Você está na página 1de 31

Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!

Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ


Prof. Fabiano Pereira

O meu grande desejo, e faço votos para que se concretize brevemente, é


que você possa atingir o seu objetivo e se tornar um servidor público,
contribuindo para o crescimento e desenvolvimento econômico e social de nosso
país.

Acredite em seu potencial e faça a sua parte. Deixe o restante com


aquele lá de cima!

Bons estudos!

Fabiano Pereira

“Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite
que ele possa ser realizado”.
Roberto Shinyashiki

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 2


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

art. 9º da LIA. REsp 1.412.214-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel.
para acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 8/3/2016, DJe 28/3/2016
(Informativo n. 580).
_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. APLICAÇÃO DE MULTA ELEITORAL E


SANÇÃO POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
A condenação pela Justiça Eleitoral ao pagamento de multa por
infringência às disposições contidas na Lei n. 9.504/1997 (Lei das
Eleições) não impede a imposição de nenhuma das sanções previstas na
Lei n. 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa – LIA), inclusive
da multa civil, pelo ato de improbidade decorrente da mesma conduta.
Por expressa disposição legal (art. 12 da LIA), as penalidades impostas pela
prática de ato de improbidade administrativa independem das demais sanções
penais, civis e administrativas previstas em legislação específica. Desse modo, o
fato de o agente ímprobo ter sido condenado pela Justiça Eleitoral ao pagamento
de multa por infringência às disposições contidas na Lei das Eleições não impede
sua condenação em quaisquer das sanções previstas na LIA, não havendo falar
em bis in idem. AgRg no AREsp 606.352-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 15/12/2015, DJe 10/2/2016 (Informativo n. 576).

_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO DE


RESSARCIMENTO AO ERÁRIO FUNDADA EM LESÃO PRESUMIDA.
Ainda que procedente o pedido formulado em ação popular para declarar
a nulidade de contrato administrativo e de seus posteriores aditamentos,
não se admite reconhecer a existência de lesão presumida para condenar
os réus a ressarcir ao erário se não houve comprovação de lesão aos
cofres públicos, mormente quando o objeto do contrato já tenha sido
executado e existam laudo pericial e parecer do Tribunal de Contas que
concluam pela inocorrência de lesão ao erário.
De fato, a ação popular consiste em um relevante instrumento processual de
participação política do cidadão, destinado eminentemente à defesa do
patrimônio público, bem como da moralidade administrativa, do meio ambiente
e do patrimônio histórico e cultural.
Nesse contexto, essa ação possui pedido imediato de natureza desconstitutivo-
condenatória, porquanto objetiva, precipuamente, a insubsistência do ato ilegal
e lesivo a qualquer um dos bens ou valores enumerados no inciso LXXIII do art.
5º da CF e a condenação dos responsáveis e dos beneficiários diretos ao
ressarcimento ou às perdas e danos correspondentes.

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 4


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

Tem-se, dessa forma, como imprescindível a comprovação do binômio


ilegalidade-lesividade, como pressuposto elementar para a procedência da ação
popular e de consequente condenação dos requeridos a ressarcimento ao erário
em face dos prejuízos comprovadamente atestados ou nas perdas e danos
correspondentes (arts. 11 e 14 da Lei 4.717/1965).
Eventual violação à boa-fé e aos valores éticos esperados nas práticas
administrativas não configura, por si só, elemento suficiente para ensejar a
presunção de lesão ao patrimônio público, uma vez que a responsabilidade dos
agentes em face de conduta praticada em detrimento do patrimônio público exige
a comprovação e a quantificação do dano, nos termos do art. 14 da Lei
4.717/1965.
Entendimento contrário implicaria evidente enriquecimento sem causa do ente
público, que usufruiu dos serviços prestados em razão do contrato firmado
durante o período de sua vigência. Precedente citado: REsp 802.378-SP, Primeira
Turma, DJ 4/6/2007. REsp 1.447.237-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 16/12/2014, DJe 9/3/2015 (Informativo 557).

_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL


DA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA NO CASO DE REELEIÇÃO.
O prazo prescricional em ação de improbidade administrativa movida
contra prefeito reeleito só se inicia após o término do segundo mandato,
ainda que tenha havido descontinuidade entre o primeiro e o segundo
mandato em razão da anulação de pleito eleitoral, com posse provisória
do Presidente da Câmara, por determinação da Justiça Eleitoral, antes da
reeleição do prefeito em novas eleições convocadas. De fato, a reeleição
pressupõe mandatos consecutivos.
A legislatura, por sua vez, corresponde, atualmente, a um período de quatro
anos, no caso de prefeitos. O fato de o Presidente da Câmara Municipal ter
assumido provisoriamente, conforme determinação da Justiça Eleitoral, até que
fosse providenciada nova eleição, não descaracterizou a legislatura. Assim,
prevalece o entendimento jurisprudencial pacífico desta Corte, no sentido de que,
no caso de agente político detentor de mandato eletivo ou de ocupantes de cargos
de comissão e de confiança inseridos no polo passivo da ação de improbidade
administrativa, a contagem do prazo prescricional inicia-se com o fim do
mandato. Exegese do art. 23, I, da Lei 8.429/1992. Nesse sentido: AgRg no
AREsp 161.420-TO, Segunda Turma, DJe 14/4/2014. REsp 1.414.757-RN, Rel.
Min. Humberto Martins, julgado em 6/10/2015, DJe 16/10/2015 (Informativo
571).
_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA LEI DE


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA A ESTAGIÁRIO.

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 5


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

O estagiário que atua no serviço público, ainda que transitoriamente,


remunerado ou não, está sujeito a responsabilização por ato de
improbidade administrativa (Lei 8.429/1992).
De fato, o conceito de agente público, constante dos artigos 2º e 3º da Lei
8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa), abrange não apenas os
servidores públicos, mas todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou
sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função na
Administração Pública. Assim, na hipótese em análise, o estagiário, que atua no
serviço público, enquadra-se no conceito legal de agente público preconizado pela
Lei 8.429/1992. Ademais, as disposições desse diploma legal são aplicáveis
também àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para
a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma, direta
ou indireta. Isso porque o objetivo da Lei de Improbidade não é apenas punir,
mas também afastar do serviço público os que praticam atos incompatíveis com
o exercício da função pública. REsp 1.352.035-RS, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 18/8/2015, DJe 8/9/2015 (Informativo 568).

_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E


CONDUTA DIRECIONADA A PARTICULAR.
Não ensejam o reconhecimento de ato de improbidade administrativa
(Lei 8.429/1992) eventuais abusos perpetrados por agentes públicos
durante abordagem policial, caso os ofendidos pela conduta sejam
particulares que não estavam no exercício de função pública.
O fato de a probidade ser atributo de toda atuação do agente público pode
suscitar o equívoco interpretativo de que qualquer falta por ele praticada, por si
só, representaria quebra desse atributo e, com isso, o sujeitaria às sanções da
Lei 8.429/1992. Contudo, o conceito jurídico de ato de improbidade
administrativa, por ser circulante no ambiente do direito sancionador, não é
daqueles que a doutrina chama de elásticos, isto é, daqueles que podem ser
ampliados para abranger situações que não tenham sido contempladas no
momento da sua definição. Dessa forma, considerando o inelástico conceito de
improbidade, vê-se que o referencial da Lei 8.429/1992 é o ato do agente público
frente à coisa pública a que foi chamado a administrar.
Logo, somente se classificam como atos de improbidade administrativa as
condutas de servidores públicos que causam vilipêndio aos cofres públicos ou
promovem o enriquecimento ilícito do próprio agente ou de terceiros, efeitos
inocorrentes na hipótese. Assim, sem pretender realizar um transverso
enquadramento legal, mas apenas descortinar uma correta exegese, verifica-se
que a previsão do art. 4º, “h”, da Lei 4.898/1965, segundo o qual constitui abuso
de autoridade “o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou
jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 6


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

8.987/1995 -, o mencionado art. 11, ao citar “no edital”, não inviabiliza que a
possibilidade de aferição de outras receitas figure apenas no contrato, haja vista
se tratar de parte integrante do edital.
Sendo assim, desde que haja previsão no contrato de concessão da rodovia,
permite-se a cobrança, a título de receita alternativa, pelo uso de faixa de
domínio, ainda que a cobrança recaia sobre concessionária de serviços de
distribuição de energia elétrica. Ademais, havendo previsão contratual, não há
como prevalecer o teor do art. 2º do Decreto 84.398/1980 em detrimento do
referido art. 11 da Lei 8.987/1995. Precedente citado: REsp 975.097-SP, Primeira
Seção, DJe 14/5/2010. EREsp 985.695-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado
em 26/11/2014, DJe 12/12/2014 (Informativo 554).

3. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO e CONTROLE DA


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. REQUISITO PARA


INTEGRAR TRIBUNAL DE CONTAS.
Membro do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas de Estados ou
do Distrito Federal que ocupa esse cargo há menos de dez anos pode ser
indicado para compor lista tríplice destinada à escolha de conselheiro da
referida corte. Isso porque o art. 73, § 1º, da CF, relativo ao Tribunal de
Contas da União, mas aplicável, também, aos Tribunais de Contas dos
Estados e do Distrito Federal, por força do art. 75 do mesmo diploma,
não estabelece que os membros do Ministério Público ou os Auditores
tenham 10 anos no cargo para poderem ser nomeados para o cargo de
Membro do Tribunal. O que o § 1º do art. 73 da CF estabelece, pela
conjugação de seus incisos III e IV, é tão somente que, para ser
nomeado Ministro do TCU, independentemente de sua origem, o
brasileiro deve ter mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva
atividade profissional que exija notórios conhecimentos jurídicos,
contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública.
Acrescente-se que o art. 94 da CF estabelece a exigência de dez anos no cargo,
mas para o integrante do Ministério Público ser nomeado para os Tribunais
Regionais Federais ou Tribunais de Justiça, nas vagas destinadas ao chamado
Quinto Constitucional. No mesmo sentido, o art. 162, III, da LC n. 75/1993 trata
especificamente das vagas do Quinto Constitucional no Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios. Nesse contexto, cumpre observar que os Tribunais
de Contas, embora se denominem tribunais e tenham alta relevância
constitucional, não integram o Poder Judiciário, razão pela qual não se pode
pretender que normas destinadas a reger o Judiciário devam ser aplicáveis a eles,
salvo previsão constitucional específica.

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 8


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

Observe-se que a Constituição nem sequer esboçou tentativa de tornar a


composição dos Tribunais de Contas análoga à composição dos Tribunais
Judiciários, existindo diversas diferenças, sendo os requisitos a serem
preenchidos apenas uma delas. Ressalte-se que outra diferença entre a
composição dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça com membros
oriundos do Ministério Público e a mesma composição, no caso dos Tribunais de
Contas, está em que, pelo sistema constitucional, no caso dos Tribunais
Judiciários, a escolha é sempre pelo critério do merecimento, enquanto que, nos
Tribunais de Contas, adotam-se os critérios da antiguidade e merecimento, como
previsto no inciso I do § 2º do art. 73 da CF.
Desse modo, não se poderia dizer que a Constituição desprezou totalmente a
antiguidade no cargo de Procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de
Contas, pois, se é verdade que poderá ser nomeado Conselheiro (Ministro) da
corte quem não completou uma década no cargo, o que não acontece na
composição dos Tribunais Judiciais, também é verdade que a Constituição criou
a possibilidade de o Membro do Ministério Público galgar o cargo de membro da
Corte por antiguidade (73, § 2º, I, da CF e art. 82, § 2º, I, da Lei Orgânica do
Distrito Federal). Merece, ainda, ser citado o entendimento do STJ segundo o
qual, tratando-se do provimento de cargo de Conselheiro de Tribunal de Contas
em vaga destinado a Auditor, não há necessidade sequer de cumprimento do
estágio probatório ou aquisição de vitaliciedade para a nomeação (RMS 34.215-
SC, Primeira Turma, DJe 13/12/2011). RMS 35.403-DF, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 3/3/2016, DJe 24/5/2016 (Informativo n. 584).

_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO EM


RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE CADÁVER EM DECOMPOSIÇÃO EM
RESERVATÓRIO DE ÁGUA.
O consumidor faz jus a reparação por danos morais caso comprovada a
existência de cadáver em avançado estágio de decomposição no
reservatório do qual a concessionária de serviço público extrai a água
fornecida à população. De início, fica configurada a responsabilidade
subjetiva por omissão da concessionária decorrente de falha do dever de
efetiva vigilância do reservatório de água. Ainda que se alegue que foram
observadas todas as medidas cabíveis para a manutenção da segurança
do local, fato é que ele foi invadido, e o reservatório passível de violação
quando nele foi deixado um cadáver humano. Ficou caracterizada,
ademais, a falha na prestação do serviço, indenizável por dano moral,
quando a concessionária não garantiu a qualidade da água distribuída à
população, porquanto inegável que, se o corpo estava em decomposição,
a água ficou por determinado período contaminada.
Outrossim, é inegável, diante de tal fato, a ocorrência de afronta à dignidade da
pessoa humana, consistente no asco, angústia, humilhação, impotência da
pessoa que toma ciência que consumiu água contaminada por cadáver em

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 9


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

avançado estágio de decomposição. Sentimentos que não podem ser confundidos


com o mero dissabor cotidiano. Ainda que assim não fosse, há que se reconhecer
a ocorrência de dano moral in re ipsa, o qual dispensa comprovação do prejuízo
extrapatrimonial, sendo suficiente a prova da ocorrência de ato ilegal, uma vez
que o resultado danoso é presumido. (AgRg no REsp 1.354.077-SP, Terceira
Turma, DJe 22/9/2014 e AgRg no AREsp 163.472-RJ, Segunda Turma, DJe
2/8/2012). REsp 1.492.710-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
16/12/2014, DJe 19/12/2014 (Informativo 553).

_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE DE


INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA FEDERAL.
O controle externo da atividade policial exercido pelo Ministério Público
Federal não lhe garante o acesso irrestrito a todos os relatórios de
inteligência produzidos pela Diretoria de Inteligência do Departamento
de Polícia Federal, mas somente aos de natureza persecutório-penal. De
fato, entre as funções institucionais enumeradas na Carta da República, conferiu-
se ao Ministério Público o controle externo da atividade policial (art. 129, VII). Ao
regulamentar esse preceito constitucional, a LC n. 75/1993 assim dispõe: “Art.
9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial
por meio de medidas judiciais e extrajudiciais podendo: [...] II - ter acesso a
quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial.”
Por sua vez, a atividade de inteligência está disciplinada pela Lei n. 9.883/1999,
que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e criou a Agência
Brasileira de Inteligência (ABIN). Ademais, o § 2º do art. 1º desse diploma
considera serviço de inteligência aquele que “objetiva a obtenção, análise e
disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e
situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação
governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado”.
Por seu turno, o Decreto n. 4.376/2002, em seu art. 4º, elenca os órgãos que
compõem o SISBIN, destacando-se, entre eles, a Diretoria de Inteligência Policial
do Departamento de Polícia Federal. Nesse contexto, quanto ao controle das
atividades de inteligência, o art. 6º da Lei n. 9.883/1999 dispõe que "O controle
e fiscalização externos da atividade de inteligência serão exercidos pelo Poder
Legislativo na forma a ser estabelecida em ato do Congresso Nacional". Assim,
se o controle externo da atividade policial exercido pelo Parquet deve
circunscrever-se à atividade de polícia judiciária, conforme a dicção do art. 9º da
LC n. 75/1993, somente cabe ao órgão ministerial acesso aos relatórios de
inteligência emitidos pela Polícia Federal de natureza persecutório-penal, ou seja,
que guardem relação com a atividade de investigação criminal. Desse modo, o
poder fiscalizador atribuído ao Ministério Público não lhe confere o acesso
irrestrito a todos os relatórios de inteligência produzidos pelo Departamento de
Polícia Federal. REsp 1.439.193-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
14/6/2016, DJe 9/8/2016 (Informativo n. 587).

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 10


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

4. SERVIDOR PÚBLICO

Processo: EREsp 1.157.628-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, por maioria, julgado em
7/12/2016, DJe 15/2/2017.

Resumo do julgado: A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para
consolidar remoção de servidor público destinada a acompanhamento de
cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade estrita, ainda que tal
situação haja perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar não
confirmada por ocasião do julgamento de mérito.

Tema: Servidor público. Remoção. Resistência da administração pública. Teoria


do fato consumado. Inaplicabilidade.

Inteiro teor: Busca-se a uniformização do entendimento no STJ quanto à


aplicação da "teoria do fato consumado" para consolidar remoção ilegal de
servidor público, concedida com fundamento em provimento judicial de natureza
precária, não mais em vigor. A fim de indicar a divergência entre órgãos
julgadores do STJ, aduz-se como acórdão paradigma o AgRg no REsp 1.453.357-
RN (Segunda Turma, DJe 9/10/2014), segundo o qual a “teoria do fato
consumado visa preservar não só interesses jurídicos, mas interesses sociais já
consolidados, não se aplicando, contudo, em hipóteses contrárias à lei,
principalmente quando amparadas em provimento judicial de natureza precária”.

