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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE ARTES

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM MÚSICA

ENTRE MÚSICA,CANTO E LÁGRIMAS: A ETNOGRAFIA DE MULHERES


VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA VIVENDO EM UMA OCUPAÇÃO EM
PORTO ALEGRE.

Projeto de Dissertação de Mestrado para obtenção do titulo de Mestre em


Música, área de concentração Musicologia/Etnomusicologia.

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Artes, PPG em


Música.

Professora: Dra.Luciana Del-Ben

Aluna: Gabriela Nascimento

Julho 2018
SUMÁRIO

I-INTRODUÇÃO....................................................................................................................1

II-JUSTIFICATIVA................................................................................................................2

III-METODOLOGIA...............................................................................................................2

IV-REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................................2

V- RESULTADOS ESPERADOS..........................................................................................9

VI- CRONOGRAMA-............................................................................................................10

VII-REFERÊNCIAS..............................................................................................................11
I-INTRODUÇÃO

A violência contra as mulheres é um problema alarmante em meio a nossa sociedade,


Fato esse que vem se propagando desde a época da escravatura. Através da discriminação de
gênero, sexualidade, etnia e classe social. Problemática de cunho grave, a qual precisa ser
debatido e enfatizado até que nós mulheres sejamos ouvidas e respeitadas em meio á nossa
sociedade. Eu por já ter passado por essa problemática me sinto a vontade de explanar sobre o
tema. Por ser mulher negra, musicista, professora hoje tendo o privilégio de estar mestrando
no curso de Pós Graduação em Música, e entendendo a academia e a escrita como veiculo
disseminador de pensamentos, informação e voz representativa para os inaudíveis, faço uso
desse, e incorporo o meu papel nesse contexto como outrora protagonista e, hoje pesquisadora
á descrever sobre a problemática da violência doméstica contra as mulheres musicistas.

Logo no começo do semestre de dois mil e dezoito, quando entrei na pós graduação,
meu tema era sobre gênero e as meninas do funk.Com o passar do tempo percebi que já
haviam muitas escritas sobre o tema, além de eu me familiarizar pouco com o ritmo” funk “.
A troca do tema ocorreu após muitas conversas com professores e colegas. Depois de algum
tempo de reflexões optei por abordar um tema bem intimo e complexo. Com o titulo
provisório de: Entre Música, Cantos e Lágrimas: a etnografia de mulheres musicistas vitimas
de violência doméstica, vivendo em um ocupação em Porto Alegre, descrevo a seguir sobre
essa problemática social, e tão atual em nossa sociedade.

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II-JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS

Entendendo a violência doméstica, a discriminação de gênero, classe social, etnia,


sexualidade como um problema social que vem acontecendo na sociedade brasileira há muito
tempo, e percebendo que os meios acadêmicos vem servindo de palco para discussão sobre
essas problemáticas, resolvi escrever esse projeto, com intuito claro de provocar uma reflexão
a longo prazo a respeito desses assuntos tão latentes em nosso contexto social, penso que a
universidade pode ser um grande veículo disseminador de opiniões, a qual pode ser de suma
importância na construção de novas idéias com intuito de dar luz e visibilidade para essas
demandas sociais. Quero através desse chamar atenção para os atos de violência contra as
mulheres que optam por ter a música como profissão.Pois penso ser inadmissível que em
pleno século XXI, após inúmeras conquistas que nós mulheres já tivemos na sociedade, nos
espaços culturais e artísticos ainda tenhamos que suportar a prática dessas agressões contra
essas mulheres artistas e não artistas. O fato é que ganhamos vozes e sem dúvida houve uma
grande ascensão social do gênero ao longo da história nas ultimas décadas. Para isso é
importante relembrar que todo esse empoderamento feminino é fruto de anos de submissão á
uma sociedade machista, abusiva opressora e dominadora. Percebo esse trabalho como
acessório na formação de novas idéias sobre o tema.

III-METODOLOGIA

No presente projeto de pesquisa, pretendo desenvolver uma análise de caráter


qualitativo, através de um etnografia realizada na casa de acolhimento a mulheres vítimas de
violência doméstica Mirabal.Será de cunho etnográfico baseada no trabalho de campo
prolongado através da interação como objeto de estudo, conhecida como observação
participante, baseada na participação na vida do grupo, método de grande valia para o
pesquisador pelos dados que podem ser obtidos através da convivência e construção da
familiaridade com os personagens. As ferramentas metodológicas e técnicas de pesquisa
utilizadas serão através de abordagens etnográficas, como observação participante, entrevista,
fotos e diário de campo.

