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Luta na Frente Oriental

Termina tragicamente a rebelião polonesa

Fim da rebelião polonesa

A 1o de agosto de 1944, exatamente às 8h da noite, a bandeira polonesa começou a tremular na torre do mais
alto edifício de Varsóvia. Logo depois, em centenas de janelas apareciam outras pequenas bandeiras
vermelhas e brancas. A população da capital da Polônia acabava de rebelar-se, de armas na mão, contra os
alemães.

Ao caírem as primeiras sombras da noite, ia intensificando-se gradualmente o matraquear das metralhadoras,


ao mesmo tempo em que a cidade começava a ver-se iluminada pelo clarão dos incêndios que já se
espalhavam por todo o lado. Enquanto isso, os canhões russos troavam ao longe, atingindo as posições
alemães.

O General Bor Komorowski, no Comando Supremo, começava a receber os primeiros relatórios da batalha.
Durante toda aquela histórica noite as autoridades do governo legítimo da Polônia, que se encontrava
radicado em Londres, aguardaram febrilmente as notícias.

Não puderam, no entanto, ser enviadas naquela noite; a estação de rádio, em virtude do ataque sofrido pela
fábrica Kammler nos primeiros momentos do levante, fôra avariado e os engenheiros ainda trabalhavam na
sua reparação.

Até aquele momento o mundo ignorava que a população de Varsóvia levantara-se em defesa da sua
liberdade.

2 de agosto de 1944

A luta continuou com intensidade durante toda a noite de 1 o de agosto, até às primeiras horas do dia 2. Até às
cinco da manhã o Comando Supremo alemão da capital polonesa continuava na impressão de que os choques
desenrolados em diversos pontos de Varsóvia careciam de importância verdadeira. Somente a partir dessa
hora, quando as primeiras luzes do dia revelaram a magnitude da luta, os informes começaram a chegar
demonstrando a dimensão real da batalha. Decidiram então atuar com a máxima energia. As formações
blindadas alemãs, até aquele momento em estado de alerta, receberam ordem de entrar em ação, o que foi
feito imediatamente. Às 5h:15m dezoito tanques alemães cruzaram a Praça de Unya Lubelska em direção ao
centro da luta. Os Panzer, no entanto, eram de pouca utilidade para aquele combate nas ruas. Os blindados,
atacados das janelas e telhados, convertiam-se em alvos ideais para os combatentes do Exército da Pátria,
que os acossavam com "filipinkas" e garrafas de gasolina munidas de um detonador, ou com simples pedaços
de trapos incendiados, empapados de gasolina. A esta altura as ações desenvolviam-se em frentes individuais.
Lutava-se nas ruas, nas praças e nos edifícios. Viam-se muitas vezes grupos de alemães cercados numa casa
pelos poloneses. Estes por sua vez estavam rodeados de destacamentos alemães, atacados por outros
populares que disparavam da retaguarda. A luta tornara-se extremamente confusa.

Os poloneses constataram de imediato a impossibilidade de manter o contato entre os grupos de combatentes


devido ao fogo que cruzava os espaços abertos. Em conseqüência, premidos pelas circunstâncias, os homens
do Exército da Pátria começaram a abrir passagens comunicando os casas entre si. Ao mesmo tempo,
conectando essas passagens com os encanamentos e as grandes tubulações de esgotos, formaram uma
intrincada rede de comunicações subterrânea.

Um grupo de combatentes poloneses, que operava no subúrbio de Stawky, capturou no dia 2 um depósito de
uniformes alemães. Imediatamente os homens do Exército da Pátria saíram para as ruas vestidos com os
uniformes da SS, distinguindo-se por uma braçadeira vermelha e branca na manga esquerda. O truque muitas
vezes não deu resultado; em outras porém permitiu que os poloneses tomassem alguns tanques alemães,
cujos tripulantes foram ludibriados pelos uniformes.
Por volta das quatro da tarde chegaram informes ao comando central insurreto indicando que a Central dos
Correios, a usina de gás, o aqueduto e a Estação Central de Estrada de Ferro já estavam em suas mãos.
Lutava-se furiosamente pela posse da usina de eletricidade. A guarnição alemã, reforçada e fortemente
entrincheirada, defendeu-a lutando com tenacidade e bravura extraordinárias. Contudo, foi superada depois
de dezenove horas de combate. Os poloneses ocuparam o edifício, entrincheiraram-se e mantiveram a usina
em funcionamento. Atacados pelos alemães, suportaram o assédio durante trinta e cinco dias, no fim dos
quais a usina acabou praticamente arrasada pela artilharia alemã. Na noite de 2 de agosto estavam em poder
dos patriotas o centro da cidade, a cidade velha (Stare Miasto), e dois distritos situados sobre as margens do
Vístula e do Wola a oeste de Varsóvia. O comando polonês ignorava, no entanto, o que estava sucedendo na
margem oposta do Vístula.

A central de comunicações, no final do segundo dia de luta, informou que captara as primeiras informações
de Londres, da BBC, dando notícia do levante. As emissoras russas por sua vez mantinham-se em silêncio,
ignorando o fato. A rádio polonesa, em transmissão dirigida aos países aliados, pediu com insistência que os
ajudassem lançando reforços por meio de pára-quedas. Grupos de combatentes estariam prontos para
receber, na Praça Napoleão e no Cemitério Judeu, as armas, munições, medicamentos e abastecimentos tão
necessários para o movimento.

Na noite do dia 2 sabia-se que mais de doze tanques alemães tinham sido destruídos no decorrer da luta. Os
chefes do movimento informaram Londres que dois terços do setor oeste da cidade estavam nas mãos do
Exército da Pátria. Em muitos casos a ocupação limitava-se a posições isoladas entre si. O Comando polonês
entretanto acreditava que mantendo a iniciativa e atacando sem trégua poderiam chegar a interligar as
posições dispersas numa frente contínua.

Os alemães por sua vez, ao cair a noite do dia 2, sustentavam diversos focos de resistência, como o QG da
Gestapo, o Parlamento, a residência oficial do governador alemão e o Banco da Economia Nacional.
Esses pontos, entretanto, estavam cercados pelo Exército da Pátria.

3 de agosto de 1944

A noite do dia 2 e o amanhecer do dia 3 caracterizaram-se por um som trágico e inconfundível, que não
cessou nem um segundo; um troar distante e próximo ao mesmo tempo, um murmúrio que crescia às vezes
até tornar-se ensurdecedor. Uma sucessão de estampidos de armas de todos os calibres, que se misturavam ao
barulho surdo das lagartas em movimento e aos lamentos dos feridos. Em Varsóvia, além disso, um clarão
avermelhado parecia iluminar tudo. Os incêndios cobriam grandes zonas, propagavam-se rapidamente, sem
que se tivesse condições de refreá-los.

Ao meio-dia do dia 3 o rumor das lagartas tornou-se ainda mais intenso. Novos blindados apareciam pelas
ruas. A tática dos Panzer era avançar duzentos ou trezentos metros disparando suas metralhadoras, deter sua
marcha e canhonear os edifícios vizinhos até silenciar os atiradores poloneses; depois reiniciavam o avanço.
Os "Tigres", especialmente, representavam um perigo terrível para os insurretos. Eram blindados de grande
tonelagem, praticamente invulneráveis ao impacto das "filipinkas". Os poloneses, procurando novas técnicas
de ataque, descobriram que um feixe de várias granadas era a única coisa eficaz contra eles.

A esta altura os poloneses já tinham feito uns 1.000 prisioneiros alemães. As ordens do Comando do Exército
da Pátria com respeito aos mesmos eram terminantes: proibido os linchamentos e qualquer aplicação de
justiça não autorizada, estipulando castigos severos para quem não cumprisse tais disposições. Os
prisioneiros, portanto, deviam ser tratados de acordo com as leis internacionais. Nada de torturas ou
espancamentos desnecessários. Queriam, em primeiro lugar, que os alemães compreendessem que
enfrentavam um exército regular e não bandos desorganizados; em segundo, assim poderiam esperar um
tratamento similar do inimigo. Ao mesmo tempo, desde o primeiro dia de luta que as côrtes especiais
autorizadas funcionavam sem interrupção. Os prisioneiros militares, tanto como os civis, eram julgados de
acordo com as atividades que podiam ser comprovadas. O General Bor Komorowski sustenta que, "apesar da
incrível fúria que caracterizou a luta desde o primeiro momento, pode-se garantir que linchamentos e
perseguições individuais por parte dos poloneses foram extremamente raras. Apesar das atrocidades que os
alemães cometiam, o Exército da Pátria manteve-se dentro dos princípios já estabelecidos". O general
continua: "De acordo com isso, respondi a todos os apelos declarando que minhas ordens previamente
estabelecidas continuariam de pé. Expliquei aos soldados que a luta não era apenas contra os alemães, mas
também contra os seus métodos...". Essa declaração do General Bor foi motivada pelos pedidos dos seus
comandantes, que desejavam tomar represálias.

