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CONCEITO DE TRIBUTO

Não há um conceito de tributo expresso na Constituição Federal, apenas um conceito implícito. O conceito ex-
presso está no artigo 3º do Código Tributário Nacional – CTN:

Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir,
que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa ple-
namente vinculada. (grifo nosso).

A) Tributo é toda prestação pecuniária compulsória: Quer dizer o comportamento obrigatório de uma presta-
ção em dinheiro, independem da vontade do sujeito passivo, que deve efetivá-la, ainda que contra seu interesse.
O Código Tributário Nacional ao se referir a palavra “toda” prestação, estabelece que qualquer prestação que se
enquadre em todos os requisitos do art. 3º do CTN será tributo, independentemente da denominação, conforme
determina o art. 4º do CTN:

Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo
irrelevantes para qualificá-la:

I - a denominação e demais características formais adotadas pela lei;


II - a destinação legal do produto da sua arrecadação. (grifos nossos).

É importante frisar nesse momento, que ainda que o art. 4º do CTN no inciso II menciona que seria irrelevante a
destinação legal do produto para ser tributo, temos que a partir da Constituição Federal de 1988, para as contri-
buições e empréstimo compulsório é relevante sim a destinação, pois nessas exações a denominação e a desti-
nação são destacadas pelo próprio legislador constituinte, não tendo relevância para a identificação do fato gera-
dor do tributo, como ocorre com os impostos, taxas e contribuições de melhoria.

B) Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: O legislador infraconstitucional incorreu em redundância ao
repetir o caráter pecuniário da prestação, não havia a necessidade de insistir com a locução “em moeda” “ou cujo
valor nela possa se exprimir”, pois ao tratar de obrigação pecuniária, é porque será paga em dinheiro.
Ninguém poderá entregar ao fisco, como forma de pagamento, algo que não seja dinheiro, salvo o caso do
art.156, XI do CTN, que trata sobre a dação de bem imóvel, quando houver expressa previsão em lei. Observa-se
que mesmo nesse caso, por se tratar de uma exceção, há necessariamente a previsão em lei para autorizar o
pagamento do tributo com a entrega de bem imóvel.

C) Que não constitua sanção de ato ilícito: Ninguém paga o tributo por ter desrespeitado uma lei, tributo não é
castigo. Ao contrário paga-se o tributo por incorrer em uma situação prevista em lei como hipótese de incidência
tributária, ou seja, o legislador elegeu uma situação que uma vez praticada pelo sujeito, no mundo concreto, esta-
rá sujeita à incidência da norma tributária e por essa razão irá nascer a obrigação de pagar um tributo.
Por exemplo: A Lei prevê que a hipótese de incidência tributária do Imposto sobre Renda ou proventos de qual-
quer natureza - IR é “auferir renda”, o sujeito terá que pagar IR quando auferir renda, porque praticou o fato pre-
visto em lei.
Assim sendo, pode-se afirmar que uma lei descreve hipoteticamente um estado de fato e dispõe que a realização
concreta, no mundo fenomênico, do que foi descrito, determina o nascimento de uma obrigação de pagar um tri-
buto.1
As hipóteses de incidência da norma tributária são sempre constituídas por fatos lícitos, que uma vez ocorridos
no mundo jurídico nasce a obrigação de pagar o tributo.
Contudo, verifica-se que embora a hipótese de incidência tributária não possa ser algo ilícito, os frutos de uma
atividade ilícita podem ser objeto de tributação.
Como vimos, o legislador não pode eleger uma situação ilícita, mas ao eleger uma situação lícita como hipótese
de incidência, essa hipótese lícita pode ter sido originada de uma atividade ilícita, o que não irá importar para fins
de tributação.
Veja no caso do Imposto sobre rendas ou proventos de qualquer natureza – IR, a hipótese de incidência, também
chamada pelo legislador de “fato gerador” é “auferir renda”, assim o sujeito que auferir renda terá a obrigação de
pagar IR, e não importa para fins de tributação como essa renda foi auferida, o que importa é que o sujeito incor-
reu na previsão da norma tributária, qual seja, auferir renda.

1 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 53.

