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9 CAPITALISMO TARDIO E SOCIABILIDADE MODERNA Joao Manuel Cardoso de Mello e Fernando A. Novais 560 * HISTORIA DA VIDA FRVADA NO BRASIL 4 + INTRODUCAO, 8 mais velhos lembram-se muito bem, mas os mais mogos podem acreditar: entre 1950 e 1979, a sensa- 40 dos brasileiros, ou de grande parte dos brasileiros, era a deque faltava dar uns poucos passos para finalmente nos tornarmos uma na¢ao moderna. Esse alegre otimismo, s6 con- trariado em alguns répidos momentos, foi mudando a sua for- ma. Na década dos 50, alguns imaginavam até que estariamos assistindo ao nascimento de uma nova civilizagao nos trépicos, que combinava a incorporagao das conquistas materiais do capitalismo com a persisténcia dos tragos de caréter que nos singularizavam como povo: a cordialidade, a criatividade, a tolerancia. De 1967 em diante, a visio de progresso vai assu- mindo a nova forma de uma crenca na modernizagio, isto é, de nosso acesso iminente ao “Primeiro Mundo”, Havia certamente bons motivos para afiangar o otimis- mo. A partir dos anos 80, entretanto, assiste-se ao reverso da medalha: as dtividas quanto as possibilidades de construir uma sociedade efetivamente moderna tendem a crescer € 0 pessimismo ganha, pouco a pouce, intensidade. Para tratar das relagdes entre as transformacées econd- micas e as mutagées na sociabilidade, manifestas na dura vida cotidiana e na precéria privacidade, comecemos, por- tanto, por distinguir os momentos significativos que se esten- dem do pés-guerra aos nossos dias. Entre 1945 e 1964, vive- mos os momentos decisivos do processo de industrializagao, com a instalacao de setores tecnologicamente mais avanca- dos, que exigiam investimentos de grande porte; as migra- 0es internas e a urbaniza¢ao ganham um ritmo acelerado. O ano de 1964 marca uma inflexdo, com a mudanga do “mode- lo” econémico, social ¢ politico de desenvolvimento, e esta transformacao vai se consolidando a partir de 1967-68. Mas, nesse periodo (1964-79), as dimensOes mais significativas des- sa mudanca nao eram perceptiveis, deixando a impressio de uma continuidade essencial do progresso, manchada, para muitos, pelo regime autoritério. A partir de 1980 (“a década perdida”), finalmente, a nova realidade se impoe. Malgrado hesitantes tentativas de reinversdo, consolida-se nas suas ex- 1.A atria e cantera Ovete Lara visita Brasilia em: junko de 1960. A virada para os anos 60 ficou mareada como un dos momentos ‘ais efervescentes da vida nacional Brasilia, a recém-inaugurada capital da Repiibica, construida em cinco anos, era 0 mais acabado monumento da moderna argquitetura brasileira. Movimento: como a Bosia Nova e o Cinema Novo revigoravart 0 ambiente cultural. (Arquivo do Estado de Sao Pauio/ Fundo Ultima Hora)

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