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Introdução
Não sabes que antigamente o céu e os elementos eram uma coisa só, e foram separados um
do outro por artificio divino, para que pudessem dar origem a ti e a todas as coisas? Se souberes
disso, o resto não pode te escapar. Portanto, em toda geração é necessária uma separação desse
tipo.
... Nunca obterás dos outros o Um que buscas sem primeiro fazer de ti mesmo uma só coisa...
Gerhard Dom
Os príncipes e as princesas, como toda criança sabe, sempre vivem felizes para sempre. Apesar das feitiçarias, das
madrastas malvadas, dos ogres, dos gigantes e dos anões malévolos, o amor triunfa, o mal é vencido, e o feliz casal
desaparece de mãos dadas na névoa da imaginação, sem nenhuma alusão a varas de família ou pagamento de pensão
anuviando o para-sempre.
O processo de "crescimento, como toda criança aprende, com sua crescente maturidade e capacidade de encarar "a
vida como ela é", natural mente nos ensina de outra forma. Os príncipes e as princesas, junto com Papai Noel, o coelhinho
da Páscoa, os amigos imaginários e outras relíquias da vida de fantasia da infância, não são material adequado para os
adultos.
Começamos a aprender razoavelmente cedo na vida que ninguém vive feliz para sempre; precisamos fazer os
relacionamentos "darem certo", e isso é uma questão de responsabilidade, compromisso, disciplina, obrigação, auto-
sacrifício, comunicação e outros termos usados com tanta freqüência que seu significado deveria ser mais ou menos claro.
Mas, de alguma forma, na experiência de viver, esses termos se tomam cada vez mais ambíguos quando percebemos que
o outro, esse estranho que esta na nossa frente, seja marido ou esposa, filho ou amante, amigo ou professor, sócio ou
inimigo, ainda é um estranho.
O relacionamento é um aspecto fundamental da vida. É arquetípico, o que significa que é uma experiência que
impregna a estrutura básica não apenas da psique humana mas do universo em sua totalidade. Em ultima analise, tudo é
construído a partir do relacionamento, pois não teríamos consciência de nenhum aspecto da vida se não o
reconhecessemos através do que cada um deles tem de diferente de todos os outros aspectos. Reconhecemos o dia porque
existe a noite, e o relacionamento entre ambos de fine e identifica cada um deles. Se considerarmos ao menos um pouco
essa idéia. tornar-se-a cada vez mais evidente, que nos, seres humanos, só podemos nos conceber como indivíduos por
meio da comparação com aquilo que não somos.
Por uma série de razões, algumas obvias e algumas muito mais sutis, hoje em dia existe uma ênfase maior sobre a
experiência do relaciona mento do que houve durante outros períodos de nossa historia. Os relacionamentos sempre foram
um aspecto importante da vida, mas nem sempre se chamaram relacionamentos, e nem sempre se lhes atribuíram outros
propósitos além daqueles óbvios: alivio da solidão, satisfação do desejo, continuação da espécie, proteção do indivíduo e
da sociedade, experiência do amor (uma palavra completamente ambígua, como todo adulto sabe), promoção de ganhos
materiais. Todas essas razões bastante validas para que façamos o esforço – freqüentemente gratificante, e com igual
freqüência doloroso – necessário para conviver com outros seres humanos. Entretanto, principalmente com o trabalho da
psicologia durante os últimos setenta e cinco anos, tornou-se evidente que os relacionamentos não são apenas um meio de
se atingir a satisfação pessoal de um tipo ou outro. São também necessários para o crescimento da consciência e da
compreensão que o indivíduo tem de si mesmo. A pessoa não sabe que aparência tem. até se ver refletida no espelho, e
esta simples verdade se aplica não apenas a realidade física mas também a realidade da psique.
Inúmeros escritos esotéricos e psicológicos nos dizem que o homem esta para ingressar numa nova era. A palavra
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alemã Zeitgeist se refere adequadamente a este conceito, embora sua tradução não seja fácil. De uma maneira muito
geral, significa o "espirito da época", um novo vento que sopra através de uma era e anuncia alterações significativas e
dramáticas na consciência humana. Poderíamos dizer que as grandes mudanças ocorridas na perspectiva do homem, na
época da Renascença, na religião, na ciência, nas artes e em todas as áreas da atividade humana foram manifestações de
um Zeitgeist. Algo novo nascia, permitindo ao indivíduo ver um tipo diferente de realidade ou, mais precisamente, ver uma
porção da realidade maior do que ele percebia antes. As mudanças na consciência ocorridas na aurora da era crista
também podem ser consideradas manifestações de um Zeitgeist, pois é característico do inicio de uma nova era a morte dos
velhos deuses e o nascimento de novos. Aparentemente, estamos vivenciando outro Zeitgeist neste período histórico,
embora seus vagos contornos só sejam visíveis agora para aqueles que estudaram a linguagem do simbolismo.
É possível que esse redirecionamento da consciência, ao qual a astrologia deu o nome simbólico de Era de Aquário,
tenha, como um de seus motivos centrais, o esforço no sentido do conhecimento interior – um conhecimento que viria
complementar a ênfase sobre o conhecimento exterior, que já nos é muito familiar. O espirito da época atual parece estar
profundamente preocupado com a autocompreensão e com a procura do sentido. E embora se possa atribuir essa procura a
mudanças econômicas e políticas que inevitavelmente criam tensão, estresse e autoquestionamento, também pode ser
possível encarar essas duas tendências convergentes – o tumulto sócio econômico e o que pode ser descrito simplesmente
como uma busca espiritual – como acontecimentos sincrônicos. Isto é, um não precisa ser a causa do outro, mas ambos
podem ser sintomáticos de uma profunda mudança interior ocorrendo na psique coletiva.
Pode parecer que questões de tal peso, como a transformação da consciência humana e a entrada numa nova era,
tenham pouco a ver com os transtornos e problemas extremamente subjetivos que levam tantas pessoas a buscar
aconselhamento para suas dificuldades de relacionamento.
Se uma mulher deixa o marido por causa de um amante, ou se uma mulher esta lutando com sentimentos de
inadequação sexual que mutilam seu potencial para um casamento satisfatório, pode parecer irrelevante a comunicação de
que há um Zeitgeist em curso. Entretanto, essa relevância existe. Ouvimos dizer, com freqüência suficiente, que as
estatísticas de divorcio estão em alta; que os valores e padrões morais consagrados pelo tempo e que pautaram nossos
relacionamentos por muitos séculos estão desmoronando e perdendo o sentido para as gerações mais jovens; que a atual
conduta sexual entrou por meandros sem paralelo mesmo no decadente Império Romano. Parece que alguma coisa
definitivamente esta acontecendo com nossos critérios de avaliação dos relacionamentos e também com as formas de
lidarmos com nossos problemas. Antigamente, sofríamos em silencio. Agora, entretanto, Há um constante aumento do
numero de obras publicadas, assim como de artigos em jornais e revistas, sobre as dificuldades de conviver com os outros.
Também há um constante aumento da atividade do aconselhamento conjugal, dos grupos e seminários de "movimento do
crescimento", e de analise e terapia individuais – todos tentando, entre outras coisas, lidar, com maior ou menor sucesso,
com as necessidades, desejos, conflitos, medos e aspirações de cada pessoa nos relacionamentos. Quase não é
necessário mencionar fenômenos tais como o "Movimento de Liberação das Mulheres" e o "Movimento Gay de Liberação",
cada um tentando enfrentar certos aspectos dos problemas dos relacionamentos, a sua maneira. Mesmo a controvérsia
sobre a educação sexual nas escolas é uma questão centrada no relacionamento, como também o é a questão do aborto.
Toda essa reavaliação dos relacionamentos é tanto parte de uma busca geral de valores mais significativos e de uma
maior compreensão da psique, como do surgimento mais surpreendente do interesse por antigos estudos esotéricos como
a astrologia, a alquimia e outras supostas esquisitices. Todos estes são aspectos da mesma busca, e, quanto mais cedo
percebermos isto, tanto maior seria nossa perspectiva no contexto mais amplo que está por trás de nossos problemas
pessoais.
A ciência, que tem dado a ultima palavra sobre a realidade por muito tempo, esta se surpreendendo ao se aproximar
o domínio do que costumava ser chamado estudos ocultos. Para o nosso assombro, pessoas com títulos respeitáveis nos
dizem que as plantas reagem a emoção humana e apreciam a musica; que o Sol a Lua e os planetas efetivamente parecem
emitir energias que afetam a vida humana; que nossa mente é capaz de proezas tais como a telepatia, a telecinese e a
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clarividência nos limites nos limites rigidamente controlados e monitorados do laboratório; e que Deus talvez esteja to vivo e
bem além de tudo, escondendo-se secretamente na matéria. A esta altura não é apenas a dogmática estreiteza mental, mas
também medo, o que mantém as pessoas agarradas seus velhos conceitos do que é real e racional, porque a própria ciência
está no umbral de um universo surpreendentemente semelhante ao mundo magico e misterioso dos contos de fadas.
Quando se acredita estar firmemente postado numa sólida rocha, é difícil descobrir que a rocha começou a mudar, a se
dissolver, a se transformar em outra coisa. Nesta nova paisagem na qual todos nos, gostando ou não dessa idéia, estamos
sendo lançados, precisamos desesperadamente de mapas. Temos bem poucos roteiros, pois estamos aprendendo, numa
velocidade alarmante, que na realidade conhecemos muito pouco da natureza humana.
Com seu nome atual, a psicologia é uma ciência muito nova, e é, sob muitos aspectos, primitiva e inexperiente como
tudo que esta na sua fase inicial. Entretanto, a psicologia é um dos poucos mapas confiáveis que temos, embora esteja
sendo feito no próprio processo de exploração. Contudo, a psicologia, no seu sentido mais profundo, existe há muito tempo
com outros nomes, o mais antigo dos quais talvez seja a astrologia.
Os psicólogos podem se surpreender com isso mais do que qualquer outra pessoa, mas nossa palavra psicologia
vem de duas palavras gregas – psique, que significa "alma", e logos, que significa "sabedoria" –, e o estudo da alma
humana pertenceu ao domínio da astrologia muito antes de pertencer a qualquer outro." Em alguns círculos, a ciência mais
antiga e a mais nova parecem estar moldando um casamento muito curioso. A astrologia ultimamente tem tido um
renascimento, embora seu valor real não esteja, no conceito popular, desvirtuado dos prognósticos mágicos do futuro, mas
na função muito mais importante de se tornar um instrumento imensamente poderoso para exploração da psique humana.
Embora a psicologia e a astrologia usem diferentes linguagens e métodos de pesquisa e aplicação, o objeto de sua
investigação é o mesmo, e as duas juntas são potencialmente muito fecundas. O produto dessa união ainda está para ser
plenamente reconhecido, mas constitui o objeto deste livro. E se considerarmos a idéia de que os relacionamentos são,
entre outras coisas, um caminho em direção a autodescoberta, é provável que a antiga sabedoria da astrologia e a moderna
percepção da psicologia profunda, juntas, possam dizer-nos alguma coisa sobre nossas formas de relacionamento.
A carta astrológica de nascimento corretamente levantada é um mapa simbólico da psique humana individual. Esse
mapa é como uma semente, pois contém em microcosmo os potenciais existentes no indivíduo e os períodos de sua vida
em que esses potenciais provavelmente serão concretizados. Embora a imagética da astrologia seja diferente da
terminologia mais precisa da psicologia, o mapa astrológico de nascimento pode ser comparado aos modelos da psique que
nos foram oferecidos por homens e gênio e percepção no campo psicológico, como C. G. Jung e Roberto Assagioli. Mas
modelos são apenas modelos, não realidade; também não são eitos para serem interpretados como realidade. Um modelo,
na verdade, é uma sugestão, uma inferência, uma lente através da qual, se olharmos cuidadosamente, podemos vislumbrar
o que não pode ser articulado em palavras ou expresso em conceitos. O coração de cada ser humano é um mistério, e a
essência da atração e repulsa entre indivíduos é igualmente um mistério, por mais que tentemos defini-la em termos
conceituais. Mas com mapas adequados, podemos ao menos começar a entender o mistério com o coração, mesmo que
não possamos apreende-lo com o intelecto.
Não faremos aqui qualquer tentativa de provar ou negar a validade da astrologia. Já existe uma série de excelentes
livros a disposição do investigador interessado, tratando especificamente de provas factuais sobre o assunto e, no fim deste
livro, é fornecida uma bibliografia completa. Cada um deve, no final das contas, formar sua própria opinião sobre a
astrologia, e não se pode formar uma opinião autêntica sem ter algum conhecimento do assunto e sem dispor de alguma
experiência além das concepções e falsas interpretações populares. A esta altura, já devemos ter aprendido que ,tais
concepções e interpretações são extremamente falíveis; não faz muito tempo, acreditávamos que a Terra fosse plana e
sustentada no céu por uma gigantesca tartaruga, e isso com aprovação total dos cientistas da época.
Diz o provérbio que o bolo se prova comendo, e a opinião só pode ser de terminada quando o indivíduo tem
experiência e conhecimento diretos, que o ajudam a cristalizar seu próprio juízo – não um juízo de segunda mão.
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Se este livro não é uma tentativa de justificar a astrologia, tampouco é um manual para a montagem do seu próprio
horóscopo, em parte porque isso implicaria um outro volume, em parte porque já existem muitas obras desse tipo
disponíveis. Todo o material astrológico apresentado aqui, portanto, é interpretativo e não mecânico, de modo que, para
usá-lo com o máximo proveito, o leitor deveria obter, por seus próprios esforços ou recorrendo a um profissional, um
horóscopo corretamente levantado para si e para as pessoas com as quais está envolvido.
Há muitas formas de encarar a realidade, e algumas são válidas para algumas pessoas e não para outras. É
perfeitamente possível que ninguém veja o todo, porque só podemos ver através da perspectiva de nossa própria coloração
psicológica. A realidade, portanto, é subjetiva mesmo para a maioria das pessoas "de mente aberta" ou "desprendidas".
Aprendemos recentemente que mesmo as partículas subatômicas podem alterar seu comportamento de acordo com o
observador, e que o antigamente seguro campo da matéria inanimada não oferece mais segurança como ultimo baluarte da
"realidade objetiva". E esse reconhecimento da parcialidade de nossa visão talvez seja o princípio da sabedoria.
Talvez seja mesmo a hora de tirar a poeira dos nossos velhos livros de contos de fadas, porque o trabalho de Jung
demonstrou que os contos de fadas, como os sonhos, não são o que aparentam. Há uma sabedoria nos mitos e contos de
fadas que fala a alguma coisa em nós que não é o intelecto. As razões desse fato nos levam a um confronto direto com a
realidade da psique inconsciente e do mundo dos símbolos. Se o conto de fadas nos diz que o príncipe e a princesa vivem
felizes para sempre, existe algum sentido nesse final, pois, como até uma criança sabe, os contos de fadas não pertencem
ao mundo comum e não devem ser assim considerados. Eles pertencem ao mundo do inconsciente e são simbólicos. Se o
conto de fadas nos diz que o príncipe, para conquistar a princesa, precisa desafiar o dragão, matar a bruxa má e destruir o
poder da madrasta perversa com a ajuda de seus úteis companheiros animais, isto também tem um significado, e podemos
aprender muito sobre os caminhos que estão abertos a nossa frente quando olhamos a saga do príncipe com olhos
diferentes. Os mitos e os contos de fadas se constituem em mais um mapa para o nosso pais desconhecido. Nas suas
descrições das vicissitudes e lutas do herói em busca de sua amada, espelham uma jornada interior que cada um de nos
precisa fazer para se tornar inteiro. E só quando reconhecemos a nossa própria inteireza e possível reconhecer o estranho,
o outro. Talvez só então possamos verdadeiramente começar a nos relacionar.
Talvez precisemos crescer para baixo, em vez de crescer para cima, para que possamos olhar a nossa assim
chamada realidade com os olhos de uma criança e reconhecer que a verdade pode existir no mundo da psique
independentemente de correlações materiais, "Encarar a vida como ela é" pode, na verdade, ser uma atitude que contém
tremenda arrogância e muito pouca sabedoria, já que nenhum de nós sabe, na realidade, o que a vida é; só sabemos que
aparência ela tem para nós. Nossas vidas tem exatamente tanto ou tão pouco sentido quanto nelas colocamos. Estamos
todos aparentemente sozinhos, mas se deve necessariamente ser assim, ou se a solidão deveria significar o que pensamos
que significa, é questionável.
A maioria de nós precisa ter a coragem de experimentar novas ferramentas, e faze-lo sem preconceito. Jung, como
médico e pesquisador, teve a coragem de aprender a astrologia e usa-la na sua exploração da psique. Se, graças ao seu
trabalho, existe qualquer validade na maior compreensão de nós mesmos que agora possuímos, faz sentido que tenhamos
a coragem de nós explorar através de ferramentas semelhantes – principalmente quando essas ferramentas podem nos
ajudar a viver vidas mais significativas e desfrutar de relacionamentos mais significativos. A saga do príncipe contém muitas
surpresas, e uma das maiores é a descoberta de que cada um de nós é simultaneamente o príncipe, o dragão, a madrasta
má, o animal útil e a amada também somos a saga e o contador da historia, tudo ao mesmo tempo.
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1 A Linguagem do Inconsciente
O mundo e o pensamento são apenas a espuma de ameaçadoras figuras
cósmicas; o sangue pulsa com seu vão; os pensamentos são acesos por seu fogo; e essas
imagens são os mitos.
Andrei Bely
Tudo que passa é elevado a dignidade da expressão; tudo que acontece é elevado a
dignidade do significado. Todas as coisas são ou símbolos ou parábolas.
Paul Claudel
A maioria de nós, que nos acreditamos indivíduos pensantes, gostamos de presumir que sabemos um bocado sobre
nós mesmos. Provavelmente sabemos, sob o ponto de vista de que podemos enumerar nossas virtudes e vícios, catalogar
nossos aspectos, "bons" e "maus" e avaliar nossos gostos e antipatias e objetivos. Mas mesmo um autoconceito de âmbito
tão limitado é grande demais para muita gente, que parece perambular pela vida desprovida de qualquer senso de identidade
além de um nome que não escolheu, um corpo criado sem o seu controle e um lugar na vida que geralmente é o resultado
da necessidade material, do condicionamento social e, aparentemente, do acaso.
