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Direito de Família

Bibliografia:

Rolf Madaleno – Curso de Direito de Família

Carlos Roberto Gonçalves

Cristiano Chaves

Pablo Stolze e Pamplona

1ª Avaliação – 21/09/15

2ª Avaliação – 16/11/15

AULA- 10/08/15

1. Conceito – É um ramo do Direito Civil cujas normas, princípios e valores regulam as relações jurídicas
do casamento, da união estável, do concubinato e do parentesco.

CASAMENTO

O casamento é a união. Num conceito lato sensu, busca-se uma definição que abranja todas as categorias
de casamento. Nessa perspectiva, o casamento é definido como a união entre duas ou mais pessoas ,
reconhecida pelo Estado, que outorga aos cônjuges direitos e deveres inerentes ao casamento. O conceito
stricto sensu está relacionado ao panorama brasileiro hoje, designando uma relação entre duas pessoas,
reconhecida pelo Estado, que outorga aos cônjuges direitos e deveres inerentes à condição de casado.
O Brasil hoje, é o único pais do mundo que tem o casamento gay, sem que tenha havido uma prévia
aprovação legislativa. Isso porque, uma resolução do CNJ determinou que os juízes não podiam se recusar a
celebrar um casamento de pessoas do mesmo sexo, sob pena de serem punidos. Esse casamento possui um
embasamento meramente administrativo.

 Regras gerais
Art. 1511 do Código Civil- Estabelece a igualdade de direitos e deveres dos cônjuges, o que se materializa
na possibilidade de emancipação de um filho menor (que ocorre mediante manifestação dos dois
cônjuges), escolha de domicílio, etc.
Art. 1512 do Código Civil – Casamento civil – O casamento civil é aquele que terá um registro no Cartório de
Registro Civil das Pessoas Naturais. Pode acontecer de o casamento se realizar, sem que o registro seja
realizado. O fato de não haver registro não quer dizer que não tenha havido casamento. O Cartório de
Registro Civil das Pessoas Naturais realiza o registro do nascimento, casamento, e óbito. A união estável é
uma situação maleável, em que a separação não exige o divórcio. O TJ – SP disse que é possível o Registro
da União Estável, contudo, isso não impede o casamento com uma outra pessoa.
Art. 1513 do Código Civil- É defeso a intervenção de pessoa pública ou privada na comunhão do casamento.
Esse artigo cria uma obrigação de não fazer.
Art. 1514 do Código Civil – O casamento se realiza no momento em que o homem e mulher manifestam a
sua intenção e o juiz os declara casados.
 Capacidade para casar
Há uma tendência de confundir capacidade com maioridade e incapacidade com menoridade. O próprio
código chama de “capacidade para casar” e se utiliza dos critérios de maioridade e menoridade.
A regra é que os homens e mulheres acima de dezoito anos podem casar. Aqueles que possuem entre 16 e
18 anos precisam de autorização dos pais. O menor de idade, com 16 anos, que for emancipado não pode
casar, somente mediante autorização dos pais. Excepcionalmente, é admitido o casamento de menores de
16 anos para evitar a imposição de pena criminal (essa possibilidade foi revogada tacitamente pelo Código
Penal) e nos casos de gravidez. Para um menor de 16 anos casar diante da gravidez, é preciso ter a vontade
de casar, a manifestação da vontade dos pais (dos filhos menores de 16 anos), o pronunciamento do
Ministério Público (que não tem caráter decisório) e a decisão judicial. Na hipótese de os pais discordarem,
o juiz irá verificar no caso concreto qual o mais adequado, qual dos dois pais tem razão.

AULA – 17/08

 Impedimentos matrimoniais
a) Conceito
O Estado estabelece normas para dizer qual o tipo de família que quer, ou que não quer. Por isso, certas
situações nem sempre são legitimadas pelo Direito. Os impedimentos matrimoniais são proibições de
certos casamentos, impostas pelo Estado. São as circunstâncias de fato, ou de direito, previstas em lei, que
proíbem a realização de certos casamentos, e caso estes venham a ser realizados, determinam a sua
nulidade.
b) Hipóteses
Art. 1521:
I- Ascendentes e descendentes (civil ou natural) – Com a proibição do casamento entre ascendentes e
descendentes, a lei reflete um valor moral presente na sociedade. Contudo, não há nenhum tipo de
proibição legal para o incesto.
OBS! Via de regra, quando não é possível o casamento, também não é possível a união estável. No caso de
ascendentes e descendentes vivendo juntos, ocorreria um concubinato.
II- Afins na linha reta; A linha reta é o que une os ascendentes e descendentes. Os afins em linha reta
são sogro (a) genro/nora, madrasta/ padrasto, enteado (a). O parentesco aqui é para sempre. A proibição
aqui decorre de uma questão moral também.
III- O adotante/adotado não pode casar com o cônjuge do adotado/adotante;
IV- Os irmãos (bilaterais – parte de pai e mãe e unilaterais – só por parte de pai, ou de mãe) e demais
colaterais até o 3º grau, inclusive; Um parente colateral não é um ascendente e nem um descendente, mas
possui ascendentes comuns.
OBS- Irmão é parente colateral de segundo grau.
OBS – No Direito Civil, o parentesco colateral só vai até o quarto grau.
OBS- Existe um Decreto Lei de 3200/41, que trazia a possibilidade do casamento de colaterais de até
terceiro grau, desde que houvesse a apresentação de dois laudos médicos comprovando que os filhos não
teriam problemas genéticos. Há quem entenda que o Código Civil de 2002 revogou esse Decreto Lei.
Contudo, a maioria da doutrina entende que o Decreto Lei continua a viger, uma vez que não houve
qualquer revogação tácita ou expressa. Além disso, fala-se no art. 5º, da LINDB, já que o Decreto Lei é
voltado para a proteção da prole e bem comum. Sendo assim, para a maior parte da doutrina, seria possível
o casamento entre parentes colaterais de até terceiro grau. No que tange ao casamento entre parentes
colaterais de até terceiro grau entre pessoas do mesmo sexo, não há uma posição doutrinária sedimentada,
contudo, há uma tendência de inaplicabilidade do Decreto Lei, uma vez que o mesmo é voltado para a
proteção da prole comum, proveniente da relação entre um homem e uma mulher.
V - O adotado com o filho do adotante;
OBS! Antigamente, o parentesco se estabelecia entre o adotante o adotado. Após o ECA, ficou determinado
que o parentesco se estabelecia entre o adotado e todos os parentes do adotante. No caso de o adotado
casar com o tio, com base na aplicação do Decreto Lei, não haveria qualquer tipo de problema, uma vez que
não existiria a possibilidade de problemas biológicos com os eventuais filhos do casal.
VI – As pessoas casadas; Questiona-se se isso seria um principio da monogamia, ou se seria uma regra
simples, que pode sofrer eventuais modificações. Segundo a jurisprudência do STF, no Brasil vigora o
principio da monogamia, de maneira que é impossível atribuir simultaneamente, os mesmos direitos
decorrentes de um casamento, para uma união estável. Desse modo, para essa corrente jurisprudencial, se
A é casada com B, e C é amante de B há vinte anos, no caso de B morrer, C não teria direito ao recebimento
de qualquer tipo de pensão. Na hipótese de A e B serem separados de fato, haveria a possibilidade de C
receber a pensão. Então, dependeria de ter ocorrido ou não uma separação de fato.
**Ler Regina Beatriz Tavares
VII - O cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio do seu consorte. É
a ideia de punir o (a) amante que mata o esposo (a) para casar com o cônjuge sobrevivente;
OBS! Se o homicídio for culposo não há essa proibição.
c) Oposição de impedimento
Art. 1522 – Os impedimentos podem ser opostos por qualquer pessoa capaz (inclusive o menor de 16 anos
emancipado) até a celebração. Se o juiz ou o oficial de registro sabem de algum impedimento, são
obrigados a declarar. Após a celebração do casamento não é possível a oposição do impedimento, somente
através da propositura de uma ação declaratória de nulidade.

 Causas suspensivas
a) Conceito – A intervenção do Estado está ligada a uma questão patrimonial, onde as pessoas são
obrigadas a casar com separação de bens. De um modo geral, quando há a comunhão total ou parcial de
bens, há coisas que são de um, de outro, e comum dos dois. No regime de separação de bens, existem
bens que são só de um, e bens que são só de outro. Então, as causas suspensivas são as circunstancias de
fato e de direito, previstas em lei, que determinam a adoção obrigatória do regime de separação de bens,
em alguns casamentos, como forma de proteção patrimonial a terceiros.
Art. 1523
I- O viúvo só pode casar no regime de separação de bens depois que fizer a partilha dos bens, dando a
herança para os filhos. Enquanto não fizer isso, só pode se casar com separação absoluta de bens. O código
prevê a possibilidade de alteração dessa situação, depois que cessar a causa suspensiva (art. 1.639, §2º),
tornando-se possível assim, que o regime de bens passe de separação absoluta para comunhão
parcial/total. Isso não se aplica à união estável, o que pode prejudicar o patrimônio dos filhos do
casamento anterior.
OBS! Diante do desrespeito das regras do art. 1523, haverá a ineficácia do ato.
II- A viúva não deve se casar por dez meses após a viuvez, porque poderia estar grávida do seu antigo
marido e por conta disso, deveria preservar os direitos do nascituro. Se quiser casar antes disso, deve casar
com separação absoluta do bem. O art. 1597, II estabelece a presunção de paternidade para 300 dias após
a morte do cônjuge da viúva.
III – O divorciado (a) não pode casar enquanto não houver a homologação da partilha dos bens do casal.
O art. 1581 dispõe que é possível decretar o divorcio antes da partilha de bens. Então, o divorciado que
ainda não fez a partilha pode casar, mas com regime de separação absoluta de bens, para que não ocorra a
confusão patrimonial.
IV – A tutela só se aplica ao menor de 18 anos, que seja órfão. O tutor não deve casar com a tutelada, e se
for casar só pode com separação de bens. Se o tutor salda as contas, demonstra os gastos, havendo uma
aprovação pelo MP e pelo juiz, torna-se possível haver o casamento por comunhão parcial/ total.

As normas desse artigo são dirigidas para os promotores, juízes e oficiais de registro. Pode acontecer uma
exceção em relação a essas quatro hipóteses, que está no parágrafo único do art. 1523. Nesses casos, as
partes podem instaurar um processo, através de um advogado, para pleitear a inaplicabilidade do regime
de separação de bens, desde que se prove a ausência de prejuízo para as pessoas que estão protegidas
nesses incisos. No caso do II, a mulher para se casar com o regime de comunhão de bens, precisa atestar a
ausência de gravidez, ou se houver gravidez, deverá fazer a partilha para o seu filho.

b) Apresentação
- Art. 1524: Parente consanguíneo ou por afinidade em linha reta podem alegar. Os colaterais de 2º grau,
seja consanguíneo, seja por afinidade, também são legitimado. Os parentes em linha reta (por afinidade ou
consanguíneo) e os colaterais de 2º grau (consanguíneo ou afinidade). Há uma limitação maior quando se
compara com o impedimento.

AULA- 24/08

- Formalidades matrimoniais: casamento é um negócio jurídico com forma prescrita em lei. Assim, para o
casamento ser válido, é necessário seguir a forma prevista da lei. Essa forma se dá por esses
procedimentos de formalidades matrimoniais. Nesse caso, formalidades matrimoniais são os atos e
procedimentos previstos em lei que visam verificar a vontade das partes, a capacidade e demais
requisitos formais para a consecução de um matrimônio civil válido. Então, as formalidades existem para
verificar quem são as partes, se querem casar, se há impedimentos ou causas suspensivas. Em todo Brasil,
temos uma uniformidade para a formalidade matrimonial, ao contrário dos Estados Unidos, que em cada
Estado há a adoção de uma formalidade diferente.
 Etapas:
a) Habilitação: feito perante o Cartório de Registro Civil das pessoas naturais.
Art. 1525: o requerimento de habilitação será firmado por ambos os nubentes em pessoa ou procurador
especial, devendo ainda conter duas testemunhas, parentes ou não dos nubentes. A testemunha assina
afirmando que conhece o casal e que não há nenhum impedimento que obstaculize o casamento. Muitas
vezes, as testemunhas são pessoas que não conhecem o casal ou que não conhecem os impedimentos do
artigo 1521.
É necessário anexar alguns documentos:
Inciso I: certidão de nascimentos dos nubentes ou documento equivalente.
OBS! Não existe documento equivalente para certidão de nascimento no casamento. O RG não tem o nome
dos avós paternos e maternos, que estão presentes na certidão e o nome dos avós é importante para
analisar os impedimentos de casar com os avós ou com tios/tias.
OBS! A ausência de um registro de nascimento requer uma reconstrução documento, sendo essa
responsabilidade do juiz da comarca.
Inciso II: A certidão é importante também para verificar a idade dos nubentes. Isto é, ela é capaz de
eliminar diversos requisitos de validade. Além disso, será preciso a juntada da autorização de casamento
no caso de um dos nubentes ser menor de 16 anos (gravidez), ou ter entre 16 e 18 anos.
Inciso III: Precisa ainda, juntar a declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem
conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de casal.
Inciso IV: Outro documento essencial é a declaração de estado civil (solteiro, casado, viúvo, divorciado,
separado judicialmente), domicílio e residência dos contraentes de seus pais.
OBS! A união estável não altera o estado civil, já que não tem registro, então a pessoa continua solteira.
Ocorre que, em uma situação de venda de imóvel, isso pode acometer problemas. O comprador pode vir a
se prejudicar pela falta de anuência da outra parte na união estável.
Inciso V: Certidão de óbito do cônjuge falecido - se declara que é viúvo, é necessário apresentar a
certificação da viuvez. Assim como, é preciso comprovar que ocorreu um casamento nulo/ anulado, bem
como o registro da sentença de divórcio.
Artigo 1526: A habilitação será feita no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, perante o oficial do
registro civil com audiência do ministério público. Não é uma audiência no sentido processual, aqui o
promotor irá apenas verificar os documentos juntados para certificar que não há impedimentos ou
suspensões. O parágrafo único afirma que irá até o juiz nos casos em que houver impugnação.
Art. 1527: Estando todos os documentos em ordem, o oficial irá publicar o edital durante 15 dias. Neste
período, não pode haver casamento, mas em casos excepcionais, o juiz poderá dispensar a publicação.
Art. 1528: Ficção jurídica criada pelo código, porque parece que o oficial de registro vai explicar aos casais
sobre o regime de comunhão/separação de bens. O que ocorre é que diversas vezes o oficial de registro
não possui formação em direito e não conhecem o funcionamento do registro e assim, não tem como
explicar ao casal o que nem ele entende.
Art. 1529: Se alguém impugnar o casamento com alegação de impedimento ou causa suspensiva, deverá
fazer por meio de declaração escrita com a prova do fato, ou indicação do lugar que possam ser obtidas. O
juiz irá abrir um processo incidente para verificar isso.
Art. 1530: O oficial dará aos nubentes a nota da oposição (notificar), para que saibam da impugnação e
possam apresentar provas contrárias. Quem apresenta impedimento, pode responder civil e criminalmente
por má fé.
Art. 1531: Não tendo impedimento (e já respeitadas as formalidades do art. 1526 e 1527) o oficial irá
expedir o certificado de habilitação, que terá validade de 90 dias. Se não houver casamento dentro deste
tempo, será preciso reiniciar o processo de habilitação.

c) Celebração:
Art. 1533: O casamento será realizado no dia, hora e local indicado pela autoridade competente para
presidir o ato. Na Bahia, a autoridade que exerce essa função é o juiz de Direito, aqui, não existe juiz de Paz.
Será pedido ao juiz que se celebre o casamento em uma data.
Art. 1534: As portas abertas servem para que qualquer pessoa possa entrar e apresentar um impedimento
(se houver). Se não quiser que a celebração seja no cartório, pode solicitar que seja em outro prédio de
direito público ou particular. Igreja é particular. §1º: em uma interpretação teleológica, o casamento deve
estar aberto para quem tenha realmente um impedimento a ser declarado. §2º: Quatro testemunhas – se
for em prédio particular ou se um dos nubentes não puder/souber escrever.
Art. 1535: A celebração civil é o juiz ouvir dos noivos a vontade de casamento sem vícios (livre e
espontânea). Esse momento não pode ser banalizado. O artigo 1538 prevê uma hipótese de suspensão da
celebração, que não poderá mais ocorrer no mesmo dia. O nubente que fez uma das hipóteses previstas, só
poderá casar no dia seguinte. São elas: quando um dos nubentes recusar a solene afirmação da vontade -
dizendo expressamente não ou ficando em silêncio, quem cala não consente; declaração de que a sua
vontade não é livre e espontânea e quando há um arrependimento após dizer sim.

 Casamentos especiais: Há determinação de uma formalidade diferente desta vista acima. Esses
casamentos serão especiais porque eventualmente a habilitação ou celebração será diferente do
casamento regular. Casamentos especiais são aqueles previstos em lei que possuem especificidades quanto
à habilitação e/ou à celebração, sendo certo, entretanto, a sua característica de casamento civil dado o
necessário registro no competente cartório de registro civil das pessoas naturais.

- Casamento religioso com efeitos civis: Até 1890/91 havia no Brasil a obrigatoriedade de casamento
religioso, não existindo casamento civil. Mas isso se dava por determinação constitucional do catolicismo
ser a religião oficial no império. Com o advento da primeira constituição republicana, o Brasil tornou-se
um Estado laico. Mas até então, não existiam cartórios, o documento oficial era o registro de batismo.
Atualmente, qual a formalidade necessária para conversão do casamento religioso em casamento civil?
Art. 1515: O casamento religioso que atender às exigências de validade do casamento civil, equipara-se a
este desde que registrado no registro próprio. Ex: o segundo casamento (poligamia) de um muçulmano não
poderia ser registrado no Brasil.
Art. 1516: há duas possibilidades para acontecer este casamento. §1º: O registro desse casamento religioso
deve ser realizado no cartório de registro civil em até 90 dias após a sua realização, desde que tenha sido
previamente homologada a habilitação civil. Então, o primeiro passo é habilitação civil, depois vem a
celebração religioso e posteriormente o registro.
Obs.: casar só na igreja resulta em união estável. A igreja católica fez um acordo com o Estado Bahia em
que para se casar na igreja é exigida a habilitação civil.
§2º: Não teve prévia habilitação, já que se fala em casamento que aconteceu sem as devidas formalidades.
Neste caso, o primeiro passo foi a celebração religiosa, que aconteceu sem a habilitação civil. Então, a
habilitação civil será feita após a celebração e aí, fará o registro.
Nas duas situações, o registro irá retroagir os seus efeitos à data de celebração, porque possuem efeitos
declaratórios.
§3º: É nulo o registro civil do casamento religioso, se, antes dele, qualquer das partes houver contraído
com outrem casamento civil. Portanto, valerá o casamento que foi primeiro registrado.

Casamento por procuração: possuem contratos de mandato - Uma parte chamada mandante
(representado) outorga ao mandatário (representante) poderes para representa-lo num negocio jurídico.
Neste caso, serão os mandantes o noivo ou noiva e o mandatário aquele capaz de representação. Camilo
acredita que o casamento por procuração é desnecessário hoje diante das atualidades em comunicações.
Art. 1542: Quando o código fala por instrumento público, quer dizer procuração pública, que traduz-se
como escritura pública de procuração. A escritura pública é feita especificamente no tabelionato de
notas. §1º: revogação - É possível revogar a procuração e o procurador não possui mais poderes. Quem
revoga, não precisa avisar ao procurador, mas se o casamento é celebrado sem que mandatário ou o outro
contraente tivesse ciência da revogação, o mandante poderá responder por perdas e danos. §2º:
Casamento por procuração é uma exceção, casamento por eminente risco de vida é uma outra exceção, os
dois juntos é uma situação praticamente impossível. Quando ocorre, um dos noivos que está em eminente
risco de cidadão pode emitir uma procuração, o outro que está em situação normal pode emitir uma
procuração para casar com o que está em risco. §3º: a procuração só produz efeitos por 90 dias. §4º: a
revogação tem que se dá por instrumento público. Camilo acha que isso é uma estupidez, que essa
revogação poderia ser no próprio cartório de registro civil e poderia ser por instrumento particular.

Casamento diplomático (consular): neste caso, brasileiro/brasileira se casando com brasileiro/brasileira ou


com estrangeiro/estrangeira no exterior. O brasileiro no exterior pode se casar com outro brasileiro, pelas
leis brasileiras ou com as leis estrangeiras. Assim como pode ser casar com estrangeiro pela lei brasileira ou
local. Os consulados não tem feito os casamentos de brasileiro, embora seja um obrigação deles.
Art. 1544: O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autoridades, ou
cônsules brasileiros, deve ser registrado no Brasil em até 180 dias a contar da volta de um ou ambos os
cônjuges ao Brasil. Não sendo feito nos 180 dias, não é prevista nenhuma sanção. Se um brasileiro se casa
com uma pessoa no exterior, registra lá, mas não registra aqui. Ainda assim, caso venha a ter um segundo
casamento no Brasil, sem o divórcio do casamento anterior, este segundo casamento será nulo.

AULA – 12/09

Os casamentos especiais são especiais porque possuem alguma diferença, peculiaridade em relação à
celebração ou habilitação, que os diferencia do casamento comum.
Qualquer casamento é registrado no Registro Civil das Pessoas Naturais, o que diferencia é o caminho
percorrido para tanto.

-Casamento Nuncupativo/ “in extremis”/ “ articulo mortis” (Art.1540, 1541)


Parte da ideia de que um dos noivos está em iminente risco de vida. Nesse caso, vai ter o casamento
especial porque não dá tempo de fazer a habilitação e celebração pelo juiz e aí se faz apenas uma
declaração de vontade, com a presença apenas das testemunhas (6- que não tenham parentesco em
linha reta ou colateral, até segundo grau) e dos noivos, sendo que, posteriormente, isso será ratificado
num processo.

Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da
autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na
presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral,
até segundo grau.

Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade judicial mais
próxima, dentro em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de:

I - que foram convocadas por parte do enfermo;


II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo;
III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e
mulher.
§ 1o Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para verificar se
os contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem,
dentro em quinze dias.
§ 2o Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá a autoridade competente,
com recurso voluntário às partes.
§ 3o Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz
mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos.
§ 4o O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao estado dos cônjuges, à data da
celebração. -
§ 5o Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, se o enfermo convalescer e puder
ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial do registro.

§1º - O juiz ira verificar se os nubentes poderiam ter se habilitado na forma ordinária. Nessa fase, vai ouvir
os interessados, chama os filhos, por exemplo, o procurador do município (no caso da inexistência de
demais herdeiros), se tinha pensão do INSS, chama o advogado da União, etc.
§3º/ 4º - Do trânsito em julgado, manda-se registrar a decisão no Registro dos Casamentos, com a data da
celebração do casamento. O registro vai retroagir à data da celebração.
§5º – Se o enfermo convalescer e o processo não tiver acabado, será chamado pelo juiz para dizer se
confirma ou não o casamento.

O Código Civil se equivoca na escrita do art. 1541, já que quem vai à juízo não são as testemunhas, pois elas
não possuem interesse de agir. A parte interessada é quem irá propor uma ação de conhecimento de
casamento nuncupativo.
Além disso, o código civil apresenta uma segundo equivoco quando diz que após a realização do
casamento, as testemunhas devem comparecer perante a “autoridade judicial mais próxima”. Isso porque,
não basta se tratar de uma autoridade judicial mais próxima, a autoridade deve ser a autoridade
competente mais próxima.