IV-REFERENCIAL TEÓRICO

Escolhi a autora Ângela Davis, filósofa, ativista, feminista para começar o meu
trabalho, fazendo uma reflexão sobre as condições do sexo feminino na sociedade desde o
tempo da escravatura. Segundo ela desde o inicio da escravidão as mulheres negras
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trabalhavam mais fora de casa do que as mulheres brancas. A autora diz que naquela época as
mulheres eram olhadas como bens móveis, como unidade rentável de trabalho, não havia
distinção de gênero ao que se referiam ao trabalho braçal, as mesmas eram trabalhadoras o
tempo inteiro para os seus donos e só incidentalmente assumia o papel de mães, ou donas de
casa.

As mulheres negras do século XIX eram tratadas como os homens e trabalhavam no


campo na idade pré determinada, o tratamento oferecido para as mesmas era sob
ameaça do chicote e do sexo. Para os donos de escravos essas mulheres eram
exploradas como se fossem homens, castigadas e reprimidas dentro da sua condição
exclusiva de mulher. (DAVIS,2013).

Segundo a autora, na época da escravatura as mulheres negras eram avaliadas pela sua
fertilidade, ou pela falta dela, ou seja, quanto mais à mulher reproduzia maior era o seu valor
de venda, afim de posteriormente essas crianças serem vendidas em qualquer idade, porque
assumiam a posição de animais. As mulheres negras eram tratadas como fêmeas, e estavam
constantemente vulneráveis a todas as formas de punição e violência sexual.

Em concordância com a escritora citada acima, outra autora que destaco na minha
escrita é Suely Carneiro, uma mulher negra Doutora em Educação, fundadora da Instituição
Geledés, Instituto da Mulher negra. Segundo ela, a identidade é algo que se constrói em
oposição a algum fator, é resultado de um processo cultural. A mesma traz a definição sexual
e racial a partir do nascimento, essas definições ajudarão na construção da identidade social
de cada indivíduo somados a elementos culturais, religiosos e psicológicos. Aborda as
diferenciações entre homens e mulheres, seja no ponto de vista físico, biológico ou cultural,
todos esses aspectos contribuem na construção de uma identidade negativa em relação à
mulher, a fim de justificar os diversos níveis de subordinação e opressão a que nós mulheres
somos submetidas e, assim promover nas mesmas uma aceitação de um papel subordinado
socialmente.

A autora entende a identidade feminina como um projeto de construção que


desconstrói os modelos introjetados de rainha do lar, da mãe, da restrição ao espaço doméstico
e ao resgate das potencialidades abafados ao longo do século. Carneiro afirma que:

A nova consciência da igualdade feminina levanta bandeiras no mercado de


trabalho, bem como, nas escolas as quais reproduzem e direcionam as meninas para
atividades consideradas femininas. (CARNEIRO. 1993).

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A escritora debate a saúde da mulher e questiona sobre os métodos contraceptivos que
ainda hoje ficam sob a total responsabilidade do sexo feminino. Aborda a questão da violência
doméstica, foco do meu projeto de pesquisa, explana sobre o exercício da violência como uma
infração pública social e cultural. A autora traz questionamentos referentes à cara das
mulheres desse País, traz a negritude feminina as quais já trabalhavam em inúmeros
ambientes rudes desde a escravidão, ganhamos a identidade de objeto, a serviço de
sinhozinhos e sinhazinhas. Infelizmente ainda hoje é válido destacar que algumas culturas
com forte senso patriarcal reservam a mulher uma hierarquia social semelhante á do escravo,
negando-lhe direitos básicos que constituem a noção de cidadão.

