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DA ECONOMIA BRASILEIRA
Resumo
Considerando que neste ano de 2012 o BNDES está completando 60 anos, este artigo tem como
objetivo resgatar aspectos importantes de sua atuação como instrumento de financiamento de longo
prazo da economia brasileira, destacando sua importância enquanto instrumento de intervenção do
Estado na economia, em especial nos anos 2000. O banco teve um papel essencial na
industrialização brasileira, principalmente durante o Plano de Metas e o II PND. Nos anos 1990, sua
participação foi decisiva no processo de privatizações do Governo Federal. Nos anos 2000, o banco
passa a desempenhar uma função pouco conhecida, a de agente anticíclico, sendo fundamental para
minimizar os efeitos negativos de alguns eventos que afetaram o Brasil. Recentemente, tem havido
uma maior participação da instituição junto às micro, pequenas e médias empresas.
Abstract
In this year, BNDES is completing 60 years. So this article aims to rescue his performance in the
long-term financing of the brazilian economy, highlighting its importance as an instrument of state
intervention in the economy, especially in the 2000s. It was found that BNDES had an essential role
in industrialization, especially during the “Plano de Metas” and “II PND”. In the 1990s, the
participation of the bank was decisive in the process of privatization of the Federal Government. In
the 2000s, the bank begins to play an unfamiliar role, as agent countercyclical, being essential to
minimize the negative effects of some events that affected Brazil. Recently there has been greater
involvement of the institution with the micro, small and medium enterprises.
INTRODUÇÃO
A criação do BNDE (ainda sem o S), em 1952, representou um marco na jornada para o
desenvolvimento do Brasil. O Banco nasceu da convicção de que o país não podia depender
somente de recursos externos para avançar seu projeto de renovação da infra-estrutura
rodoviária, energética, de portos, e assim melhor competir no mercado internacional.
O BNDES foi fruto da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU), criada em 1950,
visando a viabilização do financiamento de projetos no país. Sobre a fundação do BNDES, escreveu
Lessa (1983, p. 21):
O primeiro e único financiamento aprovado pelo BNDES, em 1952, foi para viabilizar as
melhorias da Estrada de Ferro Central do Brasil (compra de vagões, substituição de trilhos, etc.). No
ano seguinte (1953), cinco novos financiamentos foram aprovados: três no Estado do Rio de Janeiro
(Companhia Nacional de Álcalis, Fábrica Nacional de Motores e Superintendência das Empresas
Incorporadoras ao Patrimônio Nacional - SEIPAN), um no Espírito Santo (Usina Rio Bonito) e
outro no Rio Grande do Sul (Viação Férrea do Rio Grande do Sul).
3
Em 1982, devido à inclusão da área social, foi adicionado o “S”, e o banco passou a ser denominado Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
4
Os dados da Tabela 1 mostram o volume dos financiamentos liberados pelo banco entre
1952 e 2001. Os valores estão atualizados pelo IGD-DI de dezembro de 2001. Nos primeiros anos,
de consolidação de sua implantação, os valores dos financiamentos do BNDES não são expressivos.
No entanto, verifica-se um significativo aumento a partir de 1957, justamente no período do Plano
de Metas do Governo Juscelino Kubitschek. Durante a década de 1950, 60% dos recursos do banco
foram destinados para a área de infra-estrutura econômica, principalmente energia e transporte. Os
40% restantes foram destinados à industrialização, com destaque para as áreas de papel e siderurgia
(BNDES, 2002). Um salto no volume de financiamentos pode ser verificado na década de 1970,
durante o II Plano Nacional de Desenvolvimento do Governo de Ernesto Geisel.
Com base em Prates et al. (2000) e Hermann (2010), é possível apresentar um breve
resumo da atuação do BNDES no financiamento da economia brasileira. Entre os anos de 1950 e
1970, o banco atuou como o principal financiador da indústria brasileira. 4 Ele teve importância
como o mais importante agente financeiro de fomento do país e suas metas eram definidas de
acordo com os planos de desenvolvimento. Na década de 1950 seu foco foi no setor de infra-
estrutura; na década de 1960, foi privilegiada a indústria de base, de bens de consumo, as pequenas
e médias empresas e o desenvolvimento tecnológico. Já na década de 1970, o banco atuou nos
setores voltados para insumos básicos e bens de capital.
