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Serviço Social
SUMÁRIO

Processo de Construção do conhecimento .......................................... 3

O Método em Ciências Humanas e a Pesquisa Social .......................... 15

Métodos e técnicas de Pesquisa no Serviço Social .............................. 23

O Funcionamento e o Estruturalismo no Serviço Social ......................... 39

Métodos Qualitativos e o Serviço Social e suas Implicações ................. 51

Abordagem Compreensiva, Interacionista e Fenomenológica ................ 63

Dialética, Complexidade e Reconstrução do Objeto no Serviço Social ... 75


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CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i

Processo de construção
do conhecimento

Introdução
Para iniciarmos nossos estudos, você deve rever alguns conteúdos das disci-
plinas Metodologia Científica e Teorias Sociológicas, estudadas no primeiro
período do curso. Nas referidas disciplinas, especialmente as primeiras unidades
servirão de base para o que você vai estudar a partir de agora. Por exemplo, em
relação à Metodologia Científica, você vai precisar das discussões sobre o conhe-
cimento, dos métodos e das técnicas de pesquisa. Já em Teorias Sociológicas,
será importante a releitura dos temas relacionados ao início das ciências sociais,
a abordagem positivista e as metodologias qualitativas. Assim você terá uma
maior compreensão de como se dá o processo de observação da realidade a
partir das ciências sociais, bem como suas características centrais e reconhe-
cerá o processo de investigação no Serviço Social, seus aspectos centrais, como
teorias e metodologias, no processo de investigação, como indispensável para
a ação do assistente social.

Toda nossa experiência de vida resulta em um processo de construção


de conhecimentos. Desde os primeiros dias de vida, os estudos na escola, o
trabalho, o cotidiano dos lares, a amizade e o carinho na convivência com
as demais pessoas e com os diversos grupos sociais contribuem sobremaneira
para acumular conhecimentos. Em outros termos, viver é conhecer e produzir
conhecimentos.

Neste capítulo, você vai estudar sobre como se produz o conhecimento,


quais seus tipos, sua relação com a realidade, como se dá o processo de inves-
tigação e, concomitantemente, a produção do conhecimento, tendo como foco
central o Serviço Social. Começaremos com alguns conceitos.

1.1 Conhecimento e realidade: conceituando


Não se conhece algo se não houver uma relação entre o sujeito conhecedor,
o objeto a ser conhecido e o contexto que envolve o sujeito e o objeto, a partir
de uma realidade. Para começo de conversa, vamos deixar claro quais os signi-
ficados de conhecimento e de realidade e, em seguida, saber como se dá essa
relação entre um e outro.

A capacidade do ser humano de vivenciar diversas experiências e arquivar


na memória tudo o que está a sua frente ou que já passou contribui para o que

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chamamos de conhecimento. Mas não seria possível conhecer se não tivés-


semos os sentidos e o pensamento. A partir desses elementos, a relação do
sujeito com o objeto se completa, favorecendo, assim, o conhecimento. Dessa
forma, a participação do sujeito é fundamental para que haja conhecimento.

A realidade, por sua vez, consiste em um conceito que envolve várias discus-
sões. A questão que se coloca é: o que é realidade? Para saber o que é reali-
dade, é preciso se voltar ao sentido e ao pensamento, elementos já indicados
como indispensáveis para o conhecimento.

Reflita

Você sabe de fato o que é realidade? Por exemplo, quando você afirma
que é real o que viu ou o que defende em algum momento, o que o leva a
crer que é algo real?

Para que você considere algo como realidade, primeiramente é neces-


sária a capacidade de perceber, sentir e relacionar isso com a sua vida
ou o contexto em que já viveu ou ainda está vivendo. Quando você afirma
que estudou hoje em uma telessala da sua cidade, mais precisamente na
sala dois, por exemplo, logo está querendo mostrar uma pequena parte do
seu dia e que considera muito importante para sua vida. Todavia o que é
real nessa afirmação só será de fato se você vivenciou essa experiência e,
por sua vez, tem como provar para determinadas pessoas que queiram ou
precisam saber.

Você não precisa, é claro, inventar para você mesmo que fez o que disse,
mas pode precisar provar para o seu patrão, o seu namorado, enfim para
alguma pessoa. Mas é claro que o que existe ou acontece pode não ser conhe-
cido por alguém, no entanto não deixa de ser real. Todavia, no que se refere à
demonstração do que existe, isso sim precisa dos elementos essenciais para que
outras pessoas possam saber de fato que existe ou que existiu o que você afirma.
Veja, portanto, que está posta a necessidade de saber o que é real e o que é
realidade. Não é por acaso que a realidade é uma categoria ou um objeto de
estudo das ciências sociais.

Conforme o Minidicionário Houaiss, realidade é “tudo o que existe de ver-


dade, o que é real” (2004, p. 625). Já no que tange ao real, o mesmo
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dicionário afirma que é “aquilo que tem existência palpável, concreta, que
existe de fato, de verdade” (2004, p. 624).

Quando alguém se refere à questão da realidade, em geral, o que está implí-


cito é a leitura e a compreensão do mundo nos seus diversos aspectos. Assim a
realidade social, isto é, o que envolve o ser humano e a sociedade têm sido alvo
de diversas discussões e preocupações por parte dos cientistas sociais.
Para conhecer a realidade, os sociólogos, os antropólogos, os cientistas os
políticos, os historiadores, entre outros cientistas sociais, adotam determinadas
metodologias, conforme suas respectivas visões de mundo. Temos, portanto,
concepções diferentes acerca da forma de se estudar a sociedade, o que, conse-
quentemente, gerou várias abordagens e a adoção de metodologias conforme a
necessidade apontada pelos pesquisadores; são formas de buscar aprender as
realidades, as abordagens, como: o positivismo, a fenomenologia, o marxismo,
a metodologia compreensiva, o estruturalismo e a teoria da complexidade, que
você vai estudar ao longo desta disciplina.

Saiba mais

Para uma compreensão mais ampla acerca do que seja realidade e conhe-
cimento, leia o livro A construção social da realidade, dos autores Peter
Berger e Thomas Luckmann. A sua primeira edição é de 1966, mas ainda é
bastante atual. Há também uma publicação mais recente (2002) feita pela
editora Vozes. Veja também As novas Sociologias – construções da realida-
de social, de Philippe Corcuff, publicado pela editora Edusc, em 2001.

Agora que você refletiu um pouco sobre conhecimento e realidade, vamos


tratar dos tipos de conhecimento surgidos ao longo da história da humanidade,
conforme você já viu em Metodologia Científica. É claro que não é preciso se
alongar nesse tema, mas é importante retomar conceitos para maior aproveita-
mento e compreensão da importância do conhecimento na sociedade.

1.2 Os tipos de conhecimento


Os tipos de conhecimento fundamentais até os dias de hoje são os seguintes:
comum (também conhecido como empírico ou popular), religioso (ou teológico), filo-
sófico e científico. São considerados ainda o mitológico e o artístico como formas
de conhecimento, embora apresentem diferentes formas de perceber o mundo.

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Reflita

Baptista (1993, p. 2) afirma que “o conhecimento é um instrumental de tra-


balho do profissional na sua ação sobre o objeto e é, ao mesmo tempo, pre-
liminar e concomitantemente à sua construção”. Você concorda com ele?

O conhecimento empírico é o da experiência, do cotidiano de cada um


de nós que contribui significativamente para agir no mundo, orientar-se e fazer
as atividades necessárias. Se você tomar como exemplo o estudo que ora
está realizando, vai perceber que, muito embora esteja envolvido em uma
atividade acadêmica do curso de Serviço Social, para conseguir fazer o que
precisa com vistas ao conhecimento e à sua formação, logo precisou antes de
tudo de uma variedade de conhecimentos a respeito do seu mundo, até mesmo
para chegar ao seu local de estudo. Veja então que o conhecimento comum é
indispensável para que você possa alcançar novos conhecimentos mais deta-
lhados e aprimorados, como é o caso da formação que espera alcançar com
o final do curso.
Quando a experiência em si já não se mostra suficiente para compreender
determinadas coisas ou assuntos, você logo busca uma forma de conhecer, dife-
rentemente do que fazia, como procedimento normal, raciocinando rapidamente
para resolver algo, como a simples necessidade de ir à faculdade de ônibus ou
de carro particular.
Em relação ao conhecimento religioso ou teológico, sabemos que, nos primór-
dios da humanidade, os primeiros habitantes do planeta já buscavam explicar os
fenômenos ao seu redor, como a chuva, o fogo, o trovão, por exemplo, a partir da
crença em deuses ou divindades. Dizem que esse tipo de comportamento se deu
tendo em vista que, quando alguns homens já não sabiam como explicar concre-
tamente por que determinados fenômenos ocorriam à sua volta, alegavam que
poderia ser talvez pelo fato de que algum deus estivesse enfurecido com eles por
algum motivo, ou como forma de repreensão pelos seus atos. Assim temos o surgi-
mento do conhecimento religioso como parte dessa perspectiva de explicação das
coisas a partir de crenças no sobrenatural, nas divindades ou na espiritualidade.

O conhecimento religioso se caracteriza por sua generalidade, simbologia


e aspecto ético acentuado (JOHAN, 1997).
CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i

À medida que o homem vai se desenvolvendo, juntamente com a sociedade,


ele percebe a capacidade de pensar de forma aguçada, o que o leva a refletir
sobre os diversos assuntos. Nasce então o conhecimento filosófico que, por sua
vez, possibilitou mais adiante o surgimento do conhecimento científico, que se
desenvolveu a partir do surgimento da industrialização.

Johan (1997, p. 29) ensina que


A atitude primeira do homem diante da realidade não é a de um
sujeito analítico que a examina em profundidade, mas a de um
ser que atua praticamente nas suas relações com a natureza e
com os outros homens. Por isso ele necessita da reflexão filosó-
fica, através da qual destrói a pseudoconcreticidade e a pretensa
independência dos fenômenos, demonstrando o seu caráter deri-
vado da essência.

Quando nos referimos à realidade, é indispensável levar em conta a capa-


cidade de pensar, de refletir sobre tudo que faz parte do universo humano. O
sentimento e o pensamento estão intimamente relacionados à reflexão filosófica,
o que permite a ação dos indivíduos, dos grupos e de organizações.

Considerando as palavras do autor, sobre a reflexão filosófica, e relacio-


nando com o papel do assistente social, podemos inferir que não faria sentido
algum o trabalho desse profissional se ele não tivesse a compreensão de que
sua ação está intimamente relacionada com a filosofia. Isso porque, ao atuar, o
assistente social age a partir do que pensa sobre o mundo, as coisas e toma as
decisões conforme sua filosofia adotada como a mais aceitável ou correta por
ele. Por outro lado, ao pensarmos no trabalho em uma instituição, por exemplo,
devemos levar em conta a filosofia que movimenta ou direciona as ações dos
seus dirigentes e empregados.

O conhecimento científico, por seu turno, surge com a necessidade da


precisão, da comprovação, da organização, tendo em vista o desenvolvimento
da industrialização. Como você já estudou em Teorias Sociológicas, a ciência
tem suas bases já na Grécia Antiga; em seguida, avança com o Renascimento
e o Iluminismo, aprimora-se e segue até os nossos dias com o avanço da tecno-
logia presente em todas as esferas da sociedade.

Cabe à ciência a garantia do desenvolvimento da sociedade da maneira


mais segura, eficiente e eficaz. Isso é o que se espera da ciência. Mas esse tipo
de conhecimento não deve ser considerado absoluto ou superior, até mesmo
porque é feito pelos homens e permeado de interesses e de ideologias. Se
você tem alguma dúvida sobre isso, lembre-se das guerras, da bomba atômica
lançada na cidade de Hiroshima, do nazismo e do fascismo, das ditaduras que
ocorreram na América Latina, entre outras formas de ação humana baseadas na
ciência e a serviço do poder e de interesses escusos.

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Para o conhecimento científico, a realidade a ser conhecida não se apre-


senta como um objeto à mostra, claro, transparente. Há, sim, uma distinção
entre as coisas tal como aparecem em um primeiro momento à nossa per-
cepção e como são na realidade (JOHAN, 1997).

O conhecimento apresenta uma estreita relação com a realidade. Ao longo


da história, o homem foi construindo tipos de conhecimento na esperança de
alcançar ou de apreender a realidade. Sabemos que o conceito de realidade
deve ser compreendido a partir da capacidade humana de pensar e de sentir
para depois agir. Também não se pode imaginar ou ter a ciência como algo
absoluto e superior, do contrário, corre-se o risco de adotar uma conduta faná-
tica em relação a esse conhecimento.
No próximo item, você estudará o processo de observação da realidade e as
ciências sociais. Trata-se de buscar compreender como as ciências sociais procuram
explicar as diferentes realidades a partir de metodologias, conceitos e teorias.

1.3 O processo de observação da realidade e as ciências sociais


Observar a realidade requer acuidade e paciência. A tarefa das ciências
sociais é observar a realidade de maneira que permita à sociedade respostas
favoráveis às descobertas das causas dos problemas ou dos fenômenos sociais.
Mas é evidente que essa não é uma tarefa fácil de realizar, até mesmo porque
o objeto de estudo das ciências sociais é por demais complexo, uma vez que se
trata do homem e da sociedade nas suas mais diversas formas de atuação.
A realidade, como você já viu anteriormente, deve ser compreendida a
partir da capacidade humana de sentir, de pensar e de agir. Vejamos, agora,
sobre a forma de observação da realidade por parte das ciências sociais, os
problemas ou as dificuldades enfrentados pelos cientistas sociais para alcançar
o que chamamos de conhecimento da realidade.
Os estudos em torno da realidade iniciaram, de forma mais clara, a partir
do século XIX, quando a Revolução Industrial já produzira diversas situações que
estão entre o que podemos chamar de aspectos positivos e negativos. Mas não
devemos esquecer que há muito tempo se buscou compreender os problemas
sociais, a cultura, a política, a vida em sociedade.
Os filósofos gregos como Sócrates, Platão e Aristóteles abordaram a reali-
dade de diferentes maneiras. Antes desses filósofos já tínhamos também outros
que apresentaram suas preocupações em torno da vida e da sociedade ou, em
outros termos, ocuparam-se da vida dos homens.

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CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i

Ao longo da história, acontecimentos como o Renascimento e o Iluminismo permi-


tiram diferentes abordagens, agora com uma preocupação com a racionalidade, o
que favoreceu, portanto, o desenvolvimento das ciências sociais mais adiante.
A questão que surge, quando se trata de estudar a realidade, é a seguinte:
como estudar cientificamente a realidade? A partir de então, os estudiosos se
debruçaram para encontrar respostas a essa questão.
Ao se tratar de estudo da realidade, logo podemos nos perguntar: mas que
realidade? O que chamamos de realidade? Na busca de um caminho para
o estudo da sociedade, dos problemas, dos fenômenos que surgem na socie-
dade, é que estudiosos como Augusto Comte se basearam nas ciências natu-
rais. Por isso ele pensou na objetividade que a ciência da sociedade, no caso
a Sociologia, por exemplo, deve ter. Dessa maneira, Comte procura estudar
a sociedade com a mesma lógica e metodologia usadas nas ciências como
biologia, física, química e na astronomia.
O precursor do positivismo teve essa ideia porque não imaginava como
alguém poderia demonstrar objetividade, comprovação dos estudos da socie-
dade, sem uma metodologia que permitisse encontrar as causas dos fenômenos
ou, em outros termos, encontrar o que se denomina nas ciências de Leis Naturais.
Nessa perspectiva positivista, só se aceita como ciência o que pode ser mensu-
rado, quantificado, demonstrado estatisticamente ou visto concretamente. Então
temos, na busca de observação da realidade social, a questão da objetividade,
isto é, estudar a sociedade tal qual se faz nas ciências da natureza.
Essa questão da objetividade gerou várias discussões e polêmicas nas ciên-
cias sociais por parte de importantes estudiosos da área até os dias atuais. A
maneira de perceber e de estudar a sociedade nunca foi algo de consenso por
parte dos intelectuais. No caso dessa perspectiva positivista, Comte buscava
demonstrar que não havia outro caminho ou metodologia diferente dessa ótica
da objetividade a partir das Leis Naturais. Esse teórico se colocava contrário
a toda percepção idealista a respeito do estudo da sociedade. Essa visão é
também conhecida como objetivismo, que “tem como projeto estabelecer regula-
ridades objetivas (estruturas, leis, sistemas de relações etc.) independentemente
das consciências individuais” (BOURDIEU citado por CORCUFF, 2001, p. 17).
O objetivismo dá prioridade ao objetivo na análise dos fenômenos sociais,
enquanto que o subjetivismo prioriza o subjetivo, a interpretação, ou seja, aquilo
que não pode ser mensurado e quantificado.

O objetivismo procura seguir as regras rígidas traçadas pelo positivismo.


Tal procedimento tem sido contestado por diferentes teóricos. Bourdieu cita-
do por Corcuff (2001, p. 17) ensina que “o objetivismo constitui o mundo

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social como um espetáculo oferecido a um observador que assume um


‘ponto de vista’ sobre a ação e que, importando do objeto, age como se
ele fosse destinado unicamente ao conhecimento”.

Os estudiosos que se colocam contrários ao objetivismo são subjetivistas,


até mesmo porque não veem como estudar aquilo que é tão complexo, como a
sociedade, de forma totalmente voltada para o objetivo. É por isso que surgiram
outras perspectivas teóricas e metodológicas, como a análise compreensiva, de
Max Weber, que você já estudou em Teorias Sociológicas, e a fenomenologia,
assunto que você vai estudar mais especificadamente adiante.
Embora tenha sido de grande relevância a contribuição teórica e metodo-
lógica de Augusto Comte no que diz respeito à forma de estudar a sociedade
e seus fenômenos, os estudiosos que se seguiram demonstraram as lacunas
deixadas pelo positivismo comtiano. Essas lacunas deram margem para a busca
de estudos mais voltados para uma visão subjetiva, o que se apresenta como
uma metodologia qualitativa, enquanto que a outra é quantitativa.
Como o próprio termo já indica, a metodologia quantitativa prioriza o que
pode ser medido, enquanto a qualitativa prioriza o não quantificável, como é o
caso de estudar os comportamentos e os sentidos dados às ações sociais.
Agora, para uma maior compreensão a respeito dessa polêmica entre obje-
tivo e subjetivo, vejamos um exemplo de como isso se apresenta no âmbito do
Serviço Social: o assistente social que atua em uma determinada instituição, em
geral, está a serviço do que lhe é determinado para realizar. No caso de uma
intervenção do poder público em uma determinada comunidade, para traçar o
perfil socioeconômico de sua população, o assistente social é o agente institu-
cional responsável pelo levantamento de dados junto às pessoas para saber as
condições de moradia, de renda familiar, dos problemas centrais que as pessoas
vivenciam na sua localidade, entre outros. Para tanto, esse profissional lança
mão de um questionário, geralmente fechado ou misto, isto é, com perguntas
para marcar a alternativa correspondente ou com outras para que o informante
dê a sua opinião sobre a realidade na qual vive. Temos, portanto, o uso de uma
metodologia quantitativa, tendo em vista que se procura mensurar os dados e,
em seguida, apresentar o relatório detalhado para a instituição na qual atua.
De posse dos dados quantitativos, é que se discute com a equipe o que deve ser
feito para resolver os principais problemas verificados com a pesquisa.
No caso da aplicação de uma metodologia qualitativa, o assistente social atua
de forma detalhada e comedida, por meio de observações in loco, de entrevistas
com pessoas da comunidade para saber sobre os principais problemas e como as
pessoas de lá buscam suas soluções possíveis. O relatório final a ser apresentado

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CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i

pelo assistente social deve levar em conta tudo o que observou, procurar perceber
o sentido dado aos problemas encontrados por parte das pessoas da comunidade
para, em seguida, tirar suas possíveis conclusões. Sobre métodos e técnicas de
pesquisa no Serviço Social, você vai estudar de forma mais detalhada adiante.
Observar a realidade não é tarefa simples, como se pode imaginar. Cabe aos
cientistas sociais encontrarem o caminho mais adequado para estudar a sociedade,
de maneira que se encontrem as respostas necessárias. Com isso, é possível agir
de forma que proporcione às pessoas uma melhor qualidade de vida e, evidente-
mente, respostas para enfrentar os seus problemas e suas especificidades. Existem
duas formas de estudar a sociedade: pelo objetivismo ou pelo subjetivismo. Assim
vemos que é necessária cautela suficiente para buscar estudar e compreender a
sociedade com os seus respectivos problemas e situações diversas.
Você viu até aqui como se observa a realidade, a partir das ciências sociais. Viu
também que o estudo da realidade social demanda acuidade para evitar precipita-
ções e interpretações ou conclusões apressadas que não levam a nada. Assim, no
intuito de garantir segurança e precisão nos estudos da sociedade, surgiram duas
formas de abordagem da realidade: o objetivismo e o subjetivismo. Aquele prioriza
o que é mensurável ou quantificável, enquanto que o segundo dá prioridade ao não
quantificável, isto é, aos aspectos subjetivos presentes nos processos e nas relações
existentes na sociedade. Cabe ao positivismo a perspectiva objetivista e, por outro
lado, a abordagem compreensiva, o subjetivo. Assim temos as correntes de estudos
e análises da sociedade como o positivismo, a fenomenologia, o marxismo, que se
destacam no que tange aos estudos ou observação da realidade social.
A questão da observação da realidade é uma constante preocupação das
ciências sociais e, a partir da observação científica, são realizadas as investi-
gações e se produzem novos conhecimentos. Vejamos, a seguir, a relação entre
investigação, trabalho e produção do conhecimento.

1.4 Investigação, trabalho e produção de conhecimento


Pensar a investigação como dimensão constitutiva do trabalho do assis-
tente social e como subsídio para a produção do conhecimento sobre processos
sociais e reconstrução do objeto da ação profissional consiste em uma impor-
tante reflexão sobre o Serviço Social e sua prática.
Sabemos que o assistente social tem à sua frente uma infinidade de problemas
e de necessidades na atuação junto às questões sociais. Portanto não se pode
prescindir da tarefa da produção do conhecimento na empreitada desse profis-
sional. Para uma ação efetiva e de qualidade que proporcione às populações
respostas concretas no que tange aos seus problemas, como os relacionados à
saúde, à habitação, à violência, à prostituição, entre outros, o assistente social
deve ter uma conduta séria, um faro de pesquisador que lhe permita alcançar o
sucesso desejado no que se refere à solução dos problemas da sociedade.