Entretanto, mesmo se tomarmos um indivíduo que tem a perspicácia de se "conhecer" em termos comportamentais,
ocorre um fenômeno muito curioso. Peça a ele que se descreva e, se ele for honesto com você e com ele mesmo – uma
premissa bastante rara, para inicio de conversa –, pode ser que lhe faça um retrato bem abrangente de sua personalidade.
Mas peça a sua esposa para descreve-lo, e pode parecer que ela esta falando de outro indivíduo. Surgem traços de
personalidade que o próprio homem parece desconhecer totalmente; são-lhe atribuídos objetivos que são os menos
importantes de seus valores; muitas vezes as qualidades a ele atribuídas são diametralmente opostas aquelas que ele
acredita constituir sua própria identidade. A gente começa a imaginar quem está enganando quem. Pergunte a seus filhos o
que acham de você e vai obter uma descrição totalmente diferente; seus companheiros de trabalho trarão novas
informações; seus conhecidos vão descrever um outro homem. Podemos tentar essa simples investigação e, por meio dela,
verificar que o mais observador de nós, o mais introspectivo, vê apenas o que decide ver através da lente de sua própria
psique; e como nossos conceitos da realidade, tanto a nosso respeito como a respeito dos outros, são sempre vistos
através de lentes tingidas, é inevitável que saibamos muito menos a nosso respeito do que suspeitamos.
Precisamos admitir que o que esta mais próximo de nós é exatamente aquilo que conhecemos menos,
embora pareça ser o que conhecemos melhor.
A despeito do que qualquer pessoa tenha a dizer sobre as teorias de Freud sobre o inconsciente, não podemos
evitar o fato de que o indivíduo registra muito mais em sua psique do que é acessível as limitações de sua percepção ao
consciente. Quer sejamos realmente motivados por necessidades biológicos, Freud sugeriu, ou pela vontade do poder,
como Adler sugeriu, ou pelo impulso em direção a totalidade, como Jung sugeriu uma coisa é clara: geralmente não
percebemos nossas motivações mais profundas e, por causa desse grau de cegueira, dificilmente podemos ter percepção
das motivações de qualquer outra pessoa.
Os conceitos de consciente e inconsciente ao difíceis de explicar porque são energias vivas que, diferentemente dos
órgãos do corpo físico, não se prestam a classificação. Não obstante, a psique contém vasto campo de material oculto,
geralmente só comunicável através de canais normalmente rejeitados ou menosprezados. A maioria das pessoas não
entendem seus sonhos e freqüentemente não fazem nenhum esforço para lembrar-se deles, ou os consideram sem sentido;
as fantasias são consideradas infantis, a não ser as eróticas, e nesse caso são consideradas pecaminosas; as explosões
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emocionais são consideradas embaraçosas e disfarçadas com desculpas variando da má saúde as dificuldades de negócios.
Em termos de relacionamento, talvez, o mais importante mecanismo que possuímos para ver dentro da psique seja a
projeção. Muitas vezes, usamos essa palavra em relação ao cinema, e seu significado nesse contexto pode nós ajudar a
entende-lo também no sentido psicológico. Quando vemos uma imagem projetada em uma tela, olhamos a imagem e
respondemos a ela, em vez de examinar o filme ou a transparência dentro do projetor, que é a fonte real da imagem; também
não olhamos a luz dentro do projetor, que nos torna possível ver a imagem. Quando uma pessoa projeta alguma qualidade
inconsciente, existente dentro de si, em outra pessoa, esta reage a projeção como se pertencesse ao outro; não lhe ocorre
olhar em sua própria psique para descobrir a origem. Ela vai tratar a projeção como se existisse fora de si, e seu impacto
geralmente aciona uma alta carga emocional porque, na realidade, a pessoa está encarando o seu próprio ser inconsciente.
Esse mecanismo muito simples funciona sempre que temos qualquer reação emocional altamente carregada ou
irracional, positiva ou negativa, a outra pessoa. É trabalho para toda uma vida introjetar, reconhecer e trazer de volta para
nos essas qualidades inconscientes, de modo que possamos começar a distinguir os vagos contornos da identidade do
outro. E, com certeza, não nos aproximamos mais, porém nos distânciamos, quando formamos ou rompemos
relacionamentos de acordo com respostas baseadas em nossas próprias projeções.
Simplesmente lhe damos outro nome, e normalmente negamos que seja nossa culpa. Tudo que
é inconsciente em nos, descobrimos no nosso vizinho, e o tratamos de acordo com isso .
Por que deveríamos atribuir aos outros o que nos pertence? É compreensível se considerarmos as qualidades "más".
Se não gosto de uma determinada característica minha, se de fato a sua admissão é tão dolorosa que ela permanece
inconsciente, essa minha parte não-admitida vai me atormentar no seu ímpeto pela expressão, parecendo me confrontar a
partir do exterior. É mais difícil entender por que deveríamos rejeitar qualidades positivas. Para tanto, é preciso aprender
algo a respeito da estrutura e das leis da psique – sempre lembrando que qualquer coisa que a psicologia tenha a dizer
sobre a psique é, na realidade, a psique falando a seu próprio respeito, o que toma impossível a "objetividade completa".
O ego é o centro do campo da consciência de todo dia, racional; de forma muito simples, é o que eu sei – ou penso
que sei – que sou.
Para a maioria de nós, o ego é tudo que sabemos de nós mesmos, e enquanto ficamos nesse ponto e olhamos o
mundo, o mundo nos parece colorido pelo ponto de vista particular do ego. Qualquer pessoa que tenha uma visão diferente,
presumimos que seja teimosamente dotada de estreiteza mental, ou esteja deliberadamente mentindo, ou seja
possivelmente anormal ou louca.
O ego parece se desenvolver de acordo com determinadas linhas desde o nascimento. Se fossemos totalmente o
produto de nossa hereditariedade, de nossos condicionamento e meio ambiente, as crianças nascidas nas mesmas
circunstâncias seriam exatamente iguais psicologicamente – o que evidentemente não acontece.
A astrologia também sugere que o temperamento do indivíduo é inerente ao nascimento, e uma compreensão da
astrologia pode ser útil na percepção da natureza dessa semente que desabrocha no ego adulto.
Ela pode não apenas nos falar do eu que conhecemos, mas também do que não conhecemos simbolismo do mapa
de nascimento também reflete a tendência humana natural de experimentar e avaliar a vida através do ego, pois o
horóscopo é uma mandala que tem a Terra, e não o Sol, no seu centro. Ele mostra, em outras palavras, como a vida
aparece, e como provavelmente será experimentada, pela consciência individual, e não o que a vida verdadeiramente é.
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Na medida em que crescemos, Há muitas qualidades de nossa natureza que não são incorporadas ao ego em
desenvolvimento, embora, mesmo assim, nos pertençam. Essas coisas devem ter permissão para viver, mas podem ser
inaceitáveis para os pais, podem conflitar com doutrinas religiosas, violar padrões sociais ou, finalmente, mas não menos
importante, simplesmente conflitar com aquilo que o ego valoriza mais. Algumas dessas qualidades rejeitadas podem ser
"negativas" por as julgarmos destrutivas; algumas podem ser "positivas" e ter muito mais valor, individual e socialmente, do
que aquilo que o ego fez de si próprio. Com efeito, um indivíduo pode valorizar a mediocridade – sem perceber o que esta
fazendo – e sufocar dentro de si as sementes emergentes de unicidade e criatividade; ou sua auto-imagem pode ser
excessivamente modesta, sendo então as qualidades mais excepcionais relegadas ao inconsciente. Todas essas coisas
serão projetadas num objeto adequado.
O objeto de uma projeção não se limita a indivíduos. Pode ser uma organização, uma nação, uma ideologia ou um
tipo racial que se torna o foco para a projeção do lado escuro, não-admitido, da pessoa. Uma pessoa que se opõe com
violência e irracionalidade ao capitalismo pode estar projetando tão fortemente quanto aquela que seja igualmente violenta e
irracional em sua reação ao comunismo. A qualidade característica da projeção não é o ponto de vista, mas a intensidade e
a alta carga da reação. Pode-se ficar no meio de uma discussão entre duas pessoas e ouvir, com espanto, como uma acusa
a outra do que ambas estão fazendo. Quando se está de fora, isso é engraçado e ao mesmo tempo trágico, como pode
atestar a maioria dos conselheiros conjugais. Mas quando se está envolvido, sob o sortilégio do próprio mecanismo de
projeção, com o inconsciente despertado, fica-se absolutamente convencido da própria razão. Aceitar a dolorosa e
onipresente possibilidade de estar errado é desagradável, porque significa abrir mão de ilusões Há muito alimentadas sobre
nós próprios. Viver a vida sem essas ilusões requer coragem e um senso moral que não tem semelhança com o conceito
social comum de uma moralidade já estabelecida. Não é de surpreender que projetemos, porque apenas assim podemos
continuar a culpar os outros pela nossa dor, em vez de reconhecer que a psique contém tanto a sombra como a luz e que
nossa realidade é aquela que nós mesmos criamos. Entretanto, na projeção e na subsequente descoberta, jaz um veículo
imensamente importante pelo qual podemos chegar a conhecer o que esta oculto em nos e o que não vemos nos outros.
É comum focalizar a projeção numa tela que tem uma ligeira semelhança com a imagem projetada, embora seja
também comum a semelhança ser interpretada como identidade. A pessoa precisa ser um bom "gancho" para acomodar a
coisa de que queremos nos livrar; e, além disso, desejamos ser um pouco seletivos nos relacionamentos. (Aqui também,
como veremos, a astrologia fornece uma importante chave para o que possivelmente projetaremos e que tipo de indivíduo
provavelmente vamos escolher para honrar ou insultar, outorgando-lhe nossa projeção .) Mas, a despeito da semelhança
entre a tela e a imagem, elas nunca são iguais, e a projeção é quase sempre um gritante exagero de alguma característica
que, por si só, poderia estar harmoniosamente integrada na natureza da pessoa ou do outro.
Há certos aspectos desagradáveis da projeção que entram nos relacionamentos. Se uma pessoa é eternamente o
alvo das qualidades inconscientes de outra, e se carece do autoconhecimento para discernir o que esta acontecendo, com o
tempo ela vai começar a se assemelhar a projeção. Todos nós sabemos de situações aparentemente inexplicáveis nas
quais, por exemplo, uma mulher parece ter o azar de atrair uma parceria dolorosa atrás da outra. Todos os seus amantes
podem bater nela, embora não tenham um histórico de tal comportamento anterior; balançamos a cabeça tristemente e
dizemos algo a respeito da condição lamentável da mulher, nunca reconhecendo o conluio inconsciente que sua situação
implica. Através das nossas projeções, damos um jeito de extrair das outras pessoas qualidades que, de outra forma,
poderiam ter permanecido sementes que nunca brotariam; e nenhum de nós pode dizer que sua própria psique não contém
as mesmas possibilidades tanto para o bem como para o mal. Nenhum de nós pode julgar sementes. Mas, com a cuidadosa
irrigação e com a luz do Sol de nossas projeções, provocamos essas respostas uns nos outros, de uma forma que as vezes
parece uma possessão demoníaca.
O homem que acredita que as mulheres são devoradoras, manipuladoras e destrutivas, porque há alguma parte
inconsciente dele que contém essas qualidades, pode mascarar tudo isso debaixo de uma atitude consciente de atração
pelo sexo oposto; entretanto, pode ficar horrorizado ao descobrir que toda mulher com a qual se envolve acaba, no fim das
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contas, tentando devora-lo, manipulá-lo e destrui-lo. Pode acreditar que descobriu uma verdade geral sobre as mulheres. No
entanto, é possível que ele mesmo tenha provocado essas qualidades nas mulheres, que poderiam nunca tê-las
demonstrado de outra forma. Em outro relaciona mento, a mesma mulher poderia se comportar de uma maneira totalmente
diferente; e como a opinião coletiva do sexo masculino não é unanime a respeito da misoginia, podemos, seguramente,
abrigar algumas suspeitas sobre nosso pobre cavalheiro devorado.
Mas de quem é a culpa aqui? Podemos dizer que alguém é responsável pelo inconsciente? Não é mais realista e
mais caridoso admitir que não podemos controlar aquilo que ignoramos? Até um tribunal reconhece que um crime cometido
em estado de insanidade merece tratamento psiquiátrico e não punição. O que dizer, então, de nossas projeções
inconscientes de hostilidade, raiva, estupidez, destrutividade, possessividade, ciúme, maldade, mesquinharia, brutalidade e
a miriade de outros aspectos de nosso próprio lado sombrio que julgamos eternamente ver nas pessoas que achamos
haver nos desapontado? Embora não sejamos responsáveis pelo inconsciente – afinal o ego é apenas um crescimento
recente da matriz do inconsciente –, é nossa responsabilidade tentar aprender um pouco sobre ele, tanto quanto possível
dentro das limitações da consciência. Talvez este desafio faça parte do nosso Zeitgeist. Depois de tantos milhares de anos
de história, já não somos crianças, e precisamos aceitar as responsabilidades da idade adulta psicológica. Uma dessas
responsabilidades é dar ênfase as nossas projeções.
Não sabemos muita coisa sobre o inconsciente, e isso é obvio uma vez que ele é, acima de tudo, inconsciente.
Sabemos que esse mar sem limites, do qual surge nosso pequeno farol da percepção, parece funcionar de acordo com
padrões de energia e leis diferentes; tem um modo de comunicação e uma linguagem diferentes, e deve ser explorado
levando em conta essas diferenças. Se um inglês viaja pela Alemanha, não pode esperar ser entendido se teimar em falar
apenas inglês, e o mesmo se aplica a relação entre o ego e o inconsciente. Infelizmente, o ego, em geral, tem a mesma
atitude do inglês, e fica espantado quando esse tipo de compromisso é requerido. Mas se nosso objetivo for investigar-nos e
desenvolver nosso potencial real, é preciso aprender a linguagem do inconsciente. E ele é sem duvida um alienígena – tão
alienígena que rimos nervosamente, ou nos encolhemos de medo quando o encaramos nos sonhos, nas fantasias, nas
explosões emocionais e em todas as áreas da vida onde uma qualidade magica ou estranha impregna a nossa percepção e
esfumaça os contornos do que acreditávamos ser a realidade nítida e bem definida.
Só acreditamos que somos os senhores de nossa casa porque gostamos de nós lisonjear. Na verdade,
entretanto, somos dependentes, num nível surpreendente, do funcionamento adequado da psique
inconsciente, e precisamos confiar que ela não nos falhe.
Um dos postulados mais importantes estabelecidos por Jung sobre o inconsciente é que ele compensa o consciente.
A psique é um sistema auto-regulador que se mantém em equilíbrio da mesma forma que o corpo. Cada processo que vai
muito longe, imediatamente, e inevitavelmente, exige uma atividade compensatória .
Tudo, em outras palavras, que não está contido ou expresso na vida do ego. esta contido no inconsciente, de uma
forma nascente e incipiente.
Uma das características do ego consciente é que ele se especializa e se diferencia; o inconsciente, por outro lado, é
um mar fluido, mutável, indiferenciado que flui a volta, acima e abaixo da concha nítida do ego, desgastando algumas partes
e depositando partes novas, da mesma forma que o próprio mar flui a volta de um promontório rochoso. A psique como um
todo contém todas as possibilidades; o ego só pode funcionar com uma possibilidade de cada vez, já que sua função é
ordenar, estruturar e tornar manifesto um fragmento particular das ilimitadas experiências da vida.
Não é de surpreender que no mito e nos contos de fadas esse mundo do inconsciente seja com tanta freqüência
simbolizado pelo mar, e a jornada do herói nas profundezas é a jornada do ego nas profundezas da psique. O inconsciente
é um mundo submarino, cheio de criaturas estranhas e magicas; e para os pulmões humanos, acostumados a respirar o ar, a
imersão total naturalmente é a morte psicológica. Chamamos essa morte de insanidade. A luz de tudo isso, podemos
começar a entender por que a pessoa que cresceu com uma formação deturpada, cujo ego se desenvolveu por um
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caminho estreito e ao qual se negaram todas as outras expressões possíveis, também seja aquela que tem mais
probabilidade de fazer intensas projeções sobre os outros e ser mais assediada pelos aparentes defeitos dos outros seres
humanos.
O modo primário de expressão do inconsciente é o símbolo. Estamos rodeados de símbolos durante a vida toda,
vindos da nossa vida interior, da vida dos outros e do mundo a nossa volta, mas muitas vezes somos indiferentes a seu
significado e a seu poder. Um símbolo não é a mesma coisa que um sinal; não é simplesmente algo que representa outra
coisa. Os vários sinais que vemos na estrada, por exemplo, tem significados específicos: não vire a direita, não estacione,
obras adiante. Mas um símbolo sugere ou infere um aspecto da vida cuja interpretação é inesgotável e que, em ultima a
analise, escapa a todos os esforços do intelecto para limitá-lo ou determiná-lo. Não se pode nunca sondar totalmente as
profundezas de seus multifacetados significados, nem se pode catalogar esses significados em termos intelectuais, porque
freqüentemente contem antíteses que o ego consciente não consegue perceber simultaneamente. Além disso, os
significados de um símbolo não são ligados pela lógica, mas pela associação, e as associações podem irradiar-se numa
quantidade de direções contraditórias. Não podemos ter consciência de todas as associações ao mesmo tempo, nem
delimitar um perímetro para as ondulações da associação da mesma forma que fazemos para o caminho claramente
definido da lógica. Um símbolo é como uma pedra lançada no lago da psique. Estamos no meio do lago, por assim dizer, e
não temos olhos nas costas.
