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POLITICA O homem é um animal politico O texto aristotélico da Politica teve uma grande influéncia no desenvolvimento da ciéneia politica em nossa tradig20 e faz parte de um conjunio de estudos que inclui 0 exame de um grande nimero de constituigdes das cidades-estados gregas da época, das quais s6 chegou até n6sA Constituigéo de Atenas. A passagem selecionada contém a célebre definicdo aristotélica do homem como “animal politico” (zoon politi E evidente que a cidade faz parte das coisas naturais, ¢ que o homem é por natureza um animal politico. E aquele que por natureza, endo simplesmente por acidente, se encontra fora da cidade ou é um ser degradado ou um ser acima dos homens, segundo Homero (Jliada IX, 63) denuncia, tratando-se de alguém: sem linhagem, sem lei, sem lar. Aquele que é naturalmente um marginal ama a guerra e pode ser comparado a uma pega fora do jogo. Dai a evidéncia de que o homem € um animal politico mais ainda que as abelhas ou que qualquer outro animal gregirio. Como dizemos frequentemente, a natureza nfio faz nada em vio; ora, 0 homem é o tinico entre os animais a ter linguagem [Jogos]. O simples som é uma indicagao do prazer ou da dor, estando portanto presente em outros animais, pois a natureza destes consiste em sentir o prazer e a dor e em express4-los. Mas a linguagem tem como objetivo a manifestagio do vantajoso e do desvantajoso, € portanto do justo € do injusto. Trata-se de uma caracteristica do homem ser ele 0 tinico que temo senso do bom e do mau, do justo e do injusto, bem como de outras nogées deste tipo. F a associacdo dos que tém em comum essas nogdes que constitui a familia e o Estado. O Estado Existe por Natureza Aristételes Tendo obs rvado que toda a cidade é uma forma de comunidade e que toda a comuni- dade é constituida em vista de algum bem (pois todas as pessoas fazem tudo em fungao do que pensam ser o bem), torna-se claro que, apesar de todas as comunidades visarem algum bem, a comunidade que visa o bem m controla os outros bens ~ é a que, mais do que todas, controla e inclui as outras; ¢ esta € a comunidade a que se chama cidade, a comunidade politica. (1 Neste, como noutros dominios, apreciamos melhor as coisas se olharmos para o seu processo natural desde o principio. Em primeiro lugar, aqueles que ndo podem existir sem © outro tém de formar pares. fo caso da fémea e¢ do macho para procriar. Fazem-no nao do que todas — 0 bem que, mais do que todos, por causa de uma escolha, mas per causa do impulso natural, que partilham com outros animais e plantas, para deixar progenitura. A autopreservagao [em vez da reproducao] é a base da divisdo natural entre governante e sabdito, Ll ‘A aldeia é a primeira comunidade formada por varias familias para satisfacio de caréncias além das necessidades didrias. O tipo mais natural de aldeia parece que é uma coldnia de lares; os seus membros sio filhos do mesmo leite, e filhos dos filhos. [... A cidade é uma comunidade completa, formada a partir de varias aldeias. Ao contrario das outras, atinge 0 grau maximo de praticamente todo o tipo de auto- suficiéncia. Formada a principio para preservara vida, a cidade subsiste para assegurar a vida boa. £ por isso que toda a cidade existe por natureza, visto que as primeiras comunidades existiam por natureza. A ci- dade é o fim destas, e a natureza de uma coisa é 0 seu fim, jf que, sempre que © proceso de génese de uma coisa se encontre completo, é a isso que chamamos a sua natureza, seja de um homem, de um cavalo ou de uma casa. Além disso, a causa final, a finalidade de uma coisa, é o seu maior bem, ¢ a auto-suficiéncia € Ml Aristételes (384-322 0. C), Um dos mais im- simultaneamente uma finalidade ¢ maior dos bens. eeatenapipelest apie Estas consideragées evidenciam que uma cidade é uma daquelas coisas que existem por natureza e que. homem ¢, por natureza, um animal politico. Aquele que, por natureza e nao por acaso, nao tiver cidade, sera um ser sem valor | ‘ow um ser superior aos seres humanos ( Alem disso, a cidade é por natureza anterior a familia e a cada um de nos, individual mente considerado; é que o todo é, necessariamente, anterior & parte. Se 0 corpo como um todo ¢ destruido, nao havera nem pé nem mao, excepto por homonimia, no sentido em que falamos de uma mao feita de pedra: uma mao morta seri como uma mao deste género. Ora, todas as coisas se definem pela sua funcdo e pela sua potencialidade; e portanto nao se deve dizer que o que perdeu a sua fungao ea sua potencialidade é a mesma co uma coisa homé6nima. E evidente, pois, que a cidade é, por natureza, anterior ao individuo, porque se um individuo separado no é auto-suficiente, em relagdo a cidade ele € como as partes em relagdo ao todo, Quem for incapaz de se associar ou quem nao sente essa necessidade por causa da sua auto-suficiéncia, nao faz parte de qualquer cidade, e é uma besta ou um deus. Arist6teles, Poitia, trad. de Anténio Amaral et al, (adaptacha, 1252a-1253a 29

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