Durante a década de 1980, conforme ressaltado por Prates et al. (2000), o BNDES passou
por uma “crise de indentidade”. De um lado, devido às crises fiscal e externa e aceleração
inflacionária associadas ao fim do padrão de desenvolvimento da economia brasileira. De outro
lado, por conta das ideias neoliberais que começaram a surgir no fim da década, dentre as quais a
redução da participação do Estado na economia, através dos processos de privatização, e que
tiveram repercussões dentro do banco. Neste período, as políticas de desenvolvimento foram
inviabilizadas e a participação do BNDES foi reduzida devido à forte retração da atividade
econômica. A Tabela 1 mostra a queda do volume de financiamentos do banco: os recursos do
triênio 1980/1982, em relação ao triênio 1977/1979, foram 26% menores. Ainda assim, sua
participação na chamada “década perdida” se deu nos setores de energia, agricultura, integração
competitiva e na área social.
Nos anos 1990, durante o Governo de Fernando Collor de Mello, a atuação do BNDES foi
redefinida em razão da onda neoliberal que se difundia no Brasil, e na aceitação do chamado
Consenso de Washington. Como a presença do Estado no desenvolvimento deveria ser substituída
pela iniciativa privada, ocorreu o processo de privatização das empresas estatais. Ao Estado caberia
o papel de regulador, com o objetivo de estimular a competição e a eficiência dos mercados.
Portanto, o BNDES passou a adotar uma nova estratégia de desenvolvimento, sendo responsável
pela gestão do Plano Nacional de Desestatização (PND), tornando-se o agente financeiro dos
programas de privatização do país, atuando na aquisição e saneamento financeiro das empresas que
seriam vendidas à iniciativa privada. Além disso, também estimulou as exportações e o
desenvolvimento social e urbano. No fundo, o banco reduziu significativamente seu volume de
financiamentos: o quinquênio 1989/1993, em relação ao quinquênio 1984/1988, marcou um
decréscimo dos financiamentos de 49,6%. Já a partir de 1997, ainda conforme Tabela 1, os
financiamentos do banco alcançam valores inéditos. No entanto, os recursos estavam sendo
destinados, principalmente, ao processo de privatização do setor elétrico, e não para investimentos
em novas empresas.
4
O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal se voltaram predominantemente para os financiamentos ao setor
agrícola e imobiliário, respectivamente (HERMANN, 2010).
5
TABELA 1: Financiamentos do BNDES - em mil US$ e R$ (1952-2001)
6
Durante os anos 2000, o BNDES ampliou sua atuação em beneficio das exportações. Além
disso, a partir de 2004, se iniciou um novo ciclo de crescimento, baseado no aumento da renda, do
investimento e da produtividade da economia. Com o Governo Lula, o Estado retomou seu papel
como um importante indutor do crescimento econômico e o banco ganhou mais evidência, no
sentido de dar continuidade à sua função básica de desenvolvimento. Em 2004, o governo lançou a
Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), com participação direta do
BNDES na sua formulação. Destaca-se também sua atuação no Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC). O banco promoveu a modernização de setores produtivos, de áreas de infra-
estrutura, exportação, desenvolvimento social e urbano, micro, pequenas e médias empresas,
privatização e mercado de capitais. Por fim, o banco teve importante papel, assim como outros
bancos oficiais, na manutenção do nível dos investimentos durante a fase de escassez de liquidez
pela qual passou o sistema financeiro privado nacional em decorrência da crise financeira
interncional, que teve seu ápice em setembro de 2008. Entre 2004 e 2010, o volume de
financiamentos salta de R$ 40,0 bilhões para R$ 168,4 bilhões, evidenciando o aumento dos
empréstimos do banco nos últimos anos.
Para que os bancos públicos cumpram sua função para o desenvolvimento de um país, é
importante que sua estrutura de funding esteja fortemente baseada em fundos parafiscais, recursos
próprios do banco e empréstimos de organismos internacionais de desenvolvimento e que as
condições de crédito em termos de prazos (mais longos) e custos (mais baixos) sejam melhores que
aquelas oferecidas pelo setor privado, de modo que possam estimular o investimento (HERMANN,
2010, p. 26).
