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MIR AMIN GEOPOLITICA DO IMPERIALISMO CONTEMPORANEO’ ‘A anilise que aqui proponho baseia-se numa concepgao histérica geral da expan- sao do capitalismo que desenvolvi em outro lugar, € que aqui no pretendo reomat.’ ‘Com base nessa concepsio, 0 capitalismo sempre foi, desde suas origens, um sistema polatizante por sua propria navureza, isto é, imperialista. Tal polarizacéo — ou seja, a formasio simultinea de centros dominantes ¢ de periferias dominadas e a sua reprodu- «io sempre mais ampliada em cada etapa sucessiva ~ & imanente a0 processo de acumu- lagto do capital operando em escala mundial, fundado sobre o que defini como “a Iei mundializada do valor” Nessa teoria da expansio mundial do capitalismo, as transformagdes qualitativas dos sistemas de acumulagio entre uma fase e outra de sua histéria, determinam por sua vex as formas sucessivas da polarizagao assimétrica centros/periferia, isto é, do imperia- lismo concreto. Portanto, o sistema mundial contemporaneo esté destinado a permane- «er imperialista (polarizante) por todo o futuro previstvel, dado que a logica fundamental de seu desenvolvimento continua determinada pelo dominio das relagdes de produsio capitalistas. Logo, essa teoria associa estreitamente imperialismo ¢ processo de acumula- ‘40 de capital em escala mundial, que por isso considero como uma tinica realidade, cujas dimensGes distintas so praticamente indissocidveis. Essa concepga0 se distingue, entretanto, seja da versio vulgarizada da teoria leninista do “imperialismo como fase superior do capitalismo” (como se as fases anteriores da expansio mundializada do capi- talismo nao tivessem sido polarizantes), seja das teorias pés-modernas contempordneas, que definem a nova mundializagio como “pés-imperialista’? “Geopolicca dimple contemporancs, em hisp/Inwwciragliberath ead. Gerldo Maglla Nevis. Oe inalmente pubicado como capital final emt Wim Dicrcasens & Cass Tabada, Gner global, resironas mondiale alternative (2003) Ver Samir Amin, Clase naron dens Chis teers omempontine, capitals VI « VI (Pcs: Minuit, 1979), LE carcerrime, capil (Pcs: Antropos Econbmic, 1988): Adee di epitalime sil, pur wm XXI™ scle emda (Pats: PLE, 2001) Para erca do ps moderismo eda use de Neg ver Sait Amin, Crigue de ar au emp, captalo VI (Pais Montreal: Harmattan, 1997); Levinas libra! (Pris: Le Temps det Ceres, 2003) p. 20 Do cONFLITO PERMANENTE DOS IMPERIALISMOS AD IMPERIALISMO COLETIVO Em seu desenvolvimento mundializado o imperialismo sempre se conjugou no plural, desde manente e freqlentemente violento, ocupou um lugar decisive na transformagio do mun- as origens no século XVI até 1945. O conflito entre imperialismos, pes- do, 20 lado da luta de classes, através dos quais se exprimet as contradigées fundamentals do capitalismo. Em nossa época, as lucas sociais € 0s conflitos entre os diversos imperia- lismos se articularam estreitamente, determinando o percurso de desenvolvimento do capitalismo realmente existente. Assinalo ainda ‘que a anilise que proponho se distingue profundamente daquela centrada na “sucessao de hegemonias’ ‘A Segunda Guerra Mundial rerminou com uma grande transformagio que alterou profundamente as formas do imperialismo: a adogio de um imperialismo coletivo, reu- rnindo © conjunto dos centros do sistema mundial capitalista (de forma simplificada, a triade: os Estados Unidos ¢ sua provincia exterior canadense, a Europa ocidental ¢ central € 0 Japio) em substituigao & multiplicidade de imperialismos em conflito permanente Essa nova forma da expansio imperialista atravessou diferentes fases de desenvolvimen- to, porém continua ainda bem presente. Nessa perspectiva, deve ser situado 0 eventual papel hegeménico dos Estados Unidos, exigindo, no entanto, precisat as bases ¢ as for- mas com que se articula 0 novo imperialismo coletivo. Essas quest6cs colocam proble- ‘mas que sio precisamente aqueles que pretendemos abordar neste artigo. Os Estados Unidos obriveram vantagens enormes com a Segunda Guerra Mundial, a qual arruinou os seus principais adversérios ~ Europa, Unido Soviética, China e Japa. Consegtientemente, eles se viram na possibilidade de exercer a sua he} ca, jd que concentravam mais da metade da produgio industrial do mundo na época € detinham a exclusividade do controle das novas tecnologias que moldariam o desenvolvi mento da segunda metade do século XX. Alm disto, eles detinham a posse exclusiva de armas nucleares — a nova arma “absolusa’. E por isso que fixo o inicio do pés-guerra nao em Yalta, como € aceito freqiientemente (em Yalta, os Estados Unidos ainda nao tinham a bomba atémica), mas em Postdam, isto é, alguns dias antes do bombardeio de Hiroshi sma e Nagasaki, Em Postdam o tom americano havia mudado: jé haviam tomado a deci- sio de deflagrar aquilo que se tornaria a “guerra fra”. Contudo, essa dupla vantagem absoluta foi superada em um tempo rclativamente breve (duas décadas) pela dupla recuperagio dos outros paises cnvolvides no conflico: recuperagio econdmica da Europa capitalista e do Japfo € recuperagéo militar da Unio Soviética. E bom lembrar que 0 retrocesso relative do poder dos Estados Unidos nesse periodo alimentou o florescimento dos diseursos sobre 0 “declinio americano” e sobre futuras hegemonias alternativas (Europa, Japao ¢ depois China). £0 momento do gaullismo, De Gaulle considera que o objetivo dos Estados Uni- dos apés 1945 € 0 controle de toda a regito eurasistica. E que Washington, utiliando a ameaca de uma ‘agressia” de Moscou, ameaca na qual ndo acreditava, estava decidido a avangar seus pedes destruindo a Europa ~ a Europa “verdadcira’, do Atlantico aos Urais, incluindo a *Rissia sovietica’. Actedito que sua andlise era realista © correta. Mas era somente ele a propé-la. A contra-estratégia que propunha ao “atlantismo” desencadeado por Washington fundava-se sobre a reconciliagio franco-alema, sobre cuja base @ cons- trugéo de uma Europa “ndo-americana” podia ser concebida, desde que se tivesse 0 cui- dado de excluir a Gri-Bretanha, considerada exatamente como 0 cavalo de Te6ia do atlantismo. Entio, a Europa cm questio poderia abrir-se para uma reconciliagio com a Riissia soviética. Reconeiliar ¢ reaproximar os trés grandes povos europeus ~ franceses, alemaes © russos ~ poria fim definitivamente ao projeto americano de dominio do mun- do, Assim, 0 conflito interno que cinde projeto europea pode ser resumido na opgio entre duas alternativas: uma Europa (atlintica) como projeto americano ou uma Europa (que nessa perspectiva inclufa a Riisia) ndo-atlantica, Esse confliro permanece ainda nao resolvido. Mas a evolusio panties cfm Jogulime sine. id sio da Gra-Bretanha 4 Europa, a ampliagio da Europa a0 =| Leste, a detrora soviética ~ até agora favoreceu aquilo que chamo de “desenvolvimento do projeto