Um símbolo evoca uma resposta nossa em nível inconsciente, porque compreende associações não logicamente
relacionadas e que são fundidas num todo significativo. Um exemplo simples é o da bandeira de um determinado país. Para
um patriota, essa bandeira é o símbolo de tudo que o país significa para ele; na sua presença, todos os valores emocionais
e religiosos corporificados por ela, o senso de liberdade ou de sua falta, seu lar, suas raízes, sua herança, as possibilidades
do futuro e uma miriade de outras associações que nunca poderíamos explicar completamente explodem dentro dele em um
instante com alta carga emocional. Podemos ver, nesse simples e tosco exemplo, o poder do símbolo. Uma bandeira pode
evocar ódio, violência, paixão, amor, sacrifício, autodestruição ou heroísmo, e precipitar o indivíduo – ou uma comunidade de
indivíduos – numa reação emocional sobre a qual não Há controle consciente. O símbolo da suástica, usado com fria
inteligência e total conhecimento do seu poder, ajudou a lançar o mundo no caos Há apenas quarenta anos; e mesmo
agora, quando é vista numa parede de metro ou de um prédio, ele tem a capacidade de provocar poderosas reações
emocionais e uma multidão de pode rosas associações. De forma muito semelhante, os símbolos religiosos convencionais
podem ter imenso poder. O crucifixo prateado no pescoço de um cristão devoto, ou a estrela de Davi no pescoço de um
judeu, tem um significado que nunca pode ser comunicado em palavras, mas proporciona um vislumbre daquilo que, para
muitos, é o mais elevado e mais sagrado dos mistérios, corporificado numa simples forma geométrica.
A bandeira, a suástica, a estrela de Davi e o crucifixo são símbolos que podemos prontamente identificar como tal.
Mas há símbolos a nossa volta que não identificamos com tanta facilidade, porque são expressões dos padrões energéticos
subjacentes que moldam a própria vida, Jung chamou essas linhas básicas de energia de arquétipos, e, embora um
arquétipo não tenha forma, ele se comunica conosco através de muitos símbolos de natureza tão vasta que o ego
consciente recua assombrado. A própria natureza, como a humanidade, funciona de acordo com padrões arquetípicos, ao
mesmo tempo que os corporifica. No ciclo das estações, por exemplo – com a vida nova surgindo na primavera, a
maturidade e a frutificação no verão, a desintegração gradual e a colheita no outono, a esterilidade e a germinação
subterrânea secreta no inverno – podemos ver o ciclo de nossas próprias vidas, do nascimento á maturidade, decadência,
morte e renascimento. O ciclo do Sol no céu, nascendo no leste, culminando no Meio-do-céu, pondo-se no oeste, e
desaparecendo durante a noite apenas para nascer novamente, parecia aos antigos ser a face de Deus, porque viam
refletida, na jornada solar, a totalidade da vida. Diferentemente dos nossos antepassados. não mais adoramos o Sol, mas
ainda respondemos inconscientemente ao símbolo. O crescimento de uma planta, de semente a folha, a flor e novamente a
semente, simboliza mais uma vez esse processo da vida – assim como os quartos da Lua, os ciclos dos planetas e das
constelações. Aqui podemos começar a ver por que a astrologia era, para os antigos, um olho que se abria para o
funcionamento do universo – porque toda experiência da qual um ser humano é capaz, se vista simbolicamente, pode
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encontrar um correspondente num desses ciclos naturais no céu. A linguagem da literatura esta cheia de correspondências
semelhantes, assim como o mito e o conto de fadas; e nos também as empregamos no nosso discurso diário, quando
falamos das marés da vida, da fase crescente ou minguante da vida, do desejo, do amor. Essas coisas precisam ser
meditadas e sentidas, em vez de analisadas, pois os símbolos naturais da vida nos falam sobre a nossa inteireza e a nossa
ligação com os outros e com o próprio fluxo da vida; mas não é ..- possível discerni-los se olharmos apenas com o intelecto.
poderíamos ampliar mais ainda esse conceito e sugerir que mesmo nós, seres humanos, somos símbolos, pois todo o
universo é energia, e Há certos padrões energéticos subjacentes básicos sem forma, porém com qualidades definidas que
se corporificam como o homem.
Freud passou muito tempo tentando demonstrar que tudo, nos sonhos, é símbolo dos órgãos sexuais masculinos ou
femininos. O que não lhe ocorreu foi a possibilidade de estar considerando as coisas ao contrário, e que os órgãos
masculinos e femininos são, eles mesmos, símbolos das misteriosas energias, arquetípicas que os chineses chamam yin e
yang. Como se diz que Jung afirmou certa vez, até o pênis é um símbolo fálico. Aquelas qualidades que associamos com a
masculinidade: franqueza, vontade, clareza, abertura, força, são espelhadas no corpo de todo homem, e aquelas
associadas com a feminilidade: sutileza, ocultação, delicadeza, gentileza e suavidade, também estão espelhadas no corpo
de toda mulher. Em conseqüência do trabalho da vida de Jung, temos razões para acreditar que o arquétipo, a própria
energia básica, exista antes de haver uma forma através da qual ele possa manifestá-se. Ou, na expressão da Bíblia, no
principio era o Verbo.
Quando olhamos o rosto dos outros, vemos ali os símbolos de traços de caráter inerentes. Expressamos isso
instintivamente, quando falamos de queixo franzino, maxilar determinado, testa de erudito, nariz aquilino, mãos artísticas e
olhos penetrantes. Estamos colocando em palavras nossa percepção inconsciente) de que o próprio corpo pode ser um
símbolo do indivíduo, e vemos na forma física uma destilação cristalizada e concretizada do outro que está diante de nós.
Esse é um principio importantíssimo para ponderar, porque nos diz algo sobre o que é, de fato, a atração ou repulsa sexual.
Um mundo muito diferente abre-se para nós se entendermos que a, realidade manifesta é, em si mesma, um
símbolo. Esta é a base sobre a qual se estabeleceram todas as doutrinas religiosas, e todo o pensamento esotérico, a
tradição de sabedoria secreta de séculos, deriva desse milagre do símbolo que Emerald Tablet cristalizou na frase: "Assim
em cima como embaixo." Jung insinua a mesma direção em seu trabalho, mas, como cientista, foi obrigado a basear suas
idéias em observações empíricas e não em visão intuitiva – ou, pelo menos, apoiar sua visão em fatos verificáveis.
A psique surge de um principio espiritual que é tão inacessível ao nosso conhecimento quanto a matéria
Podemos começar agora a vislumbrar o que realmente significa o inconsciente. Freud acreditava ser uma lata de lixo
na qual se despejava a acumulação particular dos fragmentos rejeitados de cada pessoa; acreditava que seu conteúdo fosse
composto quase exclusivamente de desejos reprimidos inaceitáveis para o ego consciente e para a sociedade na qual o
indivíduo vivia. Sem duvida Há uma acumulação de sujeira no inconsciente de cada um – provavelmente em proporção
direta e compensatória á “limpeza" do ego consciente.
Ao mesmo tempo, também há uma acumulação de riquezas. Além do mais, a sujeira também é relativa; não é muito
apetitosa na mesa da cozinha, mas todo jardineiro sabe que sem seu adubo teria um jardim muito inferior O inconsciente
abre acima e abaixo de nós um repositório de (imensa energia criativa uma matriz da qual, surgem todas as coisas, e não
para no nível individual, mas se funde num grande mar coletivo, além das fronteiras humanas, que se estende até o
desconhecido. É possível que o que a psicologia moderna chama inconsciente fosse conhecido pelos antigos como os
deuses, ou Deus; e não é de surpreender, quando meditamos sobre essas coisas, que a ciência e a religião, depois de se
terem apedrejado mutuamente por tantos séculos, estejam começando a descobrir que viajam na mesma direção. rumo ao
mesmo mistério – por mais que seus veículos sejam diferentes.
Dessa excursão ao mundo em que se encontram a psicologia e a religião, vamos voltar aos problemas práticos dos
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relacionamentos. Podemos ver agora que a maior parte das coisas que ocorrem num relacionamento é inconsciente, porque
a maior parte do que uma pessoa é permanece inconsciente. O mistério de por que um homem é atraído por um certo tipo
de mulher, por que ele começa seus relacionamentos de uma determinada forma, por que eles seguem um determinado
rumo e por que ele encontra determinados problemas com os quais deve lidar, torna-se menor quando percebemos que
muito do que chamamos atração e repulsão é, na verdade, atração ou repulsão que pertencem à qualidades inconscientes
do próprio homem. É rara a pessoa que pode dizer que não há um elemento de projeção em seus relacionamentos, já que,
provavelmente, boa parte do inconsciente nunca pode tornar-se de fato consciente, e que assim vamos eternamente
projetar. Pode ser que projetemos até mesmo Deus. Quem, então, é a amada, e onde vamos encontra-la? No interior ou no
exterior? Ou em ambos?
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Novalis
O Mapa de Nascimento
Qualquer compreensão da linguagem da astrologia deve começar com um entendimento do que o horóscopo de
nascimento pode e não pode nós dizer. O horóscopo é um mapa astronômico altamente complexo, baseado não apenas na
data de nascimento, mas também no horário, ano e lugar. Em primeiro lugar, portanto, é preciso descartar todas as noções
preconcebidas e preconceitos baseados na astrologia das revistas populares, que não tem virtualmente nada que ver com o
estudo verdadeiro.
O mapa de nascimento não conjura o fado de um indivíduo de forma predestinada. Em vez disso, simboliza as linhas
básicas do desenvolvimento potencial de seu caráter. Com um mínimo de reflexão, percebe-se que uma pessoa agirá e
moldará sua vida de acordo com suas necessidades medos e capacidades, e que essas necessidades. medos e
capacidades derivam de sua disposição intrínseca. Nesse sentido, o caráter é o fado, e se formos ignorantes de nossas
próprias naturezas – como o é a maioria que nunca investigou o inconsciente –, os astros não poderão ser culpados pelo fato
de seguirmos precipitada e cegamente o caminho que nós mesmos escolhemos.
Esse ponto fundamental é critico para a compreensão de todo o estudo da astrologia. A interpretação mais superficial
de fado e livre-arbítrio – fado é o que estou "destinado" a fazer, enquanto livre-arbítrio é o que "escolho" fazer – nos
impossibilita ver o sutil paradoxo de que esses dois opostos são um e o mesmo.
Sabemos que além de toda vida, seja psíquica ou material, jazem os padrões arquetípicos, os ossos nus da estrutura
da existência. Ainda não sabemos se há qualquer base material para o fato de os dados astrológicos se correlacionarem com
o comportamento humano, embora não demore muito até que tenhamos as provas, através da nossa pesquisa sobre
relógios biológicos e os ciclos das manchas solares. A trabalhosa e rigorosa pesquisa estatística de Michel Gauquelin
demonstrou de forma dramática que tais correlações são válidas , mas a razão de sua validade ainda nos escapa. Os fatos
materiais referentes a astrologia, entretanto, como a possibilidade de emanações de energia dos planetas que afetam o
campo de energia do Sol, são apenas uma das pontas do espectro do arquétipo. A outra ponta é si e as posições o céu
num momento determinado, repetindo as qualidades daquele momento, também refletem as qualidades de qualquer coisa
nascida naquele momento, seja um indivíduo uma cidade, uma idéia, uma companhia ou um casamento. Um não causa o
outro; são sincrônicos, e se refletem mutuamente.
No que diz respeito a razão dessa sincronicidade, temos, de um lado, 4 arquétipos de Jung do inconsciente coletivo
e, de outro, os ensinamentos da doutrina esotérica. Esses dois pontos de vista parecem revelar a mesma verdade, que as
descobertas da física quântica e da biologia nos últimos vinte e cinco anos estão começando a asseverar. A vida é na
verdade um organismo, e as várias partes desse organismo, embora diferentes em forma e aparentemente separadas,
participam do mesmo todo e estão interligadas com todas as outras partes.
Se eu tenho "maná" na minha constituição, posso atrair "maná" do céu... "Saturno" não está apenas no
céu, mas também nas profundezas da terra e no oceano. O que é "Vênus" senão a "artemísia" que
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cresce no seu jardim? O que é "ferro" senão "Marte"! Isto é, Vênus e artemísia são produtos da rnesma
essência, e Marte e ferro são manifestações da mesma causa. O que corpo humano senão uma
constela o dos mesmos poderes que formaram as estrelas no céu? Aquele que sabe o que é o ferro,
sabe os atributos de Marte. Aquele que conhece Marte, conhece as qualidades do ferro .
O sistema solar não é apenas um arranjo do Sol e dos planetas físicos unidos pela força da gravidade e orbitando no
espaço. Também pode ser visto como o símbolo de um padrão de energia vivente, refletindo as formas menores de vida
contidas nele a qualquer momento. Na tentativa de compreender o simbolismo do horóscopo de nascimento, é útil considerar
o que conhecemos da psique, pois o mapa no nascimento é realmente um modelo, em termos simbólicos, dos vários
padrões de energia psíquica que compõem o indivíduo. Sabemos que o ego, como centro do campo da consciência, é um
centro regulador cuja função é iluminar as áreas do inconsciente tanto pessoal como coletivo, que estão procurando a luz; e
sabemos também que o é o delegado ou o reflexo daquele centro misterioso que Jung chama Self e o ensinamento
esotérico, chamado Alma. Sabemos também que na medida em que o indivíduo se desenvolve, é provável que bloqueie do
seu campo de consciência aqueles aspectos de sua natureza que na realidade lhe pertencem, mas que, por uma razão ou
outra, são incompatíveis com seus valores ou com os valores de sua família ou da sociedade. Finalmente, sabemos que é
extremamente importante, se busca a autoplenitude e uma vida significativa que realize também o propósito maior para o
qual se nasceu, trazer a luz esses aspectos da própria natureza em vez de condená-los à perpétua escuridão inconsciente.
Como projeção ideal dos primeiros dias da infância, a personalidade quase nunca é totalmente expressa; apenas uma parte
é realizada, e, no caso de muitas pessoas, essa parte é de longe menor do que constitui seu verdadeiro patrimônio
hereditário. Nesses casos, dizemos que a pessoa nunca desenvolveu realmente seu potencial, ou que desperdiçou
oportunidades ou talentos, ou que nunca foi realmente "verdadeira consigo própria".
O mapa de nascimento é uma semente ou esquema de tudo que, em potencial, pertence a personalidade de uma
pessoa – se florescer totalmente, em plena consciência. E o mapa de uma estrada no seu sentido mais autentico, pois o
objetivo de seu estudo não é "superar" as "influencias" dos planetas, mas sim dar espaço, na vida da pessoa, para a
expressão de todas as qualidades e impulsos nele simbolizados. Só então o indivíduo pode se aproximar do plano original
do desenvolvimento de sua vida conforme foi "concebido" – pois precisamos, no fim, concluir por um desenvolvimento
inteligente, com propósito – pelo Self.
Se isto parecer uma definição muito obscura ou elevada do horóscopo de nascimento, cabe lembrar que a astrologia,
antes de se tomar propriedade das colunas em revistas e jornais populares, foi um arte sagrada. Através dela, o estudioso
tinha acesso a uma percepção intuitiva do funcionamento das energias por trás da vida, que nenhum outro sistema antigo –
com exceção, talvez, do seu equivalente oriental, o I Ching – podia proporcionar. O grande esta refletido no pequeno, e o
fato de a astrologia também poder ser usada para esclarecer problemas mais mundanos não compromete seu valor
psicológico mais profundo. É apenas um reflexo do fato de que, mesmo nos menores detalhes de nossa vida refletimos
aquilo que é a nossa essência.
Visto por este prisma, torna-se claro que a compreensão do horóscopo de nascimento proporciona uma nova
dimensão a compreensão do caminho de vida de alguém. Da mesma forma, a comparação de dois horóscopos fornece
informação considerável sobre o interfuncionamento de duas vidas; e foi dessa arte de comparação de mapas que se
desenvolveu a sinastria o uso da comparação de mapas para investigar e avaliar os relacionamentos.
Em termos astronômicos, o horóscopo de nascimento é simplesmente um mapa – calculado com precisão, de modo
que não possa ser criticado pelo mais impertinente astrônomo – do céu, conforme aparece na hora e local exato do
nascimento do indivíduo. O círculo dos dozes signos zodiacais é um símbolo da totalidade, e em sua totalidade representa
todas, as possibilidades da vida. Nesse sentido, o zodíaco é como qualquer outro símbolo universal de inteireza coma o ovo,
ou o urobouros. (a serpente que devora a sua cauda), ou a cruz de braços iguais. É uma mandala, e como Jung
demonstrou, as mandalas são a expressão simbolica da inteireza potencial da vida e da psique humana. São ao mesmo
tempo símbolos do Self e símbolos de Deus, pois os dois são, em termos da percepção humana, a mesma coisa.
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Contra o cenário desse circulo do zodíaco (que é chamado eclíptica e é, na verdade, o circulo aparente do Sol
cruzando o céu) ficam o Sol, a Lua e os oito planetas conhecidos. As posições desses planetas, conforme se colocam na
roda zodiacal no momento do nascimento do indivíduo, formam o padrão interno do mapa de nascimento. Assim, temos um
quadro Simbólico, com a roda da inteireza no exterior e a combinação individual dos componentes psicológicos no interior.
Cada mapa é composto dos mesmos ingredientes: doze signos zodiacais, oito planetas, o Sol e a Lua. Entretanto, cada
mapa é diferente porque em qualquer momento particular o arranjo o de todos esses fatores é diferente, tanto no padrão
planetário como no relacionamento entre os planetas e o horizonte e a própria Terra.
Em outras palavras os seres humanos são construídos a partir da mesma matéria-prima, dos mesmos impulsos ou
energias, necessidades e possibilidades; mas existe um arranjo individual dessas energias que dá a ca de singularidade ao
padrão. As mesmas forças estão presentes em todos nós, fato com o qual nos deparamos sem cessar em qualquer trabalho
envolva aconselhamento ou terapia. Mas existe um singularidade criativa que faz dessas energias básicas uma obra de arte
única que é a vida individual. Essa forma criativa, é preciso entender, não deriva do ego, que é dificilmente capaz de tal feito;
ela deriva do self, e o Self, como tal, não está mapeado no mapa de nascimento. É o zodíaco inteiro. O mapa também não
de mostrar a decisão do indivíduo em qualquer momento de sua vida, de cooperar voluntariamente com os esforços de sua
própria psique rumo a uma maior consciência, e portanto a um uso mais completo dos potenciais que lhe pertence desde o
começo. Nessa decisão reside o significado mais profundo do livre-arbítrio individual.