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CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i

No próximo item, esse tema (investigação, trabalho e produção de conheci-


mento) continuará como objeto de nossa discussão.

1.5 A investigação na prática profissional em Serviço Social


Baptista (1993, p. 1) assevera que,
No Serviço Social, assumido como profissão interventiva, o
conhecimento a ser construído pela investigação tem como hori-
zonte não apenas a compreensão e a explicação do real, mas a
instrumentação de um tipo determinado de ação.

Para uma determinada ação, temos uma intenção e, no Serviço Social, não
é diferente. As palavras de Baptista nos remetem também à necessidade da
instrumentação de um determinado tipo de ação. É importante refletir sobre
essa questão, até mesmo para que não se pense em uma concepção de instru-
mentação pautada no objetivismo e no tecnicismo, o que pode levar a ações e
conclusões equivocadas sobre o trabalho do assistente social.
Baptista (1993, p. 2) ainda acrescenta que,
No exercício de sua prática, o profissional pode ter diferentes
motivos para investigar, os quais muitas vezes estão imbricados
em uma mesma pesquisa. É o motivo “dominante”, o motivo
“central” que, de certa forma, vai definir a natureza da investi-
gação encetada.

Considerando essa afirmação, a autora destaca três aspectos fundamentais


na investigação como prática do assistente social. Veja quais são a seguir.
• Subsidiar e instrumentalizar a prática.
• Ampliar a capacidade de “comunicação racional”.
• Construir conhecimento científico.
A respeito do primeiro, a autora chama atenção para a necessidade de
adquirir conhecimentos condizentes para uma atuação na realidade, o que
exige o pensamento (lógica), o discurso do conhecimento (aspectos epistemoló-
gicos) e também as técnicas.
O assistente social pode atuar no sentido de dar subsídios e instrumentali-
zação de sua prática, mas sem necessariamente ser um mero técnico indiferente
aos problemas e às realidades que vivencia junto às populações. Assim passa a
ser um mero reprodutor do sistema, conformado com determinadas realidades
que se repetem a cada dia e são alimentadas por meio de práticas que não
passam de assistencialistas.
Ao contrário dessa postura conservadora, é necessário que o assistente
social possa “encaminhar suas reflexões e seus resultados em um sentido histó-
rico, social, político e técnico de produção de conhecimentos que tem em vista
uma prática mais consequente” (BAPTISTA, 1993, p. 2).
CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i

Observe que a prática desse profissional não significa focalizar apenas o


cumprimento de determinadas tarefas, como, por exemplo, a aplicação de um
questionário em um determinado bairro ou setor da cidade. O que move a ação
do assistente social, pelo menos o que deve movimentar, é a intenção que se
concretiza em uma determinada ação. Assim, se esse profissional é limitado no
que tange aos conceitos e às teorias e a uma visão crítica da sociedade, não
fará praticamente nada que permita uma mudança significativa da realidade na
qual está inserido e atuando.
A teoria permite a orientação para a incursão no mundo social e apoiado na
teoria é que se faz a escolha certa dos métodos e das técnicas a serem utilizados
na prática do assistente social. Somente assim, esse profissional terá condições
para atuar junto às populações e no trato com as questões sociais.
Sobre a capacidade de ampliação de comunicação racional, conforme as
ideias de Baptista (1993), deve-se levar em conta que a prática do assistente social
requer uma reflexão contínua sobre a sua ação e a forma com que vai atuar na
sociedade. Mas é importante saber que o termo comunicação racional já conduz
a uma prática consciente, intencional em torno do objeto da ação profissional.
Quanto à construção do conhecimento científico e o Serviço Social, o que
está em questão é a prática do assistente social, que não deve ser utilitarista
e muito menos descompromissada com a necessidade de transformação da
sociedade. Essa perspectiva de transformação necessária, com vistas à solução
de problemas sociais, requer uma atitude científica. Isso não significa neces-
sariamente uma prática objetivista, mas a elaboração de “conhecimentos que
permitam aos assistentes sociais responder às exigências pragmáticas de sua
ação profissional”, como afirma Baptista (1993, p. 8).
A investigação consiste em uma tarefa importante na prática do Serviço
Social. Sem a consciência de que são necessários conhecimentos teóricos e
metodológicos para a ação diante das questões sociais, o assistente social não
logrará êxito no que tange à mudança social e, consequentemente, a solução de
determinados problemas sociais.
A partir do exposto, podemos inferir que há uma forte relação entre
conhecimento e realidade; daí que, ao longo do tempo, os seres humanos
foram buscando compreender o mundo e seus desafios para viver. Nesse
sentido, surgiram os tipos de conhecimentos: empírico, religioso, filosófico e
científico. Tais conhecimentos são fundamentais para o mundo ainda hoje e,
em função da racionalidade industrial, o conhecimento científico passou a ser
cada vez mais utilizado. No Serviço Social, temos o uso constante do conhe-
cimento científico, como também uma produção de conhecimento que se dá
no processo de trabalho do assistente social, tendo em vista as diferentes reali-
dades nas quais trabalha. Com isso, torna-se indispensável a investigação,
isto é, a pesquisa científica.

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CAPÍTULO 1 • PesqUisA sOCiAL i

No capítulo seguinte, você estudará o método em ciências humanas e a


pesquisa social. Esse é um tema indispensável para os cientistas sociais e para
todos aqueles que trabalham com pesquisa social, como é o caso do assistente
social. Com isso, você poderá aprofundar alguns pontos que foram sinalizados até
então. Por exemplo, serão destacados os principais métodos em ciências sociais,
o conceito de metodologia e as abordagens qualitativas e quantitativas.

Anotações
2
CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i

O método em ciências
humanas e a pesquisa social

Introdução
Na disciplina de Metodologia Científica, você teve oportunidade de
estudar os conceitos e os aspectos metodológicos básicos para o estudo cientí-
fico. No capítulo anterior, aprendeu sobre realidade e investigação no Serviço
Social. Esses assuntos servirão para você fundamentar a questão dos métodos
nas ciências sociais e, agora, conceituar metodologia de pesquisa e conhecer
os métodos e os aspectos centrais da pesquisa social em ciências humanas e
suas particularidades.
Você viu, no capítulo anterior, que, para se conhecer o que chamamos de
realidade, a partir da capacidade de pensar e de sentir, é preciso pesquisar.
Para tanto, é necessário sabermos o que queremos com a pesquisa e de que
forma será realizada. Para isso, precisamos de metodologias. Nas ciências
sociais, é indispensável que o pesquisador esteja munido de uma metodologia
que favoreça o caminho mais seguro para atingir os seus objetivos. A fim de
assentarmos no tema proposto, um ótimo passo é, primeiramente, saber o que
significa pesquisar. Como devemos pesquisar? Para que se pesquisa? Questões
como essas são fundamentais para ajudar a compreender o conceito de meto-
dologia da pesquisa, objeto de estudo deste capítulo. Aqui você terá a oportu-
nidade de saber o que é metodologia da pesquisa e conhecer a metodologia
qualitativa e a quantitativa, utilizadas no Serviço Social.

2.1 O que é metodologia de pesquisa


Quando nos referimos à metodologia da pesquisa, estamos tratando da
metodologia científica. Pensar em pesquisa nos remete a pensar no que é e
como se deve pesquisar. Nesse caso, temos necessidade de uma prática cons-
ciente, científica, para que sejam alcançados os resultados concretos no que diz
respeito às questões sociais, objeto de ação do assistente social.
O conceito de pesquisa diz respeito a algo que se busca para atender a
determinados objetivos, como, por exemplo, saber qual o perfil socioeconômico
de um determinado município. Pesquisar é se debruçar sobre uma variedade de
coisas, situações e problemas que possibilitem atender aos objetivos definidos
pelo pesquisador. Pesquisar é ainda ser criterioso na forma de buscar informa-
ções suficientes para responder a determinadas questões.

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CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i

Pesquisar é buscar sistematicamente dados para saber sobre as causas e os


efeitos de um determinado fenômeno. No caso da pesquisa social, pesquisar é buscar
saber quais os fatores que podem explicar determinados fenômenos sociais, como
o desemprego, a pobreza, a violência etc. Minayo e outros (2000, p. 17) ensinam
que a pesquisa é “a atividade básica da ciência na construção da realidade”.
Minayo e outros (2000, p. 25) acrescentam que
A pesquisa é um labor artesanal, que se não prescinde da criativi-
dade, se realiza fundamentalmente por uma linguagem fundada
em conceitos, proposições, métodos e técnicas, linguagem esta
que se constrói com um ritmo particular.

Muito pertinente a afirmação dos autores quando relaciona pesquisa com o


labor artesanal, isso porque a atividade da pesquisa não é algo pronto e acabado
que deve ser visto como um único padrão. A pesquisa requer trabalho e arte, o que
se apresenta no cotidiano do pesquisador e nas inúmeras situações com as quais se
defronta no seu cotidiano, para chegar à resposta de um determinado problema.
Os autores também lembram que a pesquisa implica uso de linguagens,
conceitos, métodos e técnicas; portanto não se pesquisa sem uma compreensão
sobre um determinado assunto, ou objeto de estudo. Da mesma forma, é preciso
saber que caminho o pesquisador deve seguir para chegar a reunir os elementos
necessários à resolução de determinadas questões.
A metodologia da pesquisa diz respeito à forma como se faz a pesquisa,
é o caminho a ser percorrido pelo pesquisador para alcançar seus objetivos. É
ainda, conforme Minayo e outros (2000, p. 16) “o caminho do pensamento e a
prática exercida na abordagem da realidade”.
Os autores afirmam que
A metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, a
teoria e a metodologia caminham juntas e intrincavelmente inse-
paráveis. Enquanto conjunto de técnicas, a metodologia deve
dispor de um instrumental claro, coerente, elaborado, capaz
de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática
(MINAYO e outros, 2000, p. 16).

A metodologia implica o uso de métodos e de técnicas para se chegar a um


fim. Mas, não é somente isso, como nos alerta os autores. A metodologia implica
ainda uso de instrumentos e requer do profissional uma visão crítica a respeito
da realidade na qual vive e estuda.
No Serviço Social, a metodologia da pesquisa é indispensável, contanto
que o assistente social não conceba a pesquisa como uma mera tarefa de coletar
dados sem nenhum propósito claro.
As principais metodologias utilizadas no Serviço Social, conforme o objeto
e os objetivos, podem ser de caráter quantitativo e ou qualitativo. Assim temos

06
CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i

uma variedade de métodos e de técnicas a serem utilizados pelo pesquisador e


assistente social.
A metodologia quantitativa dá prioridade a tudo o que pode ser mensurado,
como o uso de questionários, escalas, amostragens. O profissional, ao adotar
essa metodologia, tem uma percepção generalizada, quando confia piamente
nos dados coletados e transformados em gráficos, tabelas e ou escalas.
Na prática, geralmente o assistente social é impelido a assumir essa conduta
objetivista. Um exemplo do uso dessa postura se dá na adoção demasiada de
aplicação de formulários e de questionários junto à população, sem que o profis-
sional tenha a noção de fato da realidade em que foi inserido para trabalhar,
muitas vezes, pela instituição a que está ligado.
Almeida (2001, p. 1) assevera que
A pesquisa enquanto forma de investigar a realidade social já era
utilizada pelo Serviço social desde 1917, através da metodologia
do diagnóstico social criada por Mary Richmond. A autora refere
“a investigação ou coleta dos dados reais” como primeiro passo
para a realização do diagnóstico, seguindo-se “o exame crítico e
a comparação das realidades averiguadas” para ser possível a
interpretação e esclarecimento da dificuldade social.

A base teórica que orientou por muito tempo a pesquisa no Serviço Social
era de caráter positivista, portanto mais voltado para o objetivismo, com o uso
acentuado de técnicas e instrumentos de mensuração da realidade social. A partir
da década de 80, com o Movimento de Reconceituação, a pesquisa ganha um
novo enfoque, agora com uma preocupação com o homem e sua totalidade.
O que reclamava o Movimento de Reconceituação era uma maior articu-
lação da teoria com a prática. Almeida (2001, p. 1) ensina que “a pesquisa
é resgatada como condição básica para a construção teórico-metodológica do
projeto profissional de ruptura”. Nesse sentido, buscava-se a superação do prag-
matismo tradicional na profissão, conforme acentua o autor.
A partir de então, a pesquisa no Serviço Social passou a utilizar uma
metodologia do tipo qualitativa, com o uso de técnicas e instrumentos voltados
para os aspectos subjetivos e comportamentais, antes ignorados na metodo-
logia tradicional.

A pesquisa qualitativa originalmente foi desenvolvida pelos antropólogos e,


após, pelos sociólogos. Mais tarde foi descoberta por educadores e outras
áreas do conhecimento (ALMEIDA, 2001, p. 2).

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06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 153 of 460


CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i

As principais orientações teóricas que permeiam a abordagem qualitativa


são: a fenomenologia, o interacionismo simbólico e a análise compreensiva,
cuja ênfase está no indivíduo e não na sociedade como um todo. Tais aborda-
gens serão estudadas nos capítulos 4 e 5. As principais técnicas de pesquisa
qualitativa são: estudo de caso, observação participante, história de vida, entre-
vista, entre outras.
A seguir, você estudará o método em ciências humanas e a pesquisa social.
Perceba como, ao longo do tempo, os cientistas sociais buscaram novos cami-
nhos que os fizessem aproximar de uma explicação mais concreta das reali-
dades sociais, tarefa que não é tão simples.

2.2 O método em ciências humanas e a pesquisa social


As ciências humanas apresentam características peculiares que as diferen-
ciam das chamadas naturais ou exatas. A diferença fundamental está na natu-
reza do seu objeto de estudo: o ser humano e a sociedade. Sem dúvida, trata-se
de um objeto que exige bastante atenção e paciência da parte do pesquisador.
A partir de agora, serão desenvolvidos os conteúdos sobre os métodos em
ciências humanas, com destaque para suas particularidades e seus principais
aspectos. Você vai estudar sobre os principais métodos e técnicas das ciências
humanas e saber sua importância na investigação da realidade.
Como o nome indica, as ciências humanas se ocupam em estudar o ser
humano e a sociedade. Você deve estar se perguntando: como é isso? Como
se estuda o homem e a sociedade? Pois bem, essa é a pergunta que os cien-
tistas sociais fizeram ao longo do tempo e, ainda hoje, continuam a fazer, espe-
cialmente quando precisam realizar alguma pesquisa social. É na busca de
responder a questões como essa que surgiram as metodologias a serem adotadas
nas pesquisas que tratam da sociedade. Estamos nos referindo ao método nas
ciências humanas.
A tentativa de estudar cientificamente a sociedade por parte de estudiosos
como Augusto Comte, como você já estudou em Teorias Sociológicas e também
no capítulo anterior deste caderno, baseou-se nos métodos utilizados nas ciên-
cias naturais. Comte pensava na objetividade das ciências sociais tal qual se
pode encontrar nas ciências seguintes: química, física, biologia, matemática e
astrologia. Mas por que será que o precursor do positivismo resolveu fazer isso?
Podemos dizer que, na visão desse estudioso, como as ciências exatas traba-
lham com métodos e técnicas que permitam mensurar, quantificar, experimentar
para se chegar a um resultado comprovável no que diz respeito à identificação
das causas dos fenômenos, assim ele imaginou que isso poderia ser feito para
estudar os fenômenos sociais. Em outras palavras, Comte percebia que existem
leis naturais na sociedade que a regem, portanto pode ser estudada, assim como
se faz nas ciências da natureza.
CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i

Com essa ideia, Augusto Comte funda o positivismo que, mais tarde, influen-
ciaria significativamente os estudos da sociedade. As ciências sociais fundam-se
sob égide positivista. A sociologia, a antropologia, a economia, o direito, a
psicologia social, a história passam a adotar, a partir de seus pesquisadores,
toda uma metodologia que auxiliasse nas pesquisas e nos estudos da sociedade
de modo claro, objetivo, mensurável e sem rodeios.
A partir de então, os pesquisadores buscam compreender as diferentes
culturas, a política e as diversas realidades sociais por meio do paradigma positi-
vista, cuja metodologia se coloca a serviço da sociedade industrial e capitalista.
O modelo positivista é adotado como o único considerado científico pelo
fato de trabalhar com a mesma lógica e metodologia das ciências naturais. Para
se saber as causas de determinados fenômenos sociais, acreditava-se que, de
posse de instrumentos e de técnicas de mensuração, tudo seria esclarecido.
A ideia central do modelo positivista de pesquisa e análise da sociedade
defende a neutralidade científica, de modo que buscou nas ciências naturais a
metodologia da mensuração e da experimentação.

Observe que essa forma de abordagem você viu também em Teorias Socio-
lógicas, especialmente sobre o positivismo e o funcionalismo em Comte e
Durkheim, respectivamente.

Em uma sociedade que se industrializava de forma acelerada, esse modelo


seria suficiente e único para encontrar respostas concretas aos fenômenos sociais;
pelo menos é o que se esperava. Mais tarde, à medida que as pesquisas e os
estudos eram difundidos, começou a se formar um ambiente de discussões. De
um lado, pesquisadores e cientistas sociais pareciam maravilhados com os resul-
tados alcançados. De outro lado, surgiam várias críticas ao modelo quantitati-
vista que também foi acusado de cientificista, devido à “frieza” com que tratava
as questões sociais.
No positivismo, “a realidade é exterior ao indivíduo e a apreensão dos
fenômenos é feita de forma fragmentada” (BAPTISTA, 1994, p. 19). Esse é um
dos problemas centrais da abordagem objetivista. A partir dessa perspectiva, o
indivíduo é tratado como mero objeto de pesquisa, sem que possa intervir na
realidade e alterá-la.
Baptista (1994, p. 20) afirma que
As pesquisas orientadas sob esse paradigma utilizam a experi-
mentação, que é uma criação artificial cuja operacionalização

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CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i

faz uso de uma lógica hipotético-dedutiva. A metodologia da


experimentação busca a veracidade ou falsidade de hipóteses,
validadas por processos dedutivos matemáticos, tipo causa e
efeito. Os resultados são expressos em número, intensidade e
ordenação; a realidade é exterior ao sujeito, com interdepen-
dência entre sujeito e objeto; as relações são lineares, ou seja, o
processo é unilateral entre pesquisa e pesquisador: buscam-se o
consenso, conhecimentos operacionais, índices quantitativos.

O modelo positivista nas ciências sociais aos poucos dá lugar à abordagem


qualitativa. Baptista (1994, p. 21) acrescenta que
A abordagem quantitativa, quando não exclusiva, serve de
fundamento ao conhecimento produzido pela pesquisa qualita-
tiva. Para muitos autores a pesquisa quantitativa não deve ser
oposta à pesquisa qualitativa, mas ambas devem sinergica-
mente convergir na complementaridade mútua, sem confinar os
processos e questões metodológicas a limites que atribuam, sem
confinar os processos e questões metodológicas a limites que atri-
buam os métodos quantitativos exclusivamente ao positivismo ou
aos métodos qualitativos ao pensamento interpretativo, ou seja, a
fenomenologia, a dialética, a hermenêutica.

Observe que a autora não ignora o uso da metodologia quantitativa quando


se refere à qualitativa, mas lembra que uma pode muito bem ser usada com a
outra. Não se esqueça de que estamos tratando de ciência e, portanto, trabalhar
com a abordagem qualitativa é mais uma opção do pesquisador, no sentido de
vislumbrar os aspectos internos, isto é, interpretar, buscar uma explicação do
fenômeno social a partir de dentro. Isso significa considerar os valores, inten-
ções, ideologias, crenças, comportamentos, por exemplo.
Na metodologia qualitativa, em vez da objetividade, damos lugar à subje-
tividade, à interpretação. Essa perspectiva ajuda a uma maior compreensão do
fenômeno, uma vez que o pesquisador passa a dar maior atenção ao informante
e à sua realidade.

Reflita

De que forma devemos utilizar as abordagens quantitativas e qualitativas?


Quando e como podemos trabalhar com essas perspectivas metodológi-
cas? Será que devemos nos ater apenas a uma metodologia para pesquisar
e atuar no Serviço Social?

É importante saber que o fato de ter surgido outra proposta metodológica,


em contraposição ao objetivismo, como é o caso da análise interpretativa, não
CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i

significa que agora o pesquisador deve se apoiar apenas nessa nova metodo-
logia para atender a todas as necessidades de análise social. É para isso que
Baptista (1994) chama a atenção.
Para atuar com base no objetivismo, o assistente social se utiliza de instru-
mentos e técnicas de mensuração dos dados. Assim faz uso de questionários, esta-
tísticas, escalas de experimentação. Em vários casos, é evidente que é necessário
esse tipo de abordagem da realidade. Mas, por outro lado, não se deve ter o
objetivismo como único e perfeito para a análise e a compreensão dos fenômenos
sociais: pobreza, violência, prostituição, corrupção, desemprego, entre outros.
No caso da adesão à análise interpretativa, o assistente social prioriza as
formas de inserção da realidade que permitam compreender os fatores subje-
tivos, os motivos das ações sociais, os comportamentos, entre outros.
As pesquisas qualitativas fazem uso de instrumentos e técnicas como a
observação participante, a história de vida, o estudo de caso, a história oral,
a análise de conteúdo, as entrevistas, a pesquisa-ação e os estudos etnográ-
ficos, como aponta Baptista (1994). Esses métodos e técnicas de pesquisas serão
trabalhados no capítulo subsequente.

Saiba mais

Existe uma gama de obras sobre as metodologias qualitativas, entre elas,


você pode encontrar o livro Metodologias qualitativas na sociologia (Pe-
trópolis: Vozes, 1987) da autora Tereza Maria Frota Haguette. Trata-se de
uma importante obra referente ao assunto e nele você pode encontrar as
principais abordagens qualitativas, tais como: a fenomenologia, o intera-
cionismo simbólico, além dos métodos e das técnicas, como: entrevista,
observação, história de vida, história oral, as quais são, também, utiliza-
das no Serviço Social. Veja também A arte de pesquisar, de Mirian Gol-
denberg (Rio de Janeiro: Record, 1999), que trata de como fazer pesqui-
sa qualitativa em ciências sociais. A autora trabalha com questões como
métodos e técnicas qualitativas e destaca as implicações e a importância
dessa forma de pesquisar.

