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MARINHA Revista

Ano 03 • Número 09 • Setembro • 2013 www.mar.mil.br


em

Mostrando nossa Força

Estação Antártica,
a reconstrução de um sonho

Operação “Atlântico III” CASNAV: Referência em Carreira Naval: Duas estrelas para a
Tecnologia Militar Almirante Dalva
p.4 p.29 p.36
Contribuindo
para a defesa
das Águas
Jurisdicionais
Brasileiras.
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A Odebrecht Defesa e Tecnologia oferece soluções que contribuem para a


garantia da defesa do mar territorial brasileiro e proteção de suas riquezas.
Tais soluções envolvem estratégias, equipamentos, sistemas integrados de
comando e controle, e serviços de gestão em defesa e segurança de alta
tecnologia e valor agregado para as Forças Armadas.

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A 9ª edição desse periódico leva ao conhecimento do leitor as
muitas frentes de atuação dos setores da Marinha em prol da defesa
do País. Seja por meio de treinamentos, ações ou desenvolvimento
de tecnologias, onde evoluímos a cada dia.

Editorial
A matéria de capa traduz os esforços empreendidos na escolha
de um projeto arquitetônico para a reconstrução da nova Estação
Antártica Comandante Ferraz, que serve de base para pesquisas
brasileiras no continente gelado.
Na editoria Operações, destacamos a “Atlântico III”, um treina-
mento conjunto entre a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e
a Força Aérea Brasileira, realizado no Sul e Sudeste do País.
A importante missão dos Navios de Assistência Hospitalar, os
“Navios da Esperança”, e o atendimento às comunidades ribeiri-
nhas da Amazônia e do Pantanal, são relatadas na editoria Social.
Abordamos, também, em Meios Navais, a chegada do Navio
-Patrulha Oceânico “Apa”, o segundo da Classe “Amazonas”, como
parte do Programa de Reaparelhamento da Marinha.
Em Operações Especiais, a matéria sobre a atuação da Força
em grandes eventos como a Copa das Confederações e a Jornada
Mundial da Juventude, enfoca o crescente trabalho da Marinha em
prol da defesa e segurança de estruturas estratégicas e de áreas ma-
rítimas e fluviais.
No campo da Ciência e Tecnologia, abordamos os projetos já
concluídos e os que estão em desenvolvimento no Centro de Aná-
lises de Sistemas Navais (CASNAV).
A trajetória da Almirante Dalva, a primeira mulher das Forças
Armadas brasileiras promovida ao posto de Oficial-General, é es-
tampada na editoria Carreira Naval. Da mesma forma, exaltamos
o trabalho e a dedicação do nosso maior patrimônio, o pessoal,
nas entrevistas realizadas com o Capitão-de-Mar-e-Guerra (FN)
Feitosa e com o Segundo-Sargento (FN-IF) Roney, ambos partici-
pantes de missões de paz.
Em meu artigo, discorro sobre o Programa Olímpico da Mari-
nha (PROLIM), responsável pela preparação dos atletas da Força
para as competições dos 6º Jogos Mundiais Militares, na Coréia do
Sul, em 2015, e os Jogos Olímpicos RIO 2016.
Ressalto, ainda, o texto sobre a utilidade do poder militar para o
Barão de Rio Branco, escrito pelo Vice-Almirante (EN) Armando
de Senna Bittencourt, na editoria História Naval.
Assim, convido a todos a conhecerem um pouco mais sobre as
atividades da Marinha do Brasil. Boa leitura!

Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto


Comandante da Marinha
MARINHA Revista
Ano 04 • Número 09 • Setembro • 2013 www.mar.mil.br
em

Mostrando nossa Força

Marinha em Revista é um periódico da Marinha do Brasil, elaborado pelo Centro


de Comunicação Social da Marinha.

Comandante da Marinha
Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto

Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha


Contra-Almirante José Roberto Bueno Junior

Vice-Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha


Capitão-de-Mar-e-Guerra Armando de Moura Ferraz

Assessor de Produção e Divulgação do Centro


de Comunicação Social da Marinha
Capitão-de-Fragata Marcus Teixeira da Silva

Assessor-Adjunto de Produção do
Centro de Comunicação Social da Marinha
Capitão-de-Fragata Rafael Silva dos Santos
Fotografias
Jornalista responsável Arquivos da Marinha do Brasil
Primeiro-Tenente (T) Ellen Franciana Vieira Silva e colaboradores

Organização do material editorial Foto da Capa


Primeiro-Tenente (T) Ellen Franciana Vieira Silva Studio 41

Revisão Tiragem
Capitão-de-Fragata Marcus Teixeira da Silva 30.000 exemplares
Capitão-de-Fragata Rafael Silva dos Santos
Impressão e distribuição
Projeto editorial Gráfica Qualytá
Centro de Comunicação Social da Marinha
Centro de Comunicação Social
Gráfica Quality da Marinha
Direção de arte e diagramação: Gráfica Quality Esplanada dos Ministérios, Bl. N,
Anexo A, 3o andar
Brasília • DF • CEP 70055-900
Telefone (61) 3429-1831 Brasília.
www.mar.mil.br
faleconosco@ccsm.mar.mil.br
ESTAÇÃO ANTÁRTICA, Operações
Operação “Atlântico III” 4
Carreira Naval
Duas estrelas para
A RECONSTRUÇÃO DE Meios Navais
a Almirante Dalva 36
UM SONHO Novo Navio-Patrulha Gente de Bordo
Segundo-Sargento (FN-IF)
da Marinha chega ao Brasil 9

24 Operações Especiais Roney Ferreira da Silva  39


No mar, na terra, no ar 14 Artigo
Social Programa Olímpico
Esperança Ribeirinha 19 da Marinha 41
Ciência e Tecnologia História Naval
CASNAV: Referência A utilidade do Poder Militar
em Tecnologia Militar 29 para Rio Branco  43
Entrevista
Fuzileiro Naval fala da
experiência como Chefe
de Operações na Síria 33
Operações

Operação “Atlântico III”


Simulação de guerra na “Amazônia Azul”
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Juliana Vargas
Fotos: CB Hudson Alves Bezerra Júnior

4
Dez mil militares. São homens e mulheres da
Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e da
Força Aérea Brasileira que entraram em ação
durante duas semanas de guerra simulada, com
o propósito de preparar as Forças Armadas para
aplicarem uma doutrina conjunta.

É
essa a razão da Operação aéreo logístico, defesa, coordenação
“Atlântico III”, realizada no fi- e controle do espaço aéreo, além de
nal do ano de 2012, nas regiões atividades de apoio à população.
Sul e Sudeste do País, sob a coorde- A Marinha empregou dois navios-
nação do Ministério da Defesa, por -escolta, dois navios de apoio, dois
meio do seu Estado-Maior Conjunto submarinos, três navios-patrulha e
das Forças Armadas. Nessa terceira seis helicópteros. O Exército parti-
edição, exercícios reais e problemas cipou com 96 viaturas leves, 101 via-
simulados prepararam as Forças para turas de transporte, nove blindados
operar de forma integrada em defe- e nove ambulâncias. A Força Aérea
sa da “Amazônia Azul” e de parte do disponibilizou quatro aeronaves de
território nacional. ataque, cinco de patrulha, cinco de
As linhas de comunicação maríti- transporte e um helicóptero.
ma das Regiões Sul e Sudeste, assim À frente do Teatro de Operações,
como a defesa de estruturas estraté- o Comandante de Operações Navais,
gicas do País, como portos, refinarias, Almirante-de-Esquadra Gilberto
usinas hidrelétricas e nucleares foram Max Roffé Hirschfeld, contou com o
o enfoque da operação. Paraná, Rio apoio de um Estado-Maior Conjun-
de Janeiro, Rio Grande do Sul, San- to, composto por Oficiais e Praças
ta Catarina e São Paulo formaram o das três Forças. “Um dos aspectos
Teatro de Operações, onde atuaram principais dessa Operação é a intero-
as Forças Componentes Naval, Ter- perabilidade, que permite aprimorar
restre e Aérea. Coube aos meios ope- o conhecimento entre as Forças, além
racionais envolvidos nos exercícios a de realizar novos experimentos dou-
condução do controle de área e tráfe- trinários”, enfatizou.
go marítimo, bem como a realização Operações Conjuntas como a
de missões de interceptação, defesa de “Atlântico” são previstas pela Estra-
costa, patrulha marítima, transporte tégia Nacional de Defesa, que possui,

“Um dos aspectos principais dessa Operação é a


interoperabilidade, que permite aprimorar o conhecimento
entre as Forças, além de realizar novos experimentos
doutrinários”.
Comandante de Operações Navais
Almirante-de-Esquadra Gilberto Max Roffé Hirschfeld

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 5


Operações

Tiro sobre Alvo à Deriva

como uma das diretrizes, unificar as nas águas da “Amazônia Azul”. Na Esquadra, Contra-Almirante Marcio
operações das três Forças, muito além manhã de 19 de novembro de 2012, Ferreira de Mello, com a assessoria
dos limites impostos pelos protocolos a Força-Tarefa Sul (FTS), integrante do seu Estado-Maior, determinava
de exercícios conjuntos. “Se houver da Força Naval Componente, saiu do as melhores estratégias e formas de
uma situação de guerra, ou de ataque, Porto de Itajaí, dando início à ope- localização e de ataque aos inimigos.
vamos ter que operar juntos e não só ração. Defender a área marítima dos Para que fossem reunidas as infor-
no âmbito daquilo que foi programa- municípios de Itajaí (SC), São Fran- mações necessárias às tomadas de de-
do, mas com capacidade para resolver cisco do Sul (SC) e Paranaguá (PR) cisão, o Navio Capitânia fez o uso de
problemas imprevistos. Nessa ope- era a tarefa da FTS, constituída pela
ração, os problemas são imaginados Fragata “Niterói”, Corveta “Barro-
pela direção do exercício e o Coman- so”, Navio-Tanque “Marajó” e Navio
“Se houver uma situação
dante do Teatro de Operações e seus de Desembarque de Carros de Com- de guerra, ou de ataque,
auxiliares têm que resolver o inopina- bate “Almirante Saboia”, Navio Ca- vamos ter que operar
do”, ressaltou o Ministro da Defesa, pitânia, e pelas aeronaves UH-12/13 juntos e não só no
Embaixador Celso Amorim. “Esquilo”, UH-14 “Super Puma” e
âmbito daquilo que foi
AH-11A “Super Lynx” .
NO MAR Figurativos inimigos, representa-
programado, mas com
Fumaça, tiros de canhão e metra- dos por navios da Marinha do Brasil, capacidade para resolver
lhadora, voos rasantes de aeronaves, simularam ameaças e ataques à re- problemas imprevistos”.
reabastecimento, ação. Foi esse o gião. O Comando da FTS, exercido Ministro da Defesa
cenário da Operação “Atlântico III” pelo Comandante da 1ª Divisão da Embaixador Celso Amorim

6
um Centro de Informações de Com-
bate (CIC), estrutura que dispõe de
comunicações satelitais, links de dados,
videoconferência e outros sistemas ca-
pazes de receber as informações sobre
o inimigo e sobre os navios da Força.
Agilidade e surpresa caracteriza-
ram o trabalho dos mergulhadores de
combate. Por meio de uma ação real
utilizando fast rope – desembarque do
helicóptero, por meio de um cabo ver-
ticalmente extendido, até o navio alvo,
representado pela Fragata “Niterói” –
o grupo de mergulhadores de combate
embarcados no Capitânia abordou um
navio suspeito de realizar pesquisas sís-
micas na área de defesa da FTS. Essa
ação fez parte do exercício de Inciden-
Transferência de Óleo no Mar
te de Proteção Marítima.

