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1 - INTRODUÇÃO

Os fungos são geralmente reconhecidos, primeiramente, pela sua capacidade


de decompor a matéria orgânica.

Relativamente poucos fungos são suficientemente virulentos para serem considerados


patógenos primários. Estes são capazes de iniciar uma infecção em um hospedeiro
normal, aparentemente imunocompetente. Eles são capazes de colonizar o hospedeiro,
encontrar um nicho microambiental com substratos nutricionais suficientes, a fim de
evitar ou subverter os mecanismos de defesa do hospedeiro, e se multiplicar dentro do
nicho microambiental.

Entre patógenos fúngicos primários conhecidos se encontram quatro fungos


ascomicetos, os patógenos dimórficos endêmicos Blastomyces dermatitidis, Coccidioides
immitis (e C. posadasii), Hstoplasma capsulatum e Paracoccidioides brasiliensis. Cada um
destes microrganismos possui fatores de virulência que lhes permitem romper
ativamente as defesas do hospedeiro e que habitualmente restringem o crescimento
invasivo de outros microrganismos. Quando um grande número de conídios desses
quatro fungos é inalado por humanos, mesmo se esses indivíduos forem saudáveis e
imunocompetentes, habitualmente ocorre infecção e colonização, invasão tecidual e
disseminação sistêmica do patógeno. Como ocorre com a maioria dos patógenos
microbianos primários, estes fungos podem também agir como patógenos
oportunistas, uma vez que as formas mais severas de cada uma destas micoses são
vistas mais frequentemente em indivíduos com comprometimento das defesas imune
inata e adquirida.

Geralmente, indivíduos saudáveis e imunocompetentes apresentam alta resistência


inata à infecção fúngica, apesar de serem constantemente expostas às formas
infecciosas de diversos fungos presente como parte da microbiota endógena
(endógenos) ou no ambiente (exógenos). Os patógenos fúngicos oportunistas, como
Candida, Cryptococcus spp. e Aspergillus spp., somente causam infecção quando ocorrem
quebras nas barreias protetoras da pele e membranas mucosas ou quando a falhas no
sistema imune do hospedeiro. Entretanto, mesmo nas infecções oportunistas, há
fatores associados ao organismo, e não ao hospedeiro, que contribuem para a
capacidade do fungo causar doença.

Além dessa função, algumas espécies são capazes de provocar infecções, tanto
em plantas quanto em animais e em humanos.

Em humanos, as infecções fúngicas não costumam evoluir para quadros mais sérios de
complicação. Entretanto, quando se trata de alguém com a imunidade comprometida,
como portadores do vírus HIV, diabéticos, transplantados, etc., podem ser
devastadores e, inclusive, provocar a morte em curto espaço de tempo.

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Muitos fungos vivem, de forma harmoniosa, em nosso corpo. Entretanto,
situações que propiciam sua superpopulação podem provocar problemas. A candidíase
e a pitiríase versicolor (pano branco) são alguns exemplos. Ambas são micoses, que é
o resultado da proliferação demasiada destes organismos na pele. Em alguns casos,
os mesmos agentes de infecções cutâneas, ou outras espécies, podem colonizar
regiões diferenciadas, como o aparelho respiratório, sistema nervoso, genital e
gastrointestinal. Para agravar o quadro, algumas liberam toxinas: as chamadas
micotoxinas piorando ainda o quadro.

O tratamento de doenças fúngicas costuma ser mais demorado que o de uma infecção
bacteriana, por exemplo; e as chances de reincidir também são maiores. Assim, evitar
situações que propiciam a proliferação de tais organismos, como calor e umidade
excessivos, e alta ingestão de açúcares, no caso de fungos que se encontram
internamente no organismo; são algumas medidas para evitar tais ocorrências.

1.1 – APLICAÇÕES DOS FUNGOS

Indústria
 Bebidas e alimentos

 Biodegradação

 Biotecnologia (fermentação e produção de enzimas)

 Corantes e tinturas (fungos liquenizados)

Ecológicas:
 Decomposição de matéria orgânica (decompositores de lignina, celulose,
reciclagem de nutrientes em florestas)

 Associações ecológicas: Simbiose Mutualista (Liquens (algas) e micorrizas


(raízes)) e Parasitismo (micose).

Médica:

 Micoses: Frieira, pano branco, impigem, sapinho, candidiase, blastomicose,


histoplamose, tinhas;

 Fornecedores de químicos na produção de antibióticos (penicilina).

