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TÍTULO: TRANSFORMAÇÕES E PERMANÊNCIAS NO BAIRRO DA PENHA EM SÃO PAULO

CATEGORIA: CONCLUÍDO

ÁREA: ENGENHARIAS E ARQUITETURA

SUBÁREA: ARQUITETURA E URBANISMO

INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

AUTOR(ES): BARBARA BELORTE

ORIENTADOR(ES): ANDRÉA DE OLIVEIRA TOURINHO


1. Resumo
Este trabalho busca discutir as transformações e permanências no distrito da Penha,
localizado na região leste de São Paulo, frente às dinâmicas urbanas atuais,
enfatizando a percepção destes processos por distintos grupos sociais que ali vivem
ou atuam, como moradores, associações e agentes do poder público. O recorte
espacial da pesquisa é o núcleo de ocupação mais antigo da região, o Outeiro da
Penha e seu entorno imediato, que possui reconhecida importância histórica e irá
sofrer novas mudanças significativas, devido tanto à legislação urbana recentemente
aprovada para a área quanto aos processos de verticalização que ali já ocorrem.
No âmbito da política municipal de preservação do patrimônio, esta área encontra-se
em processo de tombamento há dez anos, enquanto no contexto da política urbana
municipal a área é atualmente objeto de propostas para a revisão do Plano Regional
Estratégico da Subprefeitura da Penha. Esta conjuntura torna as ações públicas
decisivas, já que consolidarão a fisionomia do bairro em um futuro próximo. Tendo
como premissa a importância de se considerar, nestes processos, a representação
social sobre a área em estudo, este trabalho retoma o conceito de patrimônio
ambiental urbano e constrói ferramentas de pesquisa para sua aferição por meio de
rede social.
2. Introdução
O trabalho busca enfatizar as relações sociais e econômicas que se estabeleceram
na região da Penha ao longo dos anos, a partir de elementos que sobreviveram no
tempo devido aos valores a eles atribuídos pela sociedade, permanecendo e sendo
ressignificados em diferentes períodos históricos, dando ao lugar identidade própria e
constituindo o patrimônio urbano penhense. Deste modo, esta pesquisa retoma a
noção de patrimônio ambiental urbano defendida por Ulpiano Bezerra de Meneses,
desde a década de 1970, considerando a percepção dos próprios moradores e
usuários do bairro sobre suas referências culturais.
Fundado em 1667, o bairro se conformou em volta de uma igreja que por muito tempo
conduziu as atividades econômicas e sociais da região até o início do século XIX. Com
o aparecimento das ferrovias e a industrialização, a região incorpora-se à cidade,
funcionando como transbordo entre os bairros periféricos da zona leste ao centro da
cidade. A chegada de mais imigrantes, intensifica o comércio na região que iria se
caracterizar como subcentro, a partir da metade do século XX, suprindo muitas vezes
os equipamentos urbanos da região de São Paulo até os dias de hoje.
Em meio a tantas transformações, a Penha já possui três edificações tombadas em
nível municipal e estadual, – a Escola Santos Dumont, Escola Nossa Senhora da
Penha e a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, além de seu centro
histórico protegido pelo processo municipal de tombamento nº2005.0.059.059-8.
De acordo com os principais instrumentos de planejamento da cidade, o Plano Diretor
Estratégico de 2014 (PDE) e Lei de Parcelamento Uso e Ocupação do Solo (LPUOS),
aprovada em 2016, a região irá sofrer novas mudanças enquadradas em um
zoneamento que não se relaciona com o local, incentivando o adensamento e a
verticalização, contrapondo-se à paisagem e ambiência do bairro. Existe, ainda, uma
proposta para uma nova estação de metrô próxima ao centro histórico da Penha,
podendo contribuir para a transformação e desfiguração da região.
É inevitável o interesse do mercado imobiliário, portanto é imprescindível cuidado ao
se tratar da região que possui uma forte identidade historicamente consolidada.