Trânsito sob Ameaça Aérea

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 7


Transferência de Carga Leve

NO AR 02 da Força Aérea Brasileira entrar em uma situação real, nesses locais”, dis-
A integração com a Força Aérea ação, lançando componentes necessá- se o General-de-Divisão José Alberto
Componente foi constante duran- rios para a permanência da FTS no da Costa Abreu, Comandante da 1ª
te todas as operações marítimas, por mar. Divisão de Exército.
meio da presença de um Oficial de
Ligação daquela Força embarcado no EM TERRA ACISO
NDCC “Almirante Saboia”. “Minha O Exército Brasileiro destacou-se
Durante a simulação de evacuação
participação foi prevista para passar pela defesa de quatro infraestrutu- de civis não-combatentes, cerca de 200
as informações de uma Força para a ras sensíveis: a Refinaria Duque de moradores do bairro Nova Santa Mar-
outra, auxiliando com contatos em Caxias (REDUC), refinaria de petró- ta foram retirados do Parque Regional
tempo real”, explicou o Major Erivan- leo produtora de combustível em lar- de Manutenção, em Santa Maria (RS),
do Pereira Souza. Por diversas vezes, ga escala; a Estação de Tratamento de por viaturas militares. Na ocasião, fo-
podia-se ouvir, do navio, o ruído das Águas do Guandu, a maior da Amé- ram realizadas Ações Cívico-Sociais
turbinas das aeronaves P-95, de patru- rica Latina; a Estação Retransmis- (ACISO), incluindo assistência médica
lha e esclarecimento marítimo, P3, de sora de Furnas, em Jacarepaguá, que e odontológica, orientações sobre hi-
esclarecimento e antissubmarino, e abastece a cidade do Rio de Janeiro; giene, serviço de barbearia e entrega
de cestas básicas. Em Cacequi (RS), o
A1, para ataque de superfície, todas da e a Estação Retransmissora Terrestre
Exército Brasileiro realizou apresenta-
Força Aérea. de Telecomunicação de Tanguá, em
ção da Banda de Música da 3ª Divisão
Quando simulada uma avaria no Niterói. “Nossa missão foi impedir
do Exército, atendimento ao cidadão
Navio-Tanque “Marajó”, em um local ações de sabotagem, terrorismo ou com a emissão de CPF e identidade,
distante do alcance de aeronaves de asa manifestações hostis que pudessem orientação odontológica, religiosa e
rotativa, foi a vez da aeronave Pégasus comprometer o esforço de guerra em atendimento médico

8
Novo Navio-Patrulha

Meios Navais
da Marinha chega
ao Brasil
Reforço na Defesa da “Amazônia Azul”
Por Primeiro-Tenente (T) Rafael Dutra de Miranda
e Primeiro-Tenente (RM2-T) Vanessa Rosana Soares da Silva Oliveira
Fotos: Primeiro-Sargento (AR) Alexander Vieira
e Segundo-Sargento (ES) Fabrício Paravidino da Silva
O Rio de Janeiro recebeu de braços abertos, no dia 24 de maio de
2013, o Navio-Patrulha Oceânico (NPaOc) “Apa”, após um Desfile
Meios Navais

Naval pelas orlas do Leblon, Ipanema, Arpoador, Copacabana,


Leme e Flamengo, atracando na Base Naval do Rio de Janeiro, seu
porto sede.

O
“Apa” é o segundo NPaOc da Pantanal, que delimita a fronteira previsão de chegar ao Brasil no se-
Classe “Amazonas”, construído entre o Estado do Mato Grosso e o gundo semestre de 2013.
pela empresa inglesa BAE Sys- Paraguai. O primeiro NPaOc in- O NPaOc “Apa” foi incorporado
tems Maritime – Naval Ships. O meio corporado à Marinha do Brasil foi em 11 de março de 2013, em cerimônia
naval recebeu esse nome em referên- o “Amazonas”, em 29 de junho de presidida pelo Chefe do Estado-Maior
cia a um importante rio da região do 2012. O terceiro, o “Araguari”, tem da Armada, Almirante-de-Esquadra

10
“Os navios-patrulha
oceânicos estão em
condições de proteger
os recursos brasileiros,
principalmente o Pré-
Sal, as rotas marítimas
e tudo o que está ligado
ao mar, ao oceano, à
‘Amazônia Azul’”.
Ministro da Defesa
Embaixador Celso Amorim

Fernando Eduardo Studart Wiemer, CLASSE AMAZONAS


em Portsmouth, no Reino Unido. Du- “A Classe ‘Amazonas’ traz para a
rante o translado para o Brasil, o na- Marinha do Brasil um novo conceito,
vio fez escala em Portugal, Espanha, pois possui autonomia superior a dos
Mauritânia, Senegal, Gana, Angola e outros navios-patrulha e a capacidade
Namíbia. Em cada um desses portos, de operar com aeronave orgânica e
a tripulação do “Apa” pôde interagir tropas embarcadas. Isso permite que
com as Marinhas e Guardas-Costeiras os navios desenvolvam uma gran-
estrangeiras, estreitando os laços de de capacidade de presença na nossa
amizade e realizando um conjunto de ‘Amazônia Azul’”, disse o Coman-
exercícios. dante do NPaOc “Amazonas”, Capi-
tão-de-Fragata Giovani Corrêa.
MISSÃO As embarcações também podem
Patrulhar a Zona Econômica Ex- ser empregadas em interdição marí-
clusiva, proteger as plataformas de timas e busca e salvamento no mar.
petróleo e as reservas do Pré-Sal, Para o cumprimento das diversas ati-
além de prevenir a poluição ambien- vidades, os navios contam com duas
tal são os grandes objetivos desses lanchas, com capacidade para dois
novos navios, reforçando o trabalho tripulantes e seis passageiros. Elas
que já vem sendo feito pela Força com são utilizadas pelo Grupo de Visita
os demais meios navais. Outra im- e Inspeção para ações antipirataria,
portante atribuição é o emprego em inspeção e patrulha naval.
ações antipirataria. Também possuem um guindaste
“O ‘Apa’ oferece a possibilidade de com capacidade de carga de 16 tone-
fazermos patrulha naval e é voltado, ladas. Sua principal função é fazer a
exatamente, para proteger e garan- estiva de até seis contêineres de 15
tir os nossos interesses na ‘Amazô- toneladas, no convés de voo. Essa
nia Azul’, combatendo os ilícitos nas possibilidade de transporte de carga,
águas”, afirmou o Comandante da inclusive perecível, aumenta a capaci-
Marinha, Almirante-de-Esquadra dade do navio de atuar em ações de
Julio Soares de Moura Neto. ajuda humanitária e apoio logístico.

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 11


Meios Navais

Camarotes de Oficiais

Centro de Operações de Combate

Praça de máquinas
“Esse navio traz
toda uma tecnologia
moderna, com a qual
estamos aprendendo
muito, nos permitindo
avançar na construção
naval brasileira”.
Comandante da
Marinha
Almirante-de-Esquadra Julio
Soares de Moura Neto
Enfermaria

Há, ainda, um canhão d’água, com 10 leitos. As dimensões são de 90,5


alcance de 80 metros, que pode ser metros de comprimento, 13,5 metros
utilizado no combate a incêndios em de boca e 4,5 metros de calado.
outros navios no mar ou em platafor- Os navios da Classe “Amazonas”
mas de petróleo. possuem equipamentos e sistemas
A embarcação pode operar com modernos, com baixo nível de manu-
aeronave tanto no período diur- tenção, em sua maioria podendo ser
no, quanto noturno, e ainda possui feita por bordo.
capacidade de reabastecê-las com “Esse navio traz toda uma tecno-
combustível. logia moderna, com a qual estamos
“Os navios-patrulha oceânicos aprendendo muito, nos permitindo
estão em condições de proteger os avançar na construção naval brasilei-
recursos brasileiros, principalmente ra”, disse o Comandante da Marinha.
Passadiço o Pré-Sal, as rotas marítimas e tudo
o que está ligado ao mar, ao oceano, AQUISIÇÃO DE OPORTUNIDADE
à ‘Amazônia Azul’”, frisou o Minis- As aquisições foram de oportuni-
tro da Defesa, Embaixador Celso dade, já que a negociação prévia de
Amorim. venda com Trinidad e Tobago, que
havia feito a encomenda das embar-
CARACTERÍSTICAS cações, não prosseguiu. “Além da
Com autonomia de 35 dias de mar, compra, adquirimos também o direi-
os NPaOc conseguem patrulhar a to de fabricá-los no Brasil, se assim
costa brasileira, sem reabastecer, por decidirmos. A nossa Marinha está de
períodos mais longos, a uma velocida- parabéns. Ficamos muito contentes,
de de até 25 nós. A tripulação de cada aqui no Ministério da Defesa, que
navio é composta por 80 militares e, isso tenha sido possível, graças tam-
ainda, há a possibilidade de transpor- bém, à decisão da Presidenta Dilma
tar outros 39 como tropa embarcada. Roussef de apoiar essa aquisição”,
Passadiço Além disso, a enfermaria conta com disse o Ministro da Defesa

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 13


No mar, na terra, no ar
Operações Especiais

Marinha atua nos grandes eventos do País


Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Juliana Leonel Vargas
Foto: Comando do Segundo Distrito Naval
e Centro de Comunicação Social da Marinha
“Em eventos como esses, o planejamento é coordenado
entre todas as partes envolvidas. Participamos de
reuniões constantes entre os coordenadores de defesa
de área e os órgãos municipais, estaduais e federais
envolvidos.”
Comandante de Operações Navais
Almirante-de-Esquadra Luiz Fernando Palmer Fonseca