Em uma primeira linha, a teoria do fato consumado tem sido aplicada, no âmbito
judicial, para as hipóteses em que, pela própria lei da natureza, não haveria como
desfazer os acontecimentos decorrentes do ato viciado. Também tem sido
reconhecida a incidência da teoria do fato consumado nas hipóteses em que a
Administração permite, por vários anos, a permanência de situação contrária à
legalidade estrita, atribuindo ares de legalidade a determinada circunstância, e,
assim, fazendo crer que as pessoas agem de boa-fé, conforme o direito. Nessa
perspectiva, a teoria do fato consumado guarda íntima relação com a
convalidação dos atos administrativos, atualmente regulada pelo artigo 54 da Lei
n. 9.784/1999. Quanto aos comportamentos das partes ao longo do tempo, faz-
se necessário, para que se tenha por aplicável a teoria do fato consumado,
distinguir duas situações que podem ocorrer quando se pratica um ato
equivocado. A primeira situação corresponde à hipótese em que um ato contrário
à lei é praticado sem dolo e sem contestação, tendo vigência por anos a fio, e
assim atribuindo à situação fática ares de legalidade, atraindo para si o valor da
segurança jurídica. Há, nesses casos, de ser preservada a estabilidade das
relações geradas pelo ato inválido, cuja regularidade manteve-se inconteste por
anos, fazendo convalescer o vício que originalmente inquinava sua validade.
Protege-se, com isso, a boa-fé e o princípio da confiança legítima do
administrado, a ela associado. Situação diversa é aquela em que determinado
ato é praticado sob contestação das pessoas envolvidas, que o reputam irregular
e manifestam a existência de tal irregularidade nas vias adequadas, mas que, por
causa da demora no transcurso do procedimento destinado à apuração da

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 11


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

legalidade do ato, termina por gerar efeitos no mundo concreto. Nessa última
hipótese, verificada ou confirmada a ilegalidade, sendo ainda possível, o ato deve
ser desfeito, preservando-se apenas aquilo que, pela consolidação fática
irreversível, não puder ser restituído ao status quo ante. Mesmo nesses casos, se
ficar configurado prejuízo decorrente do fato irreversível, deve ser ressalvada à
parte prejudicada o direito de exigir perdas e danos. E, embora se reconheça o
relevante valor social da família, cuja proteção encontra-se determinada pela
própria Constituição Federal, o STF já assentou que o artigo 226 da Lei
Fundamental não é motivo suficiente, por si só, para garantir ao servidor o direito
a lotação na cidade em que possui vínculos afetivos. Por outro lado, a remoção
de servidor fora das hipóteses legais termina por desbalancear o quadro de
lotação dos órgãos públicos, retirando da Administração a discricionariedade que
a lei lhe outorgou na distribuição de sua força de trabalho, segundo as reais
necessidades do serviço público. A teoria do fato consumado não se presta,
assim, para mitigar a interpretação do art. 36, III, "a", da Lei n. 8.112/1990,
assegurando ao servidor lotação para acompanhamento de cônjuge fora da
estrita moldura normativa. Não se deve perder de vista que a teoria do fato
consumado é de aplicação excepcional e deve ser adotada com cuidado e
moderação, para que não sirva de mecanismo para premiar quem não tem direito
pelo só fato da demora no julgamento definitivo da causa em que fora deferida
uma decisão liminar, cuja duração deve ser provisória por natureza. Com essas
considerações, tem-se por inaplicável a teoria do fato consumado para consolidar
remoção destinada a acompanhamento de cônjuge, em situação que não se
adéqua à legalidade estrita, mitigando a interpretação do artigo 36, III, "a", da
Lei n. 8.112/1990, ainda que tal situação haja perdurado por vários anos em
virtude de decisão liminar não confirmada quando do julgamento de mérito.
(Informativo n. 598)

_________________________________________________________

Processo: MS 21.991-DF, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, por maioria, julgado em 16/11/2016, DJe 3/3/2017.

Resumo do julgado: A instauração de processo disciplinar contra servidor


efetivo cedido deve dar-se, preferencialmente, no órgão em que tenha sido
praticada a suposta irregularidade, mas o julgamento e a eventual aplicação de
sanção, quando findo o prazo de cessão e já tendo o servidor retornado ao órgão
de origem, só podem ocorrer no órgão ao qual o servidor público federal efetivo
estiver vinculado.

Inteiro teor: Cingiu-se a discussão, entre outras questões, a definir a


competência para instaurar e julgar processo disciplinar, bem como para aplicar
a respectiva sanção a servidor público federal que praticou falta funcional no
exercício de cargo em comissão em órgão para o qual foi cedido.

“Tratando-se de conduta praticada pelo agente público durante o período em que


esteve cedido, é legítima a instauração do processo administrativo disciplinar pelo

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 12


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

órgão em que foi praticada a irregularidade. Nesse sentido, extrai-se do Manual


Prático de Processo Administrativo Disciplinar da Controladoria Geral da União:
'No aspecto espacial, o processo disciplinar será instaurado, preferencialmente,
no âmbito do órgão ou instituição em que supostamente tenha sido praticado o
ato antijurídico, facilitando-se a coleta de provas e a realização de diligências
necessárias à elucidação dos fatos. No caso de infrações cometidas por servidores
cedidos a outros órgãos, a competência é do órgão onde ocorreu a irregularidade
para a instauração do processo disciplinar.

Todavia, como o vínculo funcional do servidor se dá com o órgão cedente, apenas


a este incumbiria o julgamento e a eventual aplicação da penalidade (Nota
Decor/CGU/AGU n. 16/2008-NMS).' Cessada, contudo, toda relação do servidor
com o órgão cessionário, é natural que qualquer aplicação de penalidade se dê
pelo órgão cedente. Nesse caso, caberia ao órgão cessionário tão somente
rescindir o contrato de cessão e devolver o servidor, além de instaurar o
procedimento administrativo disciplinar, que, como salientado, será julgado pelo
órgão cedente. Por fim, cabe esclarecer que o julgamento e aplicação da sanção
são um único ato, que se materializa com a edição de despacho, portaria ou
decreto, proferidos pela autoridade competente, devidamente publicado para os
efeitos legais, conforme se dessume do disposto nos artigos 141, 166 e 167 do
RJU.” (Informativo n. 598)

_________________________________________________________

Corte Especial
DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. PRAZO DECADENCIAL PARA
IMPETRAR MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA REDUÇÃO DE VANTAGEM DE
SERVIDOR PÚBLICO.
O prazo decadencial para impetrar mandado de segurança contra
redução do valor de vantagem integrante de proventos ou de
remuneração de servidor público renova-se mês a mês. A citada redução,
ao revés da supressão de vantagem, configura relação de trato sucessivo, pois
não equivale à negação do próprio fundo de direito. Assim, o prazo decadencial
para se impetrar a ação mandamental renova-se mês a mês. Precedente citado:
AgRg no REsp 1.211.840-MS, Segunda Turma, DJe 6/2/2015. EREsp 1.164.514-
AM, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16/12/2015, DJe 25/2/2016
(Informativo n. 578).

_________________________________________________________

Processo: MS 20.558-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, por unanimidade, julgado


em 22/2/2017, DJe 31/3/2017.

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 13


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

Resumo do Julgado: Quando o exercício do cargo foi amparado por decisões


judiciais precárias e o servidor se aposentou, antes do julgamento final de
mandado de segurança, por tempo de contribuição durante esse exercício e após
legítima contribuição ao sistema, a denegação posterior da segurança que
inicialmente permitira ao servidor prosseguir no certame não pode ocasionar a
cassação da aposentadoria.

Inteiro Teor: Trata-se de mandado de segurança contra ato do Ministro de


Estado do Trabalho e Emprego que, por meio de Portaria, tornou sem efeito a
nomeação, sob amparo de decisão judicial liminar, da impetrante ao cargo de
Auditora Fiscal do Trabalho e, consequentemente, de sua aposentadoria.

Inicialmente, pontua-se que sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal, em


julgamento realizado sob a égide da repercussão geral, deu pela inaplicabilidade
da teoria do fato consumado para a manutenção em cargo público de candidato
não aprovado em concurso, “e que tenha tomado posse em decorrência de
execução provisória de medida liminar ou outro provimento judicial de natureza

precária, supervenientemente revogado ou modificado” (RE 608.482, DJe


30/10/2014). Logo, se a impetrante estivesse exercendo o cargo, não haveria
nenhuma irregularidade no seu afastamento após o trânsito em julgado da
decisão judicial desfavorável que lhe permitiu prosseguir no concurso após a
primeira etapa. Não obstante a compreensão acima exarada, constata-se que a
impetrante, nomeada sob amparo de decisão judicial liminar, exerceu o cargo até
o momento de sua aposentadoria, ocorrida vários anos antes da decisão final do
mandado de segurança originalmente impetrado por ela para prosseguir no
concurso. Nesse contexto, embora o vínculo de trabalho fosse precário, o vínculo
previdenciário, após as contribuições previdenciárias ao regime próprio,
consolidou-se com a reunião dos requisitos para a concessão de aposentadoria.
Ressalte-se, por fim, que a legislação federal estabelece a cassação da
aposentadoria apenas nos casos de demissão do servidor público e de
acumulação ilegal de cargos (arts. 133, § 6º, e 134 da Lei n. 8.112/1990), não
havendo, portanto, respaldo legal para impor a mesma penalização quando o
exercício do cargo é amparado por decisões judiciais precárias e o servidor se
aposenta por tempo de contribuição durante esse exercício após legítima
contribuição ao sistema. (Informativo n. 600)

_________________________________________________________

Processo: MS 14.731-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, por


unanimidade, julgado em 14/12/2016, DJe 2/2/2017.