Os métodos nas ciências humanas requerem uma postura da parte do


pesquisador ou do cientista social de muita atenção, paciência e, acima de
tudo, atitude crítica. O objeto de estudo das ciências humanas é de natureza
diferente das ciências naturais ou exatas. Por isso necessita de flexibilidade para
a pesquisa e a análise da realidade. Na busca da objetividade, predominou por
muito tempo o paradigma positivista, o que levou a uma conduta indiferente da
parte do pesquisador com os sujeitos/indivíduos, verdadeiros responsáveis pela

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06
CAPÍTULO 2 • PesqUisA sOCiAL i

realidade social. As lacunas deixadas pela prática objetivista levou à formu-


lação de novos métodos e técnicas de análise social: a metodologia qualitativa,
com prioridade para a interpretação da realidade.
A partir do que foi visto neste capítulo, é importante que você tenha perce-
bido que a pesquisa é indispensável para se chegar à compreensão de um
determinado fenômeno. Para tanto, é necessário o uso de uma metodologia
adequada, de modo a proporcionar ao pesquisador e ao profissional das ciên-
cias sociais elementos suficientes para a compreensão das realidades.
Ao relacionar com o Serviço Social, você deve ter percebido nas metodolo-
gias qualitativas e quantitativas formas de busca de compreensão e de explicação
da sociedade. Em outros termos, significa a utilização de uma conduta científica,
seja a partir de um olhar da objetividade ou da subjetividade. O uso do modelo
subjetivo não significa adotar uma prática alheia à ciência, nem descartar total-
mente a objetividade, mas sim optar por uma conduta flexível e introspectiva.
No próximo capítulo, você estudará sobre métodos e técnicas de ação e
de pesquisa no Serviço Social. Serão destacados os principais métodos e as
técnicas de pesquisa e de ação no Serviço Social e sua importância para a
análise das realidades e das questões sociais.

Anotações

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3
CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

Métodos e técnicas de
pesquisa no Serviço Social

Introdução
No primeiro capítulo, tratamos do conhecimento e da realidade e, no
segundo, dos métodos em ciências humanas e da pesquisa social. A releitura
dos temas abordados até então servirão de suporte para você articular a questão
da prática do Serviço Social com seus métodos e suas técnicas, como também,
as implicações das metodologias utilizadas nessa área.
O Serviço Social, assim como qualquer outra área, necessita de métodos e
técnicas para a pesquisa e a ação. O assistente social tem diante de si o desafio de
trabalhar com o que é por demais complexo, ou seja, o ser humano e a sociedade.
Isso envolve valores, interesses, poder, ideologia, entre outras necessidades na
relação do indivíduo com a sociedade. Nesse sentido, para a prática do Serviço
Social, o assistente social necessita saber quais as principais formas de ação
profissional junto às diferentes realidades que se apresentam no seu cotidiano. Isso
significa pensar em questões como as seguintes: o que fazer, como, por quê, para
quê, com quem e quais os possíveis resultados que serão alcançados. Essas são
algumas perguntas que se fazem presentes toda vez que se precisa trabalhar com
as questões sociais. Com isso, o assistente social precisa de uma metodologia que
lhe dê suporte para atingir os objetivos do seu trabalho.
Neste capítulo, você vai estudar sobre os métodos e as técnicas de pesquisa e
de ação utilizadas no Serviço Social. Serão trabalhados os principais aspectos da
pesquisa quantitativa e qualitativa e suas implicações quanto ao Serviço Social.

3.1 Os métodos e as técnicas no Serviço Social


O trabalho do assistente social demanda uma gama de recursos teóricos e
metodológicos necessários para atender à sociedade e ao próprio profissional
da área. O Serviço Social se detinha em um tipo de trabalho voltado para o
atendimento social, mais especificamente de uma maneira sutil, sem uma preo-
cupação maior com a mudança social.
Na verdade, como você já estudou em disciplinas anteriores (como em
Introdução ao Serviço Social e Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos
do Serviço Social), o trabalho do assistente social se resumia a ações isoladas,
no auxílio aos menos favorecidos, mas como se fosse uma ação de caridade,
de modo que via no assistido um problema isolado, alheio aos mecanismos que

S.S._5oP.indb 159

06
CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

mantêm a estrutura injusta da sociedade e ao modelo econômico e social respon-


sável pela desigualdade social.
A forma de pesquisa e de prática do Serviço Social nasceu com base em uma
perspectiva teórica e metodológica positivista; o que significa ter uma postura
dos problemas sociais conforme a lógica e os interesses da sociedade industrial
capitalista. Na prática, o assistente social atuava de forma pontual, munido de
instrumentos e técnicas objetivistas: formulários, questionários, experimentos.
Como aponta Quadrado (s/d, p. 1), a pesquisa enquanto forma de investigar
a realidade social já era utilizada pelo Serviço Social desde 1917, por meio
da metodologia do diagnóstico social criado por Mary Richmond. Essa autora
refere “a investigação ou coleta dos dados como reais”, como primeiro passo
para a realização do diagnóstico, seguindo-se “o exame crítico e a comparação
das realidades averiguadas” (RICHMOND citado por QUADRADO, s/d, p. 1)
para ser possível a interpretação e o esclarecimento da realidade social.
No Brasil, a metodologia quantitativa foi também por muito tempo a prin-
cipal forma de prática do Serviço Social, seja no que diz respeito à ação ou à
pesquisa social. Somente com o Movimento de Reconceituação, nos anos 80, é
que a pesquisa é resgatada como condição básica para a construção teórico-me-
todológica do projeto profissional de ruptura.
Você já viu sobre a metodologia quantitativa, suas características gerais e
principais aspectos. Agora, vejamos sobre essa metodologia no Serviço social.

3.2 Métodos quantitativos no Serviço Social


Já sabemos que a metodologia quantitativa prioriza os aspectos que possi-
bilitam a mensuração dos dados: questionários, estatísticas, experimentação,
amostras. No Serviço Social, essa metodologia, embora tenha sua importância,
tem contribuído muito mais para uma prática conservadora. Não se pode negar
a relevância dos métodos quantitativos para verificar algo da realidade social;
o que não deve haver é uma supervalorização do uso de métodos e técnicas
quantitativas, o que leva a falhas na percepção da realidade, uma vez que há
uma forte tendência a considerar realidade apenas o que pode ser medido por
meio de estatísticas, gráficos, tabelas ou demonstrado com experimentações.

Reflita

Considerando o uso da metodologia quantitativa, por meio de questioná-


rios, estatísticas, amostras, escalas, por exemplo, em que medida essa for-
ma de abordagem pode ser utilizada, de modo que não favoreça uma con-
duta extremamente técnica por parte do profissional assistente social?

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CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

O Serviço Social, quando se preocupava apenas com o diagnóstico quan-


titativo de uma dada realidade social, deixava de lado determinados aspectos
da realidade que não apareciam nos dados quantitativos. Isso levava a inter-
pretações muitas vezes precipitadas e atitudes de indiferença no que se refere à
relação pesquisador e pesquisado – no caso, assistente social e assistidos.

A metodologia quantitativa surgiu a partir da necessidade de se ter algo


concreto que possibilitasse uma compreensão acerca de determinados fe-
nômenos sociais. O termo quantitativo diz respeito à quantidade, isto é,
aquilo que pode ser mensurado.

Minayo e outros (2000, p. 30) nos ensinam que


A questão do quantitativo traz a reboque o tema da objetivi-
dade. Isto é, os dados relativos à realidade social seriam obje-
tivos se produzidos por instrumentos padronizados, visando a
eliminar fontes de propensões de todos os tipos e apresentar uma
linguagem observacional neutra.

Como destacam os autores, a questão da objetividade constitui uma preocu-


pação central à necessidade de objetividade, isto é, daquilo que pode ser demons-
trado com propriedade e segurança, a ponto de não deixar nenhuma dúvida. Com
isso, surge o quantitativismo na pesquisa social, o que significa o uso indiscrimi-
nado de instrumentos e técnicas como questionários, formulários, tabelas, amostras,
escalas, experimentos, entre outros recursos que possibilitem a mensuração.

Para os adeptos da metodologia quantitativa, a realidade social poderia ser


mensurada de tal forma que seria possível o controle total de determinados
fenômenos sociais. Mas o uso de métodos e técnicas quantitativas, embora
tenha sua importância, pode iludir o pesquisador na busca da objetividade.
Por exemplo, não é pelo fato de se ter aplicado um questionário, utilizando
estatísticas, que se deve ter como verdade absoluta uma determinada pes-
quisa. Foi por isso que surgiram os métodos e as técnicas qualitativos, os
quais percorrem um caminho diferente da perspectiva quantitativa.

Optar pela metodologia qualitativa é adotar um caminho oposto ao da quan-


titativa. Esse tipo de pesquisa se preocupa “nas ciências sociais, com um nível

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06
CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

de realidade que não pode ser quantificado [...] trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes”, afirmam Minayo
e outros (2000, p. 22).
Esse tipo de metodologia se opõe à objetividade e à rigidez adotada na
quantitativa. Qualitativo significa se preocupar com a qualidade e não com a
quantidade. Aspectos comportamentais, significados, valores, costumes, entre
outros aspectos, são estudados a partir da abordagem qualitativa. Você vai
estudar mais detalhadamente esse assunto nos capítulos 5, 6 e 7.
Para alguns autores, como é o caso de Minayo e outros (2000, p. 15), o
“objeto das ciências sociais é essencialmente qualitativo. A realidade social é
o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda riqueza de signifi-
cados dela transbordante”. Veja, portanto, como as ciências sociais apresentam
fortes discussões, como esta que você pode perceber: será que devemos utilizar
somente uma dessas metodologias e ignorar a outra? Evidentemente que não,
pois ambas têm sua importância no estudo dos fenômenos sociais.
Para atender à necessidade de compreensão dos fenômenos sociais, as
ciências sociais, entre elas a Sociologia, nasceram com base positivista, de
modo a priorizar uma metodologia quantitativa para o estudo da sociedade.
Foi com o processo de industrialização que a pesquisa social se desenvolveu.
A dinâmica social protagonizada pelo surgimento das indústrias, pela urbani-
zação e pelo mercado demandou estudos diversos com vistas à formação de
uma sociedade organizada.

Reflita

Você já pensou sobre as diversas necessidades que uma cidade tem para
atender à sua população? Se você parar para pensar sobre a estrutura de
uma cidade, como residências, comércio, indústrias, áreas de lazer, entre
outros espaços, perceberá que tudo demanda um mínimo de organização
e, consequentemente, conhecimento.

Os estudos realizados acerca das populações e de suas demandas têm


contribuído significativamente para que os gestores das cidades saibam que
ações devem ser realizadas a curto, médio e longo prazo.
É de posse dos indicadores sociais que é possível adotar medidas necessá-
rias para as áreas como: saúde, educação, moradia, segurança, entre outras
necessidades sociais. Você já estudou na disciplina de Indicadores Sociais como
os dados quantitativos são fundamentais para a compreensão de determinados
aspectos da realidade social.

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CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

Baptista (1994, p. 25) nos ensina que,


Ao invés de serem excludentes ou opostas, as técnicas qualita-
tivas e quantitativas, se devidamente utilizadas em uma pesquisa,
poderão ser igualmente eficazes no aproveitamento e conheci-
mento do tema em estudo. O importante é ressaltar que o pesqui-
sador deve não só estar seguro das referências teórico-metodo-
lógicas em que se está apoiando para que possa transitar e se
movimentar sem se sentir em uma camisa de força de uma ou
outra linha metodológica.

A pesquisa social pode ser feita com base em métodos quantitativos ou


qualitativos. Estes últimos têm sido bastante priorizados para o estudo de ques-
tões sociais. Não se pode radicalizar quanto à importância desta ou daquela
metodologia, mas é importante saber até que ponto uma complementa a outra.
O surgimento de estudos com bases qualitativas trouxe importantes descobertas
e contribuiu para se ter uma visão mais ampla sobre determinadas realidades.
No Serviço Social, o uso das duas metodologias (quantitativa e qualitativa)
pode ser encontrado em diversas situações. Conforme você já estudou até aqui,
nota-se a predominância de técnicas quantitativas, especialmente quando se
usam questionários, formulários, dados estatísticos, amostras, escalas e outras
formas de mensuração de dados da realidade social.
As duas metodologias têm sido fundamentais para estudar aspectos da reali-
dade social. Quando se precisa saber sobre índices da saúde, da segurança,
sobre moradia, epidemias, entre outros, os dados quantitativos são indispensá-
veis. As diversas organizações da sociedade, como empresas, escolas, hospitais,
prefeituras e demais órgãos (públicos ou privados), em geral, para fazer algum
tipo de acompanhamento de qualquer segmento da sociedade, necessitam levar
em conta os dados quantitativos.
É importante também saber que dados quantitativos podem ser utilizados
para fazer uma leitura qualitativa de determinada realidade social. Portanto
não se deve pensar em utilizar apenas uma metodologia em qualquer pesquisa
social. De acordo com objetivos e objeto a ser estudado, é possível escolher
instrumentos e técnicas qualitativas e ou quantitativas.

Saiba mais

Entre os vários livros de métodos e técnicas temos, também, na área de


Serviço Social uma excelente produção. Indicamos, para você aprofundar
o assunto desenvolvido neste capítulo, a obra A pesquisa em Serviço Social
e nas áreas humano-sociais, organizada por Heloísa de Carvalho Barrili e
outros autores, publicada pela editora Edipucrs, em 1998. Aproveite!

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CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

3.3 Instrumentos de coleta de dados em pesquisa quantitativa


Toda pesquisa necessita ser feita com instrumentos e técnicas que favoreçam
ao pesquisador uma percepção mais ampla possível sobre o problema estudado.
Assim, ao longo do tempo, os cientistas sociais foram criando pouco a pouco um
leque de instrumentos e de técnicas, conforme as necessidades e os contextos
nos quais se encontravam. Veja alguns aspectos desse tipo de abordagem.

3 .3 .1 Amostragem
Lakatos e Marconi (1991, p. 30) ensinam que “a amostra é uma parcela conve-
nientemente selecionada do universo (população); é um subconjunto do universo”.
As amostras podem ser: a) simples, b) sistemáticas, c) aleatórias de múltiplo
estágio, d) estratificada proporcional e estratificada não proporcional, e) por
conglomerado, f) por tipicidade, g) por quotas.
As autoras descrevem cada tipo de amostra e apresentam as suas vantagens
e desvantagens. Observe o quadro a seguir.

Quadro 1 Tipos de amostras – um comparativo.

TIPO DESCRIÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS


• Atribuir a cada• Requer o mínimo • O conhecimento
elemento da de conhecimento da população,
população um antecipado da que o pesqui-
número único. população. sador possa ter,
é desprezado.
1. Aleatória • Selecionar a • Livra de possí-
simples amostra utili- veis erros de • Para a mesma
zando números classificação. extensão da
aleatórios. amostra, os
• Facilita a análise
erros são mais
de dados e o
amplos do que
cálculo de erros.
na amostragem.
• Usar ordem • Dá como efeito a • Se o intervalo
natural ou estratificação e, de amostragem
ordenar a portanto, reduz se relaciona a
população. a variabilidade uma ordenação
Selecionar ponto em compa- periódica da
de partida ração com A, população,
aleatório entre 1 se a população pode ser intro-
2 . Sistemática e 10. é ordenada duzida variabili-
com respeito dade crescente.
• Selecionar
à propriedade
a amostra • Se há efeito de
relevante.
segundo estratificação,
intervalos • Simplifica a as estimativas
correspondentes colheita de de erro tendem
ao número amostra; permite a ser altas.
escolhido. verificação fácil.

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CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

TIPO DESCRIÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS


• Usar uma forma • Oferece listas • Os erros
de amostragem de amostragem, tendem a ser
aleatória identificação maiores do
em cada um e numeração que em A ou B,
dos estágios, apenas para para a mesma
quando há pelo elementos das extensão da
menos dois unidades de amostra.
3. Aleatória de estágios. amostragem
• Os erros
múltiplo estágio selecionadas.
crescem com
• Diminui os custos o decréscimo
de viagem se do número de
as unidades de unidades de
amostragem amostragem
são definidas escolhidas.
geograficamente.

• Escolher, de • Assegura repre- • Sob pena de


cada unidade sentatividade aumentar o
de amos- com respeito erro, requer
tragem, amostra à propriedade informação
aleatória que dá base acurada acerca
proporcional para classificar da proporção
à extensão da as unidades; de população
unidade de garante, pois, em cada
amostragem. menor variabili- estrato.
dade que A
• É a mesma • Se não há listas
ou C.
que a anterior, estratificadas
exceto que a • Decresce a disponíveis,
extensão da possibilidade prepará-las
amostra não é de deixar de pode ser
4. Estratificada proporcional incluir elementos dispendioso;
a) Proporcional à extensão da da população possibilidade
b) Não Proporcional unidade de por causa de classificação
amostragem, do processo errônea e de
mas ditada por classificatório. aumento da
considerações variabilidade.
• Podem ser
analíticas ou de
avaliadas as • Menos eficaz
conveniência.
características do que a 1
de cada estrato, para determinar
pois são feitas características
comparações. da população,
isto é, maior
• É mais eficiente
variabilidade
que a anterior
para a mesma
para compara-
extensão da
ções de estratos.
amostra.

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06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 165 of 460


CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

TIPO DESCRIÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS


• Selecionar • Possibilita • Erros maiores
unidades por baixos custos para extensões
alguma forma de campo se os semelhantes,
de amostragem conglomerados do que os que
aleatória; são definidos ocorrem em
as unidades geograficamente. outras amostras
últimas são • Requer relaciona- probabilistas.
grupos; selecio- mento de indiví- • Capacidade
ná-los alea- duos apenas nos para colocar
toriamente e conglomerados elemento da
fazer contagem escolhidos. população
completa de em um só
• Podem ser
cada uma. conglomerado
avaliadas as
características é exigida; a
5. Por conglomerado incapacidade
dos conglome-
rados, bem como de assim agir
da população. pode resultar
em duplicação
• É suscetível de ou omissão de
utilização em indivíduos.
amostras subse-
quentes, já que
os selecionados
são os conglo-
merados e não
os indivíduos e
a substituição de
indivíduos pode
ser permitida.
• Selecionar um
• Reduz custo • Variabilidade
subgrupo de
de preparação e desvios das
população que,
da amostra e estimativas
à luz das infor-
do trabalho de não podem ser
mações dispo-
campo, pois controlados ou
níveis, possa
unidades últimas medidos.
ser considerado
podem ser • Generalizações
6 . Por tipicidade como represen-
escolhidas de arriscadas ou
tativo de toda
modo que fiquem considerável
a população;
próximas umas conhecimento
Fazer contagem
das outras. da população
completa ou e do subgrupo
subamostragem selecionado é
desse grupo. requerido.
• Igual a 6 • Desvios devido à
• Introduzir classificação que
algum efeito de o observador
estratificação. faz dos sujeitos
7 . Por quotas
e à seleção não
aleatória em
cada classe são
introduzidos.
Fonte: Lakatos e Marconi (1991, p. 57-58).

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CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

As considerações das autoras são importantes para perceber como uma


pesquisa social pode ser feita de várias formas. Contudo é necessário saber que
técnica pode ser mais útil para o estudo de determinada questão social. Você
pode perceber também como cada uma das formas apresentadas apresenta suas
vantagens e desvantagens no que diz respeito à confiabilidade que oferece.

Conforme Lakatos e Marconi (1991), a escolha do instrumental metodológi-


co está diretamente relacionada com o problema a ser estudado; a escolha
dependerá dos vários fatores relacionados com a pesquisa, ou seja, a natu-
reza dos fenômenos, o objeto da pesquisa, os recursos financeiros, a equipe
humana e outros elementos que possam surgir no campo da investigação.

Lembre-se de que uma amostra tem sua relevância quando de fato ela repre-
senta algo, isto é, se oferece condições para que se tenha um perfil ou noção do
universo (população) estudado.
Laville e Dione (1999, p. 169) afirmam que
O caráter representativo de uma amostra depende evidentemente
da maneira pela qual ela é estabelecida. Diversas técnicas foram
elaboradas para assegurar tanto quanto possível tal representati-
vidade; mas apesar de seu requinte, que permite diminuir muitas
vezes os erros de amostragem, isto é, as diferenças entre as
características da amostra e as da população de que foi tirada,
tais erros continuam sempre possíveis, incitando os pesquisadores
a exercer vigilância e seu senso crítico.

A representatividade significa que a pesquisa feita aponta aquilo que a


maioria ou a totalidade pensa ou sabe sobre algo, muito embora seja por
amostra, uma vez que é praticamente impossível saber tudo sobre algo ouvindo
toda a população.

3.3.2 Questionários e formulários


Consiste em uma das formas mais comuns de pesquisa quantitativa e apre-
senta-se de três formas: a) aberto, b) fechado e c) misto.
No aberto, temos uma pergunta que permite ao respondente apresentar
livremente sua opinião sobre o assunto. Veja a seguir um exemplo.

O que significa o curso de Serviço Social para você?

S.S._5oP.indb 167

06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 167 of 460


CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

No questionário fechado, temos uma pergunta e, em seguida, um conjunto


de opções para que o pesquisado responda. Observe o exemplo.

Como você analisa o curso de Serviço Social?


a) ruim
b) regular
c) bom
d) ótimo

Observe que esse tipo de questão obriga o respondente a escolher uma das
opções apontadas, isto é, trata-se de um tipo de questionário que não apresenta
liberdade para o indivíduo pesquisado. Assim é possível uma maior manipu-
lação. Em outros termos, significa que as respostas poderão não revelar de fato
aquilo que se apresenta.
Quanto ao misto, inclui os dois tipos de questões, abertas e fechadas. Veja
o exemplo seguir.

Como você analisa o curso de Serviço Social?


a) ruim
b) regular
c) bom
d) ótimo
Por quê?

Conforme Costa (1987), os questionários são necessários sempre que um


cientista não dispõe de dados previamente coletados por instituições públicas
sobre determinados dados.

3.3.3 Formulário
O formulário é um tipo de questionário que, em geral, apresenta um nível de
questões que exige a presença do pesquisador para preencher.
Em geral, o assistente social que trabalha em algum órgão público ou privado
lança mão desses instrumentos de pesquisa. No caso dos órgãos públicos, tem
sido muito comum a sua utilização.

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CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

Veja no quadro a seguir as vantagens e desvantagens dos questionários e


formulários, conforme aponta Lakatos e Marconi (1991).

Quadro 2 Questionário e formulários – um comparativo.