Trouxe esse tema polêmico para o meu trabalho por ter a consciência de ser uma
mulher negra e, entender que se faz necessário uma ampla reflexão á respeito. A história da
cultura negra foi, e é de suma importância para nossa sociedade, e nós mulheres ainda
sofremos com os resquícios de uma sociedade machista, que ainda insiste em tentar nos
colocar grilhões a fim de nos limitar pela força e pelas vontades impostas pelo “outro”. Isso se
evidência através das personagens do meu projeto, as quais vivenciaram toda essa situação de
dominação, subordinação tão latentes dentro do universo masculino

A autora feminista, Adriana Pisciteli, pesquisadora da UNICAMP, a qual tem


pesquisas nas áreas de gênero, sexualidade, turismo sexual e temas afins, que escreveu sobre
“Gênero:a história de um conceito.Define a atribuição de espaços sociais diferenciados para
homens e mulheres, a uma situação de discriminação feminina em diferentes partes do
mundo. Afirma que toda a discriminação costuma ser justificada mediante a atribuição de
diferentes qualidades e traços de temperamento diferentes de mulheres, que são usados para
delimitar seus espaços e atuações.Evidencia em muitos cenários o fato de a mulher estar
vinculada a sua capacidade reprodutiva, sendo assim a maternidade e o espaço doméstico e
familiar constituem o seu principal local de atuação(PISCITELI ,p.118).

A autora traz reflexões pertinentes sobre salários entre homens e mulheres, e enfatiza
as diferenças de salários de uma mulher branca e uma negra. Afirma que a cada segundo no
Brasil uma mulher é espancada. E questiona, será que a classe social participa na produção
das desigualdades?Segundo ela a nomenclatura “mulher” pode ter vários significados,
variando muito de acordo com o lugar, a classe social e o momento histórico onde ela está
inserida. Problematiza a natureza do termo gênero, e entende o que define toda essa
pluralidade das diferenças de gênero ao âmbito cultural. De acordo com ela, as mulheres são
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percebidas de acordo com os espaços sociais por elas ocupados. Através do pensamento
feminicistas ocorreram várias reivindicações voltadas para a igualdade no exercício dos
direitos, questionando ao mesmo tempo as raízes dessas desigualdades. Através da mesma
linha de raciocínio trago as observações da escritora abaixo citada, a mesma fomenta mais
argumentos sobre a temática e compactua com as mesmas idéias da autora em questão.

A leitura sobre o campo de música e gênero em nosso país, a qual também realizei
para a escrita desse texto, complementam as idéias dos demais autores citados até o presente
momento. Ainda segundo carneiro citado no inicio desse trabalho, que descreve o contexto
histórico social de inclusão e exclusão das mulheres nas mais diversas áreas da sociedade. A
mesma aborda a quão essa condição de desigualdade ainda nos afeta. Ainda mais nós
mulheres não brancas inseridas nesse contexto. Essa discriminação é estendida para além das
classes econômicas, e permeiam-se nas questões de orientação, identidade sexual, religião
etc... A autora retraça a trajetória da música no Brasil evidenciando as opressões,
subalternações, desigualdades, exclusões e marginalizações tão latente contra nós mulheres
nesse cenário artístico cultural. Traz fatos importantes para essa evolução, como as marchas
que aconteceram entre 2010 e 2014, tais como: Marcha das Mulheres Negras, Marcha das
Margaridas, entre outras demais. Essas marchas, e os movimentos feministas foram de
extrema relevância para o fortalecimento do gênero. Segundo a pesquisadora o campo da
música ainda hoje é predominante masculino, branco, androcêntrico,eurocêntrico, marcado
pela constante e crônica exclusão e silenciamento de mulheres( e de outros grupos sociais
historicamente marginalizados).

A música é um grande campo de negociação e construção de valores afetivos e


através desse campo, diversos grupos sociais entram em disputas em construção de
identidades representações e a busca pelo poder ou então,convergem e misturam,
identificando-se como pertences a variados segmentos culturais( GUERRA,2013).

A música faz parte da nossa cultura é um instrumento de diálogo não verbal, e pode
desencadear profundos processos de transformações pessoais os quais afetam não só o próprio
ser, mas também o universo que o rodeia em todas as suas manifestações e formas. Penso que
nós mulheres devemos nos apropriar dessa ferramenta milenar, para que através dela nossas
vozes sejam ouvidas, e principalmente respeitadas na sociedade.

