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Jaqueline Bertoldo
Santa Maria, RS
2018
Jaqueline Bertoldo
1. Tema 3
2. Delimitação do Tema 3
3. Problema de Pesquisa 3
4. Objetivos 3
5. Justificativas 3
6. Metodologia 4
7. Plano provisório 6
8. Referencial teórico 6
9. Cronograma 14
10. Referências 14
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1 TEMA
Migrações, cidadania e participação política no espaço público em face da condição de
exclusão do não-nacional no Estado-Nação.
2 DELIMITAÇÃO DO TEMA
Resistências migrantes: um estudo acerca da participação política das associações de
imigrantes haitianos(as) e senegaleses(as) da cidade de Porto Alegre-RS em face da
inexistência do vínculo de cidadania com o Estado.
3 PROBLEMA
A migração internacional na atualidade cada vez mais tem colocado em cheque a
compreensão de cidadania e do Estado-Nação moderno, estruturas essencialmente violentas à
população migrante e à pluralidade e diversidade existentes no planeta. Por outro lado, muitas
são as experiências de resistência da população migrante por meio de práticas próprias, tanto
pela criação de redes sociais, coletivos e associações civis. Assim, diante da exclusão de
participação ativa e efetiva da população migrante no espaço público no país, em virtude da
inexistência do vínculo de cidadania com o Estado, em que medida as associações de
imigrantes haitianos e senegaleses da cidade de Porto Alegre – RS proporcionam atuação
política no espaço público onde estão inseridos esses(as) imigrantes?
4 OBJETIVOS
O objetivo geral da pesquisa é compreender em que medida as associações de imigrantes
haitianos e senegaleses propiciam a atuação política dessa população no espaço público no
município de Porto Alegre – RS diante da sua condição de exclusão dos direitos de cidadania
e participação política dentro do modelo jurídico-politico do Estado-Nação.
5 JUSTIFICATIVA
O tema das migrações já ocupa papel central nas agendas a nível internacional e também em
muitos países, principalmente em razão do grande número da população migrante e refugiada
em nível global e dos efeitos e consequências que esses fenômenos causam em diversos
níveis, social, político, econômico e cultural. Os estudos mais aprofundamentos sobre o tema,
demonstram que os(as) migrantes internacionais estão inseridos nas estruturas de produção
econômica a nível global por meio de uma lógica de apropriação biopolítica dessa categoria,
com a produção da “clandestinidade” e assim consequentes realidades de exploração dessa
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6 METODOLOGIA
Como abordagem que direciona a pesquisa, se pretende entender dialeticamente a
relação entre as resistências migrantes por meio de sua organização em associações e as
dinâmicas que excluem essa população do direito ao exercício cidadão dentro da Nação.
Nesse sentido, inicialmente, se buscará compreender como se dão esses processos exclusão
do(a) migrante, política, cultural e socialmente, percebendo em que medida é negada a
possiblidade de ser visto e ouvido dentro do Estado em razão de não possuir um vínculo de
cidadania. Em um segundo momento, se buscará um estudo aprofundado de duas associações
de migrantes no Estado do Rio Grande do Sul, de modo a identificar em que medida essas
organizações proporcionam participação dessa população, propiciando ou não diferentes
maneiras e práticas de “cidadania”. Por fim, como forma de síntese, se buscará responder a
problemática que direciona a pesquisa, compreendendo como se dão as interações entre esses
grupos sociais e as formas excludentes do modelo Estatal.
Como método de procedimento utilizar-se-á a pesquisa bibliográfica e documental
para revisão teórica acerca do tema, bem como revisão crítica e histórica da legislação
migratória no que se refere aos direitos políticos, direito de associação e a relação de controle
com o Estado. Ademais, pretende-se fazer o estudo das associações de migrantes por meio de
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intersecção, além de apresentar os resultados práticos das agências migrantes como processo
próprio de reconstrução do próprio entendimento moderno sobre cidadania e suas dimensões.
7 PLANO PROVISÓRIO
8 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
história como base de um sistema político-jurídico que separa o status referente à pessoa, ou
seja, da personalidade ou subjetividade jurídica, do status de cidadão, referente à cidadania.