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1.2 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS FUNGOS:

No sistema de classificação em cinco reinos, os fungos ocupam um reino


exclusivo – o reino Fungi. Os fungos são encontrados em quase todos os lugares da
terra; alguns, (os saprófitos) vivem na matéria orgânica, na água e no solo, e outros
(fungos parasitas) vivem na superfície ou no interior de animais e vegetais. Alguns são
prejudiciais, enquanto que outros são benéficos. Os fungos também vivem em muitos
materiais utilizáveis causando deterioração e estragando alimentos. Os fungos
benéficos são importantes na indústria como a fabricação de queijos, iogurtes,
cervejas, vinhos e outros alimentos, e também tem seu papel importante na indústria
farmacêutica na fabricação de certas drogas como a ciclosporina, que é uma droga
imunossupressora e vários antibióticos.

Uma variedade de fungos (incluindo leveduras, bolores e alguns carnudos) tem


importância médica, veterinária e na agricultura, devido às doenças que causam no ser
humano, em animais e vegetal. Muitas doenças em plantas cultiváveis, grãos, milho e
batata são causados por bolores. Algumas dessas doenças que acometem os vegetais
são denominadas ferrugens. Esses fungos não destroem apenas plantações, mas
alguns produzem toxinas que causam doença no ser humano e animais. As toxinas
produzidas pelos bolores e por certos tipos de fungos carnudos são denominadas
micotoxinas, e as doenças que causam são conhecidas coletivamente como
micotoxicoses, que são produzidas por mais de 350 espécies de fungos. As
micotoxinas são metabólicos complexos, prejudiciais ao ser humano e animais. Alguns
fungos produzem apenas uma única micotoxina, porém outros produzem mais de uma.
Os bolores e as leveduras também causam outras doenças infecciosas no ser humano
e em outros animais, genericamente denominadas micoses. Considerando o grande
número de espécies de fungos, há poucos que são patogênicos para o ser humano.

1.3 - PATOGÊNESE

A resposta do organismo à infecção por grande numero de fungos é a formação


de granulomas. Os granulomas são produzidos nas principais doenças fúngicas
sistêmicas como, Histoplasmose e Blastomicose, assim como várias outras. A resposta
imune mediada por células esta envolvida na formação do granuloma. Supuração
aguda, caracterizada pela presença de neutrófilos no exsudato, também ocorre em

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certas doenças fúngicas, tais como Aspergilose e Esporotricose. Fungos não contem
exotoxinas do tipo bacteriano.
A pele intacta é uma defesa efetiva do hospedeiro contra certos fungos (por ex:
Candida, dermatófitos), mas se a pele for danificada, organismos podem se
estabelecer. Os ácidos graxos na pele inibem o crescimento de dermatófitos e
alterações da pele associadas a hormônios na puberdade limitam a micose do couro
cabeludo causada pelo Trichophyton. A flora normal da pele e das membranas
mucosas impede o aparecimento de fungos. Quando a flora normal é inibida, por
exemplo, por antibióticos, um crescimento excessivo de fungos como C. albicans pode
ocorrer.

1.4 - PAPEL DOS FUNGOS NAS DOENÇAS

As doenças micóticas em humanos se desenvolvem como processos


patológicos em um ou mais sistemas de órgãos. Os sistemas afetados podem ser tão
superficiais quanto à camada externa da pele, ou tão profundas quanto o coração, o
sistema nervoso central, ou as vísceras abdominais. Embora um único fungo possa
estar mais comumente associado com infecção envolvendo um único sistema orgânico,
mais frequentemente, vários organismos diferentes podem produzir uma síndrome
patológica similar. Como a conduta diante de uma determinada infecção, pode ser
diferente de acordo com o agente etiológico, para orientar o diagnostico subseqüente
e esforços terapêuticos, é útil estabelecer um diagnostico diferencial que inclua os mais
prováveis patogênicos fúngicos.

Como o desenvolvimento de uma infecção fúngica depende de vários fatores, deve ser
levado em consideração, numerosos fatores, como o estado de imune do hospedeiro, a
oportunidade de interação entre o hospedeiro e o fungo, e a dose infecciosa potencial,
na determinação da possibilidade de uma infecção fúngica, a importância dos dados
microbiológicos ,e a necessidade de tratar e com que agente. Outros fatores que
podem ser importantes na determinação da freqüência relativa com que fungos
específicos causam doença (p. ex: idade, comorbidades, imunidade do hospedeiro,
exposições epidemiológicas e fatores de risco)

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2 – SELEÇÃO DE FUNGOS CAUSADORES DE DOENÇAS

