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1.

2O crescimento económico moderno

No século passado, as transformações na economia mundial deram origem a que muitos


países registassem um considerável crescimento económico. Com efeito, após a Segunda
guerra Mundial e até à década de 70 do século XX, o crescimento de algumas economias
atingiu valores muito elevados, por exemplo, 3,9% nos Estados Unidos, 3% no Reino Unido, 6%
na Alemanha, 5,2% em França e 5,6% em Itália.

Este fenómeno é designado por Simon Kuznetz como crescimento económico moderno.

Este autor definiu o crescimento económico de um país como «o cresci-mento a longo prazo
da capacidade de prover a sua população de bens económicos cada vez mais diversos, a qual
se baseia no avanço da tecnologia e nas adaptações institucionais e ideológicas que ela
requer»(1).

Deste modo, uma fase de crescimento económico elevado significa que cada geração pode
desfrutar de rendimentos mais elevados do que os dos seus pais, consumindo maiores
quantidades de bens e de serviços, o que significa uma melhoria do seu padrão de vida.

O crescimento económico foi alcançado pelos países de várias formas, ou seja, os países
seguiram trajetórias diferentes para o alcançar, o que reforça a ideia de que não existem
receitas para atingir o crescimento económico. Aliás, a crise que o mundo ocidental atravessa
atualmente tem vindo a questionar a eficácia no longo prazo de algumas das estratégias
adotadas.

No entanto, podem identificar-se alguns fatores idênticos que se podem considerar como
fontes de crescimento económico

1.2.1Fontes de crescimento económico

No processo de crescimento económico, podemos identificar como fontes de crescimento


económico:

•o aumento da dimensão dos mercados(interno e externo);

•o investimento em capital(físico e humano);

•o progresso técnico.

Aumento da dimensão dos mercados (interno e externo)

Um país, para aumentar a sua capacidade de produção, além da necessi-dade de


financiamento/investimento, tem de aumentar a Procura Interna e a Procura Externa.

A Procura Internapode aumentar quer através do aumento do número de habitantes


(crescimento populacional) quer através do aumento do poder de compra dos seus habitantes.

O crescimento populacionalnem sempre tem um impacto positivo na produção.


Nem sempre o crescimento populacional está na base do aumento da Procura Interna. Se, por
exemplo, o poder de compra da população se man-tiver e se não houver investimento, a
produção não poderá aumentar, o que significa que o aumento do número de habitantes pode
não dar origem a um aumento da Procura Interna.

Portugal, Estados Unidos e China apresentaram taxas de crescimento po-pulacional


decrescentes, que, em 2010, variaram entre – 0,5% e + 0,5%. No entanto, nesse ano
apresentaram taxas de crescimento do PIB muito diferentes. Em 2010, a taxa de variação do
PIB da China situou-se perto dos 10%, enquanto a registada pelos Estados Unidos e por
Portugal foi inferior a 5%.

Deste modo, apenas o aumento do poder de comprapoderá ter um im-pacto positivo na


produção, pois só com maior poder de compra as pessoas poderão consumir maiores
quantidades de bens e de serviços.

A Procura Externaestá relacionada com a procura efetuada pelo Resto do Mundo, o que
significa que o grau de abertura de uma economia ao Exter-ior poderá influenciar o nível da
Procura gerada no Exterior. Geralmente, uma maior abertura ao Exterior pode dar origem a
um aumento da Procura Externa.

Um maior grau de abertura ao Exterior também poderá dar origem a um maior afluxo de
investimento externo, o que permitirá o aumento da capacidade produtiva da economia e,
consequentemente, o aumento das exportações de bens e serviços, satisfazendo, desta forma,
o aumento da Procura Externa.

Contudo, uma maior abertura ao Exterior pode também significar um au-mento das compras
ao Resto do Mundo, ou seja, um crescimento das im-portações. Assim, muitas vezes associa-se
a Procura Externa às Exportações líquidas, ou seja, à diferença entre o valor das Exportações e
o valor das Importações de bens e serviços.

Deste modo, se o aumento das exportações for acompanhado ou supe-rado por um aumento
das importações, esse aumento da Procura Externa poderá não se refletir de uma forma tão
positiva no crescimento económico.

Investimento em capital (físico e humano)

Quando se investe capital numa empresa, físico ou humano, o objetivo é que esta possa vir a
aumentar a sua produção, ou seja, aumentar os bens ou os serviços que coloca à disposição
dos consumidores.

O investimento em capital físicocorresponde à aquisição de equipamen-tos, de viaturas, de


infraestruturas (por exemplo, armazéns). Assim, um aumento do capital físico dá origem ao
aumento da capacidade produtiva das empresas e, consequentemente, do país.

O investimento em capital humanocorresponde à aplicação de recursos na melhoria dos


conhecimentos e das qualificações que os trabalhadores ad-quirem através da sua experiência
profissional ou da educação formal.
O investimento em capital humano é um fator fundamental para o cresci-mento económico,
pois não basta que se verifique o crescimento da popu-lação, é também necessário investir na
qualificação dos trabalhadores. T10

O investimento em capital físico e humano tem como consequência um aumento da


capacidade de produção das empresas. Contudo, se aumen-tarmos sucessivamente um dos
fatores de produção, capital físico ou capital humano, constata-se que a partir de um
determinado momento se verifica um aumento decrescente da produção. Ou seja, não é
possível investir indefinida-mente apenas num dos fatores de produção se o objetivo for o
crescimento cada vez maior da produção.

Progresso técnico

O progresso técnico está associado às inovações técnicas que se verificaram ao longo dos
tempos. Essas inovações, como, por exemplo, a roda, a máquina a vapor, a eletricidade, o
avião ou o computador, permitiram uma melhoria constante do nível de vida das populações,
em parte devido ao aumento da quantidade e da qualidade dos bens e dos serviços postos à
disposição da sociedade.

O progresso tecnológico representa a capacidade de inovação das sociedades e ocorre através


das alterações no processo produtivo e/ou através da introdução de novos bens e de novos
serviços na sociedade.

O grande progresso técnico que se tem verificado em alguns países resul-tou do facto de estes
terem criado e incentivado condições que possibilitaram o seu desenvolvimento. Entre essas
condições destacam-se as seguintes:

•o investimento em educação e formação profissional;

•o apoio do Estado aos processos de investigação e de desenvolvimento (I&D).

O investimento em educação e formação profissional, na escola ou nos locais de trabalho,


permite melhorar a qualidade do capital humano, pois con-tribui para melhorar as suas
qualificações. Uma população mais escolarizada e com mais conhecimentos estará mais apta a
trabalhar com as novas tecnologias e também estará capacitada para aplicar/experimentar
essas novas tecnologias.