Como explica o constitucionalista José Afonso da Silva (2014, p. 349-35), a cidadania
é um status ligado ao regime político que “qualifica os participantes da vida do Estado”, ou
seja, é um atributo que possuem aquelas pessoas pertencentes a uma determinada comunidade
estatal e que, por meio dessa relação, tem o direito de participar do governo, podendo falar e
ser ouvido pela classe de representantes políticos. Sendo assim, no direito brasileiro, os
cidadãos são aqueles que possuem o direito de votar e ser votado, por possuir direitos
políticos plenos. (SILVA, 2014, p. 450).
Ferrajoli (2004, p. 100) explica que o universalismo dos direitos do homem, bem
como a ideia de igualdade, buscou abranger no conceito de direitos da pessoa (e não dos
cidadãos) quase todos os direitos fundamentais. Existe, no entanto, uma classe de direitos que
são atribuídos aos indivíduos exclusivamente por sua condição de cidadão: os direitos
políticos. Ocorre que, na atualidade, com a crise dos Estados e das comunidades nacionais,
com as migrações em massa e as crises étnicas, bem como a desigualdade cada vez maiores
entre Sul e Norte, deve-se perceber que a cidadania não é mais um fator de inclusão e de
igualdade como na origem do Estado Moderno, mas, ao contrário, constitui um fator de
exclusão e discriminação (FERRAJOLI, 2004, p. 117).
A noção de cidadania pressupõe que o simples nascer na sociedade humana “investe o
indivíduo de uma soma inalienável de direitos” (SANTOS, 2011, p. 81). No entanto, como
explica o Milton Santos (2011, p. 84), a diferença entre a retórica e os fatos está nos seus
limites enquanto situação social, jurídica e política. Por isso, a cidadania se aprende e se
conquista, assim como a liberdade, só é efetiva se estiver garantida mediante mecanismo
institucionais que assegurem sua fruição e, quando houver negativa, mecanismos para
reclamá-la. O que se busca dizer com isso é que a dimensão da cidadania não é imutável, mas
ao contrário, foi tomando diferentes pesos e medidas ao longo da história, até um momento
fundamental quando, no século XIX, “com a emergência do Estado-Nação em toda a Europa,
esse conceito adquiriu um importante elemento: a qualidade de membro” (HAGUETTE apud
SANTOS, 2011, p. 84).
Revelam-se assim as contradições existentes ainda hoje dentro do modelo de Estado
Moderno, com o grande marco da Declaração dos Direitos do Homem. Conforme demonstra
Hanna Arendt, sendo os direitos do Homem inalienáveis não haveria necessidade de qualquer
autoridade ou lei para concebê-los: o próprio homem seria a sua “origem e seu objetivo
último” (ARENDT, 2012, p. 396). Ocorre que, nas palavras da autora, “mas o homem havia
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surgido como ser completamente emancipado e isolado, que levava em si mesmo sua
dignidade, sem referencia a alguma ordem superior que o incorporasse, diluía-se como
membro do povo” (ARENDT, 2012, p. 396). Ou seja, os direitos humanos passam a ser
assegurados a partir da soberania do povo ao qual pertencia o indivíduo, vinculando,
necessariamente, a uma nacionalidade.
No caso das migrações internacionais, o elemento territorial também é fundamental
para compreender a exclusão de determinados indivíduos do direito de influenciar nos rumos
e decisões dessa Nação em razão de um critério territorial que faz com que não possua o
vínculo político de pertencimento necessário para existir naquele território. (REDIN, 2013, p.
29).
Essa segregação-escravização do humano pelo vínculo formal de cidadania, fruto de
um artifício da modernidade incrustado no legalismo da vontade soberana, isto é,
individualista, é uma violência silenciosa. Ao encaixotar o indivíduo sob o manto do
nacionalismo e forjar sua condição humana pelo atributo do direito subjetivo
(subjetivo individual), o sistema moderno do Estado-Nação legitima e impõe
lentamente uma categoria de pertencimento que está além da noção da pessoa
humana. (REDIN, 2013, p. 29-30).
A partir desses elementos é que se constrói o imigrante como o “outro”, “inimigo dos
nacionais”, já que o Estado-Nação está para os seus nacionais, onde se revelam assim a
violência das fronteiras territoriais, simbólicas e sociais. Isso significa que nossa vida política
tem por base a ideia de que produzimos a igualdade por meio da organização entre pares,
entre seus iguais e em razão disso que o Estado-Nação moderno busca e insiste na
homogeneidade, eliminando as distinções e diferenças naturais. Conforme explica e conclui a
autora “O estranho é um símbolo assustador pelo fato da diferença em si, da individualidade
em si, e evoca essa esfera onde o homem não pode atuar nem mudar e na qual tem, portanto,
uma definida tendência a destruir” (ARENDT, 2012, p. 411).