Categoria Gênero/Espécie Doença


Cândida albicans Estomatite, vaginite, infecção das unhas,
Leveduras Cryptococcus neoformans infecção sistêmica criptococose(infecção
pulmonar, meningite, etc).
Espécies de Aspergillus Aspergilose (infecção pulmonar, infecção
sistêmica)
Mofo Espécies de Mucor e Rhizopus e Mucormicose (infecção pulmonar, infecção
outras espécies de mofo do pão sistêmica)
Vários dermatófitos
Infecções o por tinhas
Fungos Blastomyces dermatitidis Blastomicoses (principalmente doença
Dimorfos pulmonar e cutânea)
Coccidioides immitis Coccidioidomicose (infecção pulmonar,
infecção sistêmica)
Histoplasma capsulatum Histoplasmose (infecção pulmonar, infecção
sistêmica)
Sporothrix shenckii Esporotricose (doença cutânea)
Outros Pneumocytis jiroveci Pneumonia por pneumocystis (PCP)

2.1 – FATORES DE RISCOS PARA DESENVOLVIMENTO DOS FUNGOS

Fatores de Risco Para o Desenvolvimento de Infecções Fúngicas

Terapia que suprime o sistema imune


• Drogas antineoplásicas (quimioterapia)
• Corticosteróides e outras drogas imunossupressoras Doenças e outras condições
• AIDS
• Insuficiência renal
• Diabetes
• Doença pulmonar (p.ex., enfisema)
• Doença de Hodgkin ou outros linfomas
• Leucemia
• Queimaduras extensas

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3 - MICOSES

3.1 - MICOSES CUTÂNEAS E SUBCUTANEAS

As micoses de interesse médico podem ser divididas em quatro categorias:


Cutânea, subcutânea, sistêmica, oportunistas. Alguns aspectos importantes das doenças fúngicas estão
descritos a seguir.

Tipo Localização Anatômica Gênero Doenças Organismo


Representativa Causador
Cutânea Camada morta da pele Tinea versicolor Malassezia
Epiderme, cabelo, unhas Dermatomicose (tinha) Microsporum,
Trichophyton
Epidermophyton

Subcutânea Subcútis Esporotricose Sporothrix


Micetona Vários gêneros

Sistêmica Órgãos internos Coccidiomicose Coccidioides


Histoplasmose Histoplasma
Blastomicose Blastomyces
Paracoccidiomicose Paracoccidioides

Oportunista Órgãos internos Criptococose Cryptococcus


Candidíase Cândida
Aspergilose Aspergillus
Mucormicose Mucor, Rhizopus

4 - Micoses Cutâneas
4.1 - Pitiríase versicolor (Tinea versicolor)
Dermatose superficial crônica, cosmopolita, muito freqüente em clima tropical,
caracterizada pelo aparecimento de pequenas manchas bem delimitadas, de coloração
variável, localizadas principalmente no tronco e no abdômen. Atinge indistintamente
todas as raças e mais freqüentemente adultos jovens.

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Agente etiológico: Malassezia furfur (Baillon, 1889).
Características clínicas: Lesões superficiais, atingindo principalmente o tronco e
abdômen, mas podendo acometer pescoço, face, braços, e raramente mão e região
inguinocrural. As lesões se apresentam sob a forma de manchas hipocrômicas
descamativas irregulares, de cor variável, dependendo da cor do indivíduo, e condição
do clima. Apresenta fluorescência à luz de Wood.
Diagnóstico micológico: O médico diagnostica a pitiríase versicolor pelo seu aspecto.
Ele pode utilizar uma luz ultravioleta para detectar a infecção de modo mais acurado ou
pode examinar raspados da área infectada ao microscópio. As escamas devem ser
clarificadas pela potassa a 20% ou 30%. Ao exame microscópico observam-se células
birrefringentes arrendondadas, isoladas ou agrupadas com um cacho de uvas ao lado
de hifas curtas, septadas, ramificadas.

4.2 - Dermatomicoses

As dermatomicoses são causadas por fungos (dermatófilos) que infectam


somente estruturas superficiais queratinizadas ( pele, cabelo e unhas), não infectando
tecidos mais profundos. Os dermatófitos mais importante são classificados em três
gêneros: Epidermophyton, Tricophyton e Microsporum. Eles são disseminados a partir de
pessoas contaminadas por contato direto. Microsporum é também transmitido por
animais, como cachorros e gatos. Isso indica que para prevenir reinfecção, o animal
também precisa ser tratado.

As dermatomicoses (tinea, tinha) são infecções crônicas favorecidas pelo calor e pela
umidade, por exemplo, pé de atleta e coceira do jóquei (conhecidas também como
tinea pedis e tinea cruris, respectivamente. Elas são caracterizadas por pruridos
provocados por pápulas e vesículas pruriginosas, cabelos quebrados e unhas
espessas e quebradas. Trichophyton tonsurans é a causa mais comum de surtos de
tinea capitis em crianças e a principal causa de infecções do endotrix (dentro do
cabelo). T. rubum é também uma causa muito comum de tinea capitis. T. shoenleinii é
a causa do favo, uma forma de tinea capitis onde crostas são vistas no couro cabeludo.
Em algumas pessoas infectadas, a hipersensibilidade causa reações dermatofítidas,
por exemplo, vesículas nos dedos. Lesões são uma resposta a antígenos fúngicos
circulantes; as lesões não contem hifas. Pacientes com infecções por tinea mostram
testes cutâneos positivos com extratos fúngicos, por exemplo tricofitina.