Araújo (2007), ao tratar do formato de captação de recursos para promover o fomento,
constatou que em muitos países os recursos dos seus bancos de desenvolvimento eram fornecidos
pelas autoridades monetárias. No Brasil, o BNDES teve um padrão de financiamento diferente,
dado que na época de sua criação havia estudos que mostravam o caráter inflacionário do
financiamento via emissão monetária (teoria monetarista) e o descontrole da inflação era fonte de
preocupações das autoridades. Os economistas da tradição heterodoxa, que associavam a inflação a
problemas estruturais e o excesso de moeda um mecanismo de transmissão, também pregavam que
o desenvolvimento deveria ser não inflacionário. Sendo assim, os recursos obtidos pelo banco
deveriam vir de mecanismos que utilizassem poupança compulsória, representada pela criação de
fundos fiscais.
Assim, no que diz respeito à estrutrutura de fundos, o BNDES utiliza em grande parte
recursos parafiscais e próprios. O banco capta de fontes nacionais, tais como o Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT), Fundo do Programa de Integração Social – Programa de Formação do
Patrimônio do Servidor Público (PIS-PASEP), Fundo de Investimento do Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço (FI-FGTS), patrimônio líquido da instituição, Tesouro Nacional,
emissão de debêntures da BNDESpar, fundos públicos de menor porte, como o Fundo da Marinha
Mercante e o Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND).
O banco também capta recursos no exterior de agências governamentais e instituições
multilaterais, tais como Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Japan
Bank for International Cooperation (JBIC), Banco de Desenvolvimento da China, Banco Alemão de
Desenvolvimento, fundos de mercado, bônus, empréstimos e repasses no exterior (BNDES, 2009).
7
Cabe mencionar que os fundos externos representam uma parcela muito pequena no passivo total do
banco (TORRES FILHO, 2007).
Uma característica relevante das fontes de financiamento do BNDES é que elas não sofrem
com os ciclos de crédito bancário e, portanto, o fornecimento de fundos se mantém relativamente
estável diante das oscilações da oferta de crédito dos demais bancos. A estrutura de capital do banco
é ilustrada pelo Gráfico 1. Nota-se que tanto em dezembro de 2007 quanto em dezembro de 2008,
os recursos oriundos do FAT tinham proporções mais elevadas, 52,3% e 42,0%, respectivamente.
Em 2009, em razão dos empréstimos do Tesouro Nacional ao BNDES, estes passaram a ter maior
representatividade. Como se vê, em junho/2011, cerca de 50% do funding do banco foi fornecido
pelo Tesouro. Essa é uma questão que tem gerado muita discussão, em razão do diferencial de taxa
de juros paga pelo Tesouro para captar recursos via emissão de títulos (a taxa Selic) e a que o
BNDES cobra pelos empréstimos concedidos (TJLP). Mais adiante, essa questão será retomada.
Quanto ao custo dos financiamentos, o BNDES cobra taxas mais baixas que a dos bancos
privados e dos demais bancos públicos (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil). O custo
básico dos empréstimos concedidos pelo banco é definido pela taxa de juros de longo prazo
(TJLP)5, que desde julho de 2009 tem sido fixada em 6% ao ano mais um spread, cujo valor é
muito menor que aquele praticado no mercado bancário. Com custos financeiros menores, os níveis
de inadimplência no BNDES são baixos (Gráfico 2), sobretudo em comparação com o que vigora
no resto do setor bancário. Por exemplo, em 2011, enquanto a taxa média de inadimplência no
BNDES era de 0,14%, a taxa do Sistema Financeiro Nacional era de 3,6%. Ademais, vale ressaltar
também que os níveis mais baixos de inadimplencia do banco também se devem à sua capacidade
de analisar o risco de crédito. Conforme Torrres Filho (2009), a qualidade do crédito originado pelo
BNDES é alta visto que boa parte dos credores são instituições financeiras e grandes empresas que
possuem um relacionamento de longo prazo com o banco.
5
A TJLP é fixada pelo Conselho Monetário Nacional e tem período de vigência de um trimestre-calendário.
8
3,50
3,10
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00 0,90
0,80
0,70
0,60 0,60
0,30 0,50
0,50
0,15 0,20 0,15 0,14
0,10
0,00
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
É comum a afirmação de que o crédito no Brasil é caro, escasso e muito volátil quando são
feitas comparações internacionais. De fato, o Brasil ainda apresenta uma baixa relação crédito/PIB
(49,1% em dezembro de 2011) em relação a alguns países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Conforme exposto na Tabela 2, há casos em que o crédito supera o PIB: Canadá (153%), Coréia do
Sul (163%), Estados Unidos (187%), China (130%) e França (103%), por exemplo. Entre alguns
países emergentes, notam-se altas proporções: Chile (80%) e Índia (76%).
