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Tradição se mantém há 108 anos e Festa do Divino de Figueirão pode se tornar patrimônio
imaterial
5 DE JUNHO DE 2017 - 22:17 | AMESSIAS@SECC
O encontro das bandeiras é um dos momentos marcantes da festa. (Foto:
Carlos Diehl)

  Figueirão (MS) – Carregada de simbolismos, rituais e muita fé, assim é a Festa do Divino Espirito Santo realizada
há 108 anos na Comunidade Santa Tereza a 43 km do município de Figueirão, e que teve seu encerramento no
domingo (04/06). Segundo os organizadores, cerca de 1.500 pessoas participaram da festa que pode se tornar
patrimônio imaterial.

A equipe técnica de Patrimônio Imaterial da Gerência de Patrimônio Cultural da Fundação de Cultura de MS bem
como representantes da Comissão Sul-Mato-Grossense de Folclore estiveram no evento no sábado (03/06) para
fazer o registro e o inventário, numa fase do processo para o registro do bem.

O primeiro ritual começa como giro das bandeiras, onde uma comitiva composta de músicos guia, alferes de
bandeira, salveiros, campeiro da tropa, percorrem cerca de 45 fazendas durante quinze dias, aonde em cada lugar
que os foliões chegam há rezas, cantorias acompanhadas de instrumentos como a sanfona, violões, pandeiro, etc.

No sábado (03/06) por volta das três horas da tarde, aconteceu um dos momentos marcantes da festa, onde há o
encontro das bandeiras, a da comunidade com a dos foliões em comitiva. Em seguida é feito um corredor onde as
pessoas passam por debaixo da bandeira, persignam-se até que o cortejo chegue a capelinha da comunidade, onde
acontece as cantorias de agradecimento. Logo após há a Missa, a reza do terço e o levantamento do mastro com a
bandeira do Divino Espirito Santo, momento em que é acesa a fogueira. E a festa continua com a dança da catira,
típica da região e depois o baile que vai até o amanhecer.

Seu Domingos Malaquias  e esposa com a comissão da Fundação de Cultura de MS.


(Foto: Carlos Diehl)

Seu Domingos Malaquias, 84 anos, filho de Joaquim Malaquias da Silva, conta que tudo começou quando a
segunda mulher de seu pai, dona Maria Francelina de Jesus fez uma promessa por conta de uma epidemia de Febre
Amarela, “então ela dobrou o joelho no chão e pediu a proteção do Espirito Santo, por causa do Pentecostes.  Se
fizesse com que aquele remédio que ela inventasse desse resultado, ela rezaria até a quarta geração dela. E eu pelo
meu pai ainda estou na primeira geração, enquanto existir Malaquias ela nunca vai acabar”, profetiza seu
Domingos que começou a participar da festa em 1946.

Já seu Ereduzino Malaquias, 77 anos, irmão do seu Domingos e que juntos comandam o evento , diz que a
comunidade participa ativamente, “todo mundo dá uma contribuição, todos cooperam, não custa nada pra
ninguém, todo mundo colabora, tudo sobra”, diz ele que ainda conta que comanda a festa há 55 anos e diz que a fé
mantém viva a tradição, “eu mesmo tive um problema o ano passado, me apeguei com o Divino Espirito Santo e
hoje estou aqui firme e forte, graças a Luz Divina”, diz abençoado seu Ereduzino.

Seu Ereduzino Malaquias comanda a festa junto com o irmão há 55 anos.


(Foto: Carlos Diehl)

Cada integrante da comunidade tem uma atribuição, seja na organização, na limpeza, na cozinha, etc.  É feito um
sorteio assim que a festa termina para determinar quem irá trabalhar no próximo ano como foi o caso da Dona
Ivanir Malaquias Ferreira, 55 anos, que começou a entrar no sorteio quando tinha doze anos de idade. Para ela,
participar da festa é uma graça divina, “a pessoa aqui trabalha cheia do Espirito Santo. O participar é um toque de
Deus, a gente sente vontade de colaborar”. O sonho dela é ser festeira, uma espécie de coordenador da festa, que
neste ano quem está no cargo é o seu Deraldino Candido Pereira, 66 anos, e que há 50 participa da festa.  Há 31
anos participava do sorteio para ser festeiro, que entre outras atribuições pede prenda, faz leilão, recebe as
doações, etc.