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Tratamento

A maioria das infecções fúngicas cutâneas, excetuando-se as do couro cabeludo


e das unhas, são leves. Os ingredientes ativos das medicações antifúngicas incluem o
miconazol, o clotrimazol, o econazol e o cetoconazol.

Quando a aplicação do creme é interrompida muito precocemente, a infecção pode não


ser erradicada e a erupção retorna. Podem transcorrer vários dias até os efeitos dos
cremes antifúngicos serem observados. Neste período, cremes de corticosteróides são
freqüentemente utilizados para aliviar o prurido e a dor. Para as infecções mais graves
ou resistentes, o médico pode prescrever vários meses de tratamento com outros
medicamentos, algumas vezes concomitante com cremes antifúngicos.

5 - Micoses subcutâneas

Estas são causadas por fungos que crescem no solo e sobre a vegetação e são
introduzidos nos tecidos subcutâneos por meio de trauma.

5.1 - Esporotricose

A esporotricose é uma infecção causada pelo fungo Sporothrix schenckii. O


Sporothrix é geralmente encontrado em roseiras, arbustos de uva-espim, musgo
esfagno e outras matérias vegetais. Freqüentemente, os fazendeiros, os jardineiros e
os horticultores são infectados. Geralmente, a esporotricose afeta a pele e os vasos
linfáticos vizinhos. Ocasionalmente, os pulmões ou outros tecidos podem ser
infectados.

Sintomas e Diagnóstico

Geralmente, uma infecção cutânea e dos vasos linfáticos vizinhos iniciam em um dedo
da mão como um nódulo pequeno e indolor, o qual cresce lentamente e, a seguir, forma
uma ferida. No decorrer dos dias ou semanas seguintes, a infecção dissemina-se
através dos vasos linfáticos do dedo, da mão e do braço até os linfonodos, formando
nódulos e úlceras ao longo do trajeto. Normalmente, o indivíduo não apresenta outros
sintomas. A infecção pulmonar pode causar pneumonia, com uma discreta dor torácica
e tosse.

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Tratamento

A esporotricose que afeta a pele geralmente dissemina-se muito lentamente e


raramente é fatal. A infecção cutânea é tratada com o itraconazol oral. Para as
infecções generalizadas e potencialmente letais, é realizada a administração de
anfotericina B intravenosa, mas o itraconazol oral tem se revelado eficaz ou mesmo
mais eficaz à medida em que é utilizado em um número cada vez maior de casos.

5.2 - Micetona

Micetona é uma síndrome clínica, de evolução crônica, caracterizada pelo


aumento de volume de uma região ou órgão, com a presença ou não de fístulas que
drenam um material seroso ou seropurulento no qual podem ser encontrados “grãos”. A
tríade de tumefação, fístulas que drenam e a presença de grãos é usada no sentido
restrito para definir o termo micetoma. O Grão é um aglomerado de microrganismos.
O micetoma pode ser provocado tanto por bactérias como por fungo verdadeiro.
Os micetomas são classificados em dois grupos: actinomicóticos ou actinomicose e
maduromicóticos ou maduromicose. O primeiro grupo, mais numeroso, estão os
micetomas produzidos por bactérias, os actinomicetos. No segundo estão os
micetomas provocados por fungos verdadeiros, ou eumicetos.

6 - Micoses sistêmicas

6.1 - Coccidioidomicose
A coccidioidomicose (febre de San Joaquin, febre do vale) é uma infecção
causada pelo fungo Coccidioides immitis que geralmente afeta os pulmões. A
coccidioidomicose ocorre tanto como uma infecção pulmonar leve que desaparece sem
tratamento (forma aguda primária) quanto como uma infecção progressiva grave que
se dissemina por todo o corpo e, freqüentemente, fatal (forma progressiva). A forma
progressiva é freqüentemente um sinal de que o indivíduo apresenta um
comprometimento do sistema imunológico, normalmente em decorrência da AIDS. Os
esporos do Coccidioides estão presentes no solo de certas áreas da América do Norte,
da América Central e da América do Sul. Os fazendeiros e outros trabalhadores que
manipulam o solo apresentam maior probabilidade de inalar os esporos e de tornarem-

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se infectados. Os indivíduos que são infectados durante uma viagem podem apresentar
sintomas da doença somente após deixarem a área.