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Assim, se o sujeito auferiu renda de atividades ilícitas, para o direito tributário apenas importa que o sujeito prati-
cou o fato previsto na norma tributária, qual seja, auferiu renda e por essa razão terá que pagar o IR.
O artigo 118, I do Código Tributário Nacional – CTN prevê que a definição do fato gerador será interpretada abs-
traindo-se da validade dos atos praticados pelo sujeito.

Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se:

I - da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros,
bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos;
II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.

No caso do sujeito que aufere renda pela venda de entorpecentes, a ilicitude é irrelevante para fins tributários, o
que importa é que foi praticado o fato gerador, “auferir renda” e por essa razão o sujeito deverá pagar IR.
O STF tem o entendimento majoritário de que praticado o fato gerador previsto em lei, deve ser pago o imposto,
independentemente da atividade ser lícita ou ilícita, conforme podemos observar da ementa do HC 77.530/RS da
relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence:

Drogas: tráfico de drogas, envolvendo sociedades comerciais organizadas, com lucros vultosos subtraídos à con-
tabilização regular das empresas e subtraídos à declaração de rendimentos: caracterização, em tese, de crime de
sonegação fiscal, a acarretar a competência da Justiça Federal e atrair pela conexão, o tráfico de entorpecentes:
irrelevância da origem ilícita, mesmo quando criminal, da renda subtraída à tributação.
A exoneração tributária dos resultados econômicos de fato criminoso - antes de ser corolário do princípio da mora-
lidade – constituiu violação do princípio da isonomia fiscal, de manifesta inspiração ética.

Os Tribunais Superiores aplicam o Princípio “Pecunia non olet”, segundo o qual o tributo não tem cheiro, não
importa de onde vem, nesse caso, a renda auferida, o que importa é que ocorreu o fato gerador do IR, “auferir
renda”, e por essa razão, aplicando-se o art. 118, I do CTN deve-se haver a tributação.
Pelo princípio da “Pecunia non olet” extrai-se o conteúdo axiológico do valor de justiça, direcionando a exigibili-
dade da exação sobre quem possui capacidade contributiva, ainda que o rendimento provenha de atividade ilícita.
D) Instituída em lei – o tributo só pode ser instituído por meio de lei, de acordo com o art. 150, I da Constituição
Federal e art. 97 do CTN, e por meio de instrumento normativo com força de lei, ou seja, por meio de Medida
Provisória, conforme prevê o art. 62 da CF.
E) cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada – O tributo será cobrado pelo Poder Pú-
blico que não terá margens para escolhas discricionárias. O fiscal não poderá cobrar o tributo de acordo com a
conveniência e oportunidade, irá exigir a obrigação tributária do contribuinte exatamente como está disposto na
legislação.

ESPÉCIES DE TRIBUTOS

Muito se discute quantas espécies tributárias subsistem no nosso ordenamento jurídico, devido a possibilidade de
diversas formas para classificá-los.

O art. 5º do CTN prevê três espécies tributárias:

1) Impostos
2) Taxas
3) Contribuição de Melhoria

A Constituição Federal no art. 145 prevê três espécies tributárias:

1) Impostos
2) Taxas
3) Contribuição de Melhoria

O art. 148 da CF faz menção ao Empréstimo Compulsório e o art. 149 da CF refere-se às Contribuições.
O art. 149 divide as contribuições em três modalidades, que serão estudadas em outro capítulo:

A) Contribuição Social

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B) Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE)
c) Contribuição de interesse de categoria profissional ou econômica

E o art. 149-A da CF traz a Contribuição para custeio do serviço de iluminação pública – COSIP.

Ainda que o Código Tributário Nacional adote a teoria tripartida, por classificar as espécies tributárias em apenas
três, (impostos, taxas, contribuição de melhoria), a maioria dos doutrinadores, dentre eles, Aliomar Balleiro, e o
Supremo Tribunal Federal adotam a teoria pentapartida, que seriam 5 espécies tributárias:

A) Impostos
B) taxas
C) contribuição de melhoria
D) contribuição
E) empréstimo compulsório

Nesse sentido, transcreve-se trecho do voto do Ministro do STF Moreira Alves, em 29-06-1992, no RE nº 146.733-
9/SP:

(…) De fato, a par das três modalidades de tributos (os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria), a
que se refere o art. 145, para declarar que são competentes para instituí-los a União, os Estados, o Distrito Fede-
ral e os Município, os arts. 148 e 149 aludem a duas outras modalidades tributárias, para cuja instituição só a Uni-
ão é competente: o empréstimo compulsório e as contribuições sociais, inclusive as de intervenção no domí-
nio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas. (grifos nossos)

Visto o conceito de tributo e as espécies tributárias passamos para análise de como os tributos irão ingressar em
nosso ordenamento jurídico.

COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

Competência Tributária é a outorga de poder concedido pela Constituição Federal aos Entes Federativos para
que eles possam criar, instituir e majorar tributos.
Somente os entes federativos apresentam competência tributária, pois os tributos só podem ser instituídos por
meio de lei, e apenas os entes federativos apresentam Poder Legislativo.
Não podemos confundir competência tributária com competência para legislar em direito tributário.
A competência para legislar sobre direito tributário é a outorga de poder concedido pela Constituição Federal
para editar leis que versem sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes. É uma competência concedida
aos entes federativos para traçarem regras sobre o exercício do poder de tributar.

COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR EM DIREITO


TRIBUTÁRIO

Criação, Instituição e Majoração de tributos Leis que versem sobre tributos já instituídos e rela-
ções jurídicas a eles pertinentes.

Todos os Entes Federativos apresentam competência para legislar sobre direito tributário.
O art. 24 da Constituição Federal prevê competência concorrente entre a União, os Estados e Distrito Federal
para legislar sobre direito tributário.
Compete à União a edição de normas gerais e aos Estados e Distrito Federal poderá suplementar a legislação
federal.
Mas se não existir norma federal, Estados e Distrito Federal apresentam competência plena para legislar sobre
direito tributário.
Se sobrevier a norma geral pela União, haverá suspensão da lei estadual no que lhe for contrária. A lei federal não
irá revogar a lei estadual porque não há entre elas uma hierarquia.
Diante da ausência de norma geral da União sobre IPVA, cada Estado exerceu a competência legislativa plena,
com base no art. 24, § 3º da CF.

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Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico


(...)

§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.


§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos
Estados.
§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena,
para atender a suas peculiaridades.
§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for con-
trário.

O art. 30 da CF estabelece a competência dos Municípios para legislarem sobre assuntos de interesse local e
suplementar legislação federal, estadual no que lhe couber.

Art. 30. Compete aos Municípios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;


II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da
obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;

A competência Tributária como vimos é o poder concedido pela Constituição Federal aos Entes Federativos
para que eles possam instituir, criar e majorar tributos. A competência Tributária Apresenta 5 características
importantes:

A) Indelegabilidade:

A Constituição não só prevê a competência tributária como também reparte, partilha esse poder entre as pessoas
políticas que compõe a Federação, porque essas precisam ter autonomia financeira, não basta terem apenas
autonomia administrativa, autonomia política.
A base do federalismo é a autonomia dos Entes, por essa razão há a repartição do Poder de Tributar entre os
Entes Federativos. Quando a Constituição outorga o poder para os Entes Federativos, ela estabelece exatamente
quais serão os tributos de competência de cada Ente e a competência tributária é indelegável, quer dizer, in-
transferível.
O Ente Federativo não poderá transferir a sua competência tributária para nenhum outro Ente. Assim, se a Consti-
tuição outorgou poder para a União instituir o Imposto sobre Produtos Industrializados(IPI) apenas ela poderá
instituir esse imposto, mais ninguém!
Vejamos quais são os tributos de competência tributária de cada Ente Federativo:

UNIÃO ESTADOS DISTRITO FEDERAL MUNICÍPIOS

IMPOSTOS DO ART. IMPOSTOS DO ART. IMPOSTOS DO ART. IMPOSTOS DO ART. 156


153 CF 155 CF 155 CF CF
IPI
IE ICMS ICMS IPTU
IR IPVA IPVA ITBI
II ITCMD (Imposto sobre ITCMD (Imposto sobre ISS
ITR Transmissão causa mor- Transmissão causa mor-
IOF tis ou doação) tis ou doação)
IGF
IMPOSTOS DO ART. IMPOSTOS DO ART.
154 147 CF
IEG (Imposto Extraor- IPTU
dinário Guerra) ITBI
Imposto Residual ISS