Seu Deraldino participava do sorteio há 31 anos para ser o Festeiro . Esse ano ele
conseguiu. (Foto: Carlos Diehl)

Tem pessoas que vêm de outra cidade só para ajudar, como é o caso da dona Claudia Pereira da Silva, 65, que faz
parte da equipe da limpeza, “mais de vinte anos que participo da festa, venho de Campo Grande só para participar.
Eu tenho fé no santo e amo trabalhar nessa festa. Já recebi muitas bênçãos”, diz Silva.

“A gente sente vontade de colaborar”, diz dona Ivanir., uma das


voluntárias. (Foto: Carlos Diehl)

Neste ano foram doadas 10 vacas, e nada se perde, tudo se aproveita. É feito linguiça, farofa com carne socada,
puchero, carne com osso, churrasco sendo servido de graça para os participantes, com almoço e jantar, tendo
inclusive sobremesa, com doces caseiros, tudo feito no local do evento.

Para Marinalva Paniago Ferreira, Diretora de Cultura e Turismo de Figueirão (MS), a festa da comunidade Santa
Tereza é o maior foco da cultura Figueiroense na atualidade.  “É toda uma tradição seguida pela família Malaquias,
isso é a maior fonte cultural do nosso município hoje. Nós recebemos muito turista, vem gente não só da região,
mas de outros estados. O ponto alto da festa é toda a parte religiosa que traz uma fé, uma devoção muito grande
ao Divino Espirito Santo”, destaca Ferreira.

 
Para a pesquisadora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Aline Sesti Serutti, o evento propicia
a oportunidade das pessoas estarem se vendo, de encontrar os parentes, de comungar, de encontrar o outro. “É um
momento de reviver a religião, de fazer suas promessas. Isso é muito fortalecido nas cidades do interior. Essas
festas ganham outro sentido, diferente das feitas na cidade que é muito mais capitalista.  Não é uma festa que visa
lucro, ela visa esse encontro, essa comunhão de pessoas que vêm por conta dessa fé”, ressalta Serutti.

A fé mantém a tradição do povo há 108 anos. (Foto: Carlos Diehl)

A pesquisadora também fala da importância de se fazer o registro e o tombamento do bem como patrimônio
público imaterial. “Independente de se fazer o registro ou não, são festas que terão continuidade, se pensar que
em pleno século XXI elas acontecem. Enquanto houver interesse da comunidade, alguém que preserve isso de pai
para filho, sobrinho, elas vão continuar existindo por conta de uma fé, de uma promessa, duma organização da
própria comunidade. Isso que é bacana! Cultura popular, que é patrimônio imaterial. A maior parte dessa festa que
é realizada durante quinze dias é organizada por um povo, comunidade, e não por uma instituição religiosa,
embora a igreja participe de alguns momentos.  São saberes populares compartilhados pelas comunidades”,
destaca Serutti, que ressalta ainda ser importante fazer o tombamento porque nem todos vêm a festa, com o
registro se consegue compartilhar com muito mais gente. “E se algum dia não existir mais a festa, haverá o
registro”

Registro como Patrimônio Público Imaterial

Em novembro de 2015 a Comissão Sul-Mato-Grossense de Folclore, com o aval da família Maquias, por meio de
sua representante Maria de Fátima Malaquias, entrou com solicitação de Registro de Patrimônio Imaterial da
referida festa e seus elementos culturais no Conselho de Cultura Estadual.

Foto: Carlos Diehl

Em março do ano seguinte renovou o pedido e fez uma apresentação oficial ao Conselho de Cultura do Estado,
quando expôs as razões e fundamentação do requerimento. A partir disso, o Conselho solicitou a formação de uma
comissão técnica no assunto para acolher e avaliar a manifestação cultural, até que em 24 de março de 2017 o
Secretário de Cultura Athayde Neri instrui publicação no D.O.MS autorizando abertura de registro de processo
para concretizar o registro da festa como Patrimônio Imaterial do Estado

O processo de Registro do Patrimônio Imaterial obedece a várias fases até ser criada a Lei para sua concretização.
Portanto, esse é o momento intermediário de verificação e análise da manifestação cultural.

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