O apoio do Estado aos processos de I&Dpode desenrolar-se a dois níveis:

•o apoio aos processos de investigação e incentivos aos investigadores;

•a melhoria da qualificação dos indivíduos.

O Estado, para apoiar os processos de investigação, poderá, por exemplo, criar institutos de
investigação e/ou subsidiar os já existentes, conceder bolsas de investigação e proteger as
descobertas através da criação de patentes.

1.2.2Caraterísticas do crescimento económico moderno


O crescimento económico moderno teve início, como foi referido anterior-mente, com a
Revolução Industrial inglesa, iniciada em meados do século XVIII.

A partir dessa altura e, em especial, no século XIX, verificou-se uma acele-ração do processo de
crescimento económico e uma melhoria das condições de vida das populações dos países
europeus onde ocorreu a Revolução In-dustrial. T15

A Europa e, posteriormente, outros países do continente americano en-traram na era do


moderno crescimento económico, o que significou que as suas economias se transformaram,
passando essas sociedades a apresentar como caraterísticas:

•a inovação tecnológica;

•o aumento da produção e da produtividade;

•a diversificação da produção;

•a alteração da estrutura da atividade económica;

•a modificação do modo de organização da atividade económica;

•a melhoria do nível de vida.

A inovação tecnológica, o aumento da produção

e da produtividade e a diversificação da produção

A aceleração do crescimento económico depende, em grande parte, do processo de inovação


tecnológica.

As inovações tecnológicas associadas à Revolução Industrial, como a má-quina a vapor e o


caminho de ferro, permitiram aumentar a produção e a pro-dutividade. As máquinas
permitiram aumentar o ritmo da produção, passando a produzir-se maiores quantidades de
bens e de serviços durante o mesmo período de tempo, ou seja, aumentou a produtividade.
Assim, por exemplo, numa hora um trabalhador passou a produzir um maior número de bens
do que produzia anteriormente.

Deste modo, as inovações tecnológicas, ao fazerem aumentar a produtivi-dade do trabalho,


contribuem para se produzirem mais bens e a custos mais baixos. Os produtos são, assim,
colocados no mercado a preços mais baixos, o que estimula e permite generalizar o seu
consumo a toda a população.

Alteração da estrutura da atividade económica

O crescimento económico moderno esteve, como vimos, associado ao crescimento da


produção, o qual contribuiu para modificar a estrutura da eco-nomia ao nível da composição
setorial da atividade económica.

Até à Revolução Industrial, a principal atividade económica, em termos de produção e de


emprego, assentava no setor primário.
Com a Revolução Industrial, assistiu-se a uma transformação estrutural acelerada da
economia. As inovações tecnológicas permitiram o desenvol-vimento da atividade fabril, o que
levou a um aumento rápido da produção industrial (indústria transformadora) e do Produto
Nacional.

A partir do século XIX, o crescimento da indústria fez com que o setor secundáriopassasse a
liderar quer ao nível da produção, quer do emprego.

À medida que a economia vai crescendo, vão surgindo serviços associados ao desenvolvimento
industrial, como os transportes, os bancos e os seguros. Deste modo, verifica-se um aumento
do emprego nos serviços, ou seja, no setor terciário.

Mas os serviços não surgem apenas ligados ao desenvolvimento da indús-tria. A melhoria do


nível de vida da população, associada ao crescimento eco-nómico, às alterações demográficas
(envelhecimento da população) e à entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho,
também incrementa a procura de serviços pessoais, como no caso de creches, escolas e
centros sociais.

Também a especialização das empresas (empresas industriais que contra-tam outras empresas
para comercializar os seus produtos), o surgimento de serviços associados à comercialização
de um bem material e o desenvolvi-mento dos meios de comunicação impulsionaram o
crescimento dos serviços e a expansão de novas profissões associadas às vendas, aos
processos de I&D, à informática e à assistência técnica.

Assim, a partir de meados do século XX, o setor terciário passou a liderar, quer em termos de
população empregada, quer ao nível da sua contribuição para o PIB. São aspetos que
caraterizam a terciarização da economia.

Modificação do modo de organização económica

O crescimento económico moderno alterou o modo de organização da economia, tendo-se


verificado transformações ao nível das empresas, da con-corrência e do papel do Estado.

Transformações das empresas

O crescimento económico moderno esteve associado a um aumento da dimensão das


empresas. Com efeito, as empresas, ao aumentarem a sua dimensão, podem obter economias
de escala, o que lhes permitirá reduzir os custos de produção.

O aumento da dimensão das empresas resultou, muitas vezes, de proces-sos de fusão.

A fusão de empresasconsiste na reunião numa só de duas ou mais socie-dades, podendo


realizar-se de duas formas distintas:

•por incorporação, quando se transfere o património total de uma ou mais sociedades para
outra;

•por concentração, quando se constitui uma nova sociedade para a qual se transferem os
patrimónios das empresas fundidas.
O aumento da dimensão das empresas possibilitou que estas passassem a produzir maiores
quantidades, a custos de produção mais baixos e, conse-quentemente, a preços mais
competitivos. Este novo contexto permitiu que as empresas ultrapassassem as fronteiras dos
seus mercados nacionais e atuas-sem em mercados cada vez mais globais.

Apesar da dimensão média das empresas ter aumentado, o número de pequenas e médias
empresas (PME) também aumentou. O aparecimento de muitas PME resulta da
subcontratação de outras empresas para realizar, por exemplo, serviços de limpeza e de
fornecimento de refeições nas cantinas ou mesmo de empresas transnacionais, para realizar
partes do seu processo produtivo.

Num mundo cada vez mais global e onde dominam as novas tecnologias da informação e
comunicação, as PME apresentam uma grande vantagem, que é a sua capacidade de mudar
rapidamente, pois a sua estrutura é menos pesada e mais flexível do que a das grandes
empresas.

As PME podem, por isso, responder rapidamente às exigências do mer-cado, apresentando


uma maior capacidade de adaptação do que as grandes empresas.

Atualmente, as PME continuam a ser competitivas e a contribuir para o crescimento


económico dos países, pois permitem que estes aumentem a sua capacidade produtiva, bem
como o valor das suas exportações.

As PME também apresentam algumas desvantagensrelativamente às grandes empresas.


Assim, por exemplo, as PME têm mais dificuldade em encontrar financiamento a um custo e
prazo adequados, não tendo possibi-lidade de investir em I&D, e a sua menor dimensão pode
tornar mais difícil a sua entrada nos mercados internacionais.