Nas primeiras horas da tarde o Comando Supremo recebeu as primeiras informações de algo que iria adquirir
aspectos profundamente dramáticos: o emprego por parte dos alemães de civis poloneses, mulheres, velhos e
crianças, como escudo para a infantaria e para os blindados alemãs. Amarrados lado a lado nos tanques, ou
formando círculos, eram obrigados a avançar pelas ruas com os alemães protegidos atrás deles. O terrível
dilema de consciência dos chefes poloneses foi finalmente resolvido. Necessitavam lutar e vencer. Nada
podia deter a sublevação. Por isso, com lágrimas nos olhos, o comando polonês ordenou o fogo contra os
seus compatriotas enviados à morte.

Enquanto isso a população de Varsóvia lançara-se em massa para as ruas ardendo de entusiasmo. Diz,
referindo-se ao fato, o General Komorowski:
"... As ruas de Wola, desertas nas primeiras horas da luta, estavam agora abarrotadas de civis que tinham
saído ao constatar que os alemães bateram em retirada... Por todos os lados notava-se um indescritível
entusiasmo. Todos os habitantes de Varsóvia, homem, mulher ou criança, tratavam de ajudar de alguma
maneira, tomando parte em tudo o que estava acontecendo. Todos os militares com comando de forças
recebiam incessantes pedidos de armas. Meninos de doze anos e homens de setenta suplicavam por uma
pistola ou uma granada de mão... Desgraçadamente mal contávamos com armas para os nossos soldados, que
dirá para os civis... Sem ordens específicas, por iniciativa própria, os civis levantaram centenas de barricadas
para atrapalhar os movimentos dos tanques alemães. A coisa era simples. Os habitantes das casas vizinhas
lançavam armários, Camas, mesas, divãs, etc., tudo pelas janelas...".

No decorrer do dia 3 de agosto o combate prosseguia sem pausa. Um distante troar, proveniente do Leste,
indicava que a artilharia russa continuava atirando contra as posições alemães. Os poloneses, alentados pelo
bombardeio, esperavam para breve a entrada dos soviéticos em Varsóvia. O comando polonês no entanto
começava a entrever indícios pouco esperançosos na atitude dos russos. Os bombardeios aéreos a objetivos
alemães na cidade tinham cessado a partir de 1 o de agosto, coincidindo com o começo da revolta. Há muito
não se via também as incursões noturnas a que a população se acostumara e que eram agora mais esperadas
que nunca. A suspensão de tais ações, no entanto, eram atribuídas às más condições atmosféricas que
reinavam na zona de batalha. O que era, isso sim, inexplicável era o silêncio das emissoras russas, que
continuavam ignorando o que estava ocorrendo em Varsóvia, apesar dos clarões dos incêndios, claramente
visíveis para as vanguardas soviéticas que combatiam a vinte quilômetros da capital polonesa.

4 de agosto de 1944

A manhã do dia 4 caracterizou-se, bem cedinho, pelo rugir de aviões alemães sobrevoando Varsóvia. Os
poloneses, decididos a lutar até o fim, esperaram pacientemente o lançamento das bombas. No entanto nada
disso ocorreu. Foi, ao contrário, uma nuvem de pedacinhos de papel branco que começou a flutuar levemente
no espaço. Milhares de volantes caíam nas posições polonesas, nos tetos das casas, nas ruas de Varsóvia. O
truque, pois não passava disso, não deu resultado. Ninguém podia acreditar em alemães lançando volantes
assinados pelo General Bor Komorowski, ordenando o cessar fogo...

Horas depois, fracassado o primeiro intento, os aviões alemães regressaram, desta vez em ritmo de guerra.
Voando a baixa altura, os caças metralharam as posições polonesas. Em seguida, quando os caças
desapareceram surgiram os bombardeiros. Vinte e quatro Junkers, voando em formação, lançaram cargas de
bombas incendiárias e explosivas sobre o centro da cidade. O ataque repetiu-se até às quatro da tarde.

A esta altura do combate, que já durava quatro dias, o Comando polonês começou a ter suas primeiras
dúvidas a respeito do êxito da operação. As munições já eram escassas e os abastecimentos esgotavam-se. Na
opinião dos comandantes de distritos, as forças do Exército da Pátria só poderiam sustentar o combate três ou
quatro dias mais. Depois, ninguém sabia o que iria ocorrer. Os alemães, enquanto isso, efetuaram a primeira
tentativa de ofensiva. Lançando ao ataque seus grupos de choque, reconquistaram na tarde do dia 4 as pontes
que cruzavam o Vístula. As saídas para o Oeste, contudo, ainda estavam sob o fogo dos poloneses, que
tentavam desesperadamente impedir a passagem. Nesse instante o número de tanques alemães destruídos
chegava já a meia centena.

No dia 4 os alemães anunciaram pela primeira vez a sublevação polonesa. O Coronel Hammer, comentarista
do Serviço Alemão de Informação, referindo-se à situação na frente oriental, disse: "O ataque a Varsóvia
(pelos russos) está sendo efetuado de três direções. Ao mesmo tempo as unidades guerrilheiras combatem as
forças alemães dentro da área de batalha".

As estações transmissoras soviéticas entretanto continuaram guardando o silêncio.

Pouco depois da meia-noite os combatentes poloneses começaram a sentir uma sensação estranha. Logo,
porém, perceberam o que acontecia. Algo deixara de ser ouvido. Um som que se tornara familiar em
Varsóvia havia desaparecido. Em seu lugar, reinava o silêncio. E aquele silêncio "chegava" do Leste. As
baterias russas haviam parado de atirar. Na frente russo-alemã já não se combatia. Os soviéticos tinham
freado o seu ataque.

Os poloneses, que lutavam valente e encarniçadamente, ensangüentando as ruas, as barricadas e as praças de


Varsóvia, não suspeitavam que aquele silêncio se prolongaria por mais de cinco semanas.

5 de agosto de 1944

A manhã do quinto dia de insurreição caracterizou-se pelo vôo incessante dos aviões da Luftwaffe, que
bombardearam sem interrupção as posições polonesas. Operando sem a proteção dos caças, desnecessários
pelo desaparecimento da aviação russa nos céus de Varsóvia, os alemães lançaram as bombas de alturas que
oscilavam entre cinqüenta e cem metros.

Nesse dia ocorreu o primeiro e único contato entre os homens do Exército da Pátria e o exército russo.
Durante a tarde combatentes poloneses levaram à presença dos integrantes do Serviço de Inteligência um
desconhecido de uns trinta anos, de baixa estatura e complexão forte, que declarou ser capitão do exército
vermelho e chamar-se Konstanty Kalugin. O desconhecido acrescentou que fôra lançado de pára-quedas no
dia 15 de julho a uns trezentos quilômetros a sudeste de Varsóvia, com a missão de chegar até à capital e
estabelecer contato com os chefes do movimento clandestino polonês. O capitão russo exibiu credenciais que
o qualificavam como tal; disse estar sob as ordens do Marechal Rokossovski e solicitou permissão para falar
pelo rádio com as linhas russas. Assim o fez, comunicando-se também com Londres, de onde se recebeu a
seguinte resposta: "As proposições do Capitão Kalugin e do comandante do setor de Varsóvia, do Exército da
Pátria, foram transmitidas a Moscou por ligações britânicas, do mesmo modo que operamos com suas
solicitações anteriores para que os russos atacassem de fora. Ainda não se recebeu nenhuma resposta da
Rússia". Aquela resposta não chegaria nunca. A solicitação do Capitão Kalugin, pedindo apoio para os
homens do Exército da Pátria, seria respondida com o mais absoluto silêncio. O mesmo silêncio reinava nas
linhas russas que se encontravam somente a poucos quilômetros de Varsóvia. Kalugin, contudo, prestou
valiosos serviços à causa polonesa, redigindo e lendo, pelos alto-falantes, apelos em idioma russo destinados
às unidades alemães formadas por ex-prisioneiros de guerra soviéticos incorporados.

No dia 5, também, dois tanques alemães dirigidos por poloneses atacaram o antigo ghetto da cidade, onde
havia-se instalado um campo de concentração. Após curta luta a guarnição do campo foi dominada e
libertados os trezentos e cinqüenta prisioneiros que ali se encontravam. Os guardas, depois de um julgamento
sumaríssimo, foram fuzilados ali mesmo.

Na noite de 5 o ataque alemão intensificou-se no zona oeste de Varsóvia, no setor de Wola, onde estava o
Comando Supremo do Exército da Pátria. Intenso fogo de metralhadoras começou a varrer a fábrica onde o
General Bor Komorowski tinha instalado o seu Quartel-General. Em conseqüência o chefe polonês decidiu
transferir de imediato seu QG a uma nova localização, no Stare Miasto, nas cercanias do Vístula.

