Você está na página 1de 24
i Modernidade e pés-modernidade em vozes femininas' Miriam Adetman (oad peel wo dr ressondo na capetee nas potas fechas fh bibioten; epee em coma & desngravel se er tancoda ola de for: pense em come calor ea plor ser rancada ola de dente, pensonde na segutongee ne prxpeidae deur secoe na pobreza e insguranca do ours eno efit da raga ena fala de radon mene de un eer, pense Finalmente que era hora de recor scarce amarfenbada to ia, com suas dscns e presse e sua rai ese reo € cinta wane canta theres de estrelos cull nor eros scuis do eu, Pavecia que se estan sds com wna eampantia Ineserdve Virgina Wood, Un revo tx Essas palavas da escritora modemista inglesa Virginia Wool, retiadas das paginas Incas do seu ensaio mals famoso, publicado no ano de 1929, aludem a solidao do artista ou do escrtor. Uma solidao necesssrla, um “estar a sO consigo mesmo” para sentir e pensar 0 ‘mundo, Mais ainda, sao palavas que falam sobre asolidao da artista, solidao porter the sido rnegada “uma tradicao" na qual se situa; por estar “wancada do lado de dentro": da casa, do lar, dos espacos de uma sociedade patriarcal que se esforcava para manter as mulheres sob o papet doméstico cu no silencio. No ensaio A Room of One's Own (traduzido para 0 portugués como Um tera todo seu) Wool é bastante explicita na sua critica & situacao das mulheres de sua época e do longo petiodo que a antecede, no decorter do qual a sociedade moderna vai tomando forma. Atraves de rflerdes e do woo de imaginacao, consti6i cendrios onde revela os multiples efeitos de se 1 Mets aoradecintoe 20 amioe «eoeus Aviano Codato pelo camite pra partis do ile de anfrén clas "Para wiser no séula XXI" portato or tor me incltada a escrover est testo cua tenia esta amiga a algae tro, eperanda qu ev ihe deczatve um pouco mais de ateng, Aaradeqa também 3 ‘nha Irs bora Adelman par ler cemparihade comige suas cbueraage sabre a euritra mexicana Rosia Castelancs, i i Fara viverne Século XX a raver no Séeuto XXL ‘cupar uma posigdo subaltema, do fato de as mulheres estarem *colocadas do lado de fora’ da produgao artistia, cultural e cientifico, de habitarem uma sociedade patriarcal e burguesa {que valorizao “suitor, mas nega e elas oingresso nos espacos e nas atividades que permite 0 acesso efetivo a condicao de sujeito. Essas reflexdes, entao “solitéias’ foram retomadas em décadas posterloes por out- ras mulheres, inspirando formidaveis realizacies literrias, de pesquisa e autras formas de producao de cultura’. fazendo com que as mulheres fossem, finalmente,lidas © owvidas. De Tato, 0 século XX toda exigiu a persisténcia dessa luta pela inctusco~ e também pela reconhe- cimento do que algumas esritoras chamaram [nao sem causar polémica) “uma vor diferente" Nia area disciptinar na qual recebi minha formagdo, a Sociolagia, é evidente que os discursos classicos ~ aqueles através dos quais a disciplina foi formada e consolidada ¢ que se sustentam através das redes de poder das Insttuigbes académicas —foram pautados pelas “experiéncias masculinas” da esfera publica‘. Portanto, suas grandes tematicasinicais foram 5 do trabalho (especificamente, do trabalho assalariado], do Estado ¢ da vida politica insti~ tucionalizada, e das grandes organizaqoes burocdticas; a “luta de classes’, de Karl Marx, a “especiticidade” do “capitelismo ocidental modesno* pautado na racionalizacao da conduta da interagao humana, de Max Weber. Emile Durkheim, que pode ser identifcado coma © ‘mats conservador” dos ies pais da Sociologia, detendia o papel “naturalmente subardinado” das mulheres na divisao sexual do trabalho (Lehmann, 1994]. Embora Marx tenha criticado a categoria burquesa de “individuo", por ser uma categoria esvaziada de especificidade histivica que produz uma nocao