Concorrência

O crescimento económico moderno está associado ao alargamento dos mercados. Esse


alargamento deveu-se, não só ao desenvolvimento dos trans-portes e comunicações, como à
abertura dos mercados e ao desenvolvimento do processo de integração económica. Com
efeito, o processo de integração económica tem vindo a criar espaços onde bens e serviços
circulam livre-mente (por exemplo, o espaço da União Europeia), o que tem contribuído para o
alargamento dos mercados (de fornecedores e de consumidores).

O facto de um número cada vez maior de empresas atuar nos mercados in-ternacionais
significa que a concorrênciatambém é cada vez maior, o que tem levado a que as empresas,
para serem competitivas, prossigam políticas de redu-ção de custos para conseguirem colocar
os seus produtos a preços mais baixos.

Como vimos, muitas delas optaram por aumentar a sua dimensão e be-neficiar, por exemplo,
de economias de escala, de facilidades de acesso ao crédito e de descontos dos fornecedores.
Outras são competitivas porque a sua pequena dimensão lhes permite uma fácil adaptação
aos gostos e prefe-rências dos seus clientes.
Também o rápido crescimento económico de alguns países, as economias emergentes,
contribuiu para o aumento da concorrência.

Assim, o aumento da concorrência entre empresas está associado:

•à abertura dos mercados nacionais, devido aos acordos alcançados pela Organização Mundial
do Comércio (OMC);

•à intensificação do processo de integração económica, pois a liberdade de circulação de bens


e serviços implica um aumento da concorrência;

•ao aparecimento de economias emergentes, pois estes países colo-cam nos mercados
internacionais produtos a preços mais baixos e, por-tanto, mais competitivos. Esses países
produzem a custos mais baixos, o que torna inviável a produção de alguns bens pelos países
mais de-senvolvidos e põe em causa a sobrevivência dessas indústrias;

•à deslocalização das produçõesdos países mais desenvolvidos para as economias emergentes


ou para outros países onde os salários sejam mais baixos e tenham uma legislação de trabalho
mais flexível, por exemplo, facilitadora de despedimento.

Papel do Estado

O crescimento económico moderno alterou o papel do Estado, pois, a partir da Grande


Depressão (1929) e, especialmente, da Segunda Guerra Mundial (1945), o Estado passou a
intervir mais na sociedade, alargando as suas funções económicas e sociais.

A nível da sua intervenção social, o Estado passou a garantir a satisfação de necessidades


coletivas, como a saúde e a educação, e alargou o sistema de pro-teção social. Relativamente
ao campo económico, o Estado procurou dinamizar a atividade económica, estimulando a
iniciativa privada, concedendo benefícios fiscais e facilitando o acesso das empresas a linhas
de crédito bonificadas.

Este aumento da intervenção do Estado teve como grande objetivo ten-tar prevenir e/ou
minimizar os efeitos das crises e das recessões, como a de 1929, criando um Estado social que
protegesse o indivíduo desde o seu nas-cimento, no desemprego e na velhice.

O crescimento económico moderno está, assim, associado a um aumento do peso do consumo


e do investimento públicos no Produto de um país em relação ao consumo e investimento
privados. Atualmente, esta tendência tem vindo a inverter-se, pois a crise económica, que se
iniciou em 2008, e os ele-vados défices orçamentais têm conduzido muitos Estados, em
especial os europeus, a reduzir as suas despesas. Esta situação também se tem verificado em
Portugal nos últimos anos.

Melhoria do nível de vida

O processo de crescimento económico esteve associado ao aumento da produção e,


consequentemente, ao aumento da capacidade produtiva dos paí-ses e da sua capacidade de
criar riqueza, o que deu origem a um aumento do rendimento médio dos indivíduos.
Este aumento do poder de compra das populações favoreceu uma melhoria das suas
condições de vida, permitindo-lhes a satisfação de um número cada vez maior de
necessidades, ou seja, satisfazer, não só necessidades primárias, mas também necessidades
terciárias, como o lazer.

Para avaliarmos o nível de vida da população de um determinado país, ou seja, a quantidade


de bens e serviços que os indivíduos podem adquirir, temos de recorrer a indicadores que nos
permitam saber o grau de satisfação de necessidades como alimentação, vestuário, educação,
saúde, habitação e lazer. Entre esses indicadores, destacam-se:

•o PIB per capita;

•a estrutura das despesas de consumo.

Muitos economistas, para compararem o nível de vida em países diferen-tes, privilegiam o


PIBper capita, ou seja, o Rendimento médio desse país, que é calculado dividindo o
Rendimento total pela população total do país. A justificação para utilizar este indicador é a de
que quanto maior for o ren-dimento médio maior é a capacidade de aquisição dos bens e dos
serviços que mais nos satisfazem (saúde, lazer, educação). Também quanto maior for o
Produto maior será a possibilidade de vir a trabalhar menos horas.

Contudo, sendo o PIB per capitaum valor médio, ao utilizar apenas uma média para conhecer
uma realidade não se identificam as desigualdades exis-tentes no interior desse país, ou seja, a
utilização deste indicador não permite comparar o nível de vida entre os habitantes desse país.

Por outro lado, quando se fazem comparações internacionais, utilizando ex-clusivamente o PIB
per capita, parte-se do princípio de que os níveis de preços são idênticos em todos os países.
Mas, o que acontece é que esses preços são diferentes e que muitos desses países têm
diferentes moedas. Para evitar estas possíveis distorções, utiliza-se o PIB per capitaexpresso
em paridades de poder de compra (PPC).

Também entre os países existem grandes diferenças culturais, nomeada-mente diferenças de


hábitos, costumes e de comportamentos, de que não nos apercebemos quando utilizamos
estes indicadores, pois existe uma relativi-dade cultural dos padrões de consumo privado.

Assim, quando comparamos o nível de vida de vários países, temos de conhecer a realidade
sociocultural de cada um desses países, pois só assim será possível fazer comparações
internacionais.

A estrutura de consumoé um indicador de desenvolvimento de um país que nos permite


verificar as alterações dos gastos de consumo das Famílias. Geralmente, um aumento do
Rendimento por habitante está associado à perda de peso da rubrica relativa à alimentação no
conjunto das despesas das Famí-lias e ao aumento do peso dos gastos em lazer e distração (Lei
de Engel).
Nos últimos anos surgiu um consenso, a nível internacional, no sentido de construir um
indicador que permitisse uma maior informação relativamente à avaliação da qualidade de
vida e de satisfação das Famílias.