6 de agosto de 1944

Durante a noite do dia 5 e a manhã do dia 6 os alemães lançaram à luta novas unidades blindadas. Atrás delas
avançava a infantaria alemã. Os poloneses, quase desprovidos de armas e com suas reservas de munições
diminuindo minuto a minuto, começaram a perder terreno. Os efetivos localizados nos cemitérios, esperando
a ajuda que pudesse chegar por via aérea, viram-se obrigados a bater em retirada deixando o terreno ao
inimigo. O QG achava-se a esta altura praticamente cercado pelos blindados alemães, que manobravam a
cerca de quatrocentos metros do mesmo.

Enquanto em Varsóvia a luta ia chegando ao ponto culminante, em Moscou os representantes do governo


polonês com sede em Londres tentavam, de todas as maneiras, obter o apoio soviético. A 6 de agosto ocorreu
na capital moscovita uma reunião em que participaram os representantes poloneses Mikolajczyk, Grabski e
Romer, em nome do governo sediado em Londres, e os poloneses Wasilewska, Osobka-Morawski, André
Witos e Zymierski, representando o chamado Comitê de Lublin (organizado pelos soviéticos e integrado por
militantes comunistas poloneses). Durante a reunião, ante o apelo de Mikolajczyk, que solicitou a urgente
ajuda russa para os sublevados de Varsóvia, a delegada Wasilewska, do Comitê de Lublin, contestou: "Creio
que existe algo que não foi bem entendido. Os senhores devem ter sido mal informados acerca da situação na
Polônia. Quanto a Varsóvia, pessoas que saíram da capital no dia 4 deste mês e chegaram ontem a Lublin,
confirmaram unanimemente que, fora um ataque com bombas a um tanque estacionado na rua de
Koszykowa, tem reinado na cidade a mais completa quietude durante os últimos quatro meses. Também
obtivemos informações dignas da mais absoluta confiança no Escritório Soviético de Informações, de que,
até esta data pelo menos, não houve luta nenhuma em Varsóvia". Repetia-se assim o que ocorrera pouco
antes, no dia 3 de agosto, quando Stalin perguntara a Mikolajczyk, respondendo ao seu pedido de ajuda:
"Que raça de exército é esse tal de Exército da Pátria de que fala, sem artilharia, sem tanques e sem força
aérea? Nem mesmo possui suficiente número de armas leves para lutar como se deve. Em termos de guerra
moderna, esse vosso exército não significa nada. As unidades que o formam não são outra coisa senão grupos
de guerrilheiros que não podem esperar ser considerados como um exército regular. Soube que o governo
polonês ordenou a essas unidades que expulsem os alemães de Varsóvia. Não se pode compreender como
possam realizar semelhante tarefa; não contam com força necessária para isso. Além disso essas unidades
não estão de maneira nenhuma combatendo os alemães; simplesmente escondem-se nos bosques. Não podem
ser capazes de fazer outra coisa senão isso".

Assim expressara Stalin, a 3 de agosto de 1944, no mesmo dia em que os combatentes do Exército da Pátria
tiveram que atirar, com lágrimas nos olhos, contra os seus próprios compatriotas, utilizados como escudos
pelos alemães; no mesmo dia em que milhares de homens e mulheres davam seu sangue nas ruas, nas casas e
nos porões de Varsóvia, lutando pela sua liberdade; horas antes que as forças soviéticas detivessem o seu
ataque a Varsóvia, silenciando os seus canhões e imobilizando os aviões de caça, aliviando assim a pressão
sobre a frente, permitindo que os alemães pudessem agir livremente e reprimir o movimento que
ensangüentava, de um extremo a outro, toda a cidade de Varsóvia. O movimento que, segundo os comunistas
do Comitê de Lublin, não existia... Enquanto isso os combatentes poloneses que segundo Moscou não faziam
"outra coisa senão esconder-se", tombavam às centenas, metralhados pelas balas inimigas, enterrados vivos
nos edifícios que desmoronavam, queimados pelos lança-chamas.

Por volta das três da tarde do dia 6, divididos em três grupos, os integrantes do Comando e do Estado-Maior
do General Komorowski abandonaram seu QG e rumaram, escapando às rajadas das metralhadoras, para a
sua nova sede, no Stare Miasto, no centro da cidade. Durante o translado Komorowski e seus homens
tiveram ocasião de constatar, em sua crua realidade, o estado de Varsóvia, de suas unidades combatentes e do
inimigo. Apresentou-se diante deles o infernal quadro de uma cidade arrasada, incendiada e reduzida a um
montão informe de escombros. Uma cidade onde grupos especiais das organizações alemães destruíam
metodicamente quarteirão após quarteirão edificado. Uma cidade onde os grupos do Exército da Pátria
combatiam com armas improvisadas, enfrentando tanques com pedras e metralhadoras com revólveres. Uma
cidade onde milhares de homens, mulheres e até crianças tinham-se lançado às ruas, honrando o tradicional
heroísmo polonês, em defesa da sua liberdade. Uma cidade onde, segundo os comunistas do Comitê de
Lublin, "reinava a mais completa quietude... ".

7 e 8 de agosto de 1944

Os dois dias transcorreram sem que a situação variasse muito. Em todo caso, como o Comando polonês pôde
constatar, os dias 7 e 8 de agosto caracterizam-se pelos alemães adaptando-se pouco a pouco à forma de luta
dos poloneses e levando à prática novas táticas. De fato, diante da aparentemente desordenada ofensiva
polonesa que compreendia o ataque constante e maciço em cem pontos diferentes, sem coesão entre si, os
alemães iniciaram uma contra-ofensiva metódica e minuciosamente dirigida.

Fortes cunhas, encabeçadas por grupos de blindados, começaram a ser introduzidas nos bairros dominados
pelos homens do Exército da Pátria. Atrás deles, apoiados pela artilharia, os infantes atacavam casa por casa
até tomá-la e destruí-la. Assim as linhas polonesas foram aos poucos fracionadas em centenas de redutos. O
Exército da Pátrio contudo não cedia. Mantinha a ofensiva sem desanimar com os reveses.

Enquanto isso os comunistas britânicos em Londres, fazendo eco às declarações dos dirigentes russos,
repetiam mais uma vez, segundo seu costume, a "diretiva" soviética do momento: em sua edição do dia 7 de
agosto de 1944 o jornal comunista "Daily Worker", com sua costumeira "dialética" cínica, dizia que "a
batalha de Varsóvia era um produto da imaginação dos círculos poloneses de Londres... ".

No dia seguinte, numa curiosa coincidência, a Rádio Moscou quebrava o seu silêncio. A 8 de agosto
efetivamente, numa transmissão irradiada às 15h:15min, a emissora anunciou o seguinte: "O Exército do
Povo comprometeu a juventude, a alma e o coração dos seus soldados, para mostrar ao mundo que é capaz
de uma façanha heróica de tal magnitude que mal poderá ser reconhecida pelas demais nações! A estação
Swit, órgão de provocação a serviço do Exército da Pátria, pretende que esse exército foi que se levantou em
armas para lutar pela liberdade de Varsóvia e da Polônia, e que neste momento todas as operações do
Exército Soviético fora de Varsóvia cessaram. Afirmam que desde que iniciaram a batalha a artilharia
soviética, antes tão ativa, deixou de ser ouvida. Não creiam nisso, cidadãos de Varsóvia! Não lhes dêem
atenção, heróis da Polônia! Centenas de milhares de amigos, as tropas soviéticas, e com elas 120.000 homens
do Exército de Berling, estão combatendo às portas de Varsóvia e a libertação é questão de poucos dias! O
General Sosnkowski e o General Bor, os provocadores, estão simplesmente querendo aparentar ao mundo
inteiro que a liberdade da Polônia está sendo comprada com o sangue do Exército da Pátria!".

Moscou, mentindo deliberadamente, observava impassível a luta desesperada dos poloneses do General Bor
e pretendia, cinicamente, fazer crer que o levante de Varsóvia estava sendo sustentado pelas unidades do
Exército do Povo, organização comunista cuja força não passava de cinco pelotões, enquanto o Exército da
Pátria contava com mais de seiscentos pelotões lançados à luta...

Na noite de 8 de agosto, por outro lado, três aviões britânicos voaram sobre Varsóvia. O episódio era uma
repetição de outro anterior, sucedido na noite do dia 4, quando dois aviões lançaram vários pára-quedas com
pacotes contendo apetrechos e medicamentos. A ajuda, simbolicamente importante, carecia de valor prático.