A
s atenções estão voltadas para o é coordenado entre todas as partes
Brasil. Afinal, em junho e em ju- envolvidas. Participamos de reuniões
lho deste ano, o País foi sede da constantes entre os coordenadores de
Copa das Confederações e da Jornada defesa de área e os órgãos municipais,
Mundial da Juventude (JMJ), grandes estaduais e federais envolvidos”, ex-
eventos que intensificaram o turismo plicou o Comandante de Operações
nacional. A Copa das Confederações, Navais, Almirante-de-Esquadra Luiz
que aconteceu de 15 a 30 de junho, Fernando Palmer Fonseca.
recebeu 230 mil turistas brasileiros e
cerca de 20 mil estrangeiros em Belo EIXOS DE DEFESA
Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Dez eixos de defesa foram defini-
Rio de Janeiro e Salvador. A JMJ, re- dos para os grandes eventos, até os jo-
alizada em julho, atraiu 2 milhões de gos de 2016. Todos eles, com atuação
turistas de 180 países, alcançando a da Marinha: defesa marítima e fluvial;
inédita marca de 3,2 milhões de pes- proteção de estruturas estratégicas,
soas reunidas na praia de Copacabana. em especial as de caráter marítimo;
No próximo ano, o Brasil receberá a defesa aeroespacial e controle do es-
Copa do Mundo que, de acordo com paço aéreo, em apoio à Força Aérea
o Ministério do Turismo, durante 30 Brasileira; fiscalização de explosivos
dias de realização, deverá trazer cer- mediante inspeções em embarcações
ca de 600 mil turistas internacionais. nas Águas Jurisdicionais Brasileiras
Em 2016, a expectativa é que os Jogos (AJB); cooperação nas fronteiras, por
Olímpicos atraiam cerca de 380 mil intermédio das forças disponíveis nos
turistas estrangeiros. Distritos Navais, cuja jurisdição al-
A projeção desses cenários evi- cança a faixa de fronteiras; segurança
denciou a necessidade de reforço das e defesa cibernética; defesa quími-
ações de defesa e de segurança, du- ca, biológica, radiológica e nuclear
rante a realização dos eventos pelo (QBRN); emprego de helicópteros;
País. Para tanto, o Governo Brasileiro prevenção, repressão e combate ao
criou Centros de Comando de De- terrorismo; e força de contingência.
fesa de Área, nas cidades sede, onde A defesa marítima é o principal
Marinha, Exército, Força Aérea e os campo de atuação da Força Naval.
órgãos de segurança pública traba- “Entramos em ação com toda a nossa
lharam de forma coordenada. “Em expertise para executar patrulhas na-
eventos como esses, o planejamento vais, inspeções navais, operações de

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 15


Operações Especiais

Centro de Comando de Defesa de Área

esclarecimento com aeronaves”, expôs instalações de apoio, nas AJB.


“O Com2ºDN coordenou o Contra-Almirante (FN) Paulo Mar- Em função dos conhecimentos ad-
e liderou uma operação tino Zuccaro, Comandante da Divisão quiridos com o seu Programa Nucle-
conjunta de ações de Anfíbia, designado como Chefe do ar, a Marinha foi escolhida pelo Mi-
defesa, com elementos Estado-Maior Conjunto das Forças de nistério da Defesa, por intermédio do
operativos da Marinha Defesa do Estado do Rio de Janeiro. Pelotão de Defesa Química, Biológica
do Brasil, do Exército A patrulha naval tem o propósito de e Nuclear (PelDefQBN), do Bata-
Brasileiro e da Força fiscalizar o cumprimento da legislação lhão de Engenharia de Fuzileiros Na-
Aérea Brasileira”. nacional por parte de embarcações, vais, para coordenar a defesa QBRN.
Comandante do 2º Distrito nacionais e estrangeiras, nas AJB. A “Contamos com o Hospital Naval
Naval inspeção naval está relacionada à sal- Marcílio Dias, a instalação hospitalar
Vice-Almirante Antônio vaguarda da vida humana e à preven- brasileira de referência no assunto,
Fernando Monteiro Dias ção da poluição ambiental por parte apta a proporcionar resposta médi-
de embarcações, plataformas ou suas ca adequada a acidentes nucleares de

16
vulto”, acrescentou o Almirante Zuc- geral”, observou o Almirante Zucca-
caro. ro.
Outro destaque da Força está no
campo da repressão e combate ao COPA DAS CONFEDERAÇÕES E JMJ
terrorismo, para o qual a Marinha A Marinha esteve no mar, na terra e
dispõe de militares e meios especiais, no ar, durante a Copa das Confede-
tais como: comandos anfíbios, mergu- rações e a JMJ. A função principal da
lhadores de combate, militares espe- Força foi a defesa e segurança das áre-
cializados em negociação em conflitos as marítima e fluvial, além das estru-
com tomada de reféns, destruição de turas estratégicas, como portos, aero-
artefatos explosivos e segurança de portos, centrais de abastecimento de
autoridades, além do já mencionado água e energia elétrica, terminais de
PelDefQBN. Segundo o Almirante combustíveis e os estádios, no caso do
Zuccaro, “na Copa das Confedera- evento esportivo.
ções, esses elementos organizacionais Para a Copa realizada este ano, a
fizeram parte de uma estrutura de Marinha disponibilizou um efetivo
coordenação específica, que integrou de quase 12 mil militares, incluindo
elementos de operações especiais das grupamentos de fuzileiros navais, seis
três Forças Armadas, tendo como ór- equipes de mergulhadores de comba-
gão principal o Centro de Coordena- te e o PelDefQBN. Também foram
ção de Prevenção e Combate ao Ter- empregados cinco navios-escolta,
rorismo (CCPCT), em Brasília”. distribuídos pelos portos de Fortale-
Os militares atuam como força de za, Recife, Rio de Janeiro e Salvador,
contingência, complementando ou além de 15 navios distritais e oito ae-
substituindo os órgãos de segurança ronaves.
pública, quando estes vêem sua capa- Em Salvador, a Marinha exerceu a
cidade esgotada. Entretanto, “se não função de Centro de Coordenação de
ocorrer o mencionado esgotamento, Defesa de Área (CCDA), sob o coman-
esses elementos provavelmente se- do do Vice-Almirante Antônio Fer-
quer serão vistos pela população em nando Monteiro Dias, Comandante

Fuzileiros navais do Pelotão de Defesa QBN


“Contamos com o Hospital Naval Marcílio Dias, Em terra, cerca de mil militares

a instalação hospitalar brasileira de referência dos Grupamentos Operativos de Fu-


Operações Especiais

zileiros Navais, constituídos para a


no assunto, apta a proporcionar resposta médica JMJ, realizaram patrulhamento, con-
adequada a acidentes nucleares de vulto.” trole de trânsito e estiveram prontos
Contra-Almirante (FN), Paulo Martino Zuccaro para operar como força de contingên-
cia.
do 2º Distrito Naval (Com2ºDN), inteligência, segurança pública, defe- A área de atuação esteve dividida
cuja sede se localiza na capital baiana. sa civil e diversas agências federais, em 23 pontos fixos de segurança no
“O Com2ºDN coordenou e liderou estaduais e municipais envolvidas. eixo de peregrinação, desde a Cen-
uma operação conjunta de ações de Já durante a Jornada Mundial da tral do Brasil até o Monumento a
defesa, com elementos operativos da Juventude, em Copacabana (RJ), Estácio de Sá, no Aterro do Flamen-
Marinha do Brasil, do Exército Bra- a Marinha do Brasil empregou 22 go. Agentes de segurança e equipes
sileiro e da Força Aérea Brasileira”, meios navais, entre navios e embarca- de operações especiais também po-
explicou o Almirante Monteiro Dias. ções de apoio. As atividades de patru- sicionaram-se em Copacabana. Es-
O CCDA é dotado de sofisticadas lha e inspeção naval aconteceram na sas equipes estavam preparadas para
ferramentas de tecnologia da infor- orla do Rio, na Baía de Guanabara e atuar no combate ao terrorismo e
mação e comunicação que o interliga na área marítima da Central Nuclear defesa QBRN. No total, estiveram
aos Centros de Comando e Controle Almirante Álvaro Alberto, em Angra prontos para emprego cerca de 3.300
das Forças Componentes e às áreas de dos Reis. militares

Emprego de Carros Lagarta Anfíbios

18
Esperança Ribeirinha

Social
Navios de Assistência Hospitalar da Marinha
atendem comunidades na Amazônia e no Pantanal
Por: Primeiro-Tenente (RM2-T) Daniella Guedes Rocha Malito
Foto: Primeiro-Tenente (RM2-T) Daniella Guedes Rocha Malito
Social

NAsH “Oswaldo Cruz” fundeado próximo a Itapeua (AM)

Alguns pés descalços, outros calçados, roupas “O mais importante


modestas, ou a melhor de domingo, olhares na atuação das Forças
amedrontados, porém esperançosos. Casas de madeira, Armadas e de outros
sobre palafitas, barrancos, chão batido. Um navio
orgãos da mesma região, é
que, se não estivéssemos
fundeado, ou abarrancado, e militares com uma lá, a população não
só missão: levar atendimento médico-hospitalar e teria outra opção. Nós,
odontológico a comunidades isoladas da Região talvez, sejamos a única
Amazônica e do Pantanal. oportunidade dessas
comunidades receberem a
assistência e o cuidado de

E
sse trabalho, realizado pelos talvez, sejamos a única oportunida- que necessitam”.
Navios de Assistência Hospita- de dessas comunidades receberem os Comandante do 9º Distrito Naval
lar (NAsH), conhecidos como cuidados de que necessitam”, afirma Vice-Almirante Antonio Carlos
“Navios da Esperança”, supre uma la- o Vice-Almirante Antonio Carlos Frade Carneiro
cuna existente no atendimento médi- Frade Carneiro, Comandante do 9º
co às populações que residem em re- Distrito Naval, sediado em Manaus
giões distantes dos centros urbanos, (AM).
às margens dos rios. “O mais impor- Segundo o Ministro da Defesa, chamou de “espírito de Brasil”.
tante na atuação das Forças Armadas Embaixador Celso Amorim, a pre- Para o Comandante do NAsH
e de outros orgãos da mesma região, sença das Forças Armadas nessas áre- “Oswaldo Cruz”, Capitão-de-Corve-
é que, se não estivéssemos lá, a po- as isoladas gera na população o sen- ta André Luiz Morais de Vasconcelos,
pulação não teria outra opção. Nós, timento de pertencer ao País, ao que a realização da assistência hospitalar

20
ATENDIMENTO
A maior parte dos atendimentos
é realizada na própria comunidade,
onde as equipes médicas dos navios,
compostas por médicos, dentistas,
farmacêuticos e demais profissio-
nais de saúde, utilizam-se de escolas,
igrejas, galpões, ou qualquer outra
estrutura capaz de abrigar pacientes
e equipamentos. Nesses locais, são
realizados procedimentos médicos e
odontológicos básicos, além de vaci-
nação e distribuição de medicamen-
tos. Apenas os casos mais complexos
são enviados aos NAsH. Nesse caso,
Militares desembarcam em uma comunidade
as pessoas são transportadas por meio
de lanchas ou helicópteros orgânicos.
Uma vez dentro do navio, os pacien-
reverte-se em orgulho para a tripu- Hospitalar: “Doutor Montenegro”,
tes têm acesso a consultórios e am-
lação. “Sentimos um carinho muito “Oswaldo Cruz”, “Carlos Chagas” e
bulatórios médicos e odontológicos,
grande, quando chegamos às comu- “Soares de Meirelles”, subordinados
farmácia e laboratórios capazes de
nidades. Ficamos honrados de sermos ao Comando da Flotilha do Amazo-
realizar variados exames.
militares e temos a sensação do dever nas, sediado em Manaus; e o “Tenen-
Além dos atendimentos, os milita-
cumprido”, ressalta. te Maximiano”, subordinado ao Co-
res ainda realizam nas comunidades
Atualmente, a Marinha do Brasil mando da Flotilha do Mato Grosso,
palestras sobre escovação, prevenção
possui cinco Navios de Assistência cuja sede se localiza em Ladário (MS).

