias a
tribuídos na comunidade, nos permite pergun- partir de experiências específicas. Adotando essa
tar sobre a diversidade de modelos individuais e perspectiva de significados culturais - o que não
obre a política do conhecimento. E pelo menos impede e aliás até exige que adotemos também a
igualmente importante, isso nos permite explorar perspectiva de Geertz - podemos perguntar sobre
as restrições no conhecimento cultural impostas como as teorias culturais do mundo são aprendi-
ela biologia - perguntar que tipos de modelos das, como são organizadas e com que amplitude
in erno de realidade podem ser aprendidos e elas variam de uma sociedade para a outra.
do por animais como nós.
§8 A CULTURA COMO MODELOS INTERNOS DA REAUDADE 81
o costumes de outros povos essas questões pode- embora tendam a ter opiniões acaloradas sobre
riam não importar. Mas os antropólogos inevita- essas questões, não têm nenhum meio de saber as
velmente tentam fazer mais: caracterizar a visão respostas corretas.
do mundo ou modos de pensar de outros povos, Há razões crescentes para pensar que a lógica
avaliar a diversidade de culturas. E quando eles cultural e as visões do mundo são muito me no
entram nesse território, mesmo quando escrevem diferentes do que pareciam em um dado momen-
em termos da cultura como transcendendo os in- to. Parte da evidência vem da linguística, onde
divíduos, em termos de significados compartilha- lógicas universais subjacentes emergem cada vez
dos e sistemas simbólicos, ainda estão pisando em mais. Parte vem dos estudos de repertórios com-
areia movediça. portamentais e do potencial cognitivo de nosso
parentes primatas. Alguns antropólogos argumen-
taram, por exemplo, que a capacidade de reco-
Sistemas cognitivos e variabilidade cultural
nhecer imagens de duas dimensões como repre-
Essas questões de como uma criança constrói sentações de pessoas e objetos é uma habilidade
um modelo interno de realidade são cruciais na cultural especialmente do Ocidente. Alguns povos
avaliação da diversidade cultural. Será que todas na Nova Guiné pareciam incapazes de reconhecer
as tradições culturais, consideradas como mode- as imagens em quadros quando esses lhes foram
los da realidade construídos nas populações com mostrados pela primeira vez. Mas tarde, aprende-
o passar do tempo (e aprendidos por cada criança ram como fazê-lo, mostrando que a capacidade de
nascida naquela sociedade), têm a mesma estru- reconhecer representações de duas dimensões de
tura básica? As maneiras de vivenciar o tempo, objetos é claramente parte de nosso equipamento
o espaço, e talvez a causalidade serão substan- perceptual, não uma peculiaridade cultural.
cialmente determinadas pela nossa herança evo-
A evidência que vem se acumulando parece
lucionária? As tradições culturais podem diferir
agora indicar uma espécie de orientação cotidiana
em suas expressões idiomáticas e metáforas para
da "realidade", uma sensação de espaço e tempo e
falar sobre o tempo, o espaço e a causalidade;
causalidade que, essencialmente, é biologicamen-
mas nossa experiência delas pode ser fundamen-
te estruturada, um produto da evolução de pri-
talmente estruturada por nosso equipamento per-
matas e mamíferos e comum a todos os humanos
ceptual-conceitual. Essas estão entre as questões
em todas as partes do mundo. Nossas faculdades
mais cruciais abordadas pela antropologia. Mas a
linguísticas, um produto da evolução recente,
evidência que os antropólogos coletam é por na-
descansam sobre essas capacidades e nos permi-
tureza aberta à interpretação nas duas direções.
tem - de nossas várias maneiras - falar sobre elas.
