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Nota do Autor
A fada dos lobos é uma antiga lenda portuguesa, uma versão feminina mais
aprimorada dos lobisomens. Ao contrário destes, a fada dos lobos tem o
poder de controlar suas transformações durante a lua cheia, mudando de
forma apenas se for de seu interesse. Tem também o dom de controlar os
lobos. (Fonte: Wikipédia)
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André Rosa, conhecido por seus modos pacatos e pela sua cordialidade,
usava seu cajado para espancar violentamente alguém que já estava caído
ao chão.
Rodolfo Caieiros era uma cavalheiro: jamais permitiria que uma mulher,
pouco importando se dama ou prostituta, fosse agredida daquela forma em
sua presença.
Fada Dos Lobos Página 2
Letras de Sangue
Desceu do cavalo, correu até André Rosa e, chutando sua perna, fez com
que perdesse o equilíbrio. Tomando de suas mãos o cajado, olhou com ódio e
desprezo o homem a sua frente.
Rodolfo não teve mais tempo para discutir. Só sentiu uma violenta dor que lhe
tomou das costas em direção ao ventre; olhando para baixo, viu aquela
mistura de mão humana e pata de lobo que emergia de seu abdômen,
encharcada de sangue e com alças de seus intestinos enroscadas entre os
dedos. Tomado pelo pânico, viu a mão inumana recuar com força e então
morreu, quando em sua saída, as garras dividiram sua coluna vertebral em
duas partes.
Sabendo-se incapaz de salvar Rodolfo, André Rosa correu para tentar salvar
a si mesmo. Mas ouviu o uivo da criatura e sabia que ela chamava pela ajuda
de seus comandados: em pouco tempo, como se vindos do nada, mais de
uma dezena de lobos cinzentos cercavam André Rosa, proporcionando-lhe
uma morte dolorosa e sangrenta.
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Longe também das caçoadas dos moços da cidade grande, que não
perdoavam a Nelson seus modos interioranos, parecia que haviam lhe tirado
das costas o peso do mundo.
Ele estava preparado para enfrentar a decepção de seu pai, mas não para a
noticia de que Seu André havia morrido daquela forma tão horrível.
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- Ah, Nelsinho, enquanto estavas fora minha mulher adoeceu e não consegue
deixar a cama. Chamamos então uma sobrinha dela para que viesse cuidar
da casa e me ajudar na taberna, mas a rapariga de ontem para hoje
conseguiu machucar-se, e cá estou eu a trabalhar sozinho.
Nelson desejou melhoras para a moça. Terminou seu vinho, pagou a conta e
saiu.
Seu André contara varias vezes a Nelson, quando este ainda era criança, que
coisas profanas caminhavam entre os homens, disfarçados como se fossem
humanos, mas revelando suas faces malignas quando a noite caia sobre a
terra.
Se o pai trocara a ponteira de seu cajado por uma de metal tão nobre, era
porque algum desses seres desgarrados estava entre eles.
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Na primeira noite da lua cheia, ele levou uma dezena de ovelhas para fora
dos estábulos e as amarrou ao relento. Deixou que a brisa da noite levasse
seu recado. Nas mãos, segurava o cajado de seu falecido pai.
E eis que surgiu Luisa, sobrinha do taberneiro, caminhando faceira pela trilha
que vinha da estrada até a casa grande da propriedade.
- Tenho o senhor e seu cajado para proteger minha honra, não tenho, senhor
Nelson?
- Fazes bem de precaver-te, mas não sou eu a fonte do perigo que temes.
Antes, cá estou para ajudá-lo.
- E que tipo de ajuda alguém que trilha o caminho das trevas pode me
oferecer?
- Não os comando e garanto que só não corro o mesmo risco que ti porque
tenho poderes que desconheces...
- Quem?
- Luisa, já havia dito para que saísse do meu caminho! Agora não me deixas
outra opção senão tua morte!
Embora não estivessem falando mais, Nelson podia perceber que a tensão
entre as duas mulheres crescia cada vez mais até que, num gesto de Estela,
os lobos avançaram contra Luisa.
Sem alterar sua expressão, Luisa levantou as mãos e uma onda de energia
repeliu os lobos com violência.
- Deixe que estes animais inocentes sigam seu caminho, Estela! Esta luta é
nossa, não deles!
Nelson sabia que tinha de fazer alguma coisa. Tinha de escolher um lado e
agir. Foi o que fez.
- O cajado de meu pai tinha sangue em sua ponta. Como estava caído muito
longe de seu corpo e do corpo de Rodolfo, era pouco provável que fosse de
qualquer um deles. Portanto, ele deveria ter ferido quem o atacou.
- Tinhas marcas em teus braços, mas Estela, não. Porém, quando ela se
transformou, apareceram as marcas das feridas que meu pai lhe infligiu. Já as
marcas de teus braços desapareceram quando te transformastes.
Estela sorriu.
Nelson agradeceu:
Luisa sorriu de novo. Parecia que sua capacidade de sorrir era infinita.
- Contávamos com isso. Mas é hora: devo partir. Adeus, Nelson Rosa. És um
bravo!
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