Atendimento em escola de Itapeua (AM)

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 21


Social

Atendimento a bordo

a Doenças Sexualmente Transmis- nervosa e desmaiei. Um militar me um sofrimento para a população, que
síveis (DST), noções de higiene e socorreu e cheguei a ficar internada precisa se deslocar até o centro ur-
segurança da navegação. A estru- no navio da Marinha”, conta Dona bano mais próximo, a fim de receber
tura instalada é tal que, em apenas Fátima, à beira do rio, enquanto es- atendimento, mesmo sem a certeza
um dia de Assistência Hospitalar pera para ser atendida em mais uma de êxito. “O ribeirinho tem muitos
(ASSHOP), em outubro de 2012, nas ASSHOP do NAsH “Tenente Maxi- problemas de saúde, mas a comuni-
margens do Rio Solimões, o NAsH miano”, na região. dade não tem posto. Na cidade, há
“Oswaldo Cruz” realizou 1.154 pro- Grávida de nove meses, Francile- um hospital, infelizmente sem recur-
cedimentos de saúde. ne Alpides foi atendida em sua casa sos ou medicamentos suficientes”,
de madeira, também em Paraguai- ressalta Washington Barbosa, pro-
SENSAÇÃO DE NÃO ESTAR SÓ Mirim, em continuidade ao acom- fessor da comunidade Amazonino
Os relatos dos ribeirinhos vêm panhamento da gestação, realizado Mendes, durante atendimento a bor-
acompanhados de lágrimas e de um pelos médicos da Marinha. “É uma do do NAsH “Oswaldo Cruz”. Em
sentimento de imensa gratidão pelo alegria quando vocês vêm, porque Itapeua, onde não há posto de saúde,
trabalho dos militares. Fátima da são as únicas pessoas que olham por a situação não é diferente. “Aqui não
Silva, moradora de Paraguai-Mirim, nós”, diz a jovem, ansiosa pelo parto.
no Pantanal, tem sua vida marcada No posto avançado, instalado pela “Os navios já me so-
pelo apoio da Força. “Os navios já equipe do NAsH “Oswaldo Cruz” correram três vezes. Aos
me socorreram três vezes. Aos sete na Escola Municipal José Manoel de sete meses de gestação,
meses de gestação, entrei em tra- Souza, em Itapeua (AM), a agricul- entrei em trabalho de par-
balho de parto, e os militares me tora Célia Onete acabava de ter sua to, e os militares me le-
levaram para a cidade, onde o bebê filha de sete meses vacinada. “Muitas varam para a cidade, onde
nasceu com oito meses. Em outra vezes, vamos à cidade e não conse- o bebê nasceu com oito
ocasião, meu outro filho caiu e que- guimos atendimento. Graças a Deus, meses.
brou o braço, e a Marinha o levou de vocês apareceram aqui e minha filha Fátima da Silva, moradora de
helicóptero para a cidade. Mas o mo- pôde ser vacinada”, afirma. Paraguai-Mirim, no Pantanal
mento mais triste da minha vida foi A falta de estrutura médica nas
quando meu netinho faleceu. Fiquei comunidades ribeirinhas representa

22
tem nada e em Coari, a cidade mais
próxima, a estrutura do hospital está
crítica”, explica Jorge Gama, agente
de saúde há 20 anos na localidade.
É em meio a esse cenário, que
aqueles homens e mulheres da Ma-
rinha do Brasil, subindo o barranco
ou saltando das lanchas com medica-
mentos e instrumentos de trabalho
nas mãos, tornam-se a grande espe-
rança da população de receber cuida-
do, atenção, acompanhamento médi-
co, ou mesmo a cura. E os NAsH,
navegando pelos rios da Amazônia
e do Pantanal, representam para os
ribeirinhos a certeza de que eles não
Palestra sobre Segurança da Navegação
estão sós

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 23


Estação Antártica,
a reconstrução de
Capa

um sonho
Após o incêndio ocorrido em 2012, a Marinha do Brasil
supera o desafio de planejar a reconstrução da Estação.
Projeto simples e elegante foi escolhido em concurso para
dar nova cara às instalações.

Por:Primeiro-Tenente (RM2-T) Karla Nayra Fernandes Pereira


Fotos: Studio 41

24
Marcada pela pesquisa e
pela produção científica,
a presença do Brasil na
Antártica estende-se por
mais de 30 anos, por meio
do Programa Antártico
Brasileiro (PROANTAR).
Em 2012, após um
incêndio que destruiu
grande parte da Estação
Antártica Comandante
Ferraz (EACF), a
continuação do trabalho
realizado por militares
e pesquisadores estava
cercada de incertezas.
Mas o lançamento de um
concurso e a escolha do
projeto para a construção
de uma nova EACF
reacendeu o sonho de ver
novamente a presença do
Brasil e o prosseguimento
das pesquisas no
continente gelado.

O
concurso “Estação Antártica
Comandante Ferraz”, que ele-
geu o projeto arquitetônico da
nova Estação, foi uma iniciativa da
Marinha do Brasil, por meio da Secre-
taria Interministerial para os Recursos
do Mar, em parceria com o Instituto
de Arquitetos do Brasil (IAB). A pre-
visão é que o processo licitatório para
a execução do projeto termine ao fi-
nal deste ano. O lançamento da pedra
fundamental da estação está previsto
para o próximo verão antártico. E o

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 25


Capa

questionado sobre a presença da Ma- num ambiente tão extremo. Tivemos


“Nosso projeto é o rinha e do Brasil no continente. “No um grande período de pesquisa e de
resultado muito trabalho próximo verão, de 2013 para 2014, aprendizado. Procuramos saber como
e, especialmente, da reiniciaremos a construção da nova são as edificações construídas por ou-
Estação. Continuaremos apoiando a tros países que também estão na An-
grande vontade de auxiliar ciência com nosso esforço logístico. tártica para subsidiar a nossa proposta.
o Brasil nesse momento Estamos no caminho certo”, garantiu. Nosso projeto é o resultado de muito
tão importante de trabalho e, especialmente, da grande
reconstrução”. PROJETO VENCEDOR vontade de auxiliar o Brasil nesse mo-
Líder da equipe do Escritório de Segurança, simplicidade e elegân- mento tão importante de reconstru-
Arquitetura Estúdio 41, cia foram os atributos básicos que ele- ção”, diz o líder da equipe vencedora.
Fábio Henrique Faria geram o primeiro lugar do concurso. A nova Estação Antártica foi pro-
Idealizado pela equipe do Escritório jetada para minimizar as possibilida-
de Arquitetura Estúdio 41, de Curiti- des de um novo incêndio. Para isso,
início da operação da nova EACF, pela os arquitetos pensaram em isolar ao
ba (PR), o projeto vencedor prevê área
Marinha do Brasil, deverá ocorrer até máximo tal risco, utilizando paredes
total de 3,2 mil m² e capacidade para
março de 2015. O concurso contou corta fogo e 12 saídas de emergência.
64 pessoas no verão e 34 no inverno.
com a contribuição da Frente Parla- Também foi projetado por especialis-
A estação será construída no mesmo
mentar de Apoio ao PROANTAR e tas o sistema de proteção e prevenção
local da antiga, com investimentos es-
envolveu os Ministérios da Defesa, do contra incêndios.
timados em R$ 110 milhões.
Meio Ambiente e da Ciência, Tecno-
De acordo com o líder da equipe
logia e Inovação.
vencedora, Fábio Henrique Faria, as PESQUISAS
“O Brasil está na Antártica para fi-
peculiaridades do continente gela- Localizada na Península Keller, no
car”, é o que afirmou o Comandante
do demandaram um vasto levanta- interior da Baía do Almirantado, Ilha
da Marinha, Almirante-de-Esquadra
mento de informações. “Foi um ver- Rei George, a EACF é destinada a es-
Julio Soares de Moura Neto, quando
dadeiro desafio idealizar o projeto tudos sobre o ambiente. As pesquisas