INSTRUMENTO VANTAGENS DESVANTAGENS


• Economiza tempo, viagens • Percentagem pequena
e obtém grande número de dos questionários que
dados. voltam.

• Atinge maior número de • Grande número de


pessoas simultaneamente. perguntas sem respostas.

• Abrange área geográfica • Não pode ser aplicado a


mais ampla. analfabetos.

• Economiza pessoal, tanto • Impossibilidade de


em adestramento quanto em ajudar o informante
trabalho de campo. em questões mal
compreendidas.
• Obtém respostas mais rápidas
e precisas. • A dificuldade de
compreensão, por parte
• Há maior liberdade nas
dos informantes, leva
respostas, em razão do
a uma uniformidade
anonimato.
aparente.
• Há mais segurança, pelo fato
• Na leitura de todas as
Questionário de as respostas não serem
perguntas, antes de
identificadas.
respondê-las, pode uma
• Há menos risco de distorção, questão influenciar a
pela não influência do outra.
pesquisador.
• A devolução tardia preju-
• Há mais tempo para dica o calendário ou sua
responder e em hora mais utilização.
favorável.
• O desconhecimento das
• Há mais uniformidade na circunstâncias em que
avaliação, em virtude da foram preenchidos torna
natureza impessoal do difícil o controle e a
instrumento. verificação.

• Obtém respostas que • Nem sempre é o esco-


materialmente seriam lhido quem responde ao
inacessíveis. questionário.

• Exige um universo mais


homogêneo.

S.S._5oP.indb 169

06
CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

INSTRUMENTO VANTAGENS DESVANTAGENS


• Utilizado em quase todo • Menos liberdade nas
segmento da população: respostas, em virtude
analfabetos, alfabetizados, da presença do
populações heterogêneas entrevistador.
etc., porque seu preen-
• Risco de distorções,
chimento é feito pelo
pela influência do
entrevistador.
aplicador.
• Oportunidade de estabelecer
• Menos prazo para
rapport, devido ao contato
responder às perguntas;
pessoal.
não havendo tempo para
• Presença do pesquisador, pensar, elas podem ser
que pode explicar os obje- invalidadas.
tivos da pesquisa, orientar o
• Mais demorado, por ser
preenchimento do formulário
aplicado a uma pessoa
e elucidar significados de
de cada vez.
Formulário perguntas que não estejam
muito claras. • Insegurança das
respostas, por falta do
• Flexibilidade, para adap-
anonimato.
tar-se às necessidades de
cada situação, podendo • Pessoas possuidoras
o entrevistador reformular de informações neces-
itens ou ajustar o formulário sárias podem estar em
à compreensão de cada lugares muito distantes,
informante. tornando a resposta
difícil, demorada e
• Obtenção de dados mais
dispendiosa.
complexos e úteis.

• Facilidade na aquisição de
um número representativo de
informantes, em determinado
grupo.

Fonte: Lakatos e Marconi (1991, p. 98-112).

Tanto o questionário quanto o formulário requerem bastante cuidado e respon-


sabilidade na sua formulação. As perguntas devem ser pensadas conforme o
objetivo que se pretende alcançar com a pesquisa. É importante ainda ter muita
atenção quando se está aplicando esses instrumentos; em geral, os principais
problemas que se percebem no uso dos questionários é a falta de uma orien-
tação maior por parte do pesquisador em relação ao pesquisado. Talvez seja
por esse motivo que uma parte significativa dos questionários enviados para
serem respondidos não retorna ao pesquisador.
CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

Após a coleta dos questionários e formulários, o pesquisador deve fazer a


tabulação dos dados, que consiste em ordenar e classificar as respostas, para,
em seguida, saber o percentual de cada questão respondida. Feito isso, podem-se
utilizar planilhas, gráficos e tabelas, como forma de apresentação dos dados.

3.3.4 Escala
Conforme destaca Lakatos e Marconi (1991, p. 114), a escala “é um instru-
mento científico de observação e mensuração dos fenômenos sociais. Foi ideali-
zada com a finalidade de medir a intensidade das atitudes e opiniões na forma
mais objetiva possível”.
Podem ser utilizadas escalas em pesquisas de opinião referente a precon-
ceito, patriotismo, preferências, entre outras.

3 .3 .5 Os testes
Lakatos e Marconi (1991) ensinam que os testes são instrumentos utilizados
com a finalidade de obter dados que permitem medir o rendimento, a compe-
tência, a capacidade ou a conduta dos indivíduos, em forma quantitativa.
Essa técnica é bastante utilizada na Psicologia e no Serviço Social e pode
ser importante em determinadas situações. Entre os testes, temos a sociometria,
cuja finalidade é medir as relações entre o indivíduo e um grupo, no caso para
verificar sua influência ou sua liderança.
Os instrumentos e as técnicas quantitativas apresentados são comuns na
pesquisa social e apresentam sua relevância. É importante que o pesquisador
tenha uma conduta crítica para o uso deste ou daquele tipo de instrumento ou
técnica. Assim seu trabalho pode ter maior credibilidade. Cada tipo de técnica
apresenta também suas vantagens e suas desvantagens, o que exige muito
cuidado por parte do pesquisador social.
A utilização de métodos e técnicas quantitativas no Serviço Social pode
ocorrer, por exemplo, quando o assistente social é convocado para realizar uma
pesquisa cujo objetivo é diagnosticar o perfil socioeconômico das famílias de
um determinado setor ou bairro da cidade nesse caso, o profissional visita as
famílias munido de um questionário, cujos itens centrais podem ser a renda fami-
liar, as condições de moradia, de saúde, de educação, número de filhos, entre
outros. Esse tipo de diagnóstico geralmente é realizado pelos órgãos públicos
para que, de posse dos dados, se faça um plano de ação visando a atender as
principais necessidades da população carente. Esse tipo de pesquisa é também
feita por escolas que destinam vagas para as pessoas de baixa renda.
Note que esse tipo de pesquisa quantitativa é importante para atender a
algumas necessidades e exigências dos setores públicos e privados no que
diz respeito à ação junto à população. O que gerou várias críticas ao modelo
quantitativo adotado por instituições é o fato de se priorizar sempre esse tipo de

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06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 171 of 460


CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

metodologia e de abordagem, sem se levar em consideração um trabalho mais


efetivo junto à população, especialmente ouvindo mais as pessoas, vivenciando
seus dilemas, respeitando as diferenças e buscando uma ação junto à comuni-
dade de forma participativa, portanto sem trazer projetos prontos para serem
aplicados às populações sem ter clareza das reais necessidades e interesses
das pessoas.

A abordagem qualitativa se mostra mais próxima da realidade da popu-


lação, todavia também não deve ser a única a ser adotada nas diversas
situações. O uso indiscriminado de uma metodologia qualitativa, sem que
se leve em conta a dimensão real do problema, a compreensão clara das
ideias e dos conceitos que orientam a ação ou a pesquisa também não leva
a lugar nenhum.

A metodologia qualitativa busca muito mais a interpretação da realidade


do que a prática objetivista, com o uso contínuo de dados quantitativos. As
principais técnicas utilizadas no Serviço Social, no que tangem a esse tipo de
metodologia, são: história de vida, estudo de caso, entrevista, observação parti-
cipante, entre outras. No capítulo 4, você estudará mais detalhadamente sobre
cada uma dessas técnicas.
Concluímos este capítulo observando que os métodos e as técnicas de
pesquisa social do Serviço Social surgiram a partir das demandas sociais e
também fundamentados em interesses e ideologias. Assim, por exemplo, o tipo
de metodologia que prioriza o objetivismo vai se adequar muito mais à sociedade
industrial capitalista. Como a realidade se mostra objeto de estudo complexo
para compreender, surge uma nova abordagem (qualitativa) cuja prioridade é o
indivíduo como sujeito da realidade.
A metodologia qualitativa se apoia em instrumentos e técnicas contrárias
às do positivismo. Assim aqueles que trabalham as questões sociais passam a
adotar em larga medida as técnicas de observação participante, entrevistas,
história de vida, entre outras. Sobre os métodos e técnicas como os citados, você
estudará detalhadamente no capítulo 5.
No próximo capítulo, discutiremos sobre funcionalismo e estruturalismo no
Serviço Social. Essas abordagens teórico-metodológicas correspondem à pers-
pectiva positivista que, conforme foi demonstrado nos primeiros capítulos, é uma
forma de estudo e de prática social pautada no objetivismo. Fique atento e
perceba as diferenças e as semelhanças dessas abordagens e suas implicações
de seu uso no Serviço Social.

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CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i

Anotações

S.S._5oP.indb 173

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CAPÍTULO 3 • PesqUisA sOCiAL i
4
O Funcionalismo e CAPÍTULO 4 • PesqUisA sOCiAL i

o Estruturalismo no
Serviço Social

Introdução
Para continuação dos estudos, você pode rever a disciplina Teorias Sociológicas,
do primeiro período, especificamente sobre o positivismo, o pensamento de Durkheim
e sua importância na análise da sociedade. Os conceitos e ideias desenvolvidas
nessa temática servirão para você relacionar ao Serviço Social. Igualmente, você
poderá identificar o método funcionalista no processo de prática do Serviço Social.
Reveja também os capítulos anteriores (2 e 3), os quais se referem aos métodos e
às técnicas de pesquisa nas ciências sociais e destaca suas implicações no Serviço
Social, além de tratar sobre positivismo e suas implicações. A compreensão de
métodos e técnicas positivistas dará suporte para você conhecer o Funcionalismo e
o Estruturalismo, suas características centrais e identificar os principais instrumentos
e técnicas utilizados no método funcionalista e no estruturalista.
A partir do que você já estudou quanto aos conteúdos apontados, já é
possível perceber a estreita relação entre as ideias positivistas e a preocupação
com a objetividade científica.
O Positivismo foi um grande passo para a organização e a sistematização de
conhecimentos que permitiram o estudo dos fenômenos sociais, ou seja, estudar
cientificamente a sociedade. A partir de então, os cientistas sociais procuraram,
cada vez mais, encontrar uma forma viável e segura para compreender os dife-
rentes fenômenos da sociedade e seus problemas. Assim surgem as abordagens
funcionalistas e estruturalistas, com base nas ideias iniciadas por Auguste Comte.
Neste capítulo, serão desenvolvidos os aspectos teórico-metodológicos das pers-
pectivas funcionalistas e estruturalistas e seus usos e implicações no âmbito do
Serviço Social. Começaremos com alguns conceitos.

4.1 O que é Funcionalismo?


Estudar a sociedade de maneira científica exige objetividade e, portanto,
garantia de que os resultados encontrados de uma determinada pesquisa são
possíveis de serem alcançados em qualquer lugar. Isso significa a universalidade
e a capacidade de demonstração. Foi a partir da necessidade dessa cientifici-
dade que o Positivismo surgiu, como você já estudou nas aulas anteriores.
A escola funcionalista se baseia também nas ciências naturais, de modo a
comparar a sociedade a um organismo vivo. Temos, portanto, uma perspectiva

S.S._5oP.indb 175

06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 175 of 460


CAPÍTULO 4 • PesqUisA sOCiAL i

metodológica que busca, na compreensão de organismo, em que as partes são


interdependentes de modo a formar um todo harmônico, a possibilidade de
entender o funcionamento da sociedade.
Triviños (1994, p. 82-83) afirma que,
Na vida social, função seria o conjunto de operações pelas quais se
manifesta a vida social. Num organismo animal é possível observar
a estrutura orgânica até certo ponto, independentemente do seu
funcionamento. Logo, é possível fazer uma morfologia que inde-
pende da fisiologia. Mas, na sociedade humana, a estrutura social
como um todo só pode ser observada em seu funcionamento.

O Funcionalismo deriva do Positivismo, todavia apresenta características


um pouco diferentes da abordagem estritamente positivista e quantitativista. A
necessidade de estudar as culturas e as sociedades de diferentes estilos levou
alguns teóricos como Malinowiski (1884 -1942) a buscar caminhos específicos
para compreender como se apresenta a realidade e qual a forma de organi-
zação de determinados grupos sociais.

Triviños (1994, p. 81-82) afirma que “a ideia de “função” cabe basi-


camente vinculada ao campo da biologia. [...] na biologia, entende-se
por “função” o conjunto de operações pelas quais se manifesta a vida
de uma célula, de um tecido, de um órgão, de um ser vivo (reprodução,
nutrição etc.)”.

Apesar de derivar do Positivismo, o Funcionalismo se contrapõe ao


Evolucionismo. Essa postura rejeita a tendência de interpretação das sociedades
não europeias a partir de valores e princípios europeus, isto é, tomar a socie-
dade europeia como um modelo padrão.
Marconi e Lakatos (2000, p. 95) asseveram que
O método funcionalista considera, de um lado, a sociedade como
uma estrutura complexa de grupos ou indivíduos, reunidos numa
trama de ações e relações sociais; de outro, como um sistema de
instituições correlacionadas entre si, agindo e reagindo umas em
relação às outras. Qualquer que seja o enfoque fica claro que o
conceito de sociedade é visto como um todo em funcionamento, um
sistema em operação. E o papel das partes nesse todo é compreen-
dido como funções no complexo de estrutura e organização.

Para Pedro Demo (1987), a abordagem funcionalista se concentra em torno


das instituições e nasceu para atender aos interesses da sociedade moderna e
capitalista, cujas instituições existem para manter a ordem existente.

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CAPÍTULO 4 • PesqUisA sOCiAL i

No Serviço Social, o paradigma funcionalista é comumente utilizado,


servindo, dessa forma, ao modelo institucional predominante. Triviños (1994,
p. 84) ensina que
A teoria funcionalista, aplicável ao estudo da estrutura social e à
diversidade cultural, tem por objetivo a manutenção do sistema
social e a melhoria da cultura do grupo. As partes específicas da
estrutura social e da cultura do grupo operam como mecanismos
que satisfazem ou não os requisitos funcionais.

Essa perspectiva funcionalista se apresenta em conformidade com as insti-


tuições sociais, pois percebemos características similares àquelas encontradas
nos organismos biológicos. Isso significa perceber a sua estrutura formada por
partes que são interdependentes. Assim como nos organismos vivos, cada parte
tem sua função para o equilíbrio do todo; na sociedade, as instituições têm
também suas respectivas funções para manter o tecido social em equilíbrio.

Malinowiski citado por Triviños (1994, p. 84) afirma que “cada instituição
desempenha pelo menos uma função social, o que corresponde a dizer que
ela satisfaz uma necessidade social estabelecida”.

Para que você tenha uma melhor compreensão dessa relação entre institui-
ções, sociedade e organismos vivos, pense na família, no Estado, na religião, na
educação e em como são estruturadas, quais suas funções e o que representam
para a sociedade. Assim possivelmente você fará uma leitura funcionalista da
sociedade, especialmente quando vê nas instituições a função de trabalhar no
sentido de possibilitar o equilíbrio social.
A perspectiva funcionalista no Serviço Social se apresenta de forma predomi-
nante, devido ao modelo institucionalizado da sociedade. Assim as instituições e
as organizações se revelam totalmente voltadas aos padrões e às normas esta-
belecidas em conformidade com a ordem política, social e econômica existente.
Em outros termos, a prática do assistente social é cobrada pelas respectivas insti-
tuições nas quais estejam vinculados a partir do modelo industrial e capitalista
dominante no mundo.

Reflita

Você deve estar se perguntando: como acontece na prática essa perspecti-


va funcionalista? O que significa adotar uma prática funcionalista? O modo

S.S._5oP.indb 177

06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 177 of 460


CAPÍTULO 4 • PesqUisA sOCiAL i

como se trabalha em uma instituição social pode ser uma prática funcio-
nalista? Quais as implicações do funcionalismo na prática do assistente
social? Pense sobre isso.

A prática funcionalista se dá na forma de perceber, atuar e pesquisar a


realidade. O assistente social, por exemplo, ao trabalhar em uma determinada
instituição, é impelido a corresponder às normas e às regras institucionais e, na
medida em que passa a adotar nas suas ações uma postura voltada para padro-
nização, esquemas, técnicas e normas, sem levar em consideração aspectos da
realidade que não são possíveis de serem medidos e quantificados, tem-se uma
prática funcionalista e positivista.
É importante saber que o Funcionalismo tem também sua importância no que
tange à prática profissional, todavia não se deve tê-lo como a única forma de
abordagem a ser adotada pelo assistente social.
No que diz respeito à pesquisa no Serviço Social, o Funcionalismo se faz
presente quando o profissional adota uma conduta baseada na percepção de
mundo a partir das funções sociais. Quando o assistente social, para pesquisar
uma dada realidade, orienta-se a partir de uma visão da totalidade do grupo,
considerando que cada parte está intimamente relacionada, de modo a se
compreenderem determinados problemas como se acontecessem devido à falta
de uma adaptação do indivíduo ao sistema, tem-se uma visão funcionalista.
Vejamos um exemplo: digamos que o profissional é chamado para atuar
em uma comunidade para atender a uma determinada demanda sobre a prosti-
tuição. Para compreender e saber lidar com essa problemática, o assistente social
busca na família, na escola, na religião a explicação sobre o assunto. Logo suas
conclusões se dão pela compreensão de que o problema está na necessidade
de uma maior participação dos pais, da escola e da religião para que contribua
em uma formação necessária ao crescimento moral, intelectual e profissional dos
indivíduos, evitando, assim, um desequilíbrio e a falta de adaptação às regras e
às normas sociais para o bem comum. Assim se explica a prostituição pela falta
de adaptação da pessoa às regras estabelecidas.
Em uma pesquisa do tipo funcionalista, seria o caso do pesquisador ter a
compreensão da totalidade que explica o problema em estudo. Assim o assis-
tente social deve procurar fazer um levantamento de dados a partir da obser-
vação, da descrição da realidade, visando às informações necessárias para
saber as causas de um determinado problema. A postura funcionalista está no
fato de perceber a realidade e de tratar os dados coletados sempre no sentido
de que toda e qualquer situação deve ser vista a partir das funções de cada
parte, o que leva à compreensão do todo.

S.S._5oP.indb 178 12/2/aaaa 14:41:37

06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 178 of 460


CAPÍTULO 4 • PesqUisA sOCiAL i

A pesquisa funcionalista se atém aos elementos como partes integrantes


de um sistema maior. Assim se percebe uma forte influência positivista,
uma vez que os estudos e a forma de tratamento de um dado problema se
dão pela observação das funções que levam a uma estrutura social. No
funcionalismo, os problemas não são vistos pelas diferenças ideológicas,
pelos interesses e pelos conflitos, mas pela falta de adaptação à norma
existente: é como se a realidade fosse algo pronto, dado e não fruto das
ações humanas.

Para a realização de pesquisa com base funcionalista, o pesquisador pode


se utilizar de métodos e técnicas como: diário de campo, observação partici-
pante, entrevistas, questionários, análises documentais, entre outros. Tais técnicas
serão desenvolvidas ainda neste capítulo.
A metodologia funcionalista é uma forma de abordagem que parte da
compreensão do todo cujas partes são interdependentes. Nesse sentido, atuar
com base no funcionalismo é adotar uma postura voltada para a análise social
como se fosse um observador do fenômeno ou do problema social.
Você viu até aqui sobre o funcionalismo e sua influência no Serviço Social.
Com isso, percebeu que a pesquisa funcionalista tem também sua importância,
todavia pode limitar o pesquisador ou o agente social a uma visão da realidade
como coisa dada, conforme criticam os teóricos contrários a essa forma de
abordagem, como é o caso da perspectiva marxista, que você estudará mais
adiante. O funcionalismo apresenta uma relação direta com a corrente teórica
metodológica estruturalista, que será abordada a seguir.

4.2 O método estruturalista


O estruturalismo pode ser visto como um tipo de método baseado no insti-
tucionalismo, tal qual você já viu no funcionalismo. Por isso é importante já
perceber que, embora apresente sua utilidade no estudo da realidade, essa
perspectiva teórico-metodológica segue a lógica da padronização, das normas
institucionais.

4.3 O que é Estruturalismo?


Pedro Demo (1987, p. 47) ensina que “estrutura pode ser definida como
inter-relação relativamente estável das partes componentes. Essa definição é
vista, sobretudo, como característica sistêmica, ou seja, como condição de orga-
nização de qualquer sistema”.

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CAPÍTULO 4 • PesqUisA sOCiAL i

Como você pôde perceber nas palavras de Pedro Demo (1987), o


Estruturalismo focaliza os elementos estruturais para entender uma dada reali-
dade. Lévi-Strauss citado por Costa (1997, p. 116) afirma que “a estrutura é a
construção teórica capaz de dar sentido aos dados empíricos”.
O Estruturalismo parte da compreensão de que, para entender uma deter-
minada realidade, é necessário saber quais os elementos indispensáveis que
sustentam ou que permitem a existência de um fenômeno ou uma coisa ser o que
é. Esse método ou perspectiva teórico-metodológica se atém a mesma lógica
existente no Funcionalismo referente às instituições. O ponto central é o enfoque
nos elementos estruturais.
Marconi e Lakatos (2000, p. 95-96) afirmam que
O método estruturalista parte da investigação de um fenômeno
concreto, eleva-se, a seguir, ao nível abstrato, por intermédio da
constituição de um modelo que represente o objeto de estudo,
retornando, por fim, ao concreto, dessa vez como realidade estru-
turada e relacionada com a experiência do sujeito social [...]
Para penetrar na realidade concreta, a mente constrói modelos,
que não são diretamente observáveis na própria realidade, mas
a retratam fidedignamente, em virtude de a razão simplificante
do modelo corresponder à razão explicante da mente, isto é, por
baixo de todos os fenômenos existe uma estrutura invariante e é
por este motivo que ela é objetiva (grifos nosso).

A noção de estrutura é fundamental na abordagem estruturalista. Quando as


autoras se referem à ideia de que por baixo de todos os fenômenos existe uma
estrutura invariante e é por esse motivo que ela é objetiva, é importante perceber
nesse método a intenção de buscar a objetividade nos elementos que servem de
sustentação para um determinado fenômeno.

Triviños (1994) destaca que o Estruturalismo buscou o apoio na matemáti-


ca, na física etc. para elaborar suas concepções metodológicas em relação
ao conceito de estrutura. Isso permitiu um relacionamento positivo entre a
ciência natural e a ciência social.
Uma das características mais profundas, em termos metodológicos, do es-
truturalismo é a acentuação firme de que o conhecimento da realidade se
realiza plenamente apenas quando atinge nela elementos constituintes em
nível de constantes supratemporais e supraespaciais (DEMO, 1980).