Resumo do julgado: A portaria interministerial editada pelos Ministérios da


Educação e do Planejamento demanda a manifestação das duas pastas para a
sua revogação.

Inteiro teor: Discute-se, em síntese, a possibilidade de Revogação da Portaria


Interministerial 221/2009, editada em conjunto pelos Ministérios da Educação e

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 14


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

do Planejamento, Orçamento e Gestão, por nova Portaria confeccionada somente


pela primeira Pasta. A edição conjunta da Portaria Interministerial 221/2009 por
MEC e MPOG decorre do comando inserto no art. 7º do Decreto 6.253/2007.
Trata-se, portanto, de ato administrativo complexo que, para sua formação, faz-
se necessária a manifestação de dois ou mais órgãos para dar existência ao ato.
Exige-se, nesse contexto, a expressão de vontade de ambos os órgãos, sendo a
ausência de um destes circunstância de invalidação do ato, por deficiência de
formação ou, em outras palavras, por não se caracterizar como um ato
completo/terminado.

A revogação do ato administrativo é expressão do poder discricionário, atrelado


à conveniência e à oportunidade da Administração, não podendo atingir os atos
já exauridos ou aqueles em que o Poder Público está vinculado à prática. Ainda
para os atos discricionários cujo exaurimento não é imediato, há limites dispostos
de maneira implícita ou explícita na lei, tais como a competência/legitimidade
para a revogação. Por regra de simetria, a revogação do ato, por conveniência e
oportunidade, somente poderia advir de novo ato, agora desconstitutivo,
produzido por ambas as Pastas. Ausente uma delas, não se considera completa
a desconstituição. (Informativo n. 597)

_________________________________________________________

Processo: REsp 1.514.673-RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, por unanimidade,
julgado em 7/3/2017, DJe 17/3/2017.

Resumo do julgado: O abono de permanência insere-se no conceito de


remuneração do cargo efetivo, de forma a compor a base de cálculo da licença-
prêmio não gozada.

Inteiro teor: Cinge-se a controvérsia a saber se o abono de permanência deve


integrar a base de cálculo da licença-prêmio não gozada convertida em pecúnia.
No âmbito do STJ, a Primeira Seção debruçou-se sobre a natureza jurídica do
abono de permanência, concluindo que tal verba possui natureza remuneratória
(EDcl no REsp 1.192.556-PE, DJe 17/11/2010). Estabelecida a premissa, a
Segunda Turma considerou o abono uma vantagem de caráter permanente,
incorporando-se ao patrimônio jurídico do servidor de forma irreversível, vindo a
cessar somente com o implemento da aposentadoria. Desse modo, concluiu que
o abono de permanência se insere no conceito de remuneração do cargo efetivo,
de forma a compor a base de cálculo da licença-prêmio não gozada. (Informativo
n. 600)

_________________________________________________________

Processo: REsp 1.607.715-AL, Rel. Min. Herman Benjamin, por unanimidade,


julgado em 7/3/2017, DJe 20/4/2017.

Resumo do julgado: O fato de o servidor estar licenciado não afasta o


entendimento segundo o qual não pode participar de procedimento licitatório a

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 15


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

empresa que possuir em seu quadro de pessoal servidor ou dirigente do órgão


contratante ou responsável pela licitação. Violação dos art. 9º da Lei n.
8.666/1993 e 7º da Lei n. 10.502/2002. Comportamento inidôneo.
Caracterização.

Inteiro teor: Trata-se, originalmente, de mandado de segurança impetrado por


empresa privada, participante de processo licitatório, contra ato do Comandante
do 59º Batalhão de Infantaria Motorizado, órgão vinculado ao Ministério da
Defesa, para que seja declarada a ilegalidade de sanções, que foram aplicadas
em processo administrativo, em razão de existência de comportamento inidôneo
por parte da impetrante. Sustentou a empresa licitante que sua conduta de
contratar servidor licenciado do órgão público para assessoramento na execução
dos contratos administrativos não se amolda a nenhuma das ações ilícitas
enumeradas no art. 7º da Lei n. 10.520/2002.

Com efeito, o art. 9º, III, da Lei n. 8.666/1993 dispõe que não poderá participar,
direta ou indiretamente, da licitação ou da execução de obra ou serviço e do
fornecimento de bens a eles necessários o servidor ou dirigente de órgão ou
entidade contratante ou responsável pela licitação. Desse modo, cinge-se aos
autos a falta cometida pela empresa e o desrespeito às normas de licitação e
contratos, com a contração de sargento do Exército Brasileiro que, em razão da
sua atuação em setor específico da Força Terrestre, detinha plena experiência na
condução do serviço objeto da licitação. Caracterizada, portanto, a conduta
inidônea da empresa, com a quebra de confiança da Administração, o que vai de
encontro aos dispositivos legais sob análise. Consigne-se, por fim, que, consoante
o entendimento da Primeira Turma deste STJ, "não pode participar de
procedimento licitatório a empresa que possuir em seu quadro de pessoal
servidor ou dirigente do órgão ou entidade contratante ou responsável pela
licitação (...) O fato de estar o servidor licenciado, à época do certame, não ilide
a aplicação do referido preceito legal, eis que não deixa de ser funcionário o
servidor em gozo de licença" (REsp 254.115-SP, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ de
14/8/2000). (Informativo n. 602)

_________________________________________________________

Processo: REsp 1.535.222-MA, Rel. Min. Og Fernandes, por unanimidade,


julgado em 28/3/2017, DJe 4/4/2017.

Resumo do julgado: Na hipótese de membro de Ministério Público Estadual


praticar falta administrativa também prevista na lei penal como crime, o prazo
prescricional da ação civil para a aplicação da pena administrativa de perda do
cargo somente tem início com o trânsito em julgado da sentença condenatória na
órbita penal.

Inteiro teor: O regime jurídico dos membros do Ministério Público, no que


concerne à previsão de perda do cargo, obedece ao disposto no art. 38, § 1º, da
Lei Orgânica Nacional n. 8.625/93. Embora seja sabido que as instâncias cível,
administrativa e penal são independentes e que a vinculação automática somente

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 16


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

existe quando, na seara penal, se reconhece a negativa do fato ou da autoria, no


caso específico do regime jurídico dos membros do Ministério Público existe uma
particularidade: a ação cível para decretação da perda do cargo – hipótese
analisada – somente pode ser proposta, depois de transitada em julgado a
sentença proferida em ação penal, quando houver a prática de crime incompatível
com o exercício do cargo. Ou seja, uma das condições de procedibilidade da ação
civil para perda do cargo depende da existência de decreto condenatório proferido
no juízo criminal. Diante dessas premissas é que exsurge a principal controvérsia
dos autos, a respeito do termo inicial do prazo prescricional para tais hipóteses.
Quando a lei determina que a ação civil para perda do cargo somente deve ser
ajuizada após o trânsito em julgado da sentença penal, nos casos em que a falta
funcional corresponde a uma conduta criminosa; por decorrência lógica, o prazo
de prescrição somente pode iniciar-se, no bojo da ação civil de perda do cargo,
contado do trânsito em julgado da sentença condenatória na órbita penal. É de
se notar a diferença quanto aos casos de processos criminais contra servidores
públicos (não no caso dos membros do Ministério Público), quando a prescrição
corre no processo administrativo disciplinar. É que, nesses casos, inexiste
necessidade de aguardar o deslinde na esfera criminal. A diferença dessas
premissas para a hipótese em exame é total.

No presente debate, a garantia dada aos membros do Ministério Público de não


poderem perder o cargo, senão por meio de ação civil própria e depois da
sentença criminal transitada em julgado (prerrogativa que os demais servidores
não possuem), não pode se transmudar em óbice para a punição justa e
adequada. Pensar o contrário seria admitir a possibilidade de que a ação civil
pública para perda do cargo sempre ficaria no aguardo de que a ação criminal
fosse rápida e atingisse o trânsito em julgado, antes que o lapso prescricional
(seja pela pena em abstrato, seja pena em concreto) incidisse no caso. Uma
interpretação nesse patamar, além de contraditória, porquanto levaria à
conclusão de que, mesmo impedindo de ingressar com uma demanda, ainda
assim haveria um prazo prescricional correndo contra si, desborda de qualquer
lógica jurídica. É dizer: prescrição somente ocorre quando alguém, podendo agir,
deixa de fazê-lo, no tempo oportuno; não quando deixou de agir ex lege.
(Informativo n. 601)

_________________________________________________________

Processo: RMS 49.339-SP, Rel. Ministro Francisco Falcão, por unanimidade,


julgado em 6/10/2016, DJe 20/10/2016.

