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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

RESUMO: O PROCESSO CIVILIZADOR E O ESPORTE EM NORBERT ELIAS

SÃO CRISTOVÃO-SE
2018
MOISÉS SILVA DOS SANTOS
GABRIEL MELLO SILVA
TIAGO SOUZA SILVA
JOSÉ BERGSON SANTANA SANTOS
FILIPE MATHEUS DE JESUS DOS SANTOS
DIEGO SANTANA TELES

DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO


PROFº DRº BRUNO MARTINS MACHADO

SÃO CRISTOVÃO-SE
2018
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento moral do individuo, resulta das relações entre afetividade e
racionalidade, no qual a intensidade e qualidade de estados afetivos experimentados
corporalmente nas práticas da cultura de movimento, afetam atitudes e decisões racionais.
De início ele se apoia em Eric Dunning, para falar sobre o fato de o desporto ter sido
desprezado pela sociologia, para Dunning essa área de estudo destacou-se a partir da década
de 1960, contudo a sociologia de desporto teria sido, o resultado de especialistas da Educação
Física, devido ao seu envolvimento na área, não teriam mantido distância para uma boa
análise sociológica.
Muito do que se foi escrito nessa obra situa o fulcro das preocupações nos problemas
da Educação Física, cultura física e desporto. É possível que a sociologia do desporto, como
área de especialização não tenha se configurado como espaço de grande relevância, pelo fato
da sociologia ter se orientado para o que se convencionou denominar como campo restrito dos
aspectos “sério” e “racional” da vida.
O desporto é entendido como uma coisa vulgar, uma atividade orientada para o prazer,
que envolve mais corpo que mente, e sem valor econômico, Dunning pensa totalmente
diferente disso, reclama para o desporto o espaço, sugerindo que o mesmo constitui como um
campo de considerável significação social.