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TAXAS TAXAS TAXAS TAXAS

CONTRIBUIÇÕES DE CONTRIBUIÇÕES DE CONTRIBUIÇÕES DE CONTRIBUIÇÕES DE


MELHORIA MELHORIA MELHORIA MELHORIA
CONTRIBUIÇÕES CONTRIBUIÇÕES CONTRIBUIÇÕES CONTRIBUIÇÕES
ART. 149 ART. 149, § 1º ART. 149, § 1º ART. 149, § 1º
1) Contribuição Social
2) Contribuição de inter- Contribuição Social Pre- Contribuição Social Pre- Contribuição Social Pre-
venção no domínio eco- videnciária do Servidor videnciária do Servidor videnciária do Servidor
nômico (CIDE) Público Público Público
3) Contribuição de Inte-
resse de categoria Pro- CONTRIBUIÇÃO ART. CONTRIBUIÇÃO ART.
fissional ou Econômica 149-A CF 149-A CF

Contribuição para custeio Contribuição para custeio


do Serviço de Iluminação do Serviço de Iluminação
Pública (COSIP) Pública (COSIP)
EMPRÉSTIMO COM-
PULSÓRIO Não tem Não tem Não tem
ART. 148 CF

Obs: O Distrito Federal apresenta competência tributária para instituir o IPTU, ITBI e ISS por força do disposto no
art. 147 da CF que estabelece que os impostos dos Municípios serão do Distrito Federal. (Art. 147. Competem à
União, em Território Federal, os impostos estaduais e, se o Território não for dividido em Municípios, cumulativa-
mente, os impostos municipais; ao Distrito Federal cabem os impostos municipais).

Como vimos a competência tributária que consiste na criação, instituição e majoração de tributo é indelegável.
Contudo as funções administrativas de arrecadar, fiscalizar tributos e executar leis que compreendem a capa-
cidade ativa tributária essa sim pode ser delegável.

CTN - Art. 7º - A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções de arrecadar ou fiscali-
zar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária, conferi-
da por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos termos do § 3º do artigo 18 da Constituição.

§ 1º A atribuição compreende as garantias e os privilégios processuais que competem à pessoa jurídica


de direito público que a conferir.
§ 2º A atribuição pode ser revogada, a qualquer tempo, por ato unilateral da pessoa jurídica de direito pú-
blico que a tenha conferido.
§ 3º Não constitui delegação de competência o cometimento, a pessoas de direito privado, do encargo ou
da função de arrecadar tributos

Exemplo é o caso do Imposto Territorial Rural (ITR) cuja competência tributária, ou seja, a competência para criá-
lo, institui-lo ou majorá-lo é da União, conforme estabelece o art. 153, VI da CF, que poderá, no entanto, delegar a
função de arrecadar e fiscalizar, ou seja, a capacidade ativa tributária aos Municípios, nos termos do art. 153, §
4º, III da CF.

Pela literalidade do art. 7º do CTN a capacidade ativa tributária só pode ser delegada para uma pessoa jurídica de
direito público.

Para fixar, temos:

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COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA – INDELEGÁVEL! CAPACIDADE ATIVA TRIBUTÁRIA – PODE SER
DELEGÁVEL
Criar, instituir, Majorar Arrecadar, Fiscalizar Tributos e Executar Leis

B) Facultatividade: Os Entes Federativos não estão obrigados a instituir os tributos, cuja competência tributária
lhe foi atribuída pela Constituição Federal.
O art. 145 da CF determina que a União, Estados, Distrito Federal e Municípios “poderão”, e não “deverão” instituir
tributos. A partir dessa regra a doutrina diz que a competência tributária no Brasil é facultativa.
Exemplo: o Imposto sobre Grandes Fortunas – IGF, que compete à União a sua instituição, até hoje não foi criado
e não há problema algum, porque a competência tributária é facultativa!
Muitos indagam sobre a Lei de responsabilidade Fiscal, LC nº 101/2000 que estabelece em seu art. 11 que so-
mente exerce uma boa gestão fiscal o Ente Federativo que instituir e cobrar todos os tributos.

Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e
efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação.
Parágrafo único. É vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o disposto no
caput, no que se refere aos impostos.

Quanto a arrecadação não restam dúvidas dessa obrigatoriedade, mas a obrigatoriedade quanto à Instituição fere
a Constituição Federal que não obriga aos Entes Federativos instituírem os tributos.
Observa-se, ainda, que o parágrafo único do art. 11 da LC nº 101/2000 prevê uma sanção para o Ente Federativo
que não instituir todos os impostos de sua competência. O dispositivo legal proíbe a realização de transferências
voluntárias àquele que não instituir todos os impostos.

LC nº 101/200 - Art. 11 (...)


Parágrafo único. É vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o dis-
posto no caput, no que se refere aos impostos.

O STF em Medida Cautelar ADI nº 2238 entendeu que o parágrafo único do art. 11 da LC nº 101/2000 não viola a
Constituição Federal porque a Lei trata de transferências voluntárias.
As transferências obrigatórias de impostos que estão nos artigos 153, § 5º, 157, 158 e 159 da Constituição Fede-
ral essas sim só poderão deixar de serem repassadas no caso do art. 160 da CF, quando o Ente Federativo não
estiver aplicando o percentual exigido na área da saúde, e também, no caso de débitos de um Ente, e suas Autar-
quias com outro Ente que irá fazer o repasse.
O parágrafo único do art. 11 da LC nº 101/2000 proibiu apenas o repasse das transferências voluntárias e não das
obrigatórias, por isso não seria inconstitucional.

C) Incaducabilidade: O direito do Ente Federativo instituir o tributo pode ser exercido a qualquer tempo. O fato da
União não ter instituído o IGF, em 1988, quando da promulgação da Constituição Federal, não lhe retira o direito
de institui-lo agora, passados mais de 20 anos.

D) Inalterabilidade: a competência tributária não pode ser alterada por lei infraconstitucional. Assim, quando a
Constituição, no art. 156, I prevê que o IPTU irá incidir sobre a propriedade de imóvel urbano, não pode uma lei
modificar tal competência ao ponto de determinar que o IPTU tenha como hipótese de incidência, fato gerador a
mera posse de imóvel urbano.
Observe que o art. 32 do CTN prevê como fato gerador do IPTU a propriedade, a posse e o domínio útil de imóvel
urbano.
O fato é que o Código Tributário Nacional é de 1966 e a nossa Constituição é de 1988, assim esse artigo do CTN
só foi recepcionado pelo nosso ordenamento jurídico, ao considerar que será contribuinte do IPTU o possuidor ou
aquele que detenha o domínio útil se houver o animus domini.
Logo, o mero detentor da posse, como o locatário não é contribuinte do IPTU, porque a lei não pode alterar a
competência tributária e a CF determina que apenas o proprietário é contribuinte desse imposto.
A competência tributária não pode ser alterada por meio de lei, mas Emenda Constitucional poderá alterá-la.
Como exemplo temos a EC nº 19/02 que inseriu na Constituição o art. 149-A e criou a Contribuição para custeio
do serviço de iluminação pública (COSIP).

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E) Irrenunciabilidade: A competência tributária é irrenunciável, o Ente Federativo não pode jamais renunciar sua
competência tributária em favor de outro Ente, ele pode apenas deixar de exercê-la.
Assim, o fato da União não ter criado ainda o IGF não confere o direito dos Estados, por exemplo, instituírem esse
imposto, porque a competência é Irrenunciável.

Para memorizar, a competência tributária é:

1) Indelegável
2) facultativa
3) Incaducável
4) Inalterável
5) Irrenunciável

REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS

A Constituição Federal prevê algumas hipóteses de transferência obrigatória da arrecadação dos impostos, con-
forme os artigos 153, § 5º, 157, 158 e 159.
No art. 153,§ 5º da CF – A União é obrigada a repassar 30% da arrecadação do IOF incidente sobre o ouro ativo
financeiro para o Estado, conforme a origem e 70% para o Município, conforme a origem.

§ 5º - O ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial, sujeita-se exclusivamente à
incidência do imposto de que trata o inciso V do "caput" deste artigo, devido na operação de origem; a alíquota
mínima será de um por cento, assegurada a transferência do montante da arrecadação nos seguintes termos:

I - trinta por cento para o Estado, o Distrito Federal ou o Território, conforme a origem;
II - setenta por cento para o Município de origem.