Os Planetas
Os blocos básicos da construção no simbolismo astrológico são os oito planetas, o Sol e a Lua. No jargão astrológico,
referimo-nos também ao Sol e a Lua como planetas. porque isso torna as coisas mais fáceis. Em astronomia, esses dez
corpos celestes são os componentes do organismo do nosso sistema solar. Simbolicamente, formam o organismo da psique
humana. Nos antigos ensinamentos esotéricos, acreditava-se que o espaço não era "vazio", mas, na realidade, o corpo
vivente de uma vida gigantesca, um organismo que possuía os atributos de consciência e propósito. Sua forma física era o
sistema solar, e o Sol expressava o coração, em torno do qual a Lua e os oito planetas serviam como órgãos ou centros de
energia – da mesma forma que as órgãos do corpo humano servem a função primária do coração doador da vida. Antes da
descoberta de Urano em 1781, apenas cinco planetas eram conhecidos; mas podemos ver vagas sugestões dos outros três
na mitologia" invariavelmente simbolizados como deuses invisíveis, vivendo debaixo das águas ou da terra. Embora
possamos considerar esse conceito esotérico do sistema solar abstrato e difícil de imaginar, é um símbolo indispensável
para qualquer tentativa de compreender como os planetas funcionam no mapa de nascimento.
Podemos agora começar a investigar o significado de cada um dos corpos celestes de acordo com os impulsos
básicos ou padrões arquetípicos que simbolizam no indivíduo.
O Sol e a Lua
O Sol, o coração do sistema solar e, isoladamente, o símbolo mais importante no mapa de nascimento, sugere, por
sua representação pictórica – um ponto no centro de um circulo – que reflete o impulso do indivíduo para se tornar ele
próprio. Embora isso pareça bastante simples, é tarefa para uma vida. O circulo é o antigo símbolo da inteireza, da
divindade e da eterna unidade da vida, porque não tem princípio nem fim; o ponto no centro sugere que o espirito, ou a
vida, ou o Self, se manifesta (em um lugar determinado e em um determinado momento) como um ego individual que
possui, como um de seus atributos, o impulso em direção à auto realização . Como qualquer outro símbolo vivo, o Sol no
mapa de nascimento não pode ser reduzido a algumas palavras-chave bem escolhidas. Mas podemos começar a penetrar
seu significado se soubermos que ele sugere o caminho que o indivíduo deve seguir para preencher seu impulso básico de
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obter um senso de identidade. Poderíamos dizer que o Sol simboliza o impulso para a autoexpressão, a auto-realização, a
autoconsciência ou uma série de outros termos que realmente não fazem sentido a não ser que se esteja consciente da
necessidade subjacente, na pessoa, para ser ela mesma, e a não ser que se possa ver essa necessidade em
funcionamento em todos os atos criativos executados não por qualquer motivo dissimulado, mas como um autentico reflexo
da essência da individualidade.
Os planetas do mapa de nascimento simbolizam as experiências arquetípicas da vida, e a astrologia é apenas uma
forma de retratá-las. Outra, como já vimos, é o mito e o conto de fadas, e o Sol pode ser considerado um reflexo do mesmo
principio expresso como o Herói. A saga do Herói é a mesma jornada expressa através do simbolismo do mapa de
nascimento, e o Herói, sempre e sempre, procura primeiro sua outra metade, para que possa ficar inteiro, e em seguida sua
origem, para que possa realmente identificar sua ascendência e seu propósito. Poderíamos também dizer que o Sol. no
horóscopo, é um símbolo do impulso, dentro do indivíduo, para identificar aquele centro ou força vital de que seu ego
consciente, seu "eu" pessoal, é um reflexo.
O Sol, portanto, é um símbolo da ego, no sentido que Jung da ao termo. Em ultima análise, é o recipiente ou veículo
para que a totalidade da psique, o Self, se torne manifesta. Como já observamos, o mapa não mostra o Self, que é
simbolizado pela roda zodiacal como um todo. O mapa de nascimento é apenas o caminho que o ego segue, a saga
especifica do herói individual; e aquelas qualidades que o indivíduo pode, potencialmente, concretizar na consciência – seu
pequeno quinhão no espectro maior da vida – são simbolizadas pelo signo que o Sol ocupa no nascimento.
Muito prejuízo não-intencional foi causado a astrologia pelas colunas de signo solar nos jornais e revistas populares,
e, infelizmente, até o mais sério estudante da astrologia freqüentemente cai na mesma armadilha que os leitores dessas
colunas: o signo solar geralmente é interpretado como um conjunto de padrões de comportamento cristalizados e
preexistentes. Podemos ler que se uma pessoa é de Áries, é cheia de vontade, impulsiva, temerária e gosta de desafios. Se
a pessoa é de Touro, é estável, confiável, sensual, teimosa e gosta de bem-estar material. E assim por diante.
Mas seria rnuito mais significativo, e mais de acordo com a compreensão da psique proporcionada pelo trabalho da
psicologia analítica, ver o Sol não como um mero catálogo de traços de caráter, mas como aquilo que a pessoa está se
esforçando para ser e o que ela é em potencial, em essência.
Na verdade, esse símbolo do ego totalmente integrado raramente é alcançado antes dos primeiros trinta anos de vida;
e o inicio do autentico auto questionamento geralmente vem logo em seguida ao ponto da crise dos vinte e nove anos,
chamada retorno de Saturno. Viver todo o potencial do Sol é a jornada de uma vida. Assim, podemos dizer que seu signo
solar não o "torna" algo em particular; em vez disso, simboliza aquelas energias, aquele mito especifico, do qual você esta
tentando aprender como se tornar consciente e tentando expressar de uma forma criativa Cada indivíduo tem a tarefa de
tornar consciente e canalizar, por meio de sua individualidade impar, o significado do simbolismo do signo solar, de modo
que ele seja caracterizado pela misteriosa essência do próprio Self. Ter nascido com o Sol em Áries pode não tomar uma
pessoa cheia de vontade e impulsiva, mas sugere que ela precisa cultivar um senso de vigor da vida, uma capacidade de se
afirmar no mundo exterior, de proceder a mudanças e enfrentar os desafios criativamente, para que se torne completa. Com
o risco de uma simplificação exagerada, podemos dizer, de forma semelhante, que Touro precisa aprender a se relacionar
com o mundo terreno e a construir nele um senso de valor permanente; Gêmeos precisa desenvolver seus poderes de
discriminação intelectual, para poder aprender mais sobre o mundo a sua volta; Câncer precisa aprender a abrir o fluxo de
seus sentimentos para os outros de modo a alimentar a nascente consciência daqueles que ama; Leão precisa aprender a
identificar, por meio de seus esforços criativos, aquele centro de si mesmo que é o verdadeiro criador e ao qual deve se
dedicar; Virgem precisa aprender a aperfeiçoar-se e purificar-se como um veículo de serviço para que possa exercer seu
papel na transmutação de tudo que d vil ou indiferenciado na vida; Libra precisa aprender a identificar os opostos dentro de
sua própria natureza e equilibrá-los, para podei relacionar-se com os outros; Escorpião precisa aprender a amar e integrar
sua própria escuridão, para poder eliminar a escuridão a sua volta; Sagitário precisa aprender a ver a consistência
subjacente a toda aspiração humana, de modo que seu senso de significado da experiência da vida possa ser ensinado a
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outros; Capricórnio precisa aprender a dominar primeiro o seu ambiente e depois a si próprio, para que brilhe como um
exemplo do poder da vontade humana; Aquário precisa aprender a se tornar consciente da vida do grupo do qual faz parte,
de modo que possa contribuir para o crescimento da consciência coletiva; e Peixes precisa aprender a se oferecer como
uma dadiva para a vida mais ampla, para poder executar a tarefa de salvar o que esta perdido. O signo solar dificilmente é
tão pessoal quanto um conjunto de padrões de comportamento, e não faz ninguém se tomar coisa alguma. É um símbolo do
que precisa ser alcançado. A probabilidade maior é de que o indivíduo só alcance esse objetivo com dificuldade.
É bom ter em mente que o Sol não é um ponto pessoal no mapa, no sentido de pertencer ao comportamento da
personalidade. Simboliza o caminho, o alvo, não a maquina em que se viaja – até que estes se tornem a mesma coisa. O
Sol é o coração do ser humano, e quantos de no conhecem verdadeiramente seu coração? Os planetas, como todo
simbolismo na astrologia, são divididos em l dois grupos de energias: masculinas e femininas. O Sol é considerado um
planeta masculino, porque esta associado com o lado da vida que diz respeito a vontade, a consciência, a decisão e ao
impacto sobre o ambiente – em outras palavras, é um principio ativo. Como seria de se esperar, é mais "acessível" aos
homens do que as mulheres porque reflete um impulso que é mais fácil aos homens tornar consciente. Quando chega aos
dezesseis anos, a maioria dos homens esta bem ciente da necessidade de ter uma identidade individual: muitas mulheres,
por outro lado, se contentam em encontrar sua identidade, durante a primeira metade da vida, através de seus parceiros e
de sua família. O principio da auto-realização através da irradiação da luz do ego no mundo é muito mais uma prerrogativa
da consciência masculina do que da feminina. No horóscopo de uma mulher, por tanto, o Sol geralmente sugere o que ela
espera do lado masculino da vida, a e dos seus homens, para se completar. Mas, no plano ideal, é claro, tanto as
polaridades masculinas e femininas do mapa precisam ser expressas por todos os indivíduos. Isto faz parte do desafio de
nossa crescente consciência.
O Sol reflete o impulso interno de todo ser humano para se expressar, para se tornar o que potencialmente é. A Lua,
ao contrário, simboliza o impulso para a inconsciência, para o passado, para uma imersão no fluxo de sentimentos, que
permite ao indivíduo ser parte das correntes de massa da vida, sem empreender a luta exigida para a autoconsciência.
A Lua também é símbolo da mãe, tanto pessoal com arquetípica, e é para esse ventre, com sua abençoada defesa e
segurança, que o nosso lado lunar deseja retornar. A Lua retrata o impulso para mergulhar na experiência de viver, sem ter
de avaliar ou entender a experiência; também simboliza o impulso para o conforto e para a satisfação das necessidades
emocionais.
Enquanto o Sol se empenha na diferenciação, a Lua se empenha no relacionamento e na fusão de identidades. O Sol
se furta aos relacionamentos pessoais em beneficio do desenvolvimento do ego independente; a Lua se furta a identidade
em beneficio dos relacionamentos, e anseia pela paz da noite quando todas as cores se misturam e tudo dorme. Esther
Harding, em seu livro sobre o significado psicológico do simbolismo da Lua, afirma: Nos tempos da adoração da Lua, a
religião se preocupava com as forças invisíveis do mundo do espirito, e mesmo quando a religião do estado foi transferida
para o Sol, um deus de guerra, de engrandecimento pessoal, e das coisas desse mundo, as qualidades espirituais
permaneceram com as divindades lunares; pois a adoração da Lua é a adoração dos poderes criativos e fecundos da
natureza e da sabedoria inerente ao instinto e a unidade com a lei natural. Mas a adoração do Sol é a adoração daquilo que
sobrepuja a natureza, que ordena sua plenitude caótica e subordina seus poderes a realização dos fins humanos. O Sol e a
Lua compõem um duo de macho e fêmea no mapa de nascimento, simbolizando a polaridade macho/fêmea em cada
indivíduo, e a tensão implícita entre eles é necessária. Sem ela, não poderia haver consciência nem vida. O Sol e a Lua se
assemelham a outros símbolos de pares, como escuro e claro, vida e morte e todos os outros pares de antíteses que
constituem os grandes pilares que sustentam o organismo da vida.
Esses opostos abrangem tudo, desde o sublime até o ridículo: o Sol não apenas indica, de forma muito ampla e profunda o
caminho do indivíduo em direção a plenitude, mas também diz algo sobre a imagem que ele vai projetar para a multidão; e
a Lua não apenas indica o caminho pelo qual o indivíduo pode restabelecer o contato com a vida da natureza que esta nas
raízes do seu ser, mas também diz alguma coisa sobre a forma como ele mantém sua casa e o tipo de hábitos pessoais
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que manifesta. Esse espectro de significados muitas vezes confunde as pessoas em relação a astrologia: como pode um
símbolo ter um sentido tão significativo e ao mesmo tempo aparentemente tão insignificante? Mas todo símbolo, por sua
própria natureza, é sempre assim; e, além de tudo, estamos lidando aqui com arquétipos, e os planetas que os simbolizam
formam a estrutura básica da experiência do indivíduo. Tudo que pertence a eles, do mais superficial ao mais profundo,
obedece a um padrão.
Podemos discernir pelo signo da Lua no nascimento um pouco da forma pela qual o indivíduo se expressa quando
não é um indivíduo, e sim uma criatura de instintos. Em outras palavras, a Lua simboliza a natureza instintiva ou não-
racional. Também sugere, pela sua colocação no mapa de nascimento, a esfera da vida em que o indivíduo busca um sono
simbólico, uma inconsciência, uma fuga ou um refugio – em que é mais provável haver um predomínio de suas
necessidades, em vez da motivação de contar com sua própria vontade e capacidade de tomar decisões. Pode-se observar
a Lua quando o ego não está lutando por alguma coisa – quando a pessoa relaxa em seus padrões de resposta instintiva.
Um exemplo pode ajudar a esclarecer a polaridade do Sol e da Lua em nível interpretativo. Com o Sol colocado num
determinado signo no nascimento, os objetivos simbolizados por esse signo se tornam parte, de alguma forma, das
aspirações do indivíduo na vida. Com a Lua colocada num determinado signo, as necessidades instintivas simbolizadas por
esse signo se tornam parte das exigências do indivíduo para o bem-estar emocional. Assim, por exemplo, podemos ver a
pessoa com o Sol em Leão lutando pela auto-expressão criativa como um objetivo importante na vida, com uma valorização
consciente de honra, lealdade, integridade e singularidade individual. Por outro lado, podemos ver uma pessoa com a Lua
em Leão respondendo a vida de uma maneira intuitivamente dramática, com uma necessidade menos consciente de
exibição, aceitação, adoração e um palco para representar – não porque ela valoriza essas coisas, mas porque necessita
delas para sentir-se segura. A pessoa com o Sol em Leão, se está ver realmente seguindo o seu caminho, vai lutar para se
tornar o que Há de mais elevado e melhor na figura do Herói; com a Lua em Leão, simples mente se sente especial e reage
de acordo, com um sortimento de qualidades leoninas um tanto menos apurado, porém mais natural e relaxado.
Mercúrio
Em seguida, passamos para o planeta Mercúrio, em termos astronômicos o menor e mais rápido planeta do sistema
solar; na mitologia, uma estranha figura andrógina que possui as chaves do conhecimento e leva mensagens entre os
deuses e entre os deuses e os homens. Mercúrio, que esta ligado ao Hermes grego, ao Thoth egípcio e ao Loki norueguês
ou teutônico, é um símbolo da maneira pela qual não apenas percebemos, mas ordenamos as nossas percepções de modo
que possam ser entendidas e comunicadas. Ele é fundamentalmente o símbolo do impulso para entender, para integrar o
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motivo inconsciente e o reconhecimento consciente. Esse planeta não representa o intelecto, embora tenha sido descrito
dessa forma nos manuais mais antigos, pois devemos nos lembrar de que Há outros modos de percepção além do racional,
aos quais, no passado, não se dava muito reconhecimento. Pode-se perceber e entender através dos sentimentos, ou da
intuição, ou dos cinco sentidos. Mercúrio colocado em Câncer no nascimento sugere uma pessoa que percebe através do
inconsciente e avalia suas percepções através do sentimento; Mercúrio em Capricórnio, por outro lado, percebe através dos
sentidos e acumula fatos em sua cabeça mais ou menos dura, avaliando suas percepções de acordo com o que já foi
experimentado e provado. O planeta é um símbolo do modo pelo qual o indivíduo se torna consciente de seu ambiente
assim como de si próprio, e pode-se também dizer que simboliza o impulso para assimilar a experiência, para se tornar
ciente.
Mercúrio está ligado a estranha figura de Mercurius na alquimia medieval. Isto sugere – embora ele não seja
considerado especialmente poderoso ou significativo na astrologia tradicional, que geralmente o relega a função de
"comunicação" – que esse planeta pode ser mais do que aparenta a primeira vista. Na alquimia, Mercúrio é o grande
transformador; e talvez devessemos recordar que ele é o impulso da pessoa para entender o que a eleva acima dos outros
reinos da natureza, o que a leva a refletir sobre o seu desenvolvimento, e consequentemente a cooperar voluntariamente
com o inconsciente na sua luta por uma maior integração. Então podemos começar a ver por que Blavatsky diz, em A
doutrina secreta, que "Mercúrio e o Sol são um", subentendendo portanto a unidade entre o pequeno microcosmo do
entendimento do homem e o grande macrocosmo do propósito cósmico. Sendo o planeta mais próximo do Sol, Mercúrio é o
mensageiro do Sol, e enquanto o Sol é o símbolo da essência, Mercúrio é o símbolo da função que nos permite conhecer a
essência.
O signo de Mercúrio no nascimento sugere a forma pela qual o indivíduo aprende, como percebe e classifica ou
assimila o que aprende: qual o método pelo qual ele transmuta a experiência em compreensão.
Como mensageiro, Mercúrio é o símbolo da ponte entre o Self e o ego, assim como entre o ego e o ambiente; ele é o
grande unificador, assim como o grande destruidor. Através de sua perspicácia, o indivíduo tanto pode reconhecer a
interligação de todas as coisas, como apartar-se de todas as ligações por meio da proliferação de dados isolados e sem
sentido.
Vênus e Marte
Vênus e Marte, que eram amantes na mitologia grega e romana, são outra dupla masculino-feminino. São outra
forma de expressar o Sol e a Lua, isto é, o yin e o yang, ou macho e fêmea. Mas aqui o impulso basicamente feminino para o
relacionamento, a harmonia e o ajuste na esfera das relações pessoais. faz um delicado contraponto ao impulso
basicamente masculino para a conquista, o isolamento, a separação e a afirmação, em detrimento dos outros, para
satisfazer o desejo. Vênus simboliza a necessidade de buscar a partilha com o outro, mesmo ao ponto de se ser engolido,
Marte simboliza a paixão que busca se esgotar no outro, e atingir um alvo objetivo. Marte deseja; Vênus é o impulso para
ser desejado. Vênus nos permite reconhecer o que somos no relacionamento com os outros e, através de comparações,
tenta descobrir as semelhanças; Marte nos capacita a impor nossa vontade a despeito dos outros, e, através da auto-
afirmação, revela as diferenças.