OBS! No CC de 2002 o cônjuge passou a ser herdeiro necessário, ou seja, tem a proteção da legitima. Passou
a ter também a concorrência com os filhos do falecido. Por isso a existência desse interesse no casamento.
(Art. 1829 e 1845 do CC).

INEXISTÊNCIA DO CASAMENTO

- Histórico: A unificação política da Alemanha se deu na parte final do século XIX (1870). Teve um grande
político alemão que começou a “costurar” a unificação alemã. Um dos primeiros problemas que surgiu pós
– unificação foi um problema jurídico, já que existiam vários códigos civis, penais, etc. Havia a necessidade
de unificação das leis. Então, nesse processo de unificação política, também houve um processo de
unificação jurídica. Por conta disso, antes de se redigir o código civil alemão, pessoas foram até a França
estudar o Código Civil Francês (1804). Esse Código Civil Francês era a legislação mais moderna que havia na
Europa acerca do Direito Civil.
O código civil de Napoleão era um código da burguesia, que trouxe uma segurança jurídica para essa classe.
Antes, numa nação em que o Estado era dominado pelo rei, o próprio rei faz as leis e as aplica. Então, os
burgueses antes sofriam muito e esse código de Napoleão assegurou uma segurança jurídica para essa
classe.
Na parte de nulidade desse código, foi criada uma grande inovação – não há nulidade sem expressa
previsão legal. Ou seja, ninguém pode alegar que um dado contrato é nulo, a não ser que a causa para
tanto esteja expressamente prevista em lei.
Diante disso, um estudioso alemão, Zacharie Von Linghental achou uma boa ideia essa regulamentação, já
que a lei estipulou todas as causas de nulidade, estabelecidas em numerus clausus. No caso do casamento,
havendo uma hipótese de casamento proibido, isso seria nulo, porque a lei já teria estabelecido isso, não
dependeria, portanto, de uma decisão de um juiz. Por esse raciocínio, aquilo que não estaria proibido,
estaria permitido. Nesse sentido, esse estudioso pensou que, se o que não estaria proibido, estaria
permitido, o casamento entre pessoas do mesmo sexo seria permitido e portanto, válido. Por isso, se pensa
em duas saídas: 1) Ou coloca essa categoria como um casamento nulo (o que poderia acarretar em
problemas também, porque mesmo algumas coisas nulas produzem efeitos; 2) Ou cria uma categoria de
inexistência, mais grave do que a nulidade, sem gerar efeito nenhum.
Então, a inexistência nasce no Direito, de uma situação de não previsão do casamento de pessoas do
mesmo sexo, de uma necessidade conceitual, cultural, moral, de naquele momento, evitar que houvesse
o casamento de pessoas do mesmo sexo, tornando isso mais “grave” do que os casamentos dotados de
nulidade, já que estes sequer existiriam.
Nesse caso, fisicamente, duas pessoas do mesmo sexo se casariam, mas o casamento inexistiria
juridicamente. Então, a inexistência do casamento é uma inexistência jurídica e não se confunde com
nulidade porque não está previsto nas hipóteses de nulidade, mas é tão grave, ou até mais grave ainda do
que a própria nulidade.
Em matéria de casamento, não há nulidade sem texto legal. Na verdade, para toda matéria é preciso de
texto legal.
a) As hipóteses de inexistência do casamento são: 1) entre pessoas do mesmo sexo
(atualmente não existe mais essa hipótese); 2) casamento realizado sem a manifestação de vontade (se
alguém diz não, ou fica quieto, e o juiz declara o casamento, ele é inexistente); c) casamento sem
celebração (precisa ser celebrado por autoridade competente - juiz de paz ou juiz de direito).

OBS! Até três anos atrás, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, no Brasil, era inexistente. A partir de
2012, com a resolução do CNJ, o casamento de pessoas do mesmo sexo no Brasil passa a ser existente. Há
uma confusão em virtude disso, porque o CNJ não é Poder Legislativo, e não poder promulgar leis.
OBS! Se a vontade para o casamento for coagida, o casamento é anulável.
OBS! Se o juiz for relativamente competente para realizar o casamento, ele será anulável. Ex: Um juiz de
Lauro de Freitas celebrar um casamento ocorrido em Salvador, que deveria ser celebrado por juiz de
Salvador.
OBS! Se alguém falsifica o documento, altera a identidade e se casa, ocorreria um casamento inexistente.

NULIDADE DO CASAMENTO

Há duas hipóteses de nulidade do casamento – art. 1548.

a) Pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil –
Isso está relacionado com os arts. 3 e 4 da parte geral do Código Civil. Como o casamento tem efeitos
pessoais, patrimoniais e sucessórios, esse tipo de situação serve para proteger o incapaz.
Se um senhor já idoso, com Alzheimer, e sem ter sido interditado, se casar, esse casamento será poderá ser
decretado nulo. Os filhos, por exemplo, poderão, eventualmente, entrar com uma ação de nulidade de
casamento, comprovando que no ato da manifestação de vontade o incapaz não tinha o discernimento
necessário para tanto.
O Estatuto da pessoa com deficiência mental mudou algumas coisas, dentre as quais, esse art. 1548, I. O
casamento dos enfermos mentais, após a vacatio legis, não será mais nulo.

b) Por infringência de impedimento – Se não houver a observância dos impedimentos do art.


1521 o casamento será nulo. Essa hipótese de nulidade, portanto, se desdobra em sete.
OBS! Se um americano se casa com uma brasileira no Estado da Califórnia, sem registro no Brasil, e depois
essa brasileira se casa com um brasileiro aqui no Brasil (sem se divorciar), havia o dever legal de ela não se
casar enquanto não se divorciasse. O STJ entende que esse segundo casamento, realizado no Brasil é nulo.
Se a brasileira, durante esse casamento do Brasil, tiver se divorciado com o americano, ainda assim o
casamento será nulo, porque a nulidade não se convalida. Sempre a boa-fé deverá ser presumida. Se for
provada a má-fé do brasileiro, ele não terá direito, por exemplo, ao regime de bens.

Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do casamento, por qualquer
pessoa capaz.
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existência de algum impedimento,
será obrigado a declará-lo.

Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser
promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.

Qualquer pessoa capaz pode fazer a oposição de impedimento (Art. 1522) – é um procedimento
administrativo no momento da habilitação. O art. 1549 diz respeito a situação em que o casamento já
ocorreu. Para tanto, é preciso uma ação declaratória de nulidade, que poderá ser proposta por qualquer
interessado ou o MP (quando a pessoa não tem interesse jurídico, ela pode informar ao MP para que ele
aja).
OBS! O interesse jurídico se mede por necessidade ou utilidade. Esse art. 1559 é mais restrito, porque exige
o interesse. No caso da oposição do impedimento (art. 1522), basta que a pessoa seja capaz. Então, todo
interessado é uma pessoa capaz, mas nem toda pessoa capaz é um interessado.

AULA – 14/09/15

ANULAÇÃO DO CASAMENTO

As hipóteses de nulidade são mais graves do que as de anulabilidade. As hipóteses de nulidade podem ser
arguidas por vários interessados, inclusive o MP, e possui efeitos ex tunc. Há autores que dizem que a
anulação do casamento também gera efeitos retroativos. (O professor disse que numa questão de prova,
se o aluno for adotar o posicionamento de que é ex tunc ou ex nunc, deverá fundamentar com base em
algum autor).
Até 1977, no Brasil, não havia divórcio, havia o desquite. A diferença principal entre o desquite o divorcio é
que o desquitado não podia casar de novo, e o divorciado podia. É mais ou menos o que ocorre na Igreja
Católica, que não admite que uma pessoa já tivesse casado viesse a se casar de novo. Já que o desquite
impossibilitava o novo casamento, as pessoas costumavam viver em união estável (que naquela época era
chamada de concubinato). A única possibilidade de as pessoas desquitadas poderem se casar novamente
era através da anulação do casamento. Havia uma semelhança muito grande entre a anulação do
casamento civil e do casamento religioso.
Na sociedade, as pessoas usavam a anulação do casamento civil como uma forma de burlar a inexistência
de divorcio. Já que não podia haver o divorcio, anulava-se o casamento, para se tornar solteiro e ser
possível casar novamente.
Existem três estados civis que permitem o casamento – solteiro, viúvo e divorciado. Então, com a anulação
as pessoas voltavam a ser solteiras, e ainda, podiam usar a anulação civil como um fundamento de prova
para obtenção da anulação do casamento religioso.
Atualmente, é possível realizar o divorcio ou a anulação do casamento. Mas a anulação expõe mais a
intimidade das partes.

Art. 1.550. É anulável o casamento: (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

I - de quem não completou a idade mínima para casar;


II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e
não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI - por incompetência da autoridade celebrante.

Art. 1.551. Não se anulará, por motivo de idade, o casamento de que resultou gravidez.

Art. 1550:

I - Quem não tem dezoito anos possui casamento anulável.

II - Quando se diz que é anulável o casamento do menor em idade núbil, se refere ao que tem entre (16-18
anos). Nesse caso o artigo se refere apenas a essa etapa de idade – 16 e 18.
Quando se fala que é anulável o casamento dos que não completaram idade mínima para casar, existem
três situações: os que tem menos de dezoito anos, os que possuem entre 16- 18 anos e o menor de 16
anos nos casos de gravidez.
O art. 1551 diz que não se anulará o casamento de quem não completou a idade mínima, em razão de
gravidez.
Bastava que o artigo falasse que é anulável o casamento de quem não completou a idade mínima para
casar e que não se anulará casamento em função da gravidez.
O artigo faz uma confusão. E se tiver o casamento de uma criança de quinze anos que se casou sem estar
grávida? Com base na lei, esse casamento poderia ser anulável. Mas o casamento de uma criança que se
casou com 15 anos sem estar grávida, revela um erro muito grave na habilitação.
Então quando se fala em anulação em razão da idade, a primeira hipótese é a de anulável o casamento de
pessoa que não completou a idade mínima para casar. A idade mínima para casar é de 18 anos. Entre 16 e
18 anos é preciso de autorização para casar, se não tiver autorização o casamento é anulável. E quando
pega o casamento de uma pessoa menos de 16 anos, se ela tiver grávida, o casamento não poderá ser
anulável. Se ela não tiver grávida, ai sim o casamento poderá ser anulado, mas para isso acontecer, deve
ter ocorrido vários erros no processo de habilitação.

III- Na parte geral, os vícios da vontade ou do consentimento são cinco: erro, dolo, coação, lesão e estado
de perigo. Os vícios sociais são a fraude contra credores e a simulação (culmina em nulidade). Uma vez que
apareçam em um negocio jurídico, podem levar à anulação desse contrato. No caso do casamento, só são
visíveis dois vícios de consentimento – o erro e a coação. Mesmo que o dolo exista na relação de um casal,
o dolo não aparece de forma independente, sendo englobado ao conceito de erro.

*****************(Dentro do art. 1550, III, estão inclusos o art. 1556 ao 1558)**********************


Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao
consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro.

O art. 1556 do Código Civil trata do erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge. Os noivos devem ser
honestos a ponto de revelar algo que eventualmente venha a influenciar na vontade de casar. O problema
é a pessoa que está casando ter as informações essenciais quanto ao outro, não importando aqui a
existência do dolo.
OBS! Se, por exemplo, o homem do casal não pode ter filhos, ainda que nem ele saiba disso, a mulher pode
anular o casamento.

As normas restritivas de direito não podem ser aplicadas por analogia. Seguindo esse raciocínio, o art. 1557
do CC seria numerus clausus. Contudo, esse artigo foi redigido de forma tão aberta, que acaba por ser
considerado como numerus apertus.

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:

I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento
ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;

O erro é um fato anterior ao casamento que um dos cônjuges não sabia, descobre depois, e torna
insuportável à vida comum. O “insuportável” tem uma noção absoluta.
O adultério também se inclui nesse inciso.

II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal;

O que interessa para anulação é o crime, não a condenação em si. Alguns autores, pela expressão “sua
natureza”, dizem que o crime que facultaria a possibilidade de anulação do casamento seriam os crimes
sexuais. O professor discorda disso.

III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível,
pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; (Vide Lei
nº 13.146, de 2015) (Vigência)

O “defeito físico irremediável” no Direito Canônico, pode se exemplificar pela esterelidade. Na sociedade
civil, atualmente, isso não é algo que possui uma relevância tão grande. A segunda parte do artigo se
refere a existência de uma moléstia grave e transmissível não sabida pela outra parte.

IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável
a vida em comum ao cônjuge enganado. (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

Ex: Esquizofrenia, alcoolismo, vicio de jogo.

Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os


cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde
e a honra, sua ou de seus familiares.

A coação é a ameaça que se faz a uma pessoa para que ela faça um negocio jurídico.
Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode demandar a anulação do
casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos incisos III
e IV do art. 1.557.

Há dois sentidos aqui para a palavra “coabitação”. O primeiro é morar junto, mas isso por si só, não faz
sentido para o artigo. O segundo é o de manutenção das relações sexuais. Então, se alguém está
coabitando com outro, está mantendo relações sexuais, e isso afasta a possibilidade de pedir a anulação
por erro ou coação.

*** *** *** **** ***** ****

IV - O incapaz de consentir pode ser aquele incapaz de maneira absoluta, como um doente mental. Mas
pode ser um incapaz de consentir momentaneamente. Ex: O rapaz está bêbado, incapaz de manifestar de
modo claro o seu consentimento – nesse caso, pode ter o seu casamento anulado.
V- O mandatário é o procurador. Se o mandante revoga a procuração e não avisa ao mandatário, esse
casamento pode ser anulado porque o mandatário já não tinha mais poderes (desde que não sobreviesse
coabitação entre os cônjuges).
VI- Essa incompetência é relativa. Ex: Juiz de uma comarca celebrar um casamento em uma outra
comarca. A incompetência absoluta é causa de inexistência. Ex: Juiz do Trabalho celebrar um casamento.

Os prazos para a propositura da ação de anulação estão previstos no art. 1560 do CC.

OBS! No caso de uma mulher se casar no exterior, e depois voltar para o Brasil e se casar com um brasileiro,
o STJ entende que a mulher, ao se casar, agiu de má-fé, omitindo uma informação essencial, já que ainda
era casada. Neste caso, o casamento será nulo. Se o homem sabia que a mulher era casada, também estará
de má-fé e por isso, não terá direito, por exemplo, ao regime de bens. Se não sabia, estará de boa-fé.

 Casamento putativo (Art. 1561 do Código Civil)

A ideia de putatividade no Direito aparece como uma defesa da boa-fé. Nasce do latim “putare” – imaginar,
pensar, fantasiar. Aplicando isso ao casamento, o casamento putativo é aquele em que as partes pensam
que o casamento é válido. Ex: Dois irmãos que se casam e não sabiam que eram irmãos.
O casamento putativo é um casamento nulo/anulável, mas enquanto está de boa fé, produz todos os seus
efeitos. Quem está de boa-fé, quem não sabe do vicio, do defeito, do impedimento, está de boa- fé, e tem
os efeitos do casamento, como os efeitos patrimoniais e o efeito patrimonial principal é a existência de um
regime de bens. Se esse regime de bens for um regime de comunhão, parcial ou não, mesmo o casamento
sendo nulo, enquanto havia a boa-fé, há os bens comuns divididos pela metade. Se as partes não estão de
boa-fé, não teriam direito à divisão de bens comuns. Se compraram, por exemplo, uma casa juntos, não
havendo a divisão dos bens comuns, deve ser analisada a percentagem que cada um pagou, como se fosse
uma sociedade de fato. Essa é a diferença de uma sociedade de fato para um regime de comunhão parcial.
Se o casamento não for valido e não produzir efeitos, se houver a compra de uma casa, essa casa vai ser
divida como se fosse uma sociedade de fato. Se o casamento é nulo, mas teve boa-fé, apesar de um ter
dado 80% para a compra da casa, e outro ter dado 20%, ambos sairiam com 50%. Essa é a diferença de
uma sociedade de fato para um regime de comunhão parcial.
Pode ser que um cônjuge esteja de boa-fé, e outro não. Ex: Se A é casada com B, e depois, sem se divorciar,
se casa com C, esse segundo casamento é nulo. Se C estava de boa-fé, e não sabia que A era casado, para C,
haverá o regime da comunhão. Nesse caso, se A compra uma casa, na constância dos dois casamentos,
metade de casa é de B, e a outra metade é de C (porque estava de boa-fé). A perde por ter cometido um
ilícito civil.
A boa-fé se presume. Para C não ter direito, deveria haver uma prova de que C estava de má-fé.
Se os dois cônjuges tiverem de boa-fé, o casamento vai produzir seus efeitos até a data da sentença
condenatória. A produção de efeitos não acaba quando se descobre a má-fé, e sim quando é proferida a
sentença.
OBS! Se ambos os cônjuges estavam de má fé, só os filhos terão direito aos efeitos do casamento.

§1º - O cônjuge que estava de boa-fé possui a proteção da lei.

Art. 1.563. A sentença que decretar a nulidade do casamento retroagirá à data da sua celebração, sem
prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem a resultante de sentença
transitada em julgado.

A sentença que decretar a nulidade irá retroagir, produzindo efeitos ex tunc. Mas o artigo não fala da
sentença que decretar a anulabilidade. Parte da doutrina , como Carlos Roberto Gonçalves, Cristiano
Chaves, diz que a sentença que decretar a anulabilidade também produzirá efeitos ex tunc. Outra parte da
doutrina, diz que produzirá efeitos ex nunc.
A condição de voltar a ser solteiro é um argumento que diria que a anulabilidade produz efeitos ex tunc,
mesmo que normalmente a anulabilidade não produza esses efeitos. Por outro lado, a divisão dos bens, em
caso de anulação se dá até a data da anulação. Ou seja, no caso da anulação, o regime de bens produz
efeitos até a sentença, então produziria efeitos ex nunc. Se eu faço um divorcio, e fiz um divorcio depois
que completou dois anos e dez dias de casado. Se nesse período eu comprei uma casa, a casa será divida.
Se produzisse efeitos retroativos, a casa não seria divida, ficaria com quem efetivamente pagou, ou na
proporção de quanto pagou.
(NA PROVA, O PROFESSOR QUER QUE COLOQUE O AUTOR QUE PENSA EX TUNC, OU O QUE PENSA QUE É
EX NUNC E PORQUE).

TEXTO DE CONCEITO E NATUREZA JURIDICA DO CASAMENTO – COLANI


- Ler algo sobre o Vaticano

SEGUNDA UNIDADE

AULA- 28/09/15

1. Efeitos do casamento
a) Conceito: Os efeitos do casamento atingem os cônjuges e muito comumente, terceiros. Por isso,
parte da doutrina acaba dizendo que como o casamento produz efeitos em relação a terceiros ele não é
propriamente o contrato, porque o contrato possui um princípio que é da relatividade dos efeitos, ou seja,
o contrato faz efeitos entre as partes e não em relação a terceiros. Aí seria um argumento para dizer que o
casamento estaria mais para uma instituição do que propriamente para contrato, ou pelo, para aquela
teoria Mista que versa sobre contrato e instituição. O fato é que a gente começa dizendo que os efeitos do
casamento são as consequências. A palavra efeitos deve ser interpretada com esse viés de consequência, e
portanto, a gente pode dizer que os efeitos do casamento são as consequências do mesmo, e são as
consequências derivadas de um matrimônio válido incidindo sobre os cônjuges e eventualmente terceiros
nos âmbitos social, pessoal ou patrimonial.
b) Tipos
b.1) Sociais: a primeira ideia dos efeitos sociais é aquele âmbito que pode atingir os cônjuges e terceiros.
Quais terceiros são atingidos por um casamento? A gente pode colocar exemplificativamente, mas não tem
nenhum artigo que verse sobre isso, que sistematize isso. A gente pode colocar o Estado como terceiro
atingido pelo casamento, no aspecto tributário, por exemplo: se eu sou casado a minha declaração de
imposto de renda de pessoa física deve sofrer uma adequação para constar dados do meu cônjuge a fim de
que a receita use essas informações para a verificação de bens, de renda, de recolhimento tributário de um
modo geral. Se eu sou casado, o Estado vai ter que, obrigatoriamente, trabalhar com esses elementos
derivados do casamento, como os bens, patrimônio de um, patrimônio do outro, recolhimento tributário
de um, recolhimento tributário do outro. E também vai ter a perspectiva de conferir isenções em benefício
do casamento, como por exemplo, eu ter a minha esposa como minha dependente tributária e aí em
função dessa dependência tributária eu vou ter benefícios lá previstos.
Estado: o Estado é atingido com o casamento no que diz respeito ao âmbito tributário. (D.I.R.P.F.).
b.1.2) Efeito previdenciário: pensões e benefícios decorrentes do casamento. Por exemplo: se eu faleço e
sou contribuinte do INSS, e sou casado, a minha esposa faz jus a pensões em função da minha morte. E
curiosamente acontece o contrário, no caso de mulheres solteiras que recebem pensões do pai, se essas
mulheres se casam civilmente perdem as pensões dos pais, do pai principalmente, e há no Brasil uma
grande discussão social sobre esse tema, a respeito das mulheres que não são casadas e vivem em união
estável para não perderem o benefício, e, portanto, burlando essa limitação.
b.1.3) Direito administrativo: O que tem o direito administrativo como consequência para o casamentos?
Várias! Por exemplo: se eu sou funcionário público casado com uma funcionária pública, digamos que eu
sou juiz e minha esposa juíza. O Estado tem a obrigação de nos alocar para comarcas próximas no início de
carreira e depois na mais próxima possível quando há a promoção. Essa regra é para proteger a família,
porque a família é base da sociedade e tem especial proteção do Estado. Quanto a isso uma curiosidade no
âmbito dos concursos públicos, é se dois candidatos ficarem empatados, um critério de desempate é ser
casado ou se os dois candidatos empatados forem casados o critério de desempate é ter o maior número
de filhos.
b.1.4) Efeito processual civil e processual penal: civilmente falando, dentro de um processo existem ações
que se as partes forem casadas eu altero a condição de autor ou de réu através de litisconsórcios
necessários e unitários, por exemplo: em ações que envolvam direitos reais imobiliários, ações de
usucapião (um dos exemplos), eu tenho a formação, pelo Código Civil de litisconsórcio necessário e
unitário. Então, o casamento altera a formação do processo. Da mesma forma que no direito processual
penal eu tenho elementos que vão ser alterados pelo casamento: direito a visita, cumprimento da pena,
determinados indultos, determinada prerrogativas de saídas em feriados, e até mesmo de regime aberto e
semiaberto são alterados pela condição de casado.
b.1.5) Efeitos no direito eleitoral: no direito eleitoral nós temos questões de inelegibilidade, o cônjuge não
pode substituir em um mandado na esfera executiva, por exemplo: se eu sou prefeito, e acabo o mandado,
minha esposa não pode ser candidata no mandado seguinte. E isso é interessante porque acaba evitando o
prolongamento dos meus poderes como minha esposa como testa de ferro.
b.1.6) Efeitos no parentesco por afinidade: no exemplo que envolve os efeitos do casamento em relação a
terceiros é o parentesco por afinidade. Mesmo que eu não queira eu vou ter sogra, não há como a gente
excluir esses parentescos por afinidade, porque são efeitos do casamento e são efeitos inerentes.
b.1.7) Efeitos no contrato de fiança: se eu sou casado e sou fiador, a minha esposa, necessariamente, deve
ser parte nesse contrato de fiança sob pena de nulidade desse contrato.
b.1.8) Efeitos no contrato de compra e venda de imóveis: da mesma forma eu vou ter efeitos na compra e
venda de imóveis. Se eu sou casado e estou vendendo um imóvel, a minha esposa precisa anuir/ concordar.
Curiosamente aqui tem uma diferença entre casamento e união estável, se eu estou comprando um imóvel
de uma pessoa que vive em união estável, ela vai se declarar o que quanto ao estado civil? Solteira e se ela
é solteira eu não preciso ter a anuência e isso gera um insegurança, porque se ele se declara solteiro
porque está em uma união estável, pode ser que ao terminar essa relação o bem que eu comprei possa
fazer parte dos direitos da companheira dele, porque na união estável também há comunhão de bens.
Como eu faço? Eu peço para ele acrescentar uma cláusula que o bem é dele e que ele não vive em união
estável. E se ele mentir? Ele comete um ilícito civil e um ilícito penal e as responsabilidades para ele
aumentam. A incidência de união estável na Bahia é muito grande, aproximadamente 50% dos casais vivem
em união estável.
**Os efeitos sociais eles derivam do fato de envolver terceiros, inclusive o Estado, e seria razoável
argumento de considerar o casamento não uma condição de contrato, mas sim uma condição
institucional justamente porque atinge terceiros independentemente das vontades das partes/dos
cônjuges.