De fato, para manter a luta, os homens do General Komorowski necessitavam imprescindivelmente de um


suprimento de cinco toneladas de munições por noite. Isso significaria o envio de cinco aviões em cada
oportunidade. Esses aviões, porém, não chegaram. Os que o fizeram, tripulados no maioria por poloneses,
cumpriram uma façanha incrível. Insuficiente, porém. Eram precisos cinco aviões por noite. E aqueles cinco
aviões nunca puderam chegar a Varsóvia porque as autoridades russas, cujos aeroportos encontravam-se a
poucos quilômetros da capital polonesa, negaram autorização para que os aparelhos britânicos aterrissassem
neles...

9 de agosto de 1944

As cunhas introduzidas pela Wehrmacht e pelas unidades alemães especiais nos bairros dominados pelo
Exército da Pátria começaram, no nono dia da insurreição, a fazer perigar a estabilidade da estrutura
revolucionária. As diferentes unidades polonesas, de fato, começaram a perder contato entre si e
conseqüentemente, cercadas, a esgotar suas munições e abastecimentos. A necessidade de se auxiliarem
mutuamente fez com que muitos grupos abandonassem suas posições para ajudar outros, cercados. Isto e a
falta cada vez maior de munições fez com que as posições do Exército da Pátria começassem a se tornar cada
vez mais comprometidas.

Na frente do Leste, enquanto isso, as linhas russas mantinham seu inexplicável e absoluto silêncio. Baterias,
blindados e aviões soviéticos continuavam imóveis, sem disparar um só tiro. No coração da capital polonesa
a luta prosseguia, sem trégua.

A 9 de agosto, os mais importantes edifícios públicos de Varsóvia, que os alemães tinham ocupado e
fortificado, tornando cada um deles um baluarte inexpugnável, estavam cercados pelos grupos de combate do
Exército da Pátria. Os poloneses, lançados à luta total, tinham cortado nesses edifícios o fornecimento de
água, gás e eletricidade, isolando por completo os alemães. Os tanques alemães, portanto, para abastecer os
sitiados de alimentos, munições e água, deviam atravessar as posições ocupadas pelo Exército da Pátria,
sofrendo grandes perdas. Em conseqüência, mudando de tática, começaram a abastecer seus companheiros
pelo ar lançando pacotes com suprimentos, de uma altura que oscilava entre vinte e trinta metros. Os
poloneses, que careciam por completo de artilharia antiaérea, eram obrigados a contemplar, impotentes,
aquela tarefa que jogava por terra todo seu denodado esforço.

Contudo, apesar da inferioridade manifesta dos poloneses e da total falta de colaboração por parte dos que
deveriam ter sido seus aliados, o Exército da Pátria do General Komorowski cumprira até aquele momento o
seu objetivo essencial: debilitar o inimigo. A 10 de agosto, de acordo com testemunhos de prisioneiros
alemães pertencentes ao 409o Batalhão de infantaria, a unidade perdera 50% dos seus homens entre os dias 3
e 10 de agosto. Essa era a "quietude completa" que, segundo os comunistas poloneses a serviço da União
Soviética, reinava em Varsóvia...

10 a 18 de agosto de 1944

Ante a falta de apoio do exterior, assediados por necessidades prementes, os poloneses do Exército da Pátria
iniciaram uma tarefa que beirava o sôbre-humano: a fabricação de armas em grande escala. A intensidade da
luta fizera com que os estoques diminuíssem até a um nível crítico e já eram poucas as unidades que podiam
utilizar metralhadoras. Conseqüentemente, foi determinada a instalação de fábricas e sua organização posta
em marcha imediatamente.

Organizaram-se em primeiro lugar unidades especiais cuja missão consistia em localizar os projéteis que não
tivessem explodido. Após retirar dos mesmos as espoletas, podia-se recuperar uma quantidade de explosivos
de alta qualidade que ascendia a várias centenas de quilos por bomba. O TNT assim obtido era utilizado de
imediato na produção de granadas de mão confeccionadas com latas de conservas. Também foram fabricadas
muitas armas, primitivas em sua concepção, mas que corresponderam na medida esperada. Assim foram
fabricados obuses empregando tubos de encanamento, catapultas destinadas a lançar garrafas cheias de
gasolina, feitas com pneumáticos, e lança-chamas que se improvisavam com as bocas de incêndio de ruas.

Os alimentos na cidade começavam a escassear e o fantasma da fome rondava Varsóvia. As reservas tinham
sido acumuladas prevendo que a luta não duraria mais que oito ou dez dias. O prolongamento das ações,
efetivamente, transtornava totalmente os planos do Comando do Exército da Pátria. Foi necessário organizar
o intercâmbio de produtos enlatados, que ainda existiam nas zonas centrais de Varsóvia, por vegetais frescos
colhidos na periferia da capital.

O problema da provisão de armas e de alimentos não era mais que um entre mil, de importância vital e todos
prioritários.

Os alemães, enquanto isso, continuavam lançando suas forças à luta contra os patriotas poloneses. E na
frente russa o silêncio era impenetrável.

A 17 de agosto, por fim, os alemães anunciaram pela primeira vez que o levante fôra dominado. Nesse
momento, paradoxalmente, os patriotas poloneses dominavam a maior parte da cidade e bloqueavam as
linhas de comunicações alemães. Juntamente com o anúncio, evidentemente falso, os alemães iniciaram nova
tática de ataque aos poloneses. Empregaram a partir desse dia a artilharia pesada, montada em vagões de
estrada de ferro, como tinham feito anteriormente durante o sítio de Sebastopol. Os projéteis, de sessenta
centímetros de diâmetro, pesavam uma tonelada e meia e eram capazes de arrasar um quarteirão inteiro.

19 de agosto de 1944

Neste dia os alemães lançaram uma grande ofensiva destinada a aniquilar os defensores do Stare Miasto.
Para tal missão foram reunidas as forças de diversos regimentos, pessoal de terra da Luftwaffe, da polícia,
unidades do Serviço Secreto e membros da Brigada Kaminski, formada por russos. Eram cerca de 40.000
combatentes ao todo.

Os poloneses do Exército da Pátria, para defender o citado setor, dispunham de 5.000 soldados armados de
metralhadoras, submetralhadoras, granadas, garrafas de gasolina e armas menores, muitas delas
improvisados.

Às nove da manhã os alemães lançaram o assalto, sob o comando de um general das SS. Os poloneses, com
o Vístula às suas costas, foram obrigados a enfrentar a acometida de dez batalhões de infantaria apoiados por
dois batalhões de engenharia, uma companhia de tanques Tigres, vinte canhões, cinqüenta Goliaths, duas
baterias de 75 mm, uma bateria de 280 mm, um pelotão de colocadores de minas e uma unidade blindada.
Pelo lado do Vístula, além disso, o ataque foi apoiado por lanchas armadas e, da margem oposta do rio, por
peças de artilharia. Também os Stukas, em formação, bombardeavam cada quinze minutos as posições dos
poloneses.
O reduto atacado pelos alemães tinha uma superfície não maior, que uma milha quadrada, o que permite
compreender a intensidade da concentração de fogo. Deve-se salientar que a 19 de agosto essa zona era
habitado por cerca de 80.000 pessoas, que permaneciam em porões e passagens subterrâneas; sob o ataque
dos alemães, esses abrigos tornaram-se jaulas mortais ao serem derrubadas as antigas casas do bairro.

A partir de 19 de agosto os alemães mantiveram uma tática de ataque que, salvo alterações ocasionais,
repetiu-se invariavelmente; às oito horas da manhã de cada dia os Stukas atacavam voando a cem metros de
altura e lançavam suas bombas, habitualmente com espoleta retardada. Dois trens blindados que se
mantinham permanentemente em movimento varriam a zona com seu fogo. A artilharia também sustentava o
martelamento sem interrupção até o cair do tarde; depois, com as sombras do crepúsculo, atacavam os
tanques e a infantaria.

Os poloneses, por sua vez, durante as horas do dia mantinham-se na defensiva tratando de conter os alemães,
pois careciam de munições e blindados, assim como de artilharia. Depois, ao cair da noite, lançavam-se ao
assalto recuperando freqüentemente as posições perdidas durante o dia.

A alimentação, no vigésimo dia de luta, diminuía em proporções cada vez maiores. Ao começar o ataque
maciço do dia 19 a ração diária dos combatentes era integrada por um pedaço de língua e vinho. Mais tarde
passaram a alimentar-se de pequenas rações de cevado distribuídas uma vez por dia.

A área controlada pelos combatentes poloneses também diminuía, minuto a minuto.

20 a 31 de agosto de 1944

A partir do dia 20 os diferentes comandos informaram ao General Komorowski que já estavam sendo
utilizadas as últimas reservas de homens e munições.

