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DO SIGNO AO DISCURSO tntroducdo a filosofia da linguagem Aeneas cere wan GhpnePaovto crarico: Andrdia Custédio Enron: Marcos Marcionilo Conseuo Eotromu: Ana Stahl Zilles [Unisinos} ‘Angela Dionisio [UFPE) Cerlos Alberto Faraco [UFPR] Egon de Ofveira Rangel [PUC-P] Gilvan Midler de Oiivelra [UFSC, pol] Henrique Menteagudo [Universidade de Santiago de Compostela] Kanavilt Rajagopalan [Unicarp] Marcos Bagno [Und] ‘Maria Marta Pereira Scherre (UFES) Rachel Gazolla de Andrade [PUC-S?3 Roberto Wtulinacci [Universiade de Bolonhal Roxane Helena Rodrigues Rojo (Unicampl Salma Tannus Muchail PUC-SP] Siro Possent [Unicamp) Stella Mars Borton'-Ricerdo (Un) ‘CIP-BRASIL. CATALOGAGAO WA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ As8sd ‘Aratjo, Inés Lacerda, 1950 Do signo ao discurso: introducao & filosofia da linguagem | Inés Lacerda Aradjo ~ S80 Paulo : Pardbola Ecitorial, 2004 (inguaigeml ; v. 3) Inclul bibliografia ISBN 978-25-0456-28-0 1, Linguagem - Filosofia 2. Linguistica. |. Titulo, It, Série, 04-2708 DD: 401 DU: 811 Direitos reservados & Pardbola Editorial Rua Dr. Mario Vicente, 394 Ipiranga (04270-000 So Paulo, SP pabxc [11] 5061-9262 | 5061-8075 | fax: [11} 2589-9263 home page: www-parabotaeditorial com.br e-mail: parabola@parabolaeditorial.com.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou qualsquer meios (eletrénico ou mecinic, ineluindo fotecépia gravacéo} ou arquivada em qualquer sistema ov banca de dados sem permissso por escrito da Parébola Editorial Lida, ISBN: 978-85-88456-28-0 1 edicao | 3° retmpresséo, marco de 2014, conforme @ novo acordo ortografico da fingua portuguesa, © do texto: Inés Lacerda Arado, novembro de 2004 © da edigdo: Parabola Editorial, S20 Paulo, novembro de 2004 AS SENTENGAS: SIGNITICACAG, VERDADE 2 REFERENCEA 2. R&FERIR DIFERE DE SIGNIFICAR: FREGE Com Frege houve um avango consideravel da logica, com repercussio na filosofia da linguagem. Suas pesquisas visam, enue outras propostas, solucionar problemas filos6ficos clarificando-os pela Idgica. Seus estudos repercutiram principalmente em Carnap, Bussell, Wittgenstein ¢ Quine. Sua distingo entre significado e referéncia influi até hoje na linguistica e mesmo na filosofia da mente. Pensamentos diferem de representacdes, pois estas pertencem a uma dada pessoa, sio atribuiveis a alguém num tempo ¢ num espaco. Os pensamentos nao sao de alguém em particular, permanecem em sua identidade, mesmo que individuos, épocas luga- res variem, Sua estrutura € mais complexa do que a usada para referir a objetos através de nomes e déicticos. £ que nas assergées os termos singulares que ocupam o lugar do sujeito funcionam como proposigdes relativas a dado estado de coisa. Proposigao verdadeira é aquela em que © pensamento (¢ ndo a representagdo pessoal de objetos) refere-se a um. estado de coisa mediante um enunciado. Habermas entende que Frege reyoluciona as concepgdes de lingnagem com sua nogo de que na representagio sio dados somente objetos; enquanto estado de coisa ou fatos sao aprendidos em pensamentos. Com essa critica, Frege di o primei- ro passo rumo a gninada linguistica, A partir de agora, ndo podemos mais aprender simplesmente e sem mediagao pensamentos e fatos no mundo dos objetos representaveis; eles s6 sio acessiveis enquanto representados, portanto em estado de coisa expressos através de proposigdes (Habermas, 1997: 28). A mediacao da proposicdo importa em outra consequéncia na consi- deracdo das sentencas: o significado das expressdes sujeito e das proprias sentengas difere da referéncia em ambos os casos. [As descrigdes definidas sio expressdes do tipo “o tale tal 6 ...”