europeu” € sua “di- Rf luigao duplice na globalizagio econdmica neoliberal ¢ no ali- y nnhamento politico-militar com Washington’.? Por outro lado, essa evolugio reforga a solidez do cardter coletivo do imperi- iB alismo da triade Porém, tratase de uma transformacio qualitaiva “definitiva’ (no conjuntural)? Implicaré forgosamente algum tipo de lideranca dos Estados Unidos? Antes de tentar responder a essa8 questées torna-se necessério explicitar com maior precisio em que consiste 0 “projeto” dos Estados Unidos. © pROJETO DA CLASSE DIRIGENTE Dos EsTaoos UNioes! ESTENDER A DOUTRINA MONROE A TODD O PLANETA se projeto, que sem hesitar definirei como desmesurado, quase demencial, € também criminal pelo que implica, nao nasceu da cabeca do presidente Bush filho para ser posto em pritica por uma junta de extrema dircita, elevada ao poder através de um golpe de Estado apés eleigdes duvidosas ‘Ao contritio, esse € 0 projeto que a classe dirigente dos Estados Unidos persegue desde 1945 e que nunca mais abandonou, mesmo se a sua implantagéo, com toda a evidéncia, tenha softido altos ¢ baixos, enfrentado diversas vicissitudes ¢ chegado perto do fracasso, niéo podendo ser implementado com coeréncia e violencia sendo em mo- Samir Amin, Cegmonione ds Ears Oni t Feficemens dpa carapéen (ais: Harman, 2000), mentos conjunturais como 0 nosso, apés a derrota da Unio Sovieriea, Esse projeto sempre atribuiu um papel decisivo @ dimensio militar. Foi concebido apds Postdam, como recondei, sobre 2 base do monopolio nuclear. Muito rapidamente os Estados Uni- dos elaboraram uma estratégia militar global, dividindo planeta em regides, cada uma delas entregue a responsabilidade do controle de um “US Military Command”, Remeto a0 que escrevi sobre esse tema antes ainda da derrota da URSS, e sobre a posigio privi- legiada ocupada pelo Oriente Médio nessa visio estraégica global.’ © objetivo no era somente “cercar a URS” (e a China), mas dispor também dos meios que tornassem ‘Washington o dono em tiltima instancia de todas as regides do planeta. Dito de outra forma, de estender a todo o planeta a doutrina Monroe, que efetivamente atribui aos Estados Unidos 0 “dircito” exclusivo de gerir todo 0 Novo Mundo em fungio do que definiram como sendo os seus “interesses nacionais” © projeto implica que “a soberania dos interesses nacionais dos Estados Unidos" scja colocada acima de todos os outros principios que regulam os comportamentos poli- ticos considerados como meios “legitimos’, desenvolvendo uma desconfianga sisteméti- a diance de todo direito internacional. Certamente que os imperialismos do passado no se comportavam de maneira diversa, € aqueles que tentam diminuir a responsabilidade ~ ‘05 comportamentos criminais ~ do establishment americano ‘no momento atual, buscando “desculpas’,’ retomam este mes- mo argumento ~ aquele dos antecedentes histéricos indiscuti- Mas isso precisamente quisemos mudar na historia, tal ‘como foi tentado apés 1945. O conflito entre imperialismos © desprezo pelo direito internacional por parte das poténcias fascstas produziram os horrores da Segunda Guerra Mundial, € por isso a ONU foi criada sobre um novo principio que proclama o cardter ilegitimo da guerra. Os Estados Unidos — poderio dizer ~ nao somente adotaram plenamente esse principio, mas foram os seus primeiros iniciadores. Logo em seguida a0 fim da Primeira Guerra Mundial o presidente Wilson preconizava refundar a politica internacional em principios claramence diversos daqueles que, do Tratado da Westfilia (1648) em diante, deram & soberania dos Estados mondrquicos ¢ depois & soberania das nagées mais ou menos democréticas aquele eardter absoluto, questionado pelo desastre que se abateu sobre a civilizagio moderna. Pouco importa se as vicissitudes da politica interna dos Estados Unidos tenham adiado a imple- mentagio desses principios. F Roosevelt, ¢ inclusive 0 seu sucessor H. Truman descavol- veram um papel decisivo na definigio do novo conceito de multilateralismo e na condenagio concomicance da guerra, base da Carta das Nagées Unidas. Essa bela iniciativa ~ apoiada entio por todos os povos do mundo ~ ¢ que repre- senta efetivamente um salto qualitativo, abrindo a via para o progeesso da civilizagao, rnunea convenceu completamente as classes dirigentes dos Estados Unidos. As autorida- des de Washington sempre se sentiram incomodadas dentro da ONU e hoje proclamam abertamente o que foram forgados a esconder até esse momento: que nao aceitam nem mesmo 0 conceito de um direito internacional superior a0 que consideram a necessidade de defesa de scus “interesses nacionais’. Nao creio que seja aceitavel encontrar desculpas © Samir Armin wal, Li mje rags on Méderrande, prima parce (Pars: Harmaten, 1992), ‘Como, por exemplo, Gerad Chalind 8 Arnaud Blin, Amerie is Back (Paris: Bayard, 2003), ante esse retorno a concepgio que os nazistas desenvolveram em scu tempo, ao pretende- rem a destruigéo da Sociedade das Nagées. A defesa apaixonada do direito, feita com inteligéncia ¢ elcgincia pelo ministro francés Villepin no Conselho de Seguranga, do consticui um “olhar nostilgico ao passado”, mas se constitui, a0 contrério, num reclamo do que deve ser o futuro. So os Estados Unidos que, em algumas ocasives, defenderam tum passado que se considerava definitivamente superado. A implantasio do projeto passou necessariamente por fises sucessivas determina- das pela realidade das relagies de forga espectficas que a definem, No imediato pés- guerra a lideranga americana era no somente accita, mas mesmo solicitada pela burguesia nna Europa ¢ no Japao. Se a tealidade da ameaga de uma “invasio soviética’ podia con- vvencer somente os débeis de espirito, sua evocagao servia eficientemente para beneficiar tanto a direita quanto 0s social-democratas, que mantinham sob controle os primos ¢ adversirios comunistas. Entio podia-se acreditar que 0 cariter coletivo do novo impe- rialismo decortia somente desse fator politico ¢ que — uma vez tecuperado 0 atraso diante dos Estados Unidos ~ a Europa c o Japio buscariam livrar-se da tutela inoportuna ¢ jé inicil de Washington. Nio foi este o caso. Por qué? Para explicéelo € necessrio recordar o grande cre cimento dos movimentos de libertagio nacional na Asia e ca na Africa ~ a época de Bandoung 1955-1975 -° ¢ 0 apoio que a Unigo Sovictica e a China Ihes deram (cada uma 2 “AY ; sua maneita). © imperialismo era obrigado entéo nio s6 a - suportar ¢ aceitar a coexisténcia pacifica com uma vasta aad drea que Ihe escapava completamente de controle (0 mun- ddo “socialsta"}, mas também a negociar os termos de par- ticipagio dos paises da Asia e da Africa no sistema imperiaista mundial. O alinhamento do coletivo da triade sob a lideranca americana parecia itil para gerir as rela- goes Norte-Sul da época. Esse € 0 motivo pelo qual os nio-aliados se