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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA

DE VITÓRIA

BRUNA ANCHIETA DE CARVALHO ZORZANELLI

Unidades de Pronto Atendimento – UPA 24h

Vitória
2018
Sumário

1. Histórico e Legislação .................................................................................................... 2


2. Definição e Diretrizes ...................................................................................................... 3
3. Acolhimento com Avaliação de Risco, Necessidades e Vulnerabilidade ......... 4
4. Modalidades de UPA 24h ............................................................................................... 6
5. Recursos Humanos das UPAs ...................................................................................... 7
6. Referências ........................................................................................................................ 9

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1. Histórico e Legislação

Desde o início dos anos 2000, o governo federal vem se dedicando a organizar
a atenção às urgências no país, diante do contexto histórico de superlotação dos
prontos-socorros e alta taxa de morbimortalidade no Sistema Único de Saúde -
SUS. Em 2003, foi inaugurada a Política Nacional de Atenção à Urgências
(PNAU), baseada nos sistemas de atenção às urgências estaduais, regionais e
municipais. De acordo com KONDER (2013), essa política deu especial atenção
à assistência pré-hospitalar tão carente em nosso país, mas também enfatizou
a compreensão de que a atenção às urgências não está restrita ao hospital. Para
isso, retomou a ideia, já proposta anteriormente (BRASIL, 2002), de constituição
de redes locorregionais de atenção às urgências com um componente pré-
hospitalar fixo, composto tanto pela assistência primária à saúde como por
unidades de pronto-atendimento não-hospitalares. Documentos subsequentes
instruíram a implantação, o financiamento e a expansão dessas unidades de
pronto-atendimento não-hospitalares, que viriam a ser popularizadas como
Unidades de Pronto Atendimento – UPA 24h. A Tabela 1 apresenta uma relação
histórica de algumas portarias que estão relacionadas à instituição das UPAs.

Tabela 1. Quadro evolutivo das portarias referentes à regulamentação das UPAs. Fonte:
CONASS, 2015.
Ano Documento Descrição
2002 Portaria 2.048 de Regulamenta o atendimento dos Sistemas
2002 Estaduais de Urgência e Emergência;
estabelece seus princípios e diretrizes; define
normas, critérios de funcionamento,
classificação e cadastramento dos serviços pré-
hospitalar fixos, unidades não hospitalares (24
horas), pré-hospitalar móvel e unidades
hospitalares. Processo de capacitação
profissional – conteúdos e atividades. Revoga a
Portaria n. 814/2001a e inclui diversas
orientações constadas nas portarias anteriores.
2003 Portaria Institui a Política Nacional de Atenção às
1.863/2003 Urgências (PNAU), a ser implementada em
(revogada) todas as unidades federadas, respeitadas as
competências das três esferas de gestão
(organização das redes locorregionais em seus
componentes – pré-hospitalar fixo, pré-
hospitalar móvel, hospitalar e pós-hospitalar).
2008 Portaria Estabelece diretrizes para a organização de
2.922/2008a redes locorregionais de atenção integral às
urgências. Define conceitos, atribuições e
requisitos para a implementação das UPAs e
salas de estabilização em locais/unidades
estratégicas para a configuração dessas redes.

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2009 Portaria Estabelece diretrizes para a implantação do
1.020/2009 componente pré-hospitalar fixo – UPA e SE –
(revogada) visando à organização de redes locorregionais
de atenção integral às urgências. Define
competências das UPAs, porte (I, II, e III) e os
incentivos de acordo com o porte.
2011 Portaria Reformula a Política Nacional de Atenção às
1.600/2011 Urgências e institui a Rede de Atenção às
Urgências no Sistema Único de Saúde. Define
os componentes da Rede (promoção, vigilância,
AB, SAMU, SE, Força Nacional de Saúde –
pop. Vulneráveis – UPAs, hospitais e atenção
domiciliar). Revoga a Portaria n. 1.863/GM/MS
de 2003.
2011 Portaria Estabelece diretrizes para a implantação do
1.601/2011 componente Unidades de Pronto Atendimento
(revogada) (UPA 24h) e o conjunto de serviços de urgência
24 horas da Rede de Atenção às Urgências, em
conformidade com a Política Nacional de
Atenção às Urgências. Institui o incentivo
financeiro e custeio considerando: UPA nova,
ampliada e reformada. Revoga a Portaria n.
1.020/2009.
2011 Portaria Redefine as diretrizes para implantação das
2.648/2011 UPAs e do conjunto de serviços de urgência 24
horas em conformidade com a Política Nacional
de Atenção às Urgências (PNAU). Revoga a
Portaria n. 1.601/2011.
2012 Portaria Dispõe sobre o incentivo financeiro de
1.071/2012 investimento para a construção e ampliação no
âmbito do componente UPA e do conjunto de
serviços de urgência 24 horas da Rede de
Atenção às Urgências, em conformidade com a
PNAU. Revoga a Portaria n. 2.820/2011.
2012 Portaria Dispõe sobre o incentivo financeiro de custeio
1.072/2012 no âmbito do componente UPA e do conjunto
de serviços de urgência 24 horas da Rede de
Atenção às Urgências, em conformidade com a
PNAU. Revoga a Portaria n. 2.821/2011.