Se você tomar como exemplo a necessidade de estudar as relações


sociais de um determinado grupo, no sentido de buscar compreender quais os

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elementos estruturantes que levam à explicação do fenômeno em questão, logo


você buscará, no modelo estruturalista, a forma de percepção da realidade em
estudo, bem como os instrumentos e as técnicas de pesquisa necessários para o
esclarecimento do problema.
No Serviço Social, o Estruturalismo está presente quando o assistente social dá
prioridade aos elementos estruturais para entender uma dada realidade. Também
é importante saber que, nessa perspectiva, não se trata apenas de pesquisar
sobre uma dada realidade a partir da busca dos elementos estruturais, mas se
deve levar em conta a postura do pesquisador como um observador atento sobre
tudo o que está ao seu alcance para a compreensão do que é estudado.
No estudo de uma comunidade, para saber sobre as relações sociais e
como elas são estabelecidas pelos seus membros, o pesquisador deve procurar,
por meio de observação, de entrevistas e de outros instrumentos necessários
para alcançar seus objetivos, os dados suficientes que lhe permitam construir um
modelo/estrutura de funcionamento do grupo estudado para, em seguida, fazer
suas análises e interpretações. Esse modelo deve retratar fielmente a estrutura de
funcionamento do grupo.
Um exemplo de como se pode utilizar o Estruturalismo pode ser o seguinte:
digamos que você pesquisou na comunidade e descobriu que as relações sociais
no grupo se dão, especialmente, pelo papel ou pela função da religião na vida das
pessoas; em seguida, leva em consideração as lideranças, os principais valores
dos participantes do grupo, a forma como se dividem as tarefas diárias, as rela-
ções que se dão no dia a dia a partir do trabalho, do lazer, da educação etc. Feito
isso, você estabeleceu toda uma estrutura de funcionamento das relações sociais
do grupo estudado. Esse tipo de pesquisa contribui para uma compreensão dos
principais elementos que estão presentes na vida de comunidades, organizações,
movimentos sociais, partidos políticos, entre outras formas de coletividades.

Uma das críticas centrais que se faz ao estruturalismo é quanto à percep-


ção da realidade como algo isolado da história e das contradições e dos
conflitos, o que demonstra também uma forte influência positivista em com-
preender a realidade de maneira institucionalizada, portanto formal ou
padronizada.

A abordagem estruturalista tem sua importância ao longo da história no


que diz respeito aos estudos de determinadas realidades, especialmente quanto
às coletividades e à forma como as pessoas ou as coletividades se organizam,
produzem sua cultura e estabelecem um modo de ser social. O principal aspecto

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CAPÍTULO 4 • PesqUisA sOCiAL i

do Estruturalismo, como o próprio nome sugere, é a busca pelos elementos que


dão sustentação a um fenômeno, coisa ou fato. A base do Estruturalismo é a
realidade que se apresenta pelos seus elementos estruturantes.
No item a seguir, veremos os instrumentos e as técnicas da investigação
estruturalista e sua importância para o Serviço Social. Observe atentamente e
perceba como o Estruturalismo tem a ver com o Funcionalismo e com outras meto-
dologias, uma vez que utiliza praticamente os mesmos instrumentos e técnicas
que se encontram nas demais abordagens.

4.4 Instrumentos e técnicas de investigação estruturalista


Os instrumentos e as técnicas estruturalistas não diferenciam muito do que
você já viu no funcionalismo. É fundamental que você saiba que, para cada meto-
dologia, é necessário um conjunto de instrumentos e de técnicas, mas o modo
de tratamento deles é que define a particularidade do método. Não se esqueça
ainda de que, para cada metodologia, é indispensável a teoria que a cerca.

Vejamos quais os principais instrumentos e técnicas que podem ser utilizadas


no modelo estruturalista, especialmente no que tange ao Serviço Social.

São considerados instrumentos e técnicas os elementos que possibilitam ao


pesquisador a coleta e a análise de dados. As técnicas dizem respeito às habi-
lidades com que o pesquisador realiza as suas atividades a partir dos objetivos
de sua pesquisa.
Os instrumentos dão sustentação às técnicas a serem utilizadas na pesquisa. Em
geral, os mais utilizados na pesquisa qualitativa são a ficha ou o diário de campo,
o gravador, as máquinas fotográficas e os questionários. Estes últimos, apesar de
apontarem para uma pesquisa quantitativa, podem ser usados na qualitativa.
A forma das questões constantes nos questionários pode ser fechada –
quando apresenta questões objetivas – e aberta – quando deixa o informante
livre para fazer suas considerações a partir de uma questão central.
Veja um exemplo de questão fechada.

Você gosta da organização na qual trabalha? Sim ( ) Não ( )


CAPÍTULO 4 • PesqUisA sOCiAL i

Agora um exemplo de questão aberta.

O que você acha da organização em que trabalha?

Seguiremos com o diário de campo, instrumento bastante utilizado nas meto-


dologias qualitativas e que ainda hoje é bastante útil.
O diário de campo é um instrumento bastante utilizado pelo pesquisador
para descrever tudo o que considera importante sobre o cotidiano de um
grupo ou coletividade estudada. Tal instrumento é importante na observação
participante.
Os gravadores são importantes para registrar os depoimentos e as falas dos
indivíduos pesquisados. A forma de utilização desses instrumentos deve seguir
determinados critérios de ética e disciplina.
As técnicas podem ser: observação participante ou não-participante, entre-
vistas, história de vida, estudo de caso e análise documental.
A observação é uma forma de coleta de dados que pode ser participante:
quando o pesquisador passa a conviver um período junto ao grupo pesquisado,
de modo que deve agir conforme costumes e modos de vida das pessoas que
pertencem ao grupo, sem interferir na sua forma de vida.
A observação não participante se refere ao tipo de pesquisa em que não é
necessária a presença do pesquisador, de modo a conviver com o grupo, mas
pode visitá-lo em determinados momentos de modo individual ou em equipe. A
observação em equipe permite uma visão dos diversos ângulos.
Veja um exemplo de observação no Serviço Social.

Quando o assistente social acompanha um grupo de mulheres trabalhado-


ras rurais, como as quebradeiras de coco da região do Bico do Papagaio,
no estado do Tocantins, por exemplo, esse profissional pode se integrar ao
grupo por certo período, de modo a participar com as mulheres nos seus
diversos momentos trabalho, lazer, religião, luta, afazeres diários, entre ou-
tros, nesse caso, adota uma metodologia de observação participante. Mas,
se o profissional resolve fazer um acompanhamento do grupo, por meio de
visitas ou com o auxílio de uma equipe munida de questionários para serem
aplicados conforme os objetivos, faz uma observação não participante.

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CAPÍTULO 4 • PesqUisA sOCiAL i

Saiba mais

Se você quiser saber mais sobre as quebradeiras de coco do Bico do Pa-


pagaio, assista ao documentário do diretor Marcelo Silva, cujo título é:
Raimunda: a quebradeira. O documentário traça um paralelo entre a vida
de Raimunda Gomes da Silva, dedicada aos direitos das mulheres quebra-
deiras de coco babaçu da região do Bico do Papagaio, a criação de sin-
dicatos de trabalhadores rurais, sempre ao lado do padre Josimo Moraes
Tavares, assassinado por pistoleiros em 1986, e o processo de ocupação e
transformação da região.

As entrevistas são bastante utilizadas nas pesquisas e permitem captar o que


as pessoas pensam e falam, além de o pesquisador poder identificar sua postura
corporal, entonação de voz, sinais de que algo que disse apresenta um signifi-
cado importante ou não. As entrevistas podem ser direta ou indireta, estruturada
ou semiestruturada.
A direta é o tipo de entrevista cujo entrevistador pode fazer uma pergunta que
exige uma resposta sucinta e objetiva; a indireta dá margem para o entrevistado
falar à vontade. A estruturada trata-se da entrevista com roteiro fechado ou defi-
nido, que não permite ao entrevistado fugir do que foi perguntado; já a semies-
truturada se refere à existência de um roteiro prévio, de modo que o entrevistador
o segue, mas deixa ainda o entrevistado mais à vontade. Nesse caso, o roteiro
prévio serve apenas para que o informante não fuja muito do assunto desejado.
A história de vida se dá por meio de uma série de entrevistas de uma pessoa,
de modo que o pesquisador procura reconstituir a vida da pessoa, tenta eviden-
ciar os aspectos em que está mais interessado. Essa técnica permite a percepção
das concepções que as pessoas têm acerca de seu papel e de sua participação
na vida do grupo em que estão inseridas. Muitas vezes, por meio da história de
vida de uma liderança, podemos saber sobre aspectos importantes da história
da comunidade, movimento ou coletividade a que o indivíduo pertence.
O estudo de caso é outra técnica que trata da pesquisa sobre um grupo,
uma empresa, organização, uma instituição ou mesmo um indivíduo. É também
chamado de estudo monográfico, por se tratar de um caso.
A análise documental é feita por meio de documentos, como relatórios,
atas, cartas, ofícios, panfletos, entre outros, cujas fontes podem revelar aspectos
importantes e indispensáveis para a análise de um determinado grupo ou fenô-
meno estudado.
Observe que as técnicas e os instrumentos apresentados também podem ser
usados em outras metodologias. O que é importante é saber que, no método

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CAPÍTULO 4 • PesqUisA sOCiAL i

estruturalista, utilizamos esses mecanismos para fazer a análise estrutural de um


determinado fenômeno ou uma realidade estudada.
Os instrumentos e as técnicas utilizadas pelo método estruturalista basica-
mente são adotados nas diversas pesquisas qualitativas. É fundamental saber
que a forma com que se pesquisa, se analisa e se interpretam os dados é o que
torna peculiar a metodologia estruturalista. Não se pode esquecer de que essa
forma de abordagem tem, na sua essência, a construção mental de estruturas
com vistas à compreensão de uma realidade.
No próximo capítulo, você estudará sobre os métodos qualitativos e seus
principais aspectos. Verá quais os métodos qualitativos mais utilizados no Serviço
Social, sua relevância e suas implicações.

Anotações
]

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06
CAPÍTULO 4 • PesqUisA sOCiAL i
5
Métodos qualitativos e o CAPÍTULO 5 • PesqUisA sOCiAL i

Serviço Social e suas


implicações

Introdução
Você estudou com atenção os capítulos 3 e 4? Eles trataram dos métodos em
ciências sociais, dos instrumentos e das técnicas do funcionalismo e do estrutu-
ralismo. Tais assuntos são indispensáveis para o que será desenvolvido a partir
de agora, até mesmo porque, para falar em metodologia qualitativa e em sua
relação com o Serviço Social, trabalhamos com teorias, instrumentos e técnicas
já vistos anteriormente. Assim você estará apto a conceituar métodos qualita-
tivos, observar seu uso no Serviço Social e destacar os instrumentos e técnicas
de pesquisa qualitativa.
A metodologia em Serviço Social, como você já sabe, iniciou com uma abor-
dagem quantitativa e passou, ao longo do tempo, a se utilizar de instrumentos
e técnicas qualitativas. Neste capítulo, você estudará mais sobre esse assunto.
Apresentarei os principais métodos e técnicas qualitativas e ainda destacarei
a importância dessa forma de pesquisa e de análise da realidade no Serviço
Social e na sociedade.

5.1 Os métodos de pesquisa qualitativa utilizados no Serviço Social


O que significa a abordagem qualitativa? Como o Serviço Social trabalha
com esse tipo de abordagem? Qual a vantagem do uso de instrumentos e de
técnicas qualitativas?
Quando falamos em qualitativo, é necessário buscar o significado desse
termo e saber a sua importância para o profissional ou o pesquisador.

As pesquisas qualitativas foram utilizadas inicialmente por “antropólogos,


em seguida pelos sociólogos em seus estudos sobre a vida em comuni-
dades, posteriormente irrompeu na educação” (TRIVIÑOS, 1994, p. 121)
e no Serviço Social, no caso do Brasil, mais especificamente a partir da
década de 1980.

Segundo o Minidicionário Houaiss (2004, p. 612), “qualidade é o atributo


que determina a essência ou natureza de algo ou alguém”. Há, evidentemente,

S.S._5oP.indb 187

06
CAPÍTULO 5 • PesqUisA sOCiAL i

outras definições de qualidade, todavia, para o que nos interessa, essa defi-
nição já nos coloca diante da importância desse termo, especialmente quando
se refere à pesquisa ou à prática profissional no Serviço Social.
A opção pelo qualitativo se contrapõe ao uso demasiado do quantitativo
na pesquisa e na prática social. Foi por causa do quantitativismo, isto é, do uso
demasiado de métodos e de técnicas quantitativas, como escalas, amostras e
estatísticas para explicar tudo, que os pesquisadores perceberam a necessidade
de buscar outro caminho. Ou seja, cientistas sociais perceberam que esse método
somente não era suficiente para responder às necessidades de compreensão dos
fenômenos sociais. A adoção exagerada do uso de instrumentos e de técnicas
quantitativistas, portanto positivista e objetivista, não permitiam a análise e a
compreensão da realidade complexa que envolve os diversos grupos, indivíduos
e instituições da sociedade.
As palavras de Martinelli são importantes para nos ajudar a perceber a dife-
rença no que se refere aos dois modelos – quantitativo e qualitativo – na prática
do Serviço Social. Martinelli (1994, p. 12) explica que,
À medida que fui vivendo minha vida profissional, realizando
minhas atividades docentes, trabalhando com famílias, com
crianças, a cada momento via mais claramente que a pesquisa
quantitativa era importante para dimensionar os problemas com
os quais trabalhamos, para nos trazer grandes retratos da reali-
dade, mas era insuficiente para trazer as concepções dos sujeitos:
como pensam sua problemática? Que significados atribuem às
suas experiências? Como vivem sua vida. É algo que me trazia
muito questionamento, muitas vezes tínhamos muitas pesquisas
produzidas e as possibilidades efetivas que traziam no sentido
de instrumentalizar o objetivo de transformar aquela realidade
estavam muito aquém do esforço realizado.

A preocupação apresentada por Martinelli era no sentido de que as pesquisas


realizadas trouxessem de fato possibilidades de mudança, isto é, que não fossem
apenas mais uma pesquisa, mas que a realidade fosse compreendida, pelo menos
no que se refere àquela que tinha sido objeto de pesquisa e de estudo para se
poder ter uma ação efetiva no sentido de resolver determinado problema. Mas
eis a questão: por que será que a forma de pesquisar e de lidar com determinada
realidade não era o suficiente? Será que inibia, na verdade, qualquer possibili-
dade de uma ação concreta para solução do problema estudado?
O principal problema que se mostrou na abordagem quantitativa foi o fato
de os pesquisadores se colocarem indiferentes à realidade e aos informantes.
Estes eram apenas tidos como objeto ou alvo a ser alcançado para se extrair
determinadas informações. Mais uma vez, Martinelli (1994, p. 12) nos revela
na sua fala esse problema, quando afirma que
Nós mesmos, em nossa atividade no Serviço Social, quantas vezes
fazemos uma visita domiciliar de onde voltamos com informações
sobre as condições de moradia, sobre quantas pessoas vivem
CAPÍTULO 5 • PesqUisA sOCiAL i

em casa, quanto ganham, mas não temos nenhuma informação


sobre o modo de vida das pessoas, não sabemos como vivem a
sua vida, quais suas experiências sociais e que significado atri-
buem a isso. Assim, vão se instituindo verdadeiras lacunas no
processo de conhecimento e os dados obtidos acabam não sendo
geradores dos avanços e da prática que se esperava. Eles nos
instrumentalizam, mas são insuficientes por si sós para nos trazer
a possibilidade de construção coletiva.

As lacunas deixadas pelo modelo quantitativista ou positivista levaram os


pesquisadores a buscarem novas formas de abordagem da realidade, assim
partiram para o uso do modelo qualitativo. É importante saber que o surgimento
do modelo qualitativo não elimina de vez a necessidade de adoção do quantita-
tivo, afinal é necessário ter uma noção geral do problema ou situação em estudo,
até mesmo para se ter uma noção de como trabalhar em determinada realidade.
O que não é interessante é se apegar a dados quantitativos para generalizar,
de forma a querer entender toda uma situação problema, sem buscar observar
os aspectos que não são possíveis de serem medidos por meio de questionários,
amostras, escalas, experimentos ou qualquer outra técnica quantitativista. Como
salientou Martinelli (1994), os dados quantitativos servem como instrumentos
para ajudar a atuar em uma realidade, mas não são tudo.
A pesquisa qualitativa é cada vez necessária quando percebemos que os
dados quantitativos ou a descrição de uma dada realidade não revelam uma
compreensão do problema em estudo, porque apenas instrumentalizam para
buscar novas formas de abordagem. É o caso de buscar ouvir mais as pessoas,
conviver por certo período com os informantes para saber como é que aquelas
pessoas vivem o seu dia a dia, alimentam-se, dialogam, brincam, alegram-se,
entristecem-se e como é que as pessoas resolvem seus conflitos pessoais e cole-
tivos. Isso significa buscar a interpretação da realidade a partir da convivência
com os informantes. Assim entendemos que não é preenchendo um questionário
simplesmente que entenderemos uma realidade, pois é necessário muito mais.
A pesquisa qualitativa “tem por objetivo trazer à tona o que os participantes
pensam a respeito do que está sendo pesquisado, não é só a minha visão de
pesquisador em relação ao problema, mas é também o que o sujeito tem a me
dizer a respeito” (MARTINELLI, 1994, p. 13). Ou seja, essa nova forma de
buscar entender uma dada realidade se apresenta pelo menos mais próxima das
pessoas, mais humana e participativa, uma vez que as pessoas não são vistas
ou tratadas como números e estatísticas, mas têm algo a falar, a revelar sobre o
seu modo de ver o mundo.
Você viu, nos capítulos anteriores, como o método funcionalista e o estrutura-
lista, apesar de derivarem do positivismo, procuram uma forma de compreender
os fenômenos sociais com um olhar atento aos comportamentos relacionados às
culturas. O uso da observação participante, por exemplo, demonstra essa preo-
cupação. Todavia não é conveniente confundir essas abordagens com pesquisa

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CAPÍTULO 5 • PesqUisA sOCiAL i

qualitativa de fato, mas sim saber que apresentam usos de instrumentos e de


técnicas mais utilizadas nas pesquisas qualitativas.
O uso de pesquisas qualitativas, isto é, que procuram fazer uma análise
interpretativa dos fenômenos sociais, se atém muito mais às formas como os indi-
víduos, no caso os pesquisados, se percebem perante um determinado contexto
no qual se encontrem, por exemplo, podemos considerar o caso dos presidiá-
rios, pacientes internos de clínicas, drogados, manicômios, entre outros.

Os estudos relacionados às situações diversas dos indivíduos inseridos em


um contexto urbano e complexo, como nas grandes metrópoles, partiram
da necessidade de um olhar interno, subjetivo, que pudesse revelar de
maneira espontânea a percepção de mundo dos envolvidos. Tornaram-se
conhecidos os estudos interacionistas, representados pela Escola de Chica-
go, cuja abordagem se mostrou bastante original, diferente das pesquisas
de cunho estritamente quantitativas.

Quando o pesquisador social adota essa metodologia, deve estar ciente de


que não interessa saber simplesmente o que a maioria pensa sobre algo, mas
também perceber nas entrelinhas como de fato a realidade de um determinado
grupo se apresenta no seu aspecto mais íntimo possível.
Minayo e outros (2004, p. 10) consideram que
As metodologias de Pesquisa Qualitativa [devem ser] entendidas
como aquelas capazes de incorporar a questão do Significado
e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e
às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu
advento quanto na sua transformação, como construções humanas
significativas.

É com o foco no significado das ações e na intencionalidade que o pesqui-


sador social se coloca em uma posição mais humana, isto é, mais próxima das
pessoas pesquisadas. Desse modo, não atua como se o objeto estudado fosse
algo estranho à vida. Em outros termos, podemos afirmar que se trata de um
olhar mais atento e com muito respeito aos pesquisados; na abordagem quali-
tativa, as pessoas não são meros informantes, nem tampouco o que dizem se
traduzem em números ou estatísticas.
Surgida a partir de sociólogos e antropólogos, a pesquisa qualitativa foi
sendo aos poucos reconhecida como fundamental nas ciências sociais. Triviños
(1994, p. 120) nos ensina que “os pesquisadores perceberam rapidamente que
muitas informações sobre a vida dos povos não podem ser quantificadas”, mas
CAPÍTULO 5 • PesqUisA sOCiAL i

sim interpretadas de forma muito mais ampla, de modo a abandonar as metodo-


logias quantitativas típicas do positivismo. Baseados nessa perspectiva qualita-
tiva, surgem estudos com enfoques fenomenológicos, compreensivos, dialéticos,
os quais serão desenvolvidos mais detalhadamente nos capítulos 6 e 7.
Uma das formas de estudo qualitativo se dá com o que os cientistas sociais
chamam de trabalho de campo: quando o pesquisador deixa sua postura técnica
e burocrática para conhecer novas culturas e modos de vida. Foi dessa forma que
os antropólogos realizaram estudos com base em visitas e em convivências com
nativos. São exemplos dessa postura as pesquisas realizadas por Franz Boas, entre
1883 e 1902, e também as experiências de campo de Bronislow Malinowski nas
Ilhas Trobriand, ente 1915 a 1916, conforme destaca Goldenberg (1999).
Os estudos de Franz Boas foram marcantes para as ciências sociais,
especialmente para a Antropologia, tendo inspirado vários pesquisadores na
primeira metade do século XX. Entre os estudiosos, destacam-se Ralph Linton,
Ruth Benedict e Margareth Mead, os quais são considerados representantes da
Antropologia cultural americana. Tais estudiosos utilizaram “métodos e técnicas
de pesquisa qualitativa somados a modelos conceituais próximos da psicologia
e psicanálise”, afirma Goldenberg (1999, p. 21).

Saiba mais

É importante que você veja a obra de Malinowski Os argonautas do pacífi-


co, publicada em 1922, que é tida como um verdadeiro tratado sobre o tra-
balho de campo. Goldenberg (1999, p. 22) destaca que o referido teórico
“demonstrou que o comportamento nativo não é irracional, mas se explica
por uma lógica própria que precisa ser descoberta pelo pesquisador”. Leia
também o livro A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em
ciências sociais, da autora Mirian Goldemberg, publicado pela editora
Record, em 1999. Boas leituras!