Komorowski, então, fez um desesperado apelo às diversas unidades de guerrilheiros que operavam nas
diferentes regiões do país, incitando-as a apressar a marcha sobre Varsóvia para socorrer os patriotas. Muitas
respostas chegaram ao Comando Supremo, porém todas eram semelhantes à enviada pelo Comandante do
Distrito de Lublin, que dizia:
"Distrito de Lublin, 26 de agosto de 1944. Profundamente consternados ouvimos as notícias da batalha de
Varsóvia. É muito duro para nós ter que permanecer inativos enquanto nossos companheiros perecem na
capital; mas a verdade é que carecemos de ajuda e não nos podemos mexer; um certo número de nossas
unidades que não haviam cruzado a linha retrocederam, temerosas de cair nas mãos dos russos e serem
desarmadas. O Comandante do Distrito de Lublin".

De fato, tal como afirmava esse comandante em sua mensagem, eram muitos os destacamentos de
guerrilheiros que tentaram aproximar-se de Varsóvia. Todos, após serem cercados pelos russos, foram
obrigados a entregar as armas... Os soviéticos, depois de conclamar o povo de Varsóvia à rebelião contra o
inimigo comum, prendiam e desarmavam os poloneses que tentavam entrar na luta. Outra mensagem,
enviada a 21 de setembro de 1944 pelo comandante da 27 a Divisão de infantaria, dizia textualmente:
"Durante a execução do plano Burza a 27 a Divisão de infantaria esteve taticamente sob as ordens do exército
vermelho. Ao ordenar nosso avanço rumo a Varsóvia, junto com um grupo soviético, armaram-nos uma
cilada, desarmando-nos e nos fazendo marchar para um novo ponto de reunião. Enquanto cruzávamos o
monte, ordenei a dispersão com a esperança de voltarmos a nos reunir em Varsóvia libertada. Fomos presos
em Lublin e Otwock".

Disse o General Komorowski, posteriormente: "Somente quando cheguei a Londres em maio de 1945 pude
ver um telegrama de Lublin, datado de 4 de outubro de 1944, onde se fazia menção de uma ordem do
comandante do 16o Regimento de infantaria soviético, emitida no dia 24 de agosto de 1944. Essa ordem
citava o meu apelo ao povo da Polônia para acudir em socorro da capital. Nessa mesma ordem falava-se do
Exército da Pátria como de um 'Exército Nacionalista-Polonês' mantido pelo 'governo polonês que emigrara
para Londres', e determinava-se que a marcha das unidades polonesas rumo a Varsóvia fosse detida a
qualquer custo mediante um controle rígido do tráfego de todas as estradas. As armas que se encaminhassem
a Varsóvia deviam ser confiscadas e os portadores presos. Além disso foi ordenado que todos os depósitos de
armas e equipamentos, assim como armazéns de provisões de alimentos destinados à capital, fossem
confiscados. As unidades do Exército da Pátria, se ainda existissem naquela zona, deviam ser desarmadas
imediatamente e postos à disposição de centros militares para serem transferidas".
A crítica situação dos patriotas poloneses durante os últimos dias do mês de agosto é claramente expressa nos
seguintes comunicados emanados do Comando Supremo: "Varsóvia, 28 de agosto de 1944. Na Cidade Velha
o inimigo começou a estraçalhar nossa resistência em vista da sua tremenda superioridade bélica... As perdas
(polonesas) entre comandantes e oficiais chegam a 70 %... É impossível continuar resistindo ao intenso fogo
do inimigo... Somos acossados sem descanso por intensos bombardeios, pelo fogo de canhões e morteiros...
".

"Varsóvia, 29 de agosto de 1944. O inimigo fecha-se mais em nossa volta e nos obriga a abandonar as
posições sobre as pontes do Vístula...".

Setembro de 1944

O segundo mês de luta foi, para o Exército da Pátria, apenas uma longa agonia. Os últimos homens, com
suas derradeiras energias, dispararam seus últimos cartuchos. Dia após dia, noite após noite, os patriotas
poloneses esgotaram suas munições, seus víveres, seus medicamentos e seu sangue.

No dia 27, por fim, numa reunião celebrada entre o General Bor Komorowski e seu Estado-Maior, decidiu-se
pôr fim à cruenta luta. Era evidente para os poloneses que os russos não desejavam cruzar o Vístula e tomar a
cidade. Continuar combatendo significava simplesmente condenar à morte toda a população civil da capital.
Em conseqüência, restava somente um caminho: a rendição.

A 28 de setembro uma mensagem enviada a Londres dizia textualmente: "Varsóvia, 28 de setembro de 1944.
Mokotov caiu a 27 de setembro. A luta em dois setores isolados é impossível. A fome nos assedia. Caso não
recebamos ajuda efetiva com um ataque soviético até 1 o de outubro mais ou menos, seremos obrigados a
cessar fogo. Estamos informando ao mesmo tempo ao Marechal Rokossovski, diretamente, da possibilidade
de ter que capitular dentro de poucos dias. O Comandante-Chefe do Exército da Pátria". A 29 de setembro,
diante do silêncio dos russos, o General Bor decidiu enviar seus representantes, com bandeiras de
parlamentação, para discutir a rendição diante das forças alemães.

Outubro de 1944

Durante a noite de 1o para 2 de outubro o General Kamorowski, reunido com seus mais fiéis colaboradores,
elaborou a lista dos combatentes que integrariam a delegação de paz. De imediato, após breve discussão,
foram redigidas as condições que os poloneses imporiam para pôr um fim à luta e depor as armas. Eram as
seguintes: todo polonês que tivesse empunhado armas durante a luta deveria ser considerado um soldado
regular e, portanto, protegido pelas convenções internacionais; as mulheres que haviam tomado parte no
levante teriam os mesmos direitos que os homens; a população poderia ser evacuada e atendida por entidades
como a Cruz Vermelha Polonesa.

A delegação polonesa apresentou-se diante das linhas alemães, em frente à Escola Politécnica, às oito da
manhã de 2 de outubro. Dali foi conduzida ao QG do comandante alemão de repressão, General von Dem
Bach, que estava situado dez quilômetros a oeste de Varsóvia.

Ao chegar à presença do alto chefe alemão, este perfilou-se apresentando-se: "Obergruppenführer SS und
General der Polizei von Dem Bach". Imediatamente, a convite do general alemão, todos se sentaram ao redor
de uma mesa.

Von Dem Bach, após ler a nota firmada pelo General Bor Komorowski, que autorizava os delegados
discutirem a rendição em seu nome, dirigiu aos presentes uma breve alocução salientando que era difícil para
ele ocultar a satisfação que sentia ao comprovar que o General Komorowski, afinal, decidiu tomar uma
resolução trágica, mas inevitável. Também declarou que se congratulava por ter sido o único que, no Estado-
Maior e mesmo em Berlim, tinha acreditado num possível acordo com o Exército da Pátria. Em seguida
elogiou as virtudes dos combatentes poloneses e a coragem que haviam demonstrado, descrevendo as
grandes dificuldades que suas tropas enfrentaram para contê-los.

Ato contínuo, o General von Dem Bach passou o discutir com os delegados poloneses as condições da
rendição. O chefe alemão salientou a necessidade de que suas tropas ocupassem imediatamente o setor de
Varsóvia ainda controlado pelos homens do Exército da Pátria. Isso, afirmou, era necessário, pois o comando
alemão precisava de garantias e da certeza de que os poloneses não violariam o acordo no caso de que os
russos atacassem de surpresa, naquele momento.

Os delegados poloneses rechaçaram imediatamente o pedido, pois a presença de unidades alemães e


polonesas no mesmo setor descambaria inevitavelmente em incidentes. Como o chefe alemão insistisse na
necessidade de contar com garantias suficientes, os poloneses concordaram que naquele mesmo dia seriam
retiradas as primeiras barricadas.

Em seguida, sem que os alemães manifestassem maior oposição, aprovaram-se as condições exigidas pelos
poloneses para cessar a luta. Depois, em conversação informal, o general alemão manifestou sua admiração
pelo papel desempenhado pela mulher polonesa durante a luta, esclarecendo que o próprio Führer havia-se
impressionado e pedido informes detalhados acerca dos heróicas mulheres de Varsóvia na sublevação. Von
Dem Bach, pessoalmente, acrescentou, viajara a Berlim para informar Hitler do fato. Às 20 horas do dia 2 de
outubro, finalmente, foi firmado o acordo de rendição no QG do General von Dem Bach. Seus pontos mais
importantes eram os seguintes:
"I. 5) Os soldados do Exército da Pátria gozam dos direitos instituídos pela Convenção de Genebra.
6) Os direitos dos combatentes cabem também às pessoas não combatentes que acompanharam o Exército da
Pátria.
8) Os prisioneiros de guerra... não serão julgados por suas atividades políticas ou militares durante a batalha
de Varsóvia ou no período anterior...
9) A população civil... não será considerada coletivamente responsável...
II. 2) O Comando do Exército da Pátria entregará ao Comando alemão todos os prisioneiros de guerra
alemães...
8) A evacuação dos soldados feridos e enfermos do Exército da Pátria... será determinado pelo Departamento
Médico alemão, em consulta com o Departamento Médico do Exército da Pátria...
9) Os soldados do Exército do Pátria serão reconhecidos por meio de uma braçadeira branca e vermelha,
bandeirolas ou uma águia polonesa...".