Nesse sentido, a figura do estrangeiro está associada ao “outro”, um sujeito que
apresenta ameaças ao emprego, à identidade nacional, a ordem dentro da Nação. Por outro
lado, importante frisar que a xenofobia ao estrangeiro, em especial na América Latina, Europa
e outros lugares do mundo, está diretamente associada na discriminação étnico-racial. “O
“outro-estrangeiro” é caracterizado como tal, sobretudo se não é branco e possui origens
indígenas, afro-latinas ou afrocaribenhas.” (STEFFENS, 2016, p. 7). Esses são os(as)
migrantes por excelência estrangeiros(as) e cujas diferenças culturais são impassíveis de
convivência e aceitação.
O pensamento de Boaventura de Souza Santos também é fundamental para
compreender como se dão os processos de exclusão com a modernidade. Segundo o autor, o
pensamento moderno ocidental consiste em um sistema de distinções visíveis e invisíveis que
acabam por dividir a realidade social entre aqueles que estão “deste lado da linha” e aqueles
que estão do “outro lado da linha”. Ocorre que justamente essas distinções invisíveis fazem
com que aqueles que estão do “outro lado” desapareçam como realidade, tornando-se
invisíveis, inexistentes, ou seja, não existem “sob qualquer modo de ser relevante ou
compreensível” (SANTOS, 2007, p. 71).
A característica fundamental do pensamento abissal é a impossibilidade da co-
presença dos dois lados da linha. O universo “deste lado da linha” só prevalece na
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medida em que esgota o campo da realidade relevante: para além da linha há apenas
inexistência, invisibilidade e ausência não-dialética. (SANTOS, 2007, p. 71).
Assim, conclui que a partir dessa nova ótica de pensar as migrações, a abordagem da
autonomia das migrações afirma que os(as) migrantes, ao invés de estarem buscando ser
cidadãos, já agem de fato como cidadãos, insistindo que efetivamente já são cidadãos.
Certamente, essa percepção adota outra conceitualização de cidadania, pois embora os(as)
migrantes não sejam considerados cidadãos no sentido jurídico do termo, eles acabam por
contribuir de forma decisiva para a transformação e nova compreensão do que
tradicionalmente se entende por cidadania. Conforme explica Mezzadra (2011, p. 76).
Desde este ponto de vista, a exploração dos migrantes deve ser rastreada no âmbito
do processo migratório e da experiência dos migrantes, sempre confrontada com os
agenciamentos e ações dos migrantes como sua condição de possibilidade de serem
migrantes e como base material de seu poder de contestação.
É nesse contexto que se busca então compreender como se dão essas rugosidades entre
o Estado e sua estrutura político-jurídica engessada que exclui e busca se apropriar do sujeito
coletivo migrante e, por outro lado, as formas próprias de organização dessas populações, em
especial por meio das associações. De um lado a estrutura político-jurídica do Estado-Nação
que exclui a população migrante da possibilidade de participação no espaço público por não
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possuir o status jurídico de cidadãos, e de outro uma série de estratégias e elementos próprios
da migração que vão configurando novas formas de pensar a relação dos sujeitos com o
território, a cultura e a própria participação política no espaço público.
Diante das realidades do processo migratório que continuamente isolam a população
migrante na sociedade de destino, as associações migrantes têm ocupado papel fundamental
em romper com as barreiras da exclusão estrutural e das múltiplas vulnerabilidades a que
estão sujeitas essas pessoas ao longo do processo migratório. Horta (2010, p. 11) explica que
isso ocorre por conta do caráter multifuncional que possuem essas organizações, atuando
diretamente na vida dos(as) migrantes nos diferentes desafios que a mobilidade apresenta,
como também sendo local para vivência e reforço cultural e identitário, minimizando os
efeitos da distância e do isolamento.