Já nos anos 1970, nos Estados Unidos, destacam-se as pesquisas de Clifford


Geertz, que propõem uma análise cultural hermenêutica, inspiradas nas ideias
de Weber (abordagem compreensiva). Seus trabalhos situam-se em uma ótica
interpretativa. Para Geertz, o estudioso deve fazer uma descrição em profundi-
dade (descrição densa) das culturas como “textos” vividos como “teias de signifi-
cados” que devem ser interpretados (GOLDENBERG, 1999, p. 23).
No próximo item, você estudará o interacionismo simbólico, cujo método
partiu dos pesquisadores sociais da Escola de Chicago, os quais até hoje
exercem influência quando se trata de pesquisa qualitativa.

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5.2 O interacionismo simbólico e a Escola de Chicago


A Escola de Chicago se tornou um dos importantes centros de estudos e de
pesquisas sociológicas dos Estados Unidos. A partir de 1915, o Departamento
de Sociologia realiza estudos na cidade de Chicago com o intuito de produzir
conhecimentos que contribuíssem para a solução de determinados problemas so-
ciais, tais como: imigração, delinquência, criminalidade, desemprego, pobreza,
entre outros.
O método dos pesquisadores dessa escola é conhecido como interacio-
nismo simbólico, cujo propósito é “compreender as significações que os próprios
indivíduos põem em prática para construir seu mundo social” (GOLDENBERG,
1999, p. 27).

Muitas pesquisas de Chicago se voltaram para um problema cadente no


EUA: os conflitos étnicos e as tensões raciais. Pesquisas sobre as comuni-
dades de imigrantes, sobre conflitos raciais entre brancos e negros, sobre
criminalidade, desvio e delinquência juvenil, tornaram a sociologia de Chi-
cago famosa em todo mundo (GOLDENBERG, 1999).

A Escola de Chicago, muito embora tenha iniciado um estudo interacionista


simbólico, também trabalhou com dados quantitativos; todavia sua preocupação
maior é com o tratamento qualitativo. Goldenberg (1999, p. 30) aponta que,
[...] em 1929, Shaw e outros pesquisadores publicaram uma
obra sobre a delinquência urbana em que recensearam cerca de
60 mil domicílios de “vagabundos, criminosos e delinquentes”
de Chicago, para demonstrar as taxas de criminalidade em dife-
rentes bairros.

A abordagem qualitativa, com o apoio de dados quantitativos, constitui uma


importante forma de estudo das questões sociais. Conforme já foi apontado
anteriormente, não podemos radicalizar acerca dos métodos e das técnicas de
pesquisa social. Para cada situação, conforme seja o objetivo da pesquisa, é
necessário o uso de estatísticas para que se tenha uma visão mais concreta do
fenômeno em questão.
Estudos com base nessa metodologia interacionista podem contribuir para uma
maior compreensão de certos problemas sociais e as ações dos seus atores. No
Serviço Social, essa perspectiva metodológica tem sua importância no caso dos
assistentes sociais que atuam junto aos indivíduos e aos grupos sociais em situação
de risco: menores de rua, presos, infratores, entre outros sujeitos marginalizados.

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A questão que não pode ser ignorada por pesquisadores, cientistas sociais
e assistentes sociais é a necessidade da realização de um estudo sobre qualquer
questão social com base na credibilidade. Para isso, os métodos, os instrumentos
e as técnicas utilizados devem ser suficientes para a explicação de determinados
fenômenos sociais.

Tanto a pesquisa quantitativa quanto a qualitativa exigem a coerência e a ca-


pacidade de responder aos dilemas da sociedade de modo a contribuir para
ações cada vez mais competentes no sentido de promover uma vida melhor.

A preocupação em estudar os fenômenos sociais a partir de dentro do grupo


(na pesquisa qualitativa) é uma opção fundamental para não se prender às
regras científicas, objetivistas que, muitas vezes, em vez de ajudar na compre-
ensão de uma dada realidade, somente complicam. Não cabe negar a impor-
tância de cada uma das metodologias, mas saber como melhor utilizá-las com
vistas à aproximação máxima da realidade. Para tanto, o uso de instrumentos e
técnicas merece destaque a fim de contribuir para o alcance dos objetivos.

5.3 Dos instrumentos e das técnicas de pesquisa qualitativa


As principais técnicas de abordagem qualitativa são, segundo nos apre-
senta Triviños (1994), a entrevista semiestruturada, a entrevista aberta ou livre, o
questionário aberto, a observação livre, o método clínico e o método de análise
de conteúdo ou análise documental. O autor não descarta a importância de
outros meios, como autobiografias, diários íntimos, confissões, cartas pessoais,
entre outras. Há também estudo de caso, história de vida e oral, que constituem
importantes formas de pesquisar a realidade.
Dos instrumentos e das técnicas apresentadas, o questionário aberto é um
tipo de questionário cujas questões apresentadas deixam livre o informante para
escrever ou dar sua opinião sobre algo. Como exemplo, você pode perguntar: o
que está achando do curso de Serviço Social? Se a pergunta deixa livre para o
entrevistado responder, é do tipo aberta; do contrário, quando apresenta alter-
nativa (bom, regular, ótimo etc.), é do tipo fechada.
A entrevista semiestruturada também segue essa mesma lógica. Trata-se de
uma entrevista em que o pesquisador apresenta um roteiro para não se perder,
contanto que deixe o informante livre para dar sua opinião. Já a entrevista aberta
é um tipo que deixa o informante totalmente livre, tendo apenas um tema central
para seguir, de modo que, ao longo da conversa, o entrevistado vai, de forma
espontânea, tecer suas informações e suas opiniões a respeito de um assunto.

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CAPÍTULO 5 • PesqUisA sOCiAL i

Quanto à observação livre, trata-se de uma técnica em que o pesquisador


vai à comunidade observar a realidade dos seus informantes, mas sem inter-
ferir nela. Ele também deve ser aceito pelas pessoas com muita naturalidade,
para isso precisa deixar claro o que pretende fazer, demonstrar respeito pelas
pessoas da comunidade pesquisada e confiar nelas.
Bardin citado por Triviños (1994, p. 160) ensina que a análise de conteúdo é
[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações,
visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição
do conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos ou
não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às
condições de produção/recepção das mensagens.

Como você pode perceber com as palavras do autor, a análise de conteúdo


busca obter indicadores quantitativos e qualitativos, conforme seja a necessidade.
Todavia tem sido mais comum a utilização desse método como forma de interpretar
as mensagens a partir de cartas, documentos, fotos, relatórios, entre outros.
Observe que esse método pode ser adotado tanto no modelo quantitativo
quanto no qualitativo, o que difere é a forma de tratamento. Afinal de contas,
os métodos quantitativos servem também no qualitativo, a diferença está no
tratamento, especialmente quando se prioriza a interpretação ou a análise dos
aspectos não mensuráveis, isto é, subjetiva e não puramente objetiva.
No que se refere à análise de conteúdo ou documental, trata-se de uma
maneira de pesquisar cujo enfoque está na busca dos significados que possam
ser encontrados em uma ou mais fontes, tais como: cartas pessoais, fotos, grava-
ções, relatórios, textos, entre outros.

Conforme Triviños (1994), a análise de conteúdo nasceu quando os primei-


ros homens realizaram as primeiras tentativas de interpretar os livros sagra-
dos. Esforços mais sistemáticos já se encontram no século XVII, na Suécia,
e, no século XIX, na França. Em 1908, o professor Thomas, de Chicago,
analisando cartas, autobiografias, jornais etc., foi capaz de elaborar um
quadro de valores e atitudes dos imigrantes polacos.

Duas técnicas muito importantes na pesquisa qualitativa são a história de


vida e a análise de documentos, as quais, em determinados momentos, comple-
mentam-se. A história de vida consiste em relatos biográficos e autobiográficos,
de modo que, além de reunir dados sobre a vida de determinadas pessoas,
apresenta a relação com grupos ou organizações a que pertencem.
CAPÍTULO 5 • PesqUisA sOCiAL i

Costa (1987, p. 197) nos lembra de que “história de vida compõe-se de


documentos, depoimentos, memórias e relatos coletados de viva voz pela própria
pessoa em questão ou por seus familiares e amigos”.
A técnica documental se torna indispensável quando se faz a história de
vida. Embora o pesquisado conte sua história, é por meio da análise de material
relacionado ao seu objeto de estudo, como cartas, anotações, fotografias, entre
outros, que o pesquisador pode ter uma pesquisa mais completa e, consequente-
mente, de maior credibilidade.

A obra de Gilberto Freire, Casa Grande e Senzala, foi resultado de uma


vasta pesquisa documental como cartas, atas, registros pessoais e de insti-
tuições, entre outras fontes.

É fundamental ter em conta que o fato de se trabalhar com o método e as


técnicas qualitativas não significa descartar totalmente os aspectos quantitativos.
Há determinadas pesquisas sobre a realidade que demandam o uso de dados
quantitativos, muito embora se priorize, na análise, o qualitativo. A diferença
que também deve ser considerada na qualitativa é quanto à forma de se analisar
os dados. Quando se prioriza interpretar os dados com foco nos aspectos subje-
tivos – não revelados nos dados quantitativos de maneira clara –, tem-se um
tratamento qualitativo dos aspectos quantitativos.

5.4 O método clínico


Esse método foi criado por Piaget. Segundo Triviños (1994), o princípio
básico do método clínico no hospital era o de aceitar o modo de falar do doente,
seguindo o curso de seu pensamento, sem interferências do clínico. O profissional
procurava apreender uma possível coerência interna do pensamento do doente,
que apresentava raciocínio superficial, falta de lógica e perda do bom senso.
Evidentemente que se trata de um método utilizado na Psicologia, todavia
podemos notar que apresenta uma das características básicas da pesquisa quali-
tativa, ou seja, a preocupação com o significado dado pelos indivíduos sobre a
sua realidade. Quando o assistente social procura ouvir o pesquisado, no caso
a pessoa ou o grupo que acompanha, sem interferir, ou pelo menos evitando o
máximo possível a sua interferência, temos aí uma preocupação com os aspectos
internos ou subjetivos.
A seguir, faremos uma discussão acerca das implicações da abordagem
qualitativa. Veja com atenção e perceba a importância dessa metodologia e os
cuidados que devemos ter ao adotá-la.

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CAPÍTULO 5 • PesqUisA sOCiAL i

5.5 Implicações da abordagem qualitativa


A pesquisa de caráter qualitativo, conforme demonstrado, surgiu para
atender às necessidades de compreensão dos fenômenos sociais não mensurá-
veis. Pesquisar qualitativamente é ter uma postura interpretativa dos fenômenos
estudados, o que não significa se esquivar totalmente da objetividade científica.
Caso o pesquisador se preocupe apenas em interpretar determinados aspectos
da realidade pesquisada, por meio de leituras de documentos, entrevistas e
observação, sem levar em conta os elementos essenciais que indiquem na sua
pesquisa caracteres de universalidade, logo não fará sentido os resultados alcan-
çados. Se assim for, o estudo passa a ser uma mera interpretação.
O fundamental da abordagem qualitativa é verificar os significados presentes
nos fenômenos estudados. Tais significados só são passíveis de compreensão
quando o pesquisador se desprende tanto de pré-noções, quanto da rigidez
típica da pesquisa objetivista. Assim é importante saber que, para os estudos das
realidades sociais, é preciso encontrar a explicação dos problemas estudados a
partir da própria fala e do olhar dos sujeitos pesquisados. Todavia não se trata
de interpretar de forma aleatória.
A perspectiva qualitativa se diferencia da quantitativa também pela forma
com que o pesquisador deve se dirigir aos seus pesquisados e a realidade com
a qual se está estudando. Não se trata apenas de reunir diversos dados por meio
de entrevistas e de observação, ou de uma infinidade de documentos para serem
consultados. É preciso ter a clareza dos métodos e das técnicas que corres-
pondam aos objetivos definidos no planejamento da pesquisa. Em seguida, se o
pesquisador procura de fato uma compreensão interna do fenômeno que deseja
estudar, logo, terá de lançar mão de uma metodologia qualitativa.
A postura do pesquisador que adota uma metodologia qualitativa já começa
na forma como ele percebe o problema a ser estudado e a forma com que vai reunir
os dados e elementos possíveis para a explicação do fenômeno social. Assim as
visitas às localidades, a entrevista, o contato com as pessoas, o olhar, o ambiente,
os gestos e as situações que poderão se configurar no decorrer da pesquisa, tudo
isso deve ser pensado cautelosamente. Até mesmo porque o pesquisador não
deve ser um estranho ou um intruso nas suas incursões com os seus pesquisados.
Trata-se de criar todo um ambiente e as condições para o favorecimento de coleta
dos elementos naturais no sentido de atender aos objetivos sinalizados.
Significa, portanto, se aproximar o máximo da realidade: como as pessoas vivem,
seus anseios, formas de lidar com a vida, brincadeiras, crenças, valores, entre outros
aspectos, devem ser cuidadosamente pensados para o momento da pesquisa. Não
se trata, também, de ser um planejador ou técnico preocupado em seguir criteriosa-
mente tudo o que traçou e colocou nos seus papéis. Mas se trata de ter uma conduta
de escuta, atenção e investigação, contanto que evite alterar o mínimo possível do
que costuma ser normal ou rotina no ambiente ou na comunidade estudada.

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CAPÍTULO 5 • PesqUisA sOCiAL i

No Serviço Social, a pesquisa qualitativa é de grande valia, tendo em vista


que, em geral, o assistente social atua com diferentes pessoas e realidades que
demandam um processo contínuo e efetivo de acompanhamento. Por exemplo,
o assistente social que atua com famílias vítimas de violência doméstica, embora
seja necessário traçar um perfil socioeconômico, é indispensável um período de
visitas para escutar as vítimas e, se possível, o agressor, a fim de saber quais
os motivos que levam ao ato de agressão. Com apenas a utilização de questio-
nários ou de estatísticas, não temos uma noção clara do problema e de como
contribuir para sua solução.
Assim a postura do assistente social não se resume apenas ao levantamento
de dados, mas a um acompanhamento contínuo, por meio de observação,
entrevista, análise documental e história de vida. O trabalho feito apenas por
meio de fichas serve para traçar um perfil geral, mas é necessário um trabalho
mais profundo, focado nos significados que os indivíduos (no caso, agressores e
vítimas) dão às suas realidades.

Reflita

Você viu que mesmo em uma pesquisa qualitativa, há momentos em que é


necessário trabalhar com dados quantitativos, como é o caso de se ter um
perfil socioeconômico de um determinado grupo social. Por outro lado, há
situações em que é exclusividade a abordagem qualitativa. Como podemos
ter certeza de que uma pesquisa qualitativa é digna de cientificidade? Qual
o problema que podemos encontrar, caso se baseie apenas em uma meto-
dologia para se compreender uma determinada realidade?

No capítulo seguinte, você estudará a abordagem compreensiva, inte-


racionista e fenomenológica. Essas são três formas de estudar determinados
fenômenos sociais com um olhar qualitativo, tendo como foco a interpretação
ou o sentido que os indivíduos dão às realidades ou às questões em que se
encontram envolvidos. Fique atento, pois o que você estudou até aqui dará
suporte para compreender as características e as utilidades dessas abordagens
no Serviço Social.

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CAPÍTULO 5 • PesqUisA sOCiAL i

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Minidicionário Houaiss da Língua


Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
MARTINELLI, Maria Lúcia. Seminário sobre metodologia qualitativa de pesquisa.
In: O uso de abordagens qualitativa na pesquisa em Serviço Social: um insti-
gante desafio. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Programa de
Estudos de Pós-Graduados em Serviço Social, Núcleo de Estudos e Pesquisa
sobre Identidade. 2. ed. São Paulo, 1994.
MINAYO, Maria Cecília de Souza et al (Org.). Pesquisa social: teoria, método e
criatividade. 19. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais. São Paulo:
Atlas, 1994.

Anotações

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6
Abordagem compreensiva, CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i

interacionista e
fenomenológica

Introdução
As disciplinas Teorias Sociológicas e Fundamentos Históricos, Teóricos e
Metodológicos do Serviço Social ajudaram você a identificar o método com-
preensivo de Weber no processo de prática do Serviço Social. Os conceitos e as
ideias desenvolvidas nas referidas disciplinas, como as teorias compreensiva e
fenomenológica, servirão para o aprofundamento dos temas desenvolvidos neste
capítulo. Dessa forma, você terá facilidade em distinguir o método compreensivo
e o fenomenológico, além de caracterizar o interacionismo simbólico e suas
principais formas de utilização no Serviço Social.

A abordagem teórica metodológica conhecida como compreensiva surgiu a


partir do pensador clássico Max Weber, que você estudou em Teorias Sociológicas.

Neste capítulo, você vai saber o que significa essa abordagem, além do
método fenomenológico e do interacionismo simbólico. Começaremos então
com a metodologia compreensiva.

6.1 O que é metodologia compreensiva?


Na busca para encontrar a melhor forma de estudar cientificamente a socie-
dade, que não fosse somente pela via positivista, surgiram as abordagens teóri-
co-metodológicas, tais como: compreensiva, com Weber; fenomenológica, com
Hurssel (1859-1938); e o interacionismo simbólico, com os teóricos da Escola
de Chicago (Cooley – 1864-1929; Mead – 1863-1931; Thomas – 1863-1947).
Tais abordagens demonstraram fortes influências nas análises sociais e tinham
como foco o indivíduo, ao buscar nos fatores subjetivos, no comportamento e
nas intenções os significados da ação humana. Vamos conhecer a teoria de
cada uma dessas abordagens.

6.1.1 Weber e o método compreensivo

O método compreensivo trata da metodologia utilizada por Weber para


estudar a realidade. Para tanto, esse teórico recorreu ao que ele chamou
de tipo ideal. Quando se fala em método compreensivo, pode-se falar

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CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i

também do método tipológico de Weber. O tipológico é uma construção


mental. Segundo Costa (1997, p. 75), o tipo ideal é previamente construí-
do e testado, depois aplicado a diferentes situações em que dado fenôme-
no possa ter ocorrido.

A perspectiva teórica metodológica de Weber se opõe ao positivismo e ao


funcionalismo, portanto não vê a realidade como algo pronto e dado, de modo
que as pessoas apenas se adaptam às regras e às normas da sociedade.

A forma de perceber e pesquisar a realidade, segundo esse teórico, deve se


pautar não na totalidade ou nas leis naturais, mas no ser humano como sujeito
histórico e capaz de ações para manter ou transformar uma realidade. Foi pelo
fato de buscar os significados, os sentidos e os motivos da ação social que a
metodologia weberiana foi também denominada de compreensiva.

6.1.2 A metodologia compreensiva e sua importância para o Serviço Social


Se a metodologia funcionalista tem sua importância para a análise das questões
sociais e da realidade, não deixa também de apresentar seus problemas e suas
limitações. Para o profissional que deseja uma prática incisiva e capaz de contri-
buir para mudanças significativas, o funcionalismo não é necessariamente a única
opção de metodologia. Pelo contrário, o assistente social vai buscar outros caminhos
que permitam uma maior liberdade e uma maior compreensão da realidade.

Na metodologia compreensiva, tem-se a oportunidade de trabalhar a partir


dos elementos ou dos fatores que carregam significados e permeiam a interpre-
tação coerente com a realidade. A pesquisa e a análise com base no método
compreensivo são feitas a partir dos dados qualitativos, uma vez que se trabalha
com a subjetividade para a explicação da realidade.

Cristina Costa (1997, p. 74) ensina que,


Para a sociologia weberiana, os acontecimentos que integram o
social têm origem nos indivíduos. O cientista parte de uma preocu-
pação com significado subjetivo, tanto para ele como para os demais
indivíduos que compõem a sociedade. Sua meta é compreender,
buscar os nexos causais que deem o sentido da ação social.

É com base na concepção de que os acontecimentos que integram o social


têm origem nos indivíduos que o pesquisador ou o assistente social tem a possi-
bilidade de buscar compreender determinada realidade. Observe que essa
postura é totalmente diferente da Funcionalista; deixamos de tratar um fato ou
problema como uma coisa em si, pronta, para buscar sua explicação a partir
dos fatores ou das ações dos indivíduos que possam explicar as causas possíveis
da realidade estudada.

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CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i

A diferença fundamental é o fato de buscar compreender a realidade a


partir dos significados dados pelos indivíduos às suas ações. Para um melhor
esclarecimento quanto ao que foi dito, vejamos um exemplo no Serviço Social:
para pesquisar sobre a violência doméstica em uma determinada comunidade,
o assistente social pode realizar uma pesquisa com o auxílio do método compre-
ensivo. Para tanto, procura primeiramente conceituar violência doméstica a
partir da realidade, isto é, busca exemplos e fatos que permitam um entendi-
mento do que seja violência doméstica. Em seguida, como profissional, busca
reunir os dados na comunidade estudada por meio de questionário, entrevistas,
observação, entre outros instrumentos e técnicas que ajudem na explicação do
caso em estudo.

A forma com que o pesquisador vai tratar seus dados e seus informantes
para a análise da realidade é o ponto fundamental que se diferencia do que
é feito na metodologia funcionalista. É que o pesquisador analisa, compara e
interpreta os dados com base nos significados ou nos motivos da ação. Não se
trata de um estudo isolado, mas de uma busca de compreensão do fenômeno
de maneira subjetiva, em vez de objetiva. A subjetividade dá liberdade no trata-
mento dos dados, uma vez que o pesquisador não se prende a regras e normas
e não trata os dados nem seus informantes como meros objetos.

No caso, a violência doméstica pode ser compreendida a partir de fatores


como o machismo, o preconceito contra a mulher, a falta de esclarecimentos dos
homens (agressores) quanto à vida doméstica e a visão que tem de mulher, entre
outros fatores.

Focalizar a pesquisa nos sentidos e nos significados é procurar compreen-


der a realidade a partir dos elementos não mensuráveis; é também ter a
percepção de que os acontecimentos não se dão por acaso, mas sim pelos
diversos sentidos, motivos que levam a uma dada realidade.

A metodologia compreensiva se coloca em oposição à positivista. A busca


para compreender a realidade leva em conta os significados e os sentidos ou
os motivos das ações sociais que podem explicar as causas dos fenômenos
sociais. A metodologia compreensiva pode utilizar instrumentos e técnicas
que também se encontram no funcionalismo, todavia é o enfoque especial
nos significados e a maneira de tratamento dos dados, bem como o respeito
ao indivíduo pesquisado que tornam o método compreensivo importante para
trabalhar no Serviço Social.