Esse indicador é o Índice de Bem-Estar, um indicador composto que inte-gra uma grande
variedade de indicadores simples, nomeadamente:

•condições materiais de vida das famílias(bem-estar económico; vulnerabilidade económica;


trabalho e re-mune- ração);

•qualidade de vida(saúde; balanço vida-trabalho; edu-cação, conhecimento e com-petências;


relações sociais e bem-estar subjetivo; partici-pação cívica e governação; segurança pessoal; e
am-biente.

1.2.3Ciclos de crescimento económico

Ciclo económico: noção e fases

O crescimento económico moderno processou-se de uma forma contínua, mas não uniforme.
De facto, a evolução da atividade econó-mica ao longo do tempo não decorre sempre com o
mesmo grau de intensidade.

A realidade mostra-nos que a períodos de rápido crescimento eco-nómico, em que se verifica


um aumento das taxas de variação do PIB, do emprego e do rendimento, se seguem outros
períodos em que o crescimento é moderado, surgindo, por vezes, períodos em que a taxa de
variação do PIB é negativa, o desemprego aumenta e o nível de vida se degrada.

A atividade económica tem apresentado, ao longo do tempo, rit-mos de crescimento


diferentes. Essas oscilações são visíveis, por exemplo, quando se observa a evolução do PIB
real português e da União Europeia, entre 1996 e 2012. F13

As flutuações da atividade económica apresentam geralmente um caráter cíclico, ou seja,


repetem-se ao longo do tempo. Assim, a períodos de in-tenso crescimento económico
seguem-se períodos de fraco crescimento ou, mesmo, de decréscimo até se retomar
novamente uma fase de aceleração do crescimento. Essas oscilações da atividade económica
costumam designar-se por ciclos económicos.

Os ciclos económicos englobam várias fases, das quais se destacam a ex-pansão e a recessão.
O ponto alto (prosperidade ou pico) e o ponto baixo (depressão ou fundo) correspondem aos
pontos de viragem dos ciclos.

A expansãocorresponde ao período ascendente do ciclo económico, começando no seu ponto


mais baixo e terminando no seu ponto alto. No período de expansão, as taxas de variação do
Produto, do Rendimento e do emprego são cada vez mais elevadas até atingirem o seu ponto
alto, a partir do qual essas taxas começam a diminuir.

A recessãocorresponde ao período descendente do ciclo económico, considerando-se que um


país está em recessão quando o seu Produto de-cresce durante pelo menos dois trimestres
consecutivos, bem como o Rendi-mento e o emprego. O Produto continua a decrescer até
atingir o seu ponto mais baixo(ou depressão). Este é um ponto de viragem, pois a partir daí o
PIB começa a crescer. Deste modo, as recessões iniciam-se no ponto alto e terminam no ponto
baixo do ciclo económico.

O padrão dos ciclos de crescimento económico não é regular, apresentando graus de


intensidade e durações variáveis (varia entre 2 e 10 anos), sendo, por isso, difícil prever o
momento em que vão ocorrer, assim como a sua duração.

1.3As desigualdades atuais de desenvolvimento

Nos últimos anos, os países em desenvolvimento registaram um forte cres-cimento económico


e uma melhoria das condições de acesso a cuidados de saúde, saneamento básico, água
potável, educação e ao nível da igualdade de género. No entanto, apesar destes sinais de
progresso, continuam a existir graves situações de pobreza, e os indicadores sociais continuam
a apresentar situações de grande preocupação. T22

Em alguns países em desenvolvimento, a pobreza é agravada por diversas situações, como o


VIH/SIDA, que provocam um decréscimo da esperança de vida, pela degradação do ambiente,
pelas elevadas taxas de natalidade e por uma distribuição desigual dos recursos.

Como vimos anteriormente, o IDH é um índice composto que utiliza vários tipos de indicadores
simples – económicos, socioculturais e demográficos. O IDH procura efetuar uma análise
detalhada, permitindo estabelecer compa-rações entre os países. Este índice varia entre zero
(nenhum desenvolvimento humano) e 1 (desenvolvimento humano total).

Deste modo, o IDH é um indicador mais adequado do que os indicadores simples para medir as
realidades multidimensionais e complexas associadas ao problema do desenvolvimento.

Se analisarmos a evolução do IDH por regiões, constatamos que desde finais do século passado
se começou a verificar uma melhoria dos valores do IDH nas regiões do mundo onde
predominam os países em desenvolvimento. Contudo, apesar dessa melhoria, entre 2008 e
2013, começou a registar-se algum abrandamento do crescimento do IDH. F17

A melhoria do IDH não significa que todos os países tenham o mesmo nível de
desenvolvimento, pois continuam a existir grandes disparidades de desenvolvimento.

Se compararmos os valores do IDH por regiões, constatamos que existe uma grande
desigualdade entre o hemisfério Norte e o Sul. Os países com níveis de desenvolvimento
humano mais baixos concentram-se na África Sub-sariana, no Sul e Sudoeste da Ásia e em
algumas áreas da Ásia Central. F18

Da observação de F18, podemos verificar que, em 2013, a maior parte dos países com IDH
baixo eram países africanos. Nesse ano, os países do mundo que registaram um valor mais
baixo de IDH foram a República Centro-Africana (0,341), a República Democrática do Congo
(0,338) e o Níger (0,337).

Em 2013, o país que ocupou o primeiro lugar do rankingdo IDH foi a No-ruega (0,944). Todos
os países da União Europeia integravam as categorias dos países com um IDH muito elevado
(com mais de 0,800 pontos). Nesse ano, Portugal ocupava a 41.ª posição no rankingdos 49
países com IDH muito elevado, mantendo o mesmo valor registado em 2012 (0,822).

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Se compararmos os valores do IDH por regiões, constatamos que existe uma grande
desigualdade entre o hemisfério Norte e o Sul. Os países com níveis de desenvolvimento
humano mais baixos concentram-se na África Sub-sariana, no Sul e Sudoeste da Ásia e em
algumas áreas da Ásia Central. F18

Da observação de F18, podemos verificar que, em 2013, a maior parte dos países com IDH
baixo eram países africanos. Nesse ano, os países do mundo que registaram um valor mais
baixo de IDH foram a República Centro-Africana (0,341), a República Democrática do Congo
(0,338) e o Níger (0,337).