Sintomas

No inicio geralmente não apresentam sintomas. Quando estes ocorrem, eles


manifestam- se 1 a 3 semanas após o indivíduo ser infectado apresentando sintomas
leves como febre, a dor torácica e calafrios e as vezes acompanhado de tosse com
expectoração e escarro e alguns apresentam o reumatismo do deserto. A forma
progressiva da doença é incomum e pode ocorrer semanas, meses ou mesmo anos
após a infecção aguda primária. A infecção pulmonar pode piorar, causando uma maior
dificuldade respiratória. A infecção também pode disseminar-se dos pulmões para os
ossos, as articulações, o fígado, o baço, os rins e o cérebro e as meninges.

Diagnóstico

O médico pode suspeitar de coccidioidomicose quando um indivíduo que habita


ou que viajou recentemente a uma área infectada apresenta esses sintomas. São
coletadas amostras de escarro ou de pus do indivíduo infectado e as mesmas são
enviadas a um laboratório para análise. Os exames de sangue podem revelar a
presença de anticorpos contra o fungo.

Prognóstico e Tratamento

A forma aguda de coccidioidomicose geralmente desaparece sem tratamento e a


recuperação normalmente é completa. Conduto, os indivíduos com a forma progressiva
são tratadas com anfotericina B intravenosa ou com fluconazol oral. Alternativamente, o
médico pode tratar a infecção com itraconazol ou cetoconazol.

6.2 - Blastomicose

A blastomicose é uma infecção causada pelo fungo Blastomyces dermatitidis. É


basicamente uma infecção pulmonar, mas, algumas vezes, ela dissemina-se através da
corrente sangüínea. Os esporos do Blastomyces provavelmente penetram no
organismo através do trato respiratório, quando eles são inalados. Desconhece-se a
origem dos esporos no ambiente, mas uma epidemia foi relacionada a tocas de castor.
A maioria das infecções ocorre nos Estados Unidos, sobretudo no sudeste e no vale do
rio Mississipi. A doença é rara em indivíduos com AIDS.

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Sintomas e Diagnóstico

A blastomicose pulmonar começa gradualmente com uma febre, calafrios e


sudorese profusa. O indivíduo pode apresentar tosse produtiva ou não, dor torácica e
dificuldade respiratória. Apesar da infecção pulmonar normalmente piorar lentamente,
algumas vezes ela melhora sem tratamento. A forma disseminada de blastomicose
pode afetar muitas áreas do corpo. Uma infecção cutânea pode iniciar como pequenas
proeminências (pápulas) que podem conter pus (papulopústulas). Os ossos podem
apresentar tumefações dolorosas. O médico pode estabelecer o diagnóstico através do
exame microscópico de uma amostra de escarro ou de tecido infectado (p.ex., pele).
Quando são observados fungos, pode ser realizada uma cultura da amostra e o exame
laboratorial para confirmar o diagnóstico.

Tratamento

A blastomicose pode ser tratada com anfotericina B intravenosa ou com o


itraconazol oral. Com o tratamento, o indivíduo começa a sentir se melhor em 1
semana e o fungo desaparece rapidamente. Sem tratamento, a infecção piora
lentamente e leva à morte.

6.3 - Histoplasmose
É uma doença fúngica granulomatosa, cujo agente etiológico é o Histoplasma
capsulatum. Este fungo apresenta especial afinidade pelo sistema reticuloendotelial,
produzindo diversas manifestações clínicas, sendo a forma pulmonar a mais freqüente.

Ecologia e epidemiologia
H. capsulatum cresce em solos com alto teor de nitrogênio, geralmente
associado com excretas de aves e morcegos. Solos de galinheiros, viveiros de aves,
cavernas de morcegos são altamente propícios. As aves fornecem o substrato ideal
para o crescimento do fungo no solo, podendo transportá-lo para outros locais em suas
penas. Os morcegos são infectados, excretando o fungo em suas fezes, podendo
disseminar a doença em suas migrações. O principal agente vetor é o vento, que pode
disseminar os conídios a longas distâncias.

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Patogenia
A inalação de uma quantidade suficiente de partículas infectantes do fungo gera
a infecção primária no pulmão, com o crescimento de leveduras nos alvéolos
pulmonares e interstício. A intensidade da exposição inalatória, além de outros atores,
determinará se a infecção resultante corresponderá a sintomas clínicos. Se a
exposição for leve, a infecção será provavelmente assintomática, e se for maciça, o
resultado será infecção sintomática aguda.

Diagnóstico laboratorial
1. Exame direto: o exame a fresco não representa muito valor no diagnóstico dessa
micose, pela dificuldade de visualização das leveduras no interior das células do SER.
Em material de biópsia corado pelo método da hematoxilina-eosina (HE) ou pelo
Giemsa, observam-se células leveduriformes pequenas, redondas, intra-
citoplasmáticas e que apresentam halo claro ao redor, imitando cápsula.