S.S._5oP.indb 201

06
CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i

Reflita

Tendo em vista que o método compreensivo de Weber prioriza o indivíduo


e o significado de suas ações, que implicações podemos ter com essa pers-
pectiva, uma vez que não se prende ao rigor da objetividade defendida
no positivismo?

A contribuição da metodologia compreensiva no estudo dos fenômenos sociais,


conforme você percebeu, se caracteriza por uma preocupação com o sujeito e sua
ação social. Isto é, o indivíduo e os motivos que eles dão às suas ações são prio-
ritários na concepção weberiana. Mas essa não é a única forma de estudar os
fenômenos sociais. A fenomenologia é também uma importante forma de buscar
compreender a sociedade e seus processos. Esse é nosso próximo assunto.

6.2 Fenomenologia: instrumentos e técnicas de investigação


O positivismo e o funcionalismo se configuram como concepções teóricas e
metodológicas voltadas para a reprodução da sociedade institucionalizada. Isso
significa que, embora apresentem aspectos importantes para a pesquisa social,
esses enfoques se limitam a aceitar a realidade como algo dado, de modo que
os indivíduos são tidos como meros objetos ou reflexos do todo. Em contrapo-
sição ao tratamento positivista da realidade, surgiu a perspectiva compreensiva
e a fenomenológica.
Conforme você já estudou na disciplina Análise de Prática Institucional, no
quarto período do curso, a fenomenologia tem sua preocupação na intenciona-
lidade e na essência do fenômeno.
Triviños (1994, p. 42-43) afirma que
A ideia fundamental, básica, da fenomenologia, é a noção de
intencionalidade. Esta intencionalidade é da consciência que
sempre está regida a um objeto. Isto tende a reconhecer o prin-
cípio que não existe objeto sem sujeito.

A ideia de que não há objeto sem sujeito já sugere uma percepção do


fenômeno social de maneira diferente do positivismo, cujos indivíduos são vistos
como meros objetos da sociedade. Essa é uma ótica importante para se analisar
e compreender as realidades sociais.
No Serviço Social, durante muito tempo, a prática do assistente social estava
voltada para uma postura técnica e simplesmente assistencialista, cujos profis-
sionais eram impelidos a seguir determinados padrões e regras institucionais
em seus trabalhos. A preocupação com os problemas sociais (a desigualdade,
CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i

a pobreza, as injustiças, a violência, entre outros) fez com que determinados


profissionais fizessem uma leitura diferenciada daquela exigida pelo sistema e
pelas organizações institucionalizadas.
A fenomenologia no Serviço Social passa a ser um recurso e uma forma
importante de prática e ação dos assistentes sociais em não servirem apenas
ao modelo ou ao padrão de comportamento institucionalizado, marcado por
práticas que não contribuem para a mudança da sociedade e para a melhoria
das condições de vida dos assistidos.

6.2.1 A fenomenologia – características e importância para o Serviço Social


Você pode estar se perguntando: mas por que a fenomenologia se existem
outros métodos? Qual a importância da fenomenologia para o Serviço Social?
Já ficou claro que a tentativa de entender a realidade por parte dos estu-
diosos levou à criação de métodos e técnicas que aproximassem o máximo
possível o pesquisador da realidade. Assim a fenomenologia se faz importante,
tendo em vista às carências deixadas por metodologias anteriores, dada à natu-
reza do objeto de estudo, bem como os objetivos a serem alcançados no estudo
da realidade.
Afirma Triviños (1994, p. 47) que “a fenomenologia exalta a interpre-
tação do mundo que surge intencionalmente à nossa consciência. Por isso, na
pesquisa, eleva o ator, com suas percepções dos fenômenos, sobre o observador
positivista”.

A fenomenologia ressalta a ideia de ser o mundo criado pela consciência.


A realidade é construída socialmente (TRIVIÑOS, 1994).

Essa perspectiva, assim como a compreensiva, dá prioridade ao sujeito. A


diferença quanto à fenomenologia e à metodologia compreensiva, é que esta
leva em conta os sentidos e os significados das ações e constrói mentalmente uma
tipologia do fenômeno estudado, para então conceituá-lo. Já na fenomenologia,
tem-se a prioridade no indivíduo, mais precisamente no que diz respeito à inten-
cionalidade e ao fenômeno em si, a partir do ponto de vista dos pesquisados.
A fenomenologia é muito mais uma abordagem interpretativa, que foge
totalmente a toda forma positivista, de modo que considera indispensável buscar
perceber os diversos ângulos possíveis que os sujeitos percebem ou tratam a
realidade. No caso, a análise da realidade prioriza a voz do sujeito, nos seus
diversos aspectos.

S.S._5oP.indb 203

06
CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i

Uma pesquisa fenomenológica visa aos sujeitos como indispensáveis, espe-


cialmente no que diz respeito ao modo como percebem ou expressam suas
interpretações da realidade.

Para um estudo sobre a condição da mulher trabalhadora em uma determi-


nada fábrica, por exemplo, o pesquisador que adota a fenomenologia como
central na sua investigação se utiliza de técnicas que permitem uma leitura quali-
tativa. Assim a observação participante, a entrevista, o estudo de caso, a história
de vida, a análise de documentos pessoais e não pessoais podem auxiliar na
compreensão do fenômeno.
O fundamental na fenomenologia é buscar compreender o fenômeno em
si, a sua essência, pelo olhar do pesquisado, do seu cotidiano, de sua história
e de suas narrativas. O pesquisador não atua como um senhor de tudo, cujas
informações obtidas estão ao seu dispor para fazer o que bem quiser. Na feno-
menologia, é indispensável o contexto cultural em que se apresenta o fenômeno.
Triviños (1994, p. 48) assevera que
O contexto cultural onde se apresentam os fenômenos, através da
interpretação deles, estabelece questionamentos, discussões dos
pressupostos e uma busca dos significados da intencionalidade
do sujeito frente à realidade. Desta maneira, o conhecer depende
do mundo cultural do sujeito.

Nessa perspectiva, tem-se a percepção de que o fenômeno estudado para


compreender a realidade depende de como os sujeitos criam e recriam a reali-
dade. O pesquisador, nesse sentido, atua como observador atento, não somente
a partir de um indivíduo em si, mas de todos aqueles que fazem parte da reali-
dade estudada.
Em um estudo fenomenológico de qualquer questão social, são utilizadas as
técnicas e os instrumentos que forem necessários, contanto que o tratamento do
material e da análise não se coloque de maneira determinista, como acontece
nas pesquisas de cunho objetivista.
O tratamento da realidade com base na fenomenologia se dá em contra-
posição ao modelo positivista. A base da perspectiva fenomenológica é a prio-
ridade conferida ao sujeito, à intencionalidade e ao estudo da essência do
fenômeno. Os instrumentos e as técnicas da fenomenologia podem ser aqueles
que você encontra na abordagem compreensiva, como: a observação partici-
pante, o estudo de caso, a entrevista, a análise documental e a história oral.
A diferença básica dessa abordagem em relação às demais está na forma de
tratamento do material, bem como dos sujeitos pesquisados. Dessa forma, até
CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i

mesmo determinados instrumentos, como o questionário, tipicamente quantita-


tivo, podem ter um tratamento qualitativo.

Saiba mais

O filme Terra Fria é uma importante dica para você assistir e, em seguida,
tentar fazer uma relação com a fenomenologia. Trata-se da história real de
uma americana que sofre assédio sexual e trava uma verdadeira batalha
para superar o preconceito e a apatia da sociedade quanto ao problema.
O filme foi produzido em 2005 e a direção é de Niki Caro. É uma adapta-
ção romantizada do livro que mostra o primeiro caso de processo judicial
por conta de assédio sexual nos EUA.
O centro da ação é Josey (Charlize Theron) que, em 1994, tornou-se marco
nos direitos femininos ao levar à Justiça reclamações em relação ao assédio
sexual que sofreu quando trabalhava em uma mina. A análise fenomenológi-
ca permite um olhar profundo e atento sobre problemas como os relaciona-
dos ao assédio sexual, tendo em vista que, nessa perspectiva, o observador
se desprende de suas pré-noções e da ousadia objetivista e, assim, poderá
compreender o drama dos que foram vítimas desse tipo de assédio.

Você verá mais sobre o interacionismo simbólico a seguir. Agora nos


propomos a fazer uma discussão quanto à relação entre essa abordagem e
outras metodologias qualitativas, como a sociologia compreensiva de Weber e
a fenomenologia. Atente para as particularidades destacadas quanto à perspec-
tiva do interacionismo simbólico e suas implicações no Serviço Social.

6.3 O interacionismo simbólico


Você já teve oportunidade de conhecer os aspectos centrais do interacio-
nismo simbólico, no capítulo anterior. Assim será feito aqui uma discussão sobre
essa perspectiva teórica e metodológica, sua relação com a abordagem compre-
ensiva e a fenomenológica e implicações nos estudos da sociedade.
O interacionismo simbólico já recebeu esse nome por priorizar os sentidos ou
os significados que os indivíduos dão à sua realidade. Evidentemente, a metodo-
logia weberiana e a fenomenologia também fazem isso, porém a particularidade
do interacionismo está em uma forma de pesquisa comprometida com uma possível
intervenção com vistas à compreensão e à solução de problemas tipicamente predo-
minantes na sociedade moderna, principalmente na vida urbana: violência, uso de
drogas, imigração, conflitos étnicos, desemprego, pobreza, entre outros similares.
Os trabalhos mais emblemáticos de cunho interacionista simbólico surgiram
da Escola de Chicago. Essa Escola “abriu caminho para as correntes teóricas

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CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i

que, mesmo não podendo ser diretamente associadas a ela, não deixam de
apresentar certa influência de sua abordagem metodológica, como a fenomeno-
logia sociológica e a etnometodologia” lembra Goldenberg (1999, p. 31).
A forma como os estudiosos da Escola de Chicago realizaram suas pesquisas
e as analisaram à luz de uma perspectiva qualitativa contribuiu sensivelmente
para o desenvolvimento de novas pesquisas dessa natureza. É importante saber
que os interacionistas não descartaram o uso de técnicas quantitativas em suas
pesquisas, mas adotaram uma leitura interpretativa a partir de técnicas e instru-
mentos de mensuração. Por exemplo, para realizar um estudo sobre os imigrantes
e os delinquentes na cidade de Chicago, evidentemente que foi necessário
também traçar um perfil socioeconômico dos indivíduos, além, evidentemente,
de realizarem entrevistas, observação, pesquisa documental e história de vida.
Goldenberg (1999, p. 30) destaca que um dos teóricos da Escola de
Chicago, E. Burgess, considerado um dos mais representativos desse grupo,
[...] apontava, em 1927, que os métodos da estatística e dos
estudos de caso não são conflitivos, mas mutuamente comple-
mentares e que a interação dos dois métodos poderia ser muito
fecunda [...] as comparações estatísticas poderiam sugerir pistas
para a pesquisa feita com estudos de caso, e que estes poderiam,
trazendo à luz os processos sociais, conduzir a indicadores esta-
tísticos mais adequados.

A utilização de instrumentos e técnicas de mensuração realizada pela Escola


de Chicago demonstra que não é necessário radicalizar no sentido de só traba-
lhar com uma metodologia para qualquer pesquisa que se deseja realizar. O
importante é a forma como se utilizam instrumentos e técnicas no decorrer da
pesquisa e na análise e na interpretação dos dados.
Uma pesquisa em Serviço Social sobre as estratégias de sobrevivência dos
desempregados em uma determinada comunidade requer o levantamento da
população de desempregados, o perfil socioeconômico, entre outras necessi-
dades. Observe, portanto, que, conforme fizeram os interacionistas da Escola de
Chicago, no Serviço Social não é diferente.
É preciso, sobretudo, ter a clareza de que o olhar ou o lidar com o objeto
a ser estudado não se reduz à simples disposição de dados, aos gráficos ou às
tabelas, como é típico nas abordagens quantitativas e técnicas. É indispensável
que se utilize de recursos máximos possíveis que permitam um conhecimento
cada vez mais aprofundado acerca do fenômeno estudado. Assim a observação
participante, por exemplo, é uma técnica fundamental, em casos como o estudo
sobre a questão dos desempregos e dos desempregados.
Sobre a observação participante em uma pesquisa, Haguette (1987) enfa-
tiza que os interacionistas simbólicos, em razão da sua própria preocupação
em descobrir o “sentido” que as coisas têm para a ação humana, julgavam que
CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i

as técnicas convencionais eram incapazes de captar o sentido, de modo que a


observação participante se mostra a mais apropriada para fazê-lo.
Com a preferência da metodologia qualitativa, o termo trabalho de campo
passou a ter uma conotação ampla nos estudos da sociedade e seus processos;
daí, acompanhando a ideia de se aproximar o máximo das realidades pesqui-
sadas, os cientistas sociais utilizam de técnicas como: entrevistas, história de
vida e, quando necessário, todo um processo metodológico de um estudo empí-
rico, conforme defende Haguette (1987).

A preocupação com uma metodologia que demonstre maior aproximação


do pesquisador com os sujeitos pesquisados e, portanto, com seu contexto,
implica uma conduta desprovida da rigidez metódica defendida pelos objeti-
vistas. Nesse sentido, é salutar saber em que medida essa conduta contribui
de fato para a compreensão do problema estudado ou se corre o risco de
o pesquisador confundir-se e realizar uma pesquisa sem um rigor necessário
para que os resultados do seu trabalho tenham um caráter de cientificidade.

Determinados cientistas sociais questionam o caráter verdadeiro ou científico


das pesquisas qualitativas, como as realizadas por diferentes pesquisadores, tal
qual a dos interacionistas simbólicos. O fato é que os defensores da abordagem
qualitativa têm consciência da necessidade de se demonstrar com segurança os
resultados de sua pesquisa, com coerência, precisão e, portanto, com um grau de
confiança crescente. Com isso, nota-se que os qualitativistas não ignoram a neces-
sidade de um rigor científico nas pesquisas sociais, daí surgem métodos cada vez
mais comprometidos com a explicação das causas dos fenômenos social.
Bruyn citado por Haguette (1987, p. 61) afirma que
Florence Klukhohn tem sido referida na literatura sobre obser-
vação participante como a primeira a ter utilizado o termo e
a ter definido a regra de que o pesquisador participante deve
compartilhar nas atividades de vida e sentimento das pessoas em
termos de relações face a face, regra derivada de seu trabalho de
campo em uma vila mexicana.

Segundo a perspectiva demonstrada na citação, uma pesquisa qualitativa


requer o envolvimento do pesquisador no seu trabalho de campo. Significa que,
de certa forma, os valores estão presentes o tempo todo na relação pesquisador
e pesquisado. No caso de pesquisas, como as baseadas na perspectiva compre-
ensiva weberiana, no interacionismo simbólico e na fenomenologia, é preciso um
forte “jogo de cintura” do cientista social para que não comprometa o resultado
do trabalho.

S.S._5oP.indb 207

06
CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i

Assim o trabalho dos cientistas sociais mais voltados para a metodologia


qualitativa tem sido redobrado, uma vez que procura explicar as causas dos
fenômenos sociais a partir da prioridade nos aspectos subjetivos. Com isso,
opõe-se ao objetivismo e ao tecnicismo tão forte na abordagem quantitativa.
Conforme você já teve a oportunidade de estudar em disciplinas ante-
riores, como Introdução ao Serviço Social e Aspectos Históricos, Teóricos e
Metodológicos do Serviço Social, o processo de Reconceituação Social repre-
senta um rompimento com a postura positivista tão predominante durante muito
tempo no Serviço Social.
A partir de então, pesquisas e ações têm sido marcadas por concepções e
práticas voltadas para o qualitativo, que se traduzem em subjetivismo. Se antes
havia uma predominância do tecnicismo na prática do Serviço Social, agora,
com a Reconceituação, a crítica é quanto ao uso indiscriminado do qualitativo.
Em outros termos, significa que, na ânsia de se aproximar mais da realidade
social, isto é, das pessoas e de suas realidades, grande parte do Serviço Social
tem se precipitado nas suas conclusões no que se refere às pesquisas e às ações
junto às populações.
Goldenberg (1999, p. 51) aponta que
Um dos principais problemas a ser enfrentado na pesquisa quali-
tativa diz respeito à possível contaminação dos seus resultados
em função da personalidade do pesquisador e de seus valores.
O pesquisador interfere nas respostas do grupo ou indivíduo
que pesquisa. A melhor maneira de controlar esta interferência
é tendo consciência de como sua presença afeta o grupo e até
que ponto este fato pode ser minimizado ou, inclusive, analisado
como dado de pesquisa.

A personalidade do pesquisador não pode influenciar a pessoa ou o grupo


pesquisado. Essa é, portanto, uma tarefa difícil no que tange à pesquisa quali-
tativa, tendo em vista que o pesquisador, em geral, está envolvido com o grupo
estudado e, por sua vez, pode influenciar decisivamente no modo de vida ou no
comportamento do grupo. Assim o resultado da pesquisa pode ser comprome-
tido, isto é, as conclusões a que o pesquisador chegar pode ser fruto daquilo que
ele mesmo construiu ou influenciou.

Reflita

Quais os limites que devem ser colocados ao pesquisador, ao realizar uma


pesquisa de cunho qualitativo? De que forma podemos concluir que uma
pesquisa qualitativa representa de fato a realidade?
CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i

Diante das questões apresentadas, você já pode depreender que a abor-


dagem qualitativa, seja perspectiva teórica e metodológica compreensiva, feno-
menologia ou interacionismo simbólico, exige uma postura adequada por parte
do pesquisador para cada realidade ou objeto a serem estudados.
Nesse sentido, as técnicas e os instrumentos de pesquisa, a conduta do pesqui-
sador e os desafios surgidos no processo da pesquisa correspondem à natureza
da pesquisa qualitativa. Em outras palavras, significa que, para cada objeto e
objetivos, a metodologia estabelecida vai depender também das configurações
que se dão em todo o processo da pesquisa, isto é, antes, durante e depois.
Os temas do próximo capítulo são: dialética, complexidade e reconstrução
do objeto no Serviço Social. Destacaremos as principais características dessas
perspectivas teóricas e metodológicas e sua relação com o Serviço Social. Você
vai perceber como no campo do Serviço Social essas duas abordagens têm sua
relevância para compreender os problemas e os desafios da sociedade atual.

Anotações
CAPÍTULO 6 • PesqUisA sOCiAL i
7
Dialética, complexidade CAPÍTULO 7 • PesqUisA sOCiAL i

e reconstrução do objeto
no Serviço Social

Introdução
Alguns conteúdos são necessários para a continuidade de seus estudos.
Retome, na disciplina Teorias Sociológicas, vista no primeiro período do curso,
o tema referente aos clássicos da Sociologia e os relacionados à globalização
e à pós-modernidade. Nessa disciplina, você teve a oportunidade de conhecer
a metodologia dialética do teórico Karl Marx, agora é importante que você
retome os conceitos utilizados por ele para que possa saber utilizá-los na prática
do Serviço Social. Esses assuntos lhe ajudarão a conceituar o método dialético,
suas características centrais e sua influência no Serviço Social e a conhecer a
teoria da complexidade.
O método dialético surge em contraposição ao modelo positivista. Sua
atenção está voltada para elementos como o movimento, a dinâmica, a contra-
dição, o conflito e a totalidade. Quanto à abordagem da complexidade, surge
com a dinâmica da sociedade atual, mais especificamente com as mudanças
ocorridas em função do avanço das tecnologias e com a globalização. Tais
fatores apresentam uma forte influência no comportamento dos indivíduos e das
coletividades, de modo que há uma constante mudança de atitudes e o surgi-
mento de uma atmosfera imprecisa, em mutação, o que se caracteriza nas rela-
ções sociais fragmentadas.
Neste capítulo, você saberá como essas abordagens se apresentam diante
das demandas de explicação das realidades e quais suas implicações no Serviço
Social. Começaremos pelo método dialético.

7.1 O método dialético


O termo dialético está associado à ideia de algo que envolve pelo menos
duas coisas em um mesmo fenômeno, bem como a ideia de diálogo. No
Minidicionário Houaiss (2004, p. 246), encontra-se a seguinte definição sobre
dialética: “1. oposição, conflito originado pela contradição entre princípios
teóricos ou fenômenos empíricos, 2. busca da verdade através do diálogo”.
Segundo Marconi e Lakatos (2000), o conceito de dialética, na Grécia
Antiga, estava associado ao diálogo, especialmente no que tange à argumen-
tação, que fazia clara distinção dos conceitos envolvidos na discussão. As prin-
cipais contribuições sobre esse método, especialmente na sociedade moderna,
CAPÍTULO 7 • PesqUisA sOCiAL i

partem de dois teóricos: Hegel e Karl Marx. A diferença fundamental entre esses
teóricos é que, enquanto o primeiro defende uma dialética idealista, Marx se
contrapõe a essa perspectiva e faz a análise da sociedade a partir das condi-
ções históricas e materiais estabelecidas pelos homens. Isto é, Marx defende
uma dialética materialista.
Politzer citado por Marconi e Lakatos (2000, p. 83) diz que, para Engels,
parceiro teórico de Marx, a dialética é
A grande ideia fundamental segundo a qual o mundo não deve
ser considerado como um complexo de coisas acabadas, mas
como um complexo de processos em que seus reflexos intelectuais
em nosso cérebro, as ideias, passam por uma mudança ininter-
rupta de devir e decadência, em que, finalmente, apesar de todos
os insucessos aparentes e retrocessos momentâneos, um desenvol-
vimento progressivo acaba por se fazer hoje.