Em 2013, o país que ocupou o primeiro lugar do rankingdo IDH foi a No-ruega (0,944). Todos
os países da União Europeia integravam as categorias dos países com um IDH muito elevado
(com mais de 0,800 pontos). Nesse ano, Portugal ocupava a 41.ª posição no rankingdos 49
países com IDH muito elevado, mantendo o mesmo valor registado em 2012 (0,822).

Também o Banco Mundial classifica os países quanto ao seu desenvolvi-mento, recorrendo a


outra terminologia, ou seja, classifica-os por níveis de Rendimento. Assim, os países são
classificados como:

•países de rendimento baixo: valor do Rendimento médio menor ou igual a 1045 dólares;

•países derendimento médio: valor do Rendimento médio entre 1046 dólares e 12476 dólares.
Este grupo pode subdividir-se em duas classes: a inferior, que vai até ao limite de 4125 dólares,
e a superior, cujo Rendi-mento per capitaé superior a 4125 dólares, mas inferior a 12476
dólares;

•países derendimento elevado: valor do Rendimento médio é superior a 12476 dólares.

Quando observamos a evolução do PIB per capitaem países com níveis de rendimento
diferentes, verficamos um crescimento deste agregado em todos esses grupos de países, no
período compreeendido entre 1990 e 2011. Contudo, continua a ser muito elevado o
diferencial entre os países de ren-dimento elevado e os outros grupos de países (rendimento
médio e baixo), pois, em 2011, o PIB per capitamédio dos países de elevado rendimento era
cerca de 32000 dólares, enquanto o dos países de baixo e médio rendimento era pouco mais
de 6000 dólares. F19

As elevadas taxas de crescimento registadas nos últimos anos por países como a China, a Índia
e o Brasil constituem um dos fatores explicativos do crescimento do PIB per capitado conjunto
dos países em desenvolvimento. Prevê-se que até 2050 estes três países sejam responsáveis
por cerca de 40% do Produto mundial, contra 10% registados em 1950.

Também, ao nível das condições de vida se verificou uma melhoria, pois diminuiu
drasticamente a percentagem de pessoas que vivem com menos de 1,25 dólares americanos
por dia, face aos valores de 1990. Esta melhoria ficou a dever-se igualmente ao êxito das
políticas prosseguidas em países como o Brasil, onde a percentagem da população com menos
de 1,25 dólares por dia passou de 17,2% para 6,1%, a China, que passou de 60,2% para 13,1%,
e a Índia, que passou de 49,4% para 32,7%.

Pobreza e exclusão social

As desigualdades económicas e sociais não se verificam apenas entre paí-ses, existem também
desigualdades no interior dos países, incluindo os países de rendimento elevado. Nos países de
rendimento elevado, existem grupos de indivíduos estruturalmente vulneráveis, ou seja, que
são mais vulneráveis do que outros.

Na verdade, a pobreza não é uma caraterística exclusiva dos países menos desenvolvidos.
Também nos países desenvolvidos existem bolsas significati-vas de pessoas em situação de
pobreza.

O desemprego, a precariedade de emprego e o envelhecimento da popu-lação são fatores que


estão na origem dessas situações.

Podem distinguir-se dois conceitos de pobreza:

•absoluta(ou pobreza extrema para o Banco Mundial);

•relativa.

O conceito de pobreza absolutaparte do princípio de que existe um conjunto de recursos


mínimos que possibilitam a satisfação das necessidades básicas e que garantem,
consequentemente, a sobrevivência dos indivíduos.

Deste modo, são pobres as pessoas cujos recursos (materiais, sociais e culturais) são tão
escassos que não garantem a satisfação das suas necessida-des básicas. Por exemplo, vivem
em situação de pobreza os indivíduos que não possuem nem alojamento nem dinheiro para se
alimentarem e vestirem.

Este conceito de pobreza coloca o problema de determinar um padrãopara o que se considera


ser «a satisfação de necessidades básicas». Mas será que existe um padrão universal ou, pelo
contrário, as necessidades básicas a satisfazer variam de sociedade para sociedade?

É muito difícil definir um padrão universal, pois bens considerados es-senciais numa sociedade
podem ser bens de luxo noutras sociedades. Por exemplo, nos países desenvolvidos, a
existência de água e de energia elé-trica em todos os lares é considerada praticamente uma
necessidade básica; contudo, nos países menos desenvolvidos, onde grande parte da
população não tem acesso a esses bens, não faz sentido medir a pobreza a partir da sa-tisfação
dessas necessidades.

Para tentar ultrapassar as dificuldades de estabelecimento de um padrão universal de pobreza,


poderá utilizar-se outro conceito de pobreza – a po-breza relativa.

O conceito de pobreza relativaintegra a situação de pobreza no contexto social onde esta


ocorre, o que significa que, para avaliar a pobreza, se deverá tomar como referência o nível de
vida da maioria da população da sociedade onde se verifica essa situação de pobreza.
Consideram-se pobres as pessoas cujos recursos são tão escassos que não lhes permitem
satisfazer as necessidades consideradas básicas na sociedade onde vivem.

Aplicando este conceito nos países de elevado rendimento, os indivíduos são considerados
pobres quando não conseguem satisfazer as necessidades consideradas básicas nestas
sociedades, nomeadamente porque não têm acesso a bens culturais e de entretenimento, a
cuidados de saúde de qualidade ou à educação.

No caso dos países em desenvolvimento, ser pobre significa não ter acesso a bens alimentares,
ter fome, não ter acesso a cuidados de saúde, a água po-tável e a saneamento, não poder
pagar educação dos filhos, não possuir uma habitação digna e não poder comprar artigos de
vestuário e calçado.

O Banco Mundial designa este tipo de pobreza por pobreza extrema, o que significa que as
famílias não conseguem satisfazer as suas necessidades básicas de sobrevivência.

Neste sentido, alguns economistas, como Jeffrey Sachs, consideram que o conceito de pobreza
relativa apenas tem sentido nos países de elevado rendimento, enquanto o de pobreza
extrema apenas ocorre nos países em desenvolvimento.

Como se poderá, então, operacionalizar o conceito de pobreza, ou seja, medir a pobreza,


identificando quem se encontra e quem não se encontra em situação de pobreza?

O Banco Mundial definiu os valores que correspondem às situações de pobreza extremacomo


equivalendo a viver com menos de 1,25 dólares ame-ricanos por dia e às situações de pobreza
moderadacomo equivalendo a viver com 1,25 a 2 dólares americanos por dia.

A pobreza extrema continua elevada. Contudo, tem vindo a decrescer nos países em
desenvolvimento.

