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 Direito Ambiental
 Introdução; Princípios;
Constituição; Direito
Econômico
 Apostila 01
 Atualizado em 23/04/2018

Material elaborado com base no resumo da Magistratura Federal do TRF1 e no livro do


Frederico Amado de 2018 + jurisprudências recentes.

Direito Ambiental
DIREITO AMBIENTAL .............................................................................................................................. 1
1. MEIO AMBIENTE............................................................................................................................ 2
2. DIREITO AMBIENTAL ..................................................................................................................... 3
2.1. DIREITO AMBIENTAL NA CONCEPÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA .................................................................... 3
2.2. PRINCIPAIS MARCOS DA PROTEÇÃO AMBIENTAL:..................................................................................... 4
2.3. OBJETO .......................................................................................................................................... 4
3. A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE NA LEGISLAÇÃO NACIONAL ..................................................... 4
3.1. DIREITO INTERTEMPORAL AMBIENTAL .................................................................................................. 6
4. A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL .................................................................... 6
4.1. HISTÓRICO DO DIREITO AMBIENTAL NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS ........................................................ 7
4.2. CONSTITUIÇÃO DE 1988 ................................................................................................................... 8
4.2.1. Um capítulo para o meio ambiente .................................................................................... 8
4.2.2. Deveres específicos do Poder Público na tutela do meio ambiente ................................... 8
4.2.2.1. Preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais ................................................. 8
4.2.2.2. Promoção do manejo ecológico das espécies e ecossistemas ..................................................... 9
4.2.2.3. Preservação da biodiversidade e controle das entidades de pesquisa e manipulação de
material genético. ............................................................................................................................................ 9
1 4.2.2.4.
4.2.2.5.
Definição de espaços territoriais protegidos ................................................................................ 9
Realização de Estudo Prévio de Impacto Ambiental .................................................................... 9
4.2.2.6. Controle da produção, comercialização e utilização de técnicas, métodos e substâncias nocivas
à qualidade de vida e ao meio ambiente. ...................................................................................................... 10
4.2.2.7. Educação Ambiental ................................................................................................................... 10
4.2.2.8. Proteção da Fauna e da Flora ..................................................................................................... 10
4.2.2.9. Meio ambiente e mineração ...................................................................................................... 10
4.2.2.10. A responsabilidade cumulativa das condutas e atividades lesivas ............................................. 11
4.2.2.11. Proteção especial às microrregiões ............................................................................................ 12
4.2.2.12. Indisponibilidade de terras devolutas e de áreas indispensáveis à preservação ambiental ...... 12
4.2.2.13. O controle das usinas nucleares ................................................................................................. 13
5. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL ........................................................................................... 13
5.1. PRINCÍPIO DO MEIO AMBIENTE COMO DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL ................................................ 13
5.2. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO ............................................................................................................... 13
5.3. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO (VORSORGEPRINZIP).................................................................................... 14
5.4. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL OU ECODESENVOLVIMENTO ........................................... 15
5.5. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR OU DA RESPONSABILIZAÇÃO ............................................................. 16
5.6. PRINCÍPIO DO USUÁRIO PAGADOR .................................................................................................... 18
5.7. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO ENTRE OS POVOS ..................................................................................... 19
5.8. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL................................................................................. 19
5.9. PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DE ATUAÇÃO (PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL) 19
5.10. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA (PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO/COOPERAÇÃO).............................. 19
5.11. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE ................................................................... 20
5.12. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE OU DA INFORMAÇÃO ................................................................................. 21
5.13. PRINCÍPIO DO LIMITE OU PRINCÍPIO DO CONTROLE DO POLUIDOR PELO PODER PÚBLICO ............................. 21
5.14. PRINCÍPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR ................................................................................................ 21

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5.15. PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO ECOLÓGICO (OU NON CLIQUET AMBIENTAL) ............................... 22
5.16. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE COMUM, MAS DIFERENCIADA .............................................................. 22
5.17. PRINCÍPIO DA GESTÃO AMBIENTAL DESCENTRALIZADA, DEMOCRÁTICA E EFICIENTE ...................................... 22
5.18. PRINCÍPIO DO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO .................................................................... 22
5.19. PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................................................................ 22
5.20. PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO (OU PROPORCIONALIDADE) ........................................................................... 23
5.21. PRINCÍPIO DO ACESSO EQUITATIVO AOS RECURSOS NATURAIS ................................................................ 23
5.22. PRINCÍPIO DA UBIQUIDADE (PRINCÍPIO DA VARIÁVEL AMBIENTAL NO PROCESSO DECISÓRIO DAS POLÍTICAS
PÚBLICAS).................................................................................................................................................. 23
5.23. PRINCÍPIO DO DIREITO À SADIA QUALIDADE DE VIDA ............................................................................ 24
5.24. PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL ................................................................................................. 24
5.25. PRINCÍPIO DO PROGRESSO ECOLÓGICO (CANOTILHO) ........................................................................... 24
5.26. PRINCÍPIO DA CORREÇÃO NA FONTE (CANOTILHO) ............................................................................... 24
6. DIREITO ECONÔMICO E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO AMBIENTAL ........................................... 24
6.1. O DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO ECONÔMICO E COMO DIREITO FUNDAMENTAL .................................. 27
6.2. O DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO ECONÔMICO. A NATUREZA ECONÔMICA DAS NORMAS DE DIREITO
AMBIENTAL................................................................................................................................................ 28
6.3. PRINCÍPIO UBIQUIDADE OU TRANSVERSALIDADE .................................................................................. 31
6.4. TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL E A SUA FUNÇÃO EXTRAFISCAL......................................................................... 32
6.5. RIO + 20 ..................................................................................................................................... 32
7. JURISPRUDÊNCIA DO DIZER O DIREITO ........................................................................................ 34
8. ANOTAÇÕES DO MEU CADERNO ................................................................................................. 34

2
1. Meio Ambiente
A definição legal do meio ambiente está prevista no artigo 3º, I, da Lei 6.938/81, sendo o
conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. ”
Ainda, o CONAMA traz um conceito mais completo do que o proposto na referida lei,
englobando o patrimônio cultural e artificial, definindo-o como “conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. ”
É certo que o meio ambiente em sentido amplo é gênero que abarca o meio ambiente
natural, cultural e artificial. Há quem entenda existir o meio ambiente do trabalho e o
genético. Importante mencionar que o STF conhece a existência do meio ambiente do
trabalho.
Meio ambiente do trabalho é respeitado quando as empresas cumprem as normas de
segurança e medicina do trabalho, através de condições dignas e seguras para os
trabalhadores, como a disponibilização dos equipamentos de proteção individual.
Meio ambiente genético é composto pelos organismos vivos do planeta Terra.
Importante esclarecer que o meio ambiente é um bem e um direito difuso, e não um bem
público. Portanto, é de todos. É um direito transindividual, insuscetível de contabilizar os
beneficiários. (Já caiu em prova.)