Isto é, ela pode ser interpretada como se indicasse
que os mundos do pensamento de povos diferen-
te ão radicalmente diferentes e moldados cultu- o desenvolvimento cultural de capacidades
ralmente; ou como se indicasse que esses mundos cognitivas
e:rperienciais são fundamentalmente os mesmos A essa orientação cotidiana da "realidade"
do idiomas culturais diferentes para falar várias tradições culturais acrescentaram elabo-
- me ma experiências. Os antropólogos, rações: estados de espírito místicos e mundos
§9 A PSICODINÂMICA DA PERSONALIDADE EM UMA PERSPECTIVA EVOLUCIO 83
=~ilC-O , buscas de visões e jornadas míticas, peritos e seus idiotas, seja qual for a técnica em
e possessão e frenesis religiosos. Os ri- questão. Diferenças em estilo cognitivo foram
hora do sonho" dos aborígenes austra- extensivamente estudadas em várias culturas nos
o transes de Bali, as seções de magia negra últimos anos - embora, como no caso de testes
. as visões induzidas por alucinógenos da de personalidade, dificuldades de concordância e
Wl:SJ;::unéricaou da Amazônia, são expressões de vieses culturais nos instrumentos do teste dificul-
,;;::~[dades pan-humanas para estados da cons- tem a interpretação dos resultados (cf, COLE &
alterados/exaltados. Esses podem repre- SCRIBNER, 1974).
- o desenvolvimento e a avaliação cultural A essa altura, tendo examinado as culturas
:uldades mentais - para o pensamento místi- como sistemas de conhecimento, como modelos
lístico - que estão subdesenvolvidos e des- internos de realidade, precisamos equilibrar essa
dos na tradição racional ocidental. Muitos ênfase em cognição examinando agora o outro
er expressões das faculdades centradas lado da personalidade, o domínio das emoções.
rebro, complementares às faculdades da lin-
,..--...•
:-~." e da lógica analítica. Mas isso não é dizer
sumas pessoas caminham o dia todo em um 9 A psicodinâmica da personalidade
de unicidade mística com o cosmos. Quan- em uma perspectiva evolucionária
caçam, cozinham o jantar, e coçam seus
ro estão sendo tão racionais e pragmáticas O lado emocional da vida mental humana,
são os seres humanos em qualquer parte do em contraste com seu lado cognitivo, vem sendo
o a maior parte do tempo. convencionalmente chamado de psicodinâmica.
A imagem aqui é das emoções como uma força
desenvolvimento cultural especial de capa-
propulsora no comportamento, fornecendo a for-
.x.:!.:lí~ mentais emerge em outros domínios da
ça motriz por trás da fantasia e da ação. Aqui exa-
te também. Com a emergência da alfabetiza-
minaremos as antigas teorias da psicodinâmica à
em massa, os humanos se tornaram lamen-
luz das novas explorações da mente e da herança
ente ineficientes nas tarefas de memória
biológica.
eram lugar comum para seus antepassados.
cas especiais de percepção visual, de loca-
-- o, de resolução de problemas ou de nave- A teoria psicanalítica e a cultura
-o podem ser fomentados por treinamento e A corrente de pensamento mais influente na
riência, culturalmente reforçados. Assim os pesquisa moderna da personalidade foi a teoria
cimos da Micronésia que navegavam pelas psicanalítica - o trabalho de Freud e de eus alu-
ias e pelas marés, ou os caçadores africanos nos e sucessores. Desde as duas primeiras déca-
:1 tralianos buscando a caça, ou os polinésios
das do século XX antropólogos mantiveram um
tando genealogias extremamente longas, es- diálogo contínuo com psicanalistas, através de fi-
odos usando técnicas apuradas em tradições guras como Kroeber, Linton, Mead, Kluckhohn,
ais específicas. LaBarre, Leach e Fortes. O lado antropológico
Essas técnicas não são compartilhadas igual- desses diálogos abarcou desde empréstimos soli-
e por todos; todas as sociedades têm seus dários até ceticismo crítico. Uns poucos estudio-
CULTURA E O INDiVíDUO
sos cujo treinamento ou compromisso primordial pressa por parte de pacientes vienenses que ele
era na psicoanálise, principalmente Roheim, Kar- tratou teria levado Freud a acreditar erroneamen-
diner e Erikson, trabalharam diretamente com te em modelos abertamente limitados do incons-
materiais antropológicos. ciente? É o Complexo de Édipo realmente univer-
Um elemento desse diálogo foi perguntar se sal na experiência humana? A hostilidade entre
as teorias psicanalíticas do inconsciente poderiam pai e filho na primeira infância e a rivalidade pela
iluminar costumes, crenças e comportamento em sexualidade da mãe que Freud considerava cen-
sociedades não ocidentais. Será que os espíritos tral na psicologia humana em qualquer parte do
sobrenaturais de um povo poderiam representar mundo tomam a mesma forma e têm a mesma
projeções de figuras paternas e maternas e, por- importância nos lugares em que - como nas Ilhas
tanto, dos conflitos das primeiras experiências? Trobriandesas - o tio maternal de um menino, e
Questões como essas foram um tema permanente não seu pai, é o disciplinado r severo? (cf, OBEYE-
na antropologia psicanaliticamente orientada. SEKERE, 1984; SPIRO, 1982).