encontraram diante de um “bloco ocidental” praticamente sem breches. [A derrota da Unido Sovitica ¢ 0 enfraquecimento dos regimes nacionalistas ¢ populistas oriundos dos movimentos de libertagéo nacional possibilitaram que © projeto dos Estados Unidos se expandisse com extremo vigor, sobretudo no Oriente Médio, porém também na América Latina e na Africa, Seja como for, o projeto permanece a servigo do imperialismo coletivo, pelo menos até certo ponto (explicitarei melhor de- pois). © governo econémico do mundo sob a base dos prineipios do neoliberalismo, . exercido pelo G7 e pelas instituigoes a seu servigo (OMC, Banco Mundial, FMI, etc.), os planos de reajustes estruturais impostos impiedosamente a0 Terceiro Mundo, sio expres- sio disso, Também sob o plano politico ¢ perceptivel que num primciro momento curo- peus e japoneses aceitaram aliar-se em torno do projeto dos Estados Unidos, por ocasiio da Guerra do Golfo (1991), depois na gucrra da Tugoslivia ¢ na Asia central (2002), aceitando marginalizar a ONU em favor da Oran. Esse primeiro momento ainda nio foi de todo superado, mesmo quando alguns sinais apontam para uma posstvel fratura inicia- da com a guerra no Traque (2003). A classe dirigente dos Estados Unidos proclama sem reticéncia alguma que no Stolerard” a reconstrugio de nenhuma poténcia politica e militar capaz de por em discus- "Samir Amin, La filed diveloppemont. aptalo I (Pars: Harmacan, 1989) so 0 seu monopélio de dominagio do planeta, ¢ para esse fim se atribui o direito de conduzir “guerras preventivas’. Mas existem trés possiveis adversitios, Em primeiro lugar a Rassia, cujo desmembramento ~ aps aquele da URSS - constitai um dos maiores abjetivas estratégicos dos Estados Unidos. Parecia que a classe dirigente russa até © momento no houvesse compreendido isso, Ela parecia convencida de que depois de “perder a guerra’, pudesse “vencer a paz", como haviam feito a Alema- nha € 0 Japio. Esquecia que Washington tinha necessidade da ressurteigio dos dois adversérios da Segunda Guerra Mundial precisamente para enftentat 0 desafio sovietico, A nova conjuntura é diferente, jé que os Estados Unidos nao cém mais nenhum concor- rente importante, e sua opgio é destruir completa ¢ definitivamente 0 adversério russo derrotado, Seri que Putin entendeu isso? Conseguird retirar a Russia de suas ilusSes? Em segundo lugar, a China: sua grande extensdo € seu éxito econémico incomo- dam 0s Estados Unidos, que tém como objetivo estratégico 0 desmembramento daquele grande pals.” A Europa vem em terceiro lugar na visio global dos novos donos do mundo. Porém, neste caso 0 establishment americano nio parece muito preocupado, pelo menos até hoje. O arlantismo incondicionado de uns (Gri-Bretanha ¢ 1s novos governos servis do Leste Europeu), a “arcia move diga do projeto curopeu”, sobre o qual voltarei mais adian- te, of interesses convergentes do capital dominante do imperialismo coletivo da triade, contribuem para atenuar 0 | projeto europeu, mantendo-o na condicio de “desenvolvi- ’ mento europe do projeto dos Estados Unidos’. A diplo- macia de Washington conseguiu manter a Alemanha em seu préprio caminho; a reunificagio ¢ a conquista da Euro- pa do Leste parecem reforcar a alianga. A Alemanha estaria sendo encorajada a retomar a sua tendéncia tradicional de “expansio para o Leste”: 0 papel desempenhado pot Berlim no desmembramento da lugoslivia, com o reconheci- mento precipitado da independéncia da Eslovénia e da Crocia, expressa claramente isso.’ E, no restante, a Alemanha sempre foi estimulada a rilhar o caminho de Washing- ton. Existe alguma mudanca de ditegdo & vista? A classe politica alema parece hesitante ¢ talver dividida em relagio as escolhas estratégicas. A alternativa ao alinhamento atlantico = que parece ter vento em popa ~ exige, em contrapartida, reforgo de um cixo Paris- Berlim-Moscou, que se tornaria a pilastra mais sdlida de um eventual sistema europeu independente de Washington. Podemos agora retornar a nossa questo central: a natureza a solidariedade eventual do imperialismo coletivo da triade, as contradigées ¢ fraquezas da lidevanga americana © imperiatismo GaLeTiva DA TRIADE © A HEGEMONIA pos Estacas UNipos! sua ARTICULAGAG E SUAS CONTRADIGGES © mundo de hoje é militarmente unipolar. Simultaneamente, parece delinear-se fraturas entre os Estados Unidos e certos paises europeus em relago a gestdo politica de > Samir Amin, Le fi de la mondialiarion, capolo VI (Pars Harmatan, 1996) Sammie Amin, tbe 3 eau dé mains (Pus: Harman, 199). tum sistema globalizado e jé alinhado em seu conjunto sobre os prineipios do liberalismo, pelo menos em principios. Tais fraturas sio meramente conjunturais ¢ de alcance limita- do ou anunciam modificagées duradouras? Ser& necessério analisar em coda a sua com- plexidade, seja a l6gica que determina o curso da nova fase do imperialismo coletivo (as relagies Norte-Sul, na linguagem corrente), sejam os objetivos especificos do projeto americano. Nesse espitito, abordarei sucintamente ¢ sucessivamente cinco séries de questies: Consideraches sobre a natureza das transformagées que levaram & consttuigao do novo imperialismo coletivo Sugico aqui que a formagio do novo imperialismo coletivo origina-se da transfor- ‘magio das condigées da concorréncia. Ainda hd poucos decénios as grandes empresas travavam suas batalhas concorrenciais essencialmente no contexto dos mercados nacio- nais, quer se tratasse dos Estados Unidos (o maior mercado do mundo) ou dos Estados europeus (malgrado seu tamanho reduzido, que implicava desvantagens diante dos Esta- dos Unidos). Os vencedores do “match” nacional podiam se apresentar em boa posi¢i0 no mercado mundial. Na atualidade, 0 tamanho do mercado necessirio para vencer a primeira fase do “match” se aproxima dos 500-600 milhées de “consumidores poten- ciais", Logo, a batalha foi transferida para o mercado mundial e a vitéria deve ser busca- da nesse terreno. Os vencedores se impem também sobre 0s respectivos terrenos nacionais. A mundializagZo profunda se torna 0 cenério principal da atividade das gran- des empresas. Em outtas palavras, no par nacional/mundial os termos de causalidade sio invertidos: em outros tempos o poder nacional deverminava a presenga mundial, na atua- lidade ocorre © inverso, Por isso, as grandes empresas transnacionais, qualquer que seja a sua nacionalidade, possuem interesses comuns na gestio do mercado mundial. Esses interesses acabam se sobrepondo aos conflitos mercantis permanentes que definem todas as formas de concorréncia préprias do capitalism. A solidariedade dos segmentos dominantes do capital transnacional de todos os componentes da triade & um fato real, se expressa em sua filiacio 20 neoliberalismo slobalizado. Nesta perspectiva, os Estados Unidos sio vistos como os defensores (milita- res, se necessitio) desses “interesses comuns”, Porém, Washington ndo pretende dividir eqiianimemente as vantagens de sua lideranga. Ao contrétio, os Estados Unidos se esfor- gam em transformar seus préprios aliados em vassalos, oferecendlo a esses aliados subal- ternos somente concessdes de pouca importincia. Esse conflito de interesses entre 0 ital dominante poder agravar-se a ponto de provocar uma ruptura na alianga atlinti- ca? Nio parece impossivel; porém, & bastante improvével. Considerasies sobre a posicao dos Estados Unidas na economia mundial . A opiniio corrente & que a capacidade militar dos Estados Unidos constitui so- mente a ponta do iceberg, jd que sua superioridade se estenderia a todos os demais setores, em particular ao setor da economia, mas também aos sevores da politica e da cultura. Conseqtientemente seria inevitavel sujeitar-se 4 sua hegemonia, tal como preten- dem. Em contrapartida, afirmo que no sistema do imperialismo coletivo os Estados Uni- ddos no dispdem de vantagens econémicas decisivas, pois o sistema produtivo americano cesté longe de ser “o mais eficiente do mundo”. Ao contrério, quase nenhum de seus segmentos especificos poderia vencer com tranqlilidade os concorrentes na situacio de tum mercado verdadeiramente aberto, como imaginam os economistas liberai. Testemu- nha disso € 0 deficit comercial dos Estados Unidos, que se agrava ano a ano, saltando de 100 bilhées em 1989 para 500 bilhdes de délares em 2002. E, além do mais, esse deficit . afeta todos os segmentos do setor produtivo, Da mesma forma, o excedente de que se beneficiavam os Estados Unidos no segmento de bens de alta tecnologia, que era de 35 bilhoes de délares em 1990, também ja se transformou em déficit, A concorréncia entre Ariane e os foguetes da Nasa, entre Airbus ¢ Boeing, demonstram a vulnerabilidade da vantagem americana, Diante da Europa e do Japio na produsio de bens de alta tecnolo- sia; da China, da Coréia de outros pa(ses industrializados da Asia e da América Latina na produsio de manufaturas mais simples e diante da Europa e do Cone Sul da América Latina na agricultura, os Estados Unidos nio venceriam sem recorrer a meios “extra- econdmicos” que violam os principios do liberalismo impostos aos concorrentes De fato, os Estados Unidos se beneficiam de vantagens comparativas estéveis so- mente no segmento bélico, precisamente por se tratar de um segmento que foge &s regras do mercado ¢ se beneficia do apoio estatal. Sem dhivida, essas vantagens trazem alguns beneficios para a esfera civil (a internet é o exemplo mais evidente), porém, ¢ igualmente a causa de sérias distorgdes que constituem handicaps para varios setores produtivos. ‘A economia americana vive como parasita cm detrimento de seus parceiros do sistema mundial, “Os Estados Unidos dependem para 10% de seu consumo industrial de bens cuja importagio nao coberta por exportagGes de produtos nacionais”, recorda Emmanu- el Todd.” © mundo produa, 05 Estados Unidos (onde a poupanga nacional é praticamente mula) consomem. A “vantagem” dos Estados Unidos & a de um predador cujo deficit € coberco pelo aporte de outros, com seu proprio consentimento ou a forga. Os meios utilizados por Washington para compensar suas deficiéncias si0 de natureza diversa: violagbes unilaterais e repetidas dos principios do liberalism, exportacao de armas © busca de ganhos exorbitantes no setor petrolifero (que supde a dominagio dos paises produtores, um dos motivos reais das guerras na Asia Central ¢ no Iraque). Porém, a ‘maior parte do déficit americano € coberta pelo aporte de capitais provenientes da Euro- pa e do Japio, do Sul (paises peteoiferos ricos ¢ classes compradoras de todos os paises do Terceito Mundo, incluindo os mais pobres), aos quais poderiamos incluir a transfe- réncia de riqueca em decorréncia da divida externa, imposta & quase totalidade dos paises da periferia do sistema mundial. 0 crescimento dos anos Clinton, louvado como produto do liberalismo ao qual Europa infelizmente nao soube resistir,é ficticio endo generalizével, porque se Funda sobre a transferéncia de capitais que implica a estagnagio de scus parccitos. O cresci- mento dos Estados Unidos, em todos os setores do sistema produtivo teal, no foi supe- rior a0 crescimento curopeu, © “milagre americano” se abasteceu exclusivamente do jundas do agravament das desigualdades sociais (servigos crescimento das despesas financeiros e pessoais: legises de advogados e de servigos privados de seguranca, etc.) Nesse sentido, o liberalismo de Clinton apenas preparou as condigbes que permitiram @ retomada reacionéria e a vitbria de Bush filho. ‘As causas do debilitamento do sistema produtivo dos Estados Unidos so comple xas. Flas ndo sfo conjunturais c, portanto, passiveis de corregio com a adogio de uma Emmanuel Todd, Apres Lempive (Pare: Gallimard, 2002) taxa de cimbio correta ou de relagies mais favoraveis entre salétios/produtividade. Blas decorrem de causas estruturais. A mediocridade do sistema geral de ensino © de forma- Glo, € 0 preconceita tenaz que favorece sistematicamente o “privado” em detrimento do ppiblico, constituem os motives mais importantes da crise profunda que atravessa a s0- ciedade americana, Deveriamos nos admirar que os curopeus, a0 contrério de tirar as conseqiléncias impostas pela constatacio da insufieiéncia da economia americana, se esforcam por imi- té-los, Também nesse caso, somente o virus liberal nao explica tudo, ainda que exerca alguma fungio util para o sistema, paralisando a esquerda. A privatizagao levada as ulti- mas conseqtiéncias ¢ 0 desmantelamento dos servigos publicos s6 podem reduzir as van- 3 tagens comparativas de que ainda conta a “velha Europa” (como a define Bush). Mas, sejam quais forem os danos que produzitéo a longo prazo, essas medidas oferecem 20 capital dominante, que tem ciclos curtos, a oportunidade de ganhos suplementares Consideragaes sobre os objetivos do projeto dos Estados Unidos A cstratégia hegemdnica dos Estados Unidos se si- tua no ambito do novo imperialisme coletivo. Os “econo- mistas convencionais’ ndo dispéem de instrumentos analiticos que Ihes permitam compreender toda a impor- tincia do primeito desses objetivos. Nos os ouvimos re petit ad nauseam que na “nova economia” o fornecimento de matérias-primas pelo Terceiro Mundo esté destinado a perder importancia € que, de fato, esse fornecimento se tomari cada vez mais marginal no sistema mundial. Em corroboragio a esse discurso ingénuo ¢ vazio (0 Mein Kampf da nova administragto de Washingron),” se admite que os Estados Unidos arroguem a si o direito de apropriar-se de todos os recursos naturais do planeta para satisfazer prio ritariamente &s préprias exigéncias de consumo. A corrida pelas matérias-primas (princi palmente o petzéleo; mas também outros recursos, como a égua) assumiu toda a sua