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Rev. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 SISTEMA PUNITIVO BRASILEIRO E A FORMA DE EXECUGAO DAS PENAS Mauricio Kuehne Junior” SUMARIO: 1. Introdugao. 2. As Reformas Advindas da Situagao Histérica. 3. As Novas Figuras Conceituais. 4. Considerag6es Prévias. 5. As Inftagdes Graves. 6. Execugao Proviséria. 7. Contextualizando o iter da execugao, 8. Conclusiio. RESUMO: A flagrante crise o sistema prisional nacional obriga-nos a refletir sobre as intimeras causas deste problema. Dentre tantas, destaca-se 0 proprio sistema de execug’io consignado. A partir de uma brilhante retrospectiva deste ordenamento, © autor discorre e opina, concluindo com base em seus genuinos argumentos, que muitos esforgos ainda devem ser dispendidos. pela sociedade civil e pelos governos pela apresentagio de solug6es alternativas ao isolamento da pessoa humana e ao sagrado dircito de ir e vir. ABSTRACT: To instant crisis the system national prisional forces us to contemplate on the countless causes of this problem. Among so many, he/she stands out the own execution. system consigned. The starting from a diamond retrospective of this order, the author discourses and he says, ending with base in your genuine arguments. that many efforts should still be spent by the civil society and for the governments for the presentation of alternative solutions to the human person's isolation and the sacred right of to go and to come. PALAVRAS-CHAVE: Sistema punitivo, infragdes, execugio, pena privativa de liberdade, regime, medidas despenalizadoras. KEY-WORDS: Punitive system, infractions, execution, grieves private of freedom, regime, measured no punish. * OQ. autor é Promotor de Justiga aposentado; Professor da Faculdade de Direito de Curitiba Membro efetivo de Conselho Autérquico e Academias Estaduais e Nacional de Politica Criminal e Penitencidria. Este Artigo: 55-74 Toledo-PR ved! m2 Jul. /Dez.,2000 | Rey. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 1. Introdugio Tnicialmente, necessdrio dizer, que o Sistema Punitivo Brasileiro apresenta-se de certa forma hierarquizado, posto que as infracdes penais sao classificadas em 5 (cinco) aspectos distintos”, quais sejam: infragées de bagatela ou insignificantes; infragdes de menor potencial ofensivo; infragdes de médio potencial ofensivo; infracdes graves e infragdes etiquetadas como hediondas, com hipoteses, neste ultimo caso, assemelhadas, quais sejam: © tréfico ilicito de entorpecentes, a tortura e 0 terrorismo. A excegao das primeiras infragdes, sobre as quais nao hd o que se falar em execugao propriamente dita, posto nao se erigirem em ilicitude penal. existem, para as demais, normas procedimentais proprias a tratar da parte executiva, ou seja, disposigdes regrando de que forma operar-se-4 a execugao penal. Num primeiro momento é de se analisar as disposigdes contidas na lei n.° 9.099, de 26 de setembro de 1995, a qual dispde sobre os Juizados Especiais Civeis e Criminais. e da outras providéncias, estabelecendo sew artigo 1° que: os Juizados Especiais Civeis e Criminais, drgdos da Justiga Ordindria, serdo criados pela Unido, no Distrito Federal @ nos Territérios, e pelos Estados, para conciliagée, processo, julgamento e execugéo, nas causas de sua competéncia; & seu artigo 2° que: o pracesso orientar-se-@ pelos critérios da oralidade, simplividade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possivel, a conciliag&o ou a transai Referida Lei inovou profundamente o sistema punitivo, introduzindo as medidas despenalizadoras, além de outras providéncias {endentes @ agilizagio, no que concerne ao esclarecimento das. infragGes classificadas como de menor potencial ofensivo. Com efeito, a partir da edigio da Lei 9.099/95 um nove sistema, pode-se dizer, caminha par e passe com o sistema tradicional, indicando que os Institutos nela referidos nao sé devem ser equacionados frente as situagdes concretas, como também que a nio observancia das prescrigdes legais conduzem & nulidade dos feitos, 2 A respeito, vide cla Medidas Alternativas a Pris io proposta por Luiz Flavio Gomes em Penas e (0, edigio RT, 1999, p. 98, 56 Rev, de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 posto tratarem-se de medidas, também, de fundo penal, precipuamente porque trouxeram novas causas de extingio da punibilidade. Assim, os caminhos necessitam ser percorridos, dat porque permitimo-nos reafirmar o que consignamos em nossa Teoria e Pratica da Aplicagao da Pena, Jurud Editora, 2* edigdo — Curitiba. 2. As Reformas Advindas da Situacao Histérica A Crise Penitenciadria Mundial nao poderia deixar de refletir-se no Brasil. A caréncia estrutural a respeito do Sistema Penitencidrio é flagrante. A pena de prisio, segundo vozes as mais autorizadas, faliu. Todavia, continua a ser a resposta penal, reservada que deve ser, agora, 4 criminalidade violenta. Agueles que, em fungtio do bem juridico ofendido nao demonstrarem a estrita necessidade de cumprir pena privativa de liberdade, o novel ordenamento juridico (Lei 9099/95) propicia uma vasta gama de opgGes, visando a n&o aplicagado concreta da referida pena, como também, em determinadas situagGes, a inviabilizagao do processo penal propriamente dito. Chegou-se 4 conclusio (tardiamente) que os substitutivos penais, introduzidos com a reforma de 1984, estavam a se mostrar insuficientes para a solugao dos problemas que o cotidiano do crime propicia. Com efeito, a substituigao da pena privativa de liberdade por outra espécie de pena, se cabivel, a teor do que contém o inciso [V do artigo 59, do Cédigo Penal, se dirige a poucas situagdes, consoante se pode observar pelas disposigGes contidas nos artigos 60 § 2°; 44 e 77 do Cédigo citado. Os reclamos, pode-se dizer, faziam coro unfssono no sentido de serem criadas ovtras medidas que pudessem desafogar as escrivanias criminais, e, via de conseqiiéncia, os gabinetes dos Juizes, Promotores e Tribunais, precipuamente com a criminalidade nao violenta, de modo que as atengGes pudessem se yoltar a uma efetiva repressio A assim denominada criminalidade violenta ou de sangue. Dentro deste clima, ¢ em oposigéo a movimentos outros, de cunho eminentemente repressivo, a Lei em questo criou Institutos que a Doutrina nominou como Despenalizadores, além de uma situagao peculiar, relacionada 4 Descarceirizagao. $7 Rey. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez, 2000 Em nossa Lei dos Juizados Especiais Criminais, (Jurud Editora - Curitiba) escrito a varias mfos (Felix Fischer, Fabio André Guaragni e André Luiz Medeiros Jung), na parte introdutdria, procuramos realgar a importincia deste novo instrumento, valendo- nos de palavras de autorizados doutrinadores, dentre os quais Luiz Flavio Gomes, onde inserimos: Artigos ¢ noticias jé comegam a aparecer. A respeito: Fotha de Sao Paulo, 23/9/95, .3 p. 2, Luiz Elévio Gomes; do mesmo autor: O Estado do Parand, pagina 24, 15/10/95, valendo destacar: “A Lei n° 9099 de 27 de setembro de 199 inovou profundamente nosso ordenamento juridico penal. Cumprindo determinagao constitucional (CF art,98, 1), 0 iegislador nao s6 disciplinou os chamados juizados expeciais ctveis ¢ criminais, como criou um novo procedimento sumartssimo para as infragdes penais de menor potencial ofensivo. Mais que isso: passou a exigir representacao nos crimes de lesdo corporal leve ¢ culposa ¢ introduziu no nosso sistema a chamada suspensdo condicional do processo, E uma verdadeira revolugdo (jurtdica e de mentalidade), porque quebra a inflexibilidade do classico principio da obrigatoriedade da ac&o penal, Doravante temos que aprender a conviver também como principio da oportunidade na acdo penal publica, Abre-se no campo penal um certo espago para o consenso. Ao lado do classico principio da verdade material agora temos que admitir também a verdade consensuada. A suspensdo' condicional do processo (que possibilita ao acusado, querendlo, entrar em periodo de prova desde logo, sem a realizagdo da instrugéo) visa evitar a estigmatizacao derivada do processo ¢ é nisso que se distingue da probation. Uri novo modelo de Justia Criminal seré testado: a preocupagao central agora jé nao deve ser s6 @ decisto (formalista) do caso, sendio a busca de solugdo para 0 conflito. E a vitima, finalmente, comega a ser redescoberta, porque o novo sistema preocupou-se também com a reparagéo dos danos. A muitos propésitos deve serv a suspenstio condicional do processo; despenalizagdo, desburocratizagao, agilizacdo. da: justiga, reparagdo (do dano) & vitima, reintegragdo social do acusado, etc. Por isso, aguarda-se com grande expectativa 0 bom funcionamento do sistema: Que o “dever-ser-normativo” encontre ressondncia na realidade empirica! . Estdo langadas as bases de um novo paradigma da Justiga Criminal: os operadores do direito (juizes, promotores, advogados etc.), para além da necessidade de se prepararem para.a correta aplicagdo da lei, devem também estar preparados para o desempenho de um novo papel: 0 de propulsores da conciliagao no dmbito penal.” No que atine aos Institutos, dos dispositivos préprios da Lei se extraem as necessdrias consegiiéncias advindas. 58 Rev. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000. 3. As Novas Figuras Conceituais O conceito de infragio penal de menor potencial ofensivo necessita ser esclarecido. Reza o artigo 61 da Lei em questao: Art, 61. Consideram-se infragdes penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravengSes penais e os crimes a que a lei comine pena maxima niio superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial. Tal disposi¢ao, segundo. entendimento. predominante, afasta do Ambito de competéncia do Juizado Especial Criminal os crimes em que a lei preveja procedimento especial, inserindo-se aqui os previstos no Cédigo Penal, v.g. crimes contra a honra, praticados por funciondrio piblico e previstos em leis extra cédigo, dentre outras, abuso de autoridade e lei de t6xicos (art.17). Assim, as contrayengdes penais, independentemente do quantum previsto na cominagio abstrata devem ser levadas ao Juizado Especial Criminal, existindo, contudo, controvérsias doutrindérias e posigGes conflitantes dos Tribunais. Nesta parte introdut6ria 4 Teoria da Pena, objetivamos destacar os Institutos, sem adentrar em maiores comentarios, remetendo os leitores para aprofundamento de tema as obras que se detém na andlise pormenorizada da Lei e suas implicagdes. Numa sintese, as medidas se relacionam a: 1 - composigao civil (que se opera via Acordo Civil Extintivo da Punibilidade); 2 - aplicagiio de pena nao privativa de liberdade (yia Transagao Penal); 3 - suspensio Condicional do Processo e 4 - representacio nos crimes de lesio corporal leve ¢ culposa. A primeira referéncia se atém ao Acordo Civil Extintivo da Punibilidade, o qual pode ser viabilizado quando da audiéncia preliminar, conforme artigo 72 da Lei, complementado pelas disposicdes que seguem: artigo 74 e seu pardgrafo unico: 59 Rev, de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez, 2000 Art. 72 - Na audiéncia preliminar, presente o