. Para serem significativas, essas expressdes precisam receber conteiido factual, precisam reportar-se 2 realidade para poder afirmar que algo € tal e tal pelo preenchimento da fungio atributiva? Frege entende que as descrigdes definidas pertencem a categoria mais ampla dos nomes prdprios, que abarcam os nomes prdprios propriamente ditos (‘‘Joio”, “Curitiba”), as 63 DO SIGNO AO DISCHRSO descrigdes definidas (“O atual rei da Franga...”), os demonstrativos (“isso”, ‘aquele”), os predicados e as sentengas completas (“Socrates é mortal”), No importante artigo Sobre o sentido e a referéacia, 1892 (Uber Sim und Be- deutung), Frege mostra que referir a algo difere de falar significativamente* J& mencionamos a relago de igualdade e vimos 0 quanto é complexa. Para Frege essa relacio nio se d4 entre os nomes ou sinais dos objetos e hem entre os prdprios objetos. Assim, quem afirma “a = a” diz algo dife- rente de quando afirma “a = b”. No primeiro caso, temos uma sentenca analitica, verdadeira independentemente da experiéncia. No segundo caso, acrescenta-se algo ainda nfo conhecido pela informagio contida em “a”. Se a igualdade fosse determinada por aquilo a que os nomes “2” e“b” se referem e se a sentenga “a = b” for verdadeira, entéo “a = b” nao poderia trazer mais nenhuma informagio nova e seria equivalente a “a = a”. Ora, uma coisa é uma expressio ter a ver consigo mesma, e outra bem diversa é informar algum contetido cognitivo, isto é, algo mais acerca daquele “a”, como ocorre em “a = b”. Se com esses sinais se pretende dizer que esses nomes se referem 4 mesma coisa, estabelece-se uma relacdo entre esses sinais. Por outro lado, essa relacéo s6 se mamiteria se eles nomeassem ou. denotassem algo. Mas a relacdo entre nome e coisa nomeada é arbitréria, quer dizer, pode-se tomar qualquer evento arbitrariamente como sinal para qualquer coisa. Nesse caso, a expressio nfo referiria a nada e fica-se apenas com o modo de designar, com a compreensio das expressdes ¢ ndo com a relag3o de referéncia. Frege pretende mostrar que € perfeitamente possivel designar, falar acerca de algo sem que se precise necessariamente referirse a esse algo, ou seja, sem que esse algo precise, de algum modo, “existir”. Justamente a linguagem é um meio de comunicagio e de conhecimento (mais adian- te mostraremos que sua funcdo nao é exclusivamente esta), pois enseja transmisso e compreensio do “sentido” (Sinn), sem precisar recorrer 4 * As tradugées brasileiras para Sim nao variam, tata-se do sentido; ja Bedeutung traduzido ora por referéncia, ora por significado. Usaremos referéncia. 64 AS SENTENCAS. SIGNIFICACAO, VERDAD! £ RETERENCIA referéncia, Pode-se falar acerca de coisas j4 desaparecidas das quais nunca se venha a ter conhecimento direto, como a Grécia de Péricles. Nunca serd demais lembrar a importincia dessa distingio. Até Frege, sob 0 manto de um arraigado platonismo, pensava-se que o sentido (significacio, ou sig- nificado) seria nulo se no estabelecesse uma relacio do dito com a coisa referida, nomeada, designada. Como dissemos no inicio deste capitulo, supunha-se que acerca do nao ser nada se poderia afirmar com sentido. Frege “desontologiza” a linguagem. Ha expresses com sentido mesmo que nao wham referéncia. Assim, “as palavras ‘o corpo celeste mais distante da Terra” tém wm sentido, mas é muito duvidoso que tenham uma referéncia ( enfatiza Frege (1978: 63). Portanto, entender-se um sentido nunca assegura sua referéncia”, Se, A diferenga entre sinais corresponde uma diferenga no modo de apresentacgo, no modo de designé-los, o valor cognitivo de “a = b” sera preenchido, ao paso que o valor cognitivo de “a = a” nio o serd. Frege exemplifica como constando de diferentes contetidos a designacio do ponto de intersegio no triangulo retangulo, como ponto de intersegio de “a” e “b” ou ponto de intersegio de “b” e “c”. Ambas as afirmagGes contém um conhecimento e um modo