Nota-se então a importância do estudo de casos de áreas específicas para entender
os impactos que grandes estratégias urbanas causam em diferentes regiões da
cidade, no caso a Penha, um bairro que passará por grandes transformações nos
próximos anos e que ao mesmo tempo deve lidar com a identidade cultural muito
vinculada a sua materialidade.
3. Objetivos
A análise da problemática que enfrenta o bairro da Penha atualmente nos levou a
formular a hipótese de que existe uma dissociação entre os órgãos de política urbana
e preservação da cidade, que parecem trabalhar de forma separada. Desta forma, um
dos objetivos é verificar se houve articulação entre as políticas de planejamento e as
de preservação do patrimônio, considerando, por um lado, o valor cultural reconhecido
no bairro da Penha, e por outro as transformações que ali tem ocorrido bem como as
previstas no Plano Diretor Estratégico, dentro do recorte espacial do outeiro da Penha.
Além disso busca-se retomar o conceito de patrimônio ambiental urbano,
considerando a importância da representação social sobre a área de estudo,
buscando novas ferramentas de pesquisa através de rede social.
4. Metodologia
A metodologia de pesquisa adotada foi a seguinte: levantamentos e análises
bibliográficas por meio de estudos relatados em livros e teses sobre a história do bairro
e sobre o patrimônio cultural e ambiental da cidade; consultas à resoluções, estudos,
leis, planos e processos de tombamento que envolvem a área compreendendo seu
valor cultural; pesquisa de campo abrangendo levantamentos fotográficos e
mapeamento; entrevistas com representantes de associações locais e técnicos dos
setores públicos; construção de ferramenta de pesquisa por meio de rede social para
aplicação de questionários com os moradores e usuários da Penha, buscando aferir
sua percepção sobre as transformações e permanências que ali ocorrem bem como
sobre o patrimônio ambiental urbano da região.
5. Desenvolvimento
A produção do espaço urbano é reflexo - e também condicionante - das relações
sociais, econômicas e geográficas, capazes de configurar todo o traçado do território,
suas atividades e tradições. Ao longo do tempo tais relações se agregam a novos
interesses e as dinâmicas antes estabelecidas se alteram.
Em geral, se até a primeira metade do século XX o território urbano era mais
compartimentado, com áreas urbanizadas entremeadas de vazios, com o tempo
passam a se estabelecer conexões entre as áreas, conferindo unidade à cidade. As
dinâmicas se transformam. A demanda por habitação e infraestrutura, devido ao
crescimento das cidades, priorizam práticas cada vez menos voltadas para seus bens
culturais.
Espaços, construções e costumes são adicionados, excluídos, reinventados e
mantidos. Alguns sobrevivem e conformam referências culturais, portando consigo a
memória e a formação de identidades coletivas. No campo do patrimônio material, são
construções ou lugares que expressam a historicidade, aos quais atribuímos valores
culturais - sejam eles históricos, artísticos, arquitetônicos, ambientais e/ou afetivos.
Considerados em seu conjunto, estabelecem um “patrimônio ambiental urbano”, o
qual restringe valores em um dado ambiente abrangendo toda a conformação de seu
tecido urbano, cotidiano, suas relações econômicas e sociais, a fim de não o restringir
a um único elemento.
O patrimônio ambiental urbano pressupõe um processo de ação contínua em que o
passado é parte integrante do presente. Toda transformação traz consigo uma
história. A história de sua formação e relações atribuídas a um meio ambiente. Os
lugares com os quais as pessoas se identificam manifestam, assim, valores afetivos.
O problema é que os interesses econômicos predominantes hoje em dia se
contrapõem aos objetos que representam uma memória social.
Se, até o início do século XX, regiões como a Penha estavam acostumadas com um
ritmo mais pacato, característicos de regiões rurais, a presença da massa operária
transforma sua dinâmica. O bairro definiu-se como uma centralidade importante aos
bairros adjacentes e, em meio às essas transformações, mesmo que já modificada,
sua paisagem permanece com suas características advindas de uma ocupação
colonial principalmente no que diz respeito ao seu traçado e relações afetivas com
alguns pontos do bairro.