Os antigos glífos astrológicos desses dois planetas são agora usados como símbolos biológicos de macho e fêmea.
Esses dois "deuses" são expressões da grande polaridade Sol-Lua de forma especializada: são os princípios cósmicos da
luz e escuridão, ativo e passivo, atuando especificamente no campo dos relacionamentos humanos. Editora Pensamento,
São Paulo. Se a Lua é a mãe, Vênus é o arquétipo da amante ou hetaira: essas são duas faces da mulher. Se o Sol é o pai,
Marte é o conquistador: essas são duas faces do homem. Cada um de nós tem essas quatro faces, mas optamos por nos
identificar com uma mais do que com as outras. Como diz D. H. Lawrence, as mulheres são esposas ou amantes, os
homens são maridos ou amantes. A expressão do impulso simbolizado por Vênus pode ser vista na forma como a pessoa
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se enfeita, seu gosto pessoal, sua resposta á beleza, e seus valores sociais; também pode ser vista no que o indivíduo mais
valoriza nos relacionamentos, o que ele procura na parceria ideal.
A expressão do impulso simbolizado por Marte pode ser vista na forma pela qual a pessoa consegue o que quer; a
qualidade ou modo de seu desejo é refletido por esse planeta, a maneira como ele conduz a caça, e a forma de expressão
que suas paixões assumem.
Como esses dois planetas são tão especialmente importantes no relacionamento interpessoal, vamos voltar a eles
mais tarde. A mesma lei geral, como no caso do Sol e da Lua, se aplica aqui: para os homens, Marte é uma energia mais
acessível, enquanto para as mulheres, Vênus é mais acessível. Consequentemente, assim como com o Sol e a Lua, o
planeta cuja energia é antitética ao sexo do indivíduo geralmente vai ser projetado num objeto adequado nos
relacionamentos interpessoais, e o indivíduo tentara viver seu lado transexual por meio do seu parceiro. Muitas vezes o
signo em que Vênus está colocado no mapa de um homem descreve o que ele busca na mulher como amante ideal; e o
signo em que Marte esta colocado no mapa de uma mulher descreve o que ela procura num homem. Uma mulher com
Marte em Capricórnio, por exemplo, pode achar as qualidades terrenas, a ambição, a força de vontade e a determinação
sexualmente atraentes num parceiro; um homem com Vênus em Peixes pode achar as qualidades de simpatia, compaixão,
gentileza, imaginação e capacidade de perdoar adoráveis numa mulher.
Júpiter e Saturno
Com esse par de planetas, deixamos para trás a esfera dos impulsos e desejos pessoais. O Sol, a Lua, Mercúrio,
Vênus e Marte são chamados planetas pessoais porque simbolizam impulsos que se manifestam de forma pessoal; são
orientados para o ego, em termos das energias psíquicas que simbolizam, e a consciência tem um acesso relativamente
fácil a eles, levando em conta as dificuldades na integração dos opostos. O reino de Júpiter e Saturno, ambos reis dos
deuses na mitologia antiga, leva o indivíduo para além da esfera da sua consciência de ego pessoal, e ele começa a
estabelecer contato com o que é transpessoal – tanto dentro como fora dele. Júpiter e Saturno são os grandes
exploradores, os guardiães do portão do mundo pessoal; ambos tem duas faces, uma voltada para dentro e outra para fora,
e ambos simbolizam impulsos para transcender os limitados, confins do pequeno self. Um vai para cima e outro vai para
baixo; são, respectivamente, como a cenoura que leva o burro adiante prometendo-lhe futuras possibilidades de
recompensa, e o chicote que o leva a mover-se porque é muito doloroso ficar parado. Obviamente, nossa tendência é
preferir a cenoura ao chicote, e somos inclinados a valorizar mais a sorte do que a dor; mas esses dois planetas simbolizam,
de maneiras opostas, impulsos em direção à consciência e ao crescimento. Poderíamos dizer que Júpiter é um impulso
masculino e Saturno, um impulso feminino; isto porque Júpiter, um deus dos céus e das tempestades, esta ligado às regiões
"superiores" da mente intuitiva, enquanto Saturno, um titã e deus da Terra, esta ligado as regiões "inferiores" do
inconsciente pessoal, ao lado escuro da natureza humana. Ambos são necessários e criam mais uma variação do tema de
luz e sombra, desta vez transferido para a esfera da realização do significado.
Como o símbolo de Saturno vai ser descrito mais completamente a seguir, não vamos dizer muita coisa sobre ele
agora. Júpiter, entretanto, merece uma descrição mais detalhada. Esse planeta esta ligado ao que pode ser chamado
impulso religioso, impulso que Freud e seus seguidores acre ditavam ser apenas uma sublimação do instinto sexual, mas
que Jung demonstrou ser tão básico, no ser humano, como qualquer um dos impulsos biológicos. O indivíduo não precisa
apenas sobreviver e propagar sua espécie; também precisa saber que de alguma forma, em algum lugar, a vida te um
padrão, uma ordem e um significado intrínsecos; é um todo do qual ele precisa ter ao menos um vago conhecimento
intuitivo, para ser capaz de ter esperança e crescer. Pode ser que tenhamos criado Deus; mas não podemos criar aquilo de
que não temos experiência, mesmo inconsciente, e podemos dizer que Júpiter simboliza a necessidade de experimentar o
numinoso, o divino projetando-o e nosso exterior em formas simbólicas que então podemos adorar e chamar de divindade.
O signo em que Júpiter está colocado no mapa de nascimento do indivíduo sugere a forma como ele procura essa
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experiência de sentido na vida. Um indivíduo com Júpiter em Virgem poderia, por exemplo, procurar vivenciar a razão do
objetivo do seu trabalho, porque este poderá proporcionar uma espécie de ritual, uma autopurificação e um auto-refinamento
rítmicos, capacitando-o a se tornar consciente de um padrão mais amplo. Como Júpiter procura expandir a experiência de
modo que seu significado brilhe através da forma, Júpiter em Virgem vai procurar meios mais amplos de
autodesenvolvimento através do trabalho, de modo a fazer dele alguma coisa "grande" e sentir que seu significado
ultrapassa a satisfação da necessidade. Esse planeta simboliza o principio criador de mitos, no sentido mais positivo da
palavra mito.
Júpiter, assim esta ligado a necessidade da psique de criar símbolos e isso nos leva a níveis profundos quando
consideramos o poder criativo que moldou os grandes mitos, as lendas e as religiões do mundo. O poder criativo que molda
o simbolismo de nossos sonhos não é menor, de modo que cada sonho é uma obra-prima de significado, que não pode ser
alterado para melhorar, de forma nenhuma. Nesse sentido, Júpiter é realmente um deus do caminho de entrada, pois
constituí um eIo entre o consciente e o inconsciente, através a criação e da compreensão intuitiva dos símbolos.
Como já vimos, os sim os símbolos são a linguagem primordial da vida, e Júpiter simboliza a função que os cria no
indivíduo e intui seu significado.
Os Planetas Exteriores
Uma vez ultrapassadas as fronteiras de Saturno, estamos no reino do inconsciente coletivo o repositório das
imagens arquetípicas – e de impulsos que não apenas nada tem a ver com as tendências da personalidade, mas também
muitas vezes são contrários a elas. Quase poderíamos considerar os planetas interiores, pessoais, e os planetas exteriores,
transpessoais, como mais um par de opostos, simbolizando, respectivamente, a vida do ego e a vida da matriz maior da qual
surge o ego, com sua ilusão de separatividade.
Os impulsos que os três planetas exteriores conhecidos simbolizam raramente são acessíveis a consciência do
indivíduo, pois marcam a transição de uma para outra fase da consciência, e a consciência não pode apreender tais
transições. Ela só pode apreender a fase na qual esta operando em dado momento. Saturno é o grande Senhor da Fronteira
e Mestre da Ilusão, fazendo o papel de Lúcifer e nos sussurrando que o mundo pessoal que experimentamos é o perímetro
da realidade, e ultrapassá-lo é, no melhor dos casos, bobagem e, no pior, loucura. Muitas vezes acreditamos nesse sussurro
e nos identificamos com o que chamamos realidade “objetiva", deixando de ver que ela é completamente subjetiva e que só
estamos criando nossa própria interpretação da vida. E, como Lúcifer, que – como Goethe ressalta – é secretamente a mão
direita de Deus, Saturno nos impulsiona a nos identificarmos mais e mais com nossas interpretações, de modo que no fim
nos isolamos tão completamente que ficamos de fato no Inferno – um inferno de dissociação das correntes subjacentes
mais profundas da vida. Nesse sentido, Saturno é o grande mestre, disfarça o como o portador da dor e da limitação, pois é
apenas no ponto de escuridão e decadência – que os alquimistas chamavam nigredo ou Caput Mortuum, Cabeça Morta, o
primeiro estagio do trabalho alquímico – que nos tornamos cientes do Outro dentro de nós, o verdadeiro poder criativo do
self . Isso pode parecer mais e mais uma visão mística; entretanto, é um processo psicológico empiricamente observável na
vida de qualquer indivíduo, embora as formas em que as pessoas o concretizam sejam muito diferentes.
Urano e Netuno formam outra dupla macho-fêmea, sendo Urano o pólo masculino e Netuno, o feminino. Podemos
aprender muito sobre esses dois planetas, ou "deuses", quando vemos suas personificações na mitologia. Urano é o antigo
deus dos céus, marido de sua mãe Géia, a Terra, e neto de Chaos, a noite primordial da qual emergiu a realidade manifesta
– ou consciência. Urano é um símbolo do mundo das idéias arquetípicas, os padrões subjacentes daquilo que algumas
correntes teológicas chamam Mente de Deus e que na doutrina platônica é o arcabouço das idéias divinas que sustenta a
estrutura do universo. Não é de surpreender que tenhamos dificuldade em chegar a um acordo sobre o significado desse
planeta na psique individual.
No mapa individual, Urano, o primeiro deus dos céus e do espirito, parece personificar a necessidade da mente de se
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libertar da identificação com a realidade material e vivenciar o mundo da mente arquetípica. Assim, a astrologia tradicional
diz que Urano simboliza o impulso para a mudança, para a liberdade para a invenção e para a liberação, e para o
desenvolvimento da mente além do reino do pensamento concreto limitado pelos fatos e pelo conhecimento empírico. Urano
tem sido chamado o Desperta dor, porque o impulso que simboliza, como todos os conteúdos inconscientes, é projetado.
Parece voltar ao indivíduo como um súbito evento emanando "de fora" e que despedaça a estrutura do que era até então
identificado como sua realidade, muitas vezes de forma altamente dolorosa. Ao mesmo tempo, permite ao indivíduo
vislumbrar a idéia coletiva subjacente sobre a qual se construiu sua pequena experiência pessoal. O fato de o próprio
indivíduo atrair esse tipo de experiência geralmente escapa a sua percepção; parece mais como a mão do "fado". Mas é
preciso admitir que a própria psique é o fado, se se quiser entender o significado do que ocorreu e utilizar a experiência como
ela deve ser utilizada: como um despertar para uma consciência maior.
É menos "coincidência" que sincronismo que Urano, símbolo ligado à liberação, à liberdade e à invenção, tenha sido
"descoberto" em 1781. Esse ano cai entre duas grandes revoluções políticas – ambas envolvendo idéias de liberdade, igualdade e
libertação do indivíduo em relação as limitações dos privilégios ou penalidades hereditirias – e :io alvorecer do que denominamos Era
Industrial, que, através do poder da mente para descobrir, dominar e aplicar tecnologicamente as leis do universo fisico, procurou libertar
o homem da escravidão da matdria. Pode parecer incon cebivel que a descoberta de um planeta tenha qualquer ligação com a Era da
Tecnologia e com as Revoluções Americana e Francesa; mas precisamos nos lembrar que a descoberta do planeta não "causou" esses
aconteci mentos. Simplesmente refletiu a sua ocorrencia. As mesmas alterações na consciência que produziram as duas revoluções e o
impulso em direção a descoberta cientifica e sua aplicação também produziram os meios téc aicos pelos quais o planeta fisico tornou-se
perceptivel a visão consciente do homem; e o significado simbolico do planeta, por seu lado, se refere ao espirito de aventura,
exploração e liberação que tornou todos esses acontecimentos fisicos possiveis. O planeta e o estado do mundo na época de sua
descoberta refletem-se mutuamente: são sincronicos.
etapa de sua jornada. Embora uma face de Netuno seja inquestionavel mente
destrutiva em relação ao que chamamos civilização, uma outra face é profundamente
necessaria para a psique, pois a experiência da limpeza através da imersão no mar
do inconsciente é verdadeiramente uma expe riência religiosa"no. tido mais profundo
deste termo – cujas raizes latinas significam Qe-ligar."-. iVuma escala muito menor,
executamos esse ritual todas as noites, guando sacrificamos a nossa consciência e
descemos ao inconsciente para "dormir".
Netuno foi descoberto em 1846, com uma ambigiiidade bem carac teristica da
qualidade do simbolo: houve dois descabridores, e existe uma grande confusão a
respeito de quem é responsivel pelo que. Coincidiu com a descoberta o surgimento
de um generalizado interesse pelo espiri tualismo e pelos fenámenos psiquicos, a
hipnose, a sugestão e a associação livre, e o verdadeiro começo da investigação,
que foi gradualmente sendo aperfeiçoada, testada, verificada e re-verificada, até
eventualmente aparecer como psicanalise, o estudo da psique inconsciente.
Também coincidiu com uma onda de revoluções traumiticas que varreu a Europa
toda, irremedia velmente minando a ordem estabelecida, porém menos coerente e
menos estruturada que a do século anterior. Com a descoberta de Netuno, a própria
revolução – muitas vezes uma revolução pela revolução – se tornou uma "moda".
É aprópriado dar ao mais distante planeta até agora conhecido do sistema solar
o nome do pcuIar Sénhoi do Reino Subteãaneo,,como tam bém é compreensivel o
fato de que os astronomos não estejam nem mesmo certos se Plutão é de fato um
25
planeta ou uma lua perdida de algum outro corpo celeste. Existe também muita
incerteza a respeito de Plutão, porque sua densidade é completamente
desproporcional ao seu pequeno tamanho, o que poderia sugerir que ele seja, na
realidade, muito maior do que o que foi possivel averiguar até hoje com os nossos
telescopios. Plutão tem essa caracteristica na mitologia, residindo debaixo da terra,
gover nando os mortos e a abundância da Terra, nunca se aventurando acima da
superficie a não ser com seu capacete magico, que o torna invisivel aos olhos
humanos.
Nos mitos de todas as nações, assim como em muitos contos de fadas, existe
um Senhor dos Mortos, e esse simbolo parece estar ligado I experiência arquetípica
dos começos e fins, da morte e renascimento.
Joseph Campbell, no seu livro Creative Mithology, afirma: ... Esta area da
existencia, que é tanto doadora como tomadora das formas que aparecem e
desaparecem no espaço e no tempo, embora sombria, não pode ser denominada
ma, a não ser que assim denominemos todo o mundo. A lição de Hades-Plutão...
não é que nossa parte mortal seja ignobil, mas que dentro dela – cn
ou unificada com ela – esta aquela Pessoa imortal quc os cristãos dividiram em
Deus e Demonio e julgam estar "lá fora" .
dominio de Plutão, pois ela, enquanto fim de um ciclo, marca o começo de um novo
ciclo. Embora o Ocidente como um todo custe a levar em consideração o principio da
reencamação, muitas grandes mentes iadivi duais – e o pensamento oriental em geral
– tem-no considerado aceitivel Há muitos séculos, ou como experiência literal ou
como um simbolo da vida etema do ser, da "esseidade", brilhando através da
transitoriedade dos ciclos individuais de vida e morte.
também no homem, que é parte da vida. Uma vez que aprendemos o vocabulirio dos
planetas e seu significado no mapa individual de nasci mento, podemos examinar o
mapa e conseguir algumas indicações de como cada uma dessas energias vai se
expressar individualmente. O signo em que um planeta esta colocado é como um
adjetivo em relacão a um substan tivo, o omamento sobre o corpo: manifesta o modo
ou qualidade da expressão do planeta. Podemos agora começar a aprender alguma
coisa dos práprios signos zodiacais e de sua divisão entre as polaridades masculina
e feminina, c ampliada pela quadruplicidade dos elementos. Essa estrutura basica de
quatro também é, como veremos, arquetípica, e precisamos retomar nossa
investigação da psique pelos olhos do psicóllogo para adquirir uma maior
compreensão dos reinos do ar"da agua, da terra e do fogo.
8 Ibid. C2
– C. G. Jung
despeito da atual voga de "cada um ficar na sua", a idéia dos tipos ainda persiste.
Esse fenomeno é o simples fato de, embora unicas, todas as pessoas também
se agruparem em catcgorias gerais baseadas numa forma funda mental de ver,
avaliar, apreender e interpretar a vida. Além de ser um meio divertido de rotular
amigos e parentes, entendcr um pouco dessa tipologia basica é uma excelente
maneira de aprendcr a mais dificil das lições: nem todas as pessoas são iguais a
mim.
como se a sua própria psique fosse uma espécie de psique-matriz que servisse
para todas as situações, e as autorizassem a supor que a sua própria situação fosse
a regra geral. As pessoas Gcam pro fundamente espantadas, ou mesmo
horrorizadas, quando essa regra, muito obviamente, não se aplica – quando
descobrem que outra pessoa é, na verdade, muito diferente delas. De forma geral,
não consideram essas diferenças psiquicas, de modo nenhum curiosas e muito
menos atraentes, mas, sim, falhas desagradáveis dificeis de tolerar, ou defeitos
insuportáveis que devem ser condenados . 1 Psychological Types, C. G. Jung.
30
2 Ibid. S6
O zodiaco, que simboliza, pela sua divisão dos.doze signos, todo ( - o espectro
do potencial da experiência humana, é assim dividido em dois grupos de seis si os:
seis sjiinos mãsculinos ou positivos, retratando dife rentes aspectos do arquétipo do
macho, e seis signos femininos ou nega: tivos, rMeratando eren es asjéctõs do
arquétipo da femea. MascuTino e feminino, em astrologia, não se referem, é claro, a
definição atual dos ter mos em nossa sociedade, e sim a qualidades da energia,
conforme exemplifi cam os hexagramas iniciais do Criativo e do ece tivo no I Ching.