O texto do armistício levava no fim as assinaturas do General alemão von Dem Bach e dos delegados
poloneses Coronel Heller e Tenente-Coronel Zyndram.

Pouco depois o General Bor Komorowski dava publicidade à sua última proclamação, dirigida às tropas do
Exército da Pátria. Seu texto era: "Varsóvia, 3 de outubro de 1944. Soldados de Varsóvia: Nossa luta de dois
meses... está carregada de infortúnios... contudo, é uma solene demonstração, acima de tudo, do nosso
portentoso esforço para obter a liberdade. A coragem de Varsóvia conquistou a admiração do mundo inteiro...
Hoje, a superioridade técnica do inimigo nos expulsou de nossas posições... Já não há alimentos suficientes...
Defrontamos agora o problema da completa destruição da população de Varsóvia e da morte de milhares de
soldados e civis, sob os seus escombros.
Em conseqüência, decidi suspender o fogo.
Agradeço a todos os soldados pelo seu magnífico comportamento... Rendo respeitoso tributo àqueles que
tanto sofreram... Expresso, em nome dos meus companheiros, a gratidão e a admiração que sentimos para
com a população...
Vocês, soldados, meus mais queridos companheiros destes dois meses de luta... devem obedecer todas as
ordens desta decisão de cessar fogo...
Pela fé na vitória final de nossa causa, pela fé em um país amado, grande e feliz, nós todos permaneceremos
soldados e cidadãos de uma Polônia independente, fiéis às normas da República.
O Tenente-General Bor Komorowski, Comandante-Chefe do Exército da Pátria".

A luta em Varsóvia, durante os dois penosos meses da insurreição, custara aos patriotas poloneses perdas que
chegavam a 22.000 homens, entre mortos e feridos. As baixas alemãs, paralelamente, chegavam a 10.000
mortos, 9.000 feridos e 7.000 desaparecidos.

A última formação

A 5 de outubro, às oito da manhã, o pelotão de segurança encarregado da custódia do General Bor


Komorowski perfilou-se, com suas armas, para homenagear seu chefe. Os sobreviventes formaram duas filas
e esperaram. Suas roupas estavam praticamente em farrapos e seus semblantes traziam as marcas de dois
meses de luta e sofrimento. Uma voz gritou: "Atenção!". Depois ordenou numeração a partir da direita. Em
seguida, o oficial que comandava o grupo chegou-se ao General Komorowski e o informou: "Há trinta e seis
homens, meu general!" Trinta e seis sobreviventes dos 128 que tinham começado a luta. Komorowski
aproximou-se dos seus combatentes e passou entre eles, lentamente. Os soldados, os uniformes em tiras, as
olhos cheios de lágrimas, apresentavam suas escassas e pobres armas, estropiadas pelo uso. Eram nove horas
e quinze minutos quando o destacamento de Komorowski, à frente dos grupos sobreviventes do Exército da
Pátria, movimentou-se em direção às linhas alemães. Ia entregar suas armas. Sozinho, seguido pelos seus
imediatos, encabeçava a coluna o herói de Varsóvia, Bor Komorowski.

Faltavam duzentos metros para chegar à barricada atrás da qual eram esperados pelos soldados alemães, com
suas armas prontas. Komorowski, olhando pela última vez aquele punhado de fiéis e valentes homens que o
seguiam, começou a entoar o Hino Nacional Polonês. As vozes dos homens uniram-se à sua. Instantes
depois, ouviam-se as estrofes:
"Enquanto vivermos, ela vive; Polônia está ainda de pé; com a espada recobraremos o que o inimigo
arrebatou."

A Polônia, jamais vencida, continuava de pé. Seu trágico destino porém não se concluiria ali. Uma nova
escravidão a esperava. Outros homens, nesse mesmo momento, aprontavam suas armas para esmagar a nação
imortal. Os soviéticos aprontavam-se para retomar o avanço para o Oeste. Um jornal polonês, a Gazeta
Varrzavska, resumiu dramaticamente o cruel destino do seu país imortal: "Estamos no caminho de todos os
nossos vizinhos e de modo particular no das grandes potências; dos alemães, no seu desejo de expandir-se
para o Leste; dos soviéticos, que querem expandir para Oeste o domínio bolchevista... Só nos resta rogar ao
mundo que nos perdoem por estarmos ainda com vida... ".

Anexo
O movimento subterrâneo
No princípio os alemães não perceberam que as moças mensageiras, os comboios de feridos e os transportes de
munições passavam diretamente debaixo de suas posições. Um dos túneis mais freqüentados passava sob o QG da
Gestapo.
O exército de ocupação, que por cinco anos combatera o Movimento Secreto da Resistência Polonesa (literalmente
"movimento subterrâneo"), nem sequer imaginava que os patriotas conspiravam sob seus pés.
Os túneis eram escuros como boca de lobo, porque para maior segurança as luzes estavam racionadas em alguns lugares
e em outros completamente proibidas. O ar asfixiante e acre fazia chorar. O tamanho das passagens variava: a maior
tinha dois metros de altura por um e meio de largura. As pedras aguçadas e os pedaços de vidro espalhados sobre o piso
semicircular das passagens tornava impossível apoiar as mãos quando se tornava necessário arrastar-se. O arranhão,
mais superficial que fosse, causaria uma septicemia. Era necessário o uso de dois pedaços de madeira à guisa de apoio e
avançar em pequenos saltos, o que tornava a viagem sumamente lenta e cansativa. As vezes para percorrer uma
distância de quilômetro e meio precisava-se de nove horas. Avançar ao longo de uma passagem estreita, envolto na mais
completa escuridão, com lodo até aos ombros, paralisava de terror a muitos exploradores. Alguns homens de coragem
indiscutível, que não vacilavam em atirar-se sobre os tanques inimigos com uma garrafa de gasolina como arma,
tremiam ante o desconhecido e desfaleciam de terror mal percorriam um pedaço dessas passagens lôbregas e estreitas.
O pânico aumentava ante a dificuldade de respirar nessa atmosfera fétida e pelo fato de ser impossível dar meia volta e
retroceder. Caso se tropeçasse com algum obstáculo intransponível, o único recurso era retroceder de costas.
Alguns desses túneis eram altos o suficiente para neles se permanecer de pé; mas estes "corredores confortáveis" eram
muito raros e o seu uso implicava noutro perigo: deles derivavam outros pequenos condutos que levavam água e
detritos de distritos inteiros; o nível da lama era portanto muito alto e a corrente excessivamente forte, tornando a
marcha possível somente com a ajuda de uma corda de segurança.
No túnel que comunicava o Bairro Velho com o Vístula, a lama corria com muita força e velocidade. O perigo
aumentava porque um dos esgotos encontrava-se muito próximo de uma fortaleza alemã. Por causa da corrente era mais
fácil ir do Vístula ao Bairro Velho do que em sentido contrário. Voltando do Vístula, era possível escorregar e cair,
especialmente devido à superfície côncava da passagem, extremamente lisa. As coisas ainda pioravam para os soldados
que vinham carregados de armas e munições. Tinham que avançar conservando o equilíbrio, mergulhados até à cintura
na lama, levando uma carga de granadas, uma metralhadora ou algumas caixas de medicamentos. Quando alcançavam
seu destino, os expedicionários, muitas vezes, tinham que ser erguidos dos esgotos. Se alguém resvalava e caía, sua
morte era certa, pois a corrente o arrastava implacavelmente para longe de seus companheiros, sepultando-o sob a
massa de lodo. Com o decorrer do tempo as comunicações subterrâneas melhoraram ligeiramente e pôde contar-se com
alguma organização no sistema; o tráfego desordenado e sem controle dos primeiros dias ficou sujeito a certos
regulamentos. Instituiu-se uma seção no Estado-Maior responsável pelas comunicações subterrâneas. Os engenheiros
trabalharam sem descanso estendendo cabos de segurança, marcando lugares perigosos e instalando luzes de
advertência. Havia sentinelas vigiando dia e noite as entradas dos esgotos. Todos os que transitavam por eles deviam ter
em seu poder uma ordem por escrito assinada pelo comandante do distrito; as sentinelas barravam a passagem a
qualquer um que não pudesse mostrar um desses passes. Em certos pontos do trajeto havia patrulhas encarregadas de
revisar os documentos de viagem. Para as rotas mais freqüentadas havia uma tabela de tempo, já que os túneis, em sua
maior parte, eram utilizados como "ruas de mão única" e o cruzamento de pessoas em direções opostas era,
logicamente, impossível e contraproducente. As colunas que saíam do Bairro Velho para o centro da cidade, por
exemplo, o faziam cada meia hora desde zero hora até 3 da madrugada. O trânsito na direção oposta tinha lugar entre às
8 da manhã e meio-dia. Sempre que era possível os sapadores construíam barragens para controlar a água. Se um grupo
de exploradores saía do Bairro Velho para o Vístula, a barragem era fechada. Se, pelo contrário, a coluna movia-se em
sentido oposto, do Bairro Velho para o centro da cidade, a barragem daquele era aberta para permitir a saída da água das
passagens tributárias.
As mulheres ajudaram muito a facilitar o tráfego subterrâneo. As que se inscreviam como voluntárias para este trabalho
eram conhecidas como "Kanalarki" ("Kanal" em polonês significa "esgoto") . Elas levavam mensagens e ordens de um
lado para outro, reconheciam passagens e removiam obstáculos. Finalmente os alemães descobriram o sistema de túneis
e os abriram lançando no seu interior granadas de mão, minas e gases. Outras passagens foram bloqueadas com pedra e
cimento. O inimigo pendurava granadas de mão com o anel de segurança frouxo, deixando-as preparadas para explodir
a qualquer momento. Se algum homem, ao passar, esbarrava numa destas granadas, imediatamente voava em pedaços.
Houve ocasiões em que se travaram verdadeiros combates entre poloneses e alemães debaixo da terra. As batalhas
travavam-se na escuridão, em meio a uma atmosfera fétida e com o corpo mergulhado até à cintura em excrementos. As
pelejas eram a tiros e, às vezes, corpo a corpo, punhal na mão. Se as armas faltavam, os combatentes tentavam afogar o
adversário mergulhando sua cabeça dentro da imundície. Finalmente os alemães idealizaram um novo método:
esparramavam gasolina nos cruzamentos dos túneis e tocavam fogo.
O horror dos subterrâneos aumentou com os lamentos e gritos de dor dos feridos, com os gritos histéricos daqueles
cujos nervos destroçados cediam sob a pressão terrível daquelas amargas experiências.
O mais leve rumor era cem vezes multiplicado e repetido como eco interminável que ecoava por muitas milhas antes de
se extinguir. Os ruídos eram espantosos e às vezes acontecia que um comboio inteiro se perdia por causa de alguém que,
perdendo o sangue frio, gritava enlouquecido perto de algum dos esgotos ocupados pelos alemães.