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2. Direito Ambiental
A denominação direito ambiental é mais ampla do que a expressão direito ecológico ou
direito da natureza, uma vez que a matéria, dada a sua abrangência, não pode limitar seu
campo de estudo a elementos naturais.
Conceito de Edis Milaré: "O complexo de princípios e normas reguladores das atividades
humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua
dimensão global, visando a sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações" (Edis
Milaré).
Pode ser entendido também como “ramo do direito público composto por princípios e
regras que regulam as condutas humanas que afetem, potencial ou efetivamente, direta ou
indiretamente, o meio ambiente, quer o natural, o cultural ou o artificial” (AMADO, Frederico.
Direito ambiental. Juspodivm – 2018).
A lei traz o conceito de meio ambiente, mas restringindo-o (o conceito) ao meio ambiente
natural: O conceito legal de meio ambiente encontra-se no art. 3º, I, da Lei nº. 6.938/81: “o
conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
O Direito Ambiental é multidisciplinar, pois seus conceitos, normas e doutrina,
necessariamente recorrem às ciências que estudam o meio ambiente para serem construídos.
Neste aspecto, o direito ambiental necessita grandemente de recorrer à Biologia, à Geografia,
à Agronomia, Engenharia Florestal, Biotecnologia, Ecologia etc. Como exemplo, basta
observarmos a Lei de Biossegurança, que apresenta inúmeros conceitos legais extraídos da
3 biologia.
Tem como objetivo o controle de poluição, a fim de mantê-la dentro dos padrões
toleráveis, para instituir um desenvolvimento econômico sustentável, atendendo as
necessidades das presentes gerações sem privar as futuras da sua dignidade ambiental, pois
um dos princípios que lastreiam a Ordem Econômica é a defesa do meio ambiente, inclusive
mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e
de seus processos de elaboração e prestação.
É uma disciplina transversal, que se alastra aos demais ramos jurídicos, como o Direito
Civil, quando diz que o proprietário deve respeitar a fauna, a flora, as belezas naturais, o
equilíbrio ecológico, o patrimônio histórico e artístico, bem como evitar a poluição do ar e das
águas. Há proximidade ainda maior com o Direito Administrativo, em relação ao Poder de
Polícia.

2.1. Direito Ambiental na concepção Objetiva e Subjetiva


O direito ao meio ambiente manifesta desdobramento em duas dimensões conexas entre
si e dispostas no mesmo patamar: a objetiva e a subjetiva.
A enumeração do plexo de responsabilidades a cargo do Poder Público para garantia da
salvaguarda do equilíbrio ecológico, que encontra no § 1º do art. 225 de nossa Lei Maior sua
matriz, é uma vertente inconteste da dimensão objetiva. Também é fator enunciativo da
dimensão objetiva a inserção, no texto constitucional, de vetores destinados a influir na
exegese e aplicação de institutos referidos pelo legislador constituinte, como ocorre no âmbito

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da atividade econômica, que alberga como um de seus princípios a “defesa do meio ambiente,
inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e
serviços de seus processos de elaboração e prestação” (CF/88, art. 170, VI, com redação
conferida pela Emenda n. 42/2003).
Deslocando a atenção do Estado para o cidadão, a dimensão subjetiva do meio ambiente
é pontuada pela consagração de prerrogativas de exercício individualizado em prol do
equilíbrio ecológico. Boa ilustração disso é a legitimidade ativa conferida a “qualquer cidadão”
para a propositura de ação popular que objetive anular ato lesivo ao meio ambiente,
constante do art. 5º, LXXIII, da Constituição brasileira. De assinalar que a pretensão deduzida
nesse tipo de demanda tanto pode questionar prática estatal ambientalmente perniciosa
quanto ação particular violadora do equilíbrio de um ecossistema. As audiências públicas e
consultas também refletem essa ideia de Direito Ambiental subjetivo.
2.2. Principais marcos da proteção ambiental:
- Conferência de Estocolmo (Suécia) – 1972 – Desenvolvimento sustentável.
- Comissão Brundtland – 1987 – Desenvolvimento sustentável
- Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92) – 1992 – Introduzido o
princípio da prevenção.
- Protocolo de Kyoto: firmado em 1997, teve o objetivo precípuo de promover o controle
climático da terra por intermédio da diminuição da emissão de gases de efeito estufa.
- Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável: realizada em Johannesburgo, em 2002,
4 serviu para reforçar e acelerar as metas e compromissos firmados nos encontros anteriores.
- Rio + 20: Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, teve por
objetivo “A RENOVAÇÃO DO COMPROMISSO POLÍTICO COM O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das
decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e
emergentes.”
2.3. Objeto
O objeto do Direito Ambiental é a harmonização da natureza, garantida pela manutenção
dos ecossistemas e da sadia qualidade de vida para que o homem possa se desenvolver
plenamente. Restaurar, conservar e preservar são metas a serem alcançadas através deste
ramo do Direito, com a participação popular.

3. A proteção do meio ambiente na legislação nacional1


A proteção ao meio ambiente é assunto que ganhou grande espaço ao final do século XX, e
recentemente vem aparecendo quase que com estardalhaço na mídia e nas produções
acadêmicas, especialmente devido à urgente – e talvez tardia – preocupação com o efeito
estufa.