b.2) Efeitos Pessoais


Os dois artigos mais importantes dizem respeito a questão do nome, que é o artigo 1565, §1º e a questão
dos deveres entre os cônjuges. Na questão dos nomes a gente encontra o seguinte: artigo 1565, §1º -
qualquer dos nubentes (se eu falo de nubentes, estou falando de pessoas que são noivas ainda), querendo
(trata-se de uma de uma faculdade, não é obrigatório), pode acrescer o sobrenome do outro. E várias
coisas decorrem dessa situação, como por exemplo: quando fala-se em nubentes, está se colocando
mulher e homem no mesmo patamar, porque anteriormente só a mulher tinha o nome modificado,
porque a mulher era vista como propriedade do marido e o nome era uma espécie de marca, como quando
adquirimos um animal; isso era um sinal de submissão social feminina e ainda disfarçada pela ideia de
proteção social. Mas isso é algo anacrônico hoje em dia (algo fora do tempo/algo démodé), a mudança do
sobrenome no casamento é algo que traz transtorno, porque quando se divorcia, geralmente retorna para
o nome de solteiro e ai? É como se a pessoa não tivesse existido no período em que esteve casada, está se
modificando um ato jurídico perfeito.
Depois da questão do nome, a gente tem a questão dos deveres matrimoniais e aqui a gente tem a ideia
bem próxima a separação litigiosa, esses deveres existem sistematicamente no CC/73 conectados ao artigo
1572, que fala se separação litigiosa ou também chamada de separação por culpa. Isso quer dizer o
seguinte: se houver infringência/descumprimento de um dever conjugal a consequência seria o outro, que
foi vítima desse descumprimento, ter o direito de pedir essa separação litigiosa prevista no artigo 1572. E
há duas polêmicas neste caso:
a) A primeira polêmica é: existe separação no Brasil após a EC66/10? O que aconteceu no Brasil em
2010? Adveio a Emenda Constitucional 66 de autoria de Sérgio Carneiro, daqui da Bahia, ele apresenta a
EC66/10 que muda do artigo o artigo 226, §6º da CF/88. O casamento civil PODE ser dissolvido pelo
divórcio, a EC66 diz isso, e isso quer dizer que se eu quero me divorciar, não preciso me separar primeiro.
Antigamente eu precisava me separar primeiro, depois de um ano de separação é que eu poderia me
divorciar. A EC66/10 diz que se pode divorciar a qualquer tempo.
A dúvida é se essa EC extinguiu as separações no Brasil. Há duas posições. Uma delas é de autores famosos
e renomados, que dizem que após a Emenda Constitucional não há mais separação no Brasil, quer dizer
que ninguém tem o direito de pedir o processo de separação, uma separação é algo impossível
juridicamente falando. Entretanto, por outro lado há alguns outros doutrinadores que dizem que ainda
há separação, que ela não extingue a separação, que ela é uma faculdade entre as partes, porque pelo
texto da EC diz que o casamento “pode” e não “deve”. Então, seria uma faculdade do casal. O STJ e o CJF
(Conselho da Justiça Federal) compartilham desse entendimento.
A diferença é que a separação impede que o cônjuge se case com outro o que não ocorre no caso do
divórcio. O STJ e CJF entendem que ninguém é obrigado a se divorciar.
A Bahia entende que não há mais separação por conta das influências que os doutrinadores Cristiano
Chaves, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona têm no estado, mas em âmbito nacional não houve revogação
da separação.

ATENÇÃO!!!!! Tanto é que se você entrar com uma ação de separação no TJ/BA, o magistrado vai dizer
que se extingue o processo sem julgamento do mérito. Não tem condição de ação. Nós temos esse
problema da Bahia, porque em âmbito nacional a separação não deixou de existir por conta da EC66/10,
porque o Brasil, majoritariamente, não entende isso e o Novo CPC traz um capítulo sobre os
procedimentos da separação. E Cristiano Chaves, publicou um artigo muito polêmico, dizendo que o
Novo CPC ao trazer um capítulo sobre os procedimentos da separação estava fazendo uma repristinação
de uma norma revogada. Só que ele esqueceu de dizer que não houve revogação expressa da separação
em lugar algum.

b) A segunda polêmica é: parte da doutrina diz que não existe mais discussão de culpa nas ações de
separação. Aqueles que defendem que não se discute culpa entendem que quando um casamento chega
ao fim, ambos os cônjuges têm culpa. Outra parcela entende que essa culpa estaria ligada a não
observância de um dever (traição). A CF diz que a lei não excluirá da apreciação do judiciário um dano ou
ameaça de dano. Para haver indenização deve analisar se houve ilícito, então se não considero a traição
como ato ilícito teremos um problema.
Quem pensa que não existe mais separação pensa que não existe mais a discussão de culpa. Logo,
majoritariamente se entende que há a discussão de culpa.

**Para haver indenização eu tenho que averiguar se há ilícito ou não no dano.


** A traição é uma obrigação de não fazer no casamento.

Além disso, as discussões da quebra dos deveres tem vinculação com reparação de danos que está lá no
artigo 186 c/c 927 do CC.
Qualquer cônjuge tem o direito de terminar o casamento, isso é um direito, mas tal direito pode gerar um
abuso de direito (artigo 187 do CC). Por exemplo: eu quero me separar de alguém, mas não o faço e
exponho meu cônjuge ao ridículo, como saindo com outro para lugares públicos, tirando fotos e demais
forma de exposição da minha traição.

OS DEVERES QUE ESTÃO NO ARTIGO 1566 DO CC


Uma vez inadimplidos, esses deveres gerariam o direito à separação litigiosa. Esta seria baseada na culpa,
no contexto de um ato ilícito, ou seja, que contraria um certo direito e causa dano a outrem.
Parte significativa da doutrina tende a entender que esses deveres são espécies de normas
programáticas, ou seja, sem sanção.
Maria Berenice Dias, Rodrigo da Cunha Pereira, Cristiano Chaves, Pablo e Rodolfo defendem que, por
serem normas programáticas, o descumprimento não gera a quebra de uma obrigação civil, seria moral e
não levaria, por exemplo, à separação litigiosa, porque a culpa pelo fim do casamento é sempre de
ambas as partes. De outro lado, fala-se que a culpa não é só pelo fim do casamento, mas sim pelo não
cumprimento de deveres.
A infidelidade é um ato voluntário, causa dano à outra pessoa, ou seja, é um ato ilícito. Isso cai no art. 187
e 927.
Se eu digo que a quebra da fidelidade não envolve a noção de culpa, estou impedindo, por via de
consequência, que haja a reparação do dano moral. Quem traz o elemento culpa o faz em função de
existência de um dever que não pode ficar sem ser reparado.
Nos tribunais, tem prevalecido a doutrina que estabelece que os deveres matrimoniais devem ser
entendidos como causadores da separação litigiosa por culpa.
Quem entende que esses deveres são normas programáticas, diz que não tem como cumular pedido de
divorcio com indenização por danos morais. Para o professor, a quebra de uma norma dessas é de fato um
ato ilícito e por conta disso, seria possível cumular na separação ou divorcio o pedido de indenização.

I) Fidelidade recíproca: A fidelidade é uma obrigação de não fazer. Ainda que não precisasse da palavra
recíproca, alguns autores diziam que a traição da mulher seria mais grave do que a do homem, e a
reciprocidade foi para acabar com essa ideia. Mas temos algum problema quanto a isso. Bem, o primeiro
conceito que a gente trabalha é o da fidelidade, a lei não diz explicitamente o que é fiel ou infiel, mas
sabemos que fidelidade é antagônica a adultério, e adultério era um ilícito penal e portanto, crime. E
crimes são condutas interpretadas restritivamente. O que era o crime de adultério até 2005 era quem tinha
conjunção carnal com outro, mas se eu fosse para o cinema e beijasse o outro por horas isso não seria
considerado adultério. A infidelidade é o gênero e o adultério é a espécie, para haver adultério tinha que
acontecer a cópula peniana e vaginal. Então, se você beijasse durante uma tarde inteira seu amante ou sua
amante não seria adultério, mas seria infidelidade. Então, você pode concluir que todo adultero é infiel,
mas nem todo infiel era adultero. Tinha interpretação de que sexo oral não era adultério, o que é loucura. E
houve uma discussão sobre o sexo virtual, houve o entendimento que era infidelidade e não adultério. E
ser fiel é ter o monopólio das relações sexuais, Colani sugere trocar as relações sexuais por relações íntimas
com a intenção de satisfazer interesse sexual, porque tudo mudou, as relações virtuais evoluíram muito e
eu não posso dizer que uma relação virtual não seja nada, vai caracterizar de alguma forma uma ofensa
para a outra parte. A relação conjugal é personalíssima e ninguém pode meter a colher e o conceito de
fidelidade vai cada vez mais para esse ambiente de pessoalidade.
A infidelidade objetiva ocorre pela prática de um fato em si, como beijar, manter relações sexuais com
outrem, etc. Já a infidelidade subjetiva ocorre quando há uma violação de um fato que é imposto como
regra pelo casal, é a consciência da clandestinidade.
I) Vida em comum no domicílio conjugal: Isso já foi chamado de “coabitação”, no sentido de morar
junto (diferente de ter relações sexuais). O problema da similaridade tem a ver com a conotação de
relações sexuais, porque coabitação tem conotação de ter relações sexuais, a conotação de morar junto
tem a ver com a vida em comum no domicilio conjugal, só que conotação de relações sexuais um problema:
se eu tenho um dever de relações sexuais eu estou falando do famoso débito conjugal que em latim é
“debitum conjugale”. Esse débito conjugal significava dizer que toda pessoa casada tinha o dever de ter
relações sexuais com o cônjuge e se eu coloco isso como dever eu posso estar atingindo a dignidade da
pessoa humana, isso trazia absurdos como o marido que bate na mulher para que ela tenha relações
sexuais e ele não era responsabilizado por isso porque estava no exercício regular de um direito.
A “vida em comum” abarcava tanto morar junto, quanto o debitum conjugale. Tanto que na década de
70 o marido não podia ser agente de estupro contra a própria esposa, porque estaria no exercício regular
de um direito. Hoje não existe mais isso. Portanto, foi retirada essa ideia de coabitação como sinônimo
para que não houvesse dúvidas de que o dever da vida em comum no domicílio conjugal.
Hoje não existe mais a ideia do debitum conjugale. Não é obrigação de dar, fazer ou não fazer, não é algo
exigível juridicamente. Não é um pedido passível de tutela jurídica.
**Agora essa obrigação de morar junto é muito relativizada, ela obriga e temos dois conceitos que são os
conceitos de normas dispositivas e cogente: uma norma dispositiva é aquela que as partes podem dispor a
sua extensão e alcance de acordo com as suas necessidades particulares. E uma norma cogente é aquela
que as partes não têm disponibilidade. Essa norma é dispositiva ou cogente? Eu casada sou obrigada a
morar na mesma casa que o meu marido? O Estado não obriga, essa é uma norma dispositiva. E a própria
infidelidade é uma norma dispositiva. Mas ambos têm que concordar, não pode ser algo unilateral.
II) Mútua assistência: (MATERIAL/IMATERIAL): Historicamente esse dever era um dever material, e
queria dizer que os cônjuges entre si, deveriam materialmente ajudar a si. Materialmente deveriam assistir-
se e depois houve a mudança de material para material e imaterial. Na quebra do dever da mútua
assistência o TJ/RJ (jurisprudência) entendeu que a mútua assistência não consiste apenas em dar ou não
dinheiro (material), a comunicação dentro do casamento é fundamental (imaterial). A recusa à DR passou
ser também uma quebra do dever da mutua assistência. E enquanto existe casamento não há deveres
alimentícios, isso é atécnico, os deveres alimentícios entre marido e mulher não são na constância do
casamento e sim com o seu fim. A pensão alimentícia é só com o fim do casamento.
III) Sustento, guarda e educação dos filhos: Aqui acontece uma coisa curiosa. Eu sou pai de Helena e
Gabriel e eu tenho o dever de sustentar, guardar e educá-las não porque sou casado com a mãe deles, mas
porque sou o pai deles. E então, não seria um dever típico dos deveres matrimoniais, ele é próprio das
obrigações decorrentes da maternidade ou paternidade, mas o que o legislador está fazendo aqui? Ele está
se valendo de uma redundância legislativa, porque é um dever do antigo pátrio poder, do poder familiar,
atualmente falando. Então, o dever se sustento, guarda e educação dos filhos; decorre filiação, mas está
aqui para dar uma dupla proteção, é uma redundância proposital. Para permitir que em caso de quebra
de tal dever, além dos filhos pode derem exigir os seus direitos próprios o outro cônjuge, possa
eventualmente ajuizar uma separação ou divórcio. Mas essa redundância tem o propósito de proteger um
direito, é uma redundância proposital. Mas meio incoerente, porque nem todos os casais têm filhos. Mas
está aí para reforçar a ideia de obrigação e esse dever vai aparecer na união estável da mesma forma.
IV) Respeito e consideração: O que é o dever de respeito? E consideração? Esse dever é muito maluco
por que eu devo respeitar e considerar a minha esposa por que está na lei? Ou por que esse dever decorre
da boa convivência? O artigo 422 do CC diz que as partes na formação e na execução dos contratos têm
que guardar os princípios da boa-fé e da probidade. Probidade é honestidade. O Brasil é um dos poucos
países do mundo que impõe à sua sociedade a honestidade. E se a lei impõe respeito e consideração no
casamento é porque a ausência do cumprimento desse dever é comum no país.

b.3) Efeitos Patrimoniais


Nos efeitos patrimoniais a gente tem o conceito de regime de bens, vamos ter os tipos de regime e
vamos ter aquilo que a gente chama de regras gerais de regime de bens.

1. Regime de bens
Conceito: A melhor definição de regime de bens é do professor Orlando Gomes, para quem o regime de
bens é o estatuto patrimonial das pessoas casadas. O que é estatuto? É uma regra que incide sobre as
pessoas que fazem parte daquela relação jurídica. Então, quando eu me caso eu estou aderindo a um tipo
de regra//contrato, cujas cláusulas eu não assino propriamente, mas estão na lei. Na época em que
Orlando Gomes falou isso ele não tinha ideia de regime de bens na união estável e portanto, com uma
releitura para a atualidade seria o melhor conceito: “é estatuto patrimonial das pessoas casadas ou das
pessoas que estão em união estável”. Chegamos à conclusão que não há nenhum casamento e nem união
estável sem regime de bens.

**Meu pai morreu, meu marido tem direito a metade da herança? Depende do regime de bens do
casamento e isso consta na certidão de casamento. Se for na comunhão parcial não tem direito, mas se
for na comunhão universal o marido tem direito, porque a herança não se comunica e a herança se
comunica, respectivamente.

2. Tipos de regimes de bens:


I) Regime da comunhão parcial (regime base)
II) Regime da comunhão universal
III) Regime da participação final nos aqüestos: Aqüestos são bens adquiridos onerosamente na
constância do casamento.
IV) Regime da separação de bens: Esse regime não vem com a diferenciação total ou parcial, porque
não existe separação parcial e sim total. A separação, na sua essência, é total.

**Os três últimos regimes são menos estimulados do que o primeiro, o regime da comunhão parcial é
considerado um “regime base”. O que significa regime base? Seria um regime escolhido pela lei para
estimular as pessoas a se casarem no primeiro regime e esse regime é fomentado de que forma?
Dificultando a ocorrência dos três últimos. Exemplo: Se eu chego em um cartório e quero me casar no
regime da comunhão universal, digo isso lá no cartório de registro civil das pessoas naturais, onde farei a
minha habilitação para fazer o casamento, daí o oficial do cartório pergunta em qual regime você casar,
você diz que quer no regime da comunhão universal de bens e o oficial diz que você precisará ir a outro
cartório, o cartório de notas ou tabelionato, e você tem que ir lá porque o regime exige que você faça uma
escritura pública de pacto antenupcial, e tem que pagar. Daí você vai a um terceiro cartório que é o
cartório de registro de imóveis, e paga também, mesmo não tendo imóveis e só ai então você vai poder
casar em outro regime que não seja o regime de comunhão parcial.

**Na comunhão parcial de bens os frutos financeiros adquiridos na constância do casamento são divididos
entre os cônjuges, caso haja divórcio.

**Caso um casal case em um regime de bens e depois troquem o regime (o que é possível), nesse caso você
vai trabalhar com datas, até que momento eles estiveram casados sob tal regime, ou até que momento foi
em outro regime e então analisar os direitos inerentes a cada regime quando houver divórcio. E do ponto
de vista patrimonial a união estável é perigosa. O casamento é mais seguro, porque você sabe quando
começou e terminou e também você pode estabelecer o regime de bens, o que te dá total segurança.
**”Agrement of marriage”, contrato super detalhado de um contrato de casamento feito em Toronto.

**Essa ordem dos regimes de bens é a ordem que consta no CC/02.

3. Regras gerais:

A primeira regra geral que a gente tem, está no artigo 1639, que diz assim – é lícito aos nubentes estipular
quanto aos seus bens “o que lhes aprouver”. Se está falando em nubentes, estamos tratando de pessoas
não casadas, então aqui nós temos uma regra que a frase “que lhes aprouver” dá uma ideia de liberdade
total.Mas de cara a gente percebe que essa regra não é absoluta, ela vai ter exceções. Quando se diz: é
lícito aos nubentes estipular quanto aos seus bens o que lhes aprouver desde que não estejam ligados às
regras do regime de separação obrigatório, regime este que nós já vimos no caso do inciso I, que trata das
causas suspensivas. Portanto, nem todos os nubentes podem estipular o que lhes aprouver quando vão se
casar, muitos estão sujeitos às regras ao regime obrigatório da separação de bens, por exemplo: as causas
suspensivas do artigo 1523. No caso do artigo 1523 os nubentes não podem estipular o que lhes aprouver,
eles são obrigados a casar com separação de bens. A segunda possibilidade que as partes não têm direito
de estipular o que lhes aprouver: os maiores de 70 anos, eles vão casar obrigatoriamente com separação de
bens, artigo 1640 do CC, e isso se aplica ao casamento, não tem previsão para a união estável. Terceira
possibilidade é o regime de separação e é aplicado a todos as pessoas para casar tiverem que ter um
suprimento judicial da vontade, ou seja, o juiz teve que autorizar as vontades dos pais e sempre quando
isso acontecer vai casar com separação de bens – Art. 1641 do Código Civil.

Quanto a causa suspensiva para o casamento os maiores de 70 anos, há vários problemas de ordem
constitucional. O primeiro deles atinge a ideia do Princípio da igualdade. Em que medida um cara de 70
anos perdeu a sua capacidade de escolha? Ele pode vender, comprar, doar, renunciar a direitos, pode
exercer direitos na área trabalhista, cível de um modo geral e administrativa, porque essa limitação ao
casamento?
Teríamos, ainda, uma condição de ofensa ao Direito da Personalidade criando uma espécie de incapacidade
dentro daquilo que nós chamamos de capacidade plena da pessoa. Esse dispositivo estaria
presumindo/criando artificialmente uma incapacidade.
A maioria dos doutrinadores acha que é inconstitucional esse limite de 70 anos, inclusive, era de 60 anos
até 2010.
O STF nunca proferiu nenhuma decisão que diga que é inconstitucional a imposição do casamento com
separação de bens quando um dos nubentes tenha mais de 70 anos.
Essa limitação cria nas famílias e nos próprios nubentes uma espécie de zona de conforto. As pessoas
sabem que não tá muito certo, mas é confortável saber que se o idoso vai casar com uma pessoa mais
jovem, será no regime de separação de bens.
Na união estável não existe a aplicação dessa regra. Ou seja, se em vez de casar, o idoso ficar em união
estável, o regime será de comunhão parcial.
Muitos processos no STJ estão aparecendo de pessoas que viviam em união estável com maiores de 70 anos
pleiteando a aplicação dessa regra. O STJ em alguns momentos concede, em outros não.
De acordo com a hermenêutica, normas restritivas de direitos não se aplicam por analogia, por conta disso,
não podemos aplicar o 1641, II nos casos de união estável.
Então, eventualmente, a união estável, no que diz respeito a este tipo de situação apresenta uma
insegurança jurídica, permitindo que pessoas com mais de 70 anos possam viver em regimes de comunhão
parcial ou até mesmo de comunhão universal.
AULA- 05/10/15

Regras gerais

 Art. 1639, §1º - O artigo dispõe que o regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar da data do
casamento. A expressão “data” tem uma problema semântico. A data do casamento indica o dia, o mês o
ano. Se o regime de bens é considerado desde a data do casamento, pode acontecer uma situação
estranha: se houve um casamento no dia 10/01/2009, esse dia começa às 00:00 e acaba às 23:59. Desse
modo, seguindo esse raciocínio, poderia acontecer de o regime de bens começar a viger antes mesmo do
casamento. Portanto, entende-se que a data do casamento não pode interpretada como uma data dia, mês
e ano, e sim como a data de quando acontece de fato o casamento.
Os três atos passiveis de registro civil (nascimento, casamento e óbito) possuem certidão que indicam o
tempo, a data e o horário em que ocorreu o evento. Na união estável, diferente do casamento, não há
como apontar o momento exato em que ela começou e, portanto, quando iniciou o regime de bens. Não há
nada que fixe o momento em que se iniciou a união estável, a não ser que ambos, de comum acordo, em
algum momento, em um documento autêntico como uma escritura pública declarem isso. Tratar-se-ia de
uma confissão extrajudicial de um ato jurídico de consequências patrimoniais perfeitas. Uma das maiores
dificuldades que temos quando vamos reconhecer uma união estável é fixar o momento.