essencialista da “natureza Individualista” do sujeita humanc, embora Max Weber tenha pensade noutiostipos de “acao humana’, no prapriamente madeinas, que ‘do se pautavam numa *racionalidade instrumental” [Sendo em caracteisticas de tadicao e arise}, nao thes ocoria pensar nas formas de insergdo tos sujeitos femininos na modexni- dade, Eles ainda nao reconheciam outa(s)esferals}, outros tipas de suettos © outas logicas também modemas que hoje em dia ~ gracas aos esforcos de revisdo e problematizagao do ‘anone ~ fazem parte do elenco dos problemas e personagens que pavoam o discurso soct- ‘ldgico. De fato, nao ha melhor exemplo do que a propria questaa da subjetividade, que em 2 Refiro-me aqui a produao cultural stricta senso, artista e intelectual made singulares de vida, oy 2 “eur come pitas Ge sgnfeag8o", nag desea sob a inuenela 3 Aproeite ero prapoeto por Gilson (1982) se, erelana eras debates em tome deseu trabalho, argo que ui a expressio woes fering" como fora de artclarexperiécia especies, ese. taro os mips ees da fren entre multers (coma 38 cate e agaetnchde tame as aie er la uhjetiviadeinviua, a qual a teratura tee a hanna melhor da qe Soo.) 4 Ver aespita- Wel, 1990; Ain, 2008, stan outros aso vidos tempos recentes vem sendo reconhacida e estudada como uma construcao cultural paticular- mente moderma, tomando-se uma problemética fundamental da Sociologia® Entre 0s vari socidlogas de renome da atualidade que vém incorparando em suas teotias sobre a modesnidade essa dimensao da subjetividade, o britanico Anthony Giddens cocupa um lugar de destaque, tendo, come argument noutro lugar, uma divida mutta grande com suas interlocutoras da teora feminista (Adelman, 2004). Foram elas que, a partir dos anos de 1970, insstram que o trabalho domestico fosse campreendido como a “outta face” do trab- tias tebricas feministas,elabora-se uma nova categoria tedrca para dar conta de uma araviverne Sécuto XXI 2) romain 72800 para alours autora, 0 sto contra: a modemidadeslnicada peo proto emancipadr © 8 ps Incdeide como seu scl, eu corupgao.Ocritico marta Fredric Jameson, bore em memento Iigum considers a perepetiva feminist, apresenta ua dacs interesante ds problemas desta dicoto- ena edeidadopis deride» mexonismnpérmodesma, o care trabalho, PSsmodeso: 3 Tei cultural do capitalise taro (1991; 1997 tad bras, 29 Meciono agi alas das contvbuibes mals inportanes, tanto no que tange teoria;ao quanto & rite‘ os esfrgos para veer coe privacy, entatas de compreender a pltca do catiane® do ube Quando as eines cosas 1960 dseram "opessoal arm € politico” no propunhsm nnn subjetsme mas uma abordagen mais complexa decom os precesss de dina, suber 0 resistencia oman forma Pasaviver no S€eulo XXE poderosa dimensao da realldade que até enti carecia de teorizagao sistematica —0 conceita de relacbes de genera Isto val provocar profundes alteracées nas formas cléssicas de ver 0 ‘mundo, mostrando como as relacdes de classe eraca, eas esferas mais diversas da vida socal desde o trabalho, a politica 0 Estado, até o esparte e a comunicagao ~ contém esta dimensao, que imbrica profundamente com outras formas de poder Produzer uma amisima literatura ‘eéricae de pesquisa empirca ¢ etnogrfica, vasta demals para comecar a falar sobre ela agora fem termos mais especiices. Mas pademos dizer que é uma abordagem que nes abriga a pen: sarniveis “macro” (instituigbes, mudanca histria e “micro” [a politica da interagéo sociale do cotidiano) e que permite a partir deste Ultimo, pensar em, como alguma vez disse a fldsofa huingara Agnes Heller, “madara vida", desde o lugar ea posicbo de cada sujeto. Assim como na teoria social a presenga de vozes femininas crticas & cada vez mals forte, as mulheres das letras ocupam cada vez mais espaco no paleo da