1
O Direito Ambiental e os Novos Paradigmas do Direito Econômico: a Ascensão do Estado Regulador.
Ana Paula Vasconcellos da Silva.
http://www.revistadireito.uerj.br/artigos/ODireitoAmbientaleosNovosParadigmasdoDireitoEconomicoa
AscensaodoEstadoRegulador.pdf
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Tal proteção, contudo, reveste-se de um caráter especial, visto que é um direito cujo
titular não é necessariamente determinado. De fato, o destinatário deste direito é toda a
humanidade, incluindo aqueles que ainda não estão aqui – preceito consagrado com o
princípio da responsabilidade entre gerações, pois aqueles que aqui estão hoje não podem
utilizar o meio ambiente de forma a provocar a sua escassez para as gerações vindouras.
No entanto, embora venha sendo tratado de forma mais intensa nos últimos anos, o tema
da proteção ao meio ambiente remonta a tempos antigos. Segundo Édis Milaré, desde a Bíblia
já havia orientações quanto à proteção ao meio ambiente, tanto no Gênesis quanto no
Deuteronômio. Ainda segundo este autor, mesmo no Brasil já existia legislação protetiva desde
o descobrimento até a entrada em vigor do Código Civil, em 1916. Eram as Ordenações
Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, que vigoravam em Portugal, mas que também eram válidas
para as colônias portuguesas.
Tais normas, no entanto, eram confusas, esparsas e inadequadas, e, longe de proteger o
meio ambiente, permitiu que este fosse explorado inescrupulosamente, até o ponto em que
sistemas naturais inteiros fossem praticamente extintos.
Após a independência do Brasil, autores como José Bonifácio de Andrada e Silva e Joaquim
Nabuco preocuparam-se, entre ouros ideais, com a defesa dos elementos da natureza.
Porém, conforme destaca Milaré, “nossa história, infelizmente, é de uma depredação
ambiental impune. Na prática, somente eram punidos os delitos que atingissem a Coroa ou os
interesses fundiários das classes dominantes”. Assim, durante a fase imperial e o início da
República, a utilização indiscriminada dos recursos naturais não era sistematicamente tratada
5 pelo ordenamento jurídico, e sua punição, quando existia, obedecia a interesses que não a
efetiva proteção ambiental.
Após a proclamação da República e a edição do Código Civil de 1916, começam a aparecer
os primeiros diplomas legais destinados especificamente à proteção da Natureza. No entanto,
conforme destaca o autor supramencionado, somente a partir da década de 1980 é que a
legislação sobre a matéria passou a se desenvolver com maior sistematicidade e celeridade.
Ainda segundo este doutrinador, existiram 4 marcos legislativos que corroboram a mudança
de mentalidade do legislador brasileiro, que foram:
(i) – Lei 6938/81, Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, que instituiu o Sistema Nacional
do Meio Ambiente (SISNAMA);
(ii) – Lei 7347/85, que disciplinou a Ação Civil Pública, principal instrumento processual para a
proteção do meio ambiente;
(iii) - Constituição de 1988, que consolidou a proteção ao ambiente ao destacar um capítulo
inteiro para tratar do tema;
(iv) – Lei 9605/98, lei dos Crimes Ambientais, que tem por mérito sistematizar as sanções
penais, oferecer uma lógica orgânica aos crimes ambientais e inovar no ordenamento jurídico
com a inclusão da pessoa jurídica como sujeito ativo nos crimes ambientais.
Neste ponto, basta perceber a partir desta breve retrospectiva histórica que sempre
existiram normas que regulamentavam o uso dos recursos naturais. Porém, o objetivo que
orienta o agente normatizador varia bastante conforme o tempo. Do mesmo entendimento é
Paulo de Bessa Antunes:
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Sempre houve normas voltadas para a tutela da natureza. Tal proteção, quase sempre,
fazia-se através de normas de Direito Privado, que protegiam as relações de vizinhança, ou
mesmo por normas de Direito Penal ou Administrativo, que sancionavam o mau uso dos
elementos naturais ou a utilização destes que pudesse causar prejuízos ou incômodos a
terceiros. Entretanto, a problemática suscitada pelos novos tempos demanda uma outra forma
de conceber a legislação de proteção à natureza. As antigas formas de tutela propiciadas pelo
Direito Público ou pelo Direito Privado são insuficientes para responder à uma realidade
qualitativamente diversa.
E também Paulo Leme Affonso Machado:
Prevenir a degradação do meio ambiente no plano nacional e internacional é
concepção que passou a ser aceita no mundo jurídico especialmente nas ultimas três décadas.
Não se inventaram todas as regras de proteção ao ambiente humano nesse período. A
preocupação com a higiene urbana, um certo controle sobre as florestas e a caça já datam de
séculos. Inovou-se no tratamento jurídico dessas questões, procurando integrá-las e
sistematizá-las, evitando-se a fragmentação e até o antagonismo de leis, decretos e portarias.
Assim, os reais objetivos que orientaram a construção das legislações ambientais acabam
por refletir na capacidade que estas normas têm de interagir com o restante do ordenamento
jurídico, ou seja, sua sistematicidade, e no grau de eficácia que elas terão dentro daquela
sociedade naquele momento histórico.
3.1. Direito intertemporal ambiental
Importante questão é sobre a sucessão de leis ambientais, mudança eventual de
6 regramentos e a segurança jurídica: ato jurídico perfeito e direito adquirido. No que concerne
a tal fato, clássico exemplo é aquele em que uma lei nova aumenta a restrição ambiental, ex:
aumentando a reserva legal de 50% para 80% na Amazônia Legal. Seria possível a alegação de
direito adquirido e manter em 50%?
NÃO. Haverá a majoração da limitação administrativa, pois inexiste direito adquirido de
poluir. Nesse sentido o STJ afirmou que “inexiste direito adquirido a poluir ou degradar o meio
ambiente. O tempo é incapaz de curar ilegalidades ambientais de natureza permanente, pois
parte dos sujeitos tutelados – as gerações futuras – carece de voz e de representantes que
falem ou se omitam em seu nome. ” No mesmo esteio, o STF ensina que “em tema de direito
ambiental, não se cogita em direito adquirido à devastação, nem se admite a incidência da
teoria do fato consumado. ”
Assim, as normas ambientais protetivas possuem escopo de ordem pública, tratando de
direito indisponível que a todos aproveita, inclusive as futuras gerações e, por consequência,
há a aplicação imediata da lei nova mais restritiva aos fatos ocorridos sob sua vigência, como
também às consequências e aos efeitos ocorridos sob égide de lei anterior.