Essa realidade fica explicita através das conversas com as minhas colaboradoras a
respeito da minha pesquisa, a qual abordará a problemática vivida por cinco mulheres

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musicista. Minhas personagens são mulheres de baixa renda, com escolaridades diferenciadas,
sendo que, apenas uma encontra-se no momento fazendo graduação em Ciências Políticas, as
demais ainda não terminaram o ensino médio. Com idades entre 25 á 36 anos, de etnias
variadas, com sonhos, frustrações, esperanças, marcas, traumas e medos distintos, mas que
carregam algo em comum. A Paixão pela música. Pude observar que todas cultivam um
histórico de amor e parceria com suas habilidades musicais, e que seus respectivos parceiros
da época, as conheceram da mesma forma, ou seja, fazendo música. Nesses diálogos também
observei que, para os seus agressores a música sempre serviu como justificativa para os
episódios de agressões.

A violência doméstica contra mulheres é de fato, um problema presente no mundo


todo, essa prática vem apresentando como resultado crimes hediondos e graves violações dos
direitos humanos. Essa gravidade não é devidamente reconhecida graças a mecanismos
históricos e culturais que geram e mantém desigualdade entre homens e mulheres, e
alimentam um pacto de silêncio e convivência com esses crimes. Essa problemática
gravíssima impede a realização do pleno potencial de trajetórias pessoais. Sim, minhas
colaboradoras e tantas outras mulheres que passam por agressões, acabam ficando com suas
vidas estagnadas. Como eu já estive um dia.

A violência conjugal não procura a rede de proteção logo após o primeiro ou


segundo episódio de violência. Os motivos que dificultam a pedir ajuda por parte
dessas mulheres vitimas podem ser a vergonha de se expor, e a ameaça de uma nova
violência (BRUSCHI et al.2006)

Enquanto eu estava prospectando informações com minhas personagens observei um


fato referente à citação acima descrita, pois, um dos fatores pelos quais as mesmas não
denunciavam seus agressores era a vergonha sentida por elas ao se permitirem estarem
vivenciando essa situação.

Com intuito de combater os constantes abusos e maus-tratos contra a mulher, foi


criada a lei Maria da Penha, que diz respeito à história de vida de uma mulher que sofreu
violência doméstica durante 23 anos de casamento, o marido por duas vezes tentou assassiná-
la. Na primeira tentativa com uma arma de fogo, deixando-a paraplégica, e na segunda, por
eletrocussão e afogamento. Após todos esses anos ela tomou coragem e denunciou seu
agressor. Essa atitude veio batizada com o seu nome, e em número de Lei n°11.340/2006. A
lei define cinco formas de violência doméstica e familiar, e deixa claro que não existe apenas

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a violência física que deixa marcas evidentes, são elas: a violência psicológica, física, sexual,
patrimonial e moral.

Os tempos mudaram, e nós mulheres saímos pra rua e assumimos o nosso lugar no
mercado de trabalho. Lembro que eu ao passar por esse drama há 23 anos não trabalhava, e
além do meu medo, tinha os meus três filhos ainda pequenos, esse foi um dos fatores que me
fizeram tolerar sete anos de agressões. Hoje percebo através da narrativa de minhas
colaboradoras, as quais trabalhavam e tinham o seu próprio sustento que pouca coisa mudou,
pois mesmo trabalhando e tendo suas profissões, ainda que, sempre diminuídas pelos seus
cônjuges e vistas como algo sem valor e pouco produtivo, que essas não dependiam
financeiramente de maneira integral do salário de seus agressores, e mesmo com toda essa
autonomia, as agressões continuavam acontecendo, pois os mesmos as mantinham sob seus
mandos e desmandos pelo mesmo fator paralisante, o medo. O medo é uma sensação que
proporciona um estado de alerta, devastado pelo receio de acontecer algo, geralmente é
gerado por ameaças, tanto física quanto psicológica. O medo enfatizado vira pavor.

Equilíbrio das relações familiares, o bom andamento dos serviços domésticos, a


preservação dos métodos tradicionais de socialização dos imaturos, o respeito ao
principio moral da distância entre os sexos, faz-e a mais completa e racional
utilização de critérios irracionais, tais como debilidade física, a instabilidade
emocional e a pequena inteligência feminina, a fim de imprimir-se ao trabalho
feminino o caráter de trabalho subsidiário e tornar a mulher elemento constitutivo
por excelência do nome contingente humano diretamente marginalizado das funções
produtivas(SAFFIOTI, p.130)

