Você está na página 1de 16
GOTTLOB FREGE: O PENSAMENTO. UMA INVESTIGACAO LOGICA Trad. Paulo Alcoforado ( UFF ) sssim como a palamra “belo” assi- rnala 0 objeto da estética e “bom” assinaia 0 objeto da ética, assim também a palavra “verdadero” assinala 0 objeto da logica De fato, todas as ciénci- as tém a verdade como meta. mas a l6gica ocupa-se dela de forma bem dife- rente. Ela esta para a verdade aproxi- madamente como a fisica esta para 0 peso ou o calor Descobrir verdades € a tarefa de todas as cencias cabe a lagica, orem, discernir as leis do ser verdader (Wahrsein). Emprega-se 2 paiavra “ler fem dois sentides. Quando falarnos de lers morals e de les juridicas, refenmo-nos as Prescrigées que devem ser obedecidas, Tas com as quais os atontecimentos nem sempre esido em corlormidade. As leis da natureza constituem a generaiiza- ‘co dos acontecimentos naturals. com as uals estes sempre esto de acordo E mais neste segundo seni que falo de leis do ser verdadero. E verdade que ‘aqui se trata no tanto de um acontecer, mas sobretudo de ser. Das leis do ser verdadeiro decorrem prescrigdes para asserir (Furwahrhalten), para pensar Julgar, racecar E, nesta acepeao. pode-se tambem falar de leis do pensa- ‘mento. Mas aqui corremos 0 pengo de misturar cosas distintas. Pois talvez se tome a expressao “lei do pensamento’ como “lei da natureze’, ertendendo por essa expressée a mera gereralizagao 40 proceso, Publicado orignalmente sob © titulo de ‘Der Gedanke. Eine logische Untersu chung’, Betrage zur Phiosoptie des deutschen Ideatismus, 1 (1918-19), p. 58- 77 Republicado em G Patag (Hrsg.). G Frege. Logische Untersuchungen, Gottin gen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1966, p 30-53, 1. Angele (Hreg), 6. Frege, Kioino Schniten, Hadesheim, G. Os, 1967, p 342-362. psiquico de pensar. Neste sen- tido, uma leido pensamento seria uma lei rr Antic |. Losopia lox Sho Jato deb Rei, a 6,9. wi ai Seta: on psicologica E, assim, poderiamos vir a acredtar que a logica trata do processo siquico de pensar e das leis psicologi- cas a que esie se conforma Isto seria, orem. desconhecer a tareta da logica, o's ndo se da 4 verdade o lugar que he cabe 0 erro. a superstipgo Wem suas ccausas, assim como as tem 0 conheci ‘mento correto Tanto a assergao do faiso coma verdadero, quanto a assercao do verdadero como verdadeio tem lugar segundo leis psicologicas. Uma denivagao 2 pattr de tass leis psicoldgicas e uma explicagdo de um processo psiquico que resulla em uma assergao, jamais podero substtur uma demonstragao de algo que foi considerado verdadeiro. As leis da logica nao poderiam também estar envol- vidas_nesse proceso psiquico? No (quero entrar nesta discussao, mas quan- do se trata da verdade, a mera possibil- dade nao basta, Pos e tambem possivel que um componente ndo-ogico esieja envolvide em tal processo e 0 tenha des- viado da verdade So depors de conhe- cer as leis do ser verdadero, é que pode- remos decidir sobre isto, mas sendo as- sim poderemos prescindir provavelmente da derivacao e da expicagao do proces- 50 Psiquico, se 0 que importa e decidir se o assenr como verdadero - momento em que © processo termina - se justfica ou nao. A fim de evitar qualquer equivoco e imped que se apague os times entre psicologia © lagica, atnbuo 8 logica 2 tarefa de descoonr as less do ser verda: deito (Wahrsien) e no as less do asserit como verdadero (Furwahrhalten) ou as leis do pensar. O significado da palavra ‘verdadero’ se explica pelas leis do ser verdadero Inicialmente, porém, quero tragar em linhss gerais © esbogo do que, neste texto, denomino de verdaderro. ‘Ficam, assim, excluidos outras modos de_em- pregar esta paiavra. Ela ndo devera ser 208, jul 1999 aqui empregada no sents de verieco wae veraz nem tampouso como a5 sezes ocorre no tratamente de auestées elatvas a arte quando, per exemalc se uiscorre sobre a verdade na arte quando se apresenta a verdade como obetwo aa afte, quando se fala da vereade de uma obra de arte ou de um sentmerts verds Jiro Antepoe-se também a palavra verdaderro’ a outra palavea a fim de ex pressar que esta ultima deve ser tomada Seu sentido propno e genuino Tambem aste modo de empregar esta fora da rota aqui tragada, po's 0 que temas em mente 2 8 verdade, cujo conhecimento constitu: objeto da ciéncia A palavra “verdadero” assume a forma nguistica de um adjetivo Nasce da’ 0 ‘esejo de delimitar mais estertamente 0 Yominio daquilo a que € dado atribuy 3 vetdade. 0 dominio em que a ela é dado star em questo A verdade e atnbuida » imagens, idelas, sentengas e pensa- nentos O que chama 2 atengao eo fato ‘42 encontrarmos nesta lista ao lado de 018as visiveis e audive's, cosas que nao sodem ser percebidas pelos senados 0 tue indica a ocorréncia de um desiora. “ento no sentido da palavra ‘verdadeiro Ye fato. € 0 que ocore Uma magem nquanto objeto visivel e palpavel podera °8F dita propriamente verdadera? E uma fedra, uma folha no serao verdaderras? ‘adentemente, 30 chamariamos uma “nagem de verdadeira se nisso nao hou esse uma intengSo. A imagem tem que ‘presentar algo. Uma deta tampouco ita de verdadeira por si mesma. mas so ‘endo em vista uma inten¢ao nia media om que ela corresponde’a algo. Pode. ‘98, pois, presumir que 3 verdade eon: ste em uma correspondéncia entre uma ‘agem e seu objeto Mas correspondén- a @ uma telagao Isto porem se choca ‘om 0 modo habitual de Se usar a palavia verdadero”, que nao & uma palavra rela ‘anal e nem contém nenihuma indsoagao = nada com 0 qual algo deva cones. onder Se ignoro que uma imagem & ‘posta representar a Catedral de Cols 2 entéo nao se! com que comparar “sta imagem a fim de decidir sobre sua verdade Uma correspondéneia se pode perteita quando as coisas em corres. ‘An, Flos, Sao faGo dctRei. np 283298, a Donsenc:a concise. quand: “as $3 ‘Sas 3'sintas Para venficar 3 ace Jade de uma zequls © prec su suse 2 uma cedvia autenica Mas sera 200 tentar superpor uma moeda de ou. 8 uma cedula de winte marcos A suse" osigdo Ge uM ideia a ume cosa So Sena possivel se a coisa fosse tamper uma dea E sea prmena comespor. Gesse perfettamente a segura enti: amoas comcxdinam Ora isto © stare © que no se quer quande se define 3 werdade como a correspondénca entre ima idea © um objeto teal Povs & abs Jutamente essencial que o objeto real sea distnio da idera Mas se assim for nae pode haver corespondéncia pecteta verdae perfors Assim sande cosa aigura seria verdadera Pois 0 que € apenas parcialmente verdaacro nao e verdadero A verdade nao admits um mas ou menos Ou sera que admite Nao S podena estabelecer que ha ver gaze quando a cocespondencia se ca Sot um determinado porto de vista? Mas Sob qual ponto de vista? O que deveria mos fazer entae, para decigi se aigo € verdadewo? Daveriamas invesigar se é verdadone que ogamos umo ela € utr cojeto reat se cortespondem segundo © ponto de wista estabelecide E dest modo. novamenie nos defrentariamos com uma pergunta do mesme géners que a antenor. e 0 jogo comecarta uma vez mais. Assim malogra 2 tentativa de exph- car a verdade como corespondenca E malogra também a tentativa de definir 6 ser verdadeiro Pos numa defimica cumpre igkcar cestas notas caracterist. cas da verdade. @ a0 apiica-la a um -ase particular surgina novamente 3 questic de se @ verdadero que fais ncias $a canstatadas E assim nos movecsamos fem circuls Por canseguinte @ provave Que 0 conteudo ca palavia verdaceiro sea Uno e indefinivel Quande dizemos que uma imagem © Vverdadeira.ndo se esta a rigor enuncian do uma propnedade que pertence a esta imagem considerada isolagamiente Pele Contsaro, temos sempre presente uma Conta corsa e queremos dizer que esta imagem correspond de algum modo a esta corsa “Minha idéia corresponde a cateara ge Coinna @ uma sentenga © fa vergaa: o sue esta em quest tenga ASST 3% ingevidamente 02 verdade de agers @ ideas se recuz a verdade de sentengas Mas 0 que € que chamamos Ge senienga? A uma sequeticia de sons contanto que tenha um sentido. 