9
A evolução do crédito ao setor privado como proporção do PIB no Brasil, entre janeiro de
2001 e dezembro de 2011, é visualizada no Gráfico 3. No período de 2001 a 2005, o crédito em
relação ao PIB ficou estacionado em torno de 25%. Esta tendência foi modificada a partir de 2006,
quando o volume de crédito em relação ao PIB deu saltos expressivos, chegando a 49% em
dezembro de 2011. Mesmo com este crescimento dos últimos anos, o Brasil continua com uma
modesta relação crédito/PIB em termos internacionais.
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
2000.06
2000.11
2001.09
2002.02
2002.12
2003.05
2004.03
2004.08
2005.06
2005.11
2006.09
2007.02
2007.12
2008.05
2009.03
2009.08
2010.06
2010.11
2011.09
2001.04
2002.07
2003.10
2005.01
2006.04
2007.07
2008.10
2010.01
2011.04
Gráfico 3: Evolução do crédito ao setor privado no Brasil - em % do PIB (2001-2011)
Fonte: Banco Central do Brasil (2012).
10
12,0%
9,7% 9,6%
10,0% 8,9%
8,0% 6,9%
5,8% 6,0% 5,8% 6,0%
5,7% 5,7%
6,0% 5,0% 5,4%
4,0%
2,0%
0,0%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 jul/11
O Gráfico 6 mostra a distribuição dos desembosos concedidos pelo BNDES por setor de
atividade desde 2002 até junho de 2011. Nota-se que os financiamentos realizados pelo banco se
concentram majoritariamente nos setores da indústria e da infra-estrutura.
11
Gráfico 6: Participação percentual dos desembolsos do BNDES por setor de atividade (2002-2011)
Fonte: BNDES (2011).
Merece destaque uma importante alteração que vem sendo observada no que diz respeito
ao porte da empresa que é atendida pelo BNDES. Os desembolsos concedidos pelo banco eram
predominantemente voltados para as grandes empresas, sobretudo no período do II Plano Nacional
de Desenvolvimento. Esta característica dos empréstimos vem se alterando, principalmente a partir
dos anos 2000. Cada vez mais o banco aumenta suas operações com as micro, pequenas e médias
empresas (MPME´s) e pessoa física. O Gráfico 7 ilustra a distribuição dos empréstimos concedidos
pelo banco por porte de empresa.
Vale ressaltar que apesar da necessidade de o BNDES reduzir sua participação no total de
crédito da economia brasileira em 2011, dada a recuperação do mercado privado de crédito e as
pressões inflacionárias, neste ano específico, R$ 49,8 bilhões foram liberados para as MPME´s.
Esse montante representou cerca de 36% do total de desembolsos feito pelo banco. Esta proporção
foi a maior da história da instituição para um ano completo (BNDES, 2012).
12
Gráfico 7: Distribuição percentual dos empréstimos do BNDES de acordo com o porte da empresa
(2002-2011)
Fonte: BNDES (2012).
A primeira está relacionada à função econômica cumprida pela instituição: garantir fundos
em moeda nacional para investimentos de longo prazo. Dada a autonomia de seu funding e
de sua liquidez em face do mercado, a capacidade de financiamento do BNDES não é
muito afetada pelo ciclo de crédito do mercado. O impacto maior do ciclo sobre o BNDES
se faz sentir pelo lado da demanda. Flutuações relevantes no crédito afetam os níveis de
investimento das empresas e, em consequência, as atividades do banco. Sua ação a esse
respeito é, basicamente, dar continuidade aos projetos em curso e, sobretudo, evitar que
uma eventual escassez de fundos de longo prazo se torne um elemento adicional de
desaceleração do investimento. (...) A segunda parte da análise diz respeito ao curto prazo.
Diante de relativa inelasticidade de suas fontes de recursos e de liquidez, a atuação do
BNDES pode ter foco anticíclico, em particular nas fases descendentes da economia. Essa
6
Risco de crédito, quando o tomador de crédito não honra os pagamentos devidos. Risco de liquidez, associado ao
descasamento de prazos entre os ativos e passivos. Risco de juros e de câmbio, resultantes de uma variação
desfavorável da taxa de juros e da taxa de câmbio, respectivamente.
13
ação depende de políticas de crédito específicas e da resposta dos investidores aos
incentivos criados (TORRES FILHO, 2007, p. 300-301).