"José, O Coxo..."
O levante de Varsóvia devia ter uma duração relativamente curta. Os patriotas poloneses planejaram a luta baseados na
pronta intervenção do exército soviético, que em princípio se encontrava às portas da cidade. Porém, à medida que os
dias passavam, o Exército da Pátria compreendia, lenta e angustiosamente, que o dia 1 o de agosto de 1944 estava-se
transformando num impasse mortal.
Foi necessário então pôr em marcha um sistema de re-equipamento e racionamento de urgência. A carência de armas
devido ao desgaste dos combates diários obrigaram as fábricas de armamentos ocupadas pelos patriotas a entrarem
novamente em atividade.
De qualquer modo isto não foi suficiente e só parcialmente foram substituídas as perdas de material. Certo dia chegou
ao Comando do Exército da Pátria a notícia de que numa granja no arrabalde da cidade uma anciã descobrira um
verdadeiro arsenal sepultado nos fundos da herdade. Era urgente recuperar esses armamentos para entregá-los ao
exército polonês. Paralelamente existia a suspeita de que os alemães também estavam na pista do curioso arsenal. Era
preciso agir sem perda de tempo. Combinou-se que o grupo, encarregado de retirar as armas, diria à anciã: "José, o
coxo, esteve plantando aveia..." ao que a mulher responderia "Entretanto, agora só planta cevada...".
Tudo funcionou perfeitamente e os patriotas apossaram-se do arsenal, mas os temores não eram infundados: pouco
depois uma patrulha alemã chegava com ordem de revistar a casa. A anciã foi encarcerada mas as armas, então, já
detonavam nas mãos dos soldados poloneses.

Armadilhas alemães
Alguns dias depois da primeira visita dos Heinkel, os alemães começaram a utilizar seus Nebelwerfer. Tratavam-se de
dois obuses que disparavam ao mesmo tempo, porém um carregava bombas de fósforo e o outro projéteis comuns. As
bombas de fósforo incendiavam quadras inteiras de casas e os projéteis faziam voar tudo pelos ares. Quando entrava em
ação, o Nebelwerfer produzia um som similar ao mugido de uma vaca; as pessoas então o apelidaram "a vaca que
muge". O mugido precedia as explosões por uns segundos. Os obuses fizeram grandes estragos e seu fogo aumentava
dia a dia. Os alemães os instalaram sobre plataformas que podiam deslizar pelos trilhos da estrada de ferro, cada vez em
maior quantidade.
Outro elemento que começaram a utilizar foram os pequenos e mortíferos Goliaths diminutos tanques em miniatura
carregados de explosivos e guiados por meio de cabos elétricos.
Geralmente o "cérebro" estava num tanque Tigre, que dirigia quatro Goliaths. Os pequenos veículos carregavam 500
quilos de explosivos e ao chocar-se contra uma barricada ou qualquer outro obstáculo os faziam voar pelos ares. Os
poloneses conseguiram parar muitos deles cortando os cabos com granadas. O engenho alemão não terminava ali. Um
oficial do exército patriota relata o seguinte: "Era meio-dia e eu me encontrava no Ministério da Justiça. De repente
ouviu-se o ruído de um tanque que se aproximava acompanhado de gritos e aplausos. Assomei à janela do segundo
andar e pude ver que se tratava de um tanque alemão, que ostentava uma bandeira polonesa e era tripulado pelos nossos.
"Outro tanque capturado", pensei com satisfação, notando a perícia com que era manejado pelo piloto. Homens,
mulheres e crianças amontoavam-se ao seu lado gritando alegremente e dando vivas à tripulação. Súbito, houve uma
terrível explosão e a cena ficou envolta numa nuvem de fumaça... A explosão me atirou longe da janela como se eu
fosse uma pena. O quarto tremeu e por todo lado voaram pedaços de vidro e do reboco da parede. Depois de uns
minutos de completa confusão e estupefação, levantei-me e olhei de novo da janela, ou melhor, do buraco onde houvera
uma janela alguns minutos antes. Quando a nuvem de pó e fumaça desapareceu, pude ver os resultados da explosão.
Dos tripulantes do tanque não sobrou nem o mais ligeiro vestígio.
A explosão matou umas oitenta pessoas, entre as quais muitas crianças que participavam do cortejo festivo. Alguns
corpos foram lançados a grande altura e caíram nos telhados das casas próximas ao lugar. Corpos despedaçados e
fragmentos de ferro queimados e retorcidos ficaram espalhados dentro do amplo raio da explosão. Duas casas que
faziam esquina foram completamente destruídas e parte de nosso edifício ficou severamente danificado. Este era o
primeiro exemplo de 'armadilha de tempo' alemã. O tanque fôra carregado de explosivos, conectados a um fusível de
ação retardada e abandonado próximo de nossas posições a uma distância convidativa. Imediatamente enviei instruções
Pondo de sobreaviso todas as unidades."