representante do Ministério Piblico, 0 autor do fato ¢ a vitima ¢, se possivel, 0 responsavel civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerd sobre a possibilidade da composicao dos danos e da aceitagéio da proposta de aplicacao imediata de pena nao privative de liberdade. Art. 74 - A composigéo dos danos. civis seré reduzida a escrito e, homologado pelo Juiz, mediante sentenga irrecorrivel, ter eficécia de titulo @ ser executado no Juizo civil competente Pardgrafo tinico - Tratando-se de acdo penal de iniciativa privada ou de acao penal piiblica condicionada & representacdo, o acordo homologado acarreta a renincia ao direito de queixa ou representacao. Como se pode observar, o Ambito de incidéncia do Acordo se atém aos crimes de alcada exclusivamente privada, desde que nao haja procedimento especial, como v.g. 0 crime de dano (artigo 163 - CP) ¢ os de acdo piiblica condicionada & representagiio, v.g. 129, 129 § 6° ¢ 147, Nao viabilizado © Acordo, por circunstancias varias, abre-se a possibilidade da Transagio Penal propriamente dita. Esta, contudo, pode atingir, segundo o artigo 76 os crimes dependentes de fepresentagdo e aqueles de agdo publica incondicionada, com pena cominada nio superior a 1 ano, nfo podendo haver a previsio de procedimento especial. Excluem-se, portanto, dentre outros: crimes falimentares, de responsabilidade de funciondrio ptiblico, difamacao e injiria, contra a propriedade imaterial, eleitorais, de imprensa, abuso de autoridade e relacionado a t6xicos (artigo 17 da Lei 6368/76), etc. Quanto 4 Transagio, 0 artigo 76 e seus pardgrafos 4° e 6° disp6em: Ari. 76 - Havendo represemtagéo ou tratando-se de crime de acao penal publica incondicionada, ndo sendo caso de arquivamento, o Ministério Piiblico poderd propor a aplicagao imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta § 4° Acothendo a proposta do Ministério Priblico aveita pelo autor da infragdo, o Juiz aplicard a pena restritiva de direitos ou muta, que no importaré em reincidéncia, sendo registrada apenas para impedir novamente 0 mesmo beneficio no prazo de cinco anos. 60 Rev. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 §6°A imposigdo da sangdo de que trata 0 § 4° deste artigo néto constard de certiddo de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e-néo tera efeitos civis, cabendo aos interessados propor ago cabivel no juizo civel. Como se vé, ocorrendo a Transagao Penal, 0 autor do fato, cumptindo a pena acordada, ter4 sua punibilidade declarada extinta, sem quaisquer reflexos em termos juridicos penais, exceto a inviabilidade de nova Transacao dentro de cinco anos. A terceira medida esta contida no artigo 89 da Lei em comento¢ os efeitos da suspensio em seu § 5°, quando, vencido o prazo sem revogagdo, nada € registrado em termos juridico-penais contra o beneficidrio da suspensao, vale dizer, ocorreré a exting’io da punibilidade. Os dispositivos estdo assim redigidos: Art. 89.- Nos crimes em que a pena minima cominada for igual ow inferior @ um ano, abrangidas ou ndo por esta Lei, 0: Ministério Piiblico, ao oferecer a dentincia, poderd propor a suspensdo do processo, por dois.a quatro anos, desde que 0-acusado nao esteja sendo processado ow ndo tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensito condicional da pena (art. 77 do Codigo Penal) § 5° - Expirado 0 prazo sem revogacgdo, 0 Juiz declararé extinta a punibilidade. Ja se fez alusdo, mas € necessario salientar que a condi procedibilidade exigivel aos crimes de lesdes corporais leves e lesdes culposas a douttina inclui, por igual, entre as medidas despenalizadoras, vez que, ocorrente tais hipdteses, os caminhos via Acerdo, Transagio e Suspensio Condicional do Processo podem encontrar adequagao. Necessirio se faz, assim, 0 percurso para viabilizar, se for o caso, uma das vias alternativas. Vencidas as etapas tragadas ¢ nfo se aplicando qualquer dos Institutos, af sim, em termos de Juizado Especial Criminal propriamente dito, apés caracterizada a infracio de menor potencial 61 Rev. de Ciéncias Jur. ¢ Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 ofensivo, dar-se-4 inicio ao procedimento sumarissimo, a teor do que estabelecem os artigos 77 e seguintes da Lei em questio. De se observar que o Instituto da Suspenséo Condicional do Processo encontra aplicabilidade no Ambito do Juizado Especial, mesmo porque, se é cabivel, em tese, para as infragdes com pena minima cominada de um ano, por 6bvio encontra cabimento nas hip6teses em que a pena maxima é igual ou inferior a um ano. Concernente 4 execugio, a Lei em referéncia estabelece em disposigdes especificas (artigos 84, 85 e 86) que: Art. 84: aplicada exclusivamente pena de mulia, seu cumprimento far-se-& mediante pagamento na Secretaria do Juizado, Pardgrafo tinico ~ efewado o pagamento, 0 Juiz declarard extinta a punibilidade, determinando que a condenagdo nao fique constando dos registros criminais, exceto para fins de requisigao judicial. Art. 85 - N&o efetuado 0 pagamento de multa, serd feita a conversdo em pena privativa de liberdade, ou restritiva de direitos, nos termos previstos em lei. Art. 86 - A execucdo das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, seré processada perante o drgdo competente, nos termos da lei. Quanto as disposicdes retro mencionadas, tivemos o ensejo de, em nosso livro Juizados Especiais Criminais, editado em co-autoria, dizer que o pagamento (da multa) obedecera 4 disciplina contida na Lei de Execugio Penal, eis que poderd haver o parcelamento, forma de desconto, etc. A respeito, vide artigos 164 ¢ seguintes LEP, no que for aplicavel. Atinente a execu da pena de multa objeto da transagao penal (que no caracteriza a reincidéncia, somente servindo para fins de requisicio judicial - vide § 4° art. 76) compete ao préprio Juizado Especial Criminal. O pagamento passa a ser causa extintiva da punibilidade. Aludimos, também que a Lei n&o distingue a respeito das duas situagdes através das quais a pena de multa pode ser aplicada. Pela transago (§ 4° art. 76), os efeitos so expressos, ndo importando em teincidéncia, “sendo registrada apenas para impedir novamente 0 mesmo beneficio no prazo de cinco anos”. Alertévamos, contudo, que a aplicacio da pena poderd decorrer de condenagio propriamente dita, observado 62 Rev. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 © procedimento sumarissimo, junto ao préprio Juizado Especial, parecendo-nos que, por igual, resultando de condenagao isolada pelo Juizado Especial, o raciocinio seria 0 mesmo, muito embora distintas as situagGes. 4. Consideracoes Prévias Melhor refletindo, todavia, a outra conclusio nao se pode chegar senao a de que, quando haja condenagio. propriamente dita, a reincidéncia, eventualmente podera ficar caracterizada (claro, na hipdtese de o agente praticar um segundo fato que resulte em condenagado).. Os. efeitos em relag#o ao segundo fato poderio, conforme a hip6tese, ser amenizados, como v.g., o nao impedimento de concessio de swrsis quando a condenagao anterior for apenas & pena de multa. Diga-se, alids, que a Lei n. 9714/98 na particular caracterizagio da reincidéncia, inovou profundamente, eis que esta (reincidéncia), por si s6, ndo é Sbice & substituigdo da pena privativa de liberdade aplicada, exceto quando caractetize a incidéncia dos fatos no mesmo tipo penal. Concerente & possibilidade alvitrada pelo legislador de conversao da multa néo paga em privativa de liberdade, a Lei 9268/96 tornou invidvel tal situacdo. Também, impossivel a eventual conversio em pena restritiva de direitos, uma yez que nao ha pardmetro 4 conversao em referéncia, quando a aplicagao da multa foi objeto da transagio. Alvitra-se, dentre outras, 0 inicio do Processo no caso de o autor do fato tornar-se inadimplente quanto 4 pena de multa, ou nao cumpra a pena restritiva de direitos, solugdes contudo, que nao se harmonizam com o ordenamento juridico. A inadimpléncia da multa enseja, tio s6, sua execugdo nos moldes da Lei 9268/96, ja referida, e quanto ao nao cumprimento da pena restritiva de direitos, na falta de regulamentagao. especifica, nada pode ser feito, Neste particular, confira-se: Damasio de Jesus, Penas Alternativas, editora Saraiva, 1999, p. 105/106, abordando as diferentes posigdes sustentadas quanto ao inadimplemento da pena restritiva de direitos objeto de transagio penal. Confira-se, também, René Ariel Dotti, in Penas Restritivas de Direitos, Criticas e Comentérios As Penas Alternativas — Lei n° 9.714/98 — Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 89/90, propondo 63 Rev. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 que ao invés de aplicagio de uma pena na transagio penal, sejam estabelecidas condigées que, no caso de serem descumpridas, ensejarao o oferecimento de denincia. Atente-se, contudo, que pela sistematica tual, o descumprimento ocorrera uma tinica vez, posto que, em cyentual pratica de segundo fato, a avaliagio dos requisitos subjetivos sera 6bice a outra transagdo (quando superado o periodo qiiingiienal). Sem diivida, diferente seré quando se tratar de pena privativa de liberdade aplicada em sede de procedimento sumarfssimo, procedida eventual substituigto, Imagine-se hipdtese de condenado reincidente (nao especifico), ao qual foi aplicada pena privativa de liberdade de 8 meses, procedida a substituicao, vez que presentes os requisitos legais. Agora, sim, descumpridas as condigdes, a substituigéo resultara revertida e consistira no efetivo cumprimento da pena privativa imposta (e substituida), observado o contraditério, posto tratar-se de incidente de execugao. Executar-se-d, assim, a pena originalmente aplicada (privativa de liberdade) de conformidade com © regime estabelecido. Atente-se que, em hipdteses tais, conforme regra do artigo 86 da Lei 9099/95, a execugao e seus incidentes seraio processados. perante o Grgdo competente, nos termos da lei. Esta segue Os critérios estabelecidos na Lei de Organizacio Judicidria de cada Estado. No Parana, a disciplina esté contida no art. 228 do Cédigo de Organizagio e Divisio Judicidrias, complementadas as disposigdes por outras Leis criadoras de Juizos Privativos de Execugio Penal (11.374/96 e 12.828/2000); pela normativa existente no que atine a Central de Execugio de Penas. Alternativas e pela Resolugiio de n° 13/95, do Orgiio Especial do Tribunal de Justiga. Quanto as penas. privativas de liberdade, dadas as diferentes situagdes enfrentaveis pela Lei 9.099/95, o regime de cumprimento deverd ser o aberto, na maior parte dos casos. Assim, no Estado referido, a competéncia, que por forga da Lei 9099/95 e segundo a Resolugio 13/95, 6 do préprio Juizo sentenciante, vale dizer, 0 Juizado Especial propriamente dito. Ba regra que emana doart. 1° da citada Resolucao. Vale 0 mesmo raciocinio para as penas restritivas de direitos. Acaso resulte condenagao em regime semi-aberto ou fechado, por Gbvio, a competéncia sera de uma das Varas de Execugio, sediadas em Curitiba (1* ou 2°), ou, quando for o caso, de outro Juizo 64 Rev. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 Privativo de Execucdes (Londrina, Maringé, etc.), nao se podendo olvidar a disciplina contida na Resolugao de n. 13/95, j4 mencionada. Com efeito, a Lei de Execugao Penal, em seu artigo 65 dispde que: “A execugdo penal competird ao Juiz indicado na lei local de organizagao judicidria ¢, na sua auséncia ao da sentenga”. No Estado do Parana (situagao também encontravel em outros Estados), existe uma dualidade quanto & execugao. Os condenados que estejam recolhidos em unidades do Sistema Penitencidrio, terao suas penas executadas pelos Juizos privativos de execugao penal (1* ou 2° Varas, sediadas em Curitiba e Jufzos Privativos de Londrina, Maringa, Cascavel, Foz do Iguagu, Guarapuava, Ponta Grossa); os demais, pelo Juizo provisério nos termos da Resoluco jé referida (13/95). Os referenciais tiltimos citados se aplicam, por igual, 4s demais situagdes versadas na Lei de Execugio Penal, precipuamente as disposig6es concernentes 4 execugdo das penas privativas de liberdade, restritivas de direitos, multa, sursis, como também das medidas de seguranga, cujos dispositivos legais adiante sao referidos. As infragdes de médio potencial ofensivo podemos dizer, encontram guarida no que estabelece o artigo 89 da Lei 9099/95, vale dizer, o instituto da Suspenséo Condicional do Processo, atingindo a todas as hipdteses nas quais a pena minima cominada seja igual ou inferior a 1 (um) ano, assim como no que dispde a Lei 9714/98, ampliando, os substitutivos penais previstos no Cédigo Penal, e com aplicabilidade as situacdes através das quais resulte condenagio em quantitativo nao superior a 4 anos, desde que nao se trate de crime praticado com violéncia ou grave ameaga 4 pessoa, ou quando se tratar de crime culposo: 5. As Infragdes Graves Num outro patamar situam-se as infragGes graves, vale dizer, aquelas situagdes nado, enquadrdveis como insignificantes, de menor potencial ofensivo (vez que nao sao passiveis das medidas despenalizadoras criadas pela Lei 9099/95) ou de médio potencial ofensivo (passiveis estas de aplicagio do sursis processual e dos 65 Rey, de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 substitutivos penais). Assim, as infragdes graves, operando com o sistema de aplicagzio de pena, apés eleita a pena qualidade, estabelece- se © quantitativo da pena e regime, nado se operando com 0 inciso IV do artigo 59 do Cédigo Penal (substituigao da pena privativa de liberdade por outra espécie de pena, se cabfvel), por inaplicavel. Algumas situagGes especialissimas, eventualmente, poderao ensejar a concessdo do sursis — y.g. tentativa de homicfdio simples, resultando a pena efetivamente aplicada em 2 (dois) anos. Referencial, também, aos Crimes Hediondos e hipéteses assemelhadas, situagdes reguladas pelas Leis 8072/90, 8930/94; 9455/97 ¢ 9695/98, afora situagdes como a contemplada na Lei do Crime Organizado que estabelece o regime inicial fechado para o cumprimente da pena, tal como regrado pela Lei de Tortura, criando o impasse doutrindrio e jurisprudencial quanto & derrogacao ou nao da Lei 8072 no que atine a fixacdo de regime. Atinente @ execugo das penas privativas de liberdade, quando nio passiveis de substituigao pelas penas restritivas de direitos, a matéria é regulada pelos artigos 105 e seguintes da Lei de Execugio. Penal, verbis: Art. 105 - Transitando em julgado a sentenga que aplicar pena privativa de liberdade, se o réu estiver ou vier a ser preso, 0 juiz ordenard a expedicio de guia de recolhimento para a execucio. Art. 106 - A guia de recolhimento, extraida pelo escrivao, que a mbricaré em todas as folhas ¢ a assinard com o juiz, serd remetida 4 autoridade administrativa, incumbida da execugio e conterd: T- 0 nome-do condenado; IT - a sua qualificagao civil e © niimero do registro geral no Srgzo oficial de oy TH - © inteiro teor da demtincia ¢ da sentenga condenatéria, bem como. certidao do transito em julgado; IV - a informagio sobre os antecedentes ¢'0 grau de instrugao; V - a data da terminagao da pena; VI - outras pegas do processo reputadas indispensdveis: a0 adequado tratamento penitenciario, § 1°- Ao Ministério Piblico:se dard ciéncia da guia de recolhimento, § 2° - A guia de recolhimento. serd retificada sempre que sobrevier modificagdo quanto ao inicio da execucdo, ou ao'tempo de duragao da pena. § 3°- Se 0 condenado, ao tempo do fato, era funciondrio da administragao da justiga criminal, far-se-4, na guia, mengdo dessa circunstineia, para fins do disposto no § 2° do art. 84 desta Lei. 66 Rev. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 Att. 107 - Ninguém sera recolhido, para cumprimento de pena privativa de liberdade, sem a guia expedida pela autoridade judicidria, § 1° A autoridade administrativa incumbida da execugao passard recibo da guia de recolhimento, para junté-la aos autos do proceso, e daré cigneia dos seus termos ao condenado. § 2°- As guias de recolhimento sero registradas em livro especial, segundo & ordem cronolégica do recebimento, ¢ anexadas ao prontuério do condenado, aditando-se, no curso da execugao, 0 céleulo das remigdes e de outras retificagdes posteriores 6, A Execugao Proviséria Consideragdes a respeito da assim denominada Execugio Proviséria deveriam ser efetivadas, mesmo porque a matéria pacificou-se junto aos Tribunais Superiores, além do que encontra disciplina prépria, dentre outros, nos Estados de Sio Paulo, Santa Catarina e Parana. Tendo em vista que 0 Estado de Sao Paulo foi um dos mais resistentes 4 assim denominada Execugao Proviséria (também: antecipada), oportuno que se mencionem os instrumentos normativos editados para regular