O LUGAR DO ESPORTE NO PROCESSO CIVILIZADOR


Para falar do esporte, a partir a leitura de Elias, faz-se necessário alargar esse conceito
para o processo de desportivização, sendo que o mesmo não pode ser analizada sem ser
relacionada ao contexto ”civilização”.
O esforço de Elias consiste em singularizar a análise acerca do “processo de
civilização”, na medida em que associa ao processo civilizador as investigações sócio e
psicogenéticas.
A psico e sociogênese devem estabelecer uma relação mútua, tendo em vista que
ambas comparecem como “aspectos interdependentes do mesmo desenvolvimento de longo
prazo”, Elias desenvolve uma teoria de civilização - como teoria das transformações e do
comportamento e das estruturas da personalidade, e também formação do estado – como
teoria do desenvolvimento social, assim a psico e sociogênese do estado estão entrelaçadas.
No processo de civilização a psicogênese esta relacionada ao desenvolvimento de
longa duração das estruturas da personalidade humana e as modificações do comportamento,
Elias atentou-se para as estruturas e mecanismos de regulação e controle de impulsos, para
estudar a formação do “superego”.
Por sua vez, a formação do processo civilizador, juntamente com a relação entre psico
e sociogênese, diz respeito ao desenvolvimento de longo prazo das estruturas sociais. A
assunção do estado resultava em um processo de centralização rumo a monopolização do
território, do uso da violência, etc.
Só é possível compreender a posição desses autores quando se admite as “formas e os
significados do esporte moderno se desenvolveram como parte do processo civilizador”.
Em um recente texto, Elias fala sobre a necessidade de uma teoria de processos sociais
e da tarefa de diagnosticar as tendências de longo prazo não – planejadas, e como a sociologia
esta sujeita a projetos de planejamentos controlados acaba-se por não compreender o processo
de desenvolvimento não – planejado a longo prazo, que ainda é suporte a prática de
planejamento atualmente e a qual todo planejamento continua ligado.
A INVESTIGAÇÃO SOBRE O DESPORTO
Neste artigo o autor relata sobre a posição de Elias quanto a investigação sobre o
desporto, sendo um caso de quando a descoberta sobrepõe o método, segundo Elias o
desporto é considerado um objeto digno de preocupação o mesmo considera que as
investigações sociológicas sobre o desporto, tem a responsabilidade de explicar aspectos
pouco estudados, este fenômeno não estudado frequentemente pelos sociólogos talvez por não
conhecerem ou conhecerem pouco sobre o assunto.
O autor considera que os estudos mais sistematizados poderiam dar mais segurança ao
saber, ele estava consciente de que a compreensão do desporto era condição para o
conhecimento da sociedade, também faz critica as ciências sociais e a sociologia em
particular, de correrem risco de se desintegrarem devido a imensa quantidade de
especializações na área, e a falta de diálogo entre elas para o entendimento dos problemas
sociais. Elias nos mostra sua sensibilidade acadêmica quanto a necessidade das várias áreas
do saber, assim podendo atribuir contribuições ao conhecimento dos desportos e também das
sociedades humanas.
A dificuldade entre os sociólogos está na incerteza que existe entre eles quanto a
investigação, requerendo a favor do entendimento, torna conhecida qualquer coisa
desconhecida para os seres humanos, a intenção de Elias é aumentar o conhecimento humano
em termos técnicos. O do texto entende essa finalidade de descoberta como obscurecida e
desvirtuada e polemica quanto ao método de investigação cientifica, segundo Elias é possível
fazer progredir o conhecimento e realizar descobertas no campo da sociologia, pois o que
legitima a investigação cientifica não é o método e sim a descoberta.
O próprio Elias admite que é difícil observar e compreender as características mais
especificas dos Desportos pois a compreensão deve ser feita juntamente com o método
comparativo, Elias nos mostra através desse método que jogos atuais que vieram da idade
média como o futebol ou Ruby que vieram da Inglaterra, possuem sensibilidades em relação a
violência justamente por causa de seu desenvolvimento que se originou como passatempo
sem regras definidas e não possuindo característica de desporto, outro exemplo disso e o
pugilato que em suas raízes mais antigas era uma maneira entre homens para resolver seus
problemas, com o passar do tempo e devido a popularização acabou se tornando algo a ser
apreciado; foi introduzido regras gerais de competição limpa equipamentos para evitar que os
participantes não viessem a se machucar tão intensamente, e por fim foi chegado o boxe que
até hoje e considerado um desporto de bastante valia. Vemos nesse âmbito que para ser
caracterizado desporto um passatempo deve possuir regras reguladoras, e uma maneira correta
e limpa da pratica do mesmo.
Elias procurou evidencias baseadas em experiências de processos de longa data na
passagem dos passatempos como eram chamadas as atividades sem regulamentos para o
estágio de desporto, e seus espalhamento para outros países, e até mesmo a “desportivização”
ocorrida na sociedade inglesa se mostrava como exemplo de avanço de civilização. Então
surge pergunta do porque o desporto surgiu justamente na Inglaterra e não em outro país
qualquer? O que a Inglaterra apresentava de diferente? Elias apresentou a resposta de que a
caça da raposa que até era comum na época pode apontar aspectos de relação do
desenvolvimento dos passatempos para se tornarem desportos. O surgimento de grupos rivais
que provocavam competições era bem característico da Inglaterra, tal confronto pelo poder
gerava competições banhadas em sangue, e as vezes baseadas em apostas isso era uma
característica muito comum da sociedade inglesa, ao passar do tempo foi se gerando
competições, daí vem a disputa parlamentar as alterações de governo e algumas características
como a centralização política, o processo de democratização e o Refinamento das condutas e
crescente auto controle nas relações sociais, o que permitiu que a Inglaterra fosse pioneira no
meio dos desportos.
PRINCIPAIS PONTOS E PENSAMENTOS DE NORBERT ELIAS E
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não oponente Elias ter em conta as mudanças mais gerais ocorridas ao longo do