Os sigtlos ositivos estão associados as ualidades d exirgversão manifestação, luz,
mente, atmdade, orientaggg déias o mundo objetivo e o futuro.
Já vimos que a-dispo mão inerent conforme encarada tanto pela trologia como
pela psicologia analitica, existe desde o começo da vida.
CQ
ir além disso é uma questão em aberto, ja que a maioria das pessoas nunca
chega sequer perto da expressão do potencial psiquico simbolizado pelo mapa, muito
menos de ultrapassá-lo.
p essas rmggões a astro ogia acre snta mais llma 44acha fe a odem ser
subdivididos, de modo que Há dois os de si os mas culinos e ois grupos de si os
enuninos. Essa estrutura basica de quatro é a pedra angular da astrologia, re etid
aelos quatro elemento ;. ar, agua, terra e fogo. Sabemos que essa estrutura é ar
uetipica e inerente a todos os seres umanos, através do trabalho da psicologia
profunda nos ultimos cinquenta anos.
Agora, é muito divertido definir que sou do tipo pensativo e voce é do tipo
sentimental, e é por isso que eu sou inteligente, observador, articulado e razoavel,
enquanto voce é sempre tfo emocional, intransigente e irracior.al. Esse é um jogo
que todos nós jogamos quando iniciamos o estudo da tipologia, de um modo muito
semelhante ao que os leigos jogam o jogo do zodiaco. É claro que sou sempre
encantador, cortes e tolerante porque sou Libra, enquanto voce é obviamente
exigente, supercritico, autocentrado e de mente estreita porque é Virgem. Na
astrologia ou na psicologia, a tipologia pode ser usada como um maravilhoso "explica
-tudo" em relação aos defeitos dos outros, e na maioria das vezes é empre gada
dessa forma deturpada. Em primeiro lugar, tcmos medo de leva-la a sério; em
segundo, geralmente só captamos suas partes confortáveis, e ignoramos suas
implicações mais profuodas; e em terceiro, todo mundo, na verdade, esta
secretamente convencido de que as coisas que mais valo riza – de acordo com seu
tipo – são na verdade as melhores de todas, e tudo o mais é, de fato, um pouco
inferior.
que poderia sugerir uma interpre tação superficial dos tipos funcionais. E, de repente,
a, pcssoa percebe que não esta mais jogando um jogo, ou, se esta, as apostas são
muito mais altas do que imaginava. A psique luta pela inteireza. A verdade
subjacente da psicologia é uma afirmação terrivelmente simplista, porém
esmagadora mente importante, que deve ser vivenciada para ser plenamente compre
endida.
Inteireza não significa perfeição. A pessoa que passou muitos anos cultivando
uma snfisticação da expressão e percepção intelectuais, mas que não é capaz nem
de expressar nem de compreender sua natureza senti mental, não é inteira. Nem é
aquela que desenvolvou uma rica e plena vida sentimental e muitos relacionamentos
pessoais significativos, se não con seguir raciocinar ou vcr o ponto de vista "objetivo"
e josto que pode justi ficar principios e permitir as diferenças individuais. Nem é a
realista pra tica, com o mundo dos faios i sua disposição, que expressou o desabro
chamento pleno de suas capacidades organizacionais, mas não consegue enxergar
para cnde elas estaa camirAando, ou não consegve achar signifi
a um sistema de classificação. 8 o mapa de uma estrada que pode lhe dizer onde
começar, onde provavelmente seri a sua primeira curva, onde é possivel que o seu
carro quebre e o que pade ser feito para conserta-lo e aonde, se tudo der certo, voce
podera chegar no tompo certo.
As funções opostas são assim chamadas porque não podem funcionar juntas. O
sentimento e o pensamento, por exemplo, são dois modos total mente diferentes de
avaliar ou reconhecer a experiencia; um deles, o sentimento, é totalmente mbjetivo
e realizado sem lágica, com base na resposta pessoal, enquanto o outro, o
pensamento, é totalmente "obje tivo" e dependente da logica, em detrimento da
resposta pessoal. Pos suimos as duas funções em potencial, mas vamos usar
principalmente 1
uma e não a outra; elas não podem ser usadas ao mesmo tempo. Os valores
inerentes a cada uma são totalmente diferentes e não se mesclam. É pos sivel
secundar uma com a outra, mas não usa-las simultaneamente. Muitas pessoas
baseiam seus valores completamente em uma fungo e fingem que a outza não
existe.
Esse principio tem uma validade tio alarmantemente genera lizada, que todo
mundo faria melhor, antes de denunciar os 67 J
Qualquer que seja a função da consciência com a qual nos identifi camos,
37
precisamos aceitar a existência do seu oposto em nos. Quase sempre isto é muito
dificil, porque – diferentemente dos "defeitos" dos quais estamos confortavelmente
conscios, não os sentindo de fato como defeitos – a inépcia das funções inferiores 8
uma genuina fonte de dor e inadequação, mesmo quando é parcialmente consciente.
Em consequen cia, encontramos muitas pessoas que criam um conjunto artificial de
res
Os tres signos aéreos, embora diferentes nos seus modos de expres são,
partilham a necessidade de relacionar as experiências da vida com um parametro de
idéias preconcebido. Esse parametro pode vir do exterior, extraida de livros,
ensinamentos e conversas com os outros, ou pode vir de dentro, cuidadosamente
criado pelo trabalho mental do próprio indi viduo; mas a existência do parametro é de
importância fundamental, e há uma tendenciz a procurar em todas as experiências o
padrão lágico subja cente que faz com que elas se encaixem i estrutura
preconcebida.
O tipo aéreo – e isso não significa necessariamente o indivíduo nas cido com o
Sol num signo de ar, mas sim alguém cujo mapa, como um todo, contdm uma
predominância dos fatores aéreos – em geral se asseme lha, no todo e nos detalhes,
ás qualidades do tipo pensativo conforme des crito por Jung. Tem todas as bençãos
desse tipo: a mente altamente desen volvida, o senso de justiça e a capacidade de
avaliação impessoal das situa ções, o amor pela cultura, a valorização da estrutura e
do sistema, a cora josa adesão a principios, o refinamento. Também tem todos os
defeitos do tipo – em termos da função "inferior –, que são eufemisticamente
expressos nas caracteristicas atribuidas aos tres signos aéreos: Gêmeos tem horror
a se definir em reiacionamentos pessoais, Libra é notorio por ficar em cima do muro
e se recusar a se comprometer, e Aquirio é conhecido por seu frio distânciamento e
aversão a demonstrações emocionais, que com tanta freqiiência fazem parte do
relacionamento pessoal.
Em outras palavras, o tipo aéreo tem um problema com o senti mento. Com a
preponderância de ar num napa, esta implicita a proba bilidade de o mundo das
trocas emocionais pessoais ser o maior problema da vida do indivíduo – embora ele
possa não saber disso até ser aban donado pela esposa –, porque o sentmento, ao
contr5rio de tudo o mais que cai sob seu olhar microscopico, não pode ser
39
Não é suficiente?" Será que esse problema, na verdade. pertence aos outros?
Ou será que o tipo adreo, cuja fria objetividade e sociabilidade lhe valeram a repu
tação de parecer ser o mais "normal" dos tipos, tem uma abordagem um tanto infantil
do mundo do sentimento? Pode ser que ele precise parecer desprendido, controlado
e razoável porque na realidade esta apa vorado com o que estaria fervendo la
embaixo, nas profundezas? Algumas pessoas de ar são demasiadamente cánscias
da desconfortavel autonomia de sua função sentimental, e a tratam como uma
espécie de besta sombria que de vez em quando foge por descuido, mas nos dias
bons permanece atrás das grades de modo a não perturbar a placida ordem da vida
racional.
40
5 que ele seja "anormal"; ele é ele, e como tal tem o direito de ser ele.
Mas,a a não ser que aprenda alguma coisa a respeito do mundo do sentimento
e desenvolva alyuna capacidade de se relacionar com os outros no nivel do
sentimento, ele permanecera inapelavelmente cego aos valores do sentimento e
capaz de muita crueldade não-intencional. Um exemplo não O muito agradável da
repressão (e do subseqiiente surgimento) da função do sentimento é a Republica de
Weimar e o desenvolvimento do Terceiro is Reich, antes da ultima guerra – um
probiema sobre o qual Jung escreveu extensamente em OviIisation in Transition. Na
atual década, a ciencia, construida sobre principios do pensamento, corre o perpétuo
risco de ver suas descobertas utilizadas para a destruição maciça, se não conseguir
conservar alguma consciência da realidade do sentimento e do fato de que o
conhecimento, isoladamente, sem a sabedoria do coração, é não apenas incompleto,
como também decididamente perigoso. Se é possivel des culpar a inferioridade do
sentimento na vida pessoal porque "não machuca ninguém", deve-se levar em conta
as implicações sociais mais amplas. Em geral, entretanto, existe alguém machucado
no nivel pessoal, e na maioria dos casos é o próprio tipo aéreo.
sentimentos mais profundos, em geral é indiferente aos dos outros. Assim, leva um
choque brusco quando alguém mais istimo começa a expressar sua insatisfação com
o reiacionamento, ou parte batendo as portas e dando a o tiro de misericordia a
respeito de sua frieza e insensiblhdade. Se ela é a pessoa que termina o
relacionamento, em geral acredita que "conti nuando amigos" tudo está em ordem, e
raramente percebe a dor que pode causar. Se é a pessoa rejeitada, ern geral é
forçada a aprender o que mais teme sobre si proprio: por baixo da fria mente jaz uma
dependência do sentimento que, embora muitas vezes não admitida e não
expressa, é tão poderosa, que a partida de um parceiro ou de um filho pode destruir
completamente os alicerces de sua vida.
cionalmente mais amoroso, mais caloroso, mais complacente e mais simpa tico
– uma caracteristica do sentimento –, ou inconstante, caprichoso, im pxevisivel e uma
verdadeira personificação da natureza elemental em todas as suas variantes. O
aspecto maternal do sentimento e sua fascinação pela pessoa de ar também estão
retratados em muitos contos de fadas, nos quais o ser amado esta sofrendo Há muito
tempo e pode ser redimido pela pacien cia, como Griselda, a Paciente; o aspecto
mais explosivo do sentirnento é retratado nos contos em que o herói se apaixona
desesperadamente por uma ondina, uma sereia, uma misteriosa criatura das
profundezas com corpo de mulher e cauda de peixe que, no final, ou o deixa ou o
destroi.
– Mas sei que voce esta de mau humor. Eu sinto isso. Diga-me o que esta
errado.
– Estou lhe dizendo que estou perfeitamente bem. Por que voce sempre exige
minha atenção canstante? – Mas não estou sendo exigente, é só que voce esta
sendo tão mal-humorado comigo... KQ
"Por que voce não gosta dele?" diz o ar, e a agua responde: "Não sei, não me
sinto bem com relação a ele." "Mas voce deve ter um motivo!" "Não preciso de
motivos; eu simplesmente sei." "Mas certamente voce não espera que eu aceite o
seu julgamento scm uma razao!" Numa situação dessas, a agua, em geral
intimidada diante dacapacidade logica superior do ar, normalmente inventa uma
razão tão cheia de opiniões imaturas, genera lidades e uma pretensa perspicácia
intelectual, que não é de surpreender que o ar a encare como um tipo não
particularmente inteligente. Entre tanto, o problema não é de inteligencia; na verdade,
em geral a agua é mais inteligente que o ar, em termos de sabedoria e compreensão
áas pessoas.
Muitos homens podem achar encantador ter uma esposa quer"não sabe
absolutamente nada sobre esse negácio de politica", por "esta muito além" dela, mas
"sabe preparar uma boa refeição". Essa inferioridade inconsciente do pensamento
tem uma face particularmente feia quando se mostra como fofocas maldosas,
difamação e uma espécie de fanatismo ideológico. Na sua forma mais suave, essas
caracteristicas produzem uma pessoa que constantemente diz aos outros como
deveriam viver; na forma mais extremada, são esplendidos ingredientes para a
criação de um bom terrorista.
Existe uma historia tipica, a respeito de uma mulher que tinha uma associação
intima, porém inocente, com um terrorista do IRA pro curado por varios assassinatos
45
e atentados a bomba. Quando lhe pergun taram por que não entregava o homem a
policia, ela respondeu: "Mas, na realidade, é uma pessoa otima quando se conversa
com ele, e nunca fez nada que me magoasse." Esse pequeno exemplo diz mu!ta
coisa a respeito das conseqiiências menos agradáveis do pensamento inferior.
A agua carece de objetividade, e tudo que não caia no campo de visão pessoal
do tipo de agua, tudo com que não se possa relacionar através do sentimento não
tem significado real. Da medo imaginar o que seria um mundo habitado somente por
tipos sentimentais. Provavelmente não haveria mundo, pois qualquer preocupação
objetiva em relação a huma
71
nidade seria secundaria em relação ao que é bom "para mim e para os meus".
Assim como o tipo pensativo precisa adquirir uma consciência dos valores pessoais,
para evitar a brutalidade inconsciente, o tipo senti mental precisa adquirir a
consciência dos valores objetivos, para evitar uma brutalidade semelhante, embora
com motivação diferente.
a critica destrutiva de seu pensamento não-aceito sobre seus próprios filhos, sob o
disfarce do que é "melhor" para eles – receando, inconscientemente, o dia em que
vio partir e cortar o elo sentimental que o sustenta.
O tipo de agua é, com mais frequencia, a pessoa rejeitada nos rela cionamentos,
em grande parte porque, se o seu pequeno mundo pessoal estiver lhe parecendo
bom, ela não se da ao trabalho de imaginar que seu parceiro tem necessidade de um
alimento intelectual mais estimulante para poder crescer. A agua tem uma tendência
a viver através dos outros, o que é sempre uma empresa altamente perigosa; o seu
efeito sobre o outro é seme lhante ao do visgo sobre o carvalho. O parasita sufoca
seu hospedeiro.
– J. D. Smith
Dessa forma, constroi um conjunto de fatos que lhe permite lidar suces
sivamente com todas as situações da maneira mais eficiente.
isto lhe permite desfru o status que procura, sem sacrificar qualquer coisa de si
mesmo.
A terra sente um anseio pelo que chama de espiritual, embora isso muitas vezes
seja expresso como uma crença ou uma fascinação secreta por fantasmas,
psiquismo e outros fenomenos parapsicológicos, sem qualquer compreensão das
implicações da existência desse tipo de mundo "sobrenatural". É muito comum ve-lo
no encalço de um objeto de amor que personifica sua idéia do médium, do inspirador,
do guia, que possa, de alguma forma, partilhar com ele os segredos do cosmos e
aliviar sua pesada dor. Infelizmente, aqueles que estão em contato com os mistérios
interiores não podem distribui-los como se fosse pão e queijo, pois essa
experiência intuitiva é totalmente individual, intensamente pessoal e não pode ser
explicada da forma concreta como a terra gosta das expli cações. O tipo de terra não
aceita nada que não esteja apoiado no teste munho de seus sentidos. Há tipos de
49
terra que parecem cães amarrados a um poste com uma trela comprida; eles ficam
dando voltas, mas nunca conseguem ultrapassar o comprimento da corrente, que é
forjada por sua insistência em que os sentidos são o unico meio de aprender a
realidade.
Seu pior pecado, nesse caso, é a falta de visão, capaz de sufocar as pessoas
práximas a ele e esmagar a sua nascente criatividade e a dos outros, insistindo
exageradamente no lado pratico. Tor que esta perdendo tempo com essa besteira?"
diz o pai preso a terra a seu filho, que está aprendendo a pintar/tocar piano/estudar
filosofia/dominar a arquitetura dos anéis de fumaça. "Voce devia estar la fora
aprendendo a ganhar dinheiro." O dano realmente sério que essa atitude pode
ocasionar aos filhos é bem conhecido. Temos toda uma geração de marginais e
fugitivos que se rebelaram violentamente contra os valores terrenos constantemente
impin gidos por pais bem-intencionados – pais que, tendo passado por duas guerras
mundiais e uma aguda depressão economica, esqueceram que o futuro sempre
contém novas possibilidades. A sensação valoriza apenas o que pode perceber e,
em conseqiiencia, esta destinada a perder muita coisa.
introduz o caos no seu mundo cuidadosamente ordenado. Muitas vezes esse fascinio
é por algum tipo de movimento religioso ou espiritual, e essa é uma das expressões
mais estranhas da intuição inferior: um fervor religioso intenso e sincero, porém
crédulo.
Mais comumente, a intuição inferior nos tipos de terra mais bem equilibrados se
mostra como vagos pressentimentos negativos. O tipo de terra tenta ver o futuro, que
volta para ele enegrecido pela fuligem das suas próprias projeções inconscientes, de
modo que invariavelmente os outros querem "pega-lo", nada "nunca vai funcionar", e
ninguém é digno de confiança. Touro é famoso por seu horror a perder o que possui;
Virgem fica imobilizado de terror quando qualquer coisa do seu mundo
cuidadosamente arrumado fica ligeiramente desarrumada por causa da intromissão
de algum elemento irracional, inesperado; e Capricornio é bem conhecido pelas suas
suspeitas das pessoas que possam querer tira-lo da posição que conquistou. Esses,
naturalmente, são exemplos extremos.
A terra sente uma atração magnética pelo fogo, e é comum encontrar pessoas
com uma preponderância de terra no horoscopo procurando inspi
7Z
– William Blake
Os signos de fogo – Áries, Leão e Sagitario – partilham uma vita lidade e uma
53
espontaneidade que muitas vezes é alvo da inveja e do res sentimento por parte dos
signos mais tranqiiilos. Por dentro são crianças, e tendem a viver num mundo de
fantasia em que as pessoas são de fato cavaleiros com cavalos brancos, ou
princesas aprisionadas em castelos, ou dragões que precisam ser desafiados e
mortos. O tipo de fogo tem uma forte necessidade de mitologizar suas experiências e
relaciona-las a um mundo interior que pertence mais ao mundo dos contos de fadas
do que a "realidade". Não é de surpreender que tantos tipos de fogo sejam atraidos
para o mundo do teatro. O comportamento do tipo de fogo é muitas vezes
exagerado, mas é injusto acusa-lo de fazer isso unicamente para se exibir. 8
Psychological Types.