Mulheres que passam por esse tipo de violência precisam ultrapassar várias barreiras,
vergonha, incertezas, discriminação, coação, culpa. E de novo o medo, de denunciar, e das
conseqüências pós denuncia. A vontade de sair de casa deixando tudo pra trás, vem de
encontro com as incertezas do futuro. Questionamentos constantes pairam sobre a cabeça de
quem vivencia o problema. Onde eu vou morar com os meus filhos?Será que conseguirei
sustentá-los? Será...essas, e muitas outras dúvidas permeiam na cabeça de quem vivencia o
problema durante semanas, meses, anos. A decisão de dar um basta aos maus- tratos é sem
dúvida um ato de coragem e libertação. Muitas vezes as únicas saídas para essas mulheres é
morar na casa de parentes próximos ou, em ocupações urbanas nos prédios desativados na
cidade. A segunda opção foi à saída escolhida por minhas colaboradoras. Com intuito de
recomeçarem uma vida nova, digna, longe de seus agressores.

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Segundo a literatura que escolhi para embasar essa questão em meu trabalho, diz que a
Política Nacional tem o objetivo de promover ás condições de acesso á moradia digna, em
especial a populações de baixa renda. Ressalto aqui a ocupação dos Lanceiros Negros, a
construção de uma ocupação urbana, decorrente de um movimento social em Porto Alegre,
oriundos de uma casa de acolhimento para famílias em vulnerabilidade social, que foi
destituída através de uma ordem de desocupação judicial no ano de 2017. Essas ocupações e
movimentos sociais urbanos são respostas as demandas que surgem nos espaços da cidade e
expressam-se através dessas reivindicações

O planejamento urbano se faz necessário desde a construção de uma cidade e


principalmente quando ela presencia o caos. O crescimento acelerado, a falta de
planejamento, os altos índices da taxa de natalidade, contribui para a superlotação
das cidades, principalmente na sua parte central que por sua vez não consegue
suportar e atender a demanda que a população necessita. Por tal fato, a criação de
novos centros a fim de atender uma parte da população são formados, deixando
assim, o centro principal que atendeu a população por anos em desuso e
marginalizado. Comércios e indústrias que estiveram ali por anos acabam migrando
para os novos centros, tornando assim seus antigos locais obsoletos, transformando e
contribuindo para o aumento dos vazios urbanos. (LEITE;AWAD,2012).

Como já havia explanado anteriormente a violência doméstica é um problema de


cunho social, e o mesmo deveria ser tratado como tal. Através de pesquisas e em conversas
com minhas personagens, pude constatar que a nossa capital Porto Alegre, dispõe apenas de
uma casa de apoio as mulheres. A Viva Maria. É um órgão público, um abrigo que serve de
proteção para mulheres em situação de violência doméstica e sexual em risco de vida e/ou de
novo episódio de agressão grave. Pertence ao grupo municipal de albergues para mulheres
nessas condições. Foi inaugurada em setembro de 1992, sob a gerencia da Secretaria
Municipal de saúde. A casa dispõe além da moradia, assistência integral e conta, com ações na
área da saúde, atendimento psicológico, social e jurídico, orientação ocupacional e
pedagógica, traz a proposta de ajudar essas mulheres a reiniciar suas vidas longe da violência
de seus companheiros. Algumas de minhas colaboradoras já passaram por essa instituição, e
relataram que o acolhimento é feito, mas de maneira muito fria por parte dos funcionários, e
que o tempo de estadia no abrigo é curto. Cada interna tem apenas três meses para ficar na
instituição. Após esse período precisam seguir suas próprias vidas. Penso que, o tempo de
permanência nessa casa lar não é o suficiente para que essas mulheres reorganizem as suas
vidas, a fim de traçar novos rumos e vislumbrar um futuro melhor para ela e seus filhos. Pois

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a devastação de uma vida submetida a agressões diárias, não e refaz em três meses. Muitas
vezes nem em uma vida inteira.