século XIX e também de parte do século XX na "forma e conteúdo" do esporte, há um
conceito chave e indispensável para se compreender o caminho de análise percorrido e que
compõe um daqueles três itens apontados no início do nosso texto. Este conceito é o de
Configuração. Porque, se todo esporte é uma forma organizada de tensão em grupo, só há que
se pensar na busca de um equilíbrio de tensões nesse processo configuracional engendrado
pelas práticas dos variados esportes.
O esporte como configuração, como equilíbrio de tensão e ou como expressão de um
autocontrole, cada vez mais, representa uma resposta não planejada e em vários níveis, nas
sociedades de hoje, a um novo equilíbrio entre prazer e restrição e, talvez, uma forma de
poder desfrutar de emoções, de prazer pessoal coerente com a "expectativa" nas sociedades
Estados dos dias atuais.
Em Elias a análise do esporte está associada a busca da EMOÇÃO nas sociedades
altamente regulamentadas e onde o controle da violência está vastamente internalizado. "A
beligerância e a agressão encontram expressão socialmente permitida nos jogos esportivos. E
elas se manifestam especialmente em participar como espectador (como por exemplo, em
lutas de boxe), na identificação imaginária com um pequeno número de combatentes, a quem
uma liberdade moderada e precisamente regulamentada é concebida para liberação dessas
emoções. E este viver de emoções assistindo ou mesmo apenas escutando (como, por
exemplo, a um comentário na rádio) é um aspecto particularmente característico da sociedade
civilizada."
Ora, deriva daí inúmeras possibilidades de pensarmos o esporte. Sua importância não
só para praticantes, mas também para espectadores. Por aí se resgata a razão da análise não
apenas pelo consumo, como fator motivante do grande desenvolvimento do esporte hoje, mas
também pelas questões das necessidades de viver as emoções. Talvez por aí se entenda
melhor porque para Elias é possível dizer que no passado atividades religiosas
desempenharam funções análogas as que as atividades esportivas desempenham hoje,
inclusive com o seu caráter ritualístico. Também não nos parece de todo satisfatório pensar o
esporte apenas como fruto do desenvolvimento industrial, ou por outra, a industrialização por
que passaram as nações modernas como "causa" do desenvolvimento dos esportes, dado que
são processos que se desenvolvem a partir do que Elias vai denominar de democratização
funcional. Entendida aqui como uma pressão que vem de baixo e que, por sua vez, alarga e
diferencia as cadeias de interdependências sociais inerentes a demanda do esporte inter-
regional e representativo.
Se somarmos a estes dados relacionados até aqui, a característica "mimética" atribuída
ao esporte por Elias, vemos então que este já não é em hipótese alguma, na análise proposta,
apenas um outro produto de consumo, mas, um elemento necessário - um reduto social - nas
sociedades altamente reguladas e com um alto grau de controle multipolar. Onde o indivíduo,
seja como jogador ou espectador, pode saltar o muro das emoções, mesmo que de uma forma
socialmente limitada e controlada.
Para Elias, o esporte não é apenas mais um produto da sociedade de massas, como
alguns apresentam. Ele, com suas características miméticas, é uma necessidade básica das
sociedades altamente regulamentadas dado que, sem oportunidades como a prática dos
esportes, embora não só ela, em que possam experimentar emoções agradáveis, os membros
dessas sociedades pedem correr o risco de ver suas vidas sucumbirem ante uma rotinização
avassaladora. Por isso é que para Elias, a natureza mimética de um enfrentamento desportivo
"permite as pessoas experimentar com plenitude a emoção de uma luta sem seus perigos e
riscos “e muito embora, "o elemento medo continue presente na emoção, diminui em grande
medida e com ele se potência enormemente o prazer da luta."
A proposta do autor é desafiante, na medida em que não perde de vista a tendência já
apontada pela sociologia de Weber, de que na sociedade contemporânea existe um rumo em
direção à racionalização de condutas e atitudes. Elias, no entanto, avança nesta leitura, quando
consegue vislumbrar um entendimento que vai além do discurso científico racional da
modernidade, considerando como significativas e merecedoras de estudo, práticas e condutas
que estimulam e liberam tensões agradáveis. Assim, é entendimento seu que:
(...) a sociedade que não oferece aos seus membros, e, em especial, aos mais jovens,
oportunidades suficientes para a excitação agradável de uma luta que não exige, mas pode
envolver, força e técnica corporal pode, indevidamente, arriscar-se a entorpecer a vida de seus
membros; pode não proporcionar correctivos complementares suficientes para as tensões não
excitantes produzidas pelas rotinas regulares da vida social (ELIAS, 1992: 95).
Neste sentido, penso que, vivenciar e experimentar o desporto como objeto de
reflexão e investigação a luz das ciências humanas e o seu arcabouço teórico-conceitual,
devido à mobilidade que lhe é peculiar, possibilita o diálogo interdisciplinar com vista ao
enfrentamento de problemáticas da educação, da ciência e dos limites e estrangulamentos
dessa com esse fenômeno na contemporaneidade. Assim, me parece fundamental assumir a
leveza que elas nos autorizam no enfrentamento de diferentes questões, para reiterar a
necessidade de deixar morrer a concepção a priori de educação e educação física que nos
persegue, para dar vazão ao que Norbert Elias considera tão caro, ou seja, mais vale a
descoberta de caminhos a partir de evidências empíricas, ou de necessidades que nos impõem
as circunstâncias que são “voláteis” ou “líquidas”, do que o porto seguro do método
determinando de antemão.
Portanto, tentar apreender o conceito de esporte em Elias nos parece ser importante
porque, além de permitir pensar o objeto(esporte) que se estrutura nas configurações, como
resultado de um processo civilizador característico das sociedades Estados ocidentais; permite
ainda pensa-lo, a partir de suas características miméticas, como componente explicativo das
interrelações humanas.

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