Nos anos 2000, diante de eventos que afetaram o mercado de crédito e consequentemente o
financiamento da economia brasileira, o BNDES teve oportunidade de agir de modo anticíclico. Por
exemplo, devido ao aumento do risco Brasil e da crise de confiança político-eleitoral que afetou o
país em 2002, os bancos estrangeiros suspenderam suas linhas de crédito para o financiamento das
exportações. O Banco Central e o BNDES agiram para fornecer os recursos para que os bancos
brasileiros concedessem os empréstimos necessários às empresas e reduzissem assim os efeitos da
redução da liquidez. De acordo com os dados obtidos de Torres Filho (2006), entre junho/2001 e
junho/2002, o crédito ao setor privado como proporção do PIB reduziu-se de 29,1% para 23,8%.
Nesse mesmo período, a participação do BNDES no crédito total foi mantida, o que contribuiu para
o não agravamento da oferta de crédito, evitando a paralisação de uma série de projetos de
investimentos. O BNDES também financiou as empresas do setor elétrico que estavam passando
por problemas na época (crise do “apagão” de 2001) e tiveram dificuldades de obter empréstimos
nas instituições privadas.
Dados extraídos de Sant´anna (2009), também ilustram o papel do BNDES como
estabilizador no mercado de crédito. O Gráfico 8 mostra claramente que, entre junho/2000 e
junho/2006, enquanto a relação crédito/PIB para a economia estava baixa, o crédito fornecido pelo
BNDES em relação ao crédito total estava em alta (BNDES/Crédito). A partir de então, com a
recuperação do crédito total, a relação BNDES/crédito se reduz. Desse modo, o crédito fornecido
pelo BNDES como proporção do crédito total ao setor privado aumentou de 18,1%, em abril de
2001, para 24,3%, em março de 2003. Desde então, tal participação foi sendo reduzida à medida
que a situação econômica melhorava e os bancos retomavam suas funções de emprestadores.
7
No início de 2009, o Tesouro Nacional repassou R$ 100 bilhões para assegurar o funding para que o banco
viabilizasse sua política anticíclica por conta dos efeitos da crise financeira mundial. Em 2010, o Tesouro repassou
outros R$ 80 bilhões.
8
Vale mencionar que a retração dos investimentos, de 2005 para 2006, por causa da elevação da taxa básica de juros no
Brasil, fez com que o BNDES elevasse seus financiamentos, principalmente para o PAC (Plano de Aceleração do
Crescimento). Tal procedimento contribuiu para esgotar o potencial de financiamento do banco no final de 2007. Diante
das dificuldades durante o ano de 2008, o BNDES teve que recorrer ao empréstimo do Tesouro Nacional para poder
contribuir com a recuperação da economia brasileira, especialmente nos momentos mais críticos da crise financeira
mundial.
15
De acordo com BNDES (2010a) e Coutinho (2011), o custo direto para o Tesouro
Nacional deve-se à diferença entre a taxa de juros cobrada pela União ao BNDES e a que o Tesouro
obtém no mercado para captar recursos (Taxa Selic). O BNDES repassa os recursos e cobra a TJLP
mais o spread de risco, que varia conforme o projeto. Para o Tesouro há um custo elevado, que
equivale ao valor presente da diferença entre as taxas de remuneração dos ativos e passivos. No
estudo feito pelo BNDES, foi estimado que ao final do empréstimo o banco teria um lucro em valor
presente de R$ 37,1 bilhões, os quais voltariam para a União através de dividendos ou capitalização
do próprio banco. Para Oliveira (2011, s.p.), o relatório do TCU afirma que: “As operações
subsidiadas do Tesouro Nacional com o BNDES, ao mesmo tempo em que criam um custo fiscal
para o Tesouro, acarretam um aumento do lucro da instituição financeira, que termina por se tornar
receita de dividendos para o Tesouro”. Outros benefícios referem-se à possibilidade de manutenção
do financiamento na economia brasileira, visto que várias fontes “secaram” e o banco havia
esgotado seu potencial de empréstimo na época.
Assim, os investimentos realizados contribuíram para aumentar o PIB e a arrecadação de
impostos no curto prazo. Além disso, aumentava a capacidade produtiva potencial da economia de
modo mais permanente, o que geraria uma maior arrecadação no longo prazo (BNDES, 2010a).