viruléncia, Ainda mais agora que esses recursos cortem 0 risco de escasser, no somente ‘em decorréncia do aumento do desperdicio representado pelo consuumismo ocidental mas também em decorréncia da nova industralizagio das periferia. Por outto lado, um grande ntimero de paises do sul esté destinado a converter-se em produtores industriais importantes, seja para scus respectivos mercados internos, seia para o mercado mundial. Importadores de tecnologias e de capitais, mas também concortentes nas exportagdes,estio destinados a adquirir um peso sempre crescente no quilbrio econdmico mundial. Endo se tata apenas de alguns paises do Leste astico, como a Coréia, mas da imensa China e, no futuro, da India e dos grandes paises da ‘América Latina, Longe de ser um faror de estabilidade, a acelerasio da expansio capita- lista no Sul nfo pode deixar de gerar confit violenros, internos ¢ internacionas, Pois tal expansio nio pode absorver, nas condigées da periferia, a enorme reserva de forga de trabalho que ali se encontta concentrada, Ness sentido, as periferis do sistema conti- hnuam a ser “zonas de tempestade”. Conseqientemente, ot cenros do sistema capitalista necessitam cdntinuar exercendo 0 dominio sobre as periferia, submetendo seus povos & dlisciplina implacivel necessiia 3 satisfagio de suas prioridades ©The Nationa Seri Srangy of he United Stax, 2002. Nessa perspectiva, o establishment americano entendeu perfeitamente que para manter a sua hegemonia dispunha de trés vancagens decisivas sobre seus concorrentes europeus e japoneses: o controle dos recursos naturais do globo terrestre, o monopélio militar e o peso da “cultura anglo-saxa”, através da qual se expressa preferencialmente a dominacao ideoldgica do capitalismo. O uso sistemético dessas trés vantagens esclarece muitos aspectos da politica dos Estados Unidos, em particular os esforgos sistematicos para o controle militar do Oriente Médio e do petréleo, a estratégia ofensiva diante da Coréia (aproveitando-se da “crise financeita” do pais) e A China, 0 jogo sutil que visa perpetuar as divisées na Europa (mobilizando para esse fim 0 aliado britinico) ¢ impedir tuma aproximasio séria entre a Unio Européia e a Russia. Em relagio ao plano de controle global dos recursos do planeta, os Estados Unidos dispaem de uma vantagem decisiva sobre a Europa ¢ o Japio. Nao somente porque os Estados Unidos sio a tinica poténcia militar mundial e, sem cles, nfo se pode intervir militarmente no Terceiro Mun- do, Mas, de novo, porque a Europa (excluindo a ex-Unido Soviética) ¢ 0 Japio sao des- providos de recursos essenciais para a sobrevivéncia de suas economias. Por exemplo, a sua dependéncia no setor energético e, em particular, sua dependéncia do petséleo do Golfo, é ¢ continuard considers vel por um longo tempo, mesmo que decresca em termos telativos. Apropriando-se militarmente do controle da regito por meio da guerra no Iraque, os Estados Unidos demonstra- ram estar perfeitamente conscientes da utilidade desse meio de pressio de que dispdem nos conftontos diante de seus aliados competidores. Anteriormente, 0 poder soviético ha- via compreendido bem essa vulnerabilidade da Europa ¢ do Tapio; e certas intervengdes soviéticas no Terceiro Mundo tiveram 0 objetivo de lembri-los disso, de modo a forgé-los a negociar sob outros termos. E evidente que as deficiéncias da Europa e do Japio poderiam ser compensadas com uma aproximacio séria entre a Europa ¢ a Russia (a “casa co- mum” de Gorbatchov). Por essa razio, a perspectiva de uma construgéo eurasidtica & vista por Washington como um verdadeiro pesadelo. Considerayées sobre os conflitos que optem os Estados Unidos e seus parceiros da vriade Se os parcciros da trade compactilham interesses comuns na gestio mundial do imperialismo coletivo em suas relages com o Sul, nao obstante se encontram numa relagio marcada por sérios conflitos potenciais. A superpoténcia americana existe gracas 20 fluxo de capitais que alimenta o parasitismo de sua economia € de sua sociedade. A vvulnerabilidade dos Estados Unidos constitu, portanto, uma séria ameaca a0 projeto de Washington A Europa em particular, mas 0 resto do mundo em geral, deveri escolher entre as dduas opgbes estratégicas seguintes: utilizar 0 excedente de capitais (a poupanga) dispont- vel para financiar 0 déficie dos Estados Unidos (de consumo, de investimentos ¢ de despesas militares) ou conservé-lo e investi-lo em beneficio proprio. Os economistas convencionais ignoram problema, defendendo a hipétese (que ‘fo tem nenhum sentido) de que a globalizacio, a0 suprimir as nagies, fez com que as sgrandezas econdmicas (poupanga ¢ investimentos) nio mais pudessem ser geridas “a nivel nacional”. Trata-se de um raciocinio rautoldgico, em que a concluséo a que se quer chegar jd esta implicita nas premissas: justficar ¢ accitar 0 financiamento do déficit americano por parte dos outros, é que depois ~ em ambito mundial —seré ficil encontrar a igualdade entre poupanga e investimentos Por que um raciocinio desse tipo ¢ aceito? Sem diivida, as equipes de “sibios economistas” que circundam as classes politicas européias (e ourras, como as russas ¢ chinesas), da direita ou da esquerda cleitoral, sd0 clas mesmas vitimas da alienasio eco- nomicista, do que denomino “virus liberal”, Além disso, essa opsio expressa de fato 0 juizo politico do grande capital transnacional, que considera que as vantagens obtidas pela gestio do sistema globalizado por parte dos Estados Unidos em nome do imperialis- ‘mo coletivo sio superiores aos seus inconvenientes: 0 cributo que deve ser pago a Wa- shington para garanti-Ihes 0 funcionamento do sistema, J4 que se trata mesmo de um “uributo”, e nao de um “investimento” garantido e de alta rentabilidade. Existem até paises definidos como “paises pobres devedores” que sio obrigados a garantir 0 paga- ‘mento dos juros de suas dividas, sea qual for o seu valor. Mas existe também um “pode- +030 pais devedor” que dispe de meios que Ihe permitiria desvalorizar a sua divida, caso fosse necessério, A outra opslo consistiria, para a Europa ¢ para o resto do mundo, em pér fim 4s transfusdes em favor dos Estados Unidos. O excedente poderia entio ser utilizado em beneficio préprio, na Europa, para a retomada do crescimento econémico, Jé que a transfusio exige que os europeus se submetam a politicas “deflacionarias” (cermo impré- prio da linguagem econdmica convencional), melhor definidas como “estagnacionistas”, para extrair um excedente de poupanga exportével. A retomada do crescimento na Euro- aa, sempre mediocre, depende assim da retomada do crescimento dos Estados Unidos, sustentada de modo artificial. Ao contritio, a mobilizagio do excedente para a criagio de postos de trabalho na Europa permitiriaretomar simultaneamente o consumo (reconstruindo a dimensio social devastada pelo virus