2. Cultura: o cultivo deve ser feito em ágar Sabouraud dextrose a 25 ºC e em ágar BHI
com sangue ou em meio Fava Netto a 37 ºC. A 25 ºC, a cultura está em fase M (mould-
bolor) e observa-se o desenvolvimento de colônia esbranquiçada, cotonosa, que revela
ao exame microscópico, micélio septado com conídios ornamentados denominados
estalagmósporos.
3. Testes sorológicos: provas sorológicas como reação de fixação do complemento,
imunodifusão e imunofluorescência podem ser úteis no diagnóstico dessa doença.

6.4 - Paracoccidioidomicose
Trata-se de infecção granulomatosa de evolução crônica, com grande
polimorfismo clínico, onde as formas pulmonares e cutâneo-mucosas predominam,
seguindo-se outros órgãos, como gânglios linfáticos, suprarenal, baço fígado,
intestinos, ossos, etc. Na grande maioria dos casos, os pulmões estão comprometidos
e, em geral, tal localização é acompanhada de lesões em outros locais. A
paracoccidioidomicose é de distribuição geográfica restrita aos países latino-
americanos. Atinge freqüentemente
indivíduos do sexo masculino entre 30-40 anos. Quanto ao modo de contágio da
doença, admite-se, atualmente, que é adquirida pela inalação de esporos que vivem na
natureza, no solo, vegetais ou na água, determinando lesões primárias pulmonares.

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Diagnóstico
O exame direto a fresco é de grande valor no diagnóstico dessa micose, pois o
fungo apresenta-se sob a forma de levedura com dupla membrana, sendo a interna
enrugada e a externa lisa. Dependendo do material, apresenta-se com brotamentos
múltiplos. Em material de biópsia, com coloração de Gomory, pode-se observar
facilmente o aspecto característico de “roda de leme”.
O cultivo pode ser feito em ágar Sabouraud a 25 ºC e em ágar BHI com sangue ou
meio de Fava Netto a 37 ºC e incubar de 20 a 30 dias. A 25 ºC, a cultura esta em fase
M (mould-bolor) e observa-se o desenvolvimento de uma colônia cotonosa, branca,
elevada e de crescimento lento, cujo exame microscópico revelará apenas micélio
septado e alguns clamidósporos. A 37 ºC, a cultura está em fase Y (yeast=levedura) e
observa-se o desenvolvimento da colônia leveduriforme. Ao exame microscópico,
observam-se células isoladas com gemulação simples e múltipla.
Cultura: o material deve ser semeado em ágar Sabouraud dextrose e dará crescimento
a uma colônia viscosa, lisa, brilhante. Com o tempo, a colônia escorre para a base do
tubo.
Outros meios de cultura utilizado: Auxanograma, Zimograma,
Microcultivo de leveduras:
Utilizar placas de Petri contendo lâminas dispostas sobre um bastão de vidro. Com
todo cuidado e assepsia, coloque 1 ml de corn meal agar + Tween 80 (fundido), sobre a
lâmina. Com alça de platina, retire um pequeno fragmento da colônia de levedura e
semeie em estria. Coloque uma lamínula estéril sobre o ágar e água destilada estéril na
placa para evitar dessecamento do meio. Feche a placa e deixe à temperatura
ambiente. Quando houver desenvolvimento satisfatório, submeta à ação do formol (0,5
ml durante 1 hora)

7 - Micoses Oportunistas

7.1 - Candidíase
A candidíase (candidose, monilíase) é uma infecção causada por cepas de
Candida, especialmente a Candida albicans. A infecção das membranas mucosas,
como ocorre na boca ou na vagina, é comum em indivíduos com sistema imunológico
normal. No entanto, essas infecções são mais comuns ou persistentes em indivíduos

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com diabetes ou AIDS e em mulheres grávidas. Os indivíduos com comprometimento
do sistema imunológico normalmente apresentam uma candidíase que se dissemina
por todo o corpo. Aqueles que apresentam uma baixa contagem leucocitária, a qual
pode ser causada pela leucemia ou pelo tratamento de outros tipos de câncer, e
aqueles com um cateter instalado em um vaso sangüíneo apresentam um maior risco
de candidemia (infecção da corrente sanguínea pela Candida). Uma infecção das
válvulas cardíacas (endocardite) pode ocorrer como conseqüência de uma cirurgia ou
de outros procedimentos invasivos envolvendo o coração e os vasos sangüíneos.

Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas da candidíase variam, dependendo do tecido infectado. Por


exemplo, a infecção bucal (“sapinho”) produz placas cremosas, brancas e dolorosas no
interior da boca. A presença de placas no esôfago podem dificultar a deglutição ou a
ingestão de alimentos. Uma infecção das válvulas cardíacas pode provocar febre,
sopro cardíaco e aumento do baço. Uma infecção da retina (membrana sensível à luz
situada na superfície interna da parte posterior do globo ocular) pode causar cegueira.
Uma infecção do sangue (candidemia) ou do rim pode produzir febre, uma queda
acentuada da pressão arterial (choque) e diminuição da produção de urina. Muitas
infecções causadas por Candida são diagnosticas apenas através dos sintomas. Para
um diagnóstico definitivo, é necessária a observação de fungos em uma amostra da
pele examinada ao microscópio. A cultura de amostras de sangue ou de líquido
cefalorraquidiano também pode revelar a presença de Candida.

Prognóstico e Tratamento

Quando a candidíase é limitada à boca ou à vagina, as medicações antifúngicas


podem ser aplicadas diretamente na área ou pode ser utilizado o fluconazol oral. A
candidíase que se disseminou por todo o corpo é uma doença grave, progressiva e
potencialmente letal, sendo geralmente tratada com a anfotericina B intravenosa,
embora, em alguns casos, o fluconazol seja eficaz. Certas doenças (p.ex., diabetes)
podem piorar a candidíase e devem ser controladas para auxiliar na erradicação da
infecção.

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7.2 - Criptococose
É uma infecção subaguda ou crônica de comprometimento pulmonar, sistêmico
e, principalmente, do sistema nervoso central, causada pelo Cryptococcus
neoformans. A infecção primária no homem é quase sempre pulmonar, devido à
inalação do fungo da Natureza. A infecção pulmonar é quase sempre subclínica e
transitória, podendo imergir ao lado de outras doenças que debilitam o indivíduo,
tornando-se rapidamente sistêmica e fatal. Portanto, é conhecida como infecção
oportunista. Este fungo tem tropismo pelo SNC, ocasionado meningite criptocócica.
C. neoformans é essencialmente o único agente etiológico da criptococose, doença do
homem e de animais, tais como: gatos, cães e cavalos. A espécie C. neoformans
caracteriza-se também por provocar morte rápida (3 a 4 dias) de camundongos
inoculados através de via cerebral, formando extensas massas tumorais.
C. neoformans é de distribuição cosmopolita e está associado com habitat de aves. O
pombo parece ser o principal vetor para a distribuição e manutenção do fungo. Não
parece que o pombo tenha a infecção, uma vez que ele tem uma temperatura corporal
em torno de 42ºC. O fungo vive nas fezes e pode permanecer viável por 2 anos se
houver umidade suficiente.
A porta de entrada é através da via respiratória levando a uma infecção pulmonar
primária que pode ser inaparente. Então o fungo pode permanecer viável por anos até
haver alguma alteração na resistência do hospedeiro, quando então se manifesta a
doença no pulmão, no SNC ou disseminada.

Diagnóstico micológico
Materiais biológicos: líquor, escarro, pus ganglionar, exsudatos de lesões cutâneas e
mucosas, urina e sangue.

Transmissão
Esta levedura ocorre amplamente na natureza e cresce abundantemente em
solos contendo excrementos de pássaros (especialmente pombos). Os pássaros não
são infectados. A infecção em seres humanos resulta da inalação dos organismos. Não
há transmissão pessoa a pessoa.

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Tratamento
O tratamento combinado com Anfotericina B e Flucitosina é utilizado em
meningite ou outra doença disseminada. Não há maneiras de prevenção. Fluconazol é
usado em pacientes aidéticos para supressão da meningite criptocócica em longo
prazo.

7.3 - Aspergillus
Espécies de Aspergillus, especialmente Aspergillus fumigatus, causam infecções
na pele, nos olhos, nos ouvidos e em outros órgãos, bem como “bola fúngica” nos
pulmões e aspergilose alérgica broncopulmonar .
Espécies de Aspergillus existem somente como fungos filamentosos; eles não são
dimórfos. Possuem hifas septadas que formam ramificações (dicotomizadas) em forma
de v.

Transmissão
Estes fungos filamentosos estão amplamente distribuídos na natureza. Eles
crescem na vegetação em deterioração, produzindo cadeias de conídios. A transmissão
se dá por conídios carregados pelo ar.

Tratamento e prevenção
A aspirgilose invasiva é tratada com anfotericina B, mas os resultados podem ser
insatisfatórios. A caspofungina pode ser eficaz em casos de aspergilose invasiva que
não responde à anfotericina B. Pacientes com ABPA podem ser tratados com
esteróides e agentes antifúngicos. Não há meios específicos de prevenção.