0 que nao significa, porem, que toda sequéncia de sons com Sendo seja uma sentenca E quando dizemos que uma sentenca & verdadera nos refenmos asintamente a Sse seu sentidc 0 € Dai resulta que aqui Ge que se deve indagar see verdadero © 0 senigo da sentenga O sentido de uma sentenca sera uma deia? De quai- quer modo, ser verdadenc n30 consiste na correspondencia geste sentido com igo de distinto. sendo a cuestao do ser verdadero se repetina a0 wfinio ‘Sem querer dar uma defingdo chamo de pensamento a algo sobre ¢ quai se pode erguntar pela verdade Conto entre os Pensamentos tanto 0 que € faiso. quante (0 gue € verdadeiro’ Consequentemente osso dizer 0 pensamentoe o sentido de uma sentenga sem querer com isto afr- ‘mar que 9 serudo de toda sentenca seja um pensamento O pensamento, em s. mesmo smperceptivel pelos sentidos veste-se com a roupagem perceptivel da sentenca tornando-se assim para nos mais facimente apreensivel Demos que 2 sentenca expressa um pensaren: 10 © pensamenta ¢ algo de mperceptivel. ¢ tude que seja perceptivel pelos sentiacs deve Se: exciuido do dominio daquic a yen tales toning duo “Tm gua e fog oth ci ot ta” DE ce These poate” may a 8 Ad emaue aiae fetishes be me ss oe copes tal sti et dai ds sh “poms Sin tia por esp m0 Scent taba di ee ake reper hs fir tlhe she Fra 1 ating csr sma sca ua Ura No i sna Potincu nin sake aepecr s a pal Sramsentak. Gomme elie. ere sonal het op ‘An. Fils. 8 282010 40 qual cate Se perguntar see faate'o A selaage nae 3 uma cropr. de ve cor'esponge a um cert: gene 32 moreso sensora: Assim ela se singe nitcanente das propredages Jue Jenominarros com as paiavras ver meno amatgo. com chew ge las ‘Mas _ndo vemos que 0 sol se levantou? Endo vemos ac mesmo tempo que isto € vergadevro? Que a sol se tenha ‘evantado ‘a0 @ um fato que ama ras que atinjam Teus anos nao e algo wisivel como o Fopric so: Que o Sol Se tenna levaniago #2 igo que se reconnece como verdade' 1S apart de impressoes sensorias Mas ser verdadero nao € uma propnedace sonaimente perceptivel Tambem ser ragneico @ algo reconneciao a parw de npressées sensonias. embora esia pro. Brecace no corresponda tai como se 93 com a verdade a nerhuma especie articular de impressoes sensonas Ate ‘33u1 tas propnedades comciaem Contu- 3 para reconnecer um come como Fragnetco necesstamos de mipessdes sensorias Por outro lado quanac consi 2f0 verdadeiro que neste momerto nao estou sentindo nenhum odor ssi no & feito a pare de impressdes sensorais, Tooawa intiganos 0 tate oe que nde ademas reconnecer uma propaesade ce wna coisa sem que a0 mesmo tempo tamemes como verdadero o pensamento ‘2 que esta corsa possul esta propreda: ge Assim. a cada propredade ge uma 3180 esia assocada uma propnecade de LT pensamento a saber a de ser verds: eve E tambem digno de atencao que & sentenga Sito um pertume ce viceias fetha exalamente 0 mesmo conteude gue a sentenga € verdage que snto um perfume de widletas’ Deste maco parece ue nada e acrescentado ao pensamento pei fato de ine ser atnbuida a proprieda ‘de da verdade E no entanto. nao e um grande feto quando um pesqusador ‘3p0s mutta hesla¢do e penosas wnvesti- ‘gages. pode finaimente dizer “0 que ev ‘Supunha @ verdadewo ? O significado aa alavra verdaueito" parece ser mul Sngular Sera que ndo estamos wando ‘aqui com algo que ndo pode absoiuta mente ser chamado. no sentido carrente de propriedade? N3o obstante esta div: 286, AICOFORADO, Palo Gatlob Foose (0 Ponsumente ms lesion a, quero. por ora. sequindo ainda 0 uso corente da linguagem, expressar-me ‘como se a verdade fosse uma proprieda. de, até que algo de mais adequado seja encontrado. A fin de distinguir mais nitidamente 0 que ‘chamo de pensamento, cumpre destacar ‘algumas espécies de sentencas’, Nao queremos negar um sentido a uma sen. tenga imperativa; mas este sentido no é daquele tipo passivel de suscitar a ques to da verdade. Por isto, nao chamarei o sentido de uma sentenga imperativa de pensamento. Da mesma maneira. estio excluldas as sentencas que expressam desejo ou pedido Sé'sero consideradas, as sentencas mediante as quais comuni camos ou deciaramos algo Mas entre estas, ndo inclu as exclamagdes que ‘manifestam sentimentos, gemidos, susp. ‘08. risos, a menos que estejam destina das, por uma conven¢ao especial, a co- municar algo. Mas 0 que dzer das sen- fengas interrogatwas? Mediante uma interrogagao nominal (Worttrage) profe- rimos uma sentenga incompleta, que sé atinge um verdadeiro sentido’ quando completada por aquilo polo que pergun- tamos. Portanto, tas interrogagSes nomi: nnais ficam aqui fora de consideracso Com as interrogacdessentenciais (Satzfragen) é diferente, Esperamos ouvir lum “sim” ou um “no” A resposta “sim” equivale a uma sentenga assertiva, pois or seu intermédio o pensamento, que jé estava inteiramente contido na sentenca Ae 9 Se ina semen seals has "ci pan de so sss ca vera vga as sotenc co gia gl ls pone i Na sentenga asserts mio teats nembasms parte ‘psc gio eamesponte netgear se 6 tn dear alg ne enon a hye tenga asenina. Ham, ane a vamp le dues ame pnp snd dpa ecm posed in onto ato ne levee observe ue tah ama sete Minas pre conter una asserts ope Fem nemy a sontebgs principal anes sem & stbordinada isdldunente capes peasamento comple. mus smente a loner ompesa, ~~ An. Filos, Sio Taio dei Rein 6p interrogata, ¢ apresentado como verda- deo Assim. para cada sentenga assert va pode-se formar uma interrogag3o. Sentencial. Por essa raz3o, uma excla- maga. n3o pode ser considerada uma Comunicaeao, iA que nenhuma interroga, {g80 sentencial comespondente pade ser formada. Uma sentenca interrogativa e ‘uma sentenga assertwa contém o mesmo pensamento, mas a sentenga assertiva Ccontém ainda algo mais, a saber, a as- sergdo. A sentenca interrogata também contém algo mais, a saber, um pedido Duas corsas, portato. devem ser distin- guidas numa sentenga assertiva: 0 con- teudo, que ela tem em comum com a interrogagdo sentencial correspondente, 9 assergo. O primero @ 0 pensamen- to, ou pelo menos contém o pensamento , pois, possivel expressar um pensa- ‘Mento sem apresenté-lo come verdade’- ro. Numa sentenca assertiva ambos os aspecios estdo de tal modo ligados que é facil no atentar para a possibiidade de Separa-los. Consequentemente, distin. guimos: 1. @ apreensao do pensamento - 0 pen- 2. 