Harmonia IV
O pilar de execução dessa peça consiste na indicação de tempo, que deve ser seguida
estritamente, uma vez que os motivos e ideias estão sempre atrelados ao ritmo, e sua
modificação traria uma perca para o significado da música.
Para efeito de análise ela pode ser classificada como uma forma ABA’ ou ABC. Sendo:
A: do compasso 1 ao 17 (na imagem a cima)
B: do compasso 18 ao 41
C: do compasso 41 ao 61
Parte A
O tema principal assim como toda a obra se mostra como uma antítese de outra peça
de grande importância para o repertório solo da flauta: “Syrinx” de C. Debussy.
Enquanto o motivo e o desenvolvimento de Syrinx segue uma melodia quase sempre
descendente, a música de Varèse faz o oposto.
Parte B
Esta nova parte a melodia (uma variação retrógrada e transposta do tema principal)
expande de B1 para D3 através de um trêmulo. Seguido, agora no fim do compasso 22,
para o fragmento claramente transposto do tema que logo inicia a parte das
articulações curtas.
Nos compassos 23-28 as inesperadas articulações, juntamente com o silêncio criam
um novo ambiente, cuja densidade de som (quantidade de som por tempo) é a menor
durante toda obra, isto é, aqui encontra-se sua parte mais rarefeita.
No compasso 29, há uma ruptura com o silêncio com a nota G3, juntamente com a
ruptura do andamento, que passa pulsação de semínima à 72b.p.m. para 60b.p.m.
Aqui o que pode ser visto como o tema é ironicamente exposto em fortíssimo seguido
por intervalos mais distantes. Pela falta de caráter conclusivo, o compasso 29 não
necessariamente precisa ser visto como uma nova parte. Além disso, ele cria um polo
complementar oposto por toda a parte B, num primeiro momento dentro da tessitura
comum da flauta, e com artifícios mais sutis, e posteriormente um polo com artifícios
mais exagerados como o uso do registro agudo. No caso, uma das intenções desta
peça, encomendada por Barrère, era justamente explorar os limites de sua nova flauta,
com um material e mecanismos modernos.
O andamento retorna para pulsação de semínima à 72b.p.m. no compasso 32, com
um adensamento sonoro, oposto à baixa densidade no início dessa parte.
A presença de sincopas a partir do compasso 29, juntamente com os pianos e fortes
súbitos, cria um clímax de instabilidade rítmica. Uma tensão que vai apenas se resolver
no compasso 41 no retorno do tema transposto (no que pode ser visto como uma
recapitulação).
Dos compassos 29 ao 41, portanto, o compositor cria a parte mais instável de toda a
obra, com os seguintes elementos:
A partir do compasso 41, como resolução para a tensão criada nos compassos
anteriores, segue o tema transposto um semitom à cima. Além disso, por estar
na dinâmica piano e seguido de duas pausas apresenta um caráter
interrogativo. Finalmente após todas as distorções o tema principal retorna
para a conclusão, mas ele próprio leva a obra para outro patamar, ele instiga a
melodia à caminhar, e não à terminar em si mesma.
Da mesma maneira como no início os intervalos são expandidos (c.43-44),
mas agora chegam muito mais rapidamente à segunda oitava (c.45). E mais
rapidamente ainda chega-se à quarta (D4) e terceira oitava.
As terças menores
Fontes:
Site “ https://www.nyfluteclub.org/about/history-and-archives/past-
presidents/1944/12/Georges-Barrre/ “