Observe que, nessa perspectiva marxista, o que é importante em uma


pesquisa ou até mesmo em uma situação de ação ou prática social junto à socie-
dade é perceber a realidade como um processo, cujas contradições, conflitos
e movimentos fazem a realidade ser o que é. Isso significa que Marx, além de
buscar toda uma objetividade científica, não se prendia à ideia de coisa pronta,
acabada e marcada por regras a serem seguidas pelos indivíduos.
Conforme Marconi e Lakatos (2000), a dialética apresenta quatro leis
básicas, que são:
a) ação recíproca, unidade polar ou tudo se relaciona;
b) mudança dialética, negação da negação ou tudo se transforma;
c) passagem da quantidade à qualidade ou mudança qualitativa;
d) interpenetração dos contrários, contradição ou luta dos contrários.
A ideia de ação recíproca leva em conta que a sociedade não deve ser
analisada como se tudo fosse coisas isoladas, mas sim que apresenta uma
conexão com vários elementos, coisas ou situações. Dessa forma, “tanto a natu-
reza quanto a sociedade são compostas de objetos e fenômenos organicamente
ligados entre si, dependendo uns dos outros e, ao mesmo tempo, condicionan-
do-se reciprocamente” (MARCONI; LAKATOS, 2000, p. 83-84).
Quanto à mudança dialética, dá-se pela contradição inerente ao fenômeno
de forma que “todo o movimento, transformação ou desenvolvimento opera-se
por meio das contradições ou mediante a negação de uma coisa – essa negação
refere-se à transformação das coisas” (MARCONI; LAKATOS, 2000, p. 85). Dito
de outra forma, a negação de uma coisa passa a ser o ponto das transformações
das coisas em seu contrário.
No que se refere à passagem da quantidade à qualidade, essa lei considera
que, quando há situações em que aumenta ou diminui a quantidade, tem-se a
CAPÍTULO 7 • PesqUisA sOCiAL i

passagem para a qualidade. Isso não significa que sempre que há quantidade
há qualidade, mas sim em algumas situações. Um exemplo disso é quanto à
água que, ao alcançar 100 graus Celsius, evapora e, no caso contrário, abaixo
de zero grau, tem-se a passagem para o estado sólido, o que implica uma
mudança qualitativa.
Já quanto à interpenetração dos contrários, segundo Marconi e Lakatos
(2000), considerando que toda realidade é movimento, e que o movimento,
sendo universal, assume as formas quantitativas e qualitativas, necessariamente
ligadas entre si e que se transformam uma na outra, a pergunta que surge é:
qual o motor da mudança e, em particular, da transformação da quantidade em
qualidade ou de uma qualidade para outra?
Conforme Marconi e Lakatos (2000), as principais características da contra-
dição como princípio de desenvolvimento são: contradição interna, contradição
é inovadora, aula dos contrários.
O método dialético materialista no Serviço Social tem sua relevância por
fornecer uma visão questionadora em torno da realidade e, consequentemente,
das questões sociais. A partir do final da década de 1970 no Brasil, essa abor-
dagem tem exercido forte influência na prática do assistente social, tendo em
vista o contexto da ditadura e das demandas sociais.
Preocupados com a necessidade de responder de maneira incisiva às neces-
sidades sociais, os assistentes sociais passam a tecer críticas à prática assis-
tencialista, que perdurou por longos anos no Serviço Social. Nesse contexto,
o materialismo dialético se tornou fundamental como suporte teórico para o
processo de reconceituação da profissão.
A dialética se configura como um dos métodos fundamentais para a prática
do Serviço Social. Uma das características centrais da dialética diz respeito à
dinâmica, às contradições, ao conflito e à totalidade. Com o pensamento de Karl
Marx, a realidade é analisada a partir das condições sociais e históricas estabe-
lecidas pelos homens. Nessa perspectiva, tem-se a realidade como um processo.
No próximo item, trabalharemos os instrumentos e as técnicas de investi-
gação dialética. Leia atentamente e compare com outras metodologias qualita-
tivas. Você perceberá que os instrumentos e as técnicas não se diferenciam dos
demais, apenas a forma como se trabalham os dados e se percebe a realidade
é que constitui a diferença fundamental.

7.1.1 Instrumentos e técnicas de investigação dialética


Você estudou anteriormente sobre o conceito e as características do método
dialético. Vejamos agora os instrumentos e as técnicas dialéticas utilizadas no
Serviço Social. Para tanto, é importante saber qual a base teórica do método
dialético, bem como saber que o importante desse método é a capacidade que

S.S._5oP.indb 213

06
CAPÍTULO 7 • PesqUisA sOCiAL i

se pode ter de percepção crítica da realidade que se apresenta em constante


movimento, com suas contradições e conflitos.
Qualquer pesquisa científica exige uma metodologia que, por sua vez,
requer os instrumentos e as técnicas necessárias para atender aos objetivos do
pesquisador. Para tanto, é necessário saber qual a perspectiva teórica que dá a
sustentação para a pesquisa desejada.
Se está claro para o pesquisador o enfoque teórico à sua pesquisa, resta
colocar em prática, conforme os objetivos e a natureza do objeto estudado. Os
instrumentos e as técnicas dialéticas no Serviço Social são utilizados conforme
os objetivos apontados no projeto de pesquisa científica. Podem ser utilizados
na abordagem qualitativa e quantitativa, todavia a dialética se serve mais espe-
cificamente da abordagem qualitativa.
Triviños (1994, p. 73) ensina que
O pesquisador que segue uma linha teórica baseada no materia-
lismo dialético deve ter presente em seu estudo uma concepção
dialética da realidade natural e social e do pensamento, a mate-
rialidade dos fenômenos e que estes são possíveis de conhecer.
Estes princípios básicos do marxismo devem ser completados com
a ideia de que existe uma realidade objetiva fora da consciência e
que esta consciência é um produto resultado da evolução do mate-
rial, o que significa que para o marxismo a matéria é o principio
primeiro e a consciência é o aspecto secundário, o derivado.

Conforme se percebe nas palavras do autor, a pesquisa dialética materia-


lista tem como princípio a matéria como essencial nos fenômenos, de modo que
estes são possíveis de serem conhecidos também quando se trata da realidade
social. Assim, para o pesquisador, essa concepção conduz à busca da objetivi-
dade. Outro fator importante nessa perspectiva é saber que a realidade é fruto
da consciência que, por sua vez, deriva da matéria, ou seja, do objetivo, da
realidade concreta e do fruto das ações humanas.
Para o assistente social, é importante seguir essa perspectiva teórica meto-
dológica dialética, especialmente quando vai tratar das questões sociais, da
realidade objetiva, como é o caso dos problemas ou dos fatos sociais, tais como:
fome, violência, prostituição, desemprego, falta de moradia, entre outros.
Para o assistente social, trabalhar na perspectiva dialética materialista é
ter a clareza de que as questões sociais, que são reais, são frutos do modo de
agir, pensar e da prática dos homens em um determinado contexto histórico.
Observe, portanto, que, na pesquisa, interessa a forma da percepção dos fatos
concretos e do tratamento dos dados.
Quanto aos instrumentos e às técnicas de pesquisa, aqueles que foram arro-
lados quando tratamos sobre Funcionalismo e Estruturalismo, tais como questioná-
rios, entrevistas, observações, estudo de caso e análise documental, são também
CAPÍTULO 7 • PesqUisA sOCiAL i

utilizados na pesquisa dialética materialista. Todavia é a forma de análise e de


percepção da realidade que faz com que a pesquisa seja de fato uma pesquisa
materialista e dialética.
No caso de um assistente social que vai estudar a relação entre alcoo-
lismo e violência doméstica em uma dada localidade, ele parte do princípio
de que esse problema não acontece de maneira isolada, como se fosse um
único indivíduo alcoólatra ou a família. Na percepção dialética materialista,
busca-se analisar todo o contexto histórico, social, cultural, político, ideológico
e religioso dos indivíduos que estão na situação, para então saber o porquê do
alcoolismo e da violência.
No caso, a resposta está no próprio contexto ou na conjuntura, o que faz com
que haja uma determinada realidade que favoreça o problema estudado. Não
se trata de justificar o alcoolismo e a violência, mas sim de buscar compreender
o contexto e os fatores que os favorecem para que se possam buscar ações
concretas a fim de contribuir com a solução do problema.
Triviños (1994, p. 73) afirma que
Não é possível, porém, para o pesquisador, imbuído de uma
concepção marxista da realidade, realizar uma investigação no
campo social [...], se não tem ideia clara dos conceitos capitais
do materialismo histórico: estrutura das formações socioeconô-
micas, modos de produção, força e relações de produção, classes
sociais, ideologia, que é a sociedade, base e superestrutura da
sociedade, historia da sociedade como sucessão de formações
socioeconômicas, consciência social e consciência individual,
cultura como Fenômeno social, progresso social, concepção do
homem, ideia da personalidade, educação, etc.

O autor chama a atenção para a necessidade de o profissional conhecer


a teoria marxista e seus conceitos fundamentais para a análise social. Ainda
na sua concepção, “a natureza dos métodos e das técnicas para o estudo do
fenômeno depende, principalmente, das características do conteúdo do mesmo”
(TRIVIÑOS, 1987, p. 74). É importante salientar também que, em uma pesquisa
marxista, diferentes tipos de teoria podem orientar o pesquisador, todavia as
teorias devem focalizar a pesquisa social e o materialismo histórico.
Os instrumentos e as técnicas utilizados no materialismo dialético são prati-
camente os mesmos vistos nas pesquisas funcionalistas e estruturalistas. O que
diferencia uma abordagem dialética materialista das demais é a forma de
tratamento dos dados, a concepção do pesquisador sobre a realidade a partir
da ideia de que a realidade é construída historicamente, é objetiva e é fruto,
portanto, da materialidade, isto é, está presente na prática, como é o caso de
desemprego ou violência, entre outros. Uma pesquisa nessa perspectiva leva
em conta as contradições, a dinâmica, os conflitos e o movimento, inerentes
ao próprio fenômeno.
CAPÍTULO 7 • PesqUisA sOCiAL i

Até o presente momento, você estudou sobre instrumentos e técnicas utili-


zados na metodologia dialética marxista ou materialista. Viu também que os
instrumentos e as técnicas dialéticas são praticamente os mesmos dos outros
tipos de metodologias. O diferencial está na concepção materialista da história
e da realidade, bem como na forma de tratamento dos dados e da análise crítica
da realidade estudada.
Você vai estudar, no próximo item, a perspectiva teórica da complexidade.
Essa perspectiva se diferencia das que foram tratadas até o momento, mas nem
tanto, uma vez que vai se basear no que o funcionalismo, o estruturalismo e o
marxismo já trabalharam para analisar e compreender a realidade.

7.2 A teoria da complexidade


A ideia de complexidade tem a ver com a dinâmica da sociedade marcada
pela industrialização, pela tecnologia e pela globalização. Igualmente, pensar
em complexidade, quando se quer analisar a sociedade, é ter a percepção
quanto à necessidade de pensar as teorias já existentes, bem como os métodos
e as técnicas que auxiliam na análise e na interpretação das realidades.
O pensamento complexo surge no final do século XX em função das demandas
sociais, especialmente no que diz respeito à necessidade de se ter um conjunto
de ideias e metodologias que favoreça a análise da realidade, tendo em vista a
dinâmica provocada com a industrialização e com as tecnologias.
Com o uso da tecnologia de comunicação cada vez mais avançada, princi-
palmente quando se tem a telefonia móvel, a internet e as novas máquinas e os
equipamentos de última geração que, de alguma forma, influenciam no cotidiano
das pessoas e das coletividades, a complexidade se faz presente. Entre os teóricos
da complexidade, destacam-se Edgar Morin (1921) e Anthony Giddens, soció-
logo inglês (1938). Morin é conhecido como o criador do pensamento complexo.
Sua principais obras são: O método, Introdução ao pensamento complexo,
Ciência com consciência e Os sete saberes necessários para a educação do
futuro. Quanto a Giddens, temos as obras As consequências da modernidade, A
constiuição da sociedade, Modernidade e identidade, entre outras.
A seguir, destacaremos as características da complexidade. Perceba como
essa forma de pensamento se adapta às necessidades de compreensão da dinâ-
mica da sociedade atual, em que tudo segue em constantes mudanças e exige
das pessoas a racionalidade e a capacidade de percepção crítica nas suas
relações com as pessoas e com as coisas.

7.2.1 As características da complexidade


Bolgar (s/d, s/p) expõe que,
Segundo Genelot, podemos chamar de complexo o que não
podemos compreender e dominar completamente, e que se mani-
festa em três níveis: a realidade é presumida complexa em si
CAPÍTULO 7 • PesqUisA sOCiAL i

mesma; os fenômenos não são complexos se o observador não


os vê como tal; nossa representações da realidade, condicionam
nosso comportamento, ou seja, a complexidade é construída a
partir de nossas representações/repertório.

A complexidade, como uma construção a partir de nossas representações,


é um dado importante para se buscar compreender a realidade. Quanto às
outras duas primeiras características, observe que nos dá a ideia de se buscar
entender um determinado fenômeno como uma teia de significados, o que nos
leva a pensar nas teorias como a compreensiva e a fenomenologia, também
importantes no Serviço Social.

O pensamento complexo, resultado e resultante da reforma do pensamento e do


conhecimento, coloca-se contrário ao tipo de pensamento clássico, cujas respos-
tas para as diversas questões tendem a uma postura determinista e linear. Pode-
mos encontrar nessas perspectivas certa liberdade para refletir sobre os diversos
fenômenos que estão presentes no cotidiano da sociedade pós-industrial.

Adriana Regina de Almeida e outros (s/d, s/p) ensinam que


O pensamento complexo demanda uma crise existencial, uma
forma de pensar e ser que aponta para o caos generativo de
saberes e fazeres. Desconstruir, como condição que viabiliza a
(re)ordenação vem provocando, ao longo da morte quântica e
das pequenas mortes a cada instante, um leque de alteridades
sempre em expansão.

Nessa linha de raciocínio, tem-se uma forma de pensamento que procura


revolucionar as ciências, especialmente as sociais, que trabalham com o ser
humano e suas várias relações sociais. No caso do Serviço Social, essa forma
de pensamento tem encontrado eco, de modo a surgir, inclusive, cursos cujos
projetos políticos pedagógicos têm adotado a linha da complexidade, ao
contrário dos paradigmas clássicos.
Morin citado por Almeida e outros (s/d, s/p) expõe que
A complexidade nos torna sensíveis a evidências adormecidas:
a impossibilidade de expulsar a incerteza do conhecimento. A
irrupção conjunta da desordem do observador, no coração do
conhecimento, traz uma incerteza, não somente na descrição e
na previsão, mas quanto à própria natureza da desordem e a
própria natureza do estático observador.

Conforme nos aponta Morin citado por Almeida e outros (s/d, s/p), a ideia
de complexidade leva à quebra das certezas absolutas, o que dá margem para

S.S._5oP.indb 217

06
CAPÍTULO 7 • PesqUisA sOCiAL i

se buscar novas explicações acerca da realidade sem nos prendermos a modelos


prontos para a análise das questões sociais. Mas é importante também ter em
conta a capacidade de análise, a partir desse modelo, de perceber os fatos
ou os fenômenos sociais formados por uma diversidade de outros fenômenos,
processos e situações. No caso da multiculturalidade, por exemplo, temos a
complexidade presente, especialmente quando se percebe a realidade formada
por uma infinidade de fatores e que levam a uma nova identidade social.

Saiba mais

Indicamos para você a leitura de duas obras de Giddens, sobre a ideia


de complexidade, são elas: As consequências da modernidade, publicada
pela editora Unesp, em 2002, e Modernidade e identidade, publicada
pela Jorge Zahar Editor, em 2002. Trata-se de obras fundamentais para
compreender de forma mais aprofundada o assunto deste capítulo.

No pensamento complexo, as teorias já vistas (funcionalismo, estruturalismo,


fenomenologia, marxismo) não deixam de apresentar sua validade para a
análise da sociedade, todavia não se deve ter uma dessas abordagens teóricas
e metodológicas como a perfeita para atender às necessidades de explicação
das realidades sociais. Portanto a complexidade não nega a validade das ideias
clássicas, porém reserva suas críticas ao pensamento determinista e unilinear.
O pensamento complexo surge como uma nova abordagem que sinaliza
para a necessidade de buscar outra perspectiva de análise social que não se
prenda aos determinismos e à linearidade. Cabe à complexidade reunir o que
tem de fundamental no que já foi construído em busca de uma análise objetiva
da realidade.
Não se nega, no paradigma da complexidade, a importância de se estudar
a sociedade com base em determinadas ideias como o positivismo, o funciona-
lismo, o marxismo e a fenomenologia. Por outro lado, tem-se a necessidade de
perceber a realidade formada por uma teia de situações, por processos e signi-
ficados, os quais exigem uma nova forma de análise baseada na desconstrução
e na percepção crítica e na ideia de complementaridade.
A abordagem dialética e a da complexidade contribuem para a discussão
quanto ao papel do Serviço Social na sociedade e a necessidade de sempre se
atualizar. Nesse sentido, pensar na prática do Serviço Social é também pensar
nos paradigmas que permeiam suas atividades e discussões. Temos, portanto,
a necessidade de refletir sobre o objeto do Serviço Social e sobre a ação do
profissional assistente social.

06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 218 of 460


CAPÍTULO 7 • PesqUisA sOCiAL i

Você já estudou sobre a importância da investigação como dimensão consti-


tutiva do trabalho do assistente social e também como subsídio para a produção
do conhecimento sobre processos sociais e reconstrução do objeto da ação
profissional. Agora é indispensável conhecer o problema e o contexto no qual se
atua. Vamos tratar sobre isso agora.

7.3 A construção do objeto de ação profissional


Quando se trata da construção do objeto de ação profissional, é necessário
considerar que a forma com que determinado objeto é construído está relacio-
nada a todo um processo mental ou ideal, a partir da realidade. Baptista (1993,
p. 4) afirma que é necessário considerar que
O objeto de ação profissional é o aspecto determinado de uma
realidade total sobre o qual se irá formular um conjunto de refle-
xões e de proposições para a intervenção. Os limites que confi-
guram esse objeto é ima abstração, uma vez que na realidade
social o aspecto delimitado continua mantendo suas interrelações
com o universo mais amplo; no entanto, esta delimitação se justi-
fica com um esforço no sentido de tornar consciente, deliberado
e racional, a reflexão e a ação.

A realidade social implica uma variedade de elementos e de fatores que


exigem uma compreensão ampla do pesquisador. Para efeito de ação, o assis-
tente social, ao se deparar com uma determinada realidade em que vai traba-
lhar, tem diante de si o desafio de conhecer de maneira global quais os fatores
que conduzem a um tipo de problema que envolve uma comunidade.
Quando o assistente social é conduzido a uma situação problema e precisa
cumprir com o seu papel no tocante à realidade, age em função do que lhe é
construído sobre aquela realidade. Por outro lado, existe também a cobrança
da instituição sobre o que ele deve fazer, conforme regras e exigências estabe-
lecidas para o cumprimento de sua função. Tem-se, portanto, um desafio para o
assistente social: saber como agir, se em função do que acredita, de seus valores
e suas ideologias, ou se adaptar às normas institucionais, de modo a ser apenas
um executor de ordens. O problema está lançado, o que impele ao profissional
uma noção clara do objeto de sua ação.
Na concepção de Baptista (1993), é necessário compreender que a insti-
tuição demanda os serviços a serem realizados pelo profissional, mas cabe
a este a capacidade de refletir, para, em seguida, atuar conscientemente, de
forma a reconstruir esse objeto a partir do contexto ou da realidade na qual vai
trabalhar. Assim se deve levar em conta a leitura de mundo que o profissional
faz, o que lhe obriga a ter um aparato teórico capaz de esclarecer e orientar
para as devidas ações e atitudes a serem tomadas no decorrer do trabalho.
Ao se perceber essa necessidade de reflexão sobre a realidade para só
então poder atuar, o assistente social se mostra consciente das suas obrigações

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06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 219 of 460


CAPÍTULO 7 • PesqUisA sOCiAL i

e dos desafios a serem enfrentados. Baptista (1993, p. 6) acrescenta que é


importante saber que
Para o mesmo fenômeno diferentes pessoas fazem diferentes
leituras. Se se pretende re-elaborar essa demanda e construir o
objeto da prática há que se procurar compreendê-las e as múlti-
plas formas pelas quais ela é percebida e vivenciada (represen-
tações, desmistificando as ideologias que serviram de gênese à
demanda, ao problema e ao fenômeno. Deste modo, o respaldo
de novas propostas é construído pelo estudo do grupo atingido
pela demanda institucional e de suas circunstâncias.

A percepção proposta por Baptista revela que a realidade não é única,


moldada, objetiva, mas depende da forma com que os sujeitos envolvidos a
encaram. Da mesma forma, o assistente social, além de ser um profissional de
uma determinada instituição, é também um sujeito, um agente, portanto com seus
interesses e suas ideologias, os quais não estão totalmente fora de cogitação no
momento de sua escolha e atuação perante o seu objeto de ação.
Mas é preciso ainda a compreensão da totalidade que envolve o objeto de
sua ação. Isso significa ter um conhecimento amplo, isto é, o profissional deve
ter um olhar sociológico, antropológico, de forma transdisciplinar. Não significa
ser um sociólogo, um filósofo ou um antropólogo, mas ter na bagagem intelec-
tual elementos conceituais dessas ciências que possibilitem uma ação efetiva e
consciente para a transformação de uma dada realidade.
A construção do objeto de ação do assistente social exige conhecimentos
amplos e transdisciplinares que possibilitem uma prática consciente para a trans-
formação da realidade em que está inserido. É fundamental o conhecimento
crítico e reflexivo sobre o mundo que o rodeia e sobre os problemas, para então
saber suas causas e suas consequências. Tal consciência permite uma prática
profissional adequada às necessidades que a realidade social impõe.
Você percebeu, neste capítulo, que o pensamento dialético e a perspectiva
da complexidade são importantes formas de se perceber e analisar a sociedade.
Se na dialética o profissional tem uma perspectiva crítica e sempre em busca
de uma maior aproximação com as realidades, na complexidade a lógica é
também a mesma.
Todavia o que se pode perceber, no que diz respeito às diferenças entre
as duas formas de abordagem, é que, na complexidade, se tem uma visão
ampla dos fenômenos sociais a partir de uma ótica sistêmica, mas não naquela
visão linear. Quanto à dialética, o foco de atenção está nas contradições dos
fenômenos, na dinâmica e na totalidade. Percebe-se, por sua vez, que a ideia
de complexidade também contempla essa noção de dialética e de movimento.
Essa é, portanto, uma semelhança que se faz perceptível. Quanto ao uso dessas
duas perspectivas no Serviço Social, podemos afirmar que são indispensáveis,
de modo que favorecem ao assistente social elementos para uma leitura crítica e
também para levar em conta as necessidades da sociedade atual.

06
CAPÍTULO 7 • PesqUisA sOCiAL i

Anotações

S.S._5oP.indb 221

06 S.S – 5° PERÍODO – 4ª PROVA – 02/12/09 – 221 of 460

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