0 reconhecimento da verdade de pen: Samento -0 julgar' 3. a manifestagao deste juizo - 0 asseri. © primero ato 8 realizado quando for- ‘mamos uma interrogagao sentencial Em Giéncia, usualmente um progresso se da Seguinte maneira’ De inicio. apreende-se ‘um pensamento, que pode ser eventual- mente expresso por uma interrogagao sentencial, 2 seguir. aps as investiga oes adequadas, este pensamento feconhecido como verdadero Expres- ‘Samos 0 reconhecimento da verdade sob a forma de uma sentenga assertiva Para ‘sto, n3o precisamos da palavra “verda- deiro”. E mesmo quando dela fazemos Uso, a forga assertva ndo se encontra Propriamente nela, mas na forma da Sentenga assertiva, e quando esta perde 4 Parcee-me quc ak 8 presente ny s€ fer oma stocingao saeente enttepasaento © jure aver a linguagem indica No 208, jul. 1999 AI.COTORADO. Paulo Gola Frege O Pomme ma inesose Ligon 287 sua forga assertva a palavra “verdadet- ro. nao padera reslabelecé-la Isto acon- tece quande nao se fala a serio Assim como 0 trovdo no teatro ¢ apenas um tiovao aparente. e uma briga no teatro é ‘apenas uma bnga aparerte, assim tam- bem a assergao no teatro e apenas uma asserco aparente. € apenas representa- $80. poesia. O ator a0 desempenhar seu Papel nada assere; tampouco mente, mesmo que diga algo de cua falsidade esteja convencido. Na poesia temos pen: samentos que se expressam sem que apesar da forca assertva da sentenca ‘Sejam postos como verdadeiros, e anda com a solcitagao, para que 0 ouvinte 0 juigue favoravelmente Portanto, deve- ‘mos sempre perguntar, quanco algo se apresenta sob a forma de uma sentenga assertiva, se realmente contem uma as- sergao. E esta pergunta deve ser respon- dia negativamente quando falta a sene- dade necessaria, Aqui ¢ irelevante se a palavra “verdadeiro’ € oy nd usada Explca-se assim por que parece que ‘nada acrescentado a um pensamento quando se the atribui a propnedade da verdade Uma sentenga assertiva encerra fre- ‘quentemente, além do pensamento e da ‘assergdo. um terceifo componente ao qual no se aplica a assergao. Com ele se pretende, ndo raramerte, agir sobre 0 sentimentos, o estado de alma do ‘uvinte ou estimular sua imaginagao Expresses como “infelzmente" © “gra- a8 a Deus" sdo desse tipo. Tais compo- entes da sentenga sao mais evidentes na poesia. mas raramente estao ausen- tes da prosa Ocorrem com menos fre- quéncia em exposigdes matematicas, fisicas ou quimicas do que em expos (Goes historicas. As chamadas ciéncias do espinto est8o mais proximes da poesia e 80 por isso menos cientificas do que as ciéncias exatas, que sio tanto mais art das quanto mais exatas ‘orem, pos a ciéncia exata esta vollada para a verdade e somente para a verdade Portanto, os Componentes da Sentenca aos quais n30 se aplica a forca assertiva no pertencem 4 exposicao cientifica, mas multas vezes. estes componentes sao dificeis de serem evitados, até mesmo por acuele que per- Sto Todo del ‘Rei. 6p 283-298, jul. 1999 cebe 0 pengo a eles vinculado Quando se trata de suger” 0 que nao pode ser apreendido pelo _pensamento. esses Componentes tem sua plena justficatwa Quanto mars rgorosamente cientifica for uma exposi¢ao, tanto menes discemivel sera a naciohalidade de seu autor. tanto mats facil sera traduzi-la. Por outro lado, esses componentes da finguagem para (05 quais quero aqui chamar a atengao, fazem com que a tradugao de um poema Seja muito difcl e que uma tradugao perfeta seja quase sempre impossivel Poss € precisamente nos componentes fem que as linguas mais se diferenciam, onde reside em grande parte 0 valor poe- eo N3o faz nenhuma diferenga para o pen- samento, se uso a palavra “cavalo”, “cor ‘cet, “ginete” ou “rocim”. A forga assertva do incide sobre aquilo em que estas palavras diferem © que em um poema pode ser chamado de atmostera, fragran fia. iuminarao e que & descrto pela ca déncia e pelo ritmo, n3o pertence ao pen- samento, Ha muttos recursos na linguagem que servem para faciltar a0 ouvinte a com reens3o. por exemplo, destacar um componente da sentenca atraves da én: fase ou da orden das palavras. Pense- mos em palavras como “anda ou “ja Com a sentenca “Alfredo ainda nao che- ou" o que a rigor dizemos é “Alfredo nao Chegou’ e se insinua que sua chegada & esperada, mas apenas se insinua Nao se pode dizer que 0 sentido da sentenga seja falso porque no se espera a chega- da de Aledo. A palavra "mas" aifere de *e" pelo fato de que com ela, se-sugere ‘que 0 que segue esta em oposi¢ao aquilo ‘que, segundo o antecedente. se espera va Tas msinvagbes do discurso nao fazem nenhuma’ diferenga no pensa- ‘mento. Pode-se transformar uma senten- {2 a0 se mudar 9 verbo da vez atwa para 2 voz passiva ¢ fazendo ao mesmo tem po do sujeito objeto direto. Do mesmo modo, pode-se transformar 0 objeto indi teto em sujeito pela substituicSo simulta ‘neamente de "dar" por “receber’ Certa- mente, tas conversées nao sao iele vantes sob todos os aspects, mas elas 18 ALCOFORADD, Pooks Goat rss 1 ensayo ‘nao afetam 0 pensamento elas nao ale- tam o que ¢ verdaderro outalso Caso se ‘admitisse que tais converstes sao de um modo geral_ improcedentes, ent8o se impediria toda investigagao logica mas rofunda T30 importante quanto evitar distingbes que do digam respeito a0 fucied do assunto € fazer distingoes que se referem 20 essencial Mas 0 que é essencial depende do abjetivo visado. 0 que ¢ irrelevante para 0 légico pode jus- tamente revelar-se importante para quem esteja interessado na beleza da lingua. gem, Assim, 0 conteudo de uma sentenca n3o raramente ultrapassa 0 pensamento por ela expresso Mas, também o oposto acontece com frequéncia, a saber 0 ‘mero enunciado verbal, aquilo que & fus- do no papel ou no disco fonagrafico, no @ suficiente para a expressio do pensa mento. © tempo presente do verbo é Usado de dois modos distinos: primera mente, para dar uma indicagio de tempo em segundo lugar, para eimnar qualquer restrigdo temporal, quando a intemporal- dade ou a eternidade forem parte inte- grante do pensamento Consdere-se. por exemplo, a5 leis da matematica Nelas unca é’dito qua! dos dos casos acima est em questao, mas se ten que adwi- SS Tahar Se 0 tempo presente do verbo é empregado para fazer uma indicacso temporal, entao é preciso saber quando a Sentenga foi proferida, para se aprender corretamente 0 pensamento Portanto, 0 tempo em que foi profenda é também arte da expresséo do pensamento Se alguém quiser dizer hoje o mesmo que expressou ontem usando a palavia ‘hoje’, tera que substitur estapatavra por oniem’. Embora o pensamento sejao mesmo, sua expresso verbal tem que Ser diferente, para que seja compensada 2 mudanga ‘do sentido que de outro ‘modo, ocorreria devido @ dlerenca de tempo do proferimento. Da-se 0 messmo com palavras como ‘aque “al Em todos ‘estes casos, 0 mero enunciado verbal, aquilo que pode ser fxado no Papel, 80 @ a expresso completa do Pensamento. Necessita-se. anda, para 3 Correta apreenso do pensamento, do conhecimento de certas cieunstancias ‘An. Files. Que acompanham 0 profenmento e que Servem para expressar 0 pensamento Isto pode clu tambem a agdo de ‘apontar com @ dedo, gestos, olhares O ‘mesmo enunciado que encerre a palavra “eu" expressara, quando proferido por diferentes pessoas, diferentes perso. mentos, alguns dos quars poderao ser | weadeves. outs, sos, A ocorréncia da palavra “eu” numa sen- tenga da margem a algumas outras questoes Gonsidere-se © seguinte caso. © Dr Gustav Lauben daz “Eu ful ferido” Leo Peter ouve