Um dos bairros mais antigos da cidade de São Paulo, tem uma importância histórica
indiscutível. Apesar de muito modificado, o bairro mantém sua ambiência mais
precisamente em seu outeiro, abrigando antigas construções que marcam referências
e são apropriadas por seus moradores e usuários. Suas características arquitetônicas
e urbanísticas significativas para história de São Paulo e memória do morador
implicam em um reconhecimento mais amplo, o que definiu a abertura de um processo
de tombamento municipal para o centro histórico da Penha em 2004.
Seu patrimônio cultural está intimamente vinculado às festas e tradições religiosas e
suas principais referências se agrupam ao longo das três igrejas localizadas no outeiro
penhense: Igreja Nossa Senhora da Penha, Igreja Nossa Senhora do Rosário dos
Homens Pretos e a Basílica da Penha. Outros monumentos tradicionais também
fazem parte de sua paisagem como o Seminário dos padres redentoristas, o Colégio
São Vicente de Paulo, a Escola Santos Dumont; alguns edifícios mais recentes
também somam marcos importantes no bairro como o Centro Cultural, o Shopping
Penha e o Mercado Municipal da Penha. Todas essas edificações se conectam ao
seu traçado viário, também muito marcante na região.
Se até os anos 1990, o único reconhecimento de patrimônio na Penha se limitava à
Igreja Nossa Senhora do Rosário, o bairro possui outras características arquitetônicas
e urbanísticas significativas. A percepção de um patrimônio cultural mais abrangente
surge a partir da proposta de indicação do centro histórico da Penha como Zona
Especial de Interesse Cultural (Zepec), no Plano Regional Estratégico da
Subprefeitura (PRES) da Penha de 2004 resultando na proposta de tombamento
municipal daquela área pela Resolução nº 26/Conpresp/2004.
É um contrassenso se pensar no adensamento máximo em uma área de valor
histórico reconhecido, com uma identidade histórica impossível de ser dissociada de
sua morfologia e tipologias urbanas. O patrimônio cultural é o conjunto de
manifestações desenvolvidas em um local durante um longo período e a sua
desconsideração em processos de transformação urbana pode motivar sua
deterioração e consequentemente sua descaracterização.
Considerando que a perda dos bens culturais tem um grande impacto sobre a
sociedade, percebe-se, então, a importância de ações associadas entre a
preservação do patrimônio e o planejamento urbano de forma a compor no espaço e
na paisagem as permanências de construções, conjuntos e/ou espaços que
sobreviveram no tempo e refletem os interesses de certos grupos em determinados
lugares. Referências que conformam o patrimônio cultural em diferentes escalas.
A recente aprovação do zoneamento (2016), com a implementação de uma Zona de
Estruturação Urbana Prevista (ZEUP) no entorno imediato do núcleo histórico da
Penha, que visa a concentração de usos próximo ao transporte coletivo, pode vir a
acarretar na desfiguração de seu espaço que hoje já se encontra saturado. Além
disso, a paisagem da colina penhense compete, nos últimos trinta anos, com a recente
verticalização ligada à especulação imobiliária.
Contudo, as práticas sociais estabelecidas no bairro da Penha possuem suas
peculiaridades que levam à busca de sua preservação não apenas pelas suas
características materiais, mas pelo seu valor cultural.
O bairro ainda conta com atividades de grupos preocupados com o patrimônio cultural
da Penha, os quais estudam e divulgam sua história, criam fórum de discussões,
apropriam-se do seu patrimônio através de festas e pequenas celebrações atraindo
não só seus moradores tradicionais como também visitantes e, aos poucos, tais
grupos estão ganhando força na região e demonstrando a importância da história e
relações estabelecidas na Penha.
A indecisão em que se encontra o processo de tombamento do núcleo histórico do
bairro está fortemente relacionado aos interesses imobiliários na região. Segundo o
arquiteto Walter Pires, técnico do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), o
processo de tombamento já passou diversas vezes pelo Conpresp alegando-se a
necessidade de aprofundamentos de estudos. Isso acontece principalmente em áreas
de muito interesse imobiliário como na Penha. Grandes propostas de alterações,
como a futura estação de metrô da Linha 2-Verde, acabam por atrair esses
investidores que confrontam os interesses de preservação da área. No entanto, seu
patrimônio deve ser protegido para barrar a descaracterização que pode vir ocorrer
com as futuras transformações. O que deve ser repensado não é seu perímetro de
proteção e sim a forma como esse desenvolvimento se articulará com a região,
priorizando a manutenção de sua ambiência.