26
realizadas no local são voltadas para a participa desse projeto, principalmen-
compreensão dos fenômenos naturais te com estrutura e apoio logístico. A
“A finalidade básica do
do ambiente glacial e das suas reper- finalidade básica do Brasil naquele Brasil naquele continente
cussões no âmbito global. A comuni- continente é a pesquisa, mas sabemos é a pesquisa, mas
dade científica que utiliza a estação que, numa Operação Antártica, 80% sabemos que, numa
é formada por estudiosos de diversas dos esforços estão concentrados na
áreas do conhecimento, entre elas estrutura logística e os outros 20% na
Operação Antártica,
oceanografia, meteorologia, biologia pesquisa”, afirma.
80% dos esforços estão
e geologia. concentrados na estrutura
Ao longo dos anos, a presença do ANTÁRTICA logística e os outros 20%
Brasil na Antártica foi ganhando rele- James Cook foi o primeiro homem na pesquisa”.
vância. Em 1975, o País aderiu ao Tra- ao circunavegar o oceano Austral em Secretário da Comissão
tado Antártico e, em 1982, realizou a 1775. Em seu diário de bordo regis- Interministerial para os
primeira expedição àquele continente. trou que a Antártica era cercada por Recursos do Mar
Hoje, já são mais de 30 missões reali- “terras condenadas à eterna frigidez”.
Contra-Almirante Marcos Silva
zadas. Na última Operação Antártica, Com o passar dos anos, essa visão so-
cerca de 200 pesquisadores estiveram
Rodrigues
freu uma reviravolta e, atualmente,
no local desenvolvendo estudos ocea- cientistas contemporâneos afirmam
nográficos e biológicos. que o continente gelado guarda, de- global e, por consequência, os ecos-
De acordo com o Secretário da baixo dos mares, uma biodiversidade sistemas e a sociedade. As pesquisas
Comissão Interministerial para os que pode ser comparada à dos mares mundiais estão focadas nas mudanças
Recursos do Mar, Contra-Almirante tropicais. que ocorrem nas regiões polares e na
Marcos Silva Rodrigues, o apoio da A publicação “Brasil na Antártica análise de sua importância ambiental
Marinha é fundamental e ressalta o es- - 25 anos de História”, do PROAN- e econômica para o planeta. A região
forço para manter a pesquisa no con- TAR, revela que o continente influen- guarda cerca de 70% da água doce do
tinente. “Desde o início, a Marinha cia o clima do planeta Terra de forma mundo

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 27


Ciência e Tecnologia
CASNAV: Referência
em Tecnologia Militar
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Vanessa Rosana Soares da Silva Oliveira
Fotos: Primeiro-Sargento (AR) Alexander Vieira
Em 9 de junho de 1975, a Marinha do Brasil (MB) incorporou à sua
Ciência e Tecnologia

estrutura o Centro de Análises de Sistemas Navais (CASNAV). Havia,


na época, o desafio tecnológico de avaliar o desempenho dos complexos
sistemas operacionais e otimizar o emprego das Fragatas da Classe
“Niterói”, primeira Classe de navios da Marinha a empregar sistemas
digitais para operar armas e sensores.

A
evolução tecnológica continua- e Tecnologia (OMPS-C), passando, do Poder Naval, minimizando riscos
ria nos anos 80, com a informa- em 2008, a ser subordinada à Secre- de pessoal e material, além de gerar
tização dos jogos de guerra, a taria de Ciência, Tecnologia e Inova- economia de recursos financeiros.
modelagem do sistema militar de co- ção da Marinha. Dessa forma, o foco é a avaliação
mando e controle para as Forças Ar- operacional dos meios navais, aero-
madas, a análise do sistema de apoio CAPACIDADES TÉCNICAS navais e de fuzileiros navais.
logístico da Marinha e o desenvolvi- As áreas de atuação do CASNAV A área de tecnologia da informa-
mento de cifras criptográficas para a relacionam-se com as suas capacida- ção apoia e facilita o emprego do
segurança das comunicações. des em: pesquisa operacional, tecno- conhecimento, obtido pela pesqui-
Em 1993, o CASNAV foi reco- logia da informação, segurança da sa operacional, por meio da espe-
nhecido como órgão da área de Ci- informação e simulação em ambien- cificação e do desenvolvimento de
ência e Tecnologia da Administração tes virtuais. sistemas computacionais em diver-
Pública Federal Direta e, a partir de Na área de pesquisa operacional, sas áreas como comando e contro-
janeiro de 1997, iniciou suas ativi- são aplicados métodos analíticos le, inteligência, logística, controle
dades como Organização Militar para auxiliar o processo de tomada de tráfego marítimo, planejamen-
Prestadora de Serviços de Ciência de decisão, otimizando o emprego to militar, capacitação de recursos

Servidor civil projetando o simulador

30
Contra-Almirante Claro, Diretor do CASNAV

humanos, gerenciamento eletrônico a Presidência da República. Na área “Passamos de meros


de documentos e saúde. de criptologia, evoluiu no desenvol-
A segurança da informação visa vimento de sistemas criptológicos,
usuários de sistemas
garantir a integridade, a origem e a de modelagem de ameaças e de siste- importados para
autenticidade das informações que mas para teste de robustecimento de desenvolvedores e
trafegam nos sistemas computacio- algoritmos. mantenedores de nossos
nais da Marinha. próprios sistemas,
Dentro dessas áreas de atuação, SIMULADOR DE NAVEGAÇÃO
o CASNAV vem obtendo grandes
atendendo à crescente
Uma recente conquista do Centro
conquistas, como a avaliação ope- ocorreu na área de simulação para
demanda do setor
racional dos submarinos e dos na- treinamento em ambientes virtuais, operativo”.
vios-patrulha, o desenvolvimento do com o desenvolvimento do simula- Capitão-de-Corveta Antonio
sistema de planejamento operacio- dor de navegação. Ele consiste num Anddre Serpa
nal militar do Ministério da Defesa sistema de realidade virtual que ten- Encarregado da Divisão de
(MD), dos sistemas de controle de ta replicar as condições encontradas Modelagem e Simulação do
tráfego marítimo e de pandemias dentro do passadiço de um navio CASNAV
para os portos e, ainda, dos sistemas em operação no mar, possibilitando
de gestão eletrônica de documentos o treinamento do pessoal, sem os
de grande porte para a Marinha do riscos de uma operação real e, con-
Brasil, Ministério da Defesa e para sequentemente, com redução dos

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 31


Ciência e Tecnologia

Projetos de Simulação do CASNAV

custos inerentes a operação de um disse o Capitão-de-Corveta Antonio Adestramento Almirante Marques


meio. Anddre Serpa, Encarregado da Di- de Leão e no Colégio Naval.
“Atualmente, estamos desenvol- visão de Modelagem e Simulação do
vendo o Simulador de Passadiço do CASNAV. CERTIFICAÇÕES E PRÊMIO
CIAGA (SimCIAGA) e o Simula- O primeiro simulador entregue Em 2003, o CASNAV obteve a
dor de Avisos de Instrução (SiA- pelo CASNAV foi o SiAvIn, em Certificação ISO 9001 em todos os
vIn), que marcam uma nova fase na operação desde agosto de 2011, na seus processos de desenvolvimento
área de simulação para treinamento Escola Naval. O projeto foi inicia- de sistemas. Nos anos 2004, 2005,
em ambientes virtuais. Passamos do em 2009, pelo Capitão-de-Cor- 2007 e 2010, fruto da dedicação dos
de meros usuários de sistemas im- veta Claudio Coreixas de Moraes, seus militares e servidores civis, foi
portados para desenvolvedores e como um trabalho de pesquisa do reconhecido na faixa bronze, no
mantenedores de nossos próprios curso de mestrado em Modelagem Prêmio Nacional da Gestão Pública
sistemas, atendendo à crescente de- e Simulação em Ambientes Virtu- (PQGF). Em 2009, obteve a certifi-
manda do setor operativo. Esse tipo ais, na Naval Postgraduate School cação, no nível “G”, do Modelo de
de treinamento é adotado por Forças (NPS), nos Estados Unidos da Amé- Melhoria do Processo de Software
Armadas de diversos países, princi- rica. Atualmente, há SiAvIn instala- Brasileiro, o MPS.BR. E, em dezem-
palmente por reduzir custos ope- dos no Centro de Instrução Almi- bro de 2011, alcançou o nível “F”,
racionais, risco de vida e material”, rante Wandenkolk, no Centro de mantendo essa certificação até hoje

32
Fuzileiro naval fala

Entrevista
da experiência como
Chefe de Operações
na Síria
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Vanessa Rosana Soares da Silva Oliveira
Fotos: Acervo pessoal

Graduado em Ciências Navais pela Escola Naval, em


1987, casado e pai de três filhos, o Capitão-de-Mar-e-
Guerra (FN) Alexandre Feitosa desempenhou, pratica-
mente, toda a sua carreira na área de operações especiais e
de inteligência da Marinha do Brasil.
Em 2012, foi selecionado pela Organização das Nações
Unidas (ONU) para fazer parte do grupo avançado, na
missão precursora de seis observadores internacionais
enviados à Síria, com o propósito de preparar o caminho
para a chegada de outros 250 monitores, encarregados de
fiscalizar o cumprimento do cessar fogo, entre o regime de
Bashar Al Assad e as forças rebeldes de oposição.
Essa colaboração à paz mundial rendeu-lhe bons frutos.
Entre eles, a seleção por jornalistas do jornal “O Globo” e
também por votação popular, para receber o prêmio “Faz
Diferença”, em março de 2013. O prêmio homenageia os
brasileiros que mais contribuíram para transformar o Bra-
sil num País melhor, com seu trabalho, suas iniciativas e
seus exemplos. Coragem de mudar, determinação, talento,
visão de futuro e solidariedade são qualidades que marcam
os vencedores do “Faz Diferença”, desde que ele foi criado,
em 2003.
E esse militar que, de fato, fez a diferença contou para a
Marinha em Revista um pouco dessa história desafiadora,

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 33


audaciosa e destemida. anfíbios, nos conduzem a um lugar de Que cargo ocupou na Síria e
Como foi o seu ingresso na Ma- destaque no cenário mundial. quais funções desempenhou?
rinha do Brasil? Era um sonho? Como foi sua infância? Fui Chefe de Operações e minhas
Em 1983, fui aprovado em con- Sempre procurei dedicar-me aos tarefas eram de reconhecer os princi-
curso para ingressar na Escola Naval. estudos e aos esportes, prezando pela pais locais do conflito e prover con-
Sempre tive o apoio de minha famí- minha saúde e o meu preparo físico. dições, nesses locais, para o estabele-
lia, mesmo porque meu pai é fuzi- Como foi realizado o convite cimento de equipes de observadores
leiro naval. Foi para a reserva como para participar dessa missão de militares.
Capitão-de-Mar-e-Guerra. Foi um paz na Síria? Na ocasião, desem- Como estava aquele país, quan-
orgulho para todos quando eu decidi penhava qual função? do de sua chegada?
seguir os passos de meu pai. Fui convidado após ter logrado A situação era tensa. Todos os lu-
Desde os tempos dos bancos es- êxito em processo seletivo do De- gares que visitávamos eram cercados
colares, já pensava em fazer a dife- partamento de Operações de Manu- de grande expectativa pela chegada
rença, em não ser mais um dentro tenção de Paz da ONU. Na ocasião, da ONU. A violência estava em todos
da Instituição? estava trabalhando como Oficial de os lugares. Bombardeios, tiros, explo-
Creio que a formação e a prepara- Planejamento das Missões de Paz da sões. Não havia o comprometimento
ção, que tive ao longo de minha vida e ONU, no Oriente Médio. das partes pelo cessar fogo.
minha carreira, foram fundamentais Qual foi sua reação ao saber do Enquanto permanceu na Síria,
para que eu “fizesse a diferença”. Res- resultado do processo seletivo da quais foram suas maiores dificul-
salto a excelente preparação que tive ONU? E a de sua família? dades pessoais e profissionais?
dos meus instrutores da Escola Naval Minha reação foi uma mistura de Com certeza, o contato com a fa-
e a sorte e o orgulho de pertencer à estar diante de um grande desafio mília era muito complicado de ser
Turma Barão de Teffé, cujos compo- e responsabilidade. Minha família realizado e, também, fazer com que
nentes muito se esmeram em tentar monstrou-se preocupada, contudo, o governo e a oposição se comprome-
fazer sempre o melhor, de maneira como sempre, incentivou-me para se- tessem a respeitar o cessar fogo.
diferenciada. guir adiante. Por quanto tempo permaneceu
Minha formação como comandos
anfíbios e os anos passados no Bata-
lhão de Operações Especiais de Fuzi-
leiros Navais - unidade altamente es-
pecializada e preparada para as mais
árduas missões, onde os limites são
constantemente superados - moti-
varam-me, sobremaneira, a honrar e
bem representar, da melhor maneira
possível, o distintivo do Curso Espe-
cial de Comandos Anfíbios, a caveira
que carrego nos meus uniformes.
Tendo trabalhado e convivido com
inúmeros militares de todo o mundo,
numa esfera multinacional, não tenho
dúvidas de que a nossa preparação, na
Marinha do Brasil, os adestramentos
dos nossos fuzileiros navais e o alto
grau de preparo das nossas tropas
de operações especiais, os comandos