Por ser um tema de magnitude tão complexa faz se necessário que a cidade ofereça
mais casas albergue como a Viva Maria. Pois atualmente temos na cidade apenas essa
legalmente reconhecida pelos órgãos competentes. Faço o uso do termo legalmente porque
temos na cidade mais duas ocupações ilegais que acolhem essas mulheres. Uma delas fica na
Figueira, a qual eu não conheço. Segundo relatos é um local bem escondido, seu endereço
também não é divulgado (embora seja ilegal há essa preocupação por parte da administração
da ocupação) também não é permitida a entrada de pessoas estranhas no local. A outra é a
ocupação Mirabal, localizada na zona central de Porto Alegre, um local sociável,
aconchegante, que atualmente encontra-se com seis mulheres abrigadas, todas vitima de
violência doméstica. Foi lá que encontrei algumas das personagens protagonistas do meu
projeto de pesquisa

V-RESULTADOS ESPERADOS

Enquanto eu formulava o meu projeto, conheci essas mulheres guerreiras, com


histórias de vida, sonhos, e anseios diferentes. Mas com dois sentimentos iguais. A dor na
alma de quem sofreu com os maus tratos domésticos, e o amor pela música. Essas
personagens precisam superar-se diariamente, almejando um recomeço. Percebi através das
minhas visitas a Mirabal, que, apesar do trauma sofrido por essas mulheres, lá é um local onde
elas recebem amor, apoio, carinho, compreensão, compaixão, solidariedade de pessoas
desconhecidas, mas que se sensibilizaram com as lutas e as histórias de vida que elas
carregam. Essa ocupação tem passado por momentos difíceis, com ameaças constantes de
reintegração de posse do local. Os apoiadores e simpatizantes da causa somaram forças, e
estamos em luta. Não para que elas fiquem nessa casa, pois entendemos que os proprietários
têm direitos legítimos sobre o prédio. As reivindicações estão sendo feitas para que essas
mulheres sejam recolocadas em um ambiente seguro, juntamente com seus filhos, para que
não se vejam tão coagidas a ponto de terem de voltar para suas casas na companhia de seus
agressores.

Através desse trabalho, pretendo trazer para o debate, a violência contra as mulheres
que escolhem a música como profissão, as discriminações e o preconceito sofridos por quem
deveria apoiar e não usar a perversidade como forma de punição contra essas.Faz-se

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importante também ressaltar a falta de albergues legalizados pelos órgãos públicos, com
profissionais capacitados para atender essas mulheres musicistas ou não, e seus filhos. As
políticas públicas precisam olhar essa demanda assim como olham para as demais. Essas
mulheres precisam de “providência” social. Pretendo por intermédio desse chamar atenção
não só do gênero feminino mas da sociedade em um âmbito geral. Com intuito de trazer a
problemática para uma longa e exaustiva reflexão a respeito não só da violência doméstica, ou
de gênero, mas com intuito de instigar ações e reações mais tolerantes perante as pluralidades
existentes em nosso meio social.

VI-CRONOGRAMA

Etapa 1: revisão bibliográfica/aproximação do campo;

Etapa 2: trabalho de campo;

Etapa 3: análise do material coletado

Atividade /Período 2° Semestre 2018 1°Semestre 2019 2° Semestre 2019

Etapa 1 X
Etapa 2 X
Etapa 3 X

VII-RFERENCIAL
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BRUSCHI,A,Paula ,C.S.& Bordin,A(2006).Prevalência e procura de ajuda na violência
conjugal física ao longo da vida.Revista Saúde Publica(40(2)256 64.;2006.
https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2015/05/Mulher-Negra.pdfacesso em junho de
2018.
https://we.riseup.net/assets/165852/mulheres-rac3a7a-e-classe.pdfacesso:em junho de 2018

GUERRA,Paula.More Than Laud.Os mundos dentro de cada um.Porto:Edições


Afrontamento,2015.Disponivel em:http://Oasis.ibict.br/vufind/reard/RCAP .

https://www.todamateria.com.br/lei-maria-da-penha/.acesso: em junho de 2018.

LEITE,Carlos; AWAD ,Juliana di Cesare Marques.Cidades Sustentáveis, Cidades


Inteligentes.Porto Alegre:Bookmam companhia ltda 2012.

http://www2.portoalegre.rs.gov.br/sms/default.php?p_secao=333acesso maio de 2018.

PISCITELLI-Adriana-Genero-a-historia-de-um-conceito-1-pdf.Disponívelem:
https://pt.scribd.com/document/364207069.acesso em junho de 2018.

SAFFIOTI, Heleieth 1.B.A Mulher na Sociedade de Classes: mito ou realidade.Petrópolis:p,


130.Vozes.1976.

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