4. A constitucionalização do direito ambiental


O legislador constituinte reconheceu expressamente o direito fundamental ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado (artigo 225, caput), de terceira dimensão, pois coletivo,
transindividual, com aplicabilidade imediata, vez que sua incidência independe de regulamentação.
Nesse espeque, o bem ambiental é autônomo, imaterial e de natureza difusa, transcendendo à

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tradicional classificação dos bens em públicos e privados, pois toda a coletividade é titular desse
direito (bem de uso comum do povo).
Isto posto, o meio ambiente ecologicamente equilibrado foi afetado ao uso comum do povo,
não pode ser desafetado ou desdestinado, sob pena de violação constitucional. Nesse sentido,
podemos dizer que há uma vedação ao retrocesso ecológico, bem como a garantia de um mínimo
existencial ecológico para gozar de uma vida digna.
Assim, deve-se compatibilizar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental,
atendendo às necessidades das presentes gerações sem privar as futuras das suas parcelas dos
recursos ambientais, a fim de manter a sua perenidade.

4.1. Histórico do Direito Ambiental nas constituições brasileiras


As constituições que precederam a de 1988 jamais se preocuparam com a proteção do
ambiente de forma específica e global. Nelas, nem mesmo uma vez foi pregada a expressão
meio ambiente, dando a revelar total inadvertência ou até, despreocupação com o próprio
espaço em que vivemos.
Constituição do Império, de 1824 > apenas cuidou da proibição de indústrias contrárias à
saúde do cidadão.
Primeira constituição republicana 1891> atribuía competência legislativa à União para legislar
sobre as suas minas e terras.
7 Constituição de 1934> dispensou proteção às belezas naturais, ao patrimônio histórico,
artístico e cultural; conferiu à União competência em matéria de riquezas do subsolo,
mineração, águas, florestas, caça, pesca e sua exploração.
Constituição de 1937> também se preocupou com a proteção dos monumentos históricos,
artísticos e naturais, bem como das paisagens e locais especialmente dotados pela natureza;
inclui entre as matérias de competência da União legislar sobre minas, águas, florestas, caça,
pesca, e sua exploração; cuidou ainda da competência legislativa sobre subsolo e tratou da
proteção das plantas e rebanhos contra moléstias e agentes nocivos.
Constituição de 1946 > além de manter a defesa do patrimônio histórico, cultural e
paisagístico, conservou como competência da União legislar sobre normas gerais da defesa da
saúde, das riquezas do subsolo, das águas, florestas, caça e pesca.
Constituição de 1967 > insistiu na necessidade de proteção do patrimônio histórico, cultural e
paisagístico; disse ser atribuição da União legislar sobre normas gerais de defesa da saúde,
sobre jazidas, florestas, caça, pesca e água.
Constituição de 1969> emenda outorgada pela Junta Militar à Constituição de 1967, cuidou
também da defesa do patrimônio histórico, cultural e paisagístico. No tocante à divisão de
competência, manteve as disposições da Constituição emendada. Em seu art. 172, disse que “a
lei regulará, mediante prévio levantamento ecológico, o aproveitamento agrícola de terras
sujeitas a intempéries e calamidades” e que “o mau uso da terra impedirá o proprietário de
receber incentivos e auxílio do governo”. Cabe observar a introdução, aqui, do vocábulo
“ecológico” em textos legais.

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4.2. Constituição de 1988


A CF 88 pode ser denominada “verde”, tal o destaque que dá à proteção ambiental.
A dimensão conferida ao tema não se resume aos dispositivos concentrados,
especialmente, no Capítulo VI , do Título VIII, dirigido à ordem social; alcança da mesma forma,
inúmeros outros regramentos insertos ao longo do texto nos mais diversos Títulos e Capítulos,
decorrentes do conteúdo multidisciplinar da matéria.
4.2.1. Um capítulo para o meio ambiente
Art. 225, seus parágrafos e incisos.
Referido dispositivo compreende, segundo José Afonso da Silva, três conjuntos de
normas.
O primeiro aparece no caput, onde se inscreve a norma matriz, reveladora do direito de
todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; o segundo, encontra-se no §1º, com
seus incisos, que versa sobre os instrumentos de garantia e efetividade do direito anunciado
no caput do artigo; o terceiro compreende um conjunto de determinações particulares, em
relação a objetos e setores, referidos nos §§ 2º a 6º, que, por tratarem de áreas e situações de
elevado conteúdo ecológico, merecem desde logo proteção constitucional.
A norma matriz cria um direito constitucional fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, e, sendo assim, é indisponível. E esta indisponibilidade vem
acentuada pelo fato de mencionar o interesse não só do presente, como das futuras gerações.
8 Em segundo lugar, o meio ambiente é considerado bem de uso comum do povo, o que o
qualifica como patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em
vista o uso coletivo.
Além de ser bem de uso comum do povo (difuso), é reputado bem essencial à sadia
qualidade de vida.
Esta norma cria para o Poder Público um dever constitucional, geral e positivo,
representado por verdadeiras obrigações de fazer, isto é: defender e preservar o meio
ambiente. Esta ação é vinculada, saindo da esfera da conveniência e oportunidade, para
ingressar num campo de imposição.
De outro lado, deixa o cidadão de ser mero titular (passivo) de um direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado e passa também a ter a titularidade de um dever de
defesa e preservação.
Os titulares do bem jurídico “meio ambiente” não são apenas os cidadãos do país – as
presentes gerações, mas, por igual, aqueles que ainda não existem e os que poderão existir –
gerações futuras.
4.2.2. Deveres específicos do Poder Público na tutela do meio ambiente
4.2.2.1. Preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais
Cuida-se de garantir, através de ações conjugadas de todas as esferas e modalidades
do Poder Público, o que se encontra em boas condições originais, e de recuperar o que foi