Resumo do julgamento: Não se mostra razoável a possiblidade de desconto


em parcela única sobre a remuneração do servidor público dos dias parados e
não compensados provenientes do exercício do direito de greve.

Inteiro teor: Cuidou-se de controvérsia sobre a possibilidade de desconto (em


parcela única sobre a remuneração de servidor público) dos dias parados e não
compensados provenientes do exercício do direito de greve. No que se refere à
legalidade do desconto dos dias parados, é de rigor a análise da razoabilidade e

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 17


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

proporcionalidade do ato que determina o desconto em parcela única desses dias


na remuneração do servidor, principalmente quando há a intenção de se pagar
de forma parcelada esse débito.

O art. 46 da Lei n. 8.112/1990, que rege os servidores públicos federais e que se


aplica por analogia ao caso, dispõe que as reposições poderão ser parceladas a
pedido do interessado. Ademais, deve-se destacar que se trata de verba de
natureza alimentar do servidor e o referido desconto em parcela única, nessa
hipótese, causar-lhe-ia um dano desarrazoado. (Informativo n.592)

_________________________________________________________

Processo: REsp 1.607.472-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, por unanimidade,


julgado em 15/9/2016, DJe 11/10/2016.

Resumo do julgado: É essencial, incluso no conceito de mínimo existencial, o


direito de pessoas com necessidades especiais poderem frequentar universidade
pública, razão pela qual não pode a instituição alegar a incidência da cláusula da
reserva do possível como justificativa para sua omissão em providenciar a
conclusão de obras de adaptação em suas edificações e instalações.

Inteiro teor: Tratou-se de ação civil pública proposta por Ministério Público
Federal contra Universidade Federal com o escopo de obrigar a instituição de
ensino a iniciar as obras de adaptação de todas as suas edificações para permitir
sua utilização por pessoas portadoras de necessidade especiais. No campo dos
direitos individuais e sociais de absoluta prioridade, o juiz não se deve
impressionar nem se sensibilizar com alegações de conveniência e oportunidade
trazidas pelo administrador relapso. A ser diferente, estaria o Judiciário a fazer
juízo de valor ou político em esfera na qual o legislador não lhe deixou outra
possibilidade de decidir que não seja a de exigir o imediato e cabal cumprimento
dos deveres, completamente vinculados, da Administração Pública. Se um direito
é qualificado pelo legislador como de absoluta prioridade, deixa de integrar o
universo de incidência da reserva do possível, já que a sua possibilidade é,
preambular e obrigatoriamente, fixada pela Constituição ou pela lei. Ademais,
tratando-se de direito essencial, incluso no conceito de mínimo existencial,
inexistirá empecilho jurídico para que o Judiciário estabeleça a inclusão de
determinada política pública nos planos orçamentários do ente político,
principalmente quando não houver comprovação objetiva da incapacidade
econômico-financeira da pessoa estatal. (Informativo n. 592)

_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. REDUÇÃO DA DURAÇÃO MÁXIMA DE


JORNADA DE TRABALHO DE SERVIDORES DA UNIÃO QUE OPERAM
DIRETAMENTE COM RAIOS X.

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 18


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

Independentemente da categoria profissional, todos os servidores da


União, civis e militares, e os empregados de entidades paraestatais de
natureza autárquica que operam, de forma habitual, diretamente com
raios X e substâncias radioativas, próximo às fontes de irradiação, têm o
direito à redução da duração máxima da jornada de trabalho de 40 para
24 horas semanais prevista no art. 1º da Lei n. 1.234/1950.
Nos termos do art. 19, caput, da Lei n. 8.112/1990, os servidores públicos
cumprirão jornada de trabalho de duração máxima de 40 horas semanais.
Contudo, o seu § 2º excepciona a adoção de jornada laboral diferenciada para os
servidores públicos submetidos à legislação especial.
Nesse passo, o art. 1º da Lei n. 1.234/1950 estabelece que os servidores da
União, civis e militares, e os empregados de entidades paraestatais de natureza
autárquica que operam diretamente com raios X e substâncias radioativas,
próximo às fontes de irradiação, terão direito a regime máximo de vinte e quatro
horas semanais de trabalho. A mens legis é no sentido da proteção da saúde
desses servidores, independentemente da qualificação profissional. AgInt no
REsp 1.569.119-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/4/2016, DJe
15/4/2016 (Informativo n. 581).
_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. INADMISSIBILIDADE DE ACUMULAÇÃO DE


CARGOS PÚBLICOS CUJAS JORNADAS SOMEM MAIS DE SESSENTA HORAS
SEMANAIS.
É vedada a acumulação de um cargo de professor com outro técnico ou
científico quando a jornada de trabalho semanal ultrapassar o limite
máximo de sessenta horas semanais. A Primeira Seção do STJ
reconheceu a impossibilidade de cumulação de cargos de profissionais
da área de saúde quando a jornada de trabalho superar sessenta horas
semanais.
Isso porque, apesar de a CF permitir a acumulação de dois cargos públicos
privativos de profissionais de saúde, deve haver, além da compatibilidade de
horários, observância ao princípio constitucional da eficiência, o que significa que
o servidor deve gozar de boas condições físicas e mentais para exercer suas
atribuições (MS 19.300-DF, DJe 18/12/2014).
Nessa ordem de ideias, não é possível a acumulação de dois cargos públicos
quando a jornada de trabalho semanal ultrapassar o limite máximo de sessenta
horas. REsp 1.565.429-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/11/2015,
DJe 4/2/2016 (Informativo n. 576).
_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. MONITORAMENTO DE E-MAIL


CORPORATIVO DE SERVIDOR PÚBLICO.

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 19


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

As informações obtidas por monitoramento de e-mail corporativo de


servidor público não configuram prova ilícita quando atinentes a
aspectos não pessoais e de interesse da Administração Pública e da
própria coletividade, sobretudo quando exista, nas disposições
normativas acerca do seu uso, expressa menção da sua destinação
somente para assuntos e matérias afetas ao serviço, bem como
advertência sobre monitoramento e acesso ao conteúdo das
comunicações dos usuários para cumprir disposições legais ou instruir
procedimento administrativo.
No que diz respeito à quebra do sigilo das comunicações telemáticas, saliente-
se que os dados são objeto de proteção jurídica. A quebra do sigilo de dados
telemáticos é vista como medida extrema, pois restritiva de direitos consagrados
no art. 5º, X e XII, da CF e nos arts. 11 e 21 do CC. Não obstante, a intimidade
e a privacidade das pessoas, protegidas no que diz respeito aos dados já
transmitidos, não constituem direitos absolutos, podendo sofrer restrições, assim
como quaisquer outros direitos fundamentais, os quais, embora formalmente
ilimitados – isto é, desprovidos de reserva –, podem ser restringidos caso isso se
revele imprescindível à garantia de outros direitos constitucionais. No caso, não
há de se falar em indevida violação de dados telemáticos, tendo em vista o uso
de e-mail corporativo para cometimento de ilícitos. A reserva da intimidade, no
âmbito laboral, público ou privado, limita-se às informações familiares, da vida
privada, política, religiosa e sindical, não servindo para acobertar ilícitos.
Ressalte-se que, no âmbito do TST, a temática já foi inúmeras vezes enfrentada
(TST, RR 613/2000-013-10-0, DJe 10/6/2005). RMS 48.665-SP, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 15/9/2015, DJe 5/2/2016 (Informativo n. 576).
_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. POSSE EM CARGO PÚBLICO POR MENOR DE


IDADE.
Ainda que o requisito da idade mínima de 18 anos conste em lei e no
edital de concurso público, é possível que o candidato menor de idade
aprovado no concurso tome posse no cargo de auxiliar de biblioteca no
caso em que ele, possuindo 17 anos e 10 meses na data da sua posse, já
havia sido emancipado voluntariamente por seus pais há 4 meses.
De fato, o STF consolidou sua jurisprudência quanto à constitucionalidade de
limites etários na Súmula n. 683, segundo a qual “O limite de idade para a
inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º, XXX, da
Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo
a ser preenchido”.
No caso em análise, o requisito da idade mínima de 18 anos deve ser flexibilizado
pela natureza das atribuições do cargo de auxiliar de biblioteca, tendo em vista
que a atividade desse cargo é plenamente compatível com a idade de 17 anos e
10 meses do candidato que já havia sido emancipado voluntariamente por seus
pais há 4 meses. Além disso, o art. 5º, parágrafo único, do CC, ao dispor sobre
as hipóteses de cessação da incapacidade para os menores de 18 anos – entre

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 20


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

elas, a emancipação voluntária concedida pelos pais (caso em análise) e o


exercício de emprego público efetivo –, permite o acesso do menor de 18 anos
ao emprego público efetivo. REsp 1.462.659-RS, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 1º/12/2015, DJe 4/2/2016 (Informativo n. 576).