criagao litera, Amu: danga toma-se notdvel a partir da obra publicada na época do pos-querra, Na América Latina, ‘a escritora brasileira Clarice Lispector {120-197} a mexicana Rosario Castellanos (1925-1974) 30 exemplares. Falarei um pouco sobre a Ultima, pois tive © privlégio de conhecer bem a Sociedade mexicana do final dos anos 1970 € Inicio dos anos 1980, e, portanto, presenciar a importancia que a obra de Castellanos tinha ganhado, tanto dentro do meio académico € literiro, quanto no movimento das mulheres. Incialmente, Castellanos tornou-se conhecida, pelos belos romances que retratavam os confitos caidianos entre camponeses indigenas © fazendeiros brancos no estado de Chiapas, sul do pais, onde ela ~ filha de membros da elite local — viveu sua infancia, Desde essa fase, sua vido citica das relagdes entre “crollos” indigenas ja incorporava uma sensibilidade pata as questdes de género e a crueldale com ‘que as instituigdese a interagao socal agiar sobre a vide das mulheres das diversas classes & grupos étnicns. Ela mesma, nascendo mulher dentro de uma familia de elite que supervalri- zava ofilho macho, tinha softido essa crueldade na pele. Sua obra posterior eatacteriza-se por temticas mais abertamente feministas (apesar de nao gostar de assumir eiqueta ou rétulo} que aparecem na sua poesia, no seu romance Rito de tniciacén [publicado apés sua morte] ¢ ‘em sua peca teatal,ElEtemo Femenino, que discutiremos a seguir. € pestinente citar aqui um trecho de seu poema Meditacién en ef umbral, que fala explcitamente sobre a urgéncla das ‘mulheres romperem com a tragicidade, ou frustrarao, que parece ser a tonica tanto nes persona gens femininas dafiegdo, quanto na vida das escritoras de periodos histéricos anteriores: ‘No.of la slucn arse bajo un en como la Ana de flsto nl apurar ef asénico de Madame Bory aguardaren ls piamos de Avila a vista el gel con venablo antes de ase el manta a la cabeza ycomenzar a actuar Ni concur as lye _geoménrcas contando as vgas de a cela de castigo ‘mofo hizo Sor Juana, No esa solucién esr, ‘ientas egan las vistas, en a sala de estar dela ‘anita usen nv encerarse ene atc de alana residencia de (a Noeva Iglaeray sor, con a Bia de os Dickinson. debajo de una almahads desta, Diz ainda sobre a urgéncia de falar e de viver “de outa modo’ ou come ela fnaliza 0 oem, “tra modo de ser humano y libre. Ovo modo de ser” Castellanos, a0 longo da vida curta que teve, contribu com sua abra esti Partiipago na vida socal para a construcao desse ove modo dese. Esceveu, poucos anos antes da sua morte, no inca dos anos 170, peca fl Etemno Femenina. Ela encena um passelo felohistria da nacao mexicana a patr de um olhar feminino, pode dizer-se,frninista, Desde as primeirascenas, que se desenrolam num slao de beleza de classe média da cidade do Mexico onde se encontra Lupita, uma jove que ir fazer o penteai para seu casamento, ‘uma e-Interpretagdo humoritica do enconra de Adao Eva com o pecado, Castellano j demonsta suas habilidades de escrito e erica cultural. Em sequida, elapse para dalogar varias figuras ferininaslegendarias de divers priodos da histrla do México: La Malinche, ‘ue ganhou m fama como mulher indigena que foi amante e concubina do canquistador espanhel Hernan Cortés; a grande poeta da época colonial Sor Juana Inés de la Cruz, que teve que optar pelo conventa para fugir da Unica saida disponivel para uma muther da sua tase, casamento: Adelita, queriheiae soldada da causa popular na Revolucao Mexicana, ene outas. As mulheres de Castellanos nao sdo nem vitinas, nem heroinas, nem as musas mistficadas que em ugar de cfar suas proprias obras, servam ~como bem apontou Simone de Beauvoir de inspiracao para os homens que escreviam e pintavam,Caracterizam-seprin-

Você também pode gostar