De acordo com o art. 157 da CF competem aos Estados e Distrito Federal:

A) 100% da arrecadação do IR incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, pelos Estados,
suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem;
B) 20% do produto da arrecadação do imposto residual.

Nos termos do art. 158 da CF competem aos Municípios:

A) 100% da arrecadação do IR incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, pelos Municípios,
suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem;
B) 50% do ITR, como via de regra, e 100% do ITR quando o Município detiver a capacidade ativa tributária, ou
seja, a função de arrecadar, fiscalizar esse imposto.
C) 50% do IPVA
D) 25% do ICMS

O art. 159 da CF, prevê que a União entregará 49% da arrecadação do Imposto sobre Renda e proventos de
qualquer natureza (IR) e sobre produtos industrializados (IPI) da seguinte forma:

A) 21,5% ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal;


B) 22,5% ao Fundo de Participação dos Municípios;
C) 3% para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-
Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos regionais de desen-
volvimento, ficando assegurada ao semi-árido do Nordeste a metade dos recursos destinados à Região, na forma
que a lei estabelecer;
D) 1% ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de dezembro de
cada ano
E) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês
de julho de cada ano; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 84, de 2014)

Os incisos II e III do art. 159 da CF determinam que:

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A) 10% da arrecadação do Imposto sobre produtos industrializados será repassado aos Estados e ao Distrito Fe-
deral, proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos industrializados.
B) 29% do produto da arrecadação da contribuição de intervenção no domínio econômico prevista no art. 177, §
4º aos Estados e o Distrito Federal, distribuídos na forma da lei, observada a destinação a que se refere o inciso II,
c, do referido parágrafo.

EXERCÍCIOS

1. A partir da classificação doutrinária da competência tributária, é correto afirmar:

A) A competência privativa refere-se, basicamente, ao poder de instituir os tributos discriminados no texto consti-
tucional, sendo privativa justamente porque a Constituição discrimina, em favor de cada entidade tributante, os
principais impostos de sua competência.
B) A competência concorrente é aquela com base na qual determinado ente político pode instituir certo imposto
que, a princípio, seria da incumbência de outra esfera de governo, sendo assim, determinada entidade tributante
acumula, por força da Constituição Federal, uma competência que ordinariamente não seria sua.
C) A competência residual é o poder de a União inovar e instituir imposto novo e contribuição para a seguridade
social nova, desde que por meio de lei complementar.
D) A competência extraordinária consiste no poder de a União e os Estados instituírem empréstimo compulsório
no caso de guerra externa ou sua iminência.

2. Na repartição das receitas tributárias, a União entregará, do produto da arrecadação dos impostos sobre
renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 49% aos Fundos de Participa-
ção dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Desse percentual, caberá ao Fundo de Participação
dos Municípios:

A) 50%.
B) 30%.
C) 25%.
D) 22,5%.
E) 21,5%.

3. A União entregará, do produto da arrecadação do imposto sobre produtos industrializados, 10% aos
Estados e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos indus-
trializados; dos recursos que receberem a esse titulo, os Estados entregarão aos respectivos Municípios o
percentual de:

A) 21,5%.
B) 22,5%.
C) 25%.
D) 27,5%.
E) 50%.

4. Município Deixa pra Lá, não conseguindo, hipoteticamente, exercer sua competência constitucional
tributária para instituir o ITBI no seu território, celebrou acordo com o Estado federado em que se
localiza, para que esse Estado passasse a exercer, em seu lugar, a competência cons titucional para
instituir o referido imposto em seu território municipal e, ainda, para que exercesse as funções de
fiscalizar e arrecadar esse tributo, recebendo, em contrapartida, um pagamento fixo anual, a título de
“retribuição compensatória”. Relativamente a essa situação, o Município Deixa pra Lá:

A) Não pode delegar sua competência tributária, nem suas funções de arrecadar e de fiscalizar tributos de sua
competência tributária a qualquer outra pessoa jurídica de direito público, mas pode delegar as funções de
arrecadação às instituições bancárias públicas e privadas.
B) Pode delegar sua competência tributária e suas funções de arrecadar e de fiscalizar tributos a outra
pessoa jurídica de direito público.
C) Não pode delegar sua competência tributária a qualquer outra pessoa jurídica de direito público, embora
possa delegar as funções de arrecadar e de fiscalizar tributos de sua competência tributária.