34
nessa missão? parte profissional, o principal apren- em um prêmio tão importante. Foi
Cheguei no início de abril de 2012 dizado foi com relação aos aspectos um momento de grande emoção,
e fiquei até o final de maio do mesmo psicossociais, cuja relevância é bas- inesquecível, não somente para mim,
ano. tante acentuada, quando planejamos como para a minha família. Agrade-
Faria tudo novamente? uma operação em locais onde a cultu- ço o apoio de meus familiares e de
Com certeza, pois essa missão ra, a religião, a história e os costumes meus amigos, mais especialmente de
representou uma grande realização afastam-se muito daqueles que temos minha amada esposa Luciana, por ter
profissional para mim. em nosso lugar de origem. Deve ha- me acompanhado diuturnamente. Ela
Que lições ficaram? ver um estudo maior desses fatores, foi fundamental para mim, sendo meu
No lado pessoal, a recuperação de que muito influenciam no sucesso da anjo da guarda em terra. Sem ela, não
um recente AVC (Acidente Vascular missão. seria possível atingir o estado em que
Cerebral) tem me trazido muitos en- Com relação ao prêmio “Faz me encontro atualmente. Hoje, meu
sinamentos. Mais do que realizar os Diferença”, concedido pelo jornal momento de vida é de superação, per-
exercícios de fisioterapia, a paciência “O Globo”, no dia 27 de março severança e fé. Para superar tais mo-
é constantemente exercitada. Nem de 2013, qual foi a sensação de ser mentos, minha preparação ao longo
sempre, a recuperação acontece na premiado? da carreira, em especial como coman-
velocidade e no tempo que espera- Senti-me muito orgulhoso por po- dos anfíbios, ajudou-me sobremaneira
mos. Outra lição é a de estabelecer der representar o País, a Marinha do a seguir em busca de ultrapassar meus
melhor as prioridades na vida. Na Brasil e o Corpo de Fuzileiros Navais, limites a cada novo dia

Engenharia de Automação e Assistência Técnica

CONTEÚDO LOCAL PARA A INDÚSTRIA NAVAL


Quadros Elétricos e Painéis de Distribuição
Sistemas de Gerenciamento de Energia (PMS)
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Fabricação, Instalação e Comissionamento
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Carreira Naval

Duas Estrelas para a


Almirante Dalva
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Fernanda Mendes Medeiros de Oliveira
Fotos: Acervo pessoal

Apresentação de Oficial-General à Presidenta Dilma

Marco histórico para as Forças Armadas, a promoção da primeira mulher


ao posto de Oficial-General não podia ter outro nome: Dalva. Como o
Planeta Vênus do Sistema Solar, apelidado de Estrela d’Alva por ser o
objeto mais brilhante no céu noturno depois da Lua, a Almirante brilha
nas fileiras do posto mais alto da carreira naval, como a única mulher
Oficial-General das Forças Armadas.

D
alva Maria Carvalho Men- nacional. Na cerimônia de sua pro- as inéditas platinas de duas estre-
des, esse é o nome da pri- moção, seu semblante não foi de las, sobre um ombro feminino. “É
meira Oficial-General das euforia, nem de ansiedade. A então como se eu estivesse renovando
Forças Armadas brasileiras, que Capitão-de-Mar-e-Guerra esta- meus votos com a Marinha”, revela
entrou para uma seleta lista de au- va, simplesmente, pronta. Pronta a Contra-Almirante.
toridades que trabalham, junto aos para ingressar em um novo círculo Anestesiologista por forma-
demais militares, em prol da defesa hierárquico. Pronta para carregar ção acadêmica, a Almirante Dalva

36
O dia amanheceu diferente naquela manhã de 26 de
novembro de 2012. Em um momento inédito na história
do Brasil e pela primeira vez na história das Forças
Armadas brasileiras, uma mulher, após 30 anos de carreira
militar, galgou o posto de Contra-Almirante, patente que,
até aquele momento, jamais houvera sido alcançada por
uma representante do sexo feminino.

profissional ao se inscrever para o velho, também exalta o orgulho


concurso da Marinha e revela que, que sente da mãe. “Estar com ela é
na época, foi muito concorrido. muito gratificante para mim. Estar
“Fiquei sabendo por uma amiga. ao lado da mulher que entra para a
Quando passei, foi muita emoção. história do Brasil, é motivo de mui-
Eu consegui”, conta. Ao ser ques- to orgulho mesmo! Sem contar a
tionada sobre a reação da família, excelente mãe. É difícil descrever”,
a Almirante não hesita em afirmar: fala emocionado.
“Tive o apoio de todos”. E diz que Ao observar seu currículo pro-
sempre se inspirou em seu pai, um fissional é impossível não se emo-
torneiro mecânico, que lhe ensinou cionar com tanta dedicação à
os segredos da liderança. carreira naval e à medicina. Ela
Sua trajetória na Marinha come- descreve sua carreira e revela sua
çou em 1981. A então Guarda-Mari- naturalidade e habilidade para
nha Dalva estreava a primeira tur- comandar. Desde cedo, assumiu
ma feminina de Oficiais nas Forças grandes responsabilidades. Entre
Armadas. Modesta, ela diz não sa- seus comandos, destacam-se a che-
ber exatamente o porquê de ter sido fia da clínica e a vice-diretoria de
escolhida para o posto de Contra ensino do Hospital Naval Marcílio
-Almirante. “Acho que sei liderar”, Dias, a diretoria da Unidade Inte-
ingressou na Marinha do Brasil em reconhece a Oficial-General. grada de Saúde Mental e a diretoria
1981. Mas, antes de chegar tão lon- Viúva há seis anos, credita ao da Policlínica Naval Nossa Senho-
ge, há muita história para contar. marido parte de suas vitórias. “Ele ra da Glória.
Tudo começou em 1956, no Rio foi um leal companheiro, esteve Dos momentos marcantes de
de Janeiro (RJ), quando nasceu. sempre ao meu lado, me apoiando”. sua carreira e de sua vida pessoal,
Na zona norte da cidade, sempre Do matrimônio vieram os filhos, a Contra-Almirante apresenta uma
estudou em escolas públicas. Pela Carlos Eduardo e Luciana, que lista infinita de lembranças. Ao ser
Universidade do Estado do Rio de orgulhosos falam da mãe. “Ela me indagada sobre um momento ines-
Janeiro, cursou medicina. Em 1979, inspira em todos os sentidos. Para quecível, firme, ela fala da promo-
formou-se médica. A especialidade mim, é motivo de honra poder es- ção, concretizada com o cumpri-
em anestesiologia foi conquistada tar ao lado dela, também fardada”, mento à Presidenta da República,
em 1983. E, no meio do caminho, conta a advogada Luciana, que se- Dilma Rousseff, em Brasília (DF).
um concurso e a aspiração à carrei- guindo os passos de sua mãe, hoje é No dia 20 de dezembro de
ra naval. oficial de carreira da Marinha. 2012, o Palácio do Planalto não
Ela buscava estabilidade Carlos Eduardo, o filho mais era um palco comum para os

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 37


cumprimentos dos Oficiais-Ge- O sorriso da mais recente
nerais recém promovidos nas For- conquista na carreira militar
ças Armadas. Aquele dia, dentre
Carreira Naval

Almirantes, Generais e Brigadei-


ros, destacava-se uma militar. Era
única! E estava acompanhada de
um rapaz que segurava, firme, sua
mão. A Contra-Almirante Dalva
estava com seu filho, quando to-
dos os outros Oficiais-Generais
seguiam com suas esposas. Para a
Presidenta da República, o aperto
de mão não foi suficiente. O abra-
ço espontâneo de Dilma, quebran- Entre os dois filhos, no dia de
do o protocolo, selou a promoção sua promoção a Almirante
da Almirante. “Minha ficha caiu
naquele momento. Para mim foi o
momento mais importante”, conta,
emocionada.
Atualmente, a Oficial-General Embarcada, em uma
está na Escola Superior de Guer- de suas muitas comissões
ra e, junto com outros Almirantes,
continua seu andar cadenciado, or-
gulhosa de chegar onde chegou.
A notícia de sua promoção cor-
reu o País. Foi destaque na impren-
sa nacional por vários dias. Con-
cedeu entrevistas. Emocionou-se Grávida, usando o
na maioria delas. Foi aplaudida de uniforme da Marinha
pé por parlamentares no Congres-
so Nacional. Recebeu homenagens
em vários locais do País. Agora, sua
promoção marca a história do Bra-
sil, com o acesso da primeira mu- No dia do
lher das Forças Armadas ao posto seu casamento
de Oficial-General.
E, assim, o ano de 2012 será lem-
brado como aquele em que a Nação
foi apresentada a uma mulher de
farda reluzente, com duas estrelas
em platinas colocadas sobre seus
ombros e que foi aplaudida, porque
como diz a canção marinheira tor-
nou-se o “orgulho do Brasil” Ainda menina,
no Rio de Janeiro