[...]estas organizações têm-se revestido de uma multiplicidade de funcionalidades,
constituindo-se como estruturas vitais de processos de socialização, de reforço de
laços culturais comuns, de afirmação identitária, de solidariedades e de práticas de
entreajuda, desempenhando um papel fundamental na vida dos migrantes face a
situações de isolamento e, frequentemente, de adversidade decorrentes do percurso
migratório. Por outro lado, as organizações de migrantes têm-se, igualmente,
constituído como um espaço privilegiado de mobilização social e política visando a
defesa dos interesses dos seus membros. (HORTA, 2010, p. 11).
na cidade de Porto Alegre, cabe também fazer algumas considerações. Os novos fluxos
migratórios no país tiveram aumento expressivo a partir do ano de 2010, quando o Brasil,
após a crise econômica global que atingiu os Estados Unidos e em função dos megaeventos
esportivos sediados no país, concomitantemente com o avanço da economia, acabou
tornando-se um país muito atrativo para migrantes em busca de oportunidades de trabalho,
como senegaleses e haitianos. No caso dos haitianos, esse fluxo aumentou muito em razão do
terremoto que assolou o país no ano de 2010, aliado a melhora das condições econômicas do
Brasil e também a abertura humanitária que o país adotou com relação a essa população.
Nesse sentido, Denise Cogo (2013, p. 24) explica a importância de não desconsiderar
as circunstâncias materiais como causa da migração, bem como as relações de dominação e
desigualdades em que se inserem as dinâmicas migratórias, mas ao mesmo tempo perceber
como essas migrações “passam a se definir pela sua capacidade de portar e sintetizar uma
pluralidade de posições, vínculos, relações, conflitos e disputas sociopolíticas, econômicas e
culturais nas sociedades contemporâneas”.
A autora faz menção assim às diversas associações de migrantes haitianos pelo país
que, juntamente com outras organizações da sociedade civil interagem no espaço público,
reivindicando um tratamento humanizado à imigração haitiana, podendo contar suas próprias
histórias, dar visibilidade às suas causas, ampliar processos de integração, bem como na
criação e participação de espaços para implementação de políticas migratórias. (COGO, 2013,
p. 30).
Por outro lado, no caso dos(as) migrantes senegaleses a procura é em especial por
melhores oportunidades de trabalho no Brasil em virtude da falta de emprego ou das más
condições de trabalho no país. Assim, as redes de migrantes, associações e demais redes se
mostram fundamentais nas dinâmicas migratórias desses sujeitos e na inserção do mercado de
trabalho. Além disso, é marcante na migração senegalesa o fato de esses(as) imigrantes não
aprenderem o português, o que dificulta muito seu processo de integração na sociedade
brasileira. Por outro lado, eles(as) mantêm muito forte os costumes e tradições religiosas,
sendo inclusive motivo de reivindicação por templos e mesquitas onde possam manifestar sua
fé. (TEDESCO; GRZYBOVSKI, 2011, p. 344).
Por fim, destaca-se que a presente pesquisa busca discutir a temática migratória sob a
ótica dos Direitos da Sociobiodiversidade e Sustentabilidade, tendo em vista a defesa pelo
Direito Humano de Migrar a partir da “prerrogativa da liberdade de deslocamento com a
preservação e respeito das identidades construídas, da cultura que cada ser humano encerra e
resignifica em si”. (CRISTINO, 2016, p. 12). Por meio dessa pesquisa, busca-se questionar as
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tradições da modernidade que, por meio de critérios territoriais, exclui parte da população da
possibilidade de ter voz e ação dentro da Nação onde se encontra. Assim, por meio de uma
nova lógica, pautada em uma ecologia de saberes, pretende-se dar voz aos que estão do outro
lado da linha, historicamente sujeitados pelo capitalismo e pelo colonialismo (SANTOS,
2007, p. 85). Nesse sentido é que as experiências e formas próprias da dinâmica migratória
tem muito a contribuir e ensinar, na medida em que se reconhece uma heterogeneidade de
conhecimentos e pluralidade cultural.
9 CRONOGRAMA
Redação preliminar X
Qualificação X
Elaboração da dissertação X X
Revisão Final X
Defesa X
REFERÊNCIAS
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma
ecologia de saberes. Novos estud. - CEBRAP, São Paulo, n. 79, p. 71-94, 2007.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
33002007000300004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 out. 2017.
_______, Multidão e migrações: a autonomia dos migrantes. Revista Eco Pós, 2011.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros,
2014.