________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. FIXAÇÃO DE LIMITAÇÃO TEMPORAL PARA


O RECEBIMENTO DE NOVA AJUDA DE CUSTO. RECURSO REPETITIVO
(ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 538.
A fixação de limitação temporal para o recebimento da indenização
prevista no art. 51, I, da Lei 8.112/1990, por meio de normas infralegais,
não ofende o princípio da legalidade.
De fato, o art. 51, I, da Lei 8.112/1990 estabelece que constitui indenização ao
servidor a “ajuda de custo”. Além disso, o art. 56 desse mesmo diploma legal
determina, no seu caput, que “Será concedida ajuda de custo àquele que, não
sendo servidor da União, for nomeado para cargo em comissão, com mudança
de domicílio” e, no seu parágrafo único, prescreve: “No afastamento previsto no
inciso I do art. 93, a ajuda de custo será paga pelo órgão cessionário, quando
cabível”.
Realmente, há normas infralegais que impõem limite temporal para o
recebimento de nova ajuda de custo. Nesse ponto, pode-se pensar que, se a Lei
8.112/1990 não estabeleceu limite temporal para a concessão da “ajuda de
custo”, o legislador administrativo não pode fazê-lo. Esse pensamento, todavia,
não deve prevalecer. O art. 52 da Lei 8.112/1990 determina de forma expressa
que os critérios para a concessão da ajuda de custo sejam regulamentados por
norma infralegal: “Os valores das indenizações estabelecidas nos incisos I a III
do art. 51, assim como as condições para a sua concessão, serão estabelecidos
em regulamento”. Nesse contexto, ao estabelecer o termo “condições” – que o
vernáculo entende, entre outros sentidos, como antecedente necessário –, a Lei
8.112/1990 permitiu restrições/limitações que nada mais são que requisitos que
qualificam o servidor para o recebimento da indenização. Aliás, a despeito das
alterações legislativas ocorridas neste artigo, os valores e as condições para a
concessão da ajuda de custo sempre foram fixados em regulamento, na medida
em que a Lei atribuiu benefícios, mas nunca estabeleceu a possibilidade de abuso
desses benefícios, sobretudo contra o patrimônio público. Ademais, não é
imperativo que essa regulamentação seja feita por meio de norma hierárquica
imediatamente inferior (decreto), consoante interpretação realizada a partir do
art. 84, VI, da CF poderia sugerir.
Isso porque, de acordo com o STF (RE 570.680-RS, Pleno, DJe 4/12/2009), a
competência regulamentadora não é exclusiva do Presidente da República: “é
compatível com a Carta Magna a norma infraconstitucional que atribui a órgão
integrante do Poder Executivo da União a faculdade de estabelecer alíquotas do
Imposto de Importação. Competência que não é privativa do Presidente da

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 21


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

República”. Além disso, mesmo que não fosse a expressa autorização legal para
regulamentação da ajuda de custo, outras razões hermenêuticas e axiomáticas
reforçam a legitimidade de resoluções que prescrevam a limitação temporal em
análise, visto se tratar de medidas limitadoras que obedecem aos princípios da
moralidade administrativa, da razoabilidade, da impessoalidade, da eficiência e
da economicidade da gestão pública. Nesse sentido, ressalta-se que o fator tempo
não pode ser desconsiderado por ocasião da fixação de limites para a concessão
de ajuda de custo, ante fundamentos atrelados à ratio do benefício, aos impactos
financeiros da presente decisão, à conveniência e oportunidade da concessão e
ao histórico do tratamento da matéria. Além do mais, ir além e questionar os
termos em que estabelecido o limite temporal exigiria a invasão do mérito dos
atos administrativos que estabelecessem essa limitação, o que é permitido
apenas em hipótese excepcional de flagrante ilegalidade (AgRg no Ag 1.298.842-
RJ, Segunda Turma, DJe 29/6/2010; e AgRg nos EDcl no REsp 902.419-RS,
Segunda Turma, DJe 15/2/2008). De mais a mais, o CNJ e o STF ratificam essas
limitações. Nesse sentido, cabe ressaltar a afirmação realizada pelo CNJ ao
analisar pedido de ajuda de custo de magistrado (Pedidos de Providência
2007.10000007809 e 2007.10000011825): “Observo ainda que os decretos
regulamentadores da ajuda de custo, no plano federal, limitam a concessão da
ajuda de custo a um ano, ou seja, o magistrado não pode receber em período
inferior a um ano mais de uma ajuda de custo. Esta regra deve ser seguida nas
concessões de ajuda de custo, sob pena de conversão dos magistrados em
peregrinos, contrariando inclusive a própria natureza da ajuda de custo, com o
que a ajuda de custo somente é devida em remoções que ocorrerem em prazo
superior a um ano”. Seguindo a mesma ratio, a Resolução 382/2008 do STF, que
dispõe sobre a concessão de ajuda de custo no âmbito do Supremo Tribunal
Federal, assevera, em seu art. 9º, caput e I, que “Não será concedida ajuda de
custo ao Ministro ou ao servidor que [...] tiver recebido indenização dessa espécie
no período correspondente aos doze meses imediatamente anteriores, ressalvada
a hipótese de retorno de ofício, de que trata o § 6º do art. 3º”. REsp 1.257.665-
CE, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 8/10/2014, DJe
17/9/2015 (Informativo 569).

_________________________________________________________

SÚMULA 552
O portador de surdez unilateral não se qualifica como pessoa com deficiência para
o fim de disputar as vagas reservadas em concursos públicos. Corte Especial,
aprovada em 4/11/2015, DJe 9/11/2015 (Informativo 572).

_________________________________________________________

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 22


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

DIREITO ADMINISTRATIVO. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 170 DA


LEI 8.112/1990.
Não deve constar dos assentamentos individuais de servidor público
federal a informação de que houve a extinção da punibilidade de
determinada infração administrativa pela prescrição.
O art. 170 da Lei 8.112/1990 dispõe que, “Extinta a punibilidade pela prescrição,
a autoridade julgadora determinará o registro do fato nos assentamentos
individuais do servidor”. Entretanto, o STF declarou incidentalmente a
inconstitucionalidade do referido artigo no julgamento do MS 23.262-DF (Tribunal
Pleno, DJe 29/10/2014). Nesse contexto, não se deve utilizar norma legal
declarada inconstitucional pelo STF (mesmo em controle difuso, mas por meio de
posição sufragada por sua composição Plenária) como fundamento para anotação
de atos desabonadores nos assentamentos funcionais individuais de servidor, por
se tratar de conduta que fere, em última análise, a própria CF. MS 21.598-DF,
Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/6/2015, DJe 19/6/2015 (Informativo
564).

_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE SERVIDOR


PÚBLICO PARA ATIVIDADES DE CARÁTER PERMANENTE.
Ainda que para o exercício de atividades permanentes do órgão ou
entidade, admite-se a contratação por tempo determinado para atender
a necessidade temporária de excepcional interesse público (arts. 37, IX,
da CF e 2º da Lei 8.745/1993) - qual seja, o crescente número de
demandas e o elevado passivo de procedimentos administrativos
parados junto ao órgão, que se encontra com o quadro de pessoal efetivo
completo, enquanto pendente de análise no Congresso Nacional projeto
de lei para a criação de vagas adicionais.
O art. 37, IX, da CF dispõe que “a lei estabelecerá os casos de contratação por
tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público”. Por sua vez, a Lei 8.745/1993, ao regulamentar o referido
dispositivo, estabelece, em seu art. 2º, VI, “i”, que “Considera-se necessidade
temporária de excepcional interesse público: [...] atividades: [...] técnicas
especializadas necessárias à implantação de órgãos ou entidades ou de novas
atribuições definidas para organizações existentes ou as decorrentes de aumento
transitório no volume de trabalho que não possam ser atendidas mediante a
aplicação do art. 74 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990”. Soma-se a
isso o fato de que o STF já emitiu entendimento de que a CF autoriza contratações
de servidores, sem concurso público, quer para o desempenho das atividades de
caráter eventual, temporário ou excepcional, quer para o desempenho das
atividades de caráter regular e permanente, desde que indispensáveis ao
atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público. No
caso ora em análise, observa-se o crescente número de demandas e o enorme

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 23


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

passivo de procedimentos administrativos parados junto ao órgão, cujos atos de


impulso não poderiam se dar, simplesmente, por meio de serviço extraordinário.
Ademais, além de os temporários contratados estarem vinculados a uma
demanda transitória e pontual, pautada no excesso do volume de trabalho em
diversas áreas, é certo que a espera pela eventual realização do certame público
poderá acarretar sérios prejuízos tanto ao erário como para a sociedade. Não
restam dúvidas, portanto, que os fatos que justificam a contratação temporária
(acúmulo do serviço) não está a violar a regra constitucional do concurso público,
até mesmo porque se aguarda a tramitação no Congresso Nacional de projetos
para criação de vagas adicionais. Precedentes citados do STF: ADI 3.247-MA,
Tribunal Pleno, DJe 18/8/2014; ADI 3.386-DF, Tribunal Pleno, DJe 24/8/2011; e
ADI 3.068-AM, Tribunal Pleno, DJ 24/2/2006. MS 20.335-DF, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 22/4/2015, DJe 29/4/2015 (Informativo 560).