6. Resultados
Embora qualquer cidadão tenha o direito de solicitar o tombamento de um imóvel,
nunca houve fôlego da equipe técnica do DPH para dar conta de toda a cidade. Além
disso, a participação popular no processo de tombamento se limita a sua solicitação.
Todavia, poderia ser aproveitada de forma mais efetiva no reconhecimento de valores
culturais de um lugar, especialmente com o avanço das tecnologias dos meios de
comunicação.
Considerando a importância do reconhecimento de identidades a partir da visão dos
próprios moradores - e outros usuários - do bairro, que é o próprio fundamento do
conceito de patrimônio ambiental urbano, e buscando demonstrar novas
possibilidades de subsidiar os estudos de processo de tombamento, envolvendo a
participação social, foi proposto nesta pesquisa um método de investigação a partir
de entrevista por meio de questionários elaborados pela autora, obtendo uma
investigação prática, honesta e que se aproxima das singularidades locais, podendo
vir a contribuir nos estudos de processos de tombamento.
A metodologia contou com a criação em outubro de 2015 de uma página na rede
social Facebook denominada “Penha de França, Transformações e Permanências”,
facilitando a interação com os moradores do bairro. Cada membro foi convidado para
a participação do preenchimento de um questionário que buscava analisar a opinião
dos interessados, através do site “Survio”, ferramenta específica para elaboração e
coleta de pesquisas.
As questões formuladas para o questionário tinham o objetivo de analisar a percepção
de quem de fato frequenta o bairro, sejam moradores ou usuários pertencentes a
outras regiões. As perguntas se enquadravam em três grupos de análise: o perfil dos
entrevistados, relação com o bairro, idade, e quanto tempo frequenta o local);
indicação de suas referências culturais na Penha e o porquê as consideravam
importantes; percepção das transformações e permanências do bairro, bem como
opinião sobre questões urbanas e de preservação.
Ao todo o site recebeu 102 questionários respondidos, no entanto foram consideradas
83 respostas para análise, excluindo os questionários preenchidos mais de uma vez,
os que não respondiam as perguntas apresentadas e os participantes que não se
posicionaram na maioria das perguntas. A partir das respostas foram elaborados
gráficos facilitando a visualização de algumas informações na busca de considerações
gerais.
Com relação à faixa etária, 50% dos entrevistados nasceram entre as décadas de
1960 e 1970, quando o bairro começa a ser transformado e novos edifícios foram
compondo sua paisagem. Considerando o valor que os entrevistados atribuíram às
suas referências culturais, é possível desmitificar a ideia de que o patrimônio cultural
de um bairro está associado apenas aos seus moradores mais antigos, podendo se
considerar, portanto, que seu valor não está somente vinculado a uma memória
saudosista da Penha.
Tendo em vista a importância da paisagem do bairro para alguns penhenses, é
possível notar uma preocupação com o descuido que ocorre com as edificações mais
antigas que, na percepção do morador, estão sendo abandonadas e muitas vezes dão
lugar às novas edificações.
Quanto aos elementos que caracterizam o bairro, é possível identificar que a maioria
das permanências presentes no ambiente que compõe o bairro Penha são
apresentadas como referências para o entrevistado. Isso confirma a apropriação e
importância desses bens culturais, bem como a identificação muito marcante com o
patrimônio religioso da região: as três principais edificações apontadas possuem
cunho religioso – a Basílica da Penha, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos homens
Preto e, em primeiro lugar, a Igreja Nossa Senhora da Penha de França a qual se
destacou sendo elencada 60 vezes nos questionários.
As justificativas mais comuns para a indicação destas edificações dada pelos
entrevistados devem-se o fato de fazerem parte da história do bairro e, portanto, parte
integrante da vida de cada morador. Muitos estudaram nas escolas citadas, se
casaram ou assistiram aos casamentos de seus familiares no Santuário, trabalhavam
ou frequentavam as festas realizadas no Largo do Rosário e visitam os locais até hoje.
Já os marcos mais recentes indicados pelos entrevistados são justificados como a
chegada da modernização no bairro como o Shopping, o Mercado Municipal da Penha
e o comércio. Além disso, são apontadas como novas áreas de lazer o Centro Cultural
da Penha, seu Teatro Martins Penna e o Parque Linear do Tiquatira – este último
distante do centro histórico.
É importante notar que a maior parte dos elementos citados estão localizados no
núcleo histórico penhense, o que afirma a importância deste lugar.
Quando questionados a respeito do tombamento do centro histórico da Penha, nota-
se que mais de três quartos dos entrevistados são a favor de seu tombamento,
alegando ser imprescindível sua proteção, inclusive para proteger a história do bairro
frente às futuras transformações, uma vez que o local já foi muito desconfigurado em
vista do que era a Penha anteriormente.
A preocupação pela manutenção do centro histórico da Penha revela-se também ao
perceber que boa parte dos residentes e frequentadores se preocupa com as Zonas
de Estruturação Urbana Prevista, indicadas no PDE em vigência, alegando que estas
podem acabar com a história de um bairro que já não comporta mais o adensamento
e tem, como prioridade para a manutenção de seu caráter, sua horizontalidade.
Se analisarmos o zoneamento vigente no distrito da Penha, percebe-se que não há
uma composição amigável das zonas de transformação previstas com seu centro
histórico. Apesar de uma parte de seu centro histórico estar contemplada como zona
mista atualmente – limitando seu coeficiente de aproveitamento até o dobro da área
do terreno de seus lotes –, boa parte do entorno imediato do local – abrangendo
inclusive parte do perímetro proposto para tombamento – se insere em ZEUP que leva
ao máximo o aproveitamento do potencial construtivo dos lotes.
De acordo com as entrevistas com os técnicos da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Urbano (SMDU), o fato da principal função do PDE ser a busca de
uma cidade mais compacta implica na manutenção de preexistências que sejam de
interesse para uma pequena parcela da população na cidade como um todo.
Infelizmente, segundo os técnicos, a Penha está contida em uma macrozona de
estruturação e tem a característica de ser local de travessia de muitos moradores na
região leste para o centro da cidade. No entanto, eles afirmam que as subprefeituras
são convidadas a participarem de forma mais expressiva no processo de
planejamento urbano (inclusive na atual revisão dos PREs) e que, no entanto, não
houve muito envolvimento dos técnicos da subprefeitura da Penha até o momento.
Em contrapartida, técnicos da Coordenação de Desenvolvimento Urbano da
Subprefeitura da Penha afirmam que pouco foram ouvidos na elaboração do
zoneamento, sendo contrários a algumas colocações aprovadas no novo zoneamento
como a Zona Especial de Interesso Social em uma quadra demarcada dentro da área
em processo de tombamento no centro histórico do bairro.
Já os órgãos de preservação, além de não possuírem corpo técnico suficiente que
atenda de forma rápida e ágil às demandas de proteção do bem cultural do município,
parecem trabalhar de forma confinada sem a busca de novos métodos de auxílio ao
tombamento, ou até mesmo outras formas de proteção eficazes, uma vez que nem
sempre o tombamento garante sua manutenção.
Ao longo dos estudos realizados, verifica-se que a efetiva proteção dos bens culturais
ocorrem num tempo muito longo, contrapondo-se às rápidas transformações que
ocorrem na cidade. As práticas preservacionistas e as políticas de desenvolvimento
urbano devem caminhar juntas para se mostrarem eficazes.
O distanciamento entre esses órgãos dificulta ações efetivas no desenvolvimento da
cidade de ambos os lados, prejudicando a permanência do patrimônio cultural dentro
das novas dinâmicas urbanas.
7. Considerações Finais
A partir dos estudos realizados, entrevistas e visitas ao bairro da Penha, verificou-se
a existência de uma forte identidade histórica e cultural claramente perceptível na
permanência de elementos urbanos constituidores de sua paisagem e ambiente, bem
como no imaginário de seus moradores e usuários em um espaço repleto de
transformações ocorridos na cidade de São Paulo.