 Art. 1639, §2º - Possibilidade de alteração do regime de bens – Em principio, a alteração do regime
de bens foi pensada para as situações daqueles casais que casaram com alguma causa suspensiva, mas que,
depois de superada a causa, gostariam de sair do regime de separação de bens e ir para o regime de
comunhão parcial. Embora esse artigo tenha sido pensado nesse sentido, o que acabou ocorrendo foi de
casais que acabavam saindo do regime de comunhão para o regime de separação. Ex: Casal que quer sócio
de uma empresa (para o Direito Empresarial o regime adequado para uma sociedade empresarial é o de
separação de bens).
Para a alteração do regime de bens é preciso de uma autorização judicial, não podendo, portanto, ser um
ato simples do casal de ir ao cartório civil para essa alteração. É preciso de uma decisão judicial, de uma
ação, que observe os requisitos de condições da ação e pressupostos processuais. No novo CPC existe um
procedimento especifico para a alteração do regime de bens.
O pedido de alteração deve ser feito por ambos os cônjuges, um só cônjuge não consegue ter as condições
de procedimento para a alteração do regime de bens.
O juiz deve apurar a procedência das razões invocadas, deve verificar porque as partes querem alterar o
regime de separação de bens. Isso porque, pode ser que haja algum tipo de golpe, algum tipo de fraude. Se
as partes, por uma questão de foro intimo, decidem mudar o regime de bens, sem que implique em
violação a direito de terceiros, isso é possível.
Alguns terceiros podem ter interesses que o regime de bens não seja alterado, à exemplo de algum credor,
que diante de um casamento em regime de comunhão parcial, poderia ter mais chances de recebimento
do crédito. Portanto, esses credores devem ser ouvidos, notificados da alteração do regime de bens para o
resguardo do regime de bens. Sendo assim, a ideia de apurar a procedência das razões invocadas tem
relação direta com a necessidade de ressalvar os direitos de terceiros.
Uma das formas mais comuns de fraudar os credores hoje é através da simulação da separação ou do
divorcio. Por exemplo, se cada cônjuge tem uma casa, os dois imóveis passam a ser impenhoráveis, se eles
se divorciarem. Por outro lado, se eles se mantém casados, apenas um imóvel será impenhorável. Então, se
usa a separação, ou o divorcio, com essa finalidade de eventualmente dificultar o recebimento de crédito
por credores.
Então, são quatro requisitos para que ocorra a alteração do regime de bens: autorização judicial, pedido
motivado de ambos os cônjuges, que o juiz tem saiba qual razão para a mudança do regime de bens
(porque precisa verificar se não está por trás do pedido algum tipo de fraude), e que terceiros não sejam
prejudicados.
 Art. 1640 – Regime base – O regime base, atualmente é o regime de comunhão parcial, que é aquele
que não precisa de pacto antenupcial. É o regime mais fácil de ser adotado, menos burocrático. Qualquer
outro regime exige que se faça uma escritura de pacto antenupcial no cartório de notas e posterior registro
no cartório de imóveis.
Até 77 o regime base era o regime de comunhão total, a partir desse ano, passou a ser o regime de
comunhão parcial.
Se não houver convenção, ou se o pacto for nulo ou ineficaz, aplica-se o regime base, que é o regime de
comunhão parcial.
Se A casou com B, no regime de separação de bens, e tiveram cinco filhos. Se A morre, B não tem meação,
não tem a parte dos bens comuns, mas tem a herança. O regime de separação convencional dá direito à
viúva à herança. Nesse caso, a viúva terá direito a mesma herança dos filhos. Então vai dividir a herança por
seis. Se fosse um regime de separação obrigatória, a mulher não seria nem meeira, nem herdeira.
A partir do Código de 2002 a divisão ficou muito mais complicada. Havendo meação, paga-se a meação da
viúva, e o resto é de herança.
O regime de separação de bens exige escritura e registro. Diante de um casamento em que foi realizada
apenas a escritura, mas não houve o registro, esse regime perde a sua eficácia. Nesse sentido, o regime de
separação deixa de produzir efeitos, e se aplica o regime base. Aplicando isso ao caso de A e B,
considerando que o casamento ocorreu antes de 77, havendo a ineficácia do regime, se aplicaria o regime
de comunhão universal de bens (que era o regime base de 16) e nesse caso, A teria direito a 50% dos bens.
Se fosse casada com comunhão parcial, além dos cinquenta por cento receberia uma parte da herança –
seria meeira e herdeira. No regime de comunhão universal, a viúva tem meação apenas, mas não tem
herança.
OBS! Meação não é herança. Meação é a divisão dos bens comuns.
OBS! No Código passado o regime base era o de comunhão universal.

 Art. 1640, § único – Quanto a forma, o pacto antenupcial é exigido nos outros regimes. Na comunhão
parcial, basta chegar no cartório de registro civil e dizer que quer o regime de comunhão parcial. Nesse
caso, será feito um termo, uma declaração simples. Os outros regimes exigem uma escritura publica. Desse
modo, há uma estimulo para o casamento em regime de comunhão parcial. Nos outros regimes é preciso ir
num cartório de notas- fazer uma escritura pública, ir num cartório de registro de imóveis fazer o registro,
para depois voltar para a habilitação. Então, quem não casa no regime de comunhão parcial deve ir a três
cartórios diferentes.

REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL

Inicialmente, é preciso verificar se existe meação ou não. O quadro patrimonial varia de regime para
regime.
Quando se fala em inventário, a tendência é de pessoas mais velhas, que quando se casaram, o regime
base era de regime de comunhão universal.
No regime da comunhão parcial há bens que são só do marido, só da esposa, e bens que são comuns aos
dois. Os bens só do marido e os bens só da esposa são chamados de bens particulares, que são bens que
não entram na comunhão. Os bens comuns são aqueles que dão origem à expressão “meação”. A meação é
a metade dos bens comuns. Normalmente, a herança de uma pessoa que morre na condição de casado são
os bens particulares e metade dos bens comuns.
Ler artigo de Colani no Brasil Jurídico*

Art. 1659 – Estão excluídos da comunhão:

I - Os bens contraídos antes do casamento, bens doados ou herdados durante o casamento, ou os bens
sub-rogados;

Doação em dinheiro é diferente de doação de imóvel. A diferença está na forma. A forma da doação de
imóvel, pelo art. 104 c/c art. 107, exige uma escritura publica, e só vai haver a transmissão de propriedade
a partir do registro. A doação em dinheiro por sua vez, possui forma livre, e em termos tributários, a
doação em dinheiro sofre alguns problemas tributários. Há um imposto que incide sob a doação, o ITCMD e
por vezes, diante da doação, o donatário e doador não declaram esse dinheiro. Nesse caso, quando a
doação é feita em dinheiro, e não há a declaração disso para fins tributários, o dinheiro vai para a meação
do casal, já que não há como provar que foi doação. Situação distinta seria se houvesse a doação do
dinheiro de forma regular, com a declaração no imposto de renda tanto pelo doador, como pelo donatário.
Nesse caso, como fica comprovada a doação, com o dinheiro devidamente declarado. O mesmo se aplica à
herança. Portanto, para que uma parte faça jus a essa questão dos bens doados ou herdados, é preciso de
uma prova.
Há duas possibilidades de sub-rogação que pode ser ativa ou passiva, subjetiva ou real (quando se troca o
objeto). Se eu, por exemplo, recebo de herança de meu pai uma casa de 200 mil reais, e troco isso por um
carro de 200 mil reais, embora essa troca tenha ocorrido depois do casamento, são bens sub-rogados, que
permanecem no meu patrimônio.
Para Carlos Roberto Gonçalves, quando ocorre uma situação como essa, na escritura de permuta, deve ser
colocado que está sendo trocado um imóvel que é bem particular e o novo imóvel, no caso o terreno, está
se sub-rogando na condição de particular.
Se não houver a declaração da sub-rogação na escritura, o outro cônjuge pode questionar essa sub-rogação
depois.
O prof discorda de Carlos Roberto, para ele, a declaração não é imprescindível, ela ajuda a provar, mas se
for provado por outros meios que houve uma troca direta, a sub-rogação opera efeitos naturalmente. A
jurisprudência segue esse raciocínio.
Se, por exemplo, A vendesse a casa e com o $ comprasse um terreno e fizesse a demonstração, através de
imposto de renda ou transação bancária, a sub-rogação está provada.
Pode acontecer também uma sub-rogação parcial, se eu recebo, por exemplo, uma casa de 200 mil de
herança, vendo, e pego esse dinheiro para comprar um apartamento de 500 mil reais. Nesse caso 200 mil
reais continuam sendo só meus, e 300 mil vão para a meação.
A sub-rogação é a transferência da qualidade de um bem que é só meu, para um bem que continuará
sendo meu (ainda que em parte- como no caso da sub-rogação parcial).
A melhor forma de fazer prova dessa sub-rogação é o imposto de pessoa física bem declarado.
**Se eu recebo uma fazenda de meu pai, de herança, e faço várias benfeitorias, reformo a casa, compro
gado, etc, na constância do casamento. Estando num regime de comunhão parcial, ainda que a fazenda
seja só minha, porque recebi à titulo de herança, o valor gasto nas benfeitorias irá para meação. A
benfeitoria é acessório. Contudo, aqui há uma exceção à regra de que o acessório acompanha o principal.
Então, supondo que a fazenda valia 2 milhões de reais e o valor das benfeitorias foi de 1 milhão, esse
dinheiro irá para meação.

II- Dinheiro exclusivamente de um dos cônjuges;

O dinheiro também se sub-roga. Se for provado que esse dinheiro era só meu, recebido antes do
casamento, ou até mesmo durante, esses valores irão se sub-rogar no meu patrimônio. Se meu pai, por
exemplo, me dá 30 mil reais e eu compro um carro, esse carro é só meu.
Aqui há uma grande confusão, com uma coisa que se comunica, que são os bens adquiridos onerosamente
na constância do casamento. Um dos valores exclusivos de cada cônjuge é o salário. Seguindo essa linha de
raciocínio, se eu recebo meu salário ele não se comunica, e portanto, se com esse dinheiro eu compro uma
TV, esse bem também não se comunicaria. Contudo, vai haver uma contradição, com o art. 1660, I, que diz
que todos os bens adquiridos onerosamente se comunicam.
Então, se eu tenho dinheiro que é meu antes do casamento, que foi doado, ou que foi herdado, se houver a
compra de alguma coisa, isso sub-roga.
A declaração do imposto de pessoa física também aparece aqui como um fator de prova.

III- Obrigações anteriores ao casamento;


Se A, antes de casar com B, fez um financiamento na Caixa para comprar um apartamento em dez anos. Se
no quinto ano de casamento A se casar com B, B não será codevedora dessa obrigação – solidariedade não
se presume, decorre da lei ou da vontade das partes. Contudo, se B fica com A até que este pague os dez
anos de financiamento, e se divorcia no pagamento da ultima parcela, B terá direito à metade das parcelas
pagas na constância do casamento, embora não seja codevedora.
A lógica disso, é que conscientemente as partes escolhem se casar num dado regime de bens. E
presumidamente, B estando casada com A contribuiu de algum modo, ainda que não trabalhasse
efetivamente.
E se o apartamento não estava quitado? Nesse caso, há um grande problema, porque o que foi pago antes
do casamento se converte em direito daquele que pagou, e o que foi pago depois do casamento se
converte em divida comum, apesar da obrigação ser só dele. Se eu compro um apartamento de 400 mil, já
paguei 200mil (antes do casamento) e os outros 200 mil pago depois do casamento. Se e durante o
casamento eu pago 100 mil e continuo devendo 100 mil e me divorcio. Então, nesse caso 100 mil em tese,
será divido por dois (dinheiro pago na constância do casamento), e os 200 seriam só do marido. Ela sairia
com 50 mil e teria uma divida de 100 mil.

IV- Obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal;


Se eventualmente, um sujeito casado, cometeu um ato ilícito, ele quem vai responder por isso. Ex: Os
homens envolvidos com a Lava Jato, deverão responder por isso dentro do seu patrimônio individual, não
pode partir para os bens comuns (salvo se provar que reverteu em proveito do casal).

V- Bens de uso pessoal, livros e instrumentos de profissão;

Os bens de uso pessoal são roupas, sapatos, joias, etc. E se a pessoa comprou joias para investimentos? Ex:
É possível dar uma joia como penhor (garantia real), diante do empréstimo na Caixa Econômica Federal.
Nesse caso, se não houver o pagamento do valor devido, essas joias serão levadas a leilão para o
pagamento da divida. Esses bens empenhados na Caixa Econômica Federal são objetos de investidores.
Nessa condição de investimento, as joias não são tidas como bens de uso pessoal.
Houve um tempo que os livros tinham um valor muito elevado, contudo, atualmente, isso tem perdido o
valor. Os instrumentos de profissão levam a um problema. Um carro, por exemplo, para um taxista, é um
instrumento de profissão. Mas uma frota de taxis não seria considerada como um instrumento de
profissão.

VI – Proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;

O salário não se comunica. Isso é um problema, porque o salário não se comunica e qualquer coisa que
seja comprada com um valor exclusivamente do cônjuge não se comunica. Por esse raciocínio, se eu
compro uma TV com meu salário esse bem não se comunicaria.
Há uma contradição entre esse dispositivo, o inciso II, e o art. 1660, I. Se todos os bens comprados com o
salário não se comunicassem, isso seria um regime de separação, e não de comunhão parcial. Os
honorários advocatícios, por exemplo, não se comunicariam. Se eu ganhasse um carro de um cliente, por
honorários, isso também não se comunicaria.
Por isso se diz que o provento do trabalho pessoal de fato não se comunica. Mas qualquer bem adquirido
com esse dinheiro, na constância do casamento irá se comunicar.
Então, a sub-rogação valeria para os bens provenientes de doação, herança e bens adquiridos antes do
casamento. Se prevalecessem o art. 1659, II e VI, não prevaleceria o regime de comunhão parcial, porque
tudo que uma pessoa pode comprar vem do seu salário. Prevalece, portanto, o art. 1660, I.
OBS! Se eu recebo uma reclamação trabalhista, esse dinheiro não se comunica. Mas se eu comprar um bem
com esse dinheiro, esse bem se comunica.
OBS! A regra desse artigo não deve ser interpretada restritivamente. Se por exemplo, eu faço um acordo
com meu marido, de ele pagar as despesas gerais e eu guardar o dinheiro para a realização de
investimentos futuros, e posteriormente nos separamos, e eu tenho uma poupança com muito dinheiro e ele
não tem nada, nesse caso, claro que o salário que eu recebi e guardei irá se comunicar. A mesma coisa se
aplica aos casos em que a mulher é dona de casa e o marido trabalha fora. Então, em linhas gerais, deve
haver a observância da boa-fé e da probidade. Deve se garantir o mínimo de equidade, de equilíbrio na hora
de realização do divórcio.
VII – Pensões, meios-soldos, montepios;
As aposentadorias, por exemplo, são um tipo de pensão. Essas pensões como um todo estão muito
próximas da ideia dos proventos do trabalho pessoal. Em ambos, não se comunica. Mas, se o dinheiro for
utilizado para comprar algo, esse bem acaba se comunicando. Os meios-soldos é uma expressão utilizada
para a aposentadoria de militares das forças armadas. Montepios é um tipo de pensão, caracterizada por
uma doação a uma instituição de caridade, e depois de um tempo resgatar uma parte disso.

Art. 1660 - Entram na comunhão:

I- Bens adquiridos na constância do casamento por titulo oneroso, ainda que só em nome de um dos
cônjuges. Se um cônjuge compra um apartamento com o dinheiro da herança, o valor do apartamento a
ser divido pela meação será a diferença entre o valor total do apartamento e o valor da herança recebida.
II- Fato eventual – O melhor exemplo são os sorteios. Ex: Ganhar na Mega Sena. O TJ de MG disse que
após uma prolongada separação de fato é extinto o regime de bens.
OBS! O direito se considera como adquirido na ocorrência do fato eventual, e não a partir do momento em
que se toma conhecimento desse fato. Se eu ganho na Mega Sena e escondo de meu marido, provoco uma
briga, peço o divórcio, e só depois pego o prêmio, ainda assim ele terá direito ao prêmio, porque o fato
eventual ocorreu na constância do casamento.
A doação não é fato eventual.
III- Bens adquiridos por doação, herança ou legado em favor de ambos; O legado é um tipo de herança
deixado em testamento com um objeto específico. A herança e doação, em regra não se comunicam. Mas
se for expressamente em favor de ambos, se comunica. No contrato de doação, deve se verificar se o
donatário é só um, ou se são os dois.
IV- Benfeitorias feitas em bens particulares –

***Aqui há a exceção de que o acessório acompanha o principal. Isso é objeto de uma grande confusão. Se
eu tenho um apartamento que comprei antes de casar, e custa 500 mil reais, e depois de casada, venho a
realizar uma reforma (benfeitoria), gastando 200 mil reais, teoricamente, 500 mil reais continuam como
bem individual, e se o bem valorizou e passou a valer 800 mil reais, por exemplo, 500 mil reais seriam de
bem individual, e 300 iriam para a meação. Então, a valorização do imóvel vai para a meação porque é
considerada como fruto. É possível que o apartamento seja desvalorizado, e continue valendo 500 mil reais,
mesmo diante do gasto de 200 mil reais de reforma, configurando-se um problema. Não há uma solução
legal para isso.

OBS! Se eu tenho um apartamento que custou 500 mil reais (comprei quando não era casado), mas na
escritura eu coloquei o valor venal de 250 mil reais. Então se o valor que consta no IPTU é o valor venal, eu
mantenho no imposto esse valor, quando eu quiser me divorciar o valor que eu vou conseguir utilizar para a
sub-rogação é os 250 mil reais. Se eu quiser preservar esses 500 mil reais, eu tenho que colocar esses 500
mil na escritura e pagar imposto sobre esses 500 mil e colocar isso no imposto de renda. A mesma situação
se aplica se eu houver direito de preferência na venda do apartamento, porque no cartório fica constando o
valor venal. Nesse caso, se eu ofereço um apartamento de 500 mil reais àquele que tem preferência, e ele
diz que não quer, e posteriormente vendo o apartamento por esse mesmo valor, mas na escritura consta
esse valor de 250 mil reais, essa pessoa que teve preferência pode ir no cartório e verificar que o valor que
está lá é de 250 mil, e por isso, pode pedir o imóvel para si, diante da violação ao seu direito de preferência.

V – Frutos - Também são bens acessórios. Os frutos podem ser civis, industriais e naturais. Quando se faz a
separação do fruto do bem principal, o fruto também se transforma em um bem principal. Na zona urbana,
os alugueis, os investimentos em bancos devem ser vendidos. Muitas vezes, só é possível fazer isso por
meio de pericia.
Na zona rural, os gados, safras, aparecem muito como frutos. Na zona urbana, aparece como frutos os
alugueis e investimentos em bancos.
Se uma parte recebe alugueis decorrentes de um imóvel recebido à titulo de herança, esses alugueis são
tidos como frutos.

AULA - 19/10

REGIME DE COMUNHÃO UNIVERSAL


Se a comunhão é parcial, parte se comunica, parte não. Quando se fala em comunhão total, logo se pensa
que tudo se comunica.

Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes e futuros
dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte.

Pela redação do artigo, comunica todos os bens, menos aqueles que não se comunicam. Mesmo no regime
de comunhão universal há bens particulares. Pode se dizer que não existe no Brasil um regime que
realmente seja de comunhão universal, porque existem bens particulares. O regime de comunhão universal
é como se fosse um regime de comunhão parcial mais ampliada.

Art. 1.668. São excluídos da comunhão:

I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar;

Se eu quero deixar uma herança para uma pessoa casada no regime de comunhão universal , devo colocar
uma clausula de incomunicabilidade, no testamento, ou na escritura de doação. Era uma cláusula muito
comum até 77 (quando o regime base era a comunhão universal). Na comunhão parcial, os bens doados ou
herdados não se comunicam, não precisa portanto, colocar essa clausula de incomunicabilidade. Discutia-se
se essa clausula de incomunicabilidade atinge ou não os frutos. Se eu dou um imóvel para minha filha,
casada num regime de comunhão universal, os frutos do aluguel se comunicariam ou não? Não há nenhuma
previsão especifica na comunhão parcial sobre os frutos. Diante de uma cláusula de incomunicabilidade,
parte da doutrina pensa que não alcança os frutos (porque não há previsão expressa). Camilo pensa que
alcança, partindo do pressuposto de que o acessório acompanha o principal.

Na comunhão parcial, a herança não se comunica. Na comunhão parcial, se comunica. Se não houver
clausula de incomunicabilidade, toda vez que um casal tiver num regime de comunhão universal ou for
objeto de herança, esse bem vai para os dois. Na hipótese de um casal que está num regime de comunhão
universal, isso prevalece mesmo após o divorcio. No caso, se eu me caso com um homem, no regime de
comunhão universal, e a mãe dele morre enquanto eu ainda estava casada, depois da morte da minha sogra,
mesmo que eu peça o divorcio, terei direito de receber essa herança. Se no momento da morte havia
casamento, os direitos são adquiridos ali.

II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição


suspensiva;

Fideicomisso é um instituto de Direito das Sucessões baseado na ideia de um testamento em que se cria uma
condiução de confiança e uma condição de obrigação. Cria-se uma condição de alguém fazer alguma coisa
em favor de outro, relativo a minha herança. Então, é como se dissesse: quando eu morrer, esse bem ficará
em confiança com o fideicomitente que irá, em confiança, guardar esse bem durante um certo tempo, para
depois entregar esse bem para o fideicomissário. É como se fosse uma herança temporária para o
fideicomitente. O fideicomitente entrega o bem para fideicomissário diante do implemento de uma condição
suspensiva. Ou seja, diante do acontecimento de um dado fato no futuro o fideicomitente entrega o bem ao
fideicomissário.
Então, os bens gravados de fideicomisso não se comunicam para o cônjuge do fideicomissário antes de
realizada a condição suspensiva.

III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em
proveito comum;

As dívidas anteriores ao casamento não se comunicam, a menos que sejam relativas ao próprio casamento,
ou se reverterem em benefício do próprio casal. Se eu faço um financiamento para comprar um
apartamento, a divida é contraída antes do casamento, mas a lei diz que se a divida vai reverter em
beneficio do casal, ambos serão devedores solidários.

IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade;

Se uma pessoa vai casar e doa para o futuro cônjuge alguma coisa antes do casamento, colocando uma
clausula de incomunicabilidade, esse bem será excluído da comunhão. Isso é feito por uma questão
sucessória. Se eu sou casada com meu marido, e ele tem dois filhos fora do casamento, se ele morrer, o bem
fica só para mim. O apartamento não será objeto de disputa com os filhos.

V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659; Aqui, o salário também não se comunicaria, seguindo
essa lógica. Não faz sentido dizer que o salário não se comunica.

REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS

É o regime menos utilizado. Não tinha no Código de 16, aparece na lei brasileira no código de 2002. Esse
regime traz uma ideia de justiça na separação dos bens. Seria uma espécie de separação de bens durante o
casamento, e uma comunhão parcial na hora do divorcio. Nesse regime, já é previsto o fim do casamento.
Esse regime parte da ideia de dividir somente os bens adquiridos onerosamente na constância do
casamento. O aquesto é qualquer bem comprado na constância do casamento.

Art. 1.672. No regime de participação final nos aqüestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio, consoante
disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos
bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento.

Esse regime de bens traz conceitos diferentes dos outros regimes. Não se fala em bens particulares, nem em
bens comuns. Adota uma nomenclatura diferente. Ao invés de bens particulares, fala-se em patrimônio
próprio. Na época do divorcio, deve se identificar quais eram os aquestos, para dividir por dois.

Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele adquiridos, a
qualquer título, na constância do casamento.

Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, que os poderá livremente alienar,
se forem móveis.

Esse regime, na cônstancia do casamento, é como se fosse uma separação de bens. Os bens anteriores ao
casamento não se comunicam, e todos os bens que vierem na constância do casamento também não se
comunicam. Se a administração do bem é livre, os frutos e as benfeitorias não se comunicam. Se for um bem
imóvel, é preciso de autorização para alienar, e se for bem imóvel, não precisa de autorização. No regime de
separação, não é preciso da anuência do cônjuge para a alienação do imóvel.

Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o montante dos aqüestos, excluindo-
se da soma dos patrimônios próprios:

I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram;

II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade;

III - as dívidas relativas a esses bens.

Nesse regime, quem compra mais, perde. É um regime que acaba não sendo pensado para a pessoa
aumentar o patrimônio. Se eu compro uma casa, por exemplo, de 500 mil reais, essa casa faz parte do meu
patrimônio próprio. Eu posso vender, comprar outro bem, fazer o que quiser, porque esse patrimônio é só
meu. Mas se for para separar, esse regime entra nos aquestos e vai para divisão. Por isso, quem compra
mais, acaba perdendo.