_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. EXECUÇÃO IMEDIATA DE PENALIDADE


IMPOSTA EM PAD.
Não há ilegalidade na imediata execução de penalidade administrativa
imposta em PAD a servidor público, ainda que a decisão não tenha
transitado em julgado administrativamente. Primeiro, porque os atos
administrativos gozam de auto-executoriedade, possibilitando que a
Administração Pública realize, através de meios próprios, a execução dos
seus efeitos materiais, independentemente de autorização judicial ou do
trânsito em julgado da decisão administrativa.
Segundo, pois os efeitos materiais de penalidade imposta ao servidor público
independem do julgamento de recurso interposto na esfera administrativa, que,
em regra, não possui efeito suspensivo (art. 109 da Lei 8.112/1990). Precedentes
citados: MS 14.450-DF, Terceira Seção, DJe 19/12/2014; MS 14.425-DF, Terceira
Seção, DJe 1/10/2014; e MS 10.759-DF, Terceira Seção, DJ 22/5/2006. MS
19.488-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/3/2015, DJe
31/3/2015 (Informativo 559).

_________________________________________________________

DIREITO ADMINISTRATIVO. ACUMULAÇÃO LÍCITA DE CARGOS


PÚBLICOS.
É possível a acumulação de um cargo público de professor com outro de
intérprete e tradutor da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Nos termos da CF, a inacumulabilidade de cargo público emerge como regra,
cujas exceções são expressamente estabelecidas no corpo da própria Carta
Magna (art. 37, XVI). Na exceção prevista na alínea “b” do inciso XVI do art. 37
da CF (“a de um cargo de professor com outro técnico ou científico”), o conceito

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 24


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

fase de transformação dos sistemas constitucionais — Cartas de 1967/1969 e


1988 —, excluída a abrangência a ponto de fulminar direito adquirido
RE 612975/MT, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 26 e 27.4.2017.
(RE-612975) RE 602043/MT, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 26
e 27.4.2017. (RE-602043)

SERVIDORES PÚBLICOS RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA


ADMINISTRAÇÃO E ENCARGOS TRABALHISTAS NÃO ADIMPLIDOS
O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do
contratado não transfere automaticamente ao Poder Público
contratante a responsabilidade pelo seu pagamento, seja em caráter
solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993.
Com esse entendimento, o Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria,
conheceu em parte e, na parte conhecida, deu provimento a recurso
extraordinário em que discutida a responsabilidade subsidiária da
Administração Pública por encargos trabalhistas gerados pelo inadimplemento
de empresa prestadora de serviço.
Na origem, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) manteve a responsabilidade
subsidiária de entidade da Administração Pública tomadora de serviços
terceirizados pelo pagamento de verbas trabalhistas não adimplidas pela
empresa contratante. Isso ocorreu em razão da existência de culpa “in vigilando”
do órgão público, caracterizada pela falta de acompanhamento e fiscalização
da execução de contrato de prestação de serviços, em conformidade com a nova
redação dos itens IV e V do Enunciado 331 da Súmula do TST.
A recorrente alegava, em suma, que o acórdão recorrido, ao condenar
subsidiariamente o ente público, com base no art. 37, § 6º, da Constituição
Federal (CF), teria desobedecido ao conteúdo da decisão proferida no julgamento
da ADC 16/DF (DJE de 9.9.2011) e, consequentemente, ao disposto no art. 102,
§ 2º, da CF. Afirmava que o acórdão recorrido teria declarado a
inconstitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993, embora a norma tenha
sido declarada constitucional no julgamento da ADC 16/DF. Sustentava violação
dos arts. 5º, II, e 37, “caput”, da CF, por ter o TST inserido no item IV do
Enunciado 331 da sua Súmula obrigação frontalmente contrária ao previsto no
art. 71, § 1º, da Lei de Licitações. Defendia, por fim, que a culpa “in vigilando”
deveria ser provada pela parte interessada, e não ser presumida — v.
Informativos 852, 853, 854 e 859. Prevaleceu o voto do ministro Luiz Fux, que

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 26


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

foi acompanhado pelos ministros Marco Aurélio, Dias Toffoli, Gilmar Mendes,
Cármen Lúcia (Presidente) e Alexandre de Moraes.
A Corte entendeu que uma interpretação conforme do art. 71 da Lei
8.666/1993, com o reconhecimento da responsabilidade subsidiária da
Administração Pública, infirma a decisão tomada no julgamento da ADC
16/DF (DJE de 9.9.2011), nulificando, por conseguinte, a coisa julgada formada
sobre a declaração de constitucionalidade do dispositivo legal.
Observou que, com o advento da Lei 9.032/1995, o legislador buscou
excluir a responsabilidade subsidiária da Administração, exatamente para
evitar o descumprimento do disposto no art. 71 da Lei 8.666/1993,
declarado constitucional pela Corte. Anotou que a imputação da culpa “in
vigilando” ou “in elegendo” à Administração Pública, por suposta deficiência
na fiscalização da fiel observância das normas trabalhistas pela empresa
contratada, somente pode acontecer nos casos em que se tenha a efetiva
comprovação da ausência de fiscalização.
Nesse ponto, asseverou que a alegada ausência de comprovação em juízo da
efetiva fiscalização do contrato não substitui a necessidade de prova taxativa do
nexo de causalidade entre a conduta da Administração e o dano sofrido. Ao final,
pontuou que a Lei 9.032/1995 (art. 4º), que alterou o disposto no § 2º do art.
71 da Lei 8.666/1993, restringiu a solidariedade entre contratante e contratado
apenas quanto aos encargos previdenciários resultantes da execução do
contrato, nos termos do art. 31 da Lei 8.212/1991. Vencida a ministra
Rosa Weber (relatora), acompanhada pelos ministros Edson Fachin, Roberto
Barroso, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello, que negavam provimento
ao recurso. Concluíam: a) pela impossibilidade de transferência automática
para a Administração Pública da responsabilidade subsidiária pelo
descumprimento das obrigações trabalhistas pela empresa terceirizada; b)
pela viabilidade de responsabilização do ente público, em caso de culpa
comprovada em fiscalizar o cumprimento dessas obrigações; e c) pela
competência da Administração Pública em comprovar ter fiscalizado
adequadamente o cumprimento das obrigações trabalhistas pelo contratado.
(RE 760931/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luiz
Fux, julgamento em 26.4.2017. (RE-760931) (Informativo 862,
Plenário, Repercussão Geral)