de apresentagao diferentes, mas se referem ao mesmo e tnico ponto. Desse modo, todo sinal contém nfo s6 aquilo a que ele refere ou significa (Bedeutung), mas também o sentido (Sin), que € 0 modo de de- signagio, o modo como algo é apresentado pela linguagem, que passa a ter aceitagdo comum, dadas as caracteristicas ptiblicas da linguagem. Frege afirma que “a referéncia de um nome proprio € 0 proprio objeto que por seu intermédio (do nome) designamos” (1978: 63). Ha dois sentidos distintos nas expresses “Estrela da Manha” e “Estrela da Tarde”, j4 a referéncia ¢ uma s6, o planeta Vénus. Pode-se conhecer ou compreender 0 sentido, qual seja, 0 total de designagdes de um nome proprio, mas a referéncia sé pode ser conhecida mediatamente, pois di- ficilmente um nome possui ou carrega toda a referéncia de que é capaz. As sequéncias de sinais de uma lingua deveriam ter sempre 0 mesmo 5 DO SIGNO NO DISCURSO sentido, se prevalecesse a hipétese pré-fregiana que nio distinguia sentido de referéncia. Porém, como bem viu Frege, o sentido varia conforme 0 contexto na mesma lingua ¢ também em linguas diferentes hd expresses diversas para o mesmo sentido. Nessa perspectiva, Frege oferece urna teoria abstrata do sentido. O sentido funciona como um tipo de cilculo decifrador das expressdes linguisticas, como dissemos acima, o sentido tem a ver com o cardter compartilhado da linguagem. Ele pode ser a propriedade de muitos sinais, €0 “tesouro comum dos pensamentos da humanidade”, diz Frege (1978: 65). A estabilidade da referéncia nao assegura que o sentido da expressio permaneca 0 mesmo. Ao lado de sentido € referéncia, Frege introduz a nogio de REPRESENTAGAO, que, como vimos no inicio deste item, subje- tiva, e inclui todas as associagSes ligadas ao sentido. As representagdes associadas a uma palavra costumam dificultar as tradugdes. Na poesia, na literatura e na retérica, utilizam-se recursos relacionados 4s representagdes. Apesar da variedade das representacdes, é possivel wansmitir mensagens que o leitor lera de um modo 0 mais adequado e préximo da intengio do poeta, escritor, retérico. Os nomes proprios so sinais que exprimem um sentido ¢ apontam ou denotam uma referéncia. © problema de saber se 0 nome proprio refere passa a ser analisado por Frege como questo que diz respeito a capacidade de representacio dos pensamentos; so eles ¢ ndo os nomes que podem referir a estado de coisa através de proposicdes. Por isso é preciso analisar, além das expressSes que formam as sentengas, as préprias sentengas. No caso das sentengas assertéricas (ou assergdes) completas como (3) A Estrela da Manba é um corpo iluminado pelo sol, seu sentido € 0 ravsavewto. Observe-se que o pensamento nao se liga a uma consciéncia individual. Seu contetido permanece o mesmo, ainda que apreendido por individuos diferentes, em diferentes épocas. A substituicao da expressdo “Estrela da Manha” por “Estrela da Tarde” na sentenga acima muda o pensamento, pois alguém que afirma (3) pode estar sustentando 66 AS SENTINCAS. SHGNIFICACAO, FERDADE E REFLRENCIA um_pensamento ou uma opinido verdadeiros e outro locutor pode estar sustentando um pensamento falso, A referéncia de uma sentenca completa € © seu VALOR DE VERDADE; pode acontecer que certas sentengas ndo tenham referéncia, caso de (4) Ulises, profundamente adormecido, desembarcou em ftaca, mas possuam sentido, sejam compreensiveis, produzam um pensamento, porém 2 questio de se tém ou nio valor de verdade néo se poe, uma vez que nio ha referencia; o nome proprio “Ulisses” que ocorre como sujeito da sentenca nio possui referente, de modo que nao € possivel atribuir a ele um predicado, explica Frege (1978). Em (4) basta o sentido da sentenga, o pensamento de que alguém adormecido, personagem de uma narrativa, desembarcou em