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D) Não pode delegar sua competência tributária, nem suas funções de fiscalizar tributos a q ualquer outra
pessoa jurídica de direito público, embora possa delegar suas funções de arrecadar tributos de sua
competência tributária.

5. De acordo com o Código Tributário Nacional “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou
cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada” é denominada de:

A) Imposto.
B) Taxa.
C) Tributo.
D) Contribuição Social.
E) Tarifa.

6. Dentro da competência da União, estão os impostos:

A) Imposto sobre a propriedade territorial rural, imposto sobre transmissão de bens imóveis e direitos a eles
relativos, imposto sobre a propriedade territorial urbana.
B) Imposto sobre produtos industrializados, imposto sobre a propriedade territorial rural.
C) Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, imposto sobre a propriedade territorial rural e
imposto sobre propriedade de veículos automotores.
D) Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, imposto sobre a propriedade territorial rural,
imposto sobre transmissão de bens imóveis e direitos a eles relativos.

7. O exercício da competência constitucional tributária:

A) Somente se delega através de lei específica do ente federado que é competente para a institui ção do tributo.
B) Pode ser renunciado pelo ente federado, bem assim delegado por lei a outro ente, desde que por meio de lei
complementar.
C) É atribuído constitucionalmente para os entes federados, suas autarquias e fundações.
D) É atribuído constitucionalmente para os entes federados, que podem delegá-la às suas autarquias e
fundações, para os fatos geradores relacionados com suas funções.
E) Se manifesta através da criação de leis instituidoras e modificadoras de tributos, bem assim de leis que
disciplinam as causas de exclusão, suspensão e extinção do crédito tributário.

8. É de competência tributária da União:

I- O imposto sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos.


II- O imposto sobre grandes fortunas.
III- O imposto de transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou
acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aqui-
sição.
IV- O imposto sobre serviços de qualquer natureza.

De acordo com as afirmativas acima, assinale a alternativa correta.

A) I - Falso; II - Verdadeiro; III - Verdadeiro; IV - Falso.


B) I - Verdadeiro; II - Verdadeiro; III - Falso; IV - Falso.
C) I - Falso; II - Falso; III - Verdadeiro; IV - Verdadeiro.
D) I - Falso; II - Verdadeiro; III - Falso; IV - Falso.

8. Para custeio do serviço de iluminação pública, na forma das respectivas leis e respeitados os ditames
constitucionais, poderão instituir contribuição apenas os:

A) Estados e a União.
B) Estados e o Distrito Federal.
C) Municípios e o Distrito Federal.
D) Estados.

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E) Municípios.

9. “Uma coisa é poder de legislar, desenhando o perfil jurídico de um gravame ou regulando os


expedientes necessários à sua funcionalidade; outra é reunir credenciais para integrar a relação
jurídica, no tópico do sujeito ativo”. (CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 23 ed. São
Paulo: Saraiva, 2011. p. 271). O trecho transcrito faz alusão, respectivamente, à:

A) Capacidade tributária passiva e competência tributária.


B) Capacidade tributária passiva e capacidade tributária ativa.
C) Competência tributária e obrigação tributária.
D) Capacidade tributária ativa e obrigação tributária.
E) Competência tributária e capacidade tributária ativa.

10. Acerca da competência tributária, é correto afirmar que:

A) é delegável, irrenunciável e seu exercício é obrigatório.


B) é delegável e renunciável, mas seu exercício é facultativo.
C) é indelegável, salvo atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços,
atos ou decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa de direito público a outra, nos
termos estabelecidos pela Constituição Federal.
D) constitui delegação de competência o cometimento, a pessoas de direito privado, do encargo ou função de
arrecadar tributos, como se verifica em relação às instituições financeiras.
E) o não-exercício da competência tributária pelos Estados ou pelos Municípios a defere à União.

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GABARITO

1. C
2. D
3. C
4. C
5. B
6. E
7. D
8. C
9. E
10. C

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