REGIME DE SEPARAÇÃO DE BENS

Há dois tipos de separação, a convencional, onde as partes escolhem antes de casar (feita por um pacto
antenupcial) e a separação obrigatória, que ocorre nas causas suspensivas, maiores de 70 anos e pessoas que
precisaram de suprimento judicial de consentimento.
Se A é casada com B, num regime de separação de bens, e tiveram cinco filhos no casamento, e B já tinha um
filho, se B morre, o patrimônio será divido por sete. Então, A será herdeira. Se esse casamento não for
registrado, não é eficaz, cai para comunhão universal (porque na época que o casamento foi contraído o
regime base era de comunhão universal). Nesse caso, A passa a ser meeira, fica com 50% e o restante dos
50% será divido para os seis filhos.
Se A é casada com B, e juntos decidem comprar um apartamento, A dá 40% e B 60%, nesse caso, se constitui
um condomínio geral (uma coisa com mais de um dono). Nesse caso, cada um sai com a quantia que
contribuiu. Se tivesse numa comunhão parcial, cada um sairia com 50%.

Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um
dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.

O regime de separação de bens é o único que permite a alienação do imóvel sem a autorização do cônjuge.

Art. 1.688. Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal na proporção dos
rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto antenupcial.

No regime de separação, ambos os cônjuges são obrigados a contribuir na proporção de seus rendimentos.

SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO
 Histórico
Até 1977 no Brasil não havia divórcio. O Brasil foi o último pais do ocidente a ter divórcio. Havia apenas o
desquite. O desquite não permitia que a pessoa desquitada se casasse novamente. Então, permitia-se o fim
do casamento, mas proibia-se um novo casamento. É a institucionalização da lei civil de que o casamento é
um sacramento, de que o que Deus uniu o homem não separa.
O divórcio foi aprovado a partir da lei 6515/77, com intermédio de uma mudança constitucional. O autor
dessa mudança foi Nelson Carneiro, que apresentou uma emenda constitucional que trouxe o divórcio.
Havia uma disputa política muito forte entre a igreja e o governo militar. A igreja era uma grande opositora
política. Ao mesmo tempo em que a igreja era bem liberal com a política, era muito conservadora em
questões familiares. O governo militar, sentindo-se incomodado com a pressão da igreja, decidiu revidar as
disputas políticas com a igreja, aprovando essa lei do divorcio como uma forma de confrontá-la. A ideia foi
bancar politicamente, com a força dos deputados e senadores, essa aprovação da lei do divorcio. Essa lei
também veio no Brasil primeiro por uma pressão da sociedade.
A igreja fez incluir nessa lei regras de desestimulo ao divórcio. Foi criada, a dicotomia separação x divórcio.
Se adotou no Brasil a ideia de que só podia haver o divorcio após a separação. Quem quisesse se divorciar
no Brasil, teria que ter primeiro a separação judicial (com sentença do juiz), para dois anos depois ter o
divórcio. Ou, poderia ter uma separação de fato, para cinco anos depois ter o divórcio. Isso fazia com que,
muitas vezes, os juízes tentassem a reconciliação do casal. Os juízes, promotores, advogados, eram
obrigados a tentar fazer a reconciliação. A ideia da separação era a de que, se antes do divorcio o casal se
reconciliasse, não precisaria casar novamente. Se houve apenas a separação, o casal poderia fazer apenas
uma petição simples e retomar o casamento.
A CF de 88 trazia artigo sobre a separação e divórcio, reduzindo os prazos da separação, de dois, para um
ano (no caso da separação judicial) e de cinco para dois anos (na separação de fato). Então, quem quisesse
se divorciar tinha que ter esse tempo de separação para depois ter o divórcio. A prova da separação de
fato era por meio de testemunhas e por isso era muito comum que as testemunhas mentissem. Antes,
primeiro tinha que entrar com uma ação de separação, para depois entrar com a ação de divorcio, como
uma forma de desestimular o divórcio. A CF de 88 teve a chance de acabar com isso, mas não acabou, só
reduziu os prazos.
O Código de 2002 não trouxe nenhuma grande modificação, manteve esses prazos todos e criou a
separação por ruptura. Era muito comum ter a situação de um casal em que um dos cônjuges não queria
dar o divorcio. De fato, pela lei brasileira, quando um cônjuge não queria, havia uma dificuldade grande de
divorciar. Se não fosse consensual, o fundamento de divorcio ou separação deveria ser a violação de um
dos deveres matrimoniais. A separação por ruptura surgiu com essa ideia de ajudar esses casais nessas
situações.
Em 2007, surgiu a Lei 11. 441 que trouxe a possibilidade de a separação, o divorcio e o inventário serem
feitos extrajudicialmente, por meio de escritura no cartório de notas. Essa lei foi aprovada em 4 de janeiro,
sem vacatio legis. Porque uma lei dessas que disciplina um procedimento, foi aprovada sem vacatio legis?
Há uns anos atrás, começou no Brasil um processo de privatização dos cartórios, principalmente os
cartórios de notas, imóveis, etc. Esse processo de privatização foi feito por meio do intermédio de
concursos públicos. Os titulares dos cartórios recebem remuneração que não é vinculada aos limites
constitucionais de salário. Eles possuem registradores fazem parte de uma entidade chamada ANOREG que
tem muita influência, muita força política no congresso. Por isso, houve a aprovação dessa lei sem vacatio
legis para que fossem feitas mais escrituras. Antes do CNJ intervir, esses cartórios estavam cobrando
percentagem sobre o patrimônio do casal que tava se divorciando. O CNJ interveio nisso e disse que os
tribunais de justiça de cada estado deveriam criar tabelas justas de despesas para esses acontecimentos.
Mesmo assim, eles passaram a fazer, semanalmente, uma série de escrituras que antes não existiam , como
a de separação, divórcio, inventário, etc. O Estado da Bahia ainda não passou por esse processo
privatização. No TJ-BA foram estabelecidas regras onde se torna até mais difícil fazer a separação
extrajudicial.
A possibilidade de o divórcio ser feito extrajudicialmente não desafogou o Judiciário. Isso porque, as
pessoas mais pobres não tem acesso a esses procedimentos extrajudiciais.
De 2007 para cá, houve a emenda constitucional 66/2010. Essa emenda é de autoria de Sérgio Carneiro,
que alterou o art. 226, parágrafo sexto. Antes dessa emenda tinha “o casamento civil pode ser dissolvido
pelo divorcio depois de um ano de separação judicial ou dois anos de separação de fato”. Maria Berenice
Dias, Cristiano Chaves, Rodolfo Pamplona, entendiam que essa emenda acabou com a separação judicial no
Brasil, em virtude da impossibilidade jurídica do pedido. O TJ-BA acatou isso e segue esse posicionamento.
Após um tempo, Regina Beatriz Tavares, Carlos Roberto Gonçalves, Maria Helena Diniz disseram que a
redação da emenda não evidencia que houve revogação da separação. Não houve nem uma revogação
expressa nem uma revogação tácita. Então, para ela, a separação é uma faculdade. O Conselho de Justiça
Federal, em novembro de 2010, fez um enunciado dizendo que essa emenda constitucional não extinguiu a
separação no Brasil. Depois veio o STJ e disse a mesma coisa. Surgiu uma terceira opinião – a de que
existem algumas separações incompatíveis com isso, e estariam, portanto, extintas. Por exemplo, a
separação consensual no código civil deveria ser após um ano de casado, enquanto que pela CF, o divorcio
pode acontecer a qualquer tempo. Algumas separações foram modificadas pela constituição.
A maioria da doutrina e jurisprudência entende que não houve revogação da separação. O NCPC traz
dentro dos seus artigos procedimentos de separação. Se tivesse havido a revogação, não teria esse
procedimento no NCPC. Alguns autores estão dizendo que o NCPC está fazendo repristinação.
OBS! Pode ser que um casal tenha interesse jurídico em se separar e não em se divorciar. Pode ser que
queiram se separar um tempo, e depois podem retomar o casamento. Além disso, é possível que uma
pessoa mais idosa, por exemplo, não queira ter o “status” de divorciada. Por isso, pode ter interesse jurídico
apenas na separação.

AULA- 26/10

 Dissolução da sociedade conjugal e dissolução do vínculo (casamento)

Na verdade, quando se fala em vínculo, se fala em casamento. A dissolução da sociedade conjugal e


dissolução do vinculo pode ser interpretada como a diferença entre a separação e divorcio. Alguns autores
falam em uma dicotomia- conceito que implica em dois caminhos. A dicotomia separação x divorcio quer
dizer que há dois caminhos para por fim ao casamento: por completo (divorcio) parcialmente (separação).
Isso nasce daquela ideia de dificultar o divorcio. Nessas dificuldades criadas, está a dicotomia separação X
divorcio.

Art. 1571. - A sociedade conjugal termina: A) Com a morte de um dos cônjuges. Obs: Se os dois morrem
acaba com a sociedade conjugal. B) Pela nulidade ou anulação do casamento. Isso faz com as que pessoas
voltem a ser solteira. C) Com a separação judicial ou extrajudicial. O código de 2002 começou a vigorar em
2003, e nessa época só tinha separação judicial, então, ficou no código no artigo 1571 que a sociedade
conjugal termina com a separação judicial. Mas desde 2007 há a possibilidade de separação extrajudicial,
feita em cartório de notas com escritura pública. D) Pelo divórcio. Obs: Aqui não se falou em divórcio
judicial ou extrajudicial, apenas se colocou divórcio. A separação pode ser separação de fato e esta não
acaba em tese nem com a sociedade conjugal nem com o divorcio, é uma espécie de dúvida conceitual. Há
portanto 4 formas genéricas de acabar com a sociedade conjugal.

Art. 1571 - §1º O casamento valido só termina pela morte ou pelo divórcio. Esse parágrafo faz a diferença
entre sociedade conjugal e vinculo, ou seja, separação e divórcio. A separação não termina com o
casamento, mas sim, apenas acaba com a sociedade conjugal. A consequência disso é que a pessoa
separada ainda está teoricamente casada para o fim de manter o vinculo. Essa pessoa separada, já que
ainda está com o vinculo, não pode casar de novo. Acabando a sociedade conjugal não há mais regime de
bens e a pessoa não se pode casar de novo. A emenda constitucional 66 abre a possibilidade para que a
pessoa ir direto para o divórcio. A maioria das pessoas vai direto para o divórcio, não passa pelo processo
da separação. Se falarmos apenas “o casamento termina (...)”. A nulidade e anulação acabam com o
casamento inválido, justamente por ser nulo ou anulável. O casamento válido só acaba com a morte ou o
divórcio mas o casamento termina com a morte, divórcio, anulação e a nulidade. A contrário senso, o
casamento não termina pela separação, logo a separação não acaba com o casamento mas sim com a
sociedade conjugal, logo a pessoa separada não pode casar de novo. Antes a pessoa se separava
judicialmente e depois de 1 ano convertia a separação em divorcio. Aqui havia dois processos, um processo
de separação inicial (o juiz dava a sentença e um ano após o transito em julgado da sentença fazia essa
conversão em divórcio) ou a pessoa ficava separada de fato durante 2 anos e poderia pedir o divórcio de
forma direta. Muitos criticam o fato de ainda ter separação, visto que obrigaria o casal a passar por um
segundo processo. Muitas vezes as pessoas não se separam judicialmente, apenas se separam de fato. No
Brasil muitas pessoas ficam em união estável, a pessoa se separa judicialmente e não se preocupa em se
divorciar, após isso, ao iniciar um outro relacionamento e este acaba não sendo pelo casamento devido a
dificuldade de se fazer esse divórcio. Ou as vezes a pessoa apenas se separada de fato, não se separa
judicialmente, não se preocupa em por um fim formalmente aquela relação.
Tipos de separação

 Separação litigiosa
Essa separação é objeto de muitas questões sobre a sua existência ou não. Parte da doutrina diz que não
há mais separação mas muitos doutrinadores dizem que ainda que haja separação, diz que não há
separação por culpa. O professor Cristiano chaves defende que no sistema brasileiro seria incompatível
discutir culpa na separação visto que quando um casamento acaba, devemos falar que cada um teve a sua
parcela de culpa para o fim dessa relação. Aqui há posições divergentes mas uma posição mais forte que é
a posição do STJ, qual seja, a questão não é discutir culpa pelo fim do casamento mas sim discutir culpa
pelo descumprimento de um dever/obrigação conjugal, normalmente a obrigação da fidelidade. Quem
defende que não se discute mais culpa, diz que aquelas normas não são deveres/obrigações civis, mas sim
normas programáticas que não geram obrigações civis mas sim geram obrigações morais que não podem
ou não precisam ser discutidas no poder judiciário.
Há a discussão no sentido de saber qual a consequência de se discutir culpa? Quem é contrario a discussão
da culpa diz que a culpa não afeta a divisão de bens (de fato, se a pessoa trair a esposa os cônjuges terão a
mesma quantidade de bens baseadas na divisão dos bens comuns da comunhão parcial ou universal); a
culpa não altera a guarda dos filhos (via de regra, não afetaria a relação dos pais com os filhos mas a
depender da situação e da exposição que foi feita aos filhos isso pode influenciar); a culpa não altera a
questão dos alimentos (entretanto pode afetar sim, pode ser que os alimentos sejam majorados ou
minorados). Mas na verdade, é importante que se analise essas questões pois eventualmente pode alterar
a guarda dos filhos ou a questão de alimentos. O fato de ter uma briga doutrinaria sobre esse assunto é
bom para a advocacia pois geram mais argumentos para os dois posicionamentos.

 Há aqueles que dizem que não pode discutir culpa no casamento e que as normas de obrigações de
deveres conjugais são normas meramente programáticas, não gerando obrigações civis.
 Já outros dizem que podemos discutir culpa no casamento e que aquelas normas como a da
fidelidade geram consequências civis inclusive, se for objeto de causa de dano moral, a quebra dessa norma
iria gerar direito e dever de indenizar. Dependendo da situação pode-se cumular a separação
litigiosa/divorcio litigioso com o pedido indenizatório.

Para o professor esse é o principal fundamento pelo qual pode-se discutir culpa pois na CF há uma previsão
relativa ao acesso a justiça que diz que a lei não excluirá de apreciação lesão ou ameaça ao direito. Se
disser que não se pode discutir uma lesão ou um dano moral sofrido em virtude de uma atitude do cônjuge,
estaria excluindo de apreciação do poder judiciário um dano sofrido por um cidadão. Dois exemplos: Ex 1)
Mulher casada encontrou o amante no motel a tarde e ninguém souber. Ex 2) Esposa encontrar os amantes
na casa dela, com os filhos na sala e empregados na casa, porteiro e vizinhança sabendo. O segundo caso
gera um dano moral. Dizer que o segundo caso não geraria um dano moral é muita insensibilidade ao
sofrimento daquela pessoa que sofreu a traição. Temos que ter muita sensibilidade social para não diminuir
ou menosprezar a lesão moral sofrida por uma pessoa ou um sofrimento de uma pessoa que passa por uma
situação como essa. Essas são as razões pelas quais prevalece a ideia de que se pode discutir culpa (não
pelo fim do casamento) mas sim pela quebra de um dever que pode gerar um dano material ou moral a
depender da situação.

Quando ocorre essa separação litigiosa ou por culpa?


Art. 1572 - Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação judicial, imputando ao outro
qualquer ato que importe grave violação dos deveres do casamento que torne insuportável a vida em
comum. Grave violação dos deveres do casamento (art. 1566): violação do dever de fidelidade, violação da
mutua assistência, violação do sustento, da guarda e alimentação dos filhos, violação ao respeito e a
consideração. Se houver a violação de um desses deveres e isso gerar uma situação insuportável para a
vida em comum, o cônjuge pode pedir a separação litigiosa. O que determina a gravidade não é o ato em si
mas sim o que o outro vai sentir, ou seja, o impacto que causa na outra pessoa. Porque pedir uma
separação diante de uma situação de insuportabilidade da relação quando há uma emenda constitucional
permite que se peça o divórcio direto. A partir da emenda 66 da CF permite fazer o divórcio direto, não
sendo necessário fazer a separação litigiosa. Camilo entende que a pessoa poderia entrar com o divórcio
litigioso por culpa e que essa modalidade da separação litigiosa não se justifica mais. Nesse caso pode
cumular com o pedido de indenização. No novo CPC há essa modalidade prevista no ordenamento. O TJBA
entende que não tem mais separação, nem a discussão da culpa mas eles não resolvem o que fazer com as
indenizações, se julga no mesmo processo ou se teria que abrir um novo processo. Muitas vezes o TJBA
segue os entendimentos de Cristino Chaves e Pablo Stozen.

 Separação por ruptura.


Trata-se da falência do casamento, acabou o interesse de se permanecer casado. Essa separação por
ruptura era para ser um grande avanço no direito. Antigamente se um cônjuge quisesse a separação e o
outro não quisesse era difícil obter a separação desse casal visto que bastava um não querer para esse
processo se dificultar. Só havia 2 possibilidade: Ou era algo consensual (ambos os cônjuges queriam a
separação) ou litigioso (um tinha que aprontar alguma coisa e o outro entrar com ação). Mas surgiu uma
outra alternativa, vejamos, se a pessoa não quisesse ficar casado teria o direito de se separar e não
precisaria esperar 2 anos para pedir o divorcio direto. A lei estava reconhecendo o direito que cada um
tem de não permanecer casado. O direito de separação passou a ser um direito potestativo, ou seja, para
ser exercido basta apenas a vontade do seu titular. Portanto, entendia-se antes que o direito a a separação
e ao divórcio NÃO era um direito potestativo. Quando foi criada essa forma de separação, deu-se a ideia de
que se um cônjuge sozinho quisesse se separar ele poderia, fazendo valor o direito potestativo ao divórcio.
Entretanto, criaram uma estrutura de total inaplicabilidade desse direito, dessa forma de separação. Art.
1573 – A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges provar a ruptura da vida em
comum há mais de 1 ano e provar ainda a impossibilidade da sua reconstituição. Era preciso provar a
ruptura da vida em comum há mais de 1 ano e a impossibilidade de sua reconstituição. Essa seria uma
prova diabólica, difícil de ser provada. Não teria como se provar para o juiz essa impossibilidade pois essa
relação não é impossível mas sim improvável. Os fatos notórios ou fatos não passiveis de prova, não podem
ser provados. Logo, se não fosse provado esses 2 questões não seria possível pedir a separação por
ruptura.
Pode caracterizar a impossibilidade de comunhão de vida caso haja a ocorrência de uma dessas
situações: adultério (torna a relação improvável, mas não impossível visto que muitos casais voltam a
relação após a traição); tentativa de morte (na verdade, teria que ter falado em conjugicidio que seria um
cônjuge tentar matar o outro; mesmo assim há situações em que mesmo após a tentativa de matar o outro
cônjuge há a reconciliação.); maus tratos ou injuria grave (xingar marido ou esposa); ficar 1 ano com a vida
comum rompida (basta ficar fora de casa por 1 ano); condenação por crime infamante ( não há esse tipo de
crime no código penal) e conduta desonrosa.
OBS: O que torna impossível a relação não é o fato que venha a ocorrer mas sim a vontade que a pessoa
tem. Logo perde o sentido essa exigência da comprovação da impossibilidade de reconciliação.
§Único: O juiz ainda pode considerar outros fatos que tornem evidente a impossibilidade da vida em
comum. O legislador torna esse dispositivo em numero apertus, ou seja, é um roll exemplificativo. Essa
modalidade de separação não tem o menor sentido diante da EC 66, visto que por essa emenda basta a
vontade da pessoa em se divorciar, pouco importando se o outro queira ou não, pouco importa o tempo (O
direito de se divorciar nasce a qualquer tempo, a partir do casamento) ou a comprovação da
impossibilidade ou não. O professor entende que essa separação seria incompatível com o a EC 66.

 Separação por doença mental


Um cônjuge pede a separação do outro quando o outro tiver uma grave doença mental. O professor achava
que essa separação era contraditória com os próprios princípios do casamento e da promessa de cuidar do
outro “na saúde e na doença”. O professor entende que em algumas situações especificas é melhor pedir a
separação para que os bens não estejam em comunhão. Ex: Caso dos EUA; Uma mulher teve um acidente
de carro e ficou em coma durante 18 anos. Seu marido não tinha chance de pedir o divórcio, segundo a lei
da florida, ele teria que continuar casado enquanto ela fosse viva ou esperar ela se recuperar do coma e
pedir o divórcio juntos. Passado uns 10 anos esse cara passou a ter relação com outra mulher e não poderia
casar pois a esposa era viva e não poderia se divorciar porque a lei americana não deixava. Esse homem
entra com pedido na justiça da florida para desligar os aparelhos, que seria a eutanásia. A doença mental é
algo que não significa um abandono da pessoa doente. Aqui pode haver interesse em se ter a separação e
não o divorcio. Art. 1572, §2º. O cônjuge pode ainda pedir a separação judicial quando o outro estiver
acometido de doença mental grave, manifestada após o casamento, que torne impossível a continuação
da vida em comum, desde que, após uma duração de dois anos, a enfermidade tenha sido reconhecida
de cura improvável. Quando ele fala de cura improvável seria a ideia de trabalhar com dados da medicina
que estabelece para casos iguais aquele, estatísticas e a porcentagem de recuperação ou não. Sabemos que
algumas doenças tem percentagem de recuperação e outras tem grande porcentagem de recuperação.
Trabalhamos com a expressão casuística, que seria pegar casos iguais aquele e ver as percentagens de
sucesso com as variadas formas de tratamento. Segundo o artigo teria que esperar 2 anos para pedir a
separação mas essa ideia não faz muito sentido depois da EC 66, visto que essa emenda acabou com todos
esses prazos. Logo a pessoa poderia pedir essa separação de imediato. Há casos que pode haver o interesse
em se ter apenas a separação por doença mental e não se pedir o divórcio. Ex: Alzheimer.

 Separação consensual
Art. 1574 - Dar-se-á a separação judicial por mútuo consentimento dos cônjuges se forem casados por
mais de um ano e o manifestarem perante o juiz, sendo por ele devidamente homologada a convenção.
Há 2 requisitos criados pela lei para que seja possível essa separação: a) O casal deve ter 1 ano de
casamento; b) manifestar perante o juiz a convenção. A lógica era a ideia de dificultar a separação do casal.
Hoje com a EC 66 não teria o menor sentido essa possibilidade. Essa hipótese acabou visto que se a pessoa
pode pedir o divórcio a qualquer tempo depois de casado, pode também pedir a separação com menos de
1 ano de casamento. Essa manifestação perante o juiz não faz mais sentido, foi caindo em desuso. Ela tinha
sentido naquela época em o juiz era obrigado a tentar a reconciliação do casal. Em 2007, a separação
consensual em cartório não é mais feita perante o juiz, caindo a ideia da necessidade dessa manifestação
perante o juiz para que seja feita a separação. Hoje ainda há essa separação consensual na ideia de que
pode-se querer a separação mas não se divorciar, a pessoa pode estar em duvida, o casamento em crise
por exemplo. Ex: O casal está fazendo uma terapia de casal e prefere se separar para que não haja mais a
incidência do regime de bens. Nesse caso o casal entra em um consenso e realizam a separação.