tal situagao, verbis: PROVIMENTO N° 653/99 O Conselho Superior da Magistratura, no uso de suas atribuicdes, CONSIDERANDO a necessidade de disciplinar o sistema de expedi¢ao de guia de recolhimento provisdria no Estado de Sao Paulo; CONSIDERANDO 6 que dispée 0 artigo 2°, da Lei n° 7.210 de 11 de julho de 1984, CONSIDERANDO, ainda, o decidido no processo CG n° 1.176/97, RESOLVE Art. 1° - A guia de recolhimento proviséria seri expedida quando do recebimento de recurso da sentenga condenatéria, desde que o condenado esteja preso em decorréncia de priséo processual, devendo ser remetida ao Juizo de Execuciio Criminal. Art, 2° - Nos processos que jé se encontram no Tribunal, a guia serd expedida a pedido das partes, com os dudos disponiveis em Cartérie. Art. 3° - A Corregedoria Geral. da Justica adaptard suas Normas de Servico as disposigdes deste Provimento. Art. 4° - Este Proyimento entraré em yigor quinze (15) dias apés a sua publicagao, revogadas as disposigdes em contritrio. 67 Rev. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 PUBLIQUE-SE, REGISTRE-SE E CUMPRA-SE , remetendo -se cépias & Procuradoria Geral da Justiga, & Procuradoria Geral do Estado, & Ordem dos Advogados do Brasil, Segdo Sao Paulo, 4 Secretaria da Administragao Penitenciaria € 4 Secretaria da Seguranga Ptiblica do Estado de Sao Paulo. PROVIMENTO N° 15/99 O. DESEMBARGADOR SERGIO AUGUSTO NIGRO CONCEICAO, CORREGEDOR GERAL DA JUSTICA DO ESTADO DE SAO PAULO, no uso de suas atribuigdes legais, CONSIDERANDO 6 decidido no Processo CG n° 1.176/97 ¢ 0 Provimento 653/99 do.Conselho Superior da Magistratura, RESOLVE: Artigo 1° - Dar nova redagéio ao item 40, do Capitulo V das Normas de Servigo da Corregedoria Geral da Justiga, que passa a vigorar com a seguinte redagio: 40. As guias devem obedecer 0 modelo. oficial impresso e serdo datilografadas em 4 (quatro) vias, destinando-se a primeira, de cor branca, aos livros do offcio de condenagao; a Segunda, de cor verde, constituird guia de recolhimento ou internamento: para as execugdes criminais, a tereeira, de cor azul, ser remetida & Vara das Execugdes Criminais da Comarca de Sao Paulo para organizagio do Cadastro Geral de Sentenciados; a quarta, de cor amarela, ser remetida a autoridade administrativa incumbida da exeougao da pena. A guia de recolhimento poder ter emissio informatizada, conforme consta do Comunicado 384/99. Antigo 2° - Acrescer ao item 32, do Capitulo V, das Normas de Servigo da Corregedoria Geral da Justiga, os subitens 32.2 ¢ 32.3. 32.2 Recebido o recurso, seré expedida guia de recolhimento proviséria, obedecido o modelo oficial, com cépia das pegas do processo referidas no subitem 32.1, que seré remetida ao Jufzo competente para a execugio, desde que o condenado esteja peso em decorréncia de prisiio processual ow logo depois de noticiada a prisio. Deverd ser anotada na guia de recolhimento expedida nesias condigées a expressio "PROVISORIA", em seqiiéncia da expressio guia de tecolhimento. 32.3. Na hipétese dos autos principais estarem no Tribunal, serd expedida a guia de recolhimento provis6ria, a pedido das partes, com os dados disponiveis em Cartério. Artigo 3° - Restabelecer 0 item 133 e 0 subitem 133.1 a acrescer o subitem 133.2, na Segio IX, do Capitulo V, das Normas de Servigo da Corregedoria. 133. O disposto nesta secio aplica-se, no que couber, ao processamento da execugio proviséria e, sobrevindo condenacio transitada em julgado, o juizo de conhecimento procederd as retificages cabiveis, encaminhando as pecas faltantes para o juizo competente para a execugio. 133.1 Sobrevindo decisao absolutéria, o juizo de conhecimento anotaré o cancelamento nos livros préprios e comunicard o fato ao juizo competente para a 68 Rey. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 execugio, que anotard © cancelamento da execugio no Livro Registro de Guia de Recolhimento e na capa da autuacgaio. 133.2 Tratando-se de execucdo proviséria, 0 juizo da execugao comunicard ao Tribunal em que estiver sendo processado o recurso, quando das seguintes ocorréncias: progressio ou regressdio, de regime; livramento’ condicional; indulto; comutagiio; remigio de penas; evasées e recapturas; extingio de penas e da punibilidade; remogiio e tansferéncia de estabelecimento prisionais remessa dos autos a outro Juizo. Artigo 4° - Para mais fiicil, identificagio da situagio processual seré colocada, no dorso dos autos de execugio criminal, tarja amarela e na capa da autuagdo serd anotada a expressio "PROVISORIA, que sera cancelada quando: a execucao tornar-se definitiva. Artigo 5° - Este provimento entrard em vigor na data de sua publicagao. Registre-se ¢ Publique-se. So Paulo, 27 de abril de 1999. 7. Contextualizando o Iter da Execugio A dinamica da execugiio das penas privativas de liberdade se atém ao sistema progressivo, ensejando a que o condenado, de forma gradativa, galgue os regimes mais brandos quanto ao cumprimento da pena, quando inicie em regime fechado, exceto no que concerne aos crimes hediondos e hipdteses assemelhadas, em que pese as resisténcias existentes, por imperativo legal. Assim, ao cabo do cumprimento de ao menos 1/6 da ou das penas (quando resulte de mais de 1 condenacao), ¢ havendo méritos indicativos quanto & possibilidade de progressio, galgar4 0 condenado © regime semi-aberto, e por fimo regime aberto, com a perspectiva, em qualquer regime, da Liberdade Condicional antecipada. Obvio que no iter da execugio, diversos incidentes podem ocorrer, quer no sentido de abreviar a quantidade da pena, assim como agravar o