LICENÇA-MATERNIDADE E DISCRIMINAÇÃO ENTRE GESTAÇÃO E


ADOÇÃO

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 27


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

Os prazos da licença-adotante não podem ser inferiores aos prazos da


licença-gestante, o mesmo valendo para as respectivas prorrogações.
Em relação à licença-adotante, não é possível fixar prazos diversos em
função da idade da criança adotada. Com base nessa orientação, o Plenário, por
maioria, deu provimento a recurso extraordinário em que discutida a
possibilidade de lei instituir prazos diferenciados para a concessão de licença-
maternidade às servidoras gestantes e às adotantes. Reconheceu o direito da
recorrente, servidora pública, ao prazo remanescente da licença parental, a
fim de que o tempo total de fruição do benefício, computado o período já
gozado, seja de 180 dias de afastamento remunerado, correspondentes aos 120
dias de licença, previstos no art. 7º, XVIII, da CF, acrescidos dos 60 dias de
prorrogação, nos termos da lei.
De início, o Colegiado afirmou que a Constituição trouxera inovações a
respeito do tema. Uma delas, a superação da ideia de família tradicional,
hierarquizada, liderada pelo homem, chefe da sociedade conjugal. Fora criada
uma noção de família mais igualitária, que não apenas resulta do casamento.
Além disso, ela não é mais voltada para proteger o patrimônio, mas para cultivar
e manter laços afetivos. Outra mudança diz respeito à igualdade entre os filhos,
que tinham regime jurídico diferenciado, a depender de suas origens. Por fim,
fora estabelecido, no art. 7º, XVIII, da CF, a licença à gestante como um direito
social.
No que se refere à legislação infraconstitucional, o Tribunal explicou sua
evolução até o quadro atual, em que há duas situações distintas: para
servidoras públicas, regidas de acordo com a Lei 8.112/1990, a licença-
maternidade, para gestantes, é de 120 dias. Para adotantes, a licença-
maternidade é de 90 dias, para crianças menores de 1 ano, e de 30 dias, para
maiores de 1 ano. Por outro lado, para trabalhadoras da iniciativa privada,
regidas de acordo com a CLT, a licença-gestante é equiparada à licença-
adotante, e não há diferenciação em virtude da idade da criança adotada. Com
o advento da Lei 11.770/2008, passara a ser previsto o direito de prorrogação da
licença-maternidade em até 50%, tanto para servidoras públicas quanto para
trabalhadoras do setor privado.
O Plenário analisou que essa diferenciação existente no setor público, tanto em
razão de a mãe ser adotante quanto em virtude da idade da criança adotada,
seria ilegítima. Isso porque as crianças adotadas apresentam dificuldades
inexistentes para filhos biológicos: histórico de cuidados inadequados, carência,
abuso físico, moral e sexual, traumas, entre outros. Além disso, quanto maior a
idade da criança, maior o tempo em que submetida a esse quadro, e maior a
dificuldade de adaptação à família adotiva. Por isso, quanto mais a mãe pudesse
estar disponível para a criança adotiva, mormente nesse período inicial, maior a
probabilidade de recuperação emocional da criança em adaptação. Além
disso, crianças adotadas apresentam mais problemas de saúde, se comparadas

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 28


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

com filhos biológicos, e quanto mais avançada a idade da criança, menor a


probabilidade de ser escolhida para adoção. Assim, nada indica que crianças
mais velhas demandam menos cuidados se comparadas a bebês. A situação
revela justamente o contrário. Ademais, é necessário criar estímulos para a
adoção de crianças mais velhas. Portanto, o tratamento mais gravoso dado ao
adotado de mais idade viola o princípio da proporcionalidade, e implica proteção
deficiente.
O Colegiado observou o tema, ainda, à luz da autonomia da mulher. Por causa
de razões culturais, o membro da família mais onerado na experiência da adoção
é a mãe. Também por esse motivo, não há justificativa plausível para conferir
licença inferior à mãe adotiva, se comparada à gestante. Não existe fundamento
constitucional para a desequiparação da mãe gestante e da mãe adotante, sequer
do adotado mais velho e mais novo. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que
desprovia o recurso. Considerava que a diferenciação quanto a gestantes e
adotivas teria fundamento constitucional.
RE 778889/PE, rel. Min. Roberto Barroso, 10.3.2016. (RE-778889)
(Informativo 817, Plenário, Repercussão Geral

GREVE DE SERVIDOR PÚBLICO E DESCONTO DE DIAS NÃO


TRABALHADOS
A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores
públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre.
É permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será,
contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por
conduta ilícita do Poder Público.
Com base nesse entendimento, o Plenário conheceu, em parte, do recurso
extraordinário e, por maioria, a ele deu provimento. Na espécie, discutia-se
a possibilidade de desconto nos vencimentos dos servidores públicos dos
dias não trabalhados em razão do exercício do direito de greve — V. Informativo
797. O Tribunal assentou que: a) a deflagração de greve por servidor
público civil corresponde à suspensão do trabalho e, ainda que a greve não seja
abusiva, como regra geral, a remuneração dos dias de paralisação não deve ser
paga; e b) somente não haverá desconto se a greve tiver sido provocada por
atraso no pagamento aos servidores públicos civis ou se houver outras
circunstâncias excepcionais que justifiquem o afastamento da premissa da
suspensão da relação funcional ou de trabalho.
Considera-se assim aquelas circunstâncias em que o ente da administração
ou o empregador tenha contribuído, mediante conduta recriminável, para
que a greve ocorresse ou em que haja negociação sobre a compensação
dos dias parados ou mesmo o parcelamento dos descontos. Assinalou, de início,

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 29


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

que o recurso não deveria ser conhecido quanto à suposta ofensa ao art. 100 da
Constituição, pois não caberia falar em pagamento dos valores em discussão por
meio de precatório, de acordo com precedentes da Corte.
Na parte conhecida, rememorou entendimento jurisprudencial pela legalidade
dos descontos remuneratórios alusivos aos dias de paralisação, a exemplo
do que fixado no MI 708/DF (DJe de 30.10.2008). Frisou inexistir legislação
específica acerca do direito de greve no setor público, razão pela qual, quando o
tema alcança o Supremo Tribunal Federal, tem-se decidido pela aplicação da
regra atinente ao setor privado.
Destacou a existência, em outros países democráticos, dos fundos de greve,
geridos pelos sindicatos, cujos recursos seriam usados para remunerar os
servidores públicos grevistas, de forma a não onerar o Estado. Além disso,
ressaltou haver países, também democráticos, em que inexistiria o direito de
greve a servidores públicos. Essa não seria a situação brasileira, pois esse
direito estaria constitucionalmente assegurado. Sublinhou a importância da
negociação coletiva para resolver questões remuneratórias, muito embora
os avanços no sentido da aplicação desse instituto no setor público ainda
fossem pouco expressivos. Ademais, sustentou que eventual compensação de
dias e horas não trabalhados deveria ser sempre analisada na esfera da
discricionariedade administrativa, por não haver norma a impor sua
obrigatoriedade.
Anotou que alguns entes federados teriam editado atos normativos impeditivos
de abono ou compensação na hipótese de greve. Sem prejuízo da eventual
constitucionalidade dessas normas, seria possível inferir que a opção da
administração deveria ser respeitada, até mesmo ao estabelecer premissas
normativas impeditivas de negociações sobre determinados pontos, desde que
razoáveis e proporcionais, até o advento de lei de regência nacional sobre o tema.
Enquanto isso não ocorresse, o instrumento da negociação seria o melhor
caminho para solucionar conflitos em cada caso, observados os limites acima
traçados.
Salientou que, na espécie, de um lado, não haveria dados sobre imposição de
sanção administrativa nem sobre a existência de processos disciplinares
contra os grevistas. Pelo contrário, a autoridade impetrada apenas teria
cumprido a lei e reconhecido a legitimidade dos descontos. Não haveria, por outro
lado, certeza quanto à alegação de que os dias não trabalhados seriam
devidamente compensados, o que seria impassível de exame no recurso. Não
existiria, portanto, violação a direito líquido e certo dos impetrantes, ora
recorridos. Vencidos os ministros Edson Fachin, Rosa Weber, Marco Aurélio e
Ricardo Lewandowski, que negavam provimento ao recurso.
Consideravam que a greve dos servidores públicos seria direito fundamental
ligado ao Estado Democrático de Direito. Como a greve seria o principal
instrumento de reivindicações civilizatórias da classe funcional pública diante
do Estado, a suspensão do pagamento da remuneração dos servidores
tocaria a essencialidade do direito em debate. A adesão de servidor a movimento
grevista não poderia representar uma opção economicamente intolerável ao

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 30


Gabaritando as provas de Direito Administrativo – 2017!
Aula Extra – Jurisprudência do STF e STJ
Prof. Fabiano Pereira

próprio servidor e ao respectivo núcleo familiar. No âmbito privado, a greve


implicaria prejuízo ao empregador e ao trabalhador. Imposto esse ônus às
partes, seria natural a busca por uma solução célere ao impasse. Isso não
ocorreria no serviço público, entretanto. Por vezes, a opção do administrador
seria postergar ao máximo o início das negociações. Assim, permitir o
desconto imediato na remuneração dos servidores significaria que os prejuízos
do movimento paredista seriam suportados por apenas uma das partes em litígio.
Portanto, a interpretação da legislação aplicável (Lei 7.783/1989) conforme à
Constituição levaria à conclusão de que as relações obrigacionais entre agente
público e administração deveriam ser regidas e sindicalizadas por decisão
judicial, dada a impossibilidade de acordo, convenção ou laudo arbitral. Isso não
implicaria falta de consequências aos grevistas, que deveriam compensar as
horas não trabalhadas ao fim da greve. Dessa forma, a suspensão do
pagamento de servidores grevistas exigiria ordem judicial, que reconhecesse
a ilegalidade ou abusividade da greve em concreto. Do mesmo modo, a decisão
judicial deveria fixar condições para o exercício desse direito, nos termos
da lei mencionada, com o menor prejuízo possível aos beneficiários do serviço
público afetado.
RE 693456/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, 27.10.2016. (RE-693456)
(Informativo 845, Plenário, Repercussão Geral)

www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 31

Você também pode gostar