38
Gente

Gente de Bordo
de Bordo
“Quando se houverem acabado os Brasil, em 1994. Cursei no Centro de
Segundo-Sargento (FN-IF) Roney
Ferreira da Silva

soldados no mundo - quando reinar a Instrução Almirante Milcíades Portela tentem nos descrever como é o país,
paz absoluta - que fiquem, pelo menos, Alves (CIAMPA), em Campo Grande, o choque é inevitável. Tudo o que eu
os fuzileiros como exemplo de tudo de no Rio de Janeiro. Hoje, tenho 19 anos imaginei era pouco. No momento da
belo e fascinante que eles foram!”. A de serviço. Graças a Deus, sempre fui chegada, dá medo. Mas, com o tempo, a
madrinha dos fuzileiros navais, Raquel um bom militar, estive bem colocado e gente vai se acostumando, não com a si-
de Queiroz, com certeza, teve bons mo- sempre tive muito prazer em servir. tuação, mas por estarmos lá, parece que
tivos para descrevê-los dessa maneira. Depois desses anos, por que se vo- já fazemos parte do lugar.
No Gente de Bordo desta edição, apre- luntariou para a missão no Haiti? Como era o trabalho que os fuzi-
sentamos a história de um Segundo- Em 2004, quando o primeiro con- leiros navais desenvolviam no país?
Sargento que ilustra bem o pensamento tingente de fuzileiros navais partiu Nós éramos responsáveis por pre-
da autora e todo o seu encantamento para o Haiti, eu ainda era aluno do venir crimes. Estávamos divididos em
por esses combatentes militares. Curso de Aperfeiçoamento de Sargen- grupos e cada um era responsável por
No ano de 2007, o Segundo-Sar- tos, mas, já naquele momento, senti a uma região. O serviço era quase sem-
gento (FN-IF) Roney Ferreira da Sil- vontade de participar de uma missão pre dois por um e não podíamos andar
va, atualmente com 38 anos, casado e de paz. Em 2007, decidi dar o primeiro à paisana pela cidade em nosso tempo
pai de dois filhos, resolveu fazer a di- passo, me voluntariando. Fiz três me- livre. É como se estivéssemos sempre
ferença em um país que necessitava do ses de curso com as polícias estaduais de serviço. Manter a segurança era nos-
seu braço forte. Roney partiu para o e com o Exército Brasileiro. Ao final so principal objetivo. O país não tinha
Haiti, sem esperar nada em troca, ali- desse período, fui informado sobre mi- limites. Cada habitante era dono de al-
mentado por uma grande vontade de nha seleção para compor o contigente guma coisa e isso gerava conflitos entre
ajudar. Mais que cumprir uma missão, seguinte. Assim, no dia 30 de junho de eles. Nossa principal missão era manter
ele foi levar esperança. Um homem, 2007, embarquei para aquele país. a paz, a estabilidade entre a população
uma família unida, três “anjinhos” hai- Decidir passar seis meses fora de e, quando necessário, prender crimino-
tianos e uma lição de vida. Essa emo- casa, longe da família, da sua rotina, sos procurados e encaminhá-los para a
cionante história começa a ser descrita, não deve ser fácil. Como foi a reação ONU.
a partir de agora, no Gente de Bordo. da sua família ao receber a notícia? Em 2007, um furacão abalou o
Como a Marinha entrou na sua vida? Bom, nunca é fácil. Mas tenho sorte país, justamente na época em que
Venho de uma família de muitos de ter uma família muito unida. Ro- você cumpria sua missão. Como
marinheiros. Tenho um tio Suboficial, selaine, minha esposa, além de tudo, foi vivenciar esse momento?
primos Sargentos. Isso tudo me in- é minha amiga. Fui me preparando e Eu vivi o furacão. Precisei me abri-
fluenciou. Meu sonho era entrar para preparando meus familiares. Sempre gar. Guardar documentos. Fomos
a Marinha. Tentei a Escola de Aprendi- tive o apoio de todos. avisados em cima da hora. Foi tenso.
zes-Marinheiros, mas não consegui. Em Como foi pisar em solo haitiano? Mas, nos unimos e enfrentamos juntos.
1993, fiz o concurso para soldado fuzi- Por mais que a gente tente imaginar, O mais difícil foi ver a cidade depois.
leiro naval e ingressei na Marinha do por mais que os colegas que já foram Doeu, mas nós estávamos lá para ajudar.

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 39


uma marmita guardada e cedemos caminhada daqueles meninos, mesmo
para ela. Em um instante, num ato sem saber se sobreviveram ao terre-
Gente de Bordo

extremamente natural, ela nos entre- moto de 2010. Ainda me lembro, sinto
gou a criança e deu-nos as costas indo saudades e tenho esperança de, um dia,
embora. Nós a chamamos para que revê-los novamente. Vou carregá-los
pudéssemos lhe devolver o bebê e, de sempre em minhas lembranças.
joelhos, ela nos pediu, chorando, im- Como foi chegar ao Brasil?
plorando, que o levássemos conosco, O abraço estava guardado desde
para que pudesse ter uma chance. Esse a minha ida. Rever minha família foi
momento foi complicado de vivenciar. emocionante. Eu fui, ajudei, vivi e,
Roney com a família Foi difícil conter as lágrimas. Tivemos, quando eu voltei, eles estavam lá, sau-
obviamente, que devolver o bebê. dáveis, unidos. Naquele momento, o
Como foi a despedida? que eu podia dar a minha família era
Como era o convívio com a po-
Por mais que eu tivesse saudades de amor e tudo o que eu recebi dela foi
pulação local?
casa, e eu tinha muita, a despedida do amor. Não me senti voltando para o
A grande maioria da população
Haiti não foi tão fácil. Justamente pelo lar, porque eles sempre estiveram co-
nos adorava. As pessoas precisavam de
vínculo que eu criei com as crianças. migo, no Haiti, todo o momento. Por
nós. E nos reconheciam, os fuzileiros
A gente se apega muito, aos colegas, à isso, eu nunca me senti só.
navais, em especial, pelos nossos boots
população e, especificamente, ao Da- Você faria tudo de novo?
diferenciados. Nós nos sentíamos es-
niel e seus irmãos. Antes de ir embora, Sem dúvida, eu faria novamente. Por
peciais para eles.
deixei uma quantia em dinheiro com minha família, pelos haitianos, por tudo
Você conseguiu estabelecer la-
um colega e pedi que ele lhes compras- o que eu sou hoje, pelas coisas que eu
ços de amizade no Haiti?
se leite. Não pude deixar muita coisa. ensino para meus filhos (princípios e
Eu fiz amigos. Sempre tive um bom
Daniel sempre me disse que nos en- o respeito ao próximo) e por tudo que
relacionamento com o pessoal do Haiti.
contraríamos no Brasil, porque ele vi- representamos para aquela população.
Mas fui privilegiado e ganhei “anjos”.
ria pra cá ser jogador de futebol. Hoje, Sim, faria tudo de novo, com prazer e
“Anjos” que me incentivaram a conti-
seis anos depois, eu ainda acredito na com muito mais vontade
nuar. Conheci o Daniel e seus irmãos
quando fazíamos patrulha em um bair-
ro. Daniel devia ter uns 11 anos e seus
irmãos eram bem menores. Eles mo-
ravam sozinhos. A mãe havia falecido
e o pai estava preso. O Daniel cuidava
de tudo. Criamos um vínculo muito
forte. Onde eu ia, eles iam comigo, se-
guiam-me. Os três eram os meus com-
panheiros. E aliviavam um pouco a dor
e a saudade de casa. Eram meus “filhos
adotivos”, meus “anjinhos”. Eles preci-
savam de mim e eu deles. E, assim, nós
nos ajudamos, o tempo todo.
Qual o momento mais
emocionante?
Estávamos em patrulha e uma se-
nhora apareceu com um bebê nos
braços. Pediu-nos comida. Tínhamos Roney com Daniel (acima)

40
Artigo
Programa Olímpico
da Marinha
Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto – Comandante da Marinha

Em 24 de janeiro de 2013, deci- Liga de Sports da Marinha (LSM), Olímpicos Latino-Americanos, re-
di tornar permanente o Programa criada em 4 de janeiro de 1916, presentaram um marco para a Mari-
Olímpico da Marinha (PROLIM), contribuiu efetivamente na prepara- nha do Brasil. Foi naquela ocasião que
tendo como alicerce dessa decisão os ção e realização dos Jogos Esportivos a Força avançou na sistematização do
excelentes resultados alcançados, du- do Centenário, realizados na cidade processo de treinamento de seus mili-
rante os 5º Jogos Mundiais Militares do Rio de Janeiro, dentro do quadro tares para as competições esportivas,
e os Jogos Olímpicos de Londres. de eventos comemorativos ao cente- nacionais e internacionais, e apresen-
Naqueles dois eventos, por meio da nário da Independência do Brasil. Na- tou uma proposta de criação da Escola
dedicação, treinamento e esforço de quele ano, a LSM assinou um acordo de Educação Física da Liga de Sports
nossos atletas, em especial aqueles de de filiação à Confederação Brasileira da Marinha, que se tornou realidade
alto rendimento, incorporados como de Desporto (CBD), sendo reconheci- três anos mais tarde, em 1925, sendo
militares temporários (RM2), a Mari- da como entidade esportiva e contra- a precursora do Centro de Educação
nha do Brasil pôde, de forma pioneira, tando técnicos, inclusive estrangeiros, Física Almirante Adalberto Nunes, o
expressiva e efetiva, contribuir para o por intermédio dos Adidos Navais, nosso CEFAN.
desenvolvimento e engrandecimento para as modalidades de esgrima, atle-
do desporto nacional. tismo, natação e “saltos d’água”. PRIMEIROS RESULTADOS
Fato esse que não é novidade para Os Jogos Esportivos do Cente- Por ocasião dos 5º Jogos Mun-
a Força, pois já em 1922, a então nário, também denominados Jogos diais Militares, das 114 medalhas que