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degradado. Por processos ecológicos essenciais se pode subentender aqueles que garantem o
funcionamento dos ecossistemas e contribuem para a salubridade e higidez do meio ambiente.
4.2.2.2. Promoção do manejo ecológico das espécies e ecossistemas
Significa lidar com as espécies e conservá-las, e, se possível, recuperá-las. Prover o
manejo dos ecossistemas quer dizer cuidar do equilíbrio das relações entre a comunidade
biótica e seu habitat. Em caso de dúvida, o gestor deve pautar-se pela solução mais segura sob
o ponto de vista ecológico, uma vez que o patrimônio da coletividade deve ser assegurado.
4.2.2.3. Preservação da biodiversidade e controle das entidades de pesquisa e
manipulação de material genético.
No dizer da Convenção da Biodiversidade, esta vem a ser a variedade de seres que
compõe a vida na Terra, a variabilidade de organismos vivos de todas as origens,
compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos, e outros ecossistemas
aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo, ainda a diversidade
dentro de espécies, entre espécies e ecossistemas.
Preservar a biodiversidade, significa reconhecer, inventariar, e manter o leque dessas
diferenças de organismos vivos. Hoje existe uma grande preocupação no diz respeito ao
patrimônio genético.
Foi no Fórum sobre Biodiversidade, realizado em Washington, em 1986, que a
questão foi posta como uma grande preocupação de nosso tempo, alertando para o
desaparecimento acelerado das espécies, e colocando o assunto na agenda internacional.
9 Adverte Laimert Garcia dos Santos que existem vários indícios sugerindo como o
terreno vem sendo preparado para a revolução biológica e a constituição do biomercado, da
política de fusões que concentra os mesmos conglomerados: as indústrias de alimentos,
farmacêuticos, química e insumos agrícolas...”
4.2.2.4. Definição de espaços territoriais protegidos
A definição de “espaços territoriais especialmente protegidos” a que alude a CF figura
no rol dos Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, por força de determinação da
L. 7.804, de 18.07.1989, que deu nova redação ao art. 9º, VI, da L. 6.938/81. Isto significa que
estes espaços são um dos instrumentos jurídicos para implementação do direito constitucional
ao ambiente hígido e equilibrado, em particular, no que se refere à estrutura e funções do
ecossistema. Podem ser criados por qualquer ato normativo, inclusive infralegal. Porém, só
podem ser suprimidos por meio de lei em sentido estrito.
Existem quatro categorias fundamentais de espaços territoriais especialmente
protegidos: as áreas de proteção especial, as áreas de preservação permanente, as reservas
legais e as unidades de conservação.
4.2.2.5. Realização de Estudo Prévio de Impacto Ambiental
Destina-se à prevenção de danos. Foi inspirado em modelo americano e introduzido
em nosso ordenamento pela lei 6.938/81, de 02.07.1980, que dispõe sobre as diretrizes
básicas para zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição.
Seu objetivo é evitar que um projeto (obra ou atividade), justificável sob o ponto de
vista econômico, revele-se posteriormente nefasto ou catastrófico para o meio ambiente.
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Valoriza-se a vocação essencialmente preventiva do direito ambiental. Foi justamente


para prever o dano, antes de sua manifestação, que se criou o EIA. Daí a necessidade de que
seja elaborado no momento certo: antes do início da execução, ou mesmo antes de atos
preparatórios do projeto.
A publicidade exigida pela norma constitucional possibilita a participação popular nas
discussões e aferições do conteúdo dos estudos, contribuindo para seu aprimoramento.
4.2.2.6. Controle da produção, comercialização e utilização de técnicas,
métodos e substâncias nocivas à qualidade de vida e ao meio
ambiente.
Permite-se aqui, a interferência do Poder Público nas atividades econômicas de domínio
privado para impedir a prática danosa à saúde da população ao meio ambiente.
Levado a sério, tal dispositivo é extremamente revolucionário. Com efeito, não somente as
substancias, mas também as técnicas e métodos, são considerados como fatores de danos
reais ou potenciais ao meio ambiente. De modo implícito, são privilegiadas as chamadas
tecnologias limpas.

4.2.2.7. Educação Ambiental


Não se trata de ser uma educação contra o progresso econômico para proteger o meio
ambiente, mas de promover e compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com os

10 requisitos ambientais mínimos, utilizando e conservando de modo racional os recursos


naturais e solidarizando-se sincronicamente (nos tempos presentes) e diacronicamente
(através dos sucessivos tempos) com toda humanidade.
4.2.2.8. Proteção da Fauna e da Flora
Estão protegidos todos os animais indistintamente, vez que todo ser vivo tem valor, função
e importância ecológica, seja como espécie ou como indivíduo.
No tocante à flora, tem igual proteção, vez que é estreita a ligação entre fauna e flora,
expressada nas relações ecossistêmicas. Desta feita, as florestas, matas ciliares, os cerrados, o
manguezal, e quaisquer formas de vegetação estão sob a proteção constitucional.
4.2.2.9. Meio ambiente e mineração
A atividade da mineração possui interface direta com a realidade do meio ambiente, dado
que não há como extrair um mineral sem danos.
Após consagrado interesse público existente sobre o aproveitamento dos minerais, impôs
ao minerador a responsabilidade de recuperar o meio ambiente degradado, segundo soluções
técnicas exigidas pelo órgão público. Vale observar que, anteriormente, a Lei 6.938/81, art. 2º,
VIII, já se referia à recuperação de áreas degradadas como um dos princípios programáticos
informadores da Política Nacional do Meio Ambiente.
O que o legislador quer é que a própria recuperação do dano ecológico produzido pela
mineração se faça de acordo com uma decisão técnica.