liberal) e os investimentos, em particular de novas tecnologias (financiamento de pesquisas nessa area) ¢ também as despesas militares (pon- do fim & vantagem dos Estados Unidos nesse setor). A opgao em favor dessa resposta 20 desafio implica um reequilibrio das relagies sociais em favor das classes trabalhadoras, Assim, 5 conflitos entre nagdes ¢ as lutas sociais se articulam desse modo. Em outros termos, 0 antagonismo entre Estados Unidos e Europa nao opée fundamentalmente os interesses dos segmentos dominantes do capital dos diversos parceiros. Ele é resultado principalmente da diversidade de suas respectivas culturas politicas. Consideragoes sobre as questoes tebricas sugeridas pelas refleoes precedentes A cumplicidade/concorréncia entre os parceiros do imperialismo coletivo pelo controle do sul, a rapina dos recursos naturais e a submissio dos povos podem ser anali- sados a partir de pontos de vista diferentes. Nesse sentido, farei trés observages que me parecem importantes: Primeira observagio: o sistema mundial contemporaneo, que defino como impe- Fialismo coletivo, nao é “menos” imperalista do que os precedentes. Tampouco é um “im- pério” de natureza "pés-capitalisea”. Em outro lugar, iniciei uma eritica is formulagies ideolégicas de “ocultamento” que alimenta o discurso dominante da moda (air du temp). Segunda observacio: propus uma leitura da histéria do capitalismo, globalizado desde suas origens, centrada sobre a distingao entre as diversas fases do imperialismo Ver noes 2 (das relagées entre centros e periferias). Naturalmente, existem outras leituras dessa mes- ria, em especial aquela que se articula & “sucesso de hegemonias’.” Nao obstante, tenho algumas reservas em relagio a essa leitura, Em primeiro lugar, em esséncia, porque € “ocidentalocéntrica’, no sentido em que considera que as transformagées que operam no coragio do sistema, em seus centros, como elementos que determinam de mancira decisiva, e quase exclusiva, a evolugio global do sistema. Ao contritio, acredito que as reages dos povos da periferia do processo de desenvolvimento imperialista nao devem ser subestimadas, jf que no podemos negar que levaram & inde- pendéncia do continente americano, 4s grandes revoluges em nome do socialismo (Riis- sia e China) e & reconquista da independéncia por parte dos palses asidticos ¢ africanos. E, além disso, nao ereio que se possa compreender a evolugéo do capitalismo mundial sem levar em consideragio os “afastamentos’ que essas transformagoes impuseram a0 capitalismo central. Em segundo lugar, porque me parece que 2 histéria do imperialismo se desenvolve mais através do conflco entre imperialismos do que com o tipo de “ordem” que as heg ‘monias sucessivas impdcm a0 longo do tempo. Os periodos de aparente “hegem foram sempre muito breves € a hegemonia em questao, bastante relativa. Terccira observacio: a mundializagio nao ¢ sindnimo de “unificagio” do sistema econémico mediante a “abertura desregulada dos mercados’. Esta ilkima, em suas for ‘mas histéricas sucessivas (“liberdade de comércio” no passado; “liberdade de imprensa” atualmente), sempre representou o projeto do capital dominante. No entanto, quase sem- pre esse projeto foi obrigado a se ajustar a exigéncias exteriores A sua légica interna Portanto, jamais foi implementado senéo em breves momentos da histéria. O “livre comércio” promovido pela maior poténcia industrial da época, a Gri-Bretanha, somente foi efetivo por duas décadas, de 1860 a 1880; e depois, por um século, de 1880 a 1980, a caracterfstica dominante foi o conflito entre imperialismos € a forte desconexao dos pafses ditos socialistas (a partir da revolugio russa de 1917 e depois da revolugio chine- sa). E, mais adiante, pela desconexio mais modesta dos paises de nacionalismo populista (a época de Bandoung para a Asia e Aftica, de 1955 a 1975). © momento atual de reunificagio do mercado mundial (a “livre empresa"), inaugurado pelo neoliberalismo a partir de 1980, ¢ estendido a todo o planeta depois do colapso soviético, provavelmente no esté destinado a melhor sorte. O caos que esté gerando, rermo que utilizo para designar esse sistema desde 1990, testemunha seu cariter de “utopia permanente do capital”. © OrIENTE MEDIO NO SISTEMA IMPERIALISTA (© Oriente Médio, com suas ramificagoes em ditegio ao Cducaso ¢ Asia Central cexsovietica, ocupa uma posigio de importancia particular na geopolitica do imperialis- ‘mo ¢, singularmente, no projeto hegemdnico dos Estados Unidos. A importincia da regido se deve a trés fatores: sua riqueza em petréleo, sua posigio geogréfica estratégica no centro do Velho Mundo e sua condigio de ventri molli do sistema mundial. © acesso a0 petr6leo relativamente barato € vital para a economia da eriade domi- nante: € 0 melhor meio para garantir 0 acesso a0 petréleo consiste em assegurar 0 contro le politico da regito, Sane Amin, Ze i ola mndiation, ciclo Sami Amin, Lempire de caer (asx: Harmatan, 1991). Mas a regido importance também devido & sua posigao geogrifica, localizada no centro do Velho Mundo, eqiidistante de Paris, Pequim, Singapura e Johannesburgo. Na Antiguidade, o controle desse lugar de passagem obrigat6ria deu ao califado o privilégio de extrair os maiores beneficios da mundializagio da época.' Apés a Segunda Guerra Mundial, a regio ~ situada no flanco sul da Unido Soviética ~ ocupava, por isso, um papel importante na estratégia de contensio militar da poténcia sovietica. E a regido néo perdcu a sua importincia, malgrado 0 colapso do adversério soviético; pois, instalando- se na regio, os Estados Unidos poderiam simultaneamente submeter a Europa (que depende da érea para o seu abastecimento energético) e sujeitar a Riissia, a China ea {india a uma chantagem permanente reforcada pela ameaga de intervengio militar, c4s0 necessirio, © controle da regito permitria efetivamente estender a doutrina Monroe 20 Velho Mundo, 0 que constitui o objetivo do projeto hegeménico dos Estados Unidos. (Os esforgos efetuados com constancia e continuidade por Washington desde 1945 para assegurar 0 controle da regido — excluindo dali ingleses ¢ franceses ~ nao foram até agora coroados de éxito. Recordemos o fracasso da tentativa de integrar a regio & Orga- nizagio do Tratado do Atlantico Norte (Otan) através do pac- to de Bagd, ¢ mais tarde a queda do xé do Ira, Reza Pahlavi, tum de seus aliados mais fis. A impossibilidade do controle da regiio decorria do faro de que o projeto populista nacionalista drabe (e iraniano) centrava radicalmente em conflito com os objetivos da hege- monia americana. O projeto érabe nutria a ambigio de im- por is grandes poténcias o reconhecimento da independéncia do mundo Arabe. Esse era 0 sentido do “nio-alinhamento” formulado em 1955 em Bandoung, pelo conjunto dos movi- mentos de liberago dos povos da Asia ¢ da Africa, que entéo ia de vento em popa. Os soviéticos compreenderam rapida- mente que seu apoio a tal projeto colocaria em xeque os pla- nos agressivos de Washington. ‘Aquela época histérica ja foi superada: em primeiro lugar, porque 0 projeto nacio- nalista e populista do mundo drabe exauriu rapidamente seu potencial transformador e os poderes nacionalistas se converteram em ditaduras sem qualquer programa, O vari ct ado por esta deriva forneceu as condigdes para a ascensio do Islé politico e das autocra- cias obscurantistas do Golfo, aliados preferenciais de Washington. A regido se converteu ‘num dos ventri molli do sistema global, produzindo conjunturas que permitiram interven- ‘gbes estrangeiras (inclusive intervengées militares) que os regimes instalados no poder 1néo tém como conter ~ ou mesmo desencorajar — por falta de legtimidade junto aos seus respectivos povos A regio constitufa ~ e continua constituindo ~ na estratégia geopolitica mundial americana uma zona considerada altamente prioritétia (como 0 Caribe), isto & uma zona na qual os Estados Unidos se atribusram o “direito” de intervencio militar, O que ndo deixaram de fazer a partir de 1990. Os Estados Unidos operam no Oriente Médio em estreita colaboragio com seus dois aliados mais fis ~ a Turquia ¢ Isracl. A Europa & mantida fora da regido, aceitando que 0s Estados Unidos defendam sozinhos os interesses da triade, ou soja, garantindo 0 1 Sumie Arla, Le di a mondiiion cc capials eH abascecimento de petréleo. Apesar dos sinais de irritagio evidentes apés a guerra do Traque, os europeus em seu conjunto continuam 2 crilhar @ caminho de Washington, © expansionismo colonialista de Israel constitu um desafio real. Isracl & 0 tinico pais do mundo que recusa reconhecer Fronceiras definitivas (¢ por esse motivo nio teria 6 direito de set membro da Organizagio das Nagées Unidas ~ ONU). Exatamente como 1 Estados Unidos no século XIX, Israel considera que tem 0 “direito” de conquistar rnovas éreas para expandir a sua colonizagio, tratando os povos que hi milénios habitam a regido como os americanos trataram os peles-vermelhas. Assim, Israel é 0 nico pals do mundo que declara abertamente nao respeitar as resolugoes da ONU. [A guetra de 1967, planejada em parceria com Washington desde 1965, tinha varios objetivos: estimular o colapso dos regimes nacionalista-populistas, romper sua alianga com a Unio Soviética, forgé-los a se reposicionar sob a lideranga americana ¢ abrir rnovas tetras para a colonizagao sionista. Nos territérios conquistados em 1967, Israel imediatamente instalava um sistema de apartheid inspirado na Africa do Sul. E aqui que os interesses do capital dominante mundial se conciliam com os interesses do sionismo. Jé que um mun- do drabe modernizado, rico ¢ poderoso questionaria 0 acesso dos pafses ocidentais & rapina das reservas petroliferas, ne- cessiria para dar continuidade ao desperdicio associado & acumulacio capitalista, os poderes politicos dos paises da tri- ade = servos figis do capital transnacional dominante ~ nao descjam um mundo drabe moderno € poderoso. Portanto, a alianca entre as poténcias ocidentais ¢ Is- rae esta pautada sobre as bases s6lidas de seus intercsses co- uns: nio é o resultado do sentimento de culpa dos curopeus, responsiveis pelo anti-semitismo € pelos crimes nazistas; tam- pouco da habilidade do lobby judaico para explorar esse sen- timento. Se as poténcias ocidentais sentissem que os seus interesses pudessem ser ameagados pelo expansionismo colonialista sionista, rapidamente encontrariam os meios para superar seu “complexo de culpa” e neutralizar 0 lobby judaico, Nao tenho nenhuma diivida disso, pois nao sou ingénuo para crer que a opiniao publica dos paises democré- ticos possa se impor aos seus governos. Sabemos muito bem que a opinio publica pode ser manipulada, Israel seria incapaz de resistir muito tempo as medidas (mesmo modera- das) de um eventual blogucio imposto pelas poténcias ocidentais, tal como fizeram com a Tugoslivia, o Iraque ¢ Cuba. Nao seria dificil chamar Israel a razdo, criando as condi- Ges para uma paz verdadeira, se se quisesse. Porém, nio se quer. Imediatamente em seguida & derrota de 1967 Anwar Sadat declarava que, jé que 0s Estados Unidos detinham em suas mos "90% das cartas” do jogo (essas sio suas préprias palavras), era necessério romper com a Uniio Soviética reintegrada ao campo ocidental, para contar com uma pressio de Washington sobre Israel suficiente para chamé-lo & razio. Além dessa “idéia estratégica” especifica de Sadat ~ € 03 acontecimentos subseqiientes demonstraram a sua inconsisténcia ~ a opinio publica érabe permanece majoritariamente incapaz de entender a dinimica da expansio capitalista mundial e, menos ainda, de identi- ficar as suas contradigdes e debilidades verdadeiras. Nao se ouve dizer e repetir que “os ‘ocidentais hi muito tempo compreenderam que ¢ de seu proprio interesse manter boas relagdes com os duzentos milhes de arabes — seus vizinhos préximos ~ ¢ néo sacrificar essas boas relagbes através do apoio incondicional a Israel?” Isso significa, implicitamente, pensar que os “ocidentais” em questio (ou seja, 0 capital dominante) desejam um mundo frabe modernizado e desenvolvido: nio percebendo, a0 contritio, que descjam manté-lo na impoténcia, ¢ que por isso € muito mais atl apoiar Israel. A op¢ao escolhida pelos governos dtabes ~ exceto Siria ¢ Libano ~ que através das nnegociagbes de Madti e de Oslo (1993), os levaram a firmar 0 plano americano da pre tensa “paz definitiva’, nao podia produrir outros resultados seno aqueles que prod encorajar Israel a fazer avancar of pedes em seu projeto expansionista. Hoje, rejeitanda aberramente os termos do “acordo de Oslo”, Ariel Sharon demonstra abertamente aquilo que deveria ter sido entendido antes ~ que nio se tratava de um projeto de “paz definiti- va", mas de iniciar uma nova etapa na expansio colonial sionista © estado de guerra permanente que Israel ¢ seus aliados ocidentais impoem & regio consttuiria, por sua vez, um importante elemento que favorece a perpetuagao dos sistemas drabes autocriticos. Esse bloqueio de uma possivel evolucio democritica enfia quece a possibilidade de renovacio arabe, servindo aos interesses do capital dominante ¢ jos. O efrculo se fe- da estratégia hegemdnica dos Estados cha perfeitamente: a alianga israclense-americana serve perfeita- ‘mente aos interesses dos dois pareeitos. No primeiro momento, 0 sistema de apartheid posto em pritica depois de 1967 deu a impressio de ser capaz de atingir os seus objetivos, admi trando a vida covidiana nos territérios ocupados através da im- posigio do medo, com uma aparente accitagéo por parte do povo palestine. A Organizagio para a Libertagio da Palestina (OLP), expulsa da regizo apés a invasio do Libano pelo exército israelense (1982), parecia nao ter mais meios ~ do distante exi- lio de Tunis ~ para questionar a anexacio sionista, A primeira intifada explodiu em dezembro de 1987. Essa explosio aparentemente “espontinea” expressou a inrupgio das classes populares na cena politica e, em particular, dos sctores mais pobres, confinados nos campos de refugiados. A intifada boicocou o poder israclen- se organizando uma desobediéncia civil sistemiética. Israel reagiu com brutalidade, po- rém ndo conseguiu restabelecer seu poder de policia, nem retomar © controle sobre as medrosas classes médias palestinas. Ao contritio, a intifada provacou um retorno em massa das forsas polticas exladas, a constituigio de novas formas locais de organizagio € a adesio das classes médias a luta de libertagdo. A intifada é sustentada sobretudo pelos jovens (chebaé), inicialmente ainda nao integrados nas redes formais da OLP, porém nio hostis ou concorrentes a essa organizacio. Os quatro componentes da OLP (Fath, fiel a seu chefe Yasser Arafat, o FDLP, o FPLP o Partido Comunista) juntaram-se imediata- mente & intifada, conquistando a simpatia da maioria de seus chebab. Os Irmios Mulgu- manos, penalizados pela pouca atividade desenvolvida nos anos precedentes, malgrado algumas ages da Jihad islimica, cederam 0 posto a uma nova expressio de luta: 0 Ha- mas, constituido em 1988. Enquanto essa primeira intifada, apds dois anos de expansio, demonstrava alguns sinais de exgotamento devido & extrema violéncia da repressio israclense (uso de armas de fogo contra criangas, fechamento da “linha verde” aos trabalhadores palestinos ~ vinica fonte de renda para as familias, etc.), 0 cenétio era montado para uma “negociasio” encabegada pelos Estados Unidos que levou aos acordos de Madti (1991) e depois aos acordas de Oslo (1993). Esses acordos permitiram o retorno da OLD aos territérios ‘ocupados e sua transformacio em “Autoridade Palestina” (1994). Gee (Os acordos de Oslo visaram transformar os territérios ocupados em um ou varios Batustoes, definitivamente integrados a0 espago israelense. Nesse contesto, a Autoridade Palestina deveria ser apenas um falso Estado ~ como o Estado do Batustio ~, funcionando de fato como correia de transmissio da ordem sionista, De volta & Palestina, a OLP convertida em Autoridade logo se recompds, porém indo sem algumas ambigiiidades. A AP absorveu em sua nova estrutura a maioria dos ‘hebab que coordenow a intifada, Ela também logrou éxito em sua legitimagio através da ‘consulta eleitoral de 1996, na qual os palestinos participaram em massa (80%), enquanto ‘Arafat era plebiscitariamente reconhecido presidente da AP. No entanto, a Auroridade Palestina permaneceu numa posigSo ambigua: aceitard exercer as fungdes que Isracl, os Estados Unidos ¢ a Europa Ihe atribuiram ~ a fungao de “governo de um Batustio” -, ou se colocard ao lado do povo palestino que refuta 0 jogo? Exatamente porque povo palestino reeita 0 projeto de um Batustio, Istael deci- diu denunciar 0s acordos de Oslo, dos quais havia ditado diretamente os termos, para substituclos pelo emprego da forga militar pura ¢ simples. A provocagao da Esplanada das Mesquitas, posta em marcha pelo criminoso de guerra Ariel Sharon em 1998 (com o apoio do entio governo trabalhista que Ihe forneceu os tanques) ¢ a eleigao triunfal desse rnoso ao governo de Israel (com a colaboragéo de “ imbolos da paz” como Shimon Petes a tal governo) foram a causa da segun- da intifada, em curso na atualidade. Se essa intifada conseguira libertar 0 povo palestino da submissio planejada ao apartheid sionista, € muito cedo para dizer, Em todo caso, hoje € inegavel que o povo palestino dispe ide um verdadeito movimento de libertacdo nacional, é claro que com suas peculiaridades. O seu estilo no é de “partido tinico”, nem de aparéncia (como de fato é) “unanime” e homo- génea. E composto de segmentos que conservam 2 sua propria personalidade, uma concepgio espectica de futuro e uma ideologia pripria, assim como Inilitantes ¢ clientelas proprias, mas que aparentemente saber se articular para lutar em conjunto. [A derrocada dos regimes de nacionalismo populista ¢ 0 fim do apoio soviético permitizam aos Estados Unidos implementar seu “projeto” para a regio, sem encontrar até 0 momento obsticulos capazes de revertt-lo. © controle do Oriente Médio certamente uma pega fundamental do projeo de hhegemonia mundial de Washington, Entio, como os Estados Unidos planejam manter cesse controle? Jé hd uma década atrés, Washington havia romado a iniciativa de implantar © estranho projeto de um “mercado comum do Oriente Médio", no qual os patses do Golfo forncceriam os capitis e os outros paises érabes a mio-de-obra barata, enquanto se reservar & Israel o controle tecnolégico e as fungGes dc intermediatio obrigatério. O projeto foi aceto pelo Egito ¢ pelos paises do Golfo, no entanto foi rechagado pela Siri pelo Iraque e pelo Ir. Para fazer avancar esse projeto seria necessirio abarer esses tres regimes. Em relacio ao Iraque, a tarefa estd concluida. Porranto, o problema é saber que tipo de regime polit tar esse projeto. O discurso propagandistico de Washington fala de “democracias’. De faro, Washington tende a substituir as desgastadas aurocracias do populismo jé superado pelas novas autocracias obscurantistas pretensamente “slamicas’ (pretensamente em res- 20 é necessirio para susten- peito a especificidade cultural das “comunidades”). A alianga renovada com um Isl poli- tico “moderado” (isto ¢, capaz. de administrar a situagio com eficécia suficiente para coibir as derivas “terroristas’ ~ aquelas dirigidas contra os Estados Unidos ¢ somente «estas, naturalmente) constitui 0 eixo das opgées politicas de Washington, destacando-se atualmente como a dinica alternativa possivel. Nessa perspectiva é que se buscar a recon ciliagdo com a areaica autocracia do sistema saudita. Diante do projeto perseguido pelos Estados Unidos, os europeus criaram seu pr6- prio projero, barizado de “sociedade euro-mediterrinea’. Um projeto pouco ousado, Fan- dado em discusses estéreis sem prosseguimento; mas que, também este, tinha como ‘scopo “reconciliar os paises érabes com Israel". No entanto, ao defender a exclusio dos paises do Golfo do “didlogo euro-mediterraneo”, os europeus reconheciam implicitamen- te que aquele terrtério era de pertinéncia exclusiva de Washington."* © contraste evidente entre a audécia temeriria do projeto americano e a debilida- de do projeto europeu é um forte indicador de que o atlantismo realmente existente ignora o sharing (a divisio de responsabilidades e 2 tomada de decisdes conjuntas, colocando em igualdade de condigées os Estados Unidos ¢ a Europa). Tony Blair, que se considera 0 advogado da construgio de um mundo “unipolar”, actedita poder justificar essa opgio alegando que o atlantismo se Fun-

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