A existência de um rico conjunto de elementos conformadores do patrimônio do centro
histórico penhense é indiscutível. Verifica-se ainda uma luta dos grupos e dos próprios
moradores pela proteção e apropriação do patrimônio cultural do local.
O novo zoneamento que institui uma zona de transformação em todo o entorno do
centro histórico pode vir a contribuir para a consolidação de uma dinâmica cada vez
mais desvinculada das relações e preexistências locais.
Além disso, nota-se que a articulação entre os órgãos de política urbana e de
preservação parece ser extremamente insuficiente para uma relação equilibrada entre
transformações e permanências urbanas. O instrumento legal de tombamento, apesar
de proteger da destruição algumas edificações e núcleos urbanos, não dá conta de
sua preservação efetiva e de sua valorização, e o Plano Diretor Estratégico, apesar
de instituir Zonas Especiais de Interesse Cultural (ZEPEC), não leva em conta a
valorização efetiva do patrimônio cultural da cidade, funcionando apenas como valor
de troca de potencial construtivo.
Ampliando a discussão, verifica-se uma dissociação não só entre estes dois órgãos,
mas também entre eles e as subprefeituras. Uma vez que se constata a diferença de
escalas de análises nos estudos do Plano Diretor Estratégico, Lei de Parcelamento e
Uso do Solo e Plano Regional Estratégico, parece ser mais lógico que as decisões
fossem realizadas de forma contrárias como ocorreu anteriormente, levando as
discussões do local para a totalidade da cidade. Vale lembrar que hoje o centro
histórico da Penha é objeto de estudo de tombamento, justamente devido à sua
inclusão como ZEPEC, indicada no zoneamento anteriormente vigente na cidade.
Esta pesquisa busca contribuir para novos caminhos de intervenção na cidade,
visando a valorização das especificidades locais, a partir de práticas preservacionistas
menos confinadas, com interação entre os órgãos de planejamento e de patrimônio,
e mais participativa. Conhecer e vivenciar o ambiente de estudo é primordial para o
entendimento da dinâmica que ali existe, para só assim ser possível tirar conclusões
pertinentes e menos impositivas.
8. Fontes consultadas
BONTEMPI, Silvio. O bairro da Penha: Penha de França, Sesmaria de Nossa
Senhora. São Paulo: Departamento Municipal de Cultura, 1969. (Volume 3, coleção
História de Bairros). JESUS, Edson Penha, Penha: de bairro rural a bairro
paulistano – Um estudo do processo de configuração do espaço penhense.
Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. LEMOS, Carlos
A.C. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Brasiliense, 2010; LINGUITTE,
Hedemir. Santuário de Nossa Senhora da Penha. São Paulo, 1969. MENESES,
Ulpiano T. Bezerra de. A cidade como bem cultural. Áreas envoltórias e outros
dilemas, equívocos e alcance na preservação do patrimônio ambiental urbano.
In: MORI, Victor Hugo; SOUZA, Marize Campos de; BASTOS, Rossano; GALLO,
Haroldo (Org.). Patrimônio: atualizando o debate. São Paulo: /IPHAN, 2006, p. 35-53.
NOBRE, Eduardo Alberto Cusce, Estudo para preservação da área histórica do
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Municipal. Secretaria Municipal da Cultura. Departamento do Patrimônio Histórico,
2006. RODRIGUES, Marly. Imagens do Passado: a instituição do patrimônio em São
Paulo, 1969-1987. São Paulo: Unesp/Imprensa Oficial do
Estado/Condephaat/Fapesp, 2000. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano.
Lei de Parcelamento Uso e Ocupação do Solo do Município de São Paulo, Lei
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Diretor Estratégico do Município de São Paulo, Lei nº16.050, São Paulo, 2014.
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Urbano: um conceito em busca de suas práticas. Proteção do Patrimônio Cultural
na cidade de São Paulo. VII FÓRUM MESTRES E CONSELHEIROS, 2015. v. 1. p. 1-
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