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4.2.2.10. A responsabilidade cumulativa das condutas e atividades lesivas


Ao poluidor, nos termos da Constituição, aplicam-se medidas de caráter reparatório e
punitivo.
A danosidade ambiental, potencial ou efetiva, pode gerar uma tríplice reação do
ordenamento jurídico, ou seja, um único ato pode detonar a imposição de sanções
administrativas, penais e civis.
Em âmbito civil, a responsabilidade ambiental é objetiva, ou seja, o dever de reparar
exsurge com a simples presença do nexo causal entre a lesão e uma determinada atividade.
Em âmbito penal, a responsabilidade é subjetiva.
Na esfera administrativa, o art. 70 da L. 9.606/98, considerou ilícito administrativo toda
atividade contrária a quaisquer regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção, e
recuperação do meio ambiente. Daí dizer-se que o fundamento da infração administrativa é
tão somente a ilicitude da conduta, considerada como qualquer violação ao ordenamento
jurídico, independentemente da configuração de culpa em sentido lato, senão naqueles casos
em que a lei expressamente exigir. O STJ entende que a responsabilidade administrativa é
subjetiva, exigindo dolo ou culpa para sua configuração.
Vale referir também que a responsabilidade civil, segundo a teoria do risco integral, não
admite as hipóteses de excludentes do nexo de causalidade (força maior, caso fortuito, e fato
de terceiro), visto que só a existência da atividade vinculada ao dano, faz nascer a obrigação
reparatória.
11 Contudo, administrativamente, porém, o risco não é integral, constituindo as hipóteses
de força maior, caso fortuito e fato de terceiro, excludentes de responsabilidade
administrativa, exceto naqueles casos em que haja concausa, isto é, ocorrência de um
resultado em função da combinação do evento excludente com um comportamento omissivo
ou comissivo do agente. Isto porque, a conduta do infrator terá concorrido para a realização
do ilícito administrativo.
Vamos ler um trecho do Buscador Dizer o Direito:
A responsabilidade administrativa ambiental, como regra, apresenta caráter subjetivo,
exigindo dolo ou culpa para sua configuração. STJ. 2ª Turma. REsp 1640243/SC, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 07/03/2017.
A responsabilidade por danos ambientais na esfera cível é objetiva. Isso significa, por exemplo, que, se o
Ministério Público propuser uma ação contra determinado poluidor, ele não precisará provar a culpa ou dolo
do réu.
Por outro lado, para a aplicação de penalidades administrativas não se obedece a essa mesma lógica.
A responsabilidade administrativa ambiental, como regra, apresenta caráter subjetivo, exigindo dolo ou
culpa para sua configuração.
Assim, adota-se a sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, deverá ser comprovado o elemento
subjetivo do agressor, além da demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano.
A diferença entre os dois âmbitos de punição e suas consequências fica bem estampada da leitura do art. 14,
caput e § 1º, da Lei nº 6.938/81.
No § 1º do art. 14 está prevista a responsabilidade na esfera cível. Lá ele fala que esta é independente da
existência de culpa:

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§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor


obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá
legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
Já o caput do art. 14, que trata sobre a responsabilidade administrativa, não dispensa a existência de culpa.
Logo, interpreta-se que ele exige dolo ou culpa.
Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não
cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela
degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores...
FONTE: CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a08e32d2f9a8b78894d964ec7fd41
72e>. Acesso em: 23/04/2018

4.2.2.11. Proteção especial às microrregiões


Cinco regiões entre os grandes biomas brasileiros, recebem tratamento particular em
decorrência das características de seus ecossistemas. São eles: Floresta Amazônica, Mata
Atlântica, Serra do Mar, Pantanal Mato-grossense e Zona Costeira. Mnemônico: FAB-SERRA-
MATA – PANTA - ZONA
Tão grande foi a preocupação do legislador constitucional com a manutenção desses
vastos territórios, que os considerou patrimônio nacional, estabelecendo, em consonância
com a devida proteção aos direitos de terceira geração, uma limitação ao seu uso, que só se
12 dará na forma da lei e dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente.
A expressão patrimônio nacional, a que se refere o dispositivo, não tem, à evidência, o
sentido de propriedade federal ou do Estado, mas de riqueza que, neste país, herdamos com a
obrigação de preservar e transmitir às gerações futuras, sem perda, é claro, de seu adequado
aproveitamento econômico. Deveras, qualificado como bem de uso comum do povo, não
integra o patrimônio disponível do Estado. Portanto, o Estado não atua jamais como
proprietário deste bem, mas, diversamente, como simples administrador de um patrimônio
que pertence à coletividade.

4.2.2.12. Indisponibilidade de terras devolutas e de áreas indispensáveis à


preservação ambiental
As terras devolutas ou arrecadadas pelo Estado por ações discriminatórias, desde que
necessárias à proteção de ecossistemas naturais, são consideradas indisponíveis, segundo
regra expressa no art. 225, §5º da CF.
No atual quadro constitucional, as terras devolutas foram mantidas como bens públicos,
em razão da origem de seu domínio. Segundo prevê a CF88, pertencem à União aquelas
indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias
federais de comunicação e à preservação ambiental definidas em lei. As que sobejam,
pertencem aos Estados Federados.
A indisponibilidade independe da ação discriminatória. A indisponibilidade não pressupõe
a arrecadação, com julgamento final da ação de discriminação. É determinada em razão da
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origem de seu domínio e da finalidade a que se destina. Com efeito, as terras devolutas que
concorrem para a proteção de determinado ecossistema são indisponíveis, por força de
mandamento constitucional, mesmo que ainda não incorporadas ao patrimônio público da
União, em virtude de ação discriminatória. A União, como detentora do domínio, só pode
dispor dessas terras devolutas na estrita conformidade da intentio legis, ou seja, com o
cuidado de preservar os ecossistemas que abrangem ou dos quais elas façam parte.
4.2.2.13. O controle das usinas nucleares
As usinas que operam com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei
federal, sem o que não poderão ser instaladas. Dessa forma, somente após a edição de norma
que regulamente a localização de usina nuclear é que o empreendimento, observado o prévio
licenciamento ambiental, e outras exigências de nossa legislação, poderá ser efetivamente
instalado.
No que diz respeito à forma, só a lei, no sentido estrito, ou seja, lei federal, poderá dispor
sobre a matéria, pois a Constituição também elegeu o controle político, efetuado pelo
Congresso Nacional, como forma de gestão das atividades nucleares.

