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Resumo
mais a sala de aula e se basear mais pela experiência em vez da teoria e tende para não
perceber as atividades da sua sala de aula dentro de um contexto educacional mais
amplo, justamente o contrário da segunda, por se interessar por este contexto, pela teoria
e desenvolvimentos educacionais mais recentes, promovendo seu próprio
desenvolvimento profissional através do trabalho.
A figura do formador na instrução militar aproxima-se bastante das características
de uma profissionalidade restrita, ao tempo em que se passou a exigir do formador no
ensino policial uma profissionalidade extensa, com vistas a uma visão mais holística da
ação de ensinar. Isso ficará mais visível após as considerações acerca das políticas
nacionais para ações formativas dos profissionais de segurança pública
No campo da formação profissional do policial, cujas exigências sociais saltam
aos olhos, num movimento de transição paradigmática da atuação policial, onde não se
almeja mais o mero procedimento de instrução militar, mas sim diante de toda
complexidade que envolve a ação de ensinar, julgamos pertinente promover a pesquisa
recorrendo aos estudos em torno da profissionalidade docente. E é nos ensinamentos de
Roldão (2007, P.101-102) que encontramos elementos condutores da reflexão em torno
da temática proposta que é o saber ensinar, pois:
O professor profissional – como o médico ou o engenheiro nos seus
campos específicos – é aquele que ensina não porque sabe, mas porque
sabe ensinar. E saber ensinar é ser especialista dessa complexa
capacidade de mediar e transformar o saber conteudinal curricular.
O cerne da questão é a reflexão sobre a profissionalidade docente requerida do
formador na medida em que elevamos o status profissional da formação policial,
deixando de lado a instrução militar para dar espaço ao ensino policial. Entende-se que o
formador necessitará de conhecimentos específicos e caracterizadores desse profissional
cuja função é ensinar.
Sabedor da dificuldade de dar exatidão ao termo profissionalidade docente,
Sacristán (1995, p.65) entende que é “a afirmação do que é específico na ação docente,
isto é, o conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que
constituem a especificidade de ser professor”. Tudo isto se dá em meio ao contexto
histórico e social e a natureza do conhecimento em legitimação, por isso é importante
entender a profissionalidade docente como um conceito em permanente elaboração.
A afirmação do paradigma preventivo trouxe consigo a mudança da instrução
militar para o ensino policial, contudo não se pode perder de vista as implicações desta
mudança na profissionalidade dos formadores, pois como pontuou Sacristán (1995, p.66),
“o ensino é uma prática social, não só porque se concretiza na interação entre
professores e alunos, mas também porque estes atores refletem a cultura e contextos
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sociais a que pertencem”. Isso nos faz pensar sobre riscos de apenas mudar a estrutura,
contudo a essência da formação continuar no paradigma que se pretende superar.
Na tentativa de explicar o conceito de profissionalidade docente, Sacristán (1995)
propôs uma reflexão no que se refere à ampliação do sentido e o conteúdo dela, ou seja,
os problemas, espaços e contextos em que o professor vai se deparar, pensar e intervir.
Evidentemente, isto vai implicar diretamente na qualificação e competência docente para
enfrentar e atuar frente aos temas cada vez mais complexos e dinâmicos, os quais se
apresentam como desafiadores na área de formação profissional do policial.
Servindo de base para investigação proposta, Roldão (2007) contribui para a
análise das questões sobre a profissionalidade docente, reforçando seu caráter dinâmico
a partir dos conceitos, papéis e funções sociais e profissionais ao longo dos tempos e
conforme o contexto em que se vive. Nesta dinamicidade, percebe-se que o
caracterizador distintivo do docente permanece firme na ação de ensinar.
O entendimento por ensinar, mesmo sem consenso estabelecido ou, como nas
palavras de Roldão (2005), com duas leituras distintas – como professar um saber ou
como fazer outros se apropriarem de um saber – é a ação docente de fazer aprender
alguma coisa a alguém.
Podemos associar a primeira leitura trazida por Roldão (2005) nos seus estudos
sobre o conceito de ensinar, a postura do instrutor, tradicionalmente transmissivo e
sustentado por sua considerável experiência de vida policial. Na segunda leitura, uma
visão como profissional do ensino policial, que inclui os conhecimentos necessários para
levar o aluno a aprender, ou seja, específicos da função de ensinar.
Voltamos a afirmar insistentemente que, diante da dinâmica e complexidade da
vida em sociedade, cujos reflexos são sentidos em todos os seguimentos, atuar na
formação policial exige adequação às novas realidades. A mudança da instrução militar
para o ensino policial sinaliza a transformação na área de segurança pública para dar
conta dos desafios postos. Contudo, é preciso ratificar o entendimento de ensinar não
mais como sinônimo de transmitir o conhecimento acumulado sobre a função policial, já
que não se sustenta no âmbito social, mas sim como sinônimo de mediação dos
conhecimentos imprescindíveis ao exercício da profissão policial.