O exército secreto
No dia 6 de agosto o QG do Exército da Pátria foi transferido para Stare Miasto. Na realidade, era parte de uma escola
que os alemães tinham transformado em hospital. A parte posterior do edifício dava para a Praça de Krasinski. A escola
tinha vários andares, e do último dominava-se perfeitamente todo o campo de batalha da cidade. O Stare Miasto, ou
"Cidade Velha", era um distrito de casas altas e esguias, de construção antiga, com características similares a de todas as
cidades da Europa Central na Idade Média. Casas e igrejas formavam uma massa confusa e espremida, dentro de uma
área muito reduzida, e os andares altos sobressaíam sobre as ruelas estreitas. A defesa era feita por meio de edifícios
fortificados, como a Tesouraria na margem do Vístula, o Palácio Municipal no centro da cidade, e o Banco da Polônia.
Até o dia 6 o Stare Miasto ainda não fôra visitado pelos bombardeiros, mas todos seus moradores já estavam instalados
nos porões. O perigo criara uma comunidade de 170.000 pessoas que se amontoavam nas passagens subterrâneas da
época medieval, com seus corredores em arcos e seu clima angustiante. Transitar pelas galerias era uma tarefa quase
impossível, porque o amontoamento não permitia.
Todos os dias chegavam novos refugiados de outras partes de Varsóvia em busca de asilo e ajuda. O estado das ruas era
deplorável: a pavimentação fôra destroçada para prover de pedras e pedaços de cimento a construção de barricadas. Os
bondes tombados, carroças e infinidade de móveis de todos os tipos, que formaram as primeiras trincheiras, eram
substituídos por materiais mais consistentes. Quando o calçamento foi totalmente retirado, a fina areia do Vístula ficou
a descoberto; ao caminhar pelas ruas, os pés afundavam até os tornozelos.
Nesse momento o Exército da Pátria era o "pátio dos milagres" pela extravagância e mistura dos uniformes. A maior
parte dos soldados usava uniformes do Serviço Secreto Alemão, que obtinham ao apoderar-se de algum depósito ou
simplesmente tirando-os dos mortos e dos prisioneiros. A primeira vista assemelhavam-se a autênticos soldados
nazistas; só as braçadeiras com as cores nacionais os distinguiam. Misturados, viam-se uniformes do Exército Polonês
de 1939, que muitos tinham conservado como relíquias dos dias da rendição. Em alguns casos um soldado vestia uma
casaca de 1939 e calça do Serviço Secreto ou vice-versa. Em outras, alguns destes elementos eram combinados com
roupas civis de tipo e qualidade diferentes.
Os capacetes também eram muito variados; havia de fabricação alemã, polonesa, russa, francesa, inglesa, etc. Alguns
pertenciam à Primeira Guerra Mundial; outros eram elmos de capacetes de bombeiros. Finalmente, havia aqueles que
usavam blusas, túnicas e capas de formatos e cores extravagantes. Outra particularidade era que uma décima parte das
forças eram mulheres. Serviam como mensageiras, levando avisos e propaganda e distribuindo-os entre civis e
militares; trabalhavam como enfermeiras ou alimentando os soldados.
As mulheres não empunhavam armas porque não existiam sequer para todos os homens, mas formaram patrulhas
femininas especialmente treinadas em semear minas e abrir buracos e passagens através de muros e edifícios.
A respeito do comportamento das mulheres, o General Komorowski, chefe do Exército da Pátria, fez o seguinte
comentário: "Nesses infelizes dias concluí que, psicologicamente falando, as mulheres eram mais resistentes que os
homens. A meu serviço encontrava-se uma moça com o apelido de 'Basia' que tinha sido mensageira do General
Rowecki e mais tarde continuou sua atividade sob minhas ordens. Nos anos da ocupação, durante essa guerra espantosa,
quase todos os seus familiares morreram nas mãos da Gestapo, deixando-a inteiramente só no mundo; então entregou-se
devotamente, de corpo e alma, ao Movimento Secreto. Sua calma e otimismo, ainda nos momentos mais amargos, eram
um tônico para todos os membros do Estado-Maior".

Os espanta-tanques
Além de garrafas de gasolina os poloneses utilizaram outros métodos a fim de paralisar o avanço dos tanques. Um deles
era minar os cruzamentos das ruas, porém logo surgiu um problema: os explosivos escasseavam cada vez mais. Então
os soldados pintavam de branco o calçamento e colocavam cartazes com legendas em polonês, como: Perigo! Área
Minada! Em muitos casos os veículos blindados evitavam esses setores. Numa ocasião um tanque alemão retrocedeu
diante de uma simples garrafa de cerveja pintada de vermelho, suspensa por uma corda amarrada em ambos os lados da
rua. Os tripulantes devem ter pensado que se tratava de um novo tipo de mina antitanque.
Numa das ruas que corriam em declive em direção ao Vístula, uma guarnição de soldados poloneses que defendia uma
casa lançou encosta abaixo vários barris pintados com alumínio. Os barris rolavam saltando aos pulos e fazendo um
ruído ensurdecedor sobre o calçamento. Dois tanques abriram fogo contra eles, ao mesmo tempo em que batiam em
retirada para evitar aquilo que supunham ser um mortífero explosivo.
Crianças contra Tigres
O menino tinha doze anos e certa habilidade para atirar pedras. Os alemães atacavam com seus tanques e carros
blindados, tratando de apoderar-se das principais artérias para cortar a passagem do rio às posições polonesas.
Ao guri não foi fácil conseguir a garrafa de gasolina; seu aspecto mirrado não inspirava confiança a ninguém. Para
Frederico, por exemplo, teria sido muito mais simples. Frederico era menor, porém aparentava quatorze anos e o garoto
tinha muita inveja dele.
Os tanques avançavam pela avenida larga disparando suas metralhadoras. Não era o momento apropriado; era preciso
esperar que algum se atrasasse ou cortasse por uma rua lateral. O garoto aguardou a ocasião com a garrafa firme. A
gasolina tinha cheiro penetrante, mas ele nem ligava. Por fim um gigantesco Tigre de quarenta toneladas dobrou a
esquina e entrou numa rua lateral, varrendo sua frente com rajadas de balas. Era a oportunidade... O menino fechou os
olhos e esperou que ele se aproximasse. Estava ainda muito longe... Medo... 15 metros... Que calor!... 10 metros...
Emoção!... 5 metros... Agora!
A garrafa se espatifou contra o tanque e o garoto colou-se à parede, tremendo, para ver o resultado... O Tigre ardia.
Rapidamente abriu-se a torre e os tripulantes desceram com os braços erguidos.
Foi carregado em triunfo, mas o prêmio que ele preferia era outro: um capacete de metal como o que usavam os
soldados. Houve um momento de hesitação: os capacetes eram poucos. Contudo, de repente, os companheiros
apareceram com o prêmio: um velho capacete francês da guerra de 14. Sobrava na cabeça do garoto, mas ele ficou todo
feliz; os companheiros o apelidaram "Tigre" e lhe deram algumas granadas com as quais, antes do dia terminar, destruiu
outros dois tanques. Ao anoitecer, o capacete e o apelido não bastavam; então, foi nomeado sargento.

As mulheres polonesas
As mulheres da Polônia enviaram ao Papa Pio XII uma mensagem redigida nos seguintes termos:
"Santo Padre: nós, as mulheres polonesas, estamos combatendo em Varsóvia, movidas pelo patriotismo e pelo amor à
terra de nossos pais.
Nossos alimentos, armas e medicamentos, escasseiam; já estamos nos defendendo há três semanas até agora; Varsóvia
está em ruínas, os alemães estão assassinando os feridos nos hospitais, empurrando mulheres e crianças à frente dos
seus tanques. A notícia de que nossas crianças lutam nas ruas de Varsóvia, destruindo tanques inimigos com garrafas de
gasolina, não é um exagero.
Nós, as mães, estamos vendo nossos filhos sacrificados no altar da liberdade da nossa terra.
Nossos esposos, filhos e irmãos, que combatem contra o inimigo mortal da humanidade, nem sequer foram
considerados dignos dos direitos de combatente, do qual se tornaram tão merecedores.
Santo Padre, ninguém nos ajuda; os exércitos russos permanecem há três semanas impassíveis às portas de Varsóvia. A
ajuda que recebemos da Inglaterra é insignificante. O mundo fecha os olhos diante da nossa tragédia; somente Deus está
conosco.
Santo Padre, representante de Nosso Senhor Jesus Cristo, escutai as nossas preces e derramai a bênção de Deus sobre
nós, as mulheres polonesas, convertidas em baluarte da Igreja e da Liberdade."
"As mulheres da Polônia".

"Pombos"
Poloneses e alemães distribuíam franco-atiradores nas retaguardas inimigas. Geralmente atravessavam as linhas
adversárias e escondiam-se em casas abandonadas para castigar e fustigar com fogo certeiro o inimigo, pelas costas.
Os poloneses apelidavam os franco-atiradores alemães de "pombos" pelos curiosos buracos circulares existentes nos
edifícios e que serviam para os disparos. O exército patriota utilizava os serviços de operários especializados no
conserto de telhados para descobrir os seus esconderijos. Os "pombos", poloneses como alemães, levavam provisões
para vários dias porque, naturalmente, era muito perigoso para eles abandonar seus postos. Pertenciam à melhor classe
de atiradores e em muitos casos adaptavam miras telescópicas às suas armas. A atividade dos franco-atiradores alemães
obrigou os poloneses a interromper o trânsito nas ruas e nas avenidas do seu próprio setor; tiveram que fazer longas
voltas através dos subterrâneos ou colando-se aos muros dos fundos das casas. Além disso foi necessário colocar
cartazes advertindo os cidadãos.
Em alguns casos o "pombo" era improvisado pelas circunstâncias, seja porque tinha ficado isolado quando seu grupo
batia em retirada ou porque os ferimentos o impediam de retroceder ligeiro. Estes soldados, espécie de "comandos" de
caráter pessoal, causaram muitas baixas de ambos os lados e, fundamentalmente, criaram constantemente um clima de
insegurança, mesmo em zonas onde o combate era raro. Claro que a sorte de um "pombo" estava selada desde o
princípio. Raras vezes algum deles conseguia voltar às suas linhas. Por outro lado sua tarefa tornava-se tão fatídica e
irritante que, inclusive, dificilmente podiam esperar clemência no caso de cair prisioneiros. Na maioria dos casos o
salário do "pombo" era a morte.

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