ftaca, local com tais e tais caracteristicas. Mas ha casos em que cabe preocupar-se com o valor de verdade, sendo preciso ir além do sentido, saber ou constatar se a sentenga tem ou nao valor de verdade, se a sentenga refere, portanto se algo no universo possui ou nao a propriedade ou atributo predicado do referente. Em caso de haver referéncia, a sentenca funciona como um nome proprio, e © valor de verdade & entendido por Frege como um objeto, algo suscetivel de confirmagao. Tanto que ao se substituir numa sentenga a ocorréncia de um nome por outro com sentido diferente, mas com a mesma referéncia, 0 valor de verdade da sentenca nio muda. Fm. (5) © governador do Parané viajou a Brasilia (6) Jaime Lerner viajou a Brasilia © valor de verdade global nao variou. O que permite conhecimento, pro- gresso, ciéncia, segundo Frege sdo as sentengas com pensamento (sentido. — Sinn) e com valor de verdade (referencia — Bedeutung). Note-se que essa concepcdo de linguagem influenciou as teses verificacionistas de Carnap. & possivel, no entanto, demonstrar que o valor de verdade muda. Russell mostrou, pelo paradoxo da denotagio, que na substituigio de uma expressio por outra, com a mesma referéncia, o valor de verdade 7 DO SIGNO AO DISCURSD pode ser a falsidade, pode, portanto, mudar, como no caso de (7) que é verdadeiza e (8) que é falsa: (7) George IV quis saber se Scott é o autor de Waverley (8) George IV quis saber se Scott é Scott Em (8) evidentemente George IV nao estava interessado em saber a identidade de Scott e sim se cle havia escrito 0 poema Waverley. Russell soluciona este paradoxo com sua teoria das descricées defi- nidas, como veremos no proximo item. Jd Frege responderia que com a expressio “autor de Waverley” nao é possfvel fazer referéncia no sentido habitual, uma vez, que se trata de sentencas subordinadas, caso em que se tem uma parte de um pensamento, portanto, nfo se pée a questio de sua referéncia direta, e sim de sua referéncia indireta. A concepsio fregiana, que distingue sentido de referéncia, pode ser usada, como bem viu Quine, para desatar os nés do chamado problema da barba de Plato, ou problema ontolégico, sem precisar apelar para entidades na cabeca dos homens e sem precisar apelar para mundos pos- siveis, apenas pela distincdo entre significar (a expressio é signtficativa) ¢ nomear (refere-se a algo, possui um referente). Pode-se falar a respeito de Pégaso, por exemplo, sem precisar supor que haja necessidade de um referente, isto é, algum cavalo alado. Assim, afirmar (1) assegura a compreensio de um sentido, mesmo que nao tenha referéncia. A existéncia ou nao de um rei atualmente para a Franca é uma questo que concerne ao aspecto do significado ou referéncia (Bedeutung) ¢ no diz respeito ao sentido (Sian), Nao ha, pura e simplesmente referéncia, portanto a questio do valor de verdade nio precisa ser posta nem pressuposta. Assim, a dificuldade de afirmar sentengas de néo ser, como (2), desapa- rece, As sentengas assertéricas que atribuem o predicado da nao existéncia nao se tornam assignificativas, pois usar termos singulares no implica pressupor uma entidade nomeada pelo termo, ou como diz Quine, “um termo singular nio precisa nomear para ser significante” (1980: 222). 