Em razão disso, é prudente pontuar que, atualmente, a função de ensinar é
caracterizada pela dupla transitividade e pelo lugar de mediação. Roldão (2007, p.95)
afirma que “Ensinar configura-se assim, nesta leitura, essencialmente como a
especialidade de fazer aprender alguma coisa”. Isso nos faz pensar sobre esse
conhecimento que distingue bem aquele que é capaz de conduzir o aluno à
aprendizagem e, assim, desempenhar a função docente no ensino policial.
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Os rumos do CFO/PM ainda estão no campo da incerteza, já que não se tem uma definição clara
dos caminhos a serem trilhados, não obstante a publicação de Lei Complementar que altera sua
entrada para nível superior, suscitando mais dúvidas do que certezas.
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2
A referida turma de CFO/PM adquiriu o status de curso superior reconhecido pelo CEE, através do Parecer
033/2008 que credenciou a ACIDES.
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instrução na ACIDES.
Nas questões abertas, quando da tentativa de identificar as concepções de
formador, pode-se observar a latente valorização e destaque dados à experiência prática
do trabalho policial, em especial, o operacional na profissão, como requisito para atuar na
formação do policial na ACIDES, em passagens como: “Mínimo de cinco anos de
experiência na execução da atividade fim da corporação (i.1); “Formação e experiência
prática na área. “Porque apenas formação na área não garante um bom desempenho
como docente. (i.28)”; “Experiência prática na matéria específica “na matéria” que irá
ministrar aula (i.33)”.
Noutras passagens também recorrentes, a ideia de possuir um saber
especializado na área da disciplina ou ser possuidor do conhecimento específico foi
também destacada como ponto crucial na concepção dos formadores para atuação como
instrutor, como se observa a seguir: “Especialização na área, uma vez que teoricamente
melhor qualifica o instrutor (i.9)”; “Validação dos currículos, certificados e diplomas
apresentados pelos candidatos a docentes, por uma banca examinadora (i.24)” Possuir
cursos específicos de especialização no campo da disciplina que pretende atuar como
instrutor (i.41)”. Este debate sobre o saber conteudinal disciplinar é bem explorado por
Roldão (2007), que aponta a importância e o lugar da mediação, ou seja, a transformação
desse saber conteudinal curricular, que é caracterizador da função de ensinar.
Nesse sentido, se pensarmos a formação do policial dentro do eixo profissional e
a dimensão dos desafios postos pela sociedade, ampliaremos a visão e o papel do
instrutor na ACIDES. Não mais como mero transmissor de conhecimentos ou técnicas,
mas como formadores capazes de realizar as transformações necessárias para
consolidar o novo paradigma da função policial. Isso nos parece sinalizar que é preciso
avançar e estudar mais os impactos e desafios dessa transformação.
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5 Considerações iniciais
O presente texto tratou da pesquisa em andamento que investiga acerca da
profissionalidade docente requerida para atuar na formação profissional dos policiais,
especificamente no Estado de Pernambuco no âmbito da ACIDES, no contexto do ensino
policial. A expectativa é grande quanto à expansão do campo de visão sobre o processo
formativo do policial, de modo a possibilitar um olhar mais específico para o formador –
docente no ensino policial - proporcionando a reflexão em torno do debate acerca da
ação de ensinar à função policial, nesta área específica e pouco explorada, mas de
extrema relevância no atual contexto social.
Diante da natureza da pesquisa em desenvolvimento e das especificidades na
formação policial, aliada à questão temporal, acreditamos, pelos resultados iniciais, que o
percurso metodológico escolhido será capaz de dar conta da caracterização dos
elementos estruturantes da profissionalidade docente requerida para atuar na formação
profissional do policial na ACIDES no contexto das exigências do paradigma preventivo.
Embora ainda com dados preliminares, estes já nos remetem aos possíveis
desafios a serem enfrentados no ensino policial perspectivada pela afirmação do
paradigma preventivo/educativo e possibilidades de (re) configuração da
profissionalidade de seus formadores, com intuito de transformar a polícia, tida como
repressiva, numa preventiva com viés educativo, sem perder de foco o seu maior objetivo
institucional: a paz social e o bem-estar dos indivíduos na nossa sociedade.
Referências
BALESTRERI, Ricardo Brisola. Direitos Humanos: Coisa de Polícia. 3ª ed. Passo
Fundo-RS: Edições CAPEC, Gráfica Editora Berthier, 2003.
BENGOCHEA, Jorge Luiz Paz et al. A Transição de uma Polícia de Controle para uma
Polícia Cidadã. São Paulo em perspectiva, São Paulo, v.18, n.1, mar. 2005. p.119-131.
KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1988.
Ed. original americana, 1962