Outro elemento foi o esforço para expandir O interesse antropológico na psicanálise foi li-
a teoria psicanalítica, tornando-a menos presa à mitado, especialmente na antropologia social britâ-
culrura. Será que a repressão da sexualidade ex- nica, por uma preocupação relativamente restrita
§9 A PSICODINÂMICA DA PERSONALIDADE EM UMA PERSPECTIVA EVOLUCIONARIA 85
nados pelos estímulos biológicos para comer e Hoje parece que tudo isso estava apenas par-
reproduzir e da mesma forma para matar, para o cialmente incorreto. À luz da etologia moderna
combate da caça e para acasalar. Como os seres ela deturpa substancialmente nossa natureza ani-
humanos são animais, esses impulsos biológicos mal. Primeiramente todos os mamíferos são, em
devem estar localizados profundamente no cére- vários graus, animais sociais. São biologicamente
bro e ser cobertos pelos mecanismos da mente programados não apenas para satisfazer impul-
consciente. O aprendizado cultural deve forne- sos individuais, mas para viver em grupos. O
cer os controles pelos quais a natureza animal é padrões comportamentais que são transmitido
mantida dentro dos limites e obrigações morais, biologicamente e moldados pela evolução são or-
pois, sem os controles culturais, nossos impul- questrados para produzir comportamentos gru-
sos sexuais, da fome e da agressão escapariam pais que são adaptáveis.
de nosso controle e a vida social ordenada se- O modelo da mente consciente superimposto
ria impossível. Mas Freud acreditava que nossa sobre a natureza primária é parcialmente confir-
verdadeira natureza animal e as fontes de nossa mado pelo conhecimento moderno do cérebro
psique e, portanto, de nossa energia física, estão em uma perspectiva evolucionária, mas é sim ple
sob esses revestimentos conscientes. demais. O sistema límbico do cérebro - evolu-
Freud acreditava que a vida mental humana cionariamente antigo - está direcionado para a
é uma dinâmica constante de conflito e controle, sobrevivência e para a reprodução e é a fonte
de expressão canalizada, redireção e repressão neural dos surtos de raiva e de outras emoções.
de impulsos e energias básicos instintivos; o con- No decorrer da evolução dos mamíferos, ele não
trole cultural e, portanto, a vida social, exige um foi suplantado e eliminado, mas, com o desen-
sério custo em termos de ansiedade, conflito e volvimento do neocórtex, foi conectado a um
muitas vezes neuroses. Os processos normais da sistema mais complexo onde o antigo sistema
psique - de sonhos e outras fantasias, de simboli- límbico continua a atender às demandas básicas
zação, de interação social cotidiana - expressam de sobrevivência (McLEAN, 1964, 1968, 1969,
o bloqueio, a redireção e a expressão dissimula- 1970).
da das energias de nossas forças vitais naturais. Na evolução marnífera e hominídea o siste-
Freud afirmava que, como somos incapazes, em ma límbico e o neocórtex foram evolvendo jun-
virtude da convenção cultural, de lidar direta tos como um sistema - um sistema que deve ser
e conscientemente com os impulsos sexuais e adaptável para que as espécies possam sobrevi-
agressivos tão centrais em nossa mente incons- ver. Os humanos, ao desenvolverem capacidades
ciente, reprimimos, sublimamos, ocultamos em corticais maciças para a resolução de problemas
ímbolos, negamos, redirecionamos. Embora os e a elaboração simbólica, também desenvolve-
eu to da saúde psíquica sejam severos e se ma- ram um circuito complexo que se conecta com
ni e tem em neuroses ou, no pior dos casos, em partes mais antigas do cérebro. O controle corti-
o e esses processos de fantasia e repressão cal dos processos límbicos é um produto da evo-
ém ubjazem às criações culturais da arte e lução, não uma imposição cultural sobre nossa
li ião. natureza biológica (cf, OAMASIO, 1994).
§9 A PSICODINÂMICA DA PERSONALIDADE EM UMA PERSPECTIVA EVOLUCIONARIA 87
veis" como sendo mais ou menos profundos xo de Édipo, a ligação sexual entre a mãe e o filho,
e er adequada. As estruturas do cérebro pelas com o pai como rival e figura autoritária, como
uma fase crucial no desenvolvimento da persona-
. os hemisférios cerebrais esquerdo e direito
lidade adulta. (A imagem feminina equivalente, o
complementares - o esquerdo normalmente
Complexo de Electra pelo qual uma menina de-
mpenhando operações predominantemente
senvolve uma ligação sexual com o pai, recebeu
ísticas, lógicas e sequenciais e o direito de-
menos atenção. Cf. CHODOROW, 1979; MIT-
enhando predominantemente operações ho-
CHELL, 1974; STROUSE, 1974, para reflexões
e integrativas - fazem com que qualquer
sobre os vieses sexuais da teoria psicanalítica.)
epção estratigráfica da mente seja inadequa-
O mesmo ocorre com os resultados de danos À luz dos estudos do comportamento moder-
rebrais que apontam para várias locações cere- no dos seres humanos e seus parentes mais próxi-
e processamento e organização diferentes mos no reino animal, essa ênfase assume um novo
programas para a linguagem, para lidar com significado. O trabalho de John Bowlby e seu
eio ambiente natural, e para lidar com o am- colegas (BOWLBY, 1969) indica que muito ante
nte social. de o desenvolvimento dos complexos de Édipo e
de Electra, um bebê (de qualquer um dos gêne-
Por exemplo, alguns pacientes com danos
ros) forma um vínculo psicológico profundo com
rebrais estão gravemente prejudicados em suas
a mãe (ou alguém que a substitui). Para o bebê
a ões sociais em virtude de sua incapacidade
o sistema de conexão psíquica mais importante
"ler" as respostas e estados de humor dos ou-
começa a operar entre as idades de três e ete me-
e, no entanto, podem ler jornais ou desern- ses. Esse vínculo primário, extremamente bá i o
nhar operações manuais sem problemas; em e formativamente crucial dos vínculo p íquico
tros casos as relações sociais dos pacientes não colore os vínculos emocionais na vida po erior.
prejudicadas, mas sua capacidade de mani- Os complexos de Édipo e Electra ão de envolvi-
ar o ambiente físico é seriamente prejudica- mentos que surgem desse vínculo anterior (não
pelo dano cerebral. Em um caso famoso, um sexual). Tanto em sua ênfase nas fase exualiza-
positor soviético perdeu totalmente o poder das" subsequentes da ligação p Iquica entre pais
linguagem em virtude de um dano cerebral de e filhos e seu tratamento relativamente ubde en-
ande porte, mas continuou a compor música. volvido de outros sistemas de ligação p íquica (o
onsciente e o inconsciente, portanto, devem vínculo com colegas, o vínculo com parceiros), a
- onsiderados como uma simplificação extre- teoria psicanalítica é muito re trita em sua visão
88 CULTURA E O INDiVíDUO
veem significados coletivos e sociais? O ensaio "funcionar" precisamente porque eles relacio-
ictor Turner (1978) sobre o encontro de um nam os significados sociais com a psicodinâmica
rropólogo social com a psicologia freudiana individual. Se isso é verdade, o conflito aparen-
zere uma resposta à qual voltaremos em um ca- te entre teorias psicanalistas de como símbolos
lo posterior. Não podemos simplisticamente são criados e usados e as teorias dos antropó-
raalar "símbolos intrapsíquicos" (i.e. privados) logos sociais de significados culturais podem
símbolos interpsíquicos (i.e. públicos). ser um artefato de conceitualização errônea e
Símbolos culturais [...] transmitidos de exagero de afirmação teórica. Um dos muitos
geração em geração por preceito, ensina- desafios importantes da fronteira antropológi-
mento e exemplos não [são] - pelo menos ca é encontrar meios de conceitualizar e explo-
para todos os objetivos práticos - psicogê- rar a interconexão entre experiência individual
nicos em origem (TURNER, 1978: 573). e significados coletivos que não nos obrigue a
tentar - como tanto os psicanalistas quanto os
L o entanto, ao mesmo tempo, símbolos cul- teóricos sociais o fizeram - reduzir um ao outro.
rar cobrem um espectro de referência, têm Uma conceitualização biologicamente sofistica-
'dos ou significados diferentes, que vão desde da dos modos múltiplos da inconsciência e das
eles que são sociais e coletivos até os que são profundezas da motivação serão um elemento
'ados e físicos. Assim, no decorrer de um úni- importante em uma compreensão mais comple-
irual a árvore mudyi dos ndembus (que exude ta dos processos simbólicos (cf. OBEYESEKE-
épia branca) ocupa o lugar de todo um gru- RE, 1984).
de referentes:
Ao examinar cultura e sociedade, língua e
seios, leite materno, relacionamento mãe-
personalidade, adquirimos o equipamento con-
-filho, a matrilinearidade (descendência
ceitual refinado de que precisamos para levar
na linha feminina) de um neófito (linha-
adiante nossa exploração dos caminhos humanos,
gem), a feminilidade em geral, mulheres
casadas, a gravidez, e até [...] a qualida- equipados agora para pensar mais precisa e ana-
de de ser um Ndembu (TURNER, 1978: liticamente sobre a organização da cultura e da
577; cf. tb. Caso 51, capítulo 15). sociedade e sobre como os sistemas socioculturai
mudam.
Enquanto a teoria psicanalítica veria signifi-
físicos, especialmente sexuais, como pri- suMÁRIo
rdiais no ritual, no mito e na arte, os signifi-
ociais podem ser mais destacados. O sexo Este capítulo examinou mais atentamente orno
o ou os genitais podem servir como símbo- a cultura é moldada pelo comportamento de indi-
forças criativas do universo, como na víduos que têm uma ampla variedade de tempera-
logia hindu. O eu é importante é a cone- mentos e sentidos definidos de identidad úni
entre significados físicos relacionados com O que molda uma personalidade e pecífica
riências primárias e os significados sociais e em uma cultura é determinado por fatore múl-
o os. Símbolos coletivos, culturais podem tiplos. As tradições culrurai elecionam a par-
92 CULTURA E O INDiVíDUO
rir de uma variedade ampla de potencialidades que tanto expressam quanto evitam essa tensão.
humanas e encorajam ou desencorajam maneiras Símbolos culturais são utilizados nesse processo
e pecíficas de auto expressão, tais como a genti- para conectar significados sociais e a psicodinâ-
leza ou a violência segundo contextos. É possível mica individual.
que certas propensões, tais como uma inclina-
ção para o comportamento agressivo, possam SUGESTÕES PARA LEITURAS ADICIONAIS
emoção de uma maneira que transcenda o qua- LEBRA, WP. (org.) (1976). Culture-Bound Syn-
dro freudiano do inconsciente e do consciente. O dromes, Ethnopsychiatry and A/ternate Therapies.
e tudo de caso do povo tallensi de Gana mostra Honolulu: University of Hawaii Press.
ue há tensão entre o pai e o filho mais velho,
que em ua estrutura familiar é esse filho que LE VINE, R.A. (1973). Culture, Behavior and Per-
a o lugar do pai no domicílio quando o pai sonality. Chicago: Aldine Publishing.
~ . O --lho deve observar tabus sofisticados
§9 A PSICODINÂMICA DA PERSONALIDADE EM UMA PERSPECTIVA EVOLUCIONARIA 93