isto e, alguns dias depos, twlata “O Dr. Gustav Lauben {oi ferido" Exprime esta sentenca o mesmo pensa- mento que 0 prolerdo pelo proprio Or Lauben? Suponhamos agora que Rudolf Lingens estivesse presente quando o Dr. Lauben talou e ouve agora o que Leo Peter relata. Se 0 mesmo pensamento twesse sido expresso tanto pelo Dr Lau- ‘ben como por-Leo Peler, entso Rudolf Lingens, que domina perfeitamente a lingua € se recorda do que disse 0 Or Lauibom em sua presenga, tem que saber de imediato, 20 ouvir 0 felato de Leo Pe- ter, que se esta falando da mesma coisa ‘Mas o conhecimento da lingua ¢ insufici- fente quando se trata de nomes proprios Pode. faciimente, acontecer que sO_pou- cas pessoas associem um pensamento determinado @ sentenga ‘O Dr. Lauben for ferido” Poss, para uma perfeita com reensdo dessa sentenga, ¢ necessano.o conhecimento das palavras "Dr. Lauben’ Se Leo Peter @ Rudolf Lingens entendem., ‘ambos, por “Dr Lauben’, 0 unico medica ‘que mora na residéncia que ambos co- ‘nhecem, entao anibos compreenderao a sentenga “O Dr Gustav Lauben foi feride da mesma manera, ambos associario a ela o mesmo pensamento. Entretanto, € lambem possivel que Rudolf Lingens 1130 conheca pessoaimente o Dr. Lauben e {que ndo saiba que foi precisamente o Dr Lauben quem recentemente disse. “Eu fui fendo’ Neste caso, Rudolf Lingens 30 pode saber que se trata do mesmo caso. igo, portanio, no,que concerne a este tema: o pensamento que Leo Peter ex- Pressa ndo é 0 mesmo que o que Dr 285-2, jul, 1909 ALCOFORADD, Paulo. Gat Hage O Pomme Vins Ieee Ligne Lauben expressou. ‘Suponha-se ainda que Herbert Garner saiba que 0 Dr Gustav Lauben nasceu ‘em 13 de setembro de 1875, em NN ue tal fato no se apique a mais rin- quem, em compensagac, suponna-se que eie ignora onde o Dr. Lauben reside atualmente e tudo mais 2 seu respetto Por outro lado, Leo Peter ndo sabe que 0 Dr. Lauben nasceu em 13 de setembro de 1875 em NNN, Entdo, no que diz res- Peito 20 nome proprio "Dr Gustav Lau- ben’, Herben Gamer e Leo Peter n4o falam a mesma linguagem, ainda que designem com este nome o mesmo ho- mem, eles ndo sabem que ¢ isto 0 que fazem, Portanto, Herbert Garner 130 associa a sentenga “O Dr. Gustav Lauben foi ferido” o mesmo pensamento que Leo Peter quer com ela expressar. Para re- mediar a inconveniéncia de Herbert Gar- ner e Leo Peter nao falarem a mesma linguagem, vou aqui supor que Leo Peter empregue 0 nome proprio “Dr. Lauben’ fenquanto que Herbert Garner emprega 0 nome “Gustav Lauben’. Agora, é possivel que Herbert Gamer tome como verdadel- FO © sentido da sentenga “O Or. Lauben fol ferido", ao mesmo tempo que, enga- nado por falsas informagbes, julgue ser faiso 0 sentido da sentenca “Gustav Lau- ben foi ferido’. Em face @s suposigses feitas, estes pensamentos $40, portanto, distintos, Consequentemente, quando se trata de um nome propre, que importa € como se apresenta aquilo que ele designa Isto ode ocorrer das mais dveisas maneicas .&. para cada uma destas maneiras, a ‘sentenga em que este nome proprio ocor- fe recebera um sentdo particular Os diversos pensamentes que assim resul- tam da mesma sentenca coincidem, ob- Viamente, em seus valores de verdade, isto 6, se um deles @ verdadero, entao todos $80 verdadeiros, e se um deles € falso, entdo todos sio falsos. Deve-se reconhecer, entvetanto, que $30 pensa- mentos diferentes, Assim, deve-se exigit ‘que a cada nome proprio se associe uma Unica maneira de se apresentar aquilo que ele designa. A satisiacso desta exi- géncia € muias vezes irelevante, mas ‘Aa. Filos. Sio Jodo de 29 em sempre Cada pessoa se apresenta a si mesma de uma maneira peculiar e ongnara, pela qual ndo se apresenta a mars ninguem ‘Assim, quando 0 Dr, Lauben pensa que for tendo, ele esta se baseando prova- velmente nessa maneira onginana de se apresentar a si propno, E $0.0 proprio Dr Lauben pode apreender os pensamentos assim determrados, Mas suponhamos que ele queira se comunicar com os de- mais. Ele n3o pode comunicar um pen- samento que So ele pode apreender Portanio, quando ele diz “Eu fui tendo ele tem que usar a palavra ‘eu’ em um sentido que posse ser apreendido tam- bem pelos demais, por exemplo no senti- do de “aquele que Ines esta falando neste ‘momento’, valendo-se para a express3o do pensamente das circunstancias que acompanham seu proferimento® Contudo surge aqui uma dificuldade Sera o pensamento invcialmente expresso pela primeira pessoa 0 mesmo pensa- ‘mento expresso pela segunda? Quem ainda nao fo! tocado peta flosofia ‘conhece de imediato coisas que pode ver € tocar, em resumo, que pode perceber ‘com os sentidos, tais como arvores, pe- dras e casas, e esta convencida de que qualquer outa pessoa possa igualmente ver @ tocar a mesma arvore ea mesma pedra que ele ve e toca Um pensamento evidentemente no faz parte deste géne- ro de coisas. Mas apesar disto, podera tum pensamento se apresentar dante dos lee rochs. Nis poss po som pv tnt de mae Kei pea ‘okknkesanente fn im ses balou fe cantar cin apres a ete pe Inc cm sf wenn nvsesivch revetide Semnitel es gan) Miso cal iat h ‘slusms dieidaies Users! rnin oxen Figura gon so gia Sate ae Tony sme up sn a acct, ‘hs fal a ct oon objets Se i Tope que quero cantar de pis ir esp toni cha INt\""" “DADE FEDERAL 00 RIO GRANDE 80 SUE 290 omens como 0 mesmo pensamento, tal come uma arvore se apresenta? Mesmo um nao-fiésofo reconhece que & necessario admit um mundo intenor ‘isto do mundo exterior, mundo das impress6es sensonais, das cnagées de ‘sua imaginacao, um mundo de sensa- bes. de sentimentos e estados de alma, Um mundo de inciinagdes, desejos e de- cisées Para ser breve, quero reunir tudo 'SS0. com excegao das decisdes. sob a palavra “idea” Pertencem, pois, os pensamentos a este mundo intenor? ‘Sao eles ideias? Obvia- mente, nao séo decis6es. Como se dis- tinguem as idéias das coisas do mundo terior? Primeiro: As idéias nao podem ser vis- !as, nem tocadas. nem cheiradas. nem egustadas, nem owvidas Fago um passeio com um companheiro. Jejo um prado verde; tentio a impressa0 ‘sual do verde. Tenho esta impressao, ‘nas ndo a vejo. Segundo: As idéias se tém. Tem-se sen- sacdes. sentimentos, estades de alma, nelinagdes, desejos Uma idéia que ak uém tenha pertence ao contetido de sua Jonsciéncia 9 prado e as ras que nele esto, © sol ‘we 0s iumina, al estéo incependente: “rente de se eu os vejo ou nto. Mas ii “ha impressdo sensorial do verde sO oxiste por mim, sou sev porlador Pare- ze-nos absurde que uma dor, um estado 4 alma, um desejo, possam vagar por si 308 pelo mundo, sem um portador. Uma vensagdo nao ¢ possivel sem que exista vem 2 sinta, © mundo interor pressu- %e alguem de quem ele € mundo mteri- Terceiro: As idéias precisam de um por. ‘ador_ As coisas do mundo exterior S80, elo contvano, independentes Yeu companheiro e eu estamos comven- ‘dos de que ambos vemos 0 mesmo ‘An. Fils. Sto Jodo det Re 6p. 283-208, jul 199 ALCOLORADO, Paula Glob Frege 0 Powsamento Uns bresigdLsgew Prado, mas cata um de nds tem sua Impressao sensoriat parteuler do verde Percebo um morango entre as. ‘oihas verdes do moranguerro. Meu companhei- 10 no 0 percete, & daltons. A impres- do de cor que ele recede do morango ‘uase no se distingue da que ele recebo da folha Pergunta-se, ser que meu