2. Definição e Diretrizes

Segundo o Artigo 2º da resolução CFM nº 2.079/14, define-se como UPA o


estabelecimento de saúde de complexidade intermediária entre as unidades
básicas de saúde/Saúde da Família e a rede hospitalar, devendo com essas
compor uma rede organizada de atenção às urgências. O Ministério da Saúde
estabelece que o objetivo da UPA 24h é diminuir as filas nos prontos-socorros
dos hospitais, evitando que casos que possam ser resolvidos nas UPA’s ou

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unidades básicas de saúde (UBS) sejam encaminhados para as unidades
hospitalares, de forma que nas localidades que contam com UPA, 97% dos
casos são solucionados na própria unidade. Para isso, a UPA 24h oferece
estrutura simplificada, com raio-X, eletrocardiografia, pediatria, laboratório de
exames e leitos de observação.
Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, as UPA’s devem seguir as seguintes
diretrizes:
I - Funcionamento ininterrupto 24 (vinte e quatro) horas e em todos os dias da
semana, incluindo feriados e pontos facultativos;
II - Equipe Assistencial Multiprofissional com quantitativo de profissionais
compatível com a necessidade de atendimento com qualidade, considerando a
operacionalização do serviço, o tempo - resposta, a garantia do acesso ao
paciente e o custo-efetividade, em conformidade com a necessidade da Rede de
Atenção à Saúde – RAS e as normativas vigentes, inclusive as resoluções dos
conselhos de classe profissional;
III - Acolhimento;
IV - Classificação de risco.
Diante do exposto, para que a UPA cumpra seus objetivos e siga as diretrizes a
ela imposta, é de extrema importância que a população tenha o direcionamento
necessário para dirigir-se aos locais apropriados de entrada no Sistema Único
de Saúde (SUS) de acordo com sua demanda. A Prefeitura de Vitória, por
exemplo, determina que devem ser atendidos em UPA’s usuários com quadros
de dores agudas, sangramentos, pequenos acidentes domésticos com cortes e
outros machucados, febre alta, vômito constante, diarreia, suspeita de
intoxicação e acidentes com animais peçonhentos. Os demais problemas de
saúde não urgentes são verificados pelos médicos por meio de consultas
agendadas com antecedência nas unidades de saúde.
É importante ressaltar que o Artigo 12 da resolução CFM nº 2.079/14 estipula
que o tempo máximo de permanência do paciente na UPA para elucidação
diagnóstica e tratamento é de 24h, estando indicada internação após esse
período, sendo de responsabilidade do gestor a garantia de referência a serviço
hospitalar.

3. Acolhimento com Avaliação de Risco, Necessidades e Vulnerabilidade

De acordo com SANTOS (2008), ao chegar a UPA, o usuário dirige-se à


recepção e apresenta demanda para consulta individual, em geral direcionada
para as áreas médica ou odontológica, e é orientado ao atendimento pela equipe
responsável pelo acolhimento. Essa equipe realizará a escuta ampliada, da qual
podem emergir um conjunto de necessidades que envolvem aspectos objetivos
e subjetivos – biológicos, socioculturais, psicológicos, entre outros. Logo, no

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processo de escuta ampliada, o profissional de saúde identifica as necessidades
do usuário segundo riscos e vulnerabilidade, classificando-o de acordo com a
Tabela 2. O fluxograma contido na Figura 1 ilustra possíveis caminhos que o
usuário pode percorrer ao dirigir-se à UPA.

Figura 1. Fluxograma para acolhimento e avaliação de risco. Fonte: SANTOS, 2008.

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Tabela 2. Classificação de Risco dos Usuários no Processo de Acolhimento. Fonte: SANTOS,
2008.
Cor Prioridade
Vermelho 0 – emergência, atendimento
imediato
Amarelo 1 – urgência, atendimento o mais
rápido possível
Verde 2 – prioridade não urgente
Azul 3 – consultas de baixa complexidade

Santos (2008) ressalta também os objetivos do processo de acolhimento, que


são:
 Identificar riscos, necessidades e vulnerabilidades para a saúde do
usuário;
 Expandir possibilidades de acesso a todos aqueles que procuram a UPA;
 Fortalecer valores éticos e técnicos dos profissionais da saúde;
 Melhorar as condições de trabalho nos serviços de saúde;
 Melhorar a resolubilidade do sistema de saúde.