 Separação extrajudicial
Essa separação deve ser feita por escritura publica, perante um tabelionato de notas dentro da perspectiva
de um ato negocial, sem passar pelo juiz. Há um interesse natural dos tabeliães/registradores em ter um
mecanismo de agilidade. Essa separação tinha como grande fundamento a ideia de diminuir o grande
numero de processo nas varas de família mas na verdade não houve grande resultado, não houve a
diminuição esperada. Boa parte do movimento que lota as varas de família são de pessoas que não tem
condições de ter advogado, nem de pagar os custos do tabelionato e que recorrem a defensoria pública.
Essa lei 11.441 cria a separação/divórcio extrajudicial e tem em si uma grande contradição, qual seja, ao
invés dela alterar o código civil ela alterou o CPC, no caso o artigo 1124 A.
Se na separação extrajudicial o juiz não homologa nem decide nada, logo a separação extrajudicial não
deveria estar regulada no CPC. Essa separação não está regulada no código civil mas sim nessa lei 11.441 e
no art. 1124 A CPC, que equivale ao art. 733 do novo CPC. Só pode fazer essa separação quem não tiver
filhos menores ou incapazes. Entretanto, não há mais a exigência da observância dos requisitos legais
quanto ao prazo após a emenda 66 da CF. A escritura não é registro. A escritura é feita em cartório de
notas. Nessa escritura tem que estar presente a vontade de se separar ou divorciar; ter alguma clausula
relativa a um acordo quanto a partilha de bens; acordo quanto ao uso do nome e acordo quanto a pensão
alimentícia. §1º A escritura não depende de homologação judicial, logo não teria jurisdição e para o
professor não deveria estar regulada no novo CPC. A escritura constitui titulo hábil para o registro civil e
registro de imóvel, ou seja, pega essa escritura leva para o registro civil onde será registrado que o casal
não é mais casado ou pega a escritura e leva para o cartório de imóvel para se dizer como ficará a
propriedade daquele imóvel. §2º O tabelião somente lavrará a escritura se os contratantes estiverem
assistidos por advogado comum ou advogados de cada um deles, cuja qualificação e assinatura constarão
do ato notaria. Só pode lavrar a escritura se tiver com advogado. Mas seria mesmo preciso nessas
situações? O professor entende que não seria preciso o advogado para isso, da mesma forma que não
precisa advogado para se casar ainda. O professor entende que em uma separação que não tenha litígio,
filhos menores, questão de alimentos, discussão sobre bens. Sem esse requisito iria diminuir os custos,
facilitaria a vida do cidadão, entretanto o advogado é importante para fazer correr o processo. §3º - A
escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que se declararem pobres sob as penas da lei.

Tipos de divórcio – Há os mesmos tipos de divórcio para os tipos de separação. Mas há também outros
tipos de divórcio considerando o divórcio em si mesmo e não outros tipos de separação.
Essencialmente, podemos dizer que tem o divórcio litigioso, o divórcio consensual e o divórcio por doença
mental. Podemos fazer mais ou menos um espelho, não há diferença em relação às modalidades de
separação.
Separação por ruptura, com certeza, não tem mais.
Separação por culpa litigiosa tem 3 possibilidades (quem diz que tem, quem diz que não tem mais e quem
diz que não tem a separação, mas tem o divórcio litigioso).
Separação por doença mental, separação consensual e separação extrajudicial persistem, então, vai haver o
divórcio nessas modalidades.
Onde tem separação, tem divórcio também.
Além disso, podemos dividir o divórcio em dois grandes tipos: o divórcio por conversão (art. 1580) e o
divórcio direto (art. 1580, §2º).

 Divórcio por conversão – Advém de uma separação judicial anterior. Ex: A pessoa se separada
judicialmente em 2001 e em 2002 houve a conversão da separação em divórcio. Pode fazer essa conversão
em um outro processo, que se chama ação de conversão da separação em divórcio. Ou ainda pode se fazer
uma escritura de conversão de separação em divórcio. Esse pedido, portanto pode ser dirigido ao juiz ou
feito na forma dessa escritura púbica. A conversão pode ser requerida por meio de uma ação ou escritura.
Art. 1580 CC - Decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que houver decretado a separação
judicial, ou da decisão concessiva da medida cautelar de separação de corpos, qualquer das partes
poderá requerer sua conversão em divórcio. Não há mais essa necessidade de esperar 1 ano para
converter em divórcio e há a discussão se pode fazer a separação judicial e após isso fazer um divórcio
extrajudicial. Não há mais o prazo para essa conversão. Até poucos anos atrás as pessoas faziam desquite e
muitos tinham se desquitado e nunca tinham pensado em converter aquele desquite em uma separação ou
divórcio.

 Divórcio direto – Passa a ser a modalidade mais utilizada. Divórcio direto pois não passa por uma
separação judicial antes. Ele já existia desde 1977, é aquele que vem de uma separação de fato. Art. 1580,
§2º - O divórcio poderá ser requerido, por um ou por ambos os cônjuges, no caso de comprovada
separação de fato por mais de dois anos. Não precisa mais do prazo de 2 anos de separação de fato para
pedir o divórcio, bastaria a vontade. Na verdade, não haveria mais prazo algum, bastando a vontade, e isso
seria a consolidação da EC 66, sendo um direito potestativo. A EC 66 diz: “O casamento civil pode ser
dissolvido pelo divórcio”. Isso faz com que todos os prazos acabem.

Aspectos processuais:
 Art. 1575 – A sentença de separação judicial importa partilha de bens e a separação de corpos. O
verbo “importar” quer dizer “trazer de fora” ou significa “acarretar”. A sentença gera partilha de bens, mas
isso tem um problema pois o art. 1581 traz uma contradição a essa ideia visto que ele diz que o divórcio
pode ser feito sem a partilha de bens prévia. A lógica é de que quem pode mais pode menos, se pode fazer
o divórcio sem a partilha de bens, poderia também fazer a separação sem a partilha de bens. O lógico é que
na hora da separação, se o casal fez a separação judicial o juiz vai fixar os bens que serão partilhados no
futuro. Eles não são obrigados a fazer a partilha naquele momento da separação mas quando resolver fazer
haveria a delimitação dos bens que o casal tem. Ou ainda, eventualmente o casal pode fazer uma partilha
parcial, ou seja, primeiro faz a partilha do carro e do dinheiro e depois, no momento do divórcio, faz a
partilha do apartamento, do terreno ou ainda, pode fazer essa partilha após o divórcio. As partes podem
dispor desse direito, visto que são direitos patrimoniais disponíveis, logo podem fazer essa partilha, na
separação, no divórcio ou depois do divórcio (a qualquer momento).

 Art. 1576 – A separação judicial põe termo/fim aos deveres de fidelidade e coabitação e ao regime
de bens. Um regime de comunhão parcial, ex: o apartamento de um cônjuge e a fazenda do outro cônjuge
e ambos produzem frutos e estes se comunicam e que 1 mês a mais ou 1 mês a menos poderia gerar um
impacto muito grande, ou seja, poderia fazer diferença nessa comunhão. A data em que ocorre essa
separação é fundamental para determinar o fim do regime de bens. Ex: Dia 26/10/2015 alguém distribui
uma petição inicial de separação. Essa sentença sai daqui há 4 meses, dia 26/02/2016. Nesses 4 meses se o
regime de bens não acabou, terá comunhão pois se consideramos que a sentença põe fim ao regime de
bens, enquanto tiver processo e não tiver sentença estaria tendo comunhão de bens. Aparentemente o
legislador não quis estabelecer que é a sentença o limite final do casamento ou do regime de bens. O
regime de bens acaba com a distribuição da separação/divorcio mesmo que a sentença demore 2,3,4 anos.
EX: Dando a entrada ao processo de separação, acaba com o regime de bens. Não é a sentença de
separação que acaba com o regime de bens, mas sim a distribuição da petição inicial. Vimos que em
situações especiais a separação de fato também acaba com o regime de bens e isso não esta na lei, é uma
construção jurisprudencial do STJ extremamente correta na visão do professor. Com base nesse
entendimento jurisprudencial, com a separação de fato prolongada não poderia mais se falar em
continuidade de regime de bens. Se o casal está prolongadamente separado de fato o regime de bens
acaba até porque com a separação de fato, teoricamente, segundo o art. 1723, a pessoa casada mas
separada de fato, já poderia estar em união estável e por conta disso teria um regime de bens com a outra
companheira que poderia gerar uma confusão de bens com a esposa.
É praticamente impossível uma pessoa que vai se separar não ter uma separação de fato (afastamento
da família, diferença quanto ao sexo, a atenção dada ao outro).

União estável e concubinato


 Histórico
O concubinato historicamente é uma relação tão antiga quanto o casamento. O concubinato faz um
contraponto ao casamento. O casamento historicamente é uma relação legitima e o concubinato é uma
relação ilegítima. Socialmente, temos relações legítimas e ilegítimas. O concubinato socialmente falando é
uma relação ilegítima, ou seja, não tinha reconhecimento do estado, da lei. Se a relação é ilegítima a
mulher concubina é ilegítima e o filho dessa relação seria ilegítimo. Essa questão vai para além da relação
homem e mulher, pois atinge o filho vindo dessa relação. Da mesma forma a contrario sendo, se o
casamento é uma relação legitima, a mulher casada é uma mulher legitima e o filho essa relação é um filho
legitimo.
Brasil Colônia - Houveram 2 tipos de colonização: povoamento (EUA) e exploração (BRASIL). No Brasil, os
portugueses viam para o Brasil e suas famílias ficavam em Portugal. As relações dos portugueses com as
índias eram ilegítimas. No Brasil colônia, essa ilegitimidade foi agravada em relação a mulher, sendo
substituída a mulher indígena pela mulher escrava. Os portugueses praticaram essas relações ilegítimas
com as escravas e os filhos também eram ilegítimos. Nos todos somos produto de uma ilegitimidade muito
forte nas nossas relações. O concubinato é uma ideia de aceitação de uma relação paralela ao casamento.
Normalmente o concubinato revela a mulher em uma condição social de menosprezo por aquele que é
casado com outra. Concubinato não é adultério, mas sim uma relação frequente, contínua.

Há um problema jurídico: Até 1977 não havia divórcio. O desquitado não poderia casar, logo como eles
poderiam viver em uma nova relação? Eles teriam que viver no que se chamava antigamente de
concubinato. O concubinato era uma espécie que cabia: os desquitados que não poderia casar, o homem
casado com a sua concubina, relação de pessoas impedidas e situações curiosas: homens e mulheres
solteiras que poderiam se casar mas não queriam se casar. Tudo era chamado de concubinato. O
concubinato há tempos atrás contemplava todas essas situações. Ex: Jorge Amado e Zélia eram desquitados
e foram morar juntos e essa relação se chamava de concubinato. Chico Buarque e a mulher poderiam se
casar naquela época mas optaram por não se casar, logo viviam o concubinato. Em 1977 veio a lei do
divorcio e os desquitados poderiam se casar mas muitos preferiam continuar como estavam. A CF/88
percebeu que chamar tudo de concubinato era equivocado visto que eram situações bem diferentes. Foi
inserida a categoria de união estável e surge para as situações dos desquitados que não poderiam se casar,
dos solteiros que poderiam se casar mas não queriam se casar e cria essa outra situação para proteger as
famílias. A união estável não tem todos os direitos do casamento.

Art. 226 CF/88. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.§ 3º Para efeito da
proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Aqui, o estado vai proteger essa relação dentro da
perspectiva de proteção da família. É reconhecida a união estável entre homem e a mulher, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento. Se vai converter em casamento é porque não igualou. Uma
interpretação errada é dizer que a união estável é igual ao casamento, a união estável tem uma proteção
do estado como tem o casamento, mas os efeitos dessa proteção é diferente. A união estável surge em
uma perspectiva da união entre um homem e a mulher e depois foi vista em uma perspectiva monogâmica.

AULA 14/11/15

UNIÃO ESTÁVEL E CONCUBINATO

1. Histórico

A parte histórica começa com a ideia de que há uma relação legitimada pelo Estado e pela sociedade, e que
essa relação é chamada de casamento. E há uma relação não legitimada que é chamada de concubinato.
Posteriormente, especialmente no Brasil, já no período contemporâneo – em virtude de vários fatores,
dentre os quais foi a ausência de divórcio – nós vimos inúmeros casais que queriam se casar, mas que por
não poderem se divorciar (ficando na condição de desquitados), acabavam por viver com outra pessoa e
nessa condição havia uma inadequação, e o nome concubinato não era uma classificação adequada para
aquela realidade, e as pessoas queriam se casar e não podiam. Então, no Brasil a ideia de concubinato
acabou sendo utilizada para várias relações diferentes. Concubinato no Brasil era para aquelas pessoas que
tinham algum tipo de impedimento para o casamento e mesmo assim viviam juntos, aquelas pessoas como
Chico Buarque e Marieta Severo, que não queriam se casar porque achavam o casamento uma instituição
burguesa e concubinato era também para aquelas pessoas que já eram casadas e que tinham uma relação
paralela, e isto o que é hoje conhecido como concubinato. Então o que aconteceu? Houve a separação do
que é concubinato mesmo, que são aquelas pessoas que são casadas e têm uma relação paralela das
pessoas que têm impedimento, separando também daquelas outras pessoas que até podem casar, mas não
querem. Então, criou-se uma terceira categoria chamada união estável, que não é nem casamento e nem é
concubinato. Então, o que caracteriza a união estável, via de regra e embora tenha exceções, é que as
pessoas que estão em união estável podem se casar, embora existam exceções, as pessoas que estão em
união estável podem se casar e não se casam por uma opção. E aí o que fez o legislador? Criou para a união
estável uma estrutura legislativa que em alguns pontos se assemelha a estrutura do casamento, e em
outros pontos se difere com o casamentos. Muitos discutem se a união estável foi equiparada a casamento
pela CF/88. Essa discussão se revela mais ou menos resolvida na medida em que se união estável tivesse
sido equiparada a casamento todos os direitos do casamento seriam aplicados na união estável e nem
todas as regras do casamento são aplicáveis à união estável. Essa relação histórica é fundamental porque
ela traz esses conceitos todos de diferença entre concubinato e união estável.

2. Conceito e configuração da união estável

Dentro do estudo das normas da união estável propriamente dita, a gente tem o primeiro artigo que é o
artigo 1723 que vai ter o conceito de união estável e a configuração e os requisitos para a configuração da
união estável. Artigo 1723 – É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.

§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a
incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.

§ 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.

Então, nós temos o conceito. O que que é união estável? É a relação entre um homem e uma mulher,
caracterizada por uma convivência pública, contínua e duradoura com o objetivo de constituir família. Mas
tem uma coisa importante, lá atrás no histórico nós tínhamos visto que em 2011 o STF (galera, é muito
importante a gente ter isso em mente, STF, CNJ, CJF são siglas que ás vezes confundem. STF todo mundo
sabe o que é, CNJ também e CJF é Conselho da Justiça Federal) nesse caso foi o STF foi quem disse que esse
artigo 1723 nessa parte que fala “homem e mulher” era inconstitucional, então a decisão do STF declarar
inconstitucional a parte do artigo 1723 que fala em união estável heterossexual, porque na verdade a união
estável pode ser estabelecida por dois homens, por duas mulheres e por casal heterossexual. E embora
este conceito de união estável por casal heterossexual constar da norma é algo que foi superado pela
decisão do DTF. Então, para você conceituar união estável hoje você tem que tomar cuidado, por quê?
Porque a norma diz que é a união entre homem e mulher, a própria CF/88 vai dizer que isto também é
entre homem e uma mulher, mas o STF disse que conceitualmente não existe mais essa limitação para a
união estável. Então união estável seria: a união entre duas pessoas... Se você usar essa expressão sem
caracterização de gênero você melhora o conceito. A parte de convivência: conviver significa conviver em
conjunto, viver junto. Convivência pública, contínua e duradoura significa isso? Convivência pública não
significa que você tem que declarar isso em algum lugar, não é preciso para caracterizar a união estável a
declaração pública disso, não precisa de nenhum ato formal publicado em jornal, essa convivência pública
significa que as pessoas do convívio saibam. Então, quando eu falo publicamente eu penso: minha família
sabe que eu estou em união estável? As pessoas que trabalham comigo? As pessoas que estudam comigo
na faculdade sabem? Convivência pública no sentido de que no meio social em que as partes vivem existe o
reconhecimento deste vínculo/desta formação familiar. A gente brinca que o porteiro do prédio é a maior
testemunha nesses casos (kkkkkk), na união estável você precisa de um reconhecimento familiar/social.
Contínua e duradoura: quer dizer que a lei acabou com aqueles prazos que apareceram no nosso
ordenamento em 1994 na lei 8971, que falava em cinco anos ou ter filhos, o CC/2002 substituiu isso por
duas expressões: convivência contínua e duradoura e por que ele faz isso? Para permitir ao juiz que no caso
concreto dimensionar, caso a caso, procurando atuar com uma justiça mais específica do que com a coisa
genérica, porque imagine se prevalecesse a ideia dos cinco anos e com 4 anos e 11 meses o companheiro
diz que “acabou” ... Poxa, durante 4 anos e 11 meses, porque não foram 5 anos não se configura a união
estável. Então, isso seria algo muito injusto, e essa ideia de continua e duradoura é uma ideia que nós
traduzimos como conceitos abertos que são aplicáveis ao direito civil, permitindo ao juiz uma variação no
caso concreto, a união estável por de ter, por exemplo, 1 mês, 2 meses e por ai vai e o juiz vai avaliar nos
conceitos da publicidade e constituir família. Aqui é o mais complicado, porque essa ideia de constituir
família revela o animus, de uma intenção, e a intenção pode ser diferente para um dos companheiros. Por
ser, por exemplo, ela tem uma intenção e ele não, ou vice-versa, aqui é muito difícil avaliar o pensamento
que um dos dois ou os dois deveriam ter para constituir família, até porque o conceito de constituir família
é muito genérico, porque para uns constituir família é ter filhos, para outros é viver como se fossem
casados. Nesse contexto é que surgiu uma decisão importantíssima do STJ que fala de namoro qualificado.
O STJ analisa a seguinte questão: casal de namorados no Brasil, namorados mesmo, muda-se pra o exterior.
Ele vai trabalhar na empresa dele e ela vai estudar porque conseguiu uma bolsa de estudos na mesma
cidade em que o namorado foi trabalhar, isso em Madri. Por uma questão de conveniência econômica eles
vão morar juntos e não por uma intenção necessariamente de construírem uma união estável, os dois
morando no exterior, namorados e dividem a mesma casa. Nesse período em que eles vão morar fora, ele
compra um apartamento aqui no Brasil. Eles voltam para o Brasil, acabam com o relacionamento e ela diz:
a gente morava junto no exterior, a gente vivia junto, tínhamos uma relação pública, continua e duradoura
com o intuito de construir família e quero, portanto, os efeitos patrimoniais dessa convivência. Ele
comprou um apartamento durante a nossa relação e quero metade desse apartamento. Esse processo foi
Rio de Janeiro, Brasília - STJ e o STJ diz: não ficou caracterizado da parte do companheiro o objetivo de
construir família, eles foram mais por uma conveniência de estudo e economia financeira do que com o
objetivo de constituir família, ao menos da parte dele e o que havia era um namoro qualificado, qualificado
pela convivência, mas não teve objetivo de constituir família. E isso é interessante porque a jurisprudência
tem modificado substancialmente, então a gente hoje fala que para o STJ não basta morar junto para
constituir união estável, é preciso mais, é preciso caracterizar evidentemente esse objetivo de constituir
família, esse animus e isso nem sempre é fácil de se caracterizar. A ação típica é: reconhecimento de união
estável cumulada com dissolução e partilha de bens, então essa é a ação típica de união estável; eu preciso
de uma ação típica de reconhecimento e então até aqui eu tenho uma ação declaratória, eu preciso que o
juiz declare que havia união estável e depois decreto a dissolução e partilha de bens e essa é a ação típica. E
nessa ação, se for numa relação heterossexual, a autora é estatisticamente em maioria a mulher. Porque é
assim: a mulher chega e diz que é casada, mas não é casada de papel passado. Na hora que ela diz essa
frase ela está dizendo que viveu com esse cara por um determinado tempo, construiu um determinado
patrimônio e esse cara a deixou e ela vai querer o quê? Ela vai querer o reconhecimento da união estável, a
dissolução e eventual partilha de bens. Isso é absolutamente típico, sobretudo em um estado como a Bahia
onde nós temos 50% do casais vivendo em união estável. Em algumas classes sociais, como na classe social
menos abastada financeiramente, o casamento aparece menos do que o casamento. A título de
curiosidade, nos EUA e na Europa a união estável é considerada como união de fato e serve como um test
drive para ver se casam ou não e tendem a durar menos do que no Brasil e não têm os efeitos que teriam
aqui no Brasil, como os efeitos sociais e patrimoniais. Nesse sentido é que se diz que a união estável seria
uma espécie de contrato, já que eu tenho essa possibilidade, já que é um ato que envolver as vontades e
então seria uma espécie de contrato. Se é contrato ele vai ter regras específicas que se aplica também
regras gerais, como inclusive, a ideia que é parte da prova de vocês que o artigo 104 do CC/2002, porque
para um negócio jurídico ser válido exige agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou
determinável e forma prescrita ou não defesa em lei. Uma das maiores discussões que nós temos hoje é
por exemplo, no direito de família, mas derivado na parte geral, é essa história de agente capaz. Afinal de
contas quem tem menos de 16 anos pode fazer um negócio jurídico com validade? A tendência, já que não
tem uma regra específica, é aplicar a regra geral. Qualquer negócio jurídico tem que passar por esse
artigo!!!

Aí vem dentro dessa perspectiva de configuração o parágrafo primeiro e diz assim:

§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a
incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.