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 09 • Setembro 2013 41


garantiram ao Brasil o primeiro lu- dos 6º Jogos Mundiais Militares, que públicas e privadas envolvidas com
gar, 47 foram conquistadas pelo suor, serão realizados na Coréia do Sul, a atividade esportiva; participação
dedicação, perseverança e treinamen- em 2015, e dos Jogos Olímpicos RIO do pessoal da Marinha do Brasil em
to constante dos atletas e membros 2016, em diversas modalidades. Com eventos esportivos; identificação de
Artigo

das comissões técnicas da Marinha esse enfoque, determinei ao Coman- instalações esportivas em Organiza-
do Brasil. Nos Jogos Olímpicos de dante-Geral do Corpo de Fuzileiros ções Militares que ofereçam potencial
Londres, realizados em 2012, a Ma- Navais que elaborasse o Programa, de treinamento de modalidades de
rinheira (RM2-EP) Sarah Menezes para minha aprovação, de forma que interesse da Força; e desenvolvimen-
foi a primeira judoca brasileira lau- o mesmo fosse estruturado como to do desporto de alto rendimento na
reada com medalha de ouro em uma empreendimentos modulares, im- Marinha, contribuindo, também, para
Olimpíada. plementados por meio de projetos a projeção de sua imagem no cenário
Para que nossos atletas alcancem específicos. desportivo nacional e internacional.
seu máximo desempenho, torna-se É importante ressaltar que o Cabe, ainda, destacar que o
necessário disponibilizar instalações PROLIM permite a utilização de PROLIM, na captação de recursos
adequadas ao treinamento. Assim, a recursos humanos, materiais e de humanos, além de proporcionar uma
Marinha do Brasil vem investindo na instalações esportivas da Marinha, formação militar-naval e o apoio
construção e na revitalização de suas sem que haja o comprometimento técnico e financeiro aos atletas, oferece
estruturas desportivas. Posso citar, do cumprimento da missão da For- a possibilidade de incorporação à
por exemplo, a construção do ginásio ça, além de proporcionar aos jovens Marinha do Brasil, como Oficiais
poliesportivo do Centro de Instrução atletas um imensurável auxílio à me- RM2, empregados como técnicos
Almirante Milcíades Portela Alves lhoria de suas performances técni- desportistas graduados ou pós-
(CIAMPA), as instalações de apoio cas e um significativo apoio na área graduados em Educação Física, ou
náutico da Escola Naval, a moder- social. como Praças RM2, os efetivos atletas
nização do complexo de estandes de O suporte técnico se dá por meio de alto rendimento.
tiro e a construção da pista de Pen- de treinamentos conduzidos por pro- A viga-mestra para o sucesso do
tatlo Militar, no Comando da Divisão fissionais especializados em educação programa está não apenas na compro-
Anfíbia (ComDivAnf), e a total revi- física e pela utilização das modernas vada sistematização dos processos ou
talização das instalações do CEFAN. instalações esportivas da Marinha. Já na gestão integrada de seus subpro-
Por toda essa tradição desportiva, o suporte social é materializado pelos jetos componentes, mas também no
que tem também sua origem na pro- vencimentos mensais, pelas assistên- trabalho e na determinação de cada
ximidade das atividades marinhei- cias médica, odontologica, psicológica marinheiro e fuzileiro naval da Ma-
ras com os esportes náuticos, como e fisioterapêutica e pela convivência rinha do Brasil que, nos navios, nos
o remo e a vela, e pelos excelentes em um ambiente propício ao desen- quartéis, nos exercícios militares ou
resultados obtidos, decidi dar ao volvimento de valores éticos e morais. nas competições desportivas, sabem
PROLIM um caráter permanente e O PROLIM, em sua visão mais cumprir suas tarefas, superando de-
uma aplicação nacional, convicto de ampla, tem os seguintes propósitos: safios e vencendo todas e quaisquer
que a Marinha do Brasil contribuirá, constante estímulo à prática da edu- dificuldades que se apresentem. Dessa
decisivamente, para o desenvolvi- cação física e do desporto na Mari- forma, a exemplo do que já vivemos
mento do desporto nacional de alto nha do Brasil; seleção, recrutamento no passado, novamente, a Marinha do
rendimento. e captação de técnicos e atletas com Brasil, sem abandonar o cumprimento
desempenho excepcional; contribui- de sua missão constitucional, contri-
O PROGRAMA ção para o processo de inclusão social, buirá com a sociedade e com o Gover-
O PROLIM tem como foco princi- permitindo aos jovens em vulnerabili- no Brasileiro no desenvolvimento do
pal a preparação dos atletas da Mari- dade social o acesso à prática despor- desporto nacional e na consolidação
nha para integrarem as equipes repre- tiva de qualidade; estabelecimento de do Brasil como uma potência olímpi-
sentativas do Brasil nas competições parcerias com empresas, instituições ca do século XXI

42
A utilidade do

História Naval
Poder Militar
para Rio Branco
Por Vice-Almirante Armando de Senna Bittencourt

J
osé Maria da Silva Paranhos Ju- Exteriores, em seus aposentos, no Pa- Ele era considerado um boêmio (o que
nior, o Barão do Rio Branco, que lácio Itamarati, no Rio de Janeiro (RJ). correspondia ao moderno playboy).
alterou seu nome, suprimindo o Os acertos e desacertos de sua vida Sem os desacertos e indisciplinas
Junior e acrescentando Rio Branco, serviram para prepará-lo para as reali- eventuais, os rumos de sua vida, curio-
após a República, foi um dos maiores zações brilhantes de que foi artífice, em samente, seriam outros. Inquieto, apre-
estadistas brasileiros. Solucionou to- sua maturidade. O excelente resultado ciador da vida noturna e de uma boa
dos os problemas sérios de fronteiras que obteve, no entanto, era imprevisível conversa, mas muito inteligente e culto,
que ainda estavam pendentes, resol- e, até mesmo, em certa época, imprová- teve uma formação eclética. Foi secretá-
vendo, em definitivo, os limites con- vel. Em uma carta para seu pai – o Vis- rio do pai, no final da Guerra da Trípli-
tinentais do Brasil. No ano passado, conde do Rio Branco, um dos políticos ce Aliança contra o Paraguai. Formou-
completaram-se cem anos de seu fale- mais importantes do Segundo Império se em Direito, foi promotor, deputado
cimento, ocorrido em 1912, no exercí- –, o Imperador D. Pedro II lastima o (pelo estado do Mato Grosso), jornalis-
cio do cargo de Ministro das Relações comportamento do jovem Paranhos. ta e, finalmente, diplomata e Ministro

Desembarque de Rio Branco, na Galeota de D. João VI, quando chegou da Europa para assumir o
Ministério de Relações Exteriores. Foto do Arquivo da Marinha.
de Relações Exteriores da República,
acumulando grande experiência e co-
nhecimento. Como diplomata, exerceu
História Naval

o cargo de Cônsul, na cidade britânica


de Liverpool, por cerca de duas décadas.
Mantendo casa em Paris, nesse período,
estudou em bibliotecas francesas – foi
um bom historiador militar, atento à
importância da Geopolítica –, cultivou
boas amizades com europeus e brasilei-
ros cultos, que muito lhe valeram e ao
País, no futuro.
Quando ainda estava no exterior,
resolveu com vantagem para o Bra-
sil, duas questões de limites compli-
cadíssimas: a “Questão de Palmas”,
com a Argentina, sobre um território
A caricatura de Rio Branco é de Storni e foi publicada na revista O MALHO, de 26 de
no futuro Estado de Santa Catarina; setembro de 1908.
e a “Fronteira do Brasil com a Guia-
na Francesa”, com a França; ambas época, mesmo em relação aos vizinhos, militar de Rio Branco pode ser consi-
decididas por arbítrio internacional, como se verifica em suas cartas, e in- derado moderno e seria adequado até
previamente aceito pelas partes. Ga- centivou o reaparelhamento das For- para a atual Política de Defesa Na-
nhou fama de competente e gran- ças Armadas, inclusive com a aquisição cional brasileira, que se fundamenta
de popularidade no Brasil, por sua de armamentos no exterior, ajudando a “na busca de soluções pacíficas para
argumentação bem fundamentada criar um ambiente favorável para a ob- as controvérsias e no fortalecimento
e erudita. Em 1902, aceitou o cargo tenção da Esquadra recebida em 1910 da paz e da segurança internacionais”
de Ministro das Relações Exteriores pela Marinha. Acreditava, também, (Decreto n° 5.484, de 2005), valori-
do governo do Presidente Rodrigues que as Forças Armadas precisavam zando a ação diplomática como ins-
Alves. Permaneceu nesse cargo por preparar-se permanentemente para a trumento primeiro de solução de con-
quatro mandatos. Ao chegar ao Rio de guerra, principalmente para que ela flitos, porém com “postura estratégica
Janeiro para assumir o Ministério, foi não ocorresse. baseada na existência de capacidade
recebido com comemoração pública e Nas crises de relações internacio- militar com credibilidade, apta a gerar
desembarcou transportado pela Gale- nais que enfrentou no cargo de Mi- efeito dissuasório” (Item 6.2 do De-
ota de D. João VI, atualmente exposta nistro, bom conhecedor de história, creto n° 5.484).
no Espaço Cultural da Marinha. estabeleceu sua própria estratégia de Como disse o Almirante britânico
Como Ministro, enfrentou ques- emprego do Poder Militar, que, em John Fisher, contemporâneo de Rio
tões dificílimas de serem resolvidas sua visão, deveria ser permanente, para Branco: todas as nações querem a paz,
como, por exemplo: a do Acre com a a guerra e para a paz. Na paz, como porém a paz que lhes convém. O con-
Bolívia; a do Alto Rio Purus e do Alto instrumento útil para a aplicação da fronto dos interesses nacionais pode,
Rio Juruá com o Peru; e a crise com a política externa, o que, somente na se- portanto, levar a situações de crise e
Argentina, que foi causada pela enco- gunda metade do século XX, foi deno- violência. Cabe às Forças Armadas
menda dos encouraçados pelo Brasil. minado de “emprego político do Poder respaldar esses interesses, dissuadin-
Saiu-se bem, em todas elas. Militar” e no século XXI foi conceitu- do o uso da força pelo oponente, para
Surpreendeu-se, porém, com o ado como “diplomacia militar”. que sempre prevaleça a diplomacia e
despreparo militar do Brasil naquela Verifica-se que o pensamento a paz, tal como desejadas pela Nação

44
OI.COM.BR

A OI LEVA PARA A ANTÁRTICA


ALGO MUITO MAIS IMPORTANTE QUE
TECNOLOGIA E INFRAESTRUTURA.
CALOR HUMANO.
A OI FOI ATÉ A ANTÁRTICA PARA GARANTIR QUE TODOS
SE COMUNIQUEM. COM A MARINHA DO BRASIL, COM OS CENTROS
DE PESQUISA E TAMBÉM COM AS SUAS FAMÍLIAS.

A Oi implantou na Antártica uma infraestrutura de telecomunicações especialmente adaptada para


suportar as adversidades climáticas do local. Serviços integrados de voz, dados, internet, telefonia móvel
e recepção de sinal de TV. Assim, garantiu a conectividade dos militares e pesquisadores instalados
na base e agilidade na comunicação dentro e fora da Estação Antártica Comandante Ferraz. Graças à Oi,
ficou para trás o tempo em que o nome Antártica e a palavra isolamento tinham alguma relação.

Marinha do Brasil
www.mar.mil.br

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