4. Modalidades de UPA 24h

O Ministério da Saúde classifica as UPAs em oito (8) diferentes portes, de acordo


com a população da região a ser coberta, a capacidade instalada (área física,
número de leitos disponíveis, recursos humanos e capacidade diária de
atendimentos médicos) e para cada porte foi instituído incentivo financeiro de
investimento para implantação das mesmas além de despesas de custeio
mensal (Figura 2).

Figura 2. Classificação das UPAs. Fonte: Ministério da Saúde.

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5. Recursos Humanos das UPAs

Em pesquisa realizada pela Conselho Nacional de Secretários de Saúde


(CONASS), de 2010 a 2012, envolvendo os estados de Minas Gerais,
Pernambuco, Paraná, Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo, foi feito um
levantamento do perfil dos profissionais que atuavam nas UPAs selecionadas
nesses estados. A Figura 3 traz os resultados dessa pesquisa, de acordo com a
classificação antiga das UPAs em porte I, II e III, haja vista o período da pesquisa.
Segundo o relatório do CONASS, pode-se observar, na área de enfermagem,
uma qualificação importante da equipe, com predominância dos técnicos de
enfermagem e enfermeiros, em relação aos auxiliares. Na categoria médica,
predominam os clínicos gerais e pediatras, o que qualifica a UPA basicamente
como um estabelecimento de atendimento clínico. Nas UPAs de porte II e III, é
possível encontrar profissionais nas áreas de odontologia e serviço social. O
profissional da área de psicologia não foi encontrado na totalidade da amostra.

Figura 3. Distribuição da média do número de profissionais de saúde que atuam nas UPAs da
amostra, segundo porte, agosto 2013. Fonte: CONASS, 2015.

Um aspecto relevante dos recursos humanos das UPAs foi levantado por
MACHADO et al. Em pesquisa realizada entre novembro de 2012 e janeiro de
2013, no estado do Rio de Janeiro. O artigo analisa as estratégias de gestão do
trabalho dos governos e o perfil dos profissionais das UPA. Os resultados
evidenciaram que a contratação de profissionais por meio de Organizações
Sociais permitiu a rápida abertura de unidades e flexibilidade na gestão do
trabalho nas UPAs. Porém, a terceirização não resolveu problemas de
recrutamento e fixação, destacando-se nessas unidades a presença de

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profissionais jovens com limitada experiência em urgências e a rotatividade de
médicos em áreas de vulnerabilidade social, reforçando as UPAs como postos
de trabalho temporários. Nesse contexto, a qualidade do cuidado pode ficar
prejudicada.

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6. Referências

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Rede de Atenção às


Urgências e Emergências: Avaliação da Implantação e do Desempenho das
Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). – Brasília : CONASS, 2015. 400 p. –
(CONASS Documenta, 28)
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n⁰ 2.048, de 05 de novembro de 2002.
Aprova o Regulamento Técnico dos Sistemas Estaduais de Urgência e
Emergência. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 nov. 2002. p. 32.
BRASIL. RESOLUÇÃO nº 2.079 de 2014: Dispõe sobre a normatização do
funcionamento das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) 24h e congêneres,
bem como do dimensionamento da equipe médica e do sistema de trabalho
nessas unidades. Órgão emissor: CFM – Conselho Federal de Medicina.
Disponível em: < https://portal.cfm.org.br/images/PDF/resolucao2079.pdf>.
Acesso em 26 de Março de 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Disponível em: < http://portalms.saude.gov.br/
acoes-e-programas/upa/>. Acesso em 26 de Março de 2018.
KONDER, M. T. Atenção às urgências: a integração das Unidades de Pronto
Atendimento 24 horas (UPA 24h) com a rede assistencial no município do Rio
de Janeiro. 2013. 108f. Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2013
SANTOS, J. S. Protocolos Clínicos e de Regulação. 1ª Edição. Rio de Janeiro:
Elsevier Editora Ltda, 2012.
GASPARINI – Casos de Urgência – 2017. Disponível em: <
http://www.vitoria.es.gov.br/cidadao/saude-do-adulto>. Acesso em 26 de Março
de 2018.
MACHADO, C. V. et al. Gestão do trabalho nas Unidades de Pronto
Atendimento: estratégias governamentais e perfil dos profissionais de saúde.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(2): fevereiro, 2016.

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