Então, quem está impedido de casar, teoricamente, está impedido de ter união estável, salvo, nas
hipóteses do 1521, inciso VI no caso da pessoa casada se achar separara de fato ou judicialmente. Então,
por exemplo, quem é casado não pode casar, eu sou casado e não posso ter uma união estável com uma
outra mulher e eu estou impedido de casar com essa mulher, a não ser que nesse meu casamento eu esteja
separado judicialmente, teve um processo, o juiz já julgou e aí eu posso ter essa união estável. Ou mais
complicado: se eu já estiver separado de fato de minha esposa e eu já posso ter a união estável. O
problema é: separar de fato. Eu posso dizer: briguei com minha esposa, sai de casa, já estou separado de
fato? É exagero. Como aquele meu amigo que é advogado, saia com a estagiária, a esposa descobriu, e logo
no primeiro dia em a esposa descobriu, ele saiu de casa, foi morar com a estagiária, falou com os pais dela.
É complicado o cara sair da separação de fato e já partir para a união estável. É uma das coisas mais difíceis
porque você junta o elemento extremamente difícil de caracterizar que a separação de fato, com outro que
é extremamente difícil de caracterizar que é essa intenção de constituir família. Então, as maiores
dificuldades acontecem quando você tem uma pessoa casada, normalmente homem, que está separado de
fato e ao mesmo tempo já está com essa intenção de constituir família. Esses dados são muito difíceis de
serem caracterizados, a não ser que a separação de fato seja longa e a gente na Bahia tem um elemento
curioso que reforça essa dificuldade que é o efeito Planserv. Que que é o efeito Planserv? O Planserv é o
plano de saúde dos funcionários públicos do estado da Bahia e ele tem como característica o fato de que,
digamos: o funcionário público casado paga para o plano (o plano custaria R$300) 150 reais e os outros 150
reais saem do Estado. Então, o estado da Bahia responde por boa parte do valor da mensalidade do
Planserv. Se esse cara que é funcionário público se divorcia dessa mulher, ela perde o direito ao Planserv.
Se esse cara se separa judicialmente, essa mulher perde o direito ao Planserv. O que acontece com muitos
funcionários públicos da Bahia é que eles não se divorciam, eles não se separam judicialmente, eles se
separam de fato. E aí vão convier com outra mulher, em uma união estável e ele consegue colocar essa
mulher, com quem convive em união estável, como beneficiaria do plano. É uma das grandes discussões se
o Estado está obrigado a pagar por duas, porque parte do dinheiro é dinheiro público e não somente do
Estado. A lógica é que se o plano fosse inteiramente pago pelo funcionário era problema dele, o plano que
aceitasse, mas boa parte do plano é pago pelo Estado e portanto nesse caso em concreto é um problema
público, porque o Estado está obrigado a pagar por duas mulheres e portanto três beneficiários do plano
com metade do dinheiro pago pelo Estado, que é dinheiro público. E muitos usam o efeito Planserv como
moeda de troca para não se divorciarem ou separarem judicialmente e assim pagarem pensão alimentícia,
porque continuando casados ela terá os benefícios do plano de saúde. E se esse funcionário público morrer
nós temos a questão da previdência, quem fica com a aposentadoria? Porque eu tenho duas pessoas: a
esposa e a companheira. Esposa porque não se divorciou ou separou judicialmente, embora esteja
separado de fato e companheira porque vivia em união estável e nesse caso, muitas vezes, a previdência
decreta a divisão por dois. Se ele tivesse se divorciado da esposa e vivesse em união estável com a segunda
mulher, 100% da aposentadoria iria para a segunda mulher. Outra situação: em 2009, A (funcionário
público) casado e convivendo com B (A tinha um casamento normal com B). Mas A durante 20 anos teve
uma relação com C e C sabia de B e isso é concubinato, não pode casar e não pode ter união estável porque
A&B não estavam separados de fato e nem judicialmente. A morreu! B chega para o Estado e diz que é a
viúva e mostra a certidão de casamento e o Estado começa a pagar para ela 100% do benefício da pensão
por morte. C entra na justiça depois de primeira instância e TJ e depois de 4 anos de processo e o TJ diz: de
fato, certo ou errado, bem ou mal, C vivia com A em união estável e o TJ/BA mandou pagar para C 50% e B
ficar com 50%. Só que faziam quatro anos de processo, aí mandou pagar para C retroativamente. B
devolve? Não, como não tem caráter alimentício a outra parte não tem que devolver. Esse processo vai
para o STJ, STF, e o STF depois de uns 10 anos de processo diz: negativo! Se eu reconheço essa situação a
uma relação paralela eu ofendo o princípio da monogamia, ou seja, para o STF há o princípio da
monogamia e eu não posso reconhecer essas relações simultâneas. B sabia de C e por que ela não se
divorciou? Pera lá, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei. Ninguém é
obrigado a se divorciar. Outra situação: aquelas três mulheres que assinaram uma escritura pública
reconhecendo a união estável? Essa escritura pública não vale por causa do princípio da monogamia, essa
escritura é um contrato particular sem efeitos de união estável, sem efeitos erga omnes. Ah, mas a
escritura foi registrada. Escritura não é registro. Escritura é escritura e portanto cartório de notas. Registro
é cartório de registro e portanto atos diferentes.

§2º - As causas suspensivas não impedirão a caracterização da união estável. Esse parágrafo é horrível
porque causas. Fico viúvo, antes de me casar com outra mulher preciso fazer um inventário dos bens da
minha esposa e dar a parte que cabe às minhas filhas. O homem de 70 anos que vai casar tem a
obrigatoriedade do regime de separação de bens, já na união estável não há isso.

Esse parágrafo é horrível por causa suspensiva não impede a caracterização do casamento. Causa
suspensiva faz com que o casamento seja no regime de separação. A causa suspensiva não tem nada a ver
com impedimento, causa suspensiva tem a ver com regime de separação de bens. Então, aqui a grande
questão é: eu não aplico as causas suspensivas à união estável? Em tese, não. Imagine o seguinte: fico viúvo
e antes de me casar com outra mulher eu preciso fazer um inventário dos bens da minha esposa e dar às
minhas filhas o que delas é de direito. Se eu quiser casar logo antes de fazer isso eu tenho que casar com o
regime de separação de bens. Os filhos estão mais protegidos no casamento do que na união estável. Outro
exemplo: um homem de 70 anos que vai casar só pode casar em regime de separação de bens,
obrigatoriamente, mas se ele for viver em união estável, a separação de bens não é obrigatória. Então,
nesse caso a gente mostra que união estável não é igual a casamento. O STJ tem apresentando algumas
decisões no sentido de dizer que no caso de união estável de pessoas com mais de 70 anos aplica-se
obrigatoriamente a separação de bens. Não é uma jurisprudência consolidada, existem alguns precedentes.
3. Efeitos pessoais

Artigo 1724 – As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e
assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.

Esse artigo1724 é uma espécie de espelho do 1566. Se eu colocar lá para o casamento, ao invés de lealdade
eu tenho fidelidade, respeito eu tenho no casamento, assistência eu tenho no casamento, sustento, guarda
e educação eu tenho no casamento, o que vai ter a mais no casamento? No casamento vai ter a mais a vida
em comum no domicílio conjugal e isso quer dizer que na união estável não existe a obrigação da vida em
comum no domicilio conjugal? Colani diz que não existe, mas veja só, como eu vou caracterizar essa
convivência se não estiver morando na mesma casa? É possível? É, Mas é muito mais difícil você provar
união estável em casas separadas. Agora casamento em casas em casas separadas, mesmo com esses
deveres, eu tenho a possibilidade. Muitos casais moram em casas separadas e são casados. Aí existe uma
diferença em ser um dever, ser um efeito pessoal e ser ou não um elemento de caracterização. Na verdade,
esses deveres de vida em comum no domicílio conjugal são conceitos bem abertos porque cada casal tem a
sua liberdade, mesmo que não estejam no efeito pessoal da união estável, ele está dentro do seu conceito
e está dentro da ideia de convivência e está dentro de uma disponibilidade que as pessoas têm de viver
junto ou não, estando ou não casados, estando ou não em união estável. É a diferença que nós chamamos
de norma cogente e norma dispositiva. O casal tem o direito de escolher se vão viver junto, seja no
casamento ou seja na união estável. Acontece que na união estável se não estiver morando junto fica mais
difícil você provar que havia a intenção de constituir família, vai parecer mais um namoro do que uma
união estável

Recentemente o STJ também analisou a questão da lealdade da união estável contrapondo a fidelidade no
casamento. De fato a lei usou palavras diferentes como se dissesse que na união estável é preciso haver
lealdade e no casamento fidelidade. Agora pare para pensar: existe mesmo essa diferença? O STJ disse que
é jogo de palavras. Claro que na união estável é preciso ser fiel e claro que no casamento é preciso ser leal,
tanto é assim que fidelidade e lealdade irão variar de casal para casal. Então, o STJ disse que efetivamente
não existe essa diferença entre os conceitos de fidelidade e lealdade, ainda que a lei tenha estabelecido
assim. De forma que na união estável eu devo ser fiel, e esse fiel depende de cada casal em consenso e no
casamento eu preciso eu preciso ser leal e o que significa lealdade e fidelidade? As definições estão dentro
do contexto da relatividade dos efeitos do contrato, porque o contrato faz efeito entre as partes.

4. Efeitos patrimoniais

O problema do regime de bens na união estável aqui!!! Diz o artigo 1725 –Na união estável, salvo contrato
escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão
parcial de bens. E a gente tem aqui vários problemas. Primeira coisa que a gente tem é “salvo contrato
escrito”, porque se a gente for para o artigo 104, inciso III do CC/2002 há que é requisito de validade do
negócio jurídico forma prescrita ou não defesa em lei, quando eu tenho essa expressão” salvo contrato”
significa que eu estou estabelecendo uma forma prescrita, uma forma especifica, uma forma que deve ser
adotada para que se caracterize aquele contrato de regime de bens, não união estável. Não precisa ter um
contrato para caracterizar uma união estável, precisaria de um contrato para caracterizar o regime que não
seja a comunhão parcial, e então se eu quiser outro regime que não seja o da comunhão parcial ai eu
preciso de um contrato escrito e se eu não fizer o contrato escrito eu estou aceitando a comunhão parcial.
Isso é uma sacanagem, por que? Quem começa uma união estável pedindo para começar uma união
estável? Ninguém!! No casamento, na fase de habilitação, o casal escolhe o regime de bens, aqui não, o
casal nem sabe que já está na comunhão parcial. Os litígios em união estável são quase todos em função de
comunhão de bens, se não houvesse isso não haveria conflito, seria muito mais fácil de ser resolvido. Colani
defende que acabe em definitivo com o regime de comunhão parcial no casamento e acabe com o regime
de comunhão parcial, desse jeito, na união estável. Quem quiser comunhão parcial que faça um contrato,
que escolha, deveria começar todo mundo com a separação de bens. Exemplo: no casamento eu sei de
forma razoavelmente certa qual é o termo inicial, a pessoa se casa no dia 10 de outubro de 2010. Casou
nessa data, começou o regime de bens. Ficaram casados até o dia 10 de outubro de 2015 o que aconteceu?
Nesse período entre o termo inicial e o termo final eu aplico o regime que foi aplicado, porque eu sei
quando começou e acabou. E na união estável quando é o termo inicial? Não existe. A não ser que o casal
faça um documento, uma escritura, dizendo que começaram em tal data. Caso verídico: uma cliente minha
com 30 anos de idade passa em concurso público om remuneração de 23 mil reais, se envolve com um cara
de 58 anos, divorciado, filhos do primeiro casamento e com salário de 9 mil reais e paga pensão para os
filhos. Eles vivem em união estável e não fizeram contrato. Com um ano de trabalho ela comprou um
apartamento para o pai no valor de 200 mil e com mais quatro anos ela comprou outro apartamento de
600 mil. Eles acabaram a relação e o que ele quis? 400 mil reais. Ela então diz que quando ela comprou o
primeiro apartamento eles não estavam em união estável, era apenas um namoro, mas depois eles
estavam sim em união estável e nessa condição o que acontece? Se toda união estável começasse com a
separação de bens não haveria isso. E ao invés de ele receber 400 mil, ela deu a ele o equivalente a 250 mil
reais. Como ela fez isso? Ela refinanciou o 2º apartamento que já estava quitado e deu pra ele o dinheiro. O
legislador tem que pôr os pés no chão porque ninguém começa uma união estável assinando um contrato,
começa com uma situação de fato e depois é que vai pensar. E ainda tem uma dúvida: você começou uma
união estável em 2010 e assinou um contrato hoje, dia 10 de novembro de 2015, isso pode, mas pode
retroagir os efeitos desse contrato? Ou ele vale daqui pra frente? Aí nós temos uma grande dúvida: quando
nós vamos para o casamento e quero alterar o regime de bens, eu não posso retroagir, quando eu altero o
regime de bens no casamento ele faz efeitos a partir do momento da alteração, mas na união estável não
tem previsão e então? Pode retroagir ou não? Dois pensamentos diferentes: um diz que pode e o outro diz
que não. Quem diz que não pode retroagir vai pensar porque no casamento não pode retroagir e quem
pensa que pode retroagir vai pensar assim porque não tem norma específica e se não tem norma específica
aplica-se a norma geral e a norma geral é que direitos patrimoniais disponíveis podem ser objeto de
transação. Direito patrimonial é disponível porque o patrimônio que é o direito à propriedade pode ser
objeto de uma renúncia, eu tenho direito de renunciar/dispor a minha propriedade. Então, se eu estiver
com minha companheira “dispondo” dos meus direitos à comunhão parcial, eu estou renunciando um
direito patrimonial disponível. Então, se o casal fizer um contrato dizendo EXPRESSAMENTE que ambos
declaram que vai retroagir aquele regime, renunciando a eventuais direitos, você pode fazer a
retroatividade. Agora se nada for dito nesse sentido, de fato, não pode retroagir. Caso concreto:
Marcelinho Carioca, ex jogador de futebol, vivia em união estável com uma mulher e se não tinha contrato
o regime era de comunhão parcial. Ele decide fazer um regime de separação retroativa e ela não concorda,
ele então propõe fazer um contrato com a separação de bens a partir de agora e ela concorda. Versão dela:
que ele passou uma minuta de uma escritura pública que foi passada a ela durante uma festa onde não
havia a retroatividade, ou seja, o regime de separação teria efeito dali para frente, ela viu a minuta, se
vestiu de noiva, aí Marcelinho trocou as minutas na medida em que ela assinou o direito de retroagir e ela
entrou com processo de dolo e fraude na área criminal e cível. P.S.: a união estável tem o viés de ser algo
temporário e não duradouro, mas é isso que que acontece e o que é ruim, deveria mudar a lei. Outro caso:
A é homem e B a mulher. Ela com muita grana, fazendas, imóveis. Fazenda gera safra, safra são frutos e
frutos se comunicam, então a fazenda não se comunicava com o cara, mas os frutos sim. Ela com 65 anos e
ele com 40 anos, ela com muita grana e ele pobre. Se ela com o sujeito? Ela casaria em regime de
separação de bens, perfeitamente, o cara não tem meação, mas vai ter herança, ela tem três filhos mais o
cara, a herança seria dividida por quatro. A herança poderia até valer muito mais, porque meação é o que
vai ser construído. O que a gente recomendou? Não se casar, ficar em união estável, fazer o contrato de
separação e o cara não tem meação. E na união estável pode ser excluído da herança porque ele não é
herdeiro necessário. Herdeiro necessário é aquele que tem parte à legitima. Quem são os herdeiros
necessários? Ascendentes, descendentes e cônjuges. E cônjuge é diferente de companheiro, então, ela
ficou em união estável, separação de bens para não ter meação. Ele não é herdeiro necessário e nós
fizemos um testamento excluindo-o, porque ela deixou um testamento deixando o patrimônio para os três
filhos.

Está rolando no STF equiparar 100% a união estável com o casamento para fins sucessórios, equiparar em
todos os artigos, equiparando companheiro como cônjuge, inclusive colocando companheiro como
herdeiro necessário. Colani acha muito complicado tudo isso.

5. Conversão da união estável em casamento

Artigo 1726 – A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao
juiz e assento no Registro Civil.

Claro, se vai casar o casamento é registrado. Agora “pedido ao juiz”, a gente aprende que pedido ao juiz em
processo civil é uma petição inicial, então se eu estou em união estável e CF/88 diz que a lei deve facilitar a
conversão da união estável em casamento. Se eu estou em união estável e quero me casar, eu devo fazer
uma petição inicial. E quando o legislador falou “pedido ao juiz” criou-se uma confusão porque pedido é
uma petição inicial e não está facilitando nada. E demorou uns 8 anos para o estados perceberem como
funciona isso. A competência para quem eu vou pedir, judicialmente, é atribuída pela lei de organização
judiciária e cada estado tem a sua, por exemplo: o estado da Bahia diz que vai ter número x de varas de
família e por ai vai. Essa lei de organização judiciária define para qual juiz vai o meu pedido de conversão de
união estável em casamento. Uma aluna minha pediu para uma amiga que vivia em união estável pedir a
conversão da união estável em casamento, como experimento para a sua monografia, como não sabia a
quem pedir, a amiga dela encaminhou o pedido para o presidente do TJ/BA. Então, a Bahia não tinha lei, o
pedido da amiga da minha aluna caiu nas mãos de um juiz das varas de família, ele disse que não tinha
competência para isso porque a competência dele estava descrita na lei de organização judiciária e lá
estava a competência para converter a união estável em casamento. E ai declina-se para as varas de
registros público e elas dizem que não são competentes e devolvem ao TJ/BA. Ai o TJ/BA chama Pablo
Stolze e ele analisa que o os outros juízes fizeram: não é um pedido jurisdicional, não é uma petição inicial,
é um pedido genérico de casamento como é feito nas habilitações de casamento. Chega um casal solteiro lá
no cartório de registro civil, ele está fazendo um pedido ao juiz, mas é o juiz no sentido administrativo e
não no sentido processual. E eles fizeram o que era óbvio, na Bahia e em outros estados, o pedido de
conversão da união estável em casamento o tornaram similar a um pedido de habilitação para o
casamento. Eu chego no cartório e quero me casar, você é solteiro e sua mulher é solteira? Sim, então
habilitação, celebração e casório. Ah, mas eu já vivo em união estável! Mais fácil ainda. As testemunhas não
dirão que vocês não têm impedimentos apenas, elas dirão que vocês não têm impedimento porque já
vivem em união estável e aí vai ser dispensada a celebração, vai ser dispensado o edital. Então esse pedido
aqui é um pedido ao juiz mas dirigido ao cartório de registro civil, onde é feita a habilitação e a habilitação é
específica em cada estado, porque cada estado tem a sua regra.
6. Concubinato

Artigo 1727 – As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem
concubinato.

Concubinato é uma relação que não é eventual, por exemplo: sai com uma mulher hoje, sou casado, nunca
mais sai com ela, isso não é concubinato. Adultério e infidelidade não são concubinato. Nem todo adultério
é concubinato e todo concubinato é adultério. Concubinato não é uma relação eventual, é uma relação
constante de pessoas impedidas de casar. Impedidos de casar são todos os casos do artigo 1521, então, um
homem viveria em concubinato com a sogra, por exemplo. O concubinato acaba atingindo duas categorias
diferentes: tem o concubinato chamado adulterino, que é o clássico do homem casado e que tem uma
amante fixa, e tem o concubinato não adulterino, que são essas outras situações de pessoas que não são
casadas. Alguns autores usam a expressão concubinato puro e concubinato impuro. Colani acha a
expressão impura meio exagerada!!! Colani prefere concubinato adulterino e não adulterino. O grande
problema está nos efeitos, a lei fala o que é concubinato adulterino e não adulterino e não fala sobre os
efeitos pessoais e patrimoniais e então discute-se nesse concubinato se a união poli afetiva seria um
concubinato ou uma união estável com mais de uma pessoa e essa é a grande discussão atualmente. Se
união estável pode acontecer entre mais de duas pessoas, que aí seria uma união estável poli afetiva ou se
essa união entre mais de duas pessoas seria um concubinato e portanto não haveria efeitos como da
previdência, sucessórios, alimentícios... Efeitos que aplicam-se à união estável.

PARENTESCO

1. Conceito

Parentesco é uma relação jurídica que une duas ou mais pessoas pelos laços da consanguinidade, da
afinidade, da adoção, ou da afetividade. E nós temos aqui os quatro tipos de parentesco.

2. Tipos

Consanguíneo/Natural: o parentesco consanguíneo também chamado de parentesco natural. Esse


parentesco é próprio de uma situação biológica. Biologicamente todos os seres vertebrados, mamíferos,
necessariamente vêm de uma relação assexuada onde você tem um pai e uma mãe e com isso você
estabelece biologicamente uma relação com esses seres que são seu pai e sua mãe, então nós somos
parentes de nossos pais e de outras pessoas que consanguineamente falando estão mais próximas de nós e
claro que esse parentesco pode ser muito extenso e é muito provável que nós aqui sejamos parentes uns
dos outros mesmo que nós nem saibamos. Claro que nem todos os parentes consanguíneos,
necessariamente, serão parentes juridicamente. A lei vai limitar esse parentesco consanguíneo até o 4º
grau na linha colateral.

Afinidade: parentesco por afinidade é aquele decorrente do casamento ou da união estável. Se eu me caso
eu sou parente da mãe da minha esposa e nós temos isso em decorrência dos efeitos sociais do casamento
e em relação àquela parte de impedimentos que não permite que eu me case com a minha sogra.

Adoção: parentesco por adoção é um tipo de parentesco que não se confunde com os demais, ele tem uma
forma de ser estabelecida diferenciada e a gente não estuda mais em direito civil, é estudado na matéria de
ECA.
Afetividade (parentesco socioafetivo): não se confunde com afinidade, afinidade de afeto. O parentesco
por afetividade não está expresso na lei, ele foi incorporado pelo costume. Houve uma assertiva do ENADE
2005 que dizia que as formas de parentesco no sistema jurídico brasileiro são e puseram essas quatro
supracitadas. No sistema a afetividade está presente, na lei não tem afetividade. E qual a diferença em você
falar no sistema e na lei? A lei é mais restrita e o sistema é mais amplo. E a afetividade não tendo na lei
você a estuda na doutrina e na jurisprudência. Grandes problemas na aplicação da afetividade, exemplo: A
casada com B, dois filhos morando na capital já formados exercendo suas profissões. O A morre! B viúva
chama para viver com ela uma sobrinha, afilhada dela, filha de uma irmã que não tem as mesmas
condições econômicas que ela tem e essa família é muito rica e a viúva para ficar sozinha chama a afilhada
para viver com ela. A afilhada morou com a madrinha 10 anos. E de repente a madrinha morre, abre o
inventário, uma coisa relativamente simples, mas a afilhada diz que a madrinha tinha para com ela uma
relação de mãe para com filha. Um afeto, uma relação de afetividade e tinha um direito de fato sobre o
dinheiro, a noção de posse do estado de filho, e por analogia a afilhada queria ser considerada como filha e
então dividir a herança não por dois, mas sim por três. Naturalmente, se os dois filhos reconhecessem que
a prima tinha de fato uma relação de filiação com a mãe deles a herança seria dividida por três. Isso não
aconteceu, porque os filhos disseram que a mãe ajudou a prima e não havia uma relação de filiação.

Quando eu tenho a pessoa viva fica mais fácil, mas como a mulher morreu, não deixou nenhum tipo de
documento, não adotou a sobrinha, fica mais difícil de provar e quem alega tem que provar, o ônus da
prova é de quem alega. E então não é uma coisa simples como muitos acham!

Há uma coisa interessante no artigo 1593. Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de
consanguinidade ou outra origem. O parentesco é natural quando resulta de consanguinidade e é civil
quando resulta de outras origens e essas outras três origens: afinidade, adoção e afetividade são chamadas
de parentescos civis. Parentesco civil é aquele que nasce de um ato legal. Quatro formas de parentesco e
uma forma muito complicada que é o parentesco por afetividade. Por exemplo: eu sou rico, tenho filhos e
trato meu afilhado da mesma forma que trato os meus filhos, isso faz do meu afilhado herdeiro?
Complicado! Mas se eu tenho um parentesco por afetividade reconhecido, isso faz com que o indivíduo
herde dos pais biológicos e herde também desse parentesco por afetividade e entra no conceito de
multiparentalidade. Caso concreto: um médico super conceituado, tem dois filhos, mas ele sempre cuidou
de uma criança que tem os pais dela. Todo mundo da família adorava a criança e ela foi crescendo. Se o
médico adota ele rompe com a relação biológica e a criança não tinha motivos para isso porque os pais só
eram pobres, mas davam todo o carinho e os pais frequentavam a casa do médico e o que foi feito? Foi
feito o registro deles como pais sem desfazer a relação biológica = multiparentalidade.

E se meu pai adotou uma criança, eu tenho como impedir isso? Não, vai ser mais um pra dividir a herança.

3. Contagem de linhas e graus

Artigo 1591 – São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de
ascendentes e descendentes. Linha reta só pode ser em ascendentes ou descendentes. Quem gosta de
anotar é fácil: linha ascendente pra cima, meu pai, minha mãe, meu avô, minha avó, meu bisavô, minha
bisavó, meu trisavô, minha trisavó. Para baixo: meu filho, minha filha, meu neto, minha neta, meu bisneto,
minha bisneta, meu trineto, minha trineta.