regime, ocorrente as hipdteses legais ensejadoras a eventuais modificagdes (v.g. comutagio {redugio} de pena; regressio de regime, etc.) Quanto penas restritivas de direitos é de se yer 0 que estatuem os artigos 147 e 148 da Lei 7.210/84, niio se olvidando das modificagdes efetivadas pela Lei n° 9.714/98, verbis: Art, 147 - Transitada em julgado a sentenga que aplicou a pena restritiva de direito, 0 juiz de execugao, de oficio ou a requerimento do Ministério Puiblico, 69 Rev, de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 promoverd a execugio, podendo, para tanto, requisitar, quando neces: colaboraciio de entidades pUblicas ou solivitd-la a particulares. Art. 148 - Em qualquer fase da execugiio, poderé o juiz, motivadamente, alterar a forma de cumprimento das penas de prestagio de servigos & comunidade e de limitagio de fim de semana, ajustando-as As condigdes pessoais do condenado e as caracteristicas do estabelecimento, da entidade ou do programa comunitério ou estatal. Estados como o Parana e o Para, precipuamente quanto 4 tai modalidades de penas criaram, ainda que por norma irregular, Juizo especffico para tratar da execugiio das assim denominadas penas alternativas. Os resultados que se est4 a obter sio fantdsticos, conforme depoimentos colhidos junto aos Juizos responsdveis pelas Centrais de Execugiio. Nao se pode olvidar que a suspensaio condicional 4 execugao da pena também se insere como efetivo estégio de execugao, mesmo porque a matéria vem disciplinada nas disposig6es relativas a execuciio das penas. Confiram-se os artigos 156 e seguintes, da ja citada Lei de Execugiio, verbis: Art. 156 ~ © juiz poderd suspender, pelo perfode de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, a execucio da pena privativa de liberdade, no superior a 2 (dois) anos, na forma prevista nos arts. 77 a 82 do Cédigo Penal. Art. 157 - O juiz ou tribunal, na sentenga que aplicar pena privativa de liberdade, na situago determinada no artigo anterior, deveré pronunciar-se, motivadamente, sobre a suspensio condicional, quer a conceda, quer a denegue. Art. 158 = Concedida a suspensio, juiz especificard as.condigdes a que fica sujeito 0 condenado, pelo prazo fixado, comegando este a correr da audiéncia prevista no art. 160 desta Lei. § I° = As condigdes serio adequadas ao fato e a situago pessoal do condenado, devendo ser inclufda entre as mesmas a de prestar servigos 2 comunidade, ou limitagao de fim de semana, salvo hipstese do art. 78, § 2°, do Cédigo Penal § 2 - O juiz poderd, 2 qualquer tempo, de oficio, a requerimento do Ministétio. Péblico ou mediante proposta do Conselho Penitenciério, modificar as condigies ¢ regras estabelecidas na sentenga, ouvide o condenado. § 3°- A fiscalizagiio do cumprimento das condigdes, regulada nos Estados, Territérios © Distrito Federal por normas supletivas, ser atribuida a servigo social penitenciario, Patronato, Conselho da Comunidade ou institicio beneficiada com a prestagao de servicos, inspecionados pelo Conselho Penitencidrio, palo Ministério Paiblico, ou ambos, devendo 0 juiz da execugdo suprir, por ato, a falta das normas supletivas. 70 Rev. de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 § 4° - O beneficiério, ao comparecer periodicamente & entidade fiscalizadora, para comprovar a observancia das condigdes a que esté sujeito, comunicara, também, a sua ocupagao e os salérios ou proventos de que vive. § 5° - A entidade fiscalizadora deverd comunicar imediatamente ao 6rgio de inspegio, para os fins legais, qualquer fato capaz de acarretar a revogagio do beneficio, a prorrogagiio do prazo ou a modificagao das condiges. § 6° - Se for permitido ao beneficiério mudar-se, sera feita comunicagaio ao juiz ¢ 4 emiidade fiscalizadora do local da nova residéncia, aos. quais 0 primeiro devera apresentar-se imediatamente. Art, 159'- Quando a suspensio condicional da pena for concedida por tribunal, a este caberd estabelecer as condigées do beneticio. § 1° - De igual modo proceder-se-d quando o tribunal modificar as condigées estabelecidas na sentenga recorrida. § 2° - O tribunal, ao conceder a suspensio condicional da pena, poderd, todavia, conferir uo Juizo da Execugio a incumbéncia de estabelecer as condigdes do beneficio, e,em qualquer caso, a de realizar a audiéncia admonitéria. Art. 160 - Transitada em julgado a sentenga condenatdria, 0 juiz a leré ao condenado, em audiéncia, advertindo-o das conseqliéncias de nova infracéio penal e do descumprimento das condigées impostas. Art. 161 - Se, intimado pessoalmente ou por edital com prazo de 20 (vinte) dias, 0 réu nao comparecer injustificadamente & audiéncia admonitoria, a suspensio ficard sem efeito e ser executada imediatamente a pena. Art, 162 - A revogagio da suspensio condicional da pena e a prorrogagao do periodo de prova dar-se-’o na forma do art, 81 e respectivos pardgrafos do Cédigo Penal. Art. 163 - A sentenga condenatéria sera registrada, com a nota de suspensio, em livto especial do juizo.a que couber a execugao da pena. § 1° - Revogada a suspensdo ou extinta a pena, sero fato averbado & margem do registro. § 2° - O registro ¢ a averbagio serio sigilosos, salvo para efeito de informagoes requisitadas por érgao judiciario ou pelo Ministétio Publico, para instruir processo penal. A pena de multa — artigo 164 e seguintes da Lei em comento, como sabido, sofreu sensiveis alteragdes decorrentes da Lei n. 9.268/96, posto que inviabilizada, em termos legais, a entio possibilidade de conversdo da pena nao paga, quando solvente o condenado, em privativa de liberdade, conforme redacao revogada do Cédigo Penal, artigo 51. No que concerne 4 execugio, reconhecendo- se a diversidade de interpretagSes existentes ante as modificacdes operadas pela Lei 9268/96, citada, entendemos, contudo, que o caminho executério se atém as disposig6es legais que seguem: verbis: 7 Rev, de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3,,n.2: jul./dez. 2000 Art. 164 - Extraida certidéo da sentenga condenatéria com transito em julgado, que valeré como titulo executive judicial, © Ministério Ptiblico requererd, ‘em autos apartados, a citagio do condenado para, no prazo de 10.(dez) dias, pagar 0 valor da multa ov nomear bens & penhora. § 1° - Decorrido o prazo sem © pagamento da multa, ou o depdsito da tespectiva importancia, proceder-se-4 4 penhora de tantos bens quantos bastem para garantir a execugio, § 2 - A nomeagio de bens & penhora e a posterior execugio seguiriio o que dispuser a lei processuial civil. Art. 165 - Se a penhora recair em bem imével, os autos apartados serao remetidos ao jufzo cfvel para prosseguimento. Art. 166 - Recaindo a penhora em outros bens, dar termos do § 2° do art. 164 desta Lei. Art. 167 - A execugio da pena de multa ser suspensa quando sobrevier a0 condenado doenga mental (art. 52. do Cédigo Penal). Art. 168 - O juiz poderé determinar que a cobranga da multa se efetue mediante desconto.no vencimento ou salario. do condenado, nas hipdteses do art. 50, § 1°, do Cédigo Penal, observando-se 0 seguinte: I = o limite maximo do desconto mensal) seré o da quarta parte da remuneracio eo minimo ode um décimo; II - o desconto ser feito mediante ordem do juiz a quem de direito; II - 0 responsdyel pelo desconto ser intimado a recolher mensalmente, até o dia fixado pelo juiz, aimporténcia determinada. Art. 169 ~ Até o término do prazo a que se tefere o art. 164 desta Lei poderd o condenado requerer ao juiz o pagamento da multa em prestagdes mensais, jiguais e sucessivas § 1°- O juiz, antes de decidir, podera determinar diligéncias para verificar a real situagio econémica do condenado e, ouvido o Ministério Puiblico, fixaré o niimero de prestacoes. § 2° Se o condenado for impontual ou se melhorar de situagiio econémica, © juiz, de offcio ou a requetimento do Ministério, Ptiblico, revogaré o beneficio executando-se a multa, na forma prevista neste Capitulo, ou prosseguindo-se na io jd iniciada. Art. 170 - Quando a pena de mutta for aplicada cumulativamente com pena privativa da liberdade, enquanto esta estiver sendo executada, poderd aquela ser cobrada mediante desconto na remuneragio do condenado (art. 168). § 1° - Se o condenado cumprir a pena privativa de liberdade ou obtiver livramento condicional, sem haver resgatado.a multa, far-se-4 a cobranca nos termos deste Capitulo. § 2° - Aplicar-se-4 0 disposto no pardgrafo anterior aos casos em que for concedida a suspensto condicional da pena, 4 prosseguimento nos Filiamo-nos, assim, & corrente que entende nao haver perdido a multa sua caracteristica eminentemente penal, permanecendo a 72 Rev. de Ciéneias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 competéncia para sua execugio com o Ministério Publico, ¢ desenvolvida esta junto ao Juizo de ExecugGes propriamente’ dito, ressalvada a hipotese do artigo 165 atras mencionado. E, por fim, quanto a Medida de Seguranga, os artigos 171 € seguintes da LEP estabelecem: verbis: Att, 171 - Transitada em julgado a sentenga que aplicar medida de seguranga, ser ordenada a expedigao de guia para a execugio, Art. 172 - Ninguém sera internado em Hospital de Custédia e Tratamento Psiquidtrico, ou submetido a tratamento ambulatorial, pata cumprimento de medida de seguranga, sem a guia expedida pela autoridade judiciria Art. 173.- A guia de internamento ou de tratamento ambulatorial, extraida pelo escrivao, que a rubricard em todas as. folhas e a subscreverd com o juiz, sera remetida a autoridade administrativa incumbida da execucao e contera: T~a qualificacdo do agente e 0 niimero do registro geral do 6rgio oficial de identificagao; TL - 0 inteiro teor da dentincia e da’sentenga que tiver aplicado a medida de seguranga, bem como a certidao do transito em julgado; Il - a data em que terminaré o prazo minimo de internagdo, ow do tratamento ambulatorial;, TV = outras pegas do processo reputadas indispensfveis ao adequado tratamento ou internamento. § 1°- Ao Ministério Puiblico sera dada ciéneia da guia de recolhimento e de sujeigao a tratamento. § 2° - A guia serd retificada sempre que sobrevier modificagiio. quanto. ao prazo de execugac Art. 174 ~ Aplicar-se-d, na execugiio da medida de seguranga, naquilo que couber, 0 disposto nos arts. 8° ¢.9° desta Lei. 8. Conclusio Estabelecidas 4s premissas quanto as diferentes modalidades de execugdo contempladas pelo ordenamento juridico, insta salientar que a preocupagao fundamental quanto ao éxito das medidas, quaisquer que sejam, depende da conjugacao de esforgos de todos os segmentos sociais, além das instancias formais incumbidas da execugado, conforme disciplina legal. Nao se pode continuar na trajetéria ocorrente nos dias de hoje, em que a preocupagao basilar ainda, lamentavelmente, vem sendo a resposta penal com a privagao de liberdade. 3 Rey, de Ciéncias Jur. e Soc. da Unipar, vol.3, n.2: jul./dez. 2000 As modernas tendéncias, inserindo nosso Pais como seguidor, vem sendo © encontro de outras formas de punigdo, vez que a pristo, tal como hoje é concebida, nao se presta 4 destinagio prevista no ordenamento juridico. 74

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