A maior parte dos indivíduos em pobreza extrema concentra-se nos países do Sul da Ásia ou na
África Subsariana. Apesar da China e da Índia serem dos países que têm tido mais sucesso no
combate à pobreza, o facto de serem países muito populosos coloca-os como os países onde
se concentram o maior número de pessoas em pobreza extrema. Seguem-se a Nigéria (7%), o
Bangladesh (5%) e a República Democrática do Congo (5%).

O gráfico F22mostra-nos a evolução do número de indivíduos em pobreza extrema, no mundo,


entre 1981 e 2010, constatando-se que o seu número tem vindo a diminuir. Contudo, em
2010, o número de indivíduos em pobreza extrema aumentou na África Subsariana.

Entre 1981 e 2010, a taxa de risco de pobreza no conjunto dos países em desenvolvimento
diminuiu, acompanhando a redução do número de indivíduos em pobreza extrema.

Nos países desenvolvidos, um dos critérios mais utilizados para medir a pobreza consiste na
definição de um limiar de rendimento abaixo do qual se considera que os indivíduos estão em
situação de pobreza. Por exemplo, em Portugal, e na maior parte dos países da UE, tem vindo
a ser utilizado umlimiar oficial de pobreza, que «define como pobres as pessoas, as Famílias e
os grupos cujos rendimentos são inferiores a 60% da mediana do rendimento disponível no
país, por adulto equivalente»(1).
O INE, com base no EUROSTAT, considera que no grupo dos indivíduos que se encontram no
limiar da pobreza existe um subgrupo, os que se encon-tram em situação de privação material
e de privação material severa.

Os indicadores de privação materialbaseiam-se num conjunto de nove itens relacionados com


as necessidades económicas e de bens duráveis das Famílias, nomeadamente não ter
capacidade de pagar de imediato uma des-pesa inesperada, de pagar uma semana de férias
por ano fora de casa, de ter uma refeição de carne ou de peixe pelo menos de 2 em 2 dias, de
manter a casa adequadamente aquecida, de ter máquina de lavar roupa e de ter tele-visão a
cores.

O indicador de privação materialcorresponde à percentagem da popula-ção em que se


verificam pelo menos três das nove dificuldades que compõem o indicador. A pri-vação
material se-veracorresponde à percentagem da população em que se verificam pelo menos
quatrodas nove dificuldades.

Nos últimos anos, tem-se verificado um aumento da pobreza nos países mais desenvolvidos. A
crise económica que estes países atravessam tem le-vado à tomada de medidas de
austeridade por parte dos governos, o que se tem refletido no aumento da pobreza. Em
especial na Europa, essas medidas têm-se traduzido numa diminuição do investimento
público, por exemplo, o investimento público na área do euro passou de 251 mil milhões de
euros, em 2009, para 201 mil milhões de euros, em 2012, e na redução da prestação dos
serviços públicos. Entre 2009 e 2011, os gastos com a saúde diminuíram um terço em países
como a Grécia, a Irlanda, Portugal e o Reino Unido.

Estes cortes, além de contribuírem para o aumento das desigualdades, re-presentam também
um retrocesso ao nível do desenvolvimento humano. Esta situação verificou-se em Portugal.
De facto, entre 2010 e 2012, inverteu-se a tendência de diminuição da amplitude da
desigualdade na distribuição do rendimento entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres.
F24

A exclusão socialé o produto de múltiplas privações que impedem os indivíduos ou os grupos


do exercício pleno da cidadania, isto é, de participa-rem plenamente na vida económica, social
e política da sociedade em que estão inseridos.

Pobreza e exclusão social não são sinónimos, pois muitas pessoas ou fa-mílias excluídas
socialmente podem não se encontrar numa situação de po-breza. Estando a pobreza associada
à privação por falta de recursos (materiais, sociais e culturais), uma situação de privação que
não tem origem na falta de recursos não significa pobreza, mas pode constituir uma situação
de exclusão social. Por outro lado, a pobreza repre-senta sempre uma situação de exclusão,
porque os indivíduos pobres estão sem-pre excluídos de «participarem plena-mente na vida
económica, social e civil».

Uma das formas extremas de exclu-são social são os sem-abrigo, os quais, sem residência
permanente, estão ex-cluídos de muitos dos sistemas sociais básicos, não têm casa, não
trabalham, não compram bens e serviços e não usu-fruem dos sistemas de educação e de
saúde.
2.1A mundialização económica

Desde sempre os países estabeleceram relações entre si, constituindo a troca das mercadorias
que produziam em excesso um exemplo dessas re-lações. Esse processo de trocas foi-se
intensificando ao longo dos tempos, podendo constatar-se, atualmente, que tudo circula, pois
os países trocam entre si matérias-primas, produtos acabados e semiacabados, serviços, tra-
balho e capitais.

Este fenómeno, que corresponde à aceleração e intensificação das trocas a nível mundial,
costuma designar-se por mundialização económica.

A mundialização da economia, entendida como o desenvolvimento das trocas entre diferentes


partes do globo, é um processo antigo que começou, provavelmente, com o mercado mundial
de especiarias na Idade Média, tendo passado por várias fases ao longo da história.

Contudo, o processo de mundialização da economia, ou seja, de criação de um mercado


mundial, intensificou-se a partir dos Descobrimentos (séculos XVe XVI). T1

Na segunda metade do século XIXe início do século XXe até à Primeira Guerra Mundial,
registou-se uma nova intensificação da mundialização, o que se traduziu no aumento das
trocas comerciais realizadas sobretudo entre as metrópoles e as colónias.

A supremacia tecnológica do Reino Unido, país onde teve início a Primeira Revolução
Industrial, permitiu-lhe liderar todo este processo. Esse aumento das trocas deveu-se, em
especial, à redução e eliminação das barreiras às trocas entre países e ao desenvolvimento dos
transportes (aparecimento do caminho de ferro e melhoria do transporte marítimo), o que
permitiu uma diminuição acentuada dos custos de transporte.

Depois da Segunda Guerra Mundial, verificou-se uma nova aceleração das trocas mundiais,
que haviam registado uma grande retração durante o pe-ríodo da Primeira Guerra Mundial
(1914-1918).

Neste período, este processo é liderado pelos Estados Unidos, que se tornam a primeira
potência mundial.

No último quartel do século XX, o processo de mundialização é de novo acelerado.

O contínuo desenvolvimento dos transportes e das comunicações e a crescente liberalização


das trocas a nível mundial permitiram a integração de novas economias no comércio mundial.

Por outro lado, também se verificou o incremento da circulação de capitais e o aumento do


investimento direto estrangeiro realizado através de empresas multinacionais sediadas nos
Estados Unidos, na Europa, no Japão e, mais recentemente, na China e na Índia.