5. Princípios do Direito Ambiental


Como já tivemos oportunidade de estudar em outras matérias, vou fazer um introito
brevíssimo sobre princípios, ok? Princípios são normas jurídicas que fundamentam o sistema
jurídico, com maior carga de abstração, generalidade e indeterminação que as regras, não
13 regulando as situações fáticas diretamente, carecendo de intermediação para a aplicação
concreta. Devem ser pesados com outros princípios em cada caso concreto, à luz da
ponderação casual (princípio da proporcionalidade).
No que concerne aos princípios ambientais muitos foram positivados em leis como
deveres a serem seguidos e objetivos a serem atingidos. Importante esclarecer que, em direito
ambiental, não há uniformidade doutrinária na identificação dos seus princípios específicos,
bem como o conteúdo jurídico de muitos deles. Trataremos dos principais.
5.1. Princípio do Meio Ambiente como Direito Humano Fundamental
Apesar de não estar topograficamente contido no rol do artigo 5o da CF (a previsão é do
artigo 225 da CF), o meio ambiente é considerado um direito fundamental pelo STF, sendo
uma extensão do direito à vida e necessário à pessoa humana.
5.2. Princípio da Prevenção
Procura-se evitar o risco de uma atividade sabidamente danosa e evitar efeitos nocivos ao
meio ambiente. Aplica-se aos impactos ambientais já conhecidos (certeza científica) e que
tenham uma história de informações sobre eles. O CESPE costuma cobrar esse princípio em
relação à certeza e ao momento de sua aplicação. Entende que prevenção se manifesta
quando o risco da atividade é certo e suas potencialidades lesivas conhecidas.

A finalidade ou o objetivo final do princípio da prevenção é evitar que o dano possa chegar
a produzir-se. Deve-se tomar as medidas necessárias para evitar o dano ambiental porque as
consequências de se iniciar determinado ato, prosseguir com ele ou suprimi-lo são conhecidas.
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Tal princípio está presente na Declaração de Estocolmo (1972) e na Declaração do Rio (ECO –
92). A Política Nacional do Meio Ambiente fala em manutenção e proteção (Lei 6.938/81).
Possui amparo constitucional (art. 225, §1º, IV, CF - obrigatoriedade de EIA em obras ou
atividades potencialmente causadoras de significativa degradação ao meio ambiente). O
principal instrumento de prevenção é o EIA/RIMA.
Em suma: já se tem base científica para prever os danos ambientais de determinada
atividade lesiva ao meio ambiente, devendo-se impor ao empreendedor condicionantes no
licenciamento ambiental para mitigar ou elidir os prejuízos.

5.3. Princípio da precaução (vorsorgeprinzip)


É o que incide quando não se tem certeza científica acerca dos danos que podem ser
causados. Aplica-se o primado da prudência e o benefício da dúvida em favor do ambiente. A
falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar medidas para
evitar ou minimizar essa ameaça. In dubio pro natura. O CESPE costuma diferenciar o princípio
da precaução do princípio da prevenção em face do grau de incerteza. Havendo
desconhecimento da possibilidade ou não de dano com determinada atividade, a precaução
impõe que ela não se realize, já que os danos ambientais quase sempre são irreversíveis.
Marco inicial – Lei da Alemanha de 1976. Primeira previsão internacional: Conferência do
Mar do Norte de 1987. Foi proposto formalmente na Declaração do Rio (ECO – 92) e na
Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as mudanças do clima – 1992 (uma de suas
emendas é o protocolo de Kyoto de 1997). Também presente da Convenção sobre Diversidade
14 Biológica – 1992.
Princípio 15 da Declaração do Rio 92: “Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio
da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas
capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza
científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas
economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.
Tratados já ratificados no Brasil: Declaração do Rio; Convenção Quadro das Nações Unidas
sobre as mudanças do clima; Convenção sobre Diversidade biológica – todos de 1992.
Possui amparo constitucional: art. 225, caput, de forma implícita. Na esfera legislativa, a
primeira lei que tratou no Brasil foi a da Biossegurança (art. 11.105/05 – art. 1º).
Inversão do ônus da prova do risco é seu corolário, implicando na necessidade de
demonstração de que a atividade não traz riscos ao meio ambiente. Destaca Paulo Afonso
Leme Machado aponta 3 características: 1 - incerteza do dano em face do atual estado da
técnica; 2 - possibilidade de efeitos graves e irreversíveis ao ambiente; 3 - dirige-se com
primazia às autoridades públicas. A adoção das medidas públicas, por sua vez, deve ser regida
pela temporariedade (enquanto durar a incerteza) e pela proporcionalidade.
Em nome desse princípio, o Estado pode suspender uma grande liberdade, ainda mesmo
que ele não possa apoiar sua decisão numa certeza científica. O princípio da precaução entra
no domínio de direito público que se chama poder de polícia da administração. Assim, o Poder
Público pode não liberar uma atividade supostamente impactante até que haja uma evolução
científica a fim de melhor analisar a natureza e a extensão dos potenciais males ambientais.