companheiro vé a folha verde como ver- metha, ou sera que ele vé 0 fulo verme- ho como verde? Ou sera que vé ambas as coisas com uma unica cor que eu ‘absolutamente nao conhego? Tas per- guntas nao sdo passiveis de serem res Pondidas; rigor, so desprovidas de Sentido. Pois a palavra “vermetho", quan- do_designa ndo uma propiedade das coisas mas impressées sensoriais que ertencem a mnha conscincia, 36 € aplicavel na esfera de minha consciéncia Pors @ impossivel comparar minha im- reso sensorial com a de autrem. Para sso seria necessario reune, em uma ‘mesma consciéncia, uma impressao sen- Sonal pertencente a uma consciéncia € uma impresséo sensorial pertencente a ‘uma outra consciéncia, Mesme que fosse ossivel fazer desaparecer uma idéia de luma consciéncia e, simultaneamente, fazé-la ressurgit em uma outra conscén- Gia, ainda assim a pergunia de se esta seria a mesma idéia ficaria sempre sem resposta. Ser conteddo de minha consc- éncia faz de tal modo parte da esséncia de cada uma de minhas ideias que toda ideia de outrem 6, enquanto tal, distinta das minhas, Mas. nao seria possivel que ‘minhas idéias, 0 conteido total de minha consciéncia, fossem simultaneamente Contetido de uma conseiéncia mais am la. digamos, divina? Sim, mas somente ‘Se eu mesmo fosse parte da natureza Givina. Mas neste caso, seram elas real- mente minhas idéias? Seria eu seu por- tador? Isto utrapassa de tal modo os limites do conhecimento humano que temos de deixar esta possibidade fora de cogitagao. De qualquer manera. & impossivel para nds, seres humanos, comparar as idéias de outrem com as nossas propnas. Golo © morango, segu: {0-0 entre os dedos. Agora, meu compa- ‘their também 0 ve, € 0 mesmo moran- 90. mas cada um de nés tem sua propa ela. Ninguém, 2 no ser ev, tem minha ALCOLORADO Paulo. Ctl Fr: Romsey (om lepine » dela, embora_multas ouras pessoas possam ver a mesma casa Ninguem. a ‘no ser eu. tem a minha dor Alguem Pode ter compaxdo de mir, mas mesmo ‘assim minha dor sempre pertence a mim, sua compando, a ele. Ele nao tem a ‘minha dor. nem eu. sua compaixo Quarto: Cada idéia tem apenas um por- tador, duas pessoas nio tm a mesma idea De outro modo, ela existina independen temente desta ou daquela pessoa. Sera que aquela tila é minha wéia? Ao usar nesta pergunta a expressao ‘aquela tha ja antecipei a resposta. Pois, com esta expressdo quero designar aigo que vejo © que outras pessoas. tarrbem podem Contemplar e tocar. Agora ha duas pos- siblidades. Se minha intengdo se realiza quando designo algo pela expresso “Aquela tila”. ento 0 persamento ex- presso pela sentenga “Aquela tila & m= ‘tha idea” tem, evicentemente, que ser rnegado Se, por outro lado, minha inten- ‘:20 nto se realiza, se apenas parece que \ejo sem realmente ver, se por conse- guinte a designago de *Aquela tli” for vazia, entdo me exiravei, sem o saber € querer, na estera da fcgao. Neste caso ‘nem 0 conteudo da sentenga “Aqueta ta € minha idéia’. nem o conteido da sen- tenga “Aquela iia ndo € minha déia’, $80 verdaderros, 8 que em ambos os casos, tenho um enunciado ao quai fata 0 obje- to Por conseguinte, $6 cabe recusar a responder a esta pergunta alegando que © conteudo da sentenea “Aquela tila & minha ieia” € uma fiogao. Certamente tenho uma idéia, mas nao me refiro a ela com as palavras “aquela tila” Mas, al guém poderia realmente querer designar tuma de suas déias com as palavras “aquela tia’. Neste caso, ele seria o portador daquilo que ele queria designar com estas palavras. Mas nesta cicuns- tancia, ele nao veria aquela tika, € nin- guém tampouco a vera, nen seria seu Portador. Retomo agora 4 pergunta seré que o pensamento @ uma idéia? Se 0 pensa ‘mento que expresso no teorema de Pita- goras pode ser reconhecido como verda- ‘An. Files, Sie Joo del-Rei, w. 6, p. 283-298, jul. 19 erro tanto por outros quanto por mim, enido ele ndo pertence a0 conteudo de minha consciénaa, no sou seu portador mas posso apesar disso. reconmecé-lo ‘como verdadero Mas se nao é o mesmo Pensamento 0 que eu e outrem conside: ramos como 0 conteudo do teorema de Pitagoras entdo ndo seria adequado dizer “0 teorema de Pitagoras”, mas “meu teo- rema de Pitagoras’, “seu teorema de Pitagoras" e estes seriam distintos, uma vez que 0 sentido pertence necessana. mente a0 teorema. Ent3o meu pensa- mento pode ser 0 conteido da minha Consciencia e seu pensamento conteuido da sua consciencia. Paderia ent3o 0 sentido do meu teorema de Pitagoras ser verdadeite, © © do seu. falso? Ja disse que 2 palavra ‘vermelho" sé € aplicavel nna esfera de mma consciencia sempre ‘que enuncie nao uma propnedade das coisas, mas algumas de minhas impres- SOes sensoniais. Assim, também as pala vras ‘verdadero’ e “felso’. tal como as entendo, $6 poteriam ser aplicadas na esfera de mnhaconsciéncia, caso nao se teferissem a algo do qual nao sou porta- dor, mas se destnasse, de algum modo 2 caracterizar conteudes de minha cons. ciéncia Entdo, averdade estaria confina a a0 conteudo de minha consciéncia. € @ ocorrénaa de algo semelnante na conseiéncia de autrem continuaria duv dosa ‘Se todo pensamento necessita de um Portador a cujo conteudo de consciénera pertence, entéo ele € um pensamento este portador apenas. e nao ha uma éncia_comum 3 muitos individuos. na qual possam travalhar em conjunto Ao Contranio. taivez eu tenha minha propa Giéncia, a saber, uma totalidade de pen- samentos de que sou portador enquanio tum outro tenha também sua propria cxén- cia. Cada um de nos se ocupa com os conteddos de sia propria consciéncia Nao sena possivel. entao. uma contradt {a0 entve as duas ciencias e. a ngor. toda disputa em torno da verdade Sena ociosa ‘ao mul e ndicula como se duas pessoas discutissem se uma cedula de cem mar- cos é aulénbca, referindo-se cada qual a Ccédula que tem ro botso e entendendo a palavra “auléntico” a sua propria manewa Se algueém toma os pensamentos como déias, ent3o 0 que ele reconhece como verdadero € segundo sua propria opin. 0, um conteudo de sua consciéncia, ‘ue, a rigor, € algo que ndo diz respetlo aos outros. E se ele ouvsse de minha Parte 2 opiniao de que um pensamento 130 ¢ uma idéia, ndo poderia contesta-a, ois isto, mais uma vez, no he dina respeito. Assim, 0 resultado parece ser 0 seguinte. 0 pensamentos no sao rem coisas do ‘mundo exterior, nem idéias. E preciso admitir um terceiro dominio. O que a este pettence coincide com as Idéias, em que nao pode ser percebto pelos Sentidos, e tambem com as cosas, em que nao necessita de portador a cujo conteudo de consciéncia pertenca AS. sim, por exemplo, 0 pensamento que expressamos pelo teorema de Pitagoras ¢ intemporalmente verdadeit, verdadero independentemente do fato de que al. guém o considere verdadeiro ou nao. Ele ‘Nao requer nenhum portador. Ele ¢ ver- dadeiro nao a partir do momento de sua descoberta, mas se assemelha a um planeta que, |2 se encontrava em intera- ‘¢40 com outros planetas antes mesmo de aiguem o ter visto ® Creio, porém, ouvir uma odjegio inco- mum. Admit, por diversas vezes, que a mesma coisa que vejo pode ser também Ser observada por outras pessoas Mas, Como isto poderia acontecer se tudo fos. se apenas um sonho? Se apanas sonhei que passeava em companha de outra pessoa, se apenas sonhei que meu com. anheiro viu, assim como eu, 0 prado verde, se tudo isso fosse apenas uma pega representada no palco de minha Consciéncia, entéo seria duvidasa a pro- ria existéncia das coisas do mundo exte- for, Talvez 0 dominio das coisas sepa vazio, € eu no vejo nem coisas, nem f Ven: ums eos. tome ums A. aptecnk-ee 0 pense i pensament. Malo se apes ‘ose poms um pense. esc nae eva mun ‘€ estabelece com ele uns certa tule que fy vista antriormnte, um rclagto lage de ver umm abjcto deter ums ‘An. Files. Sio Jodo deh Re ALCOFORADO, Paes Gaakh Pree 0 Porsameme ime bmesngme Lixocs homens, mas tenha talvez apenas idéias das quais eu mesmo seja 0 portador Uma ideia, que ¢ algo que ndo pode exis- tr independentemente de mim tanto quanto n3o 0 pode minha sensacao de fadiga, nao pode ser um homem, nao ode contemplar o mesmo prado junta. ‘mente comigo, ndo pode ver 0 morango ue estou segurando. E absolutamente ‘macreditavel que, em lugar do. mundo ‘@rcundante no qual me julgava movi. mentar e agir, eu tenha, a rigor. apenas meu mundo terior. E, no entanio, isto é 2 consequéncia inevitavel da tese de que $6 aquilo que & minha idéia pode ser objeto de munha contemplaco. Que re- sultania desta tese caso se ela fosse ver- adeira? Haven, entao, outros homens? Isto, certamente, seria passive! eu porem ada Saberia a respeto deles: pois um homem nao pode ser minha idéia e. con- Sequentemente, se nossa tese fosse verdadewra, ele tampouco poderia set dbjeto de minha contemplac3e. E. com '5s0, ficariam sem base todas as ponde- Tagdes em que eu supunha que algo Pudesse ser objeto para outrem, tanto quanto para mim, Pots, mesmo que isto ceorresse, eu nada sabena a respeilo. Sena _para_mim impossivel distinguir ‘aguilo de que era portador daquilo de que "do era portador. Ao julgar que algo nao era minha idéia, tornava-o objeto de meu pensar e, assim, tornava-o minha idea Exstira, segundo esta concepcgo, um prado verde? Talvez, mas ele nao seria Visivel para mim Se um prado nao ¢ minha idéia, ele nd0 pode, segundo nos 5a lese, ser objeto de minha contempla- (G80. Mas. se ele é minha idéia, entao & inisivel, pois ideias no S20 visiveis, Posso, de fato. ter a idéia de um prado Verde, mas isto ndo € verde. pois n3o ha ideas verdes. Exist, segundo essa Cconcep¢o, um projéti’ pesando 100 kg? Tatvez, porém nada podena saber a seu Fespeito, Se um projétil no é minha idéta, entio, segundo nossa tese, ele no pode Set objeto de minha contemplacdo. de ‘meu pensar. Se, no entanto, um projet fosse minha ideia, enio no tera peso Novese que na cpa em ye este tig fi ‘santa, pres ke HD bg grain imines argument ON. 1) n. 6p 285-298, jul 1909 ALCOLORADD, Pas Goto Foxe O Fennamente Lim fmeingd Liger Py algum. Posso ter uma idéia de um projet pesado Esta conteria, entSo, como parte da idéia, a idera de peso. Esta parte da idéia ndo @, porem, propriedade da ideta total, da mesma maneira que a Alemanha ‘no 'é propriedade da Europa Entdo, resutta que Ou é falsa a tese segundo a qual so ‘aquilo que & minha idéra pode ser objeto de minha contemplac0, ou todo meu saber e conhecimento limtam-se 20 do- minio de minhas idéias, a0 palco de mi- nha consciéncia. Neste caso, eu tena ‘apenas um mundo interior e nada saberia ‘a Tespeita dos outros homens. E ostranho como nostas concideragées sata-se de um extremo a outro. Tome- mas, por exemplo. um especiasta em fistologia dos sentidos. Como convém a tum naturaista de formagae centifca, ele esta muito longe de tomar como idéias suas as coisas que esta convencido de ver @ tocar Ao contrario, ee acredita ter ‘nas impressdes sensofias as provas mais seguras de que ha cosas que exis: tem em total independénesa de seus sen- fimentos, idéias, pensamentos, e que no nevessitam de sua consciéncia, Ele tam ouco considera que as fibras nervosas © Ccéulas ganglionares sejam conteido de sua consciéncia. Pelo contano, ele esta ‘mais incinado a considerat sua consc ncia como dependente das fibras nervo: a3 e células ganglionares. Constata que 105 ralos luminosos, ao retatarem-se no ‘tho, atingem os terminais do nervo otico, Causando ai uma mudanga, um estimulo, Parte © vensmitivo, alreves. das bras nervosas, as células ganghonares. A isto se unem talvez processos adiconais do sistema nervoso e surgem sensagées cromaticas, que se_unem, por sua vez ‘para dar lugar talvez 30 que chamamos Ge idéia de uma arvore Ente a arvore e tmunha idéia se intercalam processos fis- £08, quimicos e fisioldgicos. Mas relacio- nnados, de modo imediato com minha consciéncia so estdo, 30 que parece processos de meu sistema nervoso, € {odo observador da arvore tem seus pr6- fpfos processos em seu priprio sistema Nnervoso, Os. raios luminasos. orem, odem ter sido refietidos em um espelho antes de penetrarem em meu oho. pro- agando-se como se proviessem de un lugar situado detras do espelno Os eter, tos sobre 05 nervos dlicos @ tudo © que se segue terdo lugar exatamente como 'S€ 05 raios lummnosos twessem partido de. uma arvove situada atras do espelho e £0 propagada sern interferéncia ate o olho E desse modo, uma idéla de uma arvore finalmente surgra, mesmo que tal arvore absolutamente nao exisia Pela refracso Ga luz e, por inlermedio do olho e do sis tema nervosc, pode também onginar-se uma ideia 4 qual nada cortesponde A estimulagao do nervo ético, porém, pode ocorrer mesino sem luz. Se um rao cai perto de nos acreditamos ver chamas, mesmo quo no possamos ver © propne aio. Neste caso, 0 nervo dtico @ estima lado por correntes elétricas que se ong- am em nosso corpo em consequénca da descarga do raio Se 0 nervo otico é estimulade por esie meio da mesma ma- neira que seria estimulado por raios lumi Rosos provernentes de chamas, entao acreditarras ver chamas. Tudo depende ois da estimulago do nervo diico. sen- do irelevante como esta é produzida Pode-se anda dar um passo adiante A igor, esta estimulagao do nervo dtica no e dada imediatamente, mas ¢ apenas de uma suposigao Acreditamos que algo independente de nos estimule um nero . assim, produza uma impresso senso- nal Mas, estndamente falando, vivenca- ‘mos apenas © término deste processo que penetra em nossa consciéncia Sed que esta mpressdo sensorial. esta sen- sagao que atnibvimos. a um estimulo ner. voso, nao paderia ter também outras causas, do mesmo modo que 0 mesma estimulo nervoso pode originar-se dos mais diferentes modos? Se chamamos de idéia a0 que ocorre em nossa cons: éncia, entdo 0 que vivenciamos so xdes as, ndo suas causas. E a0 pesquisador que quer exchur tudo 0 que seja mera Suposigao, 50 the restam idéias. Tudo se dissolve em ideas, inclusive os raios luminosos, as tras nervosas ¢ as célu- las ganglonares das quais havia partido ‘Assim, ele acata por solapar os funda- mentos de sua propria construgdo Sera que tudo ¢ idésa? Sera que tudo precisa -P. 283-298, jal 1590 204 ALCOFORADO. Pals Cuntoh Frege 0 Pemmeno: Una Inept Lica de_um portador sem 0 qual no teria existéncia (Bestand)? Cansidere-me ortador de minhas ideas, mas n3o seria eu mesmo uma ideia? Parece-me como se estivesse recostade numa espregu- adeira, como se visse as pontas de um ar de botas engraxadas, a parte dianter. a das calgas, um colete, botGes, partes de um paleto, especialmente as mangas, duas macs, alguns fios de tarba, 0 vago perfil de um nariz. E todo esse grupo de Impressdes visuais, esse conjunto de idéras, sera eu mesmo? Parece-me, tam. bem, como se visse ai uma cadeira. E uma idéia. A rigor, no sou muito dife- rente dela. Pois, ndo sou eu mesmo ape- ‘nas um conjunto de impressdes senson- ais, uma idéia? Mas onde esta ento 0 ortador destas ideias? Como chegue! 3 'Solar uma destas idéias e insttui-la como Portadora das demais? Por que tem que ser esta a idéia que tenho por bem cha. mar de eu? Nao poderia igualmente es- olher. para esse fim, aquela idéia que me sinto tentado a chamar de cadewa? Por que, afinal de contas, um portador Dara as idéias? Um portador seria sem- bre algo essencialmente diferente das ‘dias de que é meramente portador, algo de independente que nao necessitana de qualquer portador alheio. Se tudo é idéia, entao ndo ha nenhum portador das ide! a5. . assim, uma vez mais, assistimos tum salto para 0 outro extrem Se nao ha ortador das idéias, entio também nao ha idéias. Pois, as ideias precisam de um Portador sem o qual ndo podem existir Se no ha soberano, tampouco ha sidi- 08. A dependéncia que fui levado a atri- buir @ sensacdo em relagdo aquela que a sente, desaparece caso nao mais exista um portador. O que chamava de idéias ‘540 entdo objetos independentes. Endo ha nenhuma raz3o para conceder um lugar especial aquele objeto que chamet e eu. Mas @ isto possivel? Pode haver uma wiwéncia sem alguém que a vvencie? O ‘que seria de toda esta encenag3o sem lum espectador? Pode haver uma dor em alguem que a tenha? O set sentido é aigo que pertence necessariamente a or, € 0 ser sentido pertence por sua vez @ alguém que a sinta. Mas existe ha algo An Fibs Sip Taio FRAC wp THOR TO Que ndo minha idéia e que, ainda as- sim. pode ser objeto de minha contem- Plagd0, de meu pensar. e eu sou algo dessa espécie. Ou sera que eu posso ser ‘uma parte do conteudo de minha consci- éncia enquanto que oulra parte seria talver, uma idéia de lua? Sera que isto ‘corre quando julgo que observo a lua? Eni3o, esta pnmeifa parte teria uma consciéneia, € uma parle do conteudo desta consciénca seria navamente eu. E ‘assim por diante. De fato, € inconcebivel que eu esteja encerrado dentro de mim até 0 infinto. Pois, neste caso havena, ‘mais de um eu, na verdade haveria uma infinidade. Eu nao sou minha propria idéia ©, quando afirmo algo sobre mim mesmo. por exemplo, de que ndo sinto neste mo- ‘Mento neahuma dor, ento meu juizo diz Fespeito a algo que ndo € conteudo de minha consciéncia, que no é minha ‘deta, vale dizer, eu mesmo. Portanto, aquilo a respeitc do qual enuncio algo ‘no € necessariamente minha idéia. Mas. falvez se objete 0 segumnte: se penso que Neste momento no sinto nenhuma dor, ent2o nao corresponde palavra “eu algo do conteuido de minha consciéncia? E no 6 isto uma kdéia? Pode ser Uma erta idéia de minha consciéncia pode estar associada 4 idéia da palavra “eu” Mas, entdo. se trata de uma idéia entre outras idéias, e ey sou seu portador as- Sim como sou o portador de outras ieias Tenho uma ideia de mim mesmo, mas eu ‘ndo sou essa idtia. Deve-se distnguir ‘itidamente 0 que € conteddo de minha ‘consciéncia. o que € minha idéia. do que 6 objeto de meu pensar. Portanto, ¢ falsa a tese de quo 56.0 que pertence a0 con- teudo de minha consciéncia pode ser objeto de minha contemplagao, de meu pensar ‘Agora, esta live o caminho para que eu 'Possa reconhecer um outro homem como ortador independente de idéias. Tenho ‘uma idéia dele, mas no a confundo com ole. E se enuncio algo a respeito de meu lmao, ndo © enuncio sobre a idéia que dele tenho enfermo que tem uma dor & portador desta dor. O médico que 0 atende, que ‘eflete sobre a causa desta dor, no € ALCOLORAD, Paks Gtad 1056 0 Pomamente Lin ness Lig 295 portador da dor Ele no imagina que possa aliviar a dor do enfermo anestesi ando-se a si mesmo A dor do enfermo ode por certo corresponder uma ideia na Consciéncia do medico. mas esta ndo @ a dor, nem € aquilo que o medico se esfor- a por elmnar © medico podenia con- Sultar um outro medico Entdo. deve-se distinguir. pnmevo. a dor cujo portador & © enfermo, segundo, a ddéia que o primei- ro médico tem desta dor, terceiro, a deia ‘que 0 segundo médica tem dessa dor. Esta dela, de fato, pertence ao conteudo {a consciéncia do segundo médico. mas 1ndo € objeto de sua refiexdo, ¢ antes um ‘apoio para a reflexao, tal como podenia Ser talvez um desenho Ambos os médi- cos. tém como objeto comum de pensa- ‘mento a dor do enfermo, da qual eles nao ao portadores. Depreende-se disto que go somente uma coisa, mas tambem uma ideia, pode ser objeto comum do pensar de homens que n3o tém essa ‘deta ‘Assim, parece-me que a questo se torna inteligivel Se o homem ndo pudesse pensar e no pudesse tomar como objeto 6e seu pensar algo de que no é porta: dor, ele teria um mundo interior, mas nao um’ mundo circundante. Mas, ‘sera. que tsto nao resulta de um engano? Estou ‘convencido de que & idéia que associo as palavras “meu imo" corresponde algo ‘que n3o € minha ideia e sobre 2 qual posso enunciar algo. Mas nao posso eslar enganado quanto a esta questo? ‘ais enganos acontecem e. assim, contra (95 nossos propositos caimos na ficc30 Seja!_ Ao conquistar um mundo circun- ‘ante, exponho-me ao perigo de cometer um engano. E, aqui, deparo com outra diferenga entre meu mundo interior € 0 ‘mundo exterior. Nao posso cuvidar de ter ‘a impressio visual do verde. Mas, que eu veja uma folha de tila ja nao é t80 segu- fo. Assim, no mundo mlerior, contraria- ‘mente a opindes amplamenie difundidas, encontramos certeza, a0 paso que em ossas incursdes pelo mundo extetior, 2 duvida nunca nos abandona totalmente, NNo entanto, em muitos casos, a probabil dade quase nao se distinue aqui da certeza, de modo que podemos ousar proferir juizos sobre as coisas do mundo ‘An. Fils: Sdo Joo del exterior E temos que ousar mesmo com © sco de cometer um engano. se nao quisermes sucumbir a pengos ainda mai- ores Como resultado das ultimas consiera- (Goes, constato 0 seguinte. nem tudo 0 que pode ser objeto de meu conheci- mento € uma idéia. Eu proprio, como portador de ideias, ndo sou uma idéia Nada impede agora de reconhecer outros homens como portadores de idétas. como eu mesmo 0 sou. E uma vez dada a pos- sibildade. a probabilidade ¢ musto gran de, t20 grande que, em minha opinigo, ‘nao mais se distingue da certeza Have- ‘ia, de ovo modo. uma ciéncia da hist6- ‘ia? Toda teoria do dever, toda ciéncia do direito, ndo senam de outro modo des- truidos? Que restaria da religido? Tam- bem as céncias naturais $6 poderiam ser ‘abordadas como obras de ficgdo, tal ‘como a astrologia e a alquimia Portanto as reflexes precedentes que pressupu- ham de que alm de mim ha outros eres humanos que podem fazer objeto de sua cantemplac3o, de seu pensar. 0 mesmo que eu. nada perderam, quanto 20 essensal. de sua forga Nem tude é idéia Deste modo, tambem 'posso reconhecer como independente de mim. 0 pensamento que oulios. seres humanos podem aprender tanto quanto eu. Posso reconhecer uma ciéncia em que muitas pessoas estéo empenhadas fem pesqusas Nao somos portadores de Pensamentos como somos portadores de ossas ideias N3o temos um pensa- mento do mesmo modo que temos uma impress sensorial. E também nao ve- ‘mos um pensamento como vemos. por exemplo, uma estrela Por esta raza0. € aconselhavel escolher aqui uma expres- 80 especial, e a palavra “aprender” Wfassen) se oferece a nds como uma solugdo A apreensao” de pensamentos 8 cypress “army” € he gwen Ss eypecesio vai se nsec 73: Tinguazem ae periite ie sebt AAS Ioan O'gie Sez snr ape ser cesmcmpade cons eon a Me a © emeino de mana 6° str inte moe deen pa ls ya mai stant Tap SEM HH 296, [ALCOFORADO. Paso. Goto bre Pesce: Une Imeipact Lia deve corresponder uma facudade mental especial a faculdade de pensar. Ao pen- Sar no produzimos pensamentos, mas 98 apreendemos, pois o que chame! de pensamento esta na mais estreita relaco com a verdade. O que reconhero como verdadeiro julgo ser verdadero indepen- dentemente de reconnece-o como ver- dadeiro e independentemente de pensa- lo. O ser verdadeiro de um pensamento nada tem a ver com o fato de ser pensa- do, “Fatos! Fatos! Fatos!" exciama o ci- ista, quando quer inculcer a:pecessi dade de uma fundamentacao segura para a ciéncia. O que é um fato? Um fato é um pensamento que é verdadeiro. Mas o Gientistacertamente 80. reconhecera como fundamento seguro da ciéncia algo ue depende de estados de consciencia mutavets do homem. A tarefa da ciéncia no consiste em um criar, mas em um descobnr_pensamentos verdadeiros. O astrénomo pode aplicar uma verdade matematica @ investigacao de eventos ocorridos em um passado longinquo, quando na terra, pelo mencs, ninguem ainda havia reconhecido essa verdade Ele pode fazer isto porque o ser verdadei- 0 de um pensamento & intemporal. Don- de, essa verdade nao pode ter-se ongi- nado com a sua descoberta Nem tudo é idéia. Caso contiario, a psi- olagia conteria em si todas as ciéncias ou seria, pelo menos, o supremo juiz de ‘odas as ciéncias. Caso contianio, a psi- cologia imperaria também sotre a Logica a Matematica, Mas seria desconhecer profundamente a matematica querer su- Dordina-la & psicologia. Nem a lgica nem a matematica tém como tarefa in- vestigar as mentes e 0 conleddos de sonsciéncia cujo homem individual & sortador. Pelo contrario, poder-se-ia as. sinalar-thes como tarefa a investigagao Jo espinto, do espinito e n3o dos espin- ‘os. A apreenso de um pensamento pressu- 20e alguém que apreenda, aguém que tense. Esto alguem é onto 0 portador do pensar, mas nao do pensamento, Embo 1 8 os305. eS MseUTES eA COMSHHEA © se ‘endie Ti Fibs Sia Toto REL PA ‘2.0 pensamenta nao pertenga 20 conte- Lido da consciéncia de quem pensa, no entanto na conseiéneia tem que Raver algo a que vise esse pensamento. Mas tslo ndo deve ser contunddo com 0 pro. Pho pensamento Como Algol’ ela mesma. ¢ distinta da idéia que alguém tem de Algol. © pensamento ndo pertence nem a meu mundo intenor, como uma idéia, nem tampouco 20 mundo exterior. 20 mundo das coisas sensorialmente perceptivers. Por convincente que possa parecer este resultado, ele nado sera talvez aceito sem Fesisténcia, A muttos, acredito, parecera impossivel obter informago sobre algo ue no pertenga a seu mundo interior. 3 do ser pela percepgao sensorial De falo, a percepgao sensorial & frequente- ‘mente considerada a mais segura, senao a dnica. fonte de conhecimento para tudo Que nao pertenga ao mundo interior. Mas, com que direito? De fato, a impressao sensorial € um componente necessanio dda percep¢do sensorial, e aquela é uma parte do mundo interior. De qualquer modo. dois homens ngo tém a mesma impressao sensoral, embora possam tet Impressées sensoriais similares Porem ‘isoladamente, elas no nos revelam 0 ‘mundo exterior. Talvez exista um ser que 0 tenha impressées sensonais, sem ver ‘ou tocar coisa alguma Ter impressbes visuais no ¢ ainda ver algo. Como é ossivel ver a drvore exatamente ali onde a vejo? Evidentemente que isio depende de minnas impress6es visuais e do card- ter peculiar de serem produzidas pelo fato de eu ver com dois olnos. Em cada uma das fetnas se produz. fisicamente falando, uma certa imagem. Uma outra pessoa também v8 a arvore no mesmo lugar. Também ela tem duas imagens felimanas, mas elas diferem das minhas, ‘Temos que supor que estas imagens feliianas s80 determinantes de nossas impressées. Portanto, temos impressoes visuais que no somente néo sao as mesmas, mas qu> marcadamente $30 distntas ‘umas das outras. E, contudo, ‘movemo-nos no masmo mundo exterior ima estrta da consteagio de Porc (Nd) 98 jul. 1999 AVCOLORADO Pale God bs O Forament ims leo Ls Pd Ter impressées visuas & certamente necessario, embora ndo suficiente, para ver algo. O que € ainda preciso acres. centar ndo é sensivet. E e isto justamente © que toma acessivel para nos o mundo exterior, Pois, sem esse algo nao Sensivel, todos permanecesam encerta- dos em seu mundo interior. E, j@ que 0 elemento decisivo se encontra no nao- sensivel, este algo ndo-sensivel poderia também’ conduzi-nos, mesmo sem o cconcurso de impressées sensoriais, para fora do mundo interior e permite a’apre. ensio de pensamentos. Alem do préprio mundo interior, deveriamos distinguir entre o mundo exterior propriamente dito constituido das coisas percepliveis ser sorialmente, e 0 dominio do que nS pode ser percebido pelos sentidos. Para © reconhecimento de ambos os dominios precisariamos de algo ndo-sensivel. Mas. Para a percepgao sensivel das coisas, recisariamos ainda de impressoes sen- Soriais, e estas pertencem inteiramente ‘ao mundo interior. Assim, aquilo em que ‘se radica a diferenga entre 0 modo pelo qual uma coisa e ‘um pensamento ‘séo dados é algo que nao deve ser assinala- do a nenhum destes dominios, mas 20 mundo interior. Tal diferenga porem no me parece to grande a ponio dela tornar impossivel, um pensamento que nao Pertenga ao mundo intenor. Certamente, 0 pensamento ndo € algo que se chame habitualmente de real, O mundo do real é um mundo em que uma cassa age sobre cutra, transformando-a e. or sua vez, experimentando ela propria uma reagao que a transforma, Tudo Isto ‘ocorre no tempo. Dificimente reconhe- ‘cemos como real 0 que é intemporal © imutavel. E, pois. 0 pensamento mutavel ‘ou é intemporal? O pensamento que enunciamos no teorema de Pitagoras & certamente intemporal, eterno, imutavel ‘Mas n3o ha pensamentos que 830 ver- dadeiros hoje, mas faisos decorndo um semestre? Por exemplo, 0 pensamento. por exemplo, de que aquela arvore esta coberta de folhas verdes, sera segura- ‘mente faiso com 0 decorrer de um se- mestre “ Nao. posto que no se trata do mesmo gensamento AS palavras “Esta avore esta coberta de folhas verdes” nd0 bastam por si mesmas para expressar 0 pensamento. pos 0 momento do profen- mento também faz parte dele Sem a incicagao temparal, que @ dada pelo mo. mento do profenmento, nao temos ne- hum pensamenio completo. vale dizer. no temas absolutamente nennum pen- ‘samento Sé uma sentenga complemen tada por uma indicago temporal, € com: eta sob todos os’ aspectos, expressa Um pensamento. Mas este pensamento, caso sep verdadeiro, nao € verdadexo somente hoje o& amanha, porém intem- Poraimente verdadeiro O tempo presente em "@ verdadero” no indica pois 9 mo: mento presente de quem fala, mas, se a ‘expressao me for permitida, um tempo da memporatidade. Quando empregamos 2 mera forma da sentenga assertva. evi- tando a paiavra “verdadeiro”, dever-se

Você também pode gostar