Poderá, assim, concluir-se que a mundialização é um processo que se iniciou nos primórdios da
humanidade, com avanços e recuos, ou seja, com variações de intensidade ao longo do tempo,
mas sempre tendencialmente crescente e que se tem manifestado de forma desigual nas
diversas regiões do mundo.
Deste modo, o processo de mundialização foi decisivo para configurar o mundo
contemporâneo: um mundo com fronteiras mais abertas e cada vez mais interdependente.

2.1.1A mundialização económica: noção e evolução

O processo de trocas, como vimos, intensificou-se ao longo do tempo, po-dendo constatar-se,


atualmente, que tudo circula, matérias-primas, produtos acabados e semiacabados, serviços,
pessoas e capitais, e que o mundo tem as fronteiras mais abertas e está mais interdependente,
pois as trocas realizam--se entre as diferentes partes do globo. Trata-se, pois, da
mundialização eco-nómica.

A mundialização económica engloba, assim, várias dimensões:

•a abertura das economias nacionais às transações internacionaisde bens e serviços;

•a mobilidade internacional dos fatores de produção, isto é, movimentos internacionais de


pessoas e de capitais, em especial os investimentos diretos no estrangeiro realizados pelas
empresas multinacionais;

•o processo de interpenetração crescente das economias nacionais, com a redução


progressiva do papel das fronteiras e com a deslocaliza-ção das atividades económicas;

•a integração dos mercados, tornando-se as empresas multinacionais atores globais cujas


decisões escapam ao poder dos Estados nacionais e parecem ditar a sua lei aos responsáveis e
aos seus políticos.

Primeira europeização do mundo

Os Descobrimentos (séculos XVe XVI) permitiram uma progressiva ocupa-ção, por vezes
violenta, pelos europeus, dos continentes africano, asiático e americano. A colonização desses
territórios provocou alterações na sua forma de organização política e económica, pois foram-
lhes impostos os modelos culturais vigentes na Europa.

Neste período, durante o qual se iniciou o processo de europeização do mundo, assistiu-se a


um desenvolvimento das trocas a nível internacional, na medida em que os países colonizados
começaram a participar nesse comércio, fornecendo os recursos naturais, como a seda e as
especiarias e ainda mão de obra escrava. Este comércio foi primeiro controlado pelos
portugueses e es-panhóis e, posteriormente, por holandeses e ingleses.

A Primeira Revolução Industrial(século XVIII) consolidou a crescente pro-jeção económica e


política da Europa. Esta revolução, que teve origem no Reino Unido, resultou de um processo
de inovação tecnológica, que se traduziu na utilização das energias provenientes do carvão e
do vapor, e a sua aplicação em máquinas proporcionou profundas alterações ao nível dos
bens, dos pro-cessos e dos modelos organizativos e permitiu um crescimento acelerado da
produção. T2

A Revolução Industrial contribuiu também para o desenvolvimento dos transportes, através da


aplicação da máquina a vapor ao caminho de ferro e aos barcos, e das comunicações
(utilização do telégrafo) e permitiu a cres-cente internacionalização da Europa.
Entre as potências europeias destacava-se o Reino Unido, quer a nível económico, pois
apresen-tava uma elevada capacidade de produção, quer a nível de in-ternacionalização,
graças ao seu império colonial.

Durante esse período, o pro-cesso de colonização reforçou--se, acentuando-se a disputa entre


as grandes potências europeias pela posse dos territórios africanos e asiáticos. Essa disputa
resultava do facto de os paí-ses europeus necessitarem de:

•garantir o escoamento da sua produção industrial;

•obter recursos a baixo preço para manter essa produção.

As colónias funcionavam como mercados seguros, compravam produtos acabados e vendiam


matérias-primas a baixos preços, o que permitiu o en-riquecimento das metrópoles. Esta
situação traduziu-se na intensificação do processo de divisão do trabalhoentre as colónias
fornecedoras de matérias- -primas e os países industrializados fornecedores de produtos
industriais e de capital.

Sinónimo da intensificação da colonização foi a instalação de empresas eu-ropeias que se


dedicavam à exploração de plantações ou de recursos mineiros, nomeadamente em África, e o
crescimento da emigração europeia, em espe-cial para o continente americano.

A Revolução Industrial, além de contribuir para o crescimento da produ-ção, também permitiu


uma melhoria relativamente precária das condições de vida da população.

Segunda europeização do mundo

O processo de europeização do mundo continuou ao longo do século XIX, podendo mesmo


dizer-se que se intensificou.

O império colonial europeu e a capacidade europeia de fornecer bens e capitais ao Resto do


Mundo, na sequência da Revolução Industrial, tornaram necessária a conquista de novos
mercados para garantir o escoamento da sua produção e obter recursos a baixo preço. T3

Neste contexto, os países europeus industrializados intensificaram a colo-nização, deslocando


investimentos para as colónias e estabelecendo pautas aduaneiras preferenciais com as suas
colónias.

O reforço do colonialismo económico deu origem a muitas disputas pela posse dos territórios
coloniais, por exemplo, de África e da Ásia.

Os novos mercados coloniais de matérias-primas e de consumo proporcio-naram elevados


lucros às metrópoles e intensificam a divisão internacional do trabalho:

•os países industrializados fornecem capital e conhecimento;

•as colónias fornecem matérias-primas e trabalho sem qualificação.


Muitas empresas, inglesas, americanas alemãs ou francesas, instalaram-se, por exemplo, na
exploração dos recursos diamantíferos e auríferos da África do Sul e nas plantações de açúcar
e de tabaco.

Paralelamente à intensificação da exploração dos recursos das colónias, assiste-se na Europa


ao crescimento da emigração.

Nos finais do século XIX, a partir de 1887, ocorre a Segunda Revolução Industrial, que se
caraterizou pela utilização da energia proveniente da eletricidade e do petróleo e pelos
inventos resultantes da ligação da ciência e da técnica com o laboratório e a fábrica.
Constituem exemplos dessa ligação a invenção do motor de explosão, do telefone e dos
corantes sin-téticos.