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Diferenciação quanto à precaução: a prevenção atua no sentido de inibir o risco de dano


em potencial (atividade sabidamente perigosas), enquanto a precaução atual para inibir o risco
de perigo potencial (ou seja, o dano em abstrato). Prevenção se dá em relação ao perigo
concreto, ao passo que a precaução envolve perigo abstrato ou potencial
Como decorrência do princípio da precaução, tem-se defendido um subprincípio
denominado de Princípio In dúbio pro natura2, que tem aplicação na interpretação das leis
ambientais, preconizando que, em caso de dúvida, o interesse da coletividade deve
preponderar sobre o interesse privado.
Em suma: se determinado empreendimento puder causar danos ambientais sérios ou
irreversíveis, contudo inexiste certeza científica quanto aos efetivos danos e a sua extensão,
mas há base científica razoável fundada em juízo de probabilidade não remoto da sua
potencial ocorrência, o empreendedor deverá ser compelido a adotar medidas de precaução
para elidir ou reduzir os riscos ambientais para a população.
A dou

5.4. Princípio do Desenvolvimento Sustentável ou Ecodesenvolvimento


Tem previsão implícita no artigo 225 c/c artigo 170, VI, da CF e é expressamente previsto
no princípio 04 da Declaração do Rio. Ademais, é expressamente previsto na PNMA.
A ideia de desenvolvimento socioeconômico em harmonia com a preservação ambiental
emergiu da Conferência de Estocolmo, de 1972. Foi tratada também pela Comissão Brundtland
15 – 1987. No início da década de 1980, a ONU retomou o debate das questões ambientais.
Indicada pela entidade, a primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, chefiou a
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, para estudar o assunto. O
documento final desses estudos chamou-se Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland.
Apresentado em 1987, propõe o desenvolvimento sustentável, que é “aquele que atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem
às suas necessidades”.
São pilares do desenvolvimento sustentável: crescimento econômico, preservação
ambiental e equidade social.
Na verdade, esse princípio decorre de uma ponderação que deverá ser feita
casuisticamente entre o direito fundamental ao desenvolvimento econômico e o direito à
preservação ambiental, à luz do princípio da proporcionalidade.
A rigor, portanto, o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de existência digna das gerações futuras.
Com base nisso, o STF vedou todas as interpretações que permitiram ou permitem a
importação de pneus usados de qualquer espécie, pois afrontam os princípios do artigo 170, I
(soberania) e VI (desenvolvimento sustentável), artigo 196 da CF e 225.

2Este foi o tema central do I Congresso Internacional de Magistrados sobre Meio Ambiente - IN DUBIO PRO NATURA,
que ocorreu entre 08/11/2012 e 11/08/2012 em Manaus.

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5.5. Princípio do Poluidor-pagador ou da responsabilização

Uma vez identificado o poluidor, ele deve arcar com as despesas de prevenção, reparação
e repressão dos danos ambientais. Estabelece que aquele que utiliza de recurso ambiental e
causa degradação (externalidades negativas) ambiental deve arcar com os custos para
minimizá-la ou para recuperá-lo. Poluidor é toda pessoa física ou jurídica que causa direta ou
indiretamente degradação ambiental. É preventivo (exige a prevenção do dano) e repressivo
(ocorrendo danos o poluidor será responsável por sua reparação – responsabilidade objetiva).
Tem previsão constitucional - art. 225, § 3º CF.
Nesse sentido, o STJ entende que o degradador, independentemente da existência de
culpa, é obrigado a reparar todos os danos que cause ao meio ambiente e a terceiros afetados
por sua atividade, sendo prescindível perquirir acerca do elemento subjetivo, o que,
consequentemente, torna irrelevante a eventual boa ou má-fé para fins de acertamento da
natureza, conteúdo e extensão dos deveres de restauração do status quo ante ecológico de
indenização.
Previsto também como Princípio 16 da Declaração do Rio 92 e no art. 4o, VII, da Lei
6.938/85: o empreendedor deve arcar com o ônus decorrente de suas atividades (visa a
internalização dos prejuízos causados pela deterioração ambiental).
É contrário à ideia de privatização dos lucros e socialização dos prejuízos.
NÃO SE TRATA DE UMA PUNIÇÃO, pois mesmo não existindo qualquer ilicitude no
comportamento do poluidor, mesmo sendo seus atos amparados pelo direito, ele deverá
16 sanar os danos causados. Assim, para tornar obrigatório o pagamento pela poluição danosa
efetivada, não há necessidade de ser provado que o poluidor está cometendo faltas ou
infrações. Há necessidade, somente, de se provar a ocorrência da poluição advinda de uma
atividade própria.A reparação deverá ser preferencialmente “in natura”, ou seja, buscando
restabelecer o “status quo ante”.
Esse princípio não tolera a poluição, pois a finalidade primordial é evitá-la. Não se trata de
uma autorização para poluir, desde que se indenize. A poluição continua vedada; se acontecer,
contudo, deve dar-se a recomposição in natura e a indenização dos danos insuscetíveis de
recomposição.
Sob manto de tal princípio, o STJ considera válida cláusula contratual ambiental que prevê
a obrigação do revendedor de devolver ao fabricante as baterias usadas (sistema de logística
reversa), inclusive validando rescisão contratual por descumprimento.
Há uma nova corrente doutrinária que deseja separar o princípio do poluidor-pagador em
duas vertentes: princípio da responsabilidade e princípio do poluidor pagador, da seguinte
forma:
a) A reparação dos danos causados às vítimas, o princípio da responsabilidade.
b) A precaução, prevenção e redistribuição dos custos da poluição, o princípio do
poluidor-pagador.
No que concerne à responsabilidade civil por danos ambientais, para o STJ, a
responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo
o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato,

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sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes
de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar; c) é inadequado pretender
conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é
função que incumbe ao direito penal e administrativo; c) Inviabilidade de alegação de culpa
exclusiva de terceiro, ante a responsabilidade objetiva. – A alegação de culpa exclusiva de
terceiro pelo acidente em causa, como excludente de responsabilidade, deve ser afastada,
ante a incidência da teoria do risco integral e da responsabilidade objetiva ínsita ao dano
ambiental (art. 225, § 3º, da CF e do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81), responsabilizando o
degradador em decorrência do princípio do poluidor-pagador.
Ainda, sobre tal princípio, é importante esclarecermos algo. Firmou-se na doutrina e
jurisprudência a orientação de que o titular atual do domínio ou posse de um imóvel é
responsável por recuperar áreas degradadas do correlato ecossistema, notadamente as
compreendidas como reserva legal ou de preservação permanente, mesmo nas hipóteses em
que reste cabalmente comprovado ter a degradação sido perpetrada por quem era dono ou
possuidor em época anterior. Trata-se, no fundo, de uma responsabilidade que independe da
origem vinculada a uma conduta própria.
Existindo o dano em área ecologicamente protegida ou merecedora de proteção, aquele
que sobre ela detém, na atