Hobsbawn Marcelo Martins da Silva Márcio ● Por que países socialistas (Vietnã, Camboja, China) que, em tese, compartilhando a mesma ideologia entram em guerra e se definem em termos nacionais? ● Porque a ideia de nação e consequentemente o nacionalismo é alinhado a sistemas culturais mais longevos do que as ideologias políticas conscientemente adotadas. ● O nacionalismo é algo tão orgânico quanto idade ou
sexo, não se trata de uma ideologia ou escolha, mas
uma condição que se tornou concreta. (p.32). ● Estados nacionais são novos, mas sua unidade social
remete a um passado imemorial, atemporal.
● A ideia de um organismo sociológico atravessando
cronologicamente um tempo vazio e homogêneo é
uma analogia exata da ideia de nação (p.56). ● Comunidade política imaginada, intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo, soberana. (p.32) ● Imaginada porque parte de uma coletividadde maior em que seus membros (totalidade) jamais se conhecerão ou se encontrarão, no entanto imagina-se (como comunidade) uma camaradagem horizontal para além das dissenções internas; limitada pois suas fronteiras são finitas, ainda que elásticas; soberana porque livre de uma dinastia ou ordem divina e sujeito às leis do estado em contraposição às leis naturais. ● Raizes culturais da nação moderna como comunidade imaginada: ● Nacionalidades modernas são coesas porque imaginadas; faz sentido para quem as imagina; ● Declínio das linguagens sagradas e emergência de linguagens seculares: ● Fé declina, mas as incertezas pelas quais se debruçava não, e
nesse sentido, a nação assume o papel com o necessário trato
com a fatalidade; ● A natureza ontológica do homem e do mundo só poderia ser
traduzida por uma determinada língua ancestral;
● Declínio das monarquias e do domínio divino do rei e dos nobres; ● Noção de simultaneade e co-existência na medida em que os meios de comunicação se expandem; o tempo passa a ser percebido historicamente. ● Capitalismo editorial como gerador de simultaneidade e conhecimento vivo pois nos novos vínculos imaginados tudo co-existe; difunde o discurso sobre a memória nacional e reforça a diferença entre as fronteiras. As origens da consciência nacional ● União entre capitalismo e tecnologia de imprensa: ● Latim língua oficial da cristandade, não monopolizável; ● Fatalidade da diversidade linguística humana; ● Língua impressa possibilitou um estreitamento de relações e o estabelecimento das fronteiras entre os povos, criando línguas oficiais e uma comunidade imaginada nova; ● Língua falada não sendo fixa, era incapaz de unificar. Pioneiros crioulos ● Estados coloniais do novo mundo, formado e liderado por gente
que tinha a mesma língua e a mesma ascendencia do adversário
a ser combatido (p.84). ● Eram pioneiros porque desenvolveram a noção de nacionalismo
antes dos estados europeus;
● O que sedimenta a noção de nacionalismo nessas unidades
administrativas inicialmente fragmentadas?
● Diferente do que se pensa não foram o iluminismo ou o
liberalismo responsável pela ideia de nação, mas
funcionários que se locomoviam no que viria a ser o território nacional, intercambiando documentos e notícias e a imprensa veiculada a partir de uma língua impressa (jornal impresso). Velhas línguas, novos modelos ● Concepção inedita em que se contrapoe “modernidade” à “antiguidade”: a europa é uma entre várias outras civilizações que, diferentes daquela, suas genealogias não remetiam ao Éden. ● Os novos estados nacionais mimetizaram o modelo europeu de “invenção” da nação; ● Solidariedade burguesa baseada em acordos, a primeira classe a construir uma solidariedade essencialmente imaginada; ● Aumento da alfabetização e consequente aumento de um apoio das classes populares, convidadas numa língua que lhes era inteligível. ● A última onda ● Série de movimentos nacionalistas nas colonias asiaticas e africanas; ● Modernização dos meios de transporte e comunicação faz com que as pessoas se locomovam e se interajam culturalmente nas colônias, difundindo o nacionalismo nessesa territórios; ● Com a difusão do ensino moderno ocorre a difusão da comunidade imaginada para as massas iletradas e letradas, inclusive que liam em outras línguas; ● Solidariedade entre os jovens letrados das colonias; ● Reação a um novo tipo de imperialismo mundial que pretendia consolidar e massificar (russificar) o poder dinástico, combinando autocracia, ordodoxia e nacionalidade. Imperialismo e nacionalismo oficial ● Formação dos nacionalismos oficiais : meados do século XIX; ● Impossíveis de serem pensados separados dos nacionalismos populares; ● Políticas conservadoras que sucederam os nacionalismos populares como estratégia de antecipação dos grupos dominantes; ● Nacionalismo oficial como fusão deliberada entre a nação e o império dinástico, ou seja, um movimento reacionário moldado pela revolução francesa e independencia americana e fundido e levado ao estatuto de “oficial” pela aristocracia ilustrada. Patriotismo e racismo ● Anderson reflete sobre o porquê das pessoas se disporem a morrer por tais invenções; ● Noção de pureza; laços naturais; e causas nobres; ● Nação moderna é uma comunidade imaginada através da língua e não do sangue; ● Racismo e antissemitismo não derivam do nacionalismo; ● “...o nacionalismo pensa em termos de destino histórico, ao passo que o racismo sonha com contaminações externas, transmitidas desde as origens do tempo (…) fora da história.” ● Racismo e antissemitismo justificariam mais dominação interna do que guerra com outros países; ● Racismo não tem lastro histórico-fraternal e onde se desenvolveu fora da europa esteve associado com a dominação europeia. O anjo da história ● “Graças ao capitalismo tipográfico a experiencia francesa radicou-se definitivamente na memória humana e, além disso, tornou-se uma lição coma qual se poderia aprender.” (p.218) ● Revolução Russa como modelo; ● Revolucionários modulam, se adaptam, e adotam práticas do estado dinástico anterior. Censo, mapa e museu ● Três instituições do poder que moldaram a forma como as potências coloniais viam e tentavem manter o controle sobre sua colônias; ● Censo: ideia ficticia de que todos estão presentes nele; habitos de tramitação possibilitaram uma vida social a partir de instituições como escolas, tribunais, clinicas e etc. (p.234) ● Mapa: localidades passam a ser pontos em folhas de papel que não tinham necessariamente relação com a importância real desses lugares; ● Museu: profundamente político; política de dominação conservadora; estado como guardião de uma tradição generalizada e local; ● Ligados, censo, mapa e museu iluminam o estilo de pensamento do estado colonial; serialização; nomear; classificar e controlar. Memória e esquecimento ● Novo e velho co-existem diacrônica e sincronicamente; ● Pioneirismo da América em relação ao nacionalismo, ou seja, o desejo de um paralelismo em relação à metrópole; ● Povos crioulos não precisavam temer o extermínio físico ou a escravidão, pois eram os intermediários entre as colônias e o império. Após a guerra os laços podiam ser estabelecidos. ● Na Revolução Francesa e na Independência Americana houve ruptura; já os novos nacionalismos europeus olhavam para as glórias do passado; ● Políticas do esquecimento funcional a um sentimento de continuidade.