O tipo de fogo tem uma aptidão para pereeber as subcorrentes de uma situação
e chegar a uma conclusão num nivel totalmente incons ciente, de modo que, de
repente, eie tem um "palpit " muitas vezes não corroborado pela evidência dos
sentidos, mas infalivelmente correto. Isto envolve uma apreciacão dos componentes
de uma determinada situação simultaneamente e como um todo, em vez do processo
seqiiencial envol vido no raciocinio. Ele aparenta ter uma extraordinaria confiança na
"sorte", o que é mais uma convicção inata de que "alguma coisa" – o inconsciente –
vai acabar elaborando uma solução para tira-lo de suas dificuldades e preparar o
caminho para um futuro roseo. Isto enfurece os outros tipos, pois as bem-sucedidas
espiadelas que o fogo dá na esquina do futuro os desconcertam, e seus fracassos os
desconcertam ainda mais – porque ele não fica nem um pouco embaraçado. Tudo
"vai se ajeitar" mais tarde. Todos os signos de fogo partilham uma espécie de joie de
vivre, uma irreprimivel confiança infantil na generosidade do destino; e quem tem
deficiência desse elemento pode perfeitamente ficar pasmo com a iI forma como o
fogo joga com dinheiro, tempo, emoção, energia e as vezes com pessoas. Tudo para
ele é um grande jogo, e o objetivo não é vencer, mas ter estilo.
ão lado dessas virtudes incomuns, o tipo de fogo também possui alguns vicios
um tanto dramaticos, bem exprimidos nos atributos tradi cioaais dos signos de fogo:
Áries tem a fama de ter um individualismo exa gerado e uma tendência quixotesca a
55
cionamentos.
O tipo de fogo é mais propenso ao que gostamos de chamar pro blemas sexuais,
que não são tanto problemas mas sim um indicio do quanto ele próprio e os outros
não entendem suas necessidades. Quase sempre, o sexo para ele significa algo
diferente de um simples ato fisico; é um simbolo, como o é tudo que afcta seus
sentidos, e o elemento de fantasia em seus relacionamentos em geral é muito forte.
Isto geralmente parece, de alguma forma, "pervertido" para os tipos mais prosaicos.
Na verdade, os elementos de expectativa, antecipação e fantasia romantica e
erotica muitas vezes são muito mais importantes para o tipo de fogo do que o ato
fisico em si mesmo. Isto se torna um problema quando Há extre mismo, e ele não
consegue mais se relacionar a não ser através da fantasia.
O que está faltando é sua crença de que não Há mais possibili dades para explorar.
Também é o tipo de fogo que receia ser controlado através de sua sexualidade,
e que muitas vezes se envolve em lutas de poder nos relacio namentos, pois precisa
estar no comando para se proteger. Ou ele pode ser altamente inibido na expressão
do afeto fisico, o que é aceitável para um parceiro compreensivo, mas altamente
destrutivo para um filho.
O tipo de fogo é mais propenso que qualquer outro a subitas pai xões fisicas –
que ele chama amor –, que o fazem romper os relaciona mentos existentes um tanto
brutalmente, para ir ao encalço do objeto desejado. Esse entrecho lamentavel
freqiientemente termina com a triste descoberta de que "de noite todos os gatos são
pardos", e o novo objeto de amor não é mais satisfatório que o antigo. Qualquer
pessoa familia rizada com a vida de Henrique VIII vai reconhecer esse padrao, que
parece corresponder bem a seu ascendente sagitariano e seu temperamento
intuitivo extrovertido.
necessários para o mundo, mas precisam ser comunicados com alguma adaptação
aos termos do mundo.
82
esta ausente no mapa, a função simbolizada por eie geralmente vai ser fra ca; mas o
indivíduo pode conseguir evitar o problema durante muito tempo.
Somos sempre inconscientemente atraidos pelo que nos falta, e esses quatro
temperamentos são inexoravelmente atraidos por seus opostos porque os
relacionamentos desse tipo proporcionam a oportunidade de
O fogo aprendera a viver com seu parceiro de terra, e aprendera com ele,
somente quando se dispuser a vivenciar ao maximo os seus sentidos, reco nhecenda
a sua importância; a texra só aceitara seu parceiro de fogo, e aprenderá com ele,
quando enfrentar seu práprio anseio profundo pela liberdade e admitir que a visão é
tão importante quanto a forma que a hospeda. A água poderá aprender a se
relacionar com o ar. e a valorizá-lo, quando entender que nem tudo na vida é
avaiiado em termos das próprias respostas emocionais pessoais; e o ar começara a
entender a agua e apren dera com ela quando admitir suas próprias necessidades
emocionais e reco nhecer que os relacionamentos são um campo de experiência
humana tio valido quando o mundo das idéias.
Por essa razao, um horáscopo vindo pelo correio, baseado nos dados de
nascimento mas sem o conhecimento direto do individuo, tem a proba bilidade de ser
um triste fracasso do ponto de vista da investigação psico logica. A astrologia usada
dessa forma é um interessante mapa caracterolo gico, mas de pouca valia como
irmtrumento para ajudar o indivíduo em sua jornada para o desenvolvimento pessoal.
Mas, uma vez que haja alguma noção da orientação do individuo, o que deve vir do
contato pessoal e não do mapa, é fácil ver como os planetas nos elementos
"inconscientes" pro vavelmente vão funcionar e o que pode ser feito para ajudar a
integra-los.
função da consciência precisa ser desenvolvida, mas ela pode não se prestar a
tal desenvolvimento sem um esforço consciente, principalmente se for uma função
"indiferenciada".
Algumas vezes o "tipo virado" é produzido por algo mais complexo que um
genitor insensivel. Em nossa sociedade, tendemos a presumir – possivelmente não
sem razões historicas e biolágicas, mas talvez com expectativas injustificadamente
rigidas – que o mundo do pensamento e da sensação pertence aos homens, e o
mundo do sentimento e da intui ção as mulheres. Isso pode ser verdadeiro em geral,
num nivel arquetipico; pode ter sido verdadeiro na maior parte da nossa historia. Mas
é possivel que a divisão esteja menos acentuada do que antes e pode não se aplicar
ao individuo, que sempre contém todas as potencialidades em sua natu reza. Existem
razões para supor que quanto mais dominados somos por nossa herança biolágica e
historica, menos somos capazes de usar o es quema individual do mapa de
nascimento; e também existem razões para supor que parte do que o Zeitgeist
contemporaneo envolve é a capacidade de equilibrar essa herança com uma
crescente percepção do potencial de desenvolvimento individual. Há tantos homens
nascidos com tendência a função do sentimento quanto mulheres, e tantas mulheres
com incli nação para a função do pensamento quanto homens. Embora antiga mente
possa ter sido dificil para o indivíduo transcender os fatores circuns
RC
tânciais e lançar mão dessa inclinação para a sua própria expansão, tal
transcendência parece ser cada vez mais possivel na medida em que iagres samos
numa nova era do desenvolvimento da consciência humana.
O apelo do passado cria sua prápria dor. O homem orientado pelo sentimento,
por exemplo, com preponderância de igua no mapa natal, ou o intuitivo, com
preponderância de fogo, em geral aprende bem cedo na vida que os outros vão
63
O mundo esta cheio de "tipos virados", que causam danos a si e aos outros sem
64
nn
4 A Belae a Fera 8 vão tentar endireitar a sombra, se o corpo que faz a sombra
é torto.
– Stefano Guazzo 1
"Ve bastante quem de fato ve sua escuridao", t diz Lord Herbert de Cherbury,
mas embora esta pareça uma tarefa I relativamente simples, a maioria de nós faz de
tudo para evita-la. Diversas pessoas, muito compreensivelmente, desejam deixar em
paz os caes ador mecidos, e contanto que as coisas não se tornem muito
insuportáveis, existe uma certa sabedoria nessa atitude – até um certo ponto. E
muito mais agradavel achar que se é um sujeito bom e decente – talvez com alguns
defeitos, mas hasicamente corrcto –, é muito mais facil, também, supor que o
governo, os negms, os hippies, os comunistas ou os imigrantes criaram iodo o mal no
mundo. Para algumas pessoas, é mais ficil supor que o Demonio criou todo o mal no
rnundo, tirando wsim dessa questão, ao rnesmo tempo, a responsabilidade humana.
Peça a alguém para dar uma descrição do tipo de personaiidade com quem
acHá mais impossivel se entender, e ele vai fazer uma descrição de suas próprias
caracteristicas reprimidas – uma autodescrição totalmente inconsciente e quo,
portanto, sempre e em toda parte o tortura, a medida que recebe a sua influência
vinda da outra pessoa. Infelizmente, embora esse lado sombrio da personalicade
costume ser "totalmente" inconsciente no individuo, não é tão oculto para os outros,
e quanto mais inconsciente e reprimido for, tanto mais obvio sera para os outros.
Muitas vezes ouvimos um homem declarar: "Sirnplesmente detesto as pessoas
despoticas; elas tornam a vida dos outros miserivel" e, então, em outra ocasião, sua
esposa ou um amigo diz: "Bom, ele ás vezes realmente se comporta como um tirano,
mas sempre que tento lhe dizer isso, ele fica furioso e não Há jeito de eu me fazer
entender." Pode ser alguém autoritario, pregu!çoso, estupido, egoista,
preconceituoso, de mau genio, dominador ou insensivel que nos deixa loucos, mas a
cegueira quanto ao próprio lado sombrio – e a projeção desse lado sobre os outros –
é incrivelrnente comum, e poucos de nós estão isentos dessa expressão.
OA
66
pessoas achem melhor esquecer Auschwitz e correlatos porque "outra pessoa" foi
responsivel (com certeza não pessoas decentes como j 2. Aion, C. G. Jung. Londres,
Routledge K Kegan Pzul, 1959.
bares a noite para discutir os méritos do corpo de suas secretirias. O pacifista contém
dentro de si um valentão, e o herói, um covarde; como Mick Jagger canta em
Sympathy for the Devil: Todo "tira" é um criminoso E todo pecador é um santo. Como
o antigo deus romano Jano, todos nos temos duas faces, e é prcciso que o indivíduo
reconheça isso para poder tar voz ativa na questão da lado a ser expresso aos seus
semelhantes: o luminoso ou o escuro. A l
Todas as nossas opiniões que contem uma alta carga emocional são suspeitas.
Quando nos encontramos na posição de vitimas de uma reação emocional
desproporcionada em relação a situa o, ou quando temos tal reação em relação a
alguma situacão, que realmente não é da nossa conta mas diz respeito
exclusivamente a outra pessoa, devemos suspeiiar que estamos reagindo a alguma
coisa nossa que não identiGcamos como nossa...
Ja vimos como cada tipo, e conseqiientemente cada. elemento astro lógico, porta
uma fraqueza da fuaçan oposta. Quando vemos essas quali dades como mas, as
julgamos e as empurramos para o inconsciente, e elas se deterioram e se tornam
exatamente tão más quanto acreditamos que sejam. É o nosso ponto de vista em
relação ao inconsciente que causa sua aparente inimizade. O inconsciente sá tem
uma postura inimiga ou desapiedada em relação ao consciente quando o ultimo
adota uma atitude falsa ou pretensiosa . E uma das atitudes mais pretensiosas de
que os seres humanos são capazes é a crença de que a culpa é sempre de outra
pessoa.
integrarmos suas qualidades, elas padem se vingar formando seu alter ego ou
Dõppelgãnger – a sinistra figura que freqiienta as obras de Poe, Dostoiévski e R. L.
Stevenson. Não se pode mudar a própria sombra, quanto mais dissipa-la ou
exorcizá-la, através da critica ou da condenação; o que é necessário é uma mudança
na atitude consciente. Quanto mais equilibrada uma pessoa, deixando que alguma
inferioridade se expresse em sua personalidade, tanto mais equilibrada é sua
sombra; porém, quanto mais duramente intransigente ela é, tanto mais nogra e
destrutiva a sombra.
Diz finalmente – quem és tu? Sirvo aquele Poder Que sernpre deseja o mal
Mas sempre faz o bem. A posição de Saturno no mapa de nascimento sugere uma
esfera da vida do indivíduo na qual ele foi, de certa forma, atrofiado, ou teve AP
de fadas – Saturno se torna uma fonte de força e um faroI iluminando o caminho para
o alvo.
mente, a sambra pode ser admitida e ter espaço para respirar, o que é um
excelente remédio para muitas de suas qualidades menos atraentes.
74
Os colegas de Paul, assim como as pessoas que vieram a sua escola em busca
do autodesenvolvimento, logo começaram a confiar nele, que 5 Saturno, Liz Greene,
Editora Pensamento, 1986.
98
O Sol em Sagitário, a Lua e Plutão juntos em Leao, dois signos de fogo, refletem
o lado intuitivo predominante do temperamento de Paul; e o ascendente em Câncer,
um signo de agua, parece simbolizar a sensibilidade de sentimento e resposta
pessoal que caracteriza o seu trato V com as pessoas. A colocação do Sol na
sétima Casa, a dos relacionamentos, sugere que a auto-realização de Paul precisa
vir da sua função de catalisador para os outros, reunindo os opostos entre os quais
ele próprio é a ponte.
Para eles, o filho era um receptaculo vazio que seria preenchido com os seus
valores, cresceria e viveria o lado não-vivido de suas próprias psiques.
Da mesma forma que outros com o seu temperamento, Paul percebia muita
coisa errada no ambiente em que se encontrava. O casamento dos pais era um
maravilhoso exemplo de hipocrisia bem comportada, e lhe parecia haver estagnação,
auto-ilusão e resistência a mudança em demasia – e essas coisas são um anatema
para o intuitivo.
menos agradáveis pareciam, naturalmente, pertencer a seu pai, que aos olhos dele
era como Saturno: autoritario, convencional, avarento e preocupado só com dinheiro
e valores materiais. A projeção ia além do pai e encampava a sociedade, que
também lhe parecia Saturno – e ele odiava ambos. Sem duvida, o pai proporcionava
um gancho para pendurar essa projeção, mas não era melhor nem pior que muitos
outros homens de sua geração, e tinha muitas qualidades extraordinarias.
Como muitos outros intuitivos, Paul se considerava sua própria lei, mas não
levou em conta o lado escuro de sua natureza. Conscientemente, estava cheio de
idéias brilhantes e realmente preocupado com o desenvol vimento de seus
semelhantes. Inconscientemente, nas raizes de sua psique, o lado escuro
simbolizado por Saturno funcionava usando suas habilidades naturais com o
proposito de controlar os outros; isto o afastou primeiro de si mesmo e depois de
seus colegas, através de explosões de comporta mento tiranico, genio violento,
agressões fisicas e certa ambigiiidade nós assuntos de dinheiro – padrões de
conduta que ele freqiientemente atri
in
Paul se sentiu muito ferido por essas acusações, que acreditava totalmente
injustificadas.
78
Seria injusto acusar Paul de hipocrisia premeditada. Ele não podia mais
controlar essa coisa dentro de si, assim como uma criança não con segue controlar
seu lado destrutivo; ele fez o possivel para não enxergá-la, cometendo assim o
mesmo pecado que a maioria de nos. Mas não se pode forçar a sombra a
permanecer no inconsciente sem sofrer as conseqQencias.
102
-lo. E a sombra, nesse caso, realmente visava a destruição, mas não arbi
trariamente, pois o inconsciente sempre tenta compensar a parcialidade da atitude
consciente, e as vezes apela para a necessidade de derrubar o 1 ego para alcançar
o equilibrio que almeja. Assim, nos contos de fadas, é preciso que haja um inimigo
que tenta destruir o heroi, pois apenas dessa forma o heroi pode atingir o seu
objetivo.
Como resultado do problema de Paul, sua organização, que signi ficava mais
para ele do que qualquer outra coisa na vida, acabou expul sando-o. Até continuou a
operar com sucesso sem ele, o que foi um golpe ainda pior para o seu ego. Embora
pudesse ter-se integrado num meca nismo maravilhosamente produtivo, a terrivel
divisão entre o claro e o escuro de sua natureza acabou gerando a pior situação
possivel para um indivíduo tão fortemente necessitado dos outros: o completo
isolamento.
80
Enquanto isto está sendo escrito, Paul ainda se afunda, sentindo-se perseguido,
desiludido e traido. Não consegue compreender por que foi rejeitado, e prefere
acreditar que alguém queria a sua posição de poder na organiza o. É muito possivel
que o significado real dessa experiência im portaate e potencialmente valiosa sá
venha a tona, para Paul, na época do seu retomo de Saturno, quando o planeta
transitar novamente por Virgem, signo em que esta colocado no nascimento. Na
idade critica em que isso ocorre, como mostrou Marc Robertson em The Transit of
Saturn, tudo que é falso na estrutura do ego começa a desmoronar, e o inconsciente
faz uma iavestida cerrada em direção á integração. Para Paul, essa época ainda
esta dois anos a frente, e daqui até la tem a oportunidade de aprender a lição de
Saturno: nada morre antes de ser vivido, e embora a gente possa ver o que pode ver
sozinha, esta é uma visão pobre e estreita comparada com a sabedoria da psique
integrada. E o que não se pode ver continua sendo o verdadeiro mestre.
Saturno, como simbolo astrológico, é tanto nosso maior inimigo como nosso
81
104
– Rainer Maria Rilke Não tem muita importância saber com quem a gente se
casa, ja que é certo descobrir, na manha seguinte, que foi com outra pessoa.
O mesmo pode ser dito dos retratos de qualquer artista ou escritor que tenha
sido bem-sucedido em dar forma a suas mais intimas fantasias sobre o feminino;
citariamos um incontavel numero de exemplos (desde a Mona Lisa de Leonardo até
Nastasya Ivanovna de Dostoiévski em O Idiota, A Mulher do Tenente Frances de
Fowles e Justine de Durrel). Em con trapartida, a imagem do homem retratado por
mulheres escritoras e artistas não está t5o bem representada. Poderiamos
considerar, como exemplos, Heathcliffe, a extraordinaria criatura da fantasia de Emily
Bronte, os he róis das novelas góticas de Anne Radcliffe, O Pimpinela Escarlate, e,
recentemente, Francis Crawford de Lymond, retratado nas novelas histo ricas
campefs de vendas de Dorothy Dunnett – que não seriam "grande literatura" mas se
prestam admiravelmente para demonstrar o fenomeno.