Portanto, os benefícios superariam os custos, pois sem os aportes de recursos do Tesouro ao
BNDES, não teria sido possível ao banco realizar os desembolsos da época. Sem tais recursos, o
crescimento do PIB ficaria ainda mais comprometido em 2009, intensificando as perdas em termos
fiscais, de emprego e de renda. Segundo Coutinho (2011, p. 415), “O efeito positivo da criação e
manutenção da renda compensou o ônus fiscal embutido”.
A despeito dos custos citados, acredita-se que os benefícios são suficientes para superá-los.
É inegável que os empréstimos do Tesouro ao BNDES, em um momento de crise financeira,
marcada pela escassez de recursos tanto no mercado interno quanto externo, mantiveram a oferta de
fundos para garantir os investimentos e assim diminuir os efeitos negativos no curto prazo sobre a
economia brasileira, minimizando os impactos sobre o emprego e a renda. Conforme Lacerda e
Oliveira (2011), com a crise financeira internacional de 2008, veio à tona o papel essencial do
BNDES (e dos demais bancos públicos) enquanto instrumento de política macroeconômica
anticíclica. Vale mencionar que foi muito comentado na mídia que o Brasil conseguiu superar mais
rapidamente os efeitos da crise porque tinha um banco como o BNDES, ao contrário de outros
países que sofreram com a escassez de crédito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O BNDES teve um papel essencial no desenvolvimento industrial brasileiro. Ele ainda hoje
é a principal instituição fornecedora de financiamento de longo prazo no país, com taxas de juros
mais adequadas e muito abaixo daquelas praticadas pelo sistema bancário. Através do BNDES, o
Governo Federal também dispõe de um importante instrumento de política econômica. Quando de
sua criação, seu objetivo era estimular o desenvolvimento de setores que ainda não existiam no país.
Outro objetivo do banco era o de atuar complementando o sistema de financiamento, visto que a
operacionalização de alguns segmentos da atividade econômica requeria empréstimos de longo
prazo, a custos mais competitivos. Como o setor financeiro privado é mais avesso ao risco e, de
modo geral, não tem interesse em atuar nestes segmentos, coube ao setor público, através do
BNDES, preencher essa lacuna.
Na ausência do BNDES, diversos setores não teriam obtido os recursos necessários para a
realização dos seus projetos de investimentos, o que teria impactado negativamente sobre o
desenvolvimento da economia brasileira. Ao longo de sua história, o BNDES foi ampliando sua
base de atuação. Foi crucial no processo de industrialização do país, apoiando os investimentos em
infra-estrutura, indústrias de base, máquinas e equipamentos. Atuou no financiamento da
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privatização e constitui-se numa importante fonte de recursos para o financiamento de longo prazo
das grandes empresas.
A partir de meados dos anos 2000, observou-se uma tendência de crescimento das
operações do BNDES, graças ao novo ciclo de investimento por que passa a economia brasileira
desde 2004. Muitos desses investimentos estão concentrados em áreas ligadas à infra-estrutura,
cujos projetos são de longo prazo e de alto risco, requerendo empréstimos também de longo prazo.
Apesar dos financiamentos concedidos pelo BNDES se concentrarem nas grandes empresas,
recentemente tem havido uma maior participação da instituição junto às micro, pequenas e médias
empresas, o que também contribui para o crescimento do país, visto que a maior parte dos empregos
é gerada por essas empresas.
Também nos anos 2000, veio à tona uma função pouco conhecida do BNDES (e dos
demais bancos públicos), que é sua capacidade de atuar de modo anticíclico no mercado de crédito.
O papel anticíclico do BNDES contribuiu para garantir a oferta de recursos para os investimentos
produtivos na economia nos períodos de 2002/2003 e 2008/2010, e assim diminuir os efeitos da
escassez de recursos durante as fases de forte retração do mercado financeiro.
Com o esgotamento de seus recursos, na crise de 2008/2010, foi essencial a participação do
Tesouro Nacional como uma nova fonte de funding do banco. A despeito das críticas sobre a
relação Tesouro-BNDES e dos subsídios por trás dessa relação, acredita-se que os benefícios em
subsidiar os investimentos (que geram emprego, renda e maior arrecadação tributária) superam os
custos fiscais iniciais. Sendo assim, o fato de o Brasil possuir um banco público de
desenvolvimento constitui-se num instrumento essencial para atuação do Estado na economia. E o
BNDES tem cumprido seu papel no estímulo ao desenvolvimento do país, visto que apesar dos
avanços recentes, o crédito de longo prazo a taxas de juros mais baixas ainda é escasso tanto para as
grandes empresas quanto para as pequenas e medias.
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