68 AS SENTENCAS: SIGNICICACAO, VERDADE E RETERENCIA Um problema provocado pela teoria abstrata do significado de Frege é postular wn mundo platénico de conceitos. Outro problema & afirmar que a referéncia de uma sentenca completa, direta (Bedeutung), seja o verdadeiro ou 6 filso e que, quando nfo hé referente, a assergio ndo tem valor de verdade. Se essa solugio trax. vantagens para compreender a ficgao, deixa a desejar ao conchuir que a referéncia de todas as sentencas verdadeiras deve ser a verdade € a de todas as sentencas falsas deve ser a falsidade. “(...) a circunstincia de que ‘2+2=4" seja verdadeira ndo é a mesma pela qual, pelo menos no sentido dbvio, ‘Napoledo invadiu o Egito’ & verdadeira”, afirma Simpson (1976: 143). £ sempre possivel sustentar, em resposta 4 questéo acima, que o valor de verdade & apenas um objeto abstrato, um postulado, como faz Frege. Ainda assim permanece sem resposta o problema da ligasdo, da relacéo entre o sentido e a referéncia. O que assegura que aquilo a respeito de que se esta falando seja reconhecivel ou discriminavel para ser objeto de denotagio com valor de verdade? As sentengas apenas afirmam verdade ou filsidade? Frege responde que essas questées pertencem ao dominio dos juizos. Hles & que sio acerca de fatos do mundo. No juizo, hé o reconhecimento de sua verdade, ao passo que nas sentengas ha a “mera apreensio de um pensamento” (Frege, 1978: 69). A sentenca nada mais faz do que analisar, portanto, fornecer sentidos distintos e, se ver uma referéncia, determinar ou denotar um valor de verdade. A relagio linguagem/realidade, signo/objeto é um problema impe- rioso para uma filosofia da linguagem que pretende explicar como pre~ encher uma sentenca com valor de verdade. Para a linguistica de vertente estrutural, para entender (1) basta a competéncia do falante. Mas sobra a questio: acerca de que se esta falando? Frege avanca na solucio desse problema pela distingio entre sentido, referéncia ¢ representacio, mas sua teoria abstrata do significado deixa aberto o problema pragmético. Pode-se argumentar que Frege nao pode ser recriminado por ter anali- sado apenas as sentencas suscetiveis de “carregar” um pensamento e de poderem “assumir” um valor de verdade, uma vez que sua abordagem & 69 DO SIGNO AO DISCURSO légico-semantica. Epistemologicamente tem a vantagem de superar a tese solipsista da representag3o da consciéncia, obra de um sujeito intencio- nal, uma vez que a estrutura proposicional de Frege reporta-se a estados de coisa pensados ¢ enunciados, portanto j4 no modelo linguistico, nio mais no limitado fruto de uma mente pensante. Em outras palavras, mio ha pensamento sem linguagem. O valor cognitive das expressGes ¢ das sentengas nio depende da referéncia, o que abre para a linguistica ¢ para a filosofia da linguagem novas perspectivas para entender a relacdo entre significacao, verdade e realidade. 3..A SOLUGAO DE RUSSELL PARA O PROBLEMA DA DENOTAGAO No inicio deste capitulo, perguntavamos se € preciso que o nome “o atual rei da Franga” diga respeito a algo no mundo para nio perder sua cota de significado. Se tal rei nao existe, de quem se esta falando? Se nao se est falando de nada ou de ninguém, nfo ha significado? O ente precisa de algum modo ser ou existir para que haja referéncia? Sem referéncia nao hé significado? Conhecemos a resposta de Frege. A teoria das descrigSes definidas de Bertrand Russell é uma teoria rea- lista, Ele propde que o significado de um nome deve ser identificado ao objeto que ele denota, o que pode ser interpretado como um retrocesso com relacio a distincio sentido/referéncia de Frege. O significado de uma expressio que ocupa o lugar de sujeito de uma sentenca existencial precisa ser preenchide por um ente existente. Algo sd pode ser referido ou denotado se puder ser nomeado. Em seu influente artigo On Denoting (1905), onde estuda o problema da denotagio ¢ da o exemplo (1), Rus- sell sustenta que o significado # a denotagdo das expressdes com sentido, caracterizando uma teoria referencial do significado. Porém, as expressdes denotativas como “o atual rei da Franga” ou “o autor de Waverley”, quan- do ocupam a posic&o de sujeito em sentengas afirmativas completas, Nio se trata de sujeito 1Lécico, mas sim de sujeito gramatical, que nao implica 70

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