Aqueles que não são artistas também podem portar essa imagem interior, e
muitos homens e mulheres são capazes de descrever um tipo de indivíduo que
personifica tudo o que procuram no sexo oposto. Essas imagens interiores são
curiosamente fascinantes e autánomas; conteudos da psique inconsciente; como
todos os outros conteudos do inconsciente, serão projetados em pessoas reais que,
de alguma forma, constituam um gancho adequado. Temos, assim, a situação tipica
do homem que tem uma imagem interior e uma interpretação da mulher claramente
defini das – embora freqiientemente inconscientes –, que projeta continuamente nas
mulheres que encontra; ele acredita ter encontrado essa mulher per feita quando se
apaixona; e quando a projeção se desgasta um pouco e a mulher real começa a se
tornar visivel, é forçado a reconhecer que precisa fazer ajustes na sua atitude de
relacionamento. Muitas vezes ele reage se sentindo profundamente desapontado,
83
como se tivesse sido iludido ou logrado – e nesse caso deixa de perceber que foi
enganado pela sua própria
Todo homem contém uma mulher dentro de si, e toda mulher contém um
homem; essa verdade basica não é só biologica – pois todos nós contemos os
vestigios hereditarios do sexo oposto em nosso corpo, em forma recessiva – mas
também psicologica. Jung definiu essas imagens transexuais inconscientes como
animus e anima, e a astrologia conclui pelo mesmo inter-relacionamento de
masculino e feminino no indivíduo pela presença tanto de signos como de planetas
masculinos e femininos no mapa de nascimento. Não é preciso muita perspicacia
para ver que a crescente consciência dessa dualidade inerente em muitos
movimentos atuais se direcionou para a modificação dos papéis sexuais tradicionais,
e mesmo que pareça um pouco embaraçoso para algumas pessoas, a verdade subja
cente a esses movimentos é evidente na própria psique. Mas viver a duali dade
sexual de forma criativa e construtiva, sem violentar nem a herança biológica nem o
inconsciente, requer um esforço consideravel.
A anima e o animus são duas das figuras mais misteriosas investá gadas pela
psicologia analitica; e embora os termos de Jung sejam alta mente descritivos –
anima, o feminino, significa alma, enquanto animus, o masculino, significa sopro,
84
folego ou espirito –, tem sido conhecidos por outros nomes através de toda a histária,
e tem sido retratados nos mitos, contos de fadas, temas religiosos e artes de todas
as culturas através dos séculos. Mesmo com o grande numero de descrições dadas
no trabalho de Jung, essas imagens inconscientes continuam sendo conceitos
abstratos, exceto para as pessoas que vivenciaram consciente e diretamente o seu
poder. Entretanto, por abstratas que possam parecer a principio, vale a pena fazer
um esforço para entende-las um pouco, e, mais ainda, para conseguir uma relação
significativa com elas, pois é em tomo desses sim bolos que se assenta todo o mundo
da interação homem – mulher em toda sua complexidade. 1R7
Assim como toda mulher contém dentro de si essa energia masculina, todo
homem contém dentro de si um aspecto feminino. Pertence a ele, essa perigosa
imagem da Mulher; ela representa a lealdade, a qual, no interesse da vida, algumas
vezes ele precisa renunciar; ela é a tão necessaria compensação pelos riscos, lutas,
sacrificios e tudo que termina em desapontamento; ela é o con solo por toda a
amargura da vida. E, ao mesmo tempo, ela é a grande ilusionista, a sedutora, que o
atrai para a vida com seu Maya – e não apenas para os aspectos racionais e uteis da
vida, mas também para os assustadores paradoxos e ambivalencias em que o bem
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O homem que tem alguma compreensão da anima e admite sua auto nomia
pode começar a cooperar com esse seu lado feminino inconsciente.
Assim fazendo, ele vai ser muito mais capaz de perceber a identidade de sua
parceira, permitindo-lhe portanto ser ela mesma. Também vai con seguir uma maior
aceitação de sua própria condição de homem, a medida 1 Aion.
2 Ibid.
considera tal dife rença um rebaixamento dos direitos das mulheres. A psicologia
analitica nunca postulou que os homens só são capazes de pensar e as mulheres de
sentir; a existência da anima e do animus em cada um é testemunha da inteireza de
todas as pessoas. Mas os valores e as fontes mais profundas de motivação são
difereates na psicologia masculina e feminina. É uma pena que tenham ocomdo
tantos malwntendidos nos ultimos tempos, e também é uma pena que o conceito de
Freud de "homossexualidade latente" ainda seja um bicho-papão para muitos
indivíduos que acham que expressar o lado transexual de sua natureza vai dealguma
maneira tomá-los homos sexuais. Se tanto, é mais provavel que o oposto seja
verdadeiro, pois o que chamamos homossexualismo é frequentemente o resultado
de uma com pleta repressão das figuras inconscientes, que – como qualquer outro
componente do inconsciente – se tornam antagonistas e esmagam a cons ciência
quando tratadas com arrogáncia ou desprezo pelo ego.
homens, por mais criativos e sensiveis, tendem a valorizar mais a realiza ção, a
estrutura e o mundo das idéias. Essas coisas precisam vir da expe riência própria.
Para muitos indivíduos, a anima e o animus permanecem totalmente inconscientes e
são projetados; ou podem se rebelar contra a repressão do ego e subitamente se
apoderar da consciencia, a tal ponto que prejudicam a relação natural do indivíduo
com sua própria sexua lidade. O indivíduo pode, então, identificar-se, sem perceber,
com esse seu elemento inconsciente, achando que é o seu lado melhor; e não é um
espetaculo bonito, pois qualquer coisa inconsciente é um pouco primitiva e "inferior",
sendo indiferenciada. A esse fenomeno podemos coneta rnente aplicar a palavra
"animosidade", que é o resultado caracteristico da ideniificação inconsciente com a
anima ou com o animus.
por ai com uma postura terrivelmente belicosa e a convicção secreta de que todos os
homens pla nejam domina-la, nunca percebendo que quem a domina é o homem
inconsciente dentro de si mesma; assim, acHá que precisa provar sua supe rioridade
aos homens, primeiro. Isto não é, em absoluto, o mesmo que a mulher realmente
empenhada em compreender e desenvolver a mente; existe uma imensa diferença
na aura emanada pelas duas, e em geral pode-se reconhecer a primeira não apenas
pelo tipo de seus argumentos, curiosamente cheios de cliches, mas também porque
quando ela entra numa sala todos os homens se encrespam. O homem possuido
pela anima, inconsciente dos seus desagradiveis caprichos, compulsividade, vaidade
pessoal e melindres, anda por ai espalhando uma nuvem de atmosfera venenosa;
exibe uma mesquinbaria e wrogância peculiares, falta de fran queza, fragilidade
diante do conflito e uma manipulatividade completa mente escorregadia;
imediatamente desperta a descanfiança das mulheres.
Ou então pode ser que ele espalhe uma delicada patina de glamour em tudo
que diz ou faz, de modo que se fica com a nitida impressão de que ele esta sempre
num palco, desempenhando um papel, e não se relacionando com indivíduos. Como
o animus gosta do argumento, a melhor forma de ve-lo em funcionamento é em
disputas em que as duas partes acham que tem razao. Os homens também são
capazes de discutir de 110
uma forma muito feminina, quando estão possuidos pela anima e foram assim
transformados no animus de sua própria anima Com eIes, a questão se toma um
caso de vaidade pessoal e meIindre (como se fossem mulheres); com as mulheres, é
uma questão de poder, seja de verdade, justiça ou de outros "!smos" – pois o
costureiro e o cabeleireiro ja cuidaram de sua vaidade .
mãos... Apenas com o esforço para reconhecer essas figuras pode ocorrer uma
verdadeira união dentro do individuo, de modo que ele possa expres sar os dois lados
de sua psique de forma criativa. ... a integração da sombra, ou a percepção do
inconsciente pes soal, marca o primeiro estagio do processo analitico, e... sem ele o
reconhecimento da anima e do animus é impossivei. A sombra só pode ser percebida
através da relação com um par ceiro, e a anima e o animus, apenas através da
relação com um parceiro do sexo oposto, pois unicamente em tal relaçio suas
projeções se tornam operanies . Os relacionamentos que contem um elomento de
"apaixonar-se" inevitavelmente contém projeções da anima e do animus, e a curiosa
sensação de familiaridade que se tem em relação ao ser amado é facil mente
explicavel pelo fato de a pessoa, na realidade, estar apaixonada por si mesma. O
que distingue esse fato do narcisismo é que o "amado" não é o ego consciente, mas
um aspecto do self inconsciente. A sensação 6 Aion.
7 Ibid. 1 1
de familiaridade tem sido, com muita freqiiencia, explicada pela reencar nação.
Esses relacionamentos, sup5e-se, são a continuação de um encontro começado em
outra vida, dai o reconhecimento do ser amado. Esse argu mento não é
necessariamente irreconciliavel com o que dissemos sobre a anima e o animus, pois
não conhecemos realmente a verdadeira natureza dessas imagens, nem de que
raizes primordiais elas surgem. A despeito da reencainação, entretanto, a projeção
esta envolvida com toda certeza no "amor a primeira vista",. embora isto não
signifique que tais projeções sejam prejudiciais ou negativas. ao contrario, são um
catalisador neces sario para o relacionamento, assim como o relacionamento é um
catali sador necessario para a autoconsciencia; a busca do parceiro interior é
responsavel pela nossa aceitação da vida. A anima e o animus são, por conseguinte,
guias no sentido mais profundo, pois ligam o indivíduo a grande herança de imagens
e experiências coletivas que jazem além de sua vida pessoal; e são efetivamente
instrumentos do fado, direcionando -nos para situações que, de outra forma, sem
duvida evitariamos – evi tando assim toda luta e toda consciencia. Embora
procuremos esses par ceiros interiores fora de nós, eles vivem dentro de nós e nos
impulsionam exatamente para aquelas experiências opostas aos nossos desejos
90
Como outras figuras arquetípicas, a anima tem dupla face. Muitas vezes isso
coloca um problema real para a aceitação consciente de seu valor por parte do
homem, pois enquanto a face "luminosa" – criativa, inspiradora, migica – pode ser
assimilável, muitas vezes a face mais escura e mais selvagem não o é. É muito mais
fácil projetar essa ultima em mu lheres reais, e ve-las como destrutivas e
devoradoras. Entretanto, a luz não
pode existir sem a escuridao. A anima personifica toda a experiência cole tiva do
homem com o feminino, e é portanto um simbolo do principio feminino arquetipico.
Esta vinculada á relação e ao sentimento, e perso nifica o aspecto do inconsciente do
homem que se empenha na união com os outros. Sob alguns aspectos, a figura da
anima é igual para todos os homens; diriamos que existe apenas urna Mulher, uma
essência do feminino que nunca pode ser realmente verbalizada, mas que possui os
mesmos atributos para todos os homens. É essa identidade, essa unidade coletiva,
que produz figuras de anima como Ayesha, ou mesmo mulheres do tipo anima como
Marilyn Monroe, com seu grande poder de fascinio.
Mas junto com essa face coletiva da anirna existe também um lado pessoai.
Para um homem, a imagem interior pode ser morena, sensual e languida; para outro,
pode ser loura, exuberante e inocente. A anima, enquanto personificação coletiva,
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também é fortemente matizada pela experiência individual que o homem tem das
mulheres, principalmente de sua mae. Assim, enquanto a essência do feminino
permanece a mesma, a imagem interior é diferente para homens diferentes. As
ninfas e deusas gordinhas retratadas por Rubens podem ter agradado a Rubens,
mas para outro homem a figura esguia e de menino de uma atriz como Mia Farrow é
muito mais magnética. Também é possivel observar a entrada em moda de tipos
fisicos durante diferentes periodos da historia; a imagem ideal da mulher bonita na
época elizabetana, ou mesmo vitoriana, era muito diferente da que é cansiderada
bonita hoje. Os romanos tinham uma filo sofia para essa questão: de gustibus non
disputandum est, gosto não se discute. As qualidades fisicas da imagem são
simbolicas, e personificam qualidades interiores muito mais dificeis de verbalizar. Se
se permite que os traços fisicos falem ao coracão e a intuição , eles revelam a
essência da pessoa.
E as mesmas quatro imagens também sio aplicáveis a anima. São deno minadas
a Mãe, a Hetaira, a Amazona e a Médium. Geralmente uma dessas faces da anima
esta voltada para cima, em direção a luz da consciência de um homem, que o atrai
para aquele tipo de mulher como representante do feminino. 8 The Symbolic Quesr.
A Arnazona – cujo nome vem das guerreiras da mitologia grega que adoravam a
deusa virgem – é uma figura de terra, forte e capaz, eficiente, apoiadora, prática e
cheia de sabedoria terrena. Sua face luminosa é a capa cidade de lidar com a
realidade, com o mundo material e suas complexi dades, de proporcionar seguranga
e estabilidade. Sua face escura é domi nadora, mandona, arrogante, cerceadora,
estruturada, dogmatica, escra vizada a tradição e a lei. O homem ligado a anima
como Amazona pode procurar relacionamentos nos quais sua vida seja
eficientemente dirigida e organizada para ele, deixando-o livre para ir ao encalço da
sua visão criativa. Do lado negativo, pode-se chegar a um discreto aprisionamento
num estado de perpétua infantilidade, que não lhe permite fazer nada rozinho. A
Médium, antitese da Amazona, é a visionaria e vidente, a profetiza que desvenda os
segredos do universo. Ela comunga com os deuses, e traz espontaneidade, alegria,
extase e abandono ao fluxo do momento. Sua face luminosa é a da intuitiva, a
inspiradora, o veículo do espirito criativo; sua face escura é a histeria, a loucura, o
caos, a frenética rendição as forças do coletivo e os demoniacos poderes da visão e
do deli rio. O homem ligado a anima como Médium pode achar que encontrou uma
musa, um catalisador para a expressão da criatividade e do significado de sua vida.
Alternativamente, pode aehar que foi sacrificado no altar do 11C
caos, com sua vontade, sua estrutura e sua necessidade de conseguir algo de
valor no mundo se desintegrando num redemoinho fantasmagorico, ou num mundo
de sonho que o leva a acreditar que se tomou um heroi sem ter realizado nenhum
feito.
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capaz de negar quando alega não estar de mau-humor, não haver nada errado
e se ela poderia, por favor, parar de importuna-lo com suas exigen cias emocionais.
Talvez só as mulheres, sensiveis a esta atmosfera emocio nal, saibam quanto
sofrimento emocional vem desse tipo de critica e de desapontamento não-
verbalizados. Se o homem não consegue reconhecer a diferença entre sua mulher e
sua anima, e respeitar as duas, então vai sempre esperar que sua mulher se ajuste a
imagem interior – e, inevitavel mente, ela vai malograr.
Whitmont sugere que o animus, da mesma forma que a anima, pode assumir
uma de quatro formas basicas. Cada uma é uma corporificação do principio
mascuiino, e ele as denomina o Pai, o Puer Aeternus (Jovem Eterno), o Heroi e o
Sabio. Enquanto os homens podem se identificar inconscientemente com uma
dessas quatro figuras como simbolo de sua expressão masculina especifica, as
mulheres também geralmente estão ligadas a uma ou outra como a face mais
consciente do anirnus.
Tanto o Filho (puer) como a Hetaira fazem o tipo ame-os e deixe-os, mas com a
Hetaira motivada pelo Eros a enfase maior é no ame; o puer é mais forte no deixe ."
A face brilhante do puer é como o mercurio: simboliza a atuação brilhante, mutavel,
inconstante da mente diferen ciada, e é como o espirito do vento, trazendo a
mudança e a animacão do voo. Sua face escura é fria e despida de sentimentos,
cruel, dura, dada a critica destrutiva e á palavra venenosa. A mulher ligada a essa
figura do animus pode se acorrentar exatamente a um homem assim: magnético.
feminina, a Amazona, se empenha em lutar e vencer no mundo obje tivo. Ele pode
ser o bem-sucedido homem de negocios, o politico influente e carismatico, o soldado,
o estadista; sua face brilhante proporciona garra, assertividade, coragem, senso
comum, tenacidade, persistência e uma vontade poderosa. Sua face escura é
sensual, materialista, insensivel, brutal, dominadora, possessiva e destrutiva em
relação aos dons criativos e as coisas do espirito. Uma mulher ligada a essa figura
de animus, se for incapaz de expressar ou reconhecer qualquer outra faceta, pode
ver-se envolvida – projetando – com um homem cuja preocupação primordial na vida
seja a sua posicao. Ele, em busca do poder e do ganho material, pode arrasta-la
consigo (ou melhor, ela vai se deixar arrastar, sob o do minio do animus) porque tudo,
inclusive os relacionamentos, precisa ser sacrificado pela conquista. ao contrário, o
Sabio, antitético do Heroi e correspondendo a Médium feminina, é um simbolo da
criatividade, da sabedoria, da visfo, da compreensão espiritual e uma ponte para a
Mente de Deus. Sua face luminosa é a do magico, do profeta que esclarece os mis
térios do significado maior da vida; sua face escura é o abismo, o poder cauterizante,
fanatico e totalmente impessoal do caos. Ligada a um tal animus, uma mulher pode
permitir que seu homem aja como um guru e guia espiritual, manâncial de sabedoria
e profeta que ve tudo; pode esperar que ele viva por ela a sua criatividade não-
nascida e devote a sua vida ao 9 Ibid.
serviço das necessidades mundanas dele, de modo que ele possa prosseguir
com sua nobre visão. E ela pode nunca perceber que possui inspiracão e sabedoria
próprias. Citaria como exemplo negativo desse animus o poder inconsciente que
hipnotizou as seguidoras de Charles Manson levando-as a ve-lo como um Messias.
Através do animus, a mulher é atormentada por um problema, tal como a
anima faz com o homem: o problema dos pressupostos e expec tativas inconscientes,
e do ressentimento resultante quando as exigencias não-verbalizadas não são
atendidas. Se não cooperar conscientemente com o homem