7.4 - Mucor e Rhizopus


Mucormicose (zigomicose, ficomicose) é uma doença causada por fungos
saprófitos (ex. Mucor. Rhizopus e Absidia) encontrados abundantemente no meio
ambiente. Eles não são dimórficos. Invadem tecidos de hospedeiros imunodeprimidos.
Eles proliferam nas paredes dos vasos sanguíneos, particularmente nas cavidades
paranasais, nos pulmões ou no intestino, resultando em necrose tecidual. Pacientes
com cetoacidose diabética, queimaduras ou leucemias são particularmente suscetíveis.
Uma espécie, Rhizopus oryzae, causa cerca de 60% dos casos de mucormicose.

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7.5 - Outros Fungos que também causam doenças infecciosas.

Penicillium Marneffei
É um fungo dimórfico que causa uma doença semelhante à tuberculose em pacientes
aidéticos, particularmente nos países do sudeste asiático.

Pseudasllescheria Boydii
É um fungo filamentoso que causa doença principalmente em pacientes
imunocomprometidos.

Fusarium Solani
É um fungo filamentoso que causa doença principalmente em pacientes
neutropênicos. Febre e lesão de pele são as características mais comuns.

Pneumocystis
Este é classificado como uma levedura com base na análise molecular, mas
clinicamente é ainda considerado como um membro dos protozoários.

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8 - Artigos discutidos
Artigo 01
Avaliação clínica e micológica de onicomicose em pacientes brasileiros
com HIV/AIDS
Clinical and mycological evaluation of onychomycosis among Brazilian HIV/AIDS
patients
Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 44(1):40-42, jan-fev, 2011

Artigo 02

Hemólise produzida por Candida tropicalis isoladas de amostras clínicas


Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 43(3):318-321, mai-jun, 2010
Clinical and mycological evaluation of onychomycosis among Brazilian HIV/AIDS
patients

Artigo 03

Pesquisa de fungos em 20 pacientes com polipose nasossinusial


Rev Bras Otorrinolaringologia. V.68, n.5, 654-61, set./out. 2002

Palavras-chave: polipose nasal, alergia, Aspergillus,


Candida, infecção fúngica.
Key words: nasal polyposis, allergy, Aspergillus,
Candida, fungal infection.

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9 - Conclusão
O meio ambiente está carregado de esporos de diversos fungos e, geralmente,
estes flutuam no ar. Entre a ampla variedade de esporos que pousam na pele ou são
inalados até os pulmões, alguns podem causar pequenas infecções, que raramente
disseminam-se a outras partes do corpo. Alguns poucos tipos de fungo (p.ex., Candida)
conseguem viver normalmente sobre a superfície do corpo ou nos intestinos. Apenas
ocasionalmente esses habitantes normais do organismo causam infecções locais da
pele, da vagina ou da boca. No entanto, em raros casos, eles causam danos maiores.
Algumas vezes, determinadas espécies de fungo podem causar infecções graves dos
pulmões, do fígado e do resto do corpo.

Os fungos apresentam uma tendência especial para causar infecções em indivíduos


com o sistema imunológico comprometido. Por exemplo, os indivíduos com AIDS ou
aqueles que estão sendo submetidos a um tratamento antineoplásico apresentam uma
maior probabilidade de desenvolver infecções fúngicas graves. Algumas vezes, os
indivíduos com comprometimento da imunidade apresentam infecções causadas por
fungos que dificilmente causam males aos indivíduos que possuem um sistema
imunológico normal.
A pele lesada por queimaduras solares, arranhões ou outro tipo de irritação
também apresenta uma maior probabilidade de tornar-se infectada. De fato, qualquer
anormalidade da pele predispõe o indivíduo à infecção. Geralmente, manter a pele
intacta e limpa evita as infecções. Quando a pele sofre um corte ou uma escoriação, a
lavagem da área com água e sabão ajuda a impedir a infecção.

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10 – Referências bibliografias
APOSTILA DE MICOLOGIA CLÍNICA. FACULDADE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

KONEMAM, E.W.; ROBERTS, G.D. - Micologia. Practica de laboratório . 3 ed. Buenos


Aires, Panamericana, 1992.

WARREN LEVINSON & ERNEST JAWETZ - Microbiologia Médica e Imunologia – 7º edição


2005 Artimed Editora S.A

April W. Armstrong e Charles R. Taylor - Farmacologia das infecções Fúngicas

Silva, P. Farmacologia. Ed. Guanabara-koogan / 7ªedição, Rio de janeiro-RJ, 2006.

Jacob L. S. Farmacologia - National medical series para estudo independente,


4ªedição. Tradução: Patrícia Josephine Voeux. Ed. Guanabara koogan, Rio de Janeiro
– RJ, 1998.

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