O desenvolvimento tecnológico e a procura de maiores lucros e de maior competitividade


estiveram na origem do processo de redimensionamento e de concentração de empresasque,
então, se iniciou. Passando as empresas a ter necessidade de efetuar in-vestimentos mais
elevados, tendo para isso de recorrer a empréstimos bancários ou a investidores/acionistas,
estes forneciam os capitais necessários, mas, em troca, esperavam ter retornos significativos.
T4

A competição entre empresas deixou, assim, de ser concorrencial (entre empresas de pequena
ou média dimensão) para passar a processar-se entre empresas de grande dimensão, os
monopólios e os oligopólios. Estas grandes empresas investiam em inovação para manter a sua
competitividade e capa-cidade de controlo dos mercados e, por outro lado, estreitavam as
suas relações com o Estado.

Contudo, a Segunda Revolução Industrial não foi apenas europeia, foi também americana. Os
Estados Unidos, independentes a partir do século XVIII, registavam um forte crescimento
económico e haviam-se transformado numa grande potência económica, agrícola e industrial,
concorrendo nos mercados internacionais com os países europeus.

É de registar que a liderança da Europa a nível mundial foi fortemente aba-lada com a Primeira
Guerra Mundial (1914-1918). Os Estados Unidos foram os grandes beneficiários da guerra, pois
esta permitiu-lhes expandir a sua ca-pacidade produtiva, como fornecedores dos países
beligerantes durante a guerra e como fornecedores de equipamento para a recuperação
económica no período pós-guerra.

No final da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos transformaram-se na primeira


potência mundial. O seu crescimento económico só foi travado com a crise económica de
1929-30, desencadeada pela quebra de cotações na Bolsa de Nova Iorque. Contudo, após o
abrandamento da atividade eco-nómica e o agravamento das condições sociais, a intervenção
do Estado, con-duzindo uma nova política económica e social (mais reguladora e mais social),
permitiu que a crise fosse ultrapassada.

.1.2A aceleração da mundialização econó-mica a partir de 1945

Após a Segunda Guerra Mundial, verificou-se uma aceleração das trocas a nível mundial, ou
seja, da mun-dialização. Este facto ficou a dever-se:
•à reconstrução europeia e japonesa no pós-guerra;

•ao desenvolvimento tecnológico– Terceira Revo-lução Industrial;

•às tentativas de liberalização das trocas a nível mundial;

•à integração regional e mundial.

A reconstrução europeia e japonesa no pós-guerra

No final da Segunda Guerra Mundial, não foram só os países vencidos, Alemanha, Itália e
Japão, que saíram enfraquecidos com a destruição do seu aparelho produtivo e militar,
também as economias europeias dos países vencedores (aliados) foram destruídas, pois o
facto de terem sido o «palco» da guerra e ainda o esforço realizado, como no caso do Reino
Unido, leva-ram-nos a uma situação de endividamento e destruição das infraestruturas
económicas e sociais.

Os Estados Unidos, país vencedor e com uma economia sólida, viram con-solidada a sua
posição a nível internacional. Não tendo sofrido no seu território os efeitos da guerra, esta até
lhes possibilitou acelerar o crescimento econó-mico, pois transformaram-se no principal
fornecedor de bens e de capitais aos países em guerra. No final da guerra, a recuperação dos
países europeus e do Japão iria realizar-se com a ajuda económica e financeira dos Estados
Unidos.

A ajuda económica e financeira dos EUA aos países da Europa Ocidental foi concretizada
através do Plano Marshall. Os países da Europa de Leste re-cusaram esta ajuda por influência
da URSS, dado que os soviéticos a conside-ravam uma forma de os EUA aumentarem a sua
influência no mundo. Por outro lado, após o triunfo dos comunistas na China (1949), os
Estados Unidos fizeram do Japão um dos seus aliados, tendo este passado a beneficiar de
ajudas específicas dos EUA.

Esse auxílio permitiu a recuperação económica e financeira dos países europeus e do Japão e
contribuiu para acelerar o crescimento da econo-mia americana. Com efeito, a partir de 1945,
a Europa Ocidental perdeu a liderança no comércio de mercadorias e capitais, tendo passado
os Estados Unidos a liderar a economia mundial.

Entre 1949 e 1989, os EUA partilharam essa liderança com a URSS, mas, a partir de 1989, com
a queda do Muro de Berlim e a desagregação da URSS, os EUA tornaram-se a primeira
potência económica e militar a nível mundial.

O crescimento económico dos EUA e a rápida recuperação económica dos países europeus e
do Japão contribuíram para a intensificação das trocas internacionais.

O desenvolvimento tecnológico – Terceira Revolução Industrial

A Terceira Revolução In-dustrialocorre no decurso da Segunda Guerra Mun-dial. Com efeito,


durante o conflito, a necessidade de descodificação das mensa-gens, sobretudo militares, e da
sua rápida transmissão levaram à conceção do computador e ao desenvol-vimento da
informática.
Estas novas tecnologias rapidamente se generaliza-ram a outras áreas, como a medicina, as
finanças, a pro-dução, a investigação cien-tífica e os transportes.

Os transportes benefi-ciaram em termos de rapi-dez e de custos, o que permitiu que os


diferentes produtos comercializados pudessem transpor com rapidez as fronteiras. Por
exemplo, tornou-se relativa-mente fácil encontrar à venda em qualquer loja alimentos frescos
provenien-tes dos mais diferentes países. F1

A aplicação da informática aos audiovisuais deu origem às designadas Novas Tecnologias da


Informação e da Comunicação(NTIC).

As NTIC alteraram profundamente os sistemas de comunicação, pois da comunicação


telefónica, analógica, enviada por fios e cabos, passou-se a uma comunicação onde sistemas
integrados comprimem grandes quantidades de informação e as transmitem digitalmente pelo
mundo inteiro.

A digitalização, a fibra ótica e os sistemas por satélite, interligando-se, per-mitiram o


aparecimento de um único meio de comunicação: o multimédia.

Estas inovações tecnológicas, ao misturarem os mediaanteriormente sepa-rados, abrem o


leque das suas utilizações. Tal acontece, por exemplo, com os videodiscos, em que a imagem
se alia ao som ou à possibilidade de ver te-levisão ou ouvir música no computador ou através
da telemática, técnica de transmissão da informação à distância que associa as
telecomunicações (sa-télites) à informática, como os casos da videoconferência, do videofone
e do acesso aos bancos de dados.

Os mediatornam-seinterativos, permitindo a participação do utilizador no que vê e no que


ouve. A Internet e os telemóveis oferecem, cada vez mais, possibilidades de interconexão e
interatividade. Por exemplo, atualmente, os utilizadores de telemóveis podem aceder à
Internet, enviar mensagens e rece-ber correio eletrónico, movimentar contas bancárias,
verificar as cotações no mercado bolsista, marcar bilhetes para um espetáculo, ouvir música e
ver te-levisão.

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