Artigo 1592 – São parentes em linha colateral ou transversal (isso daqui de transversal é uma das maiores
sacanagens que existe na lei. A lei brasileira tem essa mania. Ele fala: são parentes em linha colateral ou
transversal... então quando você cria dois nomes para a mesma coisa você cria uma grande confusão), até
o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra. Colateral e
transversal e oblíqua são sinônimos. São parentes em linha colateral ou transversal ou oblíqua, até o quarto
grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra. Velho, se não descendem
uma da outra é porque não é linha reta. A gente memoriza de duas formas: ou é linha reta ou é colateral.
Para ser linha reta tem que descender uma da outra, se não descender uma outra é linha colateral.
Exemplo: eu e meu irmão Eugênio. Eu descendo de Eugênio? Ele descende de mim? Não, mas ele é meu
parente, se não é na linha reta é na linha colateral. Na linha reta é mais fácil, porque ou é pai ou é filho ou é
avô ou é neto. Se não é linha reta é linha colateral. Na linha colateral essas duas pessoas vão possuir um
parente comum. Um ascendente comum. Eu não descendo de meu irmão, mas nós dois descendemos da
mesma pessoa: a minha mãe. Pego minha mãe, minha mãe é parente em linha reta? É. É parente em linha
reta do meu irmão? É. Então, sempre entre dois parentes colaterais haverá um ascendente que é comum
aos dois. Eu e meu sobrinho Luiz Gustavo, ele é meu filho? Não. Ele é meu pai? Não, então não somos
parentes em linha reta. Luiz Gustavo é neto de meu pai, todo sobrinho é neto do pai do tio, então meu pai
é ascendente de meu sobrinho e meu pai é meu ascendente. Claro que vai acontecer uma coisa curiosa:
minha filha e eu somos parentes na linha reta de meu avô. Meu avô é meu avô e bisavô de minha filha. Mas
minha filha vai ter uma coisa que meu sobrinho não tem, minha filha descende de mim. Entre parentes de
linha reta vai ter também um ascendente comum. Alcino é meu pai, Helena é minha filha, Alcino vai ser
ascendente meu e dela. Mas por que ela não é minha colateral? Porque ela descende de mim. Agora se eu
pegar Gustavo, Ana Letícia... Ana Letícia é minha irmã, nós dois temos um ascendente em comum. Eu e Ana
Letícia temos um ascendente em comum. Quem é colateral? São duas pessoas, por exemplo, Ana Letícia e
Helena que têm um ascendente em comum sem descenderem um do outro. Só tem um jeito de aprender
isso: fazendo a árvore genealógica de vocês!!! Duas linhas existem no direito: linha reta e linha colateral, a
linha colateral vai até o 4º grau e a linha reta não tem limites, “limites”, porque raramente você vê tetravô
em vida.

Artigo 1593 – O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem.
Artigo 1594 – Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral,
também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até
encontrar o outro parente.

Esqueçam essa confusão que o CC/2002 faz. Como eu faço a contagem? Eu tenho que procurar o
ascendente o comum. E então vamos fazer a minha árvore genealógica. Vou pegar meu lado materno: vou
pegar Camilo (0), zero porque todo mundo vai aparecer em minha função. Vamos pegar Gabriela, Gabriela
é minha filha. Nair é minha mãe. Maria é minha avó. Brasilina é minha bisavó e todo mundo aqui é linha
reta, porque todos são ascendentes ou descendentes. Um grau pra cada um, um grau para minha mãe e
um grau para minha filha. Dois graus para minha avó, três para a minha bisavó. Vamos imaginar que eu
tenho aqui uma irmã aqui, Raquel. Eu não posso simplesmente contar um grau para a minha irmã, eu tenho
que primeiro ir na minha mãe e a minha irmã passa a ser dois graus, dois graus mas na linha colateral. Por
que linha colateral? Porque eu não descendo de Raquel e Raquel não descende de mim. Se eu tenho filhos
com a minha mãe esses filhos seriam ao mesmo tempo meus filhos e meus irmãos, veja que confusão!!! A
minha irmã tem uma menina que se chama Júlia, Júlia é minha sobrinha. Júlia terceiro grau. Como eu faço a
contagem? Eu pego o ascendente que é comum. Minha mãe é ao mesmo tempo minha ascendente por ser
minha mãe e é avó de Júlia, minha mãe é uma ascendente comum a mim, a Raquel e à própria Júlia. Seu eu
contasse até Gabriel seriam quatro graus. Um eventual filho de Gabriela seria meu neto, já não seria de
Júlia, 5º grau já não é parente porque colateral só vai até o 4º grau. Vamos pegar aqui: José Carlos, José
Carlos é meu tio, 1 grau pra minha mãe, 2 graus para minha avó e três graus para o meu tio. Aline é minha
prima, 4 graus, mas em relação a minha família serão cinco graus e aí já não é parente jurídico, entra aqui o
critério mais por afeto. Esqueçam a contagem familiar. Lembrem da contagem jurídica!! O filho da minha
prima seria parente em 5º grau, pela lei já não é, mas você até pode considerar.

Vamos pensar aqui: Tio Núncio é meu tio-avô, irmão da minha avó, quem é ascendente comum? A minha
bisavó que é a mãe dele. Então eu tenho que ir até a minha bisavó que é a mãe dele. Bisavô é quarto grau.
A filha de meu tio-avô, Rosângela, que que ela é minha? Nada, porque é 5º grau. Ela é prima da minha mãe.

Esse artigo é o artigo da afinidade:

Artigo 1595 – Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.

O vínculo da afinidade é aquela relação onde cada cônjuge ou companheiro vai ter com os parentes
consanguíneos da esposa ou da companheira.

§ 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou
companheiro.

Então, quem é o meu parente por afinidade? Os ascendentes da minha esposa, os descendentes da minha
esposa, e os irmãos da minha esposa. Quem são os ascendentes da minha esposa? O pai dela = meu sogro.
A mãe dela = minha sogra. Se a minha esposa tem filhos, os filhos da minha esposa que não são os meus
filhos, são os meus enteados. E meus enteados são parentes por afinidade. Avó da minha esposa é minha
parente por afinidade na linha reta. A neta da minha esposa é minha parente por afinidade. E os irmãos da
minha esposa são meus cunhados e meus parentes por afinidade. A sobrinha da minha esposa já não é a
minha parente, porque o parentesco vai só até os irmãos. O tio da minha esposa não é meu parente. O
primo da minha esposa não é meu parente. O parentesco por afinidade é mais limitado que o parentesco
consanguíneo.

§ 2o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.

Aqui consta a regra de que sogra é para sempre, ou seja, não existe ex sogra.
AULA – 23/11/15 – PRESUNÇÃO DE PATERNIDADE

1. Princípios:

a. Princípio da Igualdade entre os filhos: O princípio maior se encontra no §6º do artigo 227 da CF e no
artigo 1.596 do Código Civil, e trata da ideia de que os filhos são iguais e são proibidas designações
discriminatórias. Conforme este princípio, pouco importa se o filho for adotado ou não, se for de outra
mãe ou não, os filhos são iguais. Acabamos com a ideia de filho legítimo e filho ilegítimo.

Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. - É proibida qualquer
discriminação entre os filhos, seja ele adotado ou de outro pai ou mãe.

CF - Art. 227. § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

2. Hipóteses de presunção:
Existe uma regra que deriva da frase em latim - “Pater is est quem nunptial demonstrant”- que significa que
PAI É AQUELE QUE DEMONSTRA SER O MARIDO. Assim, SE UMA MULHER É CASADA E TEM UM FILHO,
PRESUMIDAMENTE ESTE FILHO É DO MARIDO. Entretanto, ESTA PRESUNÇÃO É RELATIVA, podendo ser
que a concepção tenha se dado com relações com outro homem e este marido poderá afastar esta
presunção e a própria paternidade. Se se presume relativamente a paternidade, cria-se um mecanismo de
proteção ao filho (que terá um pai), e ao pai (que não terá que pagar alimentos para um filho que não é
seu).

Esta presunção relativa vai acontecer exclusivamente para homens casados, não atingindo homens que
estão em União estável. Se o homem não é casado, uma vez registrada a paternidade, ele estará
DECLARANDO QUE É O PAI, e a presunção é absoluta, não admitindo prova em contrário, e ainda que não
seja o pai biológico, deverá os alimentos e etc.

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e oitenta
dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; - Assim, se o casal se casa hoje, dia 18 de
maio de 2015, a partir de 18 de novembro de 2015, se a mulher parir um filho, este filho é presumidamente
do marido. Assim, pega-se a data do nascimento certificada na certidão de nascimento. Faz-se uma
comparação com a data do casamento. Se a data do nascimento for até 180 dias após a data do
casamento, haverá a presunção de paternidade.
Muito embora essa mulher casada tenha tido um filho, pode ser que a concepção tenha se dado com
relações com outro homem, e esse pai casado, embora tenha a presunção relativa, pode afastar essa
presunção e a própria paternidade. Se presumo relativamente a paternidade, crio um mecanismo de
proteção em primeiro lugar ao filho, e em segundo lugar ao pai – para que o filho tenha a segurança
jurídica de ter um pai, e para que o pai não tenha que eventualmente sustentar ou manter um filho que
não seja seu.

A ideia de presunção é baseada na ideia de que é uma espécie de prova. Quando usamos uma prova de
maneira indireta? Quando não consigo provar o fato de maneira direta. Ex: uma prova direta do fato da
paternidade é o DNA. Ex: bato no carro de Gabriel, ninguém viu, não existem fotos, então o que tenho é um
presunção. Recorremos às presunções quando não temos um mecanismo direto de provas. Para parte da
doutrina, as presunções absolutas não são presunções, pois se são absolutas e não admitem prova em
contrário, elas são uma prova direta. A lei cria um mecanismo geral. Essa presunção vai acontecer
exclusivamente para homens casados, não atingindo homens que estão em união estável. Isso está no art.
1.597.

Segunda hipótese: Inciso II. Ex: hoje morre um homem casado, até o dia 18/03/2016, se a viúva parir o filho
será presumidamente do falecido. É uma presunção relativa. Portanto, isso acontece no casamento,
levando ao cartório a certidão do hospital e certidão de óbito do marido, bem como a do casamento. Desta
forma, ela registra em nome do falecido marido. Se ela não for casada e disser que o companheiro morreu,
ela não poderá registrar, porque o cartório não tem como ter certeza de que ele é o pai, já que não há
casamento e, consequentemente, não há qualquer registro. A escritura da união estável não é registro, não
declara uma coisa para o futuro. Por isso, diz-se que a segurança jurídica da família é muito maior numa
relação do casamento.

Terceira hipótese: Fecundação artificial homóloga – A hipótese é de que um casal tem que ser casado, em
que eles recorrem à fecundação homóloga, ou seja, óvulo da esposa mais sêmen do marido. O grande
conceito de fecundação homóloga é esta, sendo possível ampliar o conceito para óvulo e útero da esposa.
São os casos dos casais que tem dificuldade para reproduzir através dos meios naturais como, por exemplo,
uma dificuldade de nidação. Por isso, eles fazem o “bebê de proveta”. Contudo, “mesmo se falecido” quer
dizer que de alguma forma tinha sêmen do marido recolhido que foi utilizado depois. Há um problema
porque o princípio mor do direito de família é o princípio da igualdade entre os filhos, mas existe uma
antinomia entre o art. 1798 (“legitimam-se a suceder os filhos nascidos ou já concebidos à época da
abertura da sucessão”). Portanto, é herdeiro quem já nasceu e quem já está concebido, desta forma, na
perspectiva de que o nascituro tem direito. Se não tenho a concepção, tenho o sêmen do marido antes da
morte e a mulher pega depois da morte, teoricamente teríamos um filho que não seria herdeiro, já que foi
concebido depois da morte do pai. Os direitos são iguais, é um princípio maior, e o outro princípio está no
CC. Quem acha que esse filho não pode ter direitos iguais porque foi concebido depois, entende que o ato
da mulher de usar o sêmen é ilegítimo, pois o marido estava morto; assim, o filho também seria ilegítimo.
A expressão "mesmo que falecido o marido" quer dizer que de alguma forma havia o sêmen do marido
que foi utilizado depois. Ocorre que legitimam-se a sucessão os filhos nascidos ou já concebidos a época
da morte. Assim, existe uma antinomia entre o artigo 1978 e o princípio da igualdade dos filhos, pois a
concepção é posterior à morte do marido, e, portanto, o filho não seria herdeiro. Assim, haveria uma
distinção de tratamento entre um filho e outro, pois o irmão “mais velho” que nasceu antes da morte do
pai seria herdeiro, e esse concebido após a morte não (recria-se aqui uma espécie de filho ilegítimo).

Quem acha que este filho não pode ter direitos iguais porque foi concebido depois, entende que este ato
da mulher é ilegítimo, e o filho também será ilegítimo e não terá direito à herança. Há quem entenda,
entretanto, que prevalece o princípio da igualdade entre os filhos.

IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção


artificial homóloga; - Neste caso, quando um casal vai fazer este procedimento, faz com que o homem
recolha o seu sêmen e a mulher é estimulada a ovular mais do que o normal. O problema é que existe um
preceito médico de não utilizar mais do que cinco embriões. Se a mulher utiliza três, os demais são
embriões excedentários. Estes embriões serão irmãos e terão os mesmos direitos.

V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. - Trata-
se de fecundação artificial heteróloga com o consentimento prévio do marido. Neste caso, há uma
identificação mais precisa de que o marido possui problemas reprodutivos ou não tem capacidade
reprodutiva, o que faz com que seja utilizado o sêmen de uma doador, de um terceiro. Neste caso, o
marido sabe que biologicamente não é o pai. Este filho vai nascer na constância do casamento e vai haver
a presunção de paternidade.

O artigo 27 do ECA diz que o direito ao estado de filiação é um direito personalíssimo que pode ser
exercitado sem qualquer restrição.

Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível,


podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de
Justiça.

AULA – 30/11/15 - ALIMENTOS

1. Conceito
No Brasil, há uma cultura de estimulo nas ações de alimentos, onde o credor de alimentos na maior parte
das vezes tenta majorar as despesas em relação aos alimentos e o devedor tenta fraudar os rendimentos
para pagar menos.
Segundo Jusef, alimentos são tudo que for necessário para viver com dignidade em decorrência de uma
relação obrigacional nascida de um vínculo familiar. A CF diz que a vida com dignidade pressupõe saúde,
educação, moradia, lazer.

2. Estrutura

É uma estrutura obrigacional que parte da ideia de um credor e de um devedor. Relação que é baseada na
relatividade dos efeitos que quando aparece no contrato diz que a obrigação só faz efeito entre as partes.
Por isso que muitas vezes, no direito obrigacional, confundem-se as partes. O credor na maior parte das
vezes é o filho, a mãe não é credora, esta representa o filho. Então, é o filho que ajuíza a ação contra o pai.

3. Legitimidade para pedir e para pagar alimentos

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação.

Essa relação é recíproca. Quem é devedor pode vim ser credor e vice-versa. Não há uma fixação eterna
dessas posições.
Parentes são todas as pessoas que estão relacionadas em linha reta, em linha colateral em até quarto grau,
ou na relação de afinidade. O artigo fala que os parentes podem pedir alimentos. Contudo, o próprio
legislador limita essa relação de parentesco nos demais artigos.
O art. 1.694 erroneamente fala em "cônjuge", afinal na constância do casamento e da união estável já
existe o dever de mútua assistência. Nesse sentido, o correto seria "ex cônjuges" ou "ex companheiros". Só
há o dever de prestar de alimentos se houver o fim do casamento/união estável e a necessidade do
cônjuge/companheiro.

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.

A primeira restrição que o legislador estabelece é a da linha ascendente/descendente.

Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e,
faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.

O art. 1.697 estabelece que na falta dos ascendentes caberá aos descendentes guardada a ordem de
sucessão e faltando estes, aos irmãos bilaterais e unilaterais.
Então, há uma limitação específica para a legitimação para cobrar ou ser devedor de uma obrigação
alimentar. Uma parte da doutrina entende que de fato obrigação civil na prestação dos alimentos só
alcança os irmãos, enquanto que a obrigação moral poderia ser transportada para outros parentescos
(como, por exemplo, uma tia). Essa obrigação moral não poderia ser cobrada em juízo. Existe outra parte
da doutrina que entende que, por força do princípio da solidariedade familiar, todos seriam obrigados
civilmente a responder.

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar
totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas
a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra
uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

Quando o artigo 1.696 fala que o direito à prestação de alimentos é extensivo aos ascendentes, já inclui o
avô como um devedor de uma obrigação civil. O código civil de 2002 criou o art. 1.698 é específico para os
avós.
Dentro do direito obrigacional, há obrigação subsidiária ou solidária. A estrutura do direito obrigacional era
chamar o avô caso o pai não conseguisse pagar, como uma obrigação subsidiária. O art. 1.698 do Código
Civil “meio que” transformou essa obrigação em solidária, mas sem dizer isso expressamente. É como se
tivesse criado um terceiro gênero. Não se trata de obrigação subsidiária e nem de obrigação solidária.
O art. 265 do CC estabelece que a solidariedade não se presume, resulta da lei ou da vontade das partes. A
lei não foi expressa no art. 1.698, porém, na prática gerou uma solidariedade.
A maioria das vezes, quem deve é o pai. Então, quando o pai não está em condições de suportar totalmente
o encargo, chama os avós.
O art. 1.694, § único, diz que os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante
e nas possibilidades de pagamento da pessoa obrigada. O juiz necessariamente deve observar esse
binômio. No momento em que o art. 1698 fala que “se o parente, que deve prestar alimentos em primeiro
lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo...”, em outras palavras, exprime a ideia
de que, eventualmente, o juiz pode observar apenas a necessidade do reclamante, fixando um valor mais
alto do que aquele que o devedor poderia suportar. Nesses casos, os avós seriam chamados ao pagamento
dos alimentos.
Se fosse uma obrigação solidária, como por exemplo, a fiança num contrato de locação, o locador poderia
mover uma ação contra o fiador e locatário, indicando os dois na inicial. Se fosse uma obrigação subsidiária,
primeiro movia a ação contra um, para depois mover a ação contra o outro.
O artigo 1.698 do Código Civil dá a entender que se trata de obrigação subsidiária, onde o juiz chama os
avós depois que fixa os alimentos e vê que o pai não tem como arcar com aquilo. Contudo, a prática
jurídica, sobretudo no âmbito das Defensorias, fez com que, para evitar a perda de tempo, já se colocasse
na inicial a seguinte presunção: o pai está desempregado, mas o avô exerce uma profissão X. Com base
nessa cultura, o avô já é colocado na inicial, transformando aquilo que teoricamente era uma obrigação
subsidiária, em uma obrigação solidária, na prática. E o juiz na fixação de alimentos, acaba levando em
consideração não só a possibilidade do pai, e sim a possibilidade do avô.
O ideal seria que o juiz fixasse os alimentos levando em consideração a possibilidade do pai e necessidade
do reclamante. Se o pai não pudesse pagar tudo, o Estado deveria arcar com o restante, por meio do INSS.

4. Binômio necessário para fixação dos alimentos

Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do credor e da possibilidade dos recursos
da pessoa obrigada, ou seja, do devedor.
O art. 1.698 diz que SE o pai não puder pagar, os avós serão chamados. Então, com base no artigo, o juiz
primeiro verifica se o pai pode pagar, e se não puder é que chama os avós. Se o pai não puder pagar, o juiz
não poderia fixar um valor maior. Nesse caso, sairia o pai do processo e entraria o avô. O juiz deveria
verificar nesse segundo momento se o avô poderia pagar. Contudo, na prática, os juízes estão olhando
apenas a necessidade do reclamante, fixando logo um valor a ser pago pelo avô (quando o pai não
consegue arcar com tudo). Então, o juiz na prática, já coloca o avô como um devedor. O juiz sequer verifica
as possibilidades do avô.
OBS! Numa obrigação civil subsidiária, quando a parte entra com uma ação, a inicial aponta apenas o
devedor principal.

No sistema antigo, o avô só era chamado quando o pai era falecido. Para Colani, no sistema atual, o mais
correto seria que primeiro entrasse com uma ação de alimentos contra o pai, devendo o juiz levar em
consideração a possibilidade de pagamento do devedor e necessidade do credor. Nesse caso, diante de
uma insuficiência patrimonial do devedor, deveria haver uma complementação do restante da renda
necessária ao sustento do credor por parte do Estado.
Não há uma previsão expressa na lei que disponha até quando a pensão será devida, havendo uma
tendência jurisprudencial de aceitar que a pensão devida pelos pais aos filhos vai até a conclusão da
formação acadêmica.

Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de
quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou
majoração do encargo.

Esse artigo é o fundamento para as ações revisionais ou de exoneração. Se a condição do filho muda para
diminuir os custos, o pai pode pedir a revisão da pensão. Ex: Filho passa numa faculdade pública. Pode
acontecer também de a condição mudar e o filho pedir a revisão da pensão. Ex: Filho que estudou sempre
num colégio público e passa numa faculdade particular.

5. Sucessão na obrigação alimentícia

Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694.

O código civil de 1916 dizia que a obrigação de alimentos não se transmite. O código civil atual diz que se
transmite. É uma mudança brutal. Nesse caso, o herdeiro pode entrar com uma ação de
exoneração/revisão e comprovar que não pode pagar a pensão (devendo pagar a pensão até o julgamento
da ação).
Por vezes, a indenização pode se converter numa pensão. Então, eventualmente, se meu pai atropela um
homem e causa a sua morte, o juiz poderá arbitrar o pagamento de uma pensão à família. Nesse caso, se
meu pai morrer, eu fico com a obrigação de continuar pagando a pensão.

6. Alimentos para ex- cônjuge/ companheiro

Antigamente, a mulher não trabalhava e quando o casamento acabava, ela ficava numa situação muito
complicada. Por isso, surgiu esse direito à pensão alimentícia. Atualmente, se trabalha com a ideia de que
os direitos de ex-cônjuges são direitos temporários, uma vez que perduram até que haja uma reinserção no
mercado de trabalho. São três as situações em que os alimentos são devidos para ex- companheiro/ex-
cônjuge:
Art. 1.702. Na separação judicial litigiosa, sendo um dos cônjuges inocente e desprovido de recursos,
prestar-lhe-á o outro a pensão alimentícia que o juiz fixar, obedecidos os critérios estabelecidos no art.
1.694.

Aplica-se para as situações de separação litigiosa, em que o credor é o cônjuge inocente e o devedor é o
cônjuge culpado.

Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados judicialmente vier a necessitar de alimentos, será o outro
obrigado a prestá-los mediante pensão a ser fixada pelo juiz, caso não tenha sido declarado culpado na
ação de separação judicial.

Aplica-se para as situações de separação não litigiosa, em que qualquer um dos cônjuges pode ser
credor/devedor.

Art. 1704, Parágrafo único. Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver
parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a
assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência.

Aplica-se para as situações em que o credor é o culpado e o devedor é o inocente. É um grande absurdo.

7. Características

Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o
respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.

Os alimentos são irrenunciáveis. A renúncia é um direito de dispor. Os alimentos são um direito


patrimonial indisponível. Essa indisponibilidade é aplicável para as relações de alimento em parentesco. No
que tange a ex-cônjuge/companheiro, a jurisprudência entende pela possibilidade de renúncia ao direito de
alimentos.
Além disso, os alimentos são incedíveis, incompensáveis e impenhoráveis.

8. Cessação de alimentos

Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor, cessa o dever de prestar
alimentos.

Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a alimentos, se tiver procedimento indigno
em relação ao devedor.

O artigo não especifica o que seria procedimento indigno. Há dois lugares do código que falam em
indignidade: doação e herança. Há autores que defendam que não é possível a aplicação de analogia
nesses casos, uma vez que a analogia não pode ser aplicada em normas restritivas de direitos. Outros
autores, por sua vez, defendem que se trataria de uma norma restritiva de direitos, e sim de uma norma
relativa ao direito de quem sofreu a indignidade, passível de aplicação analógica, portanto. Para Colani, não
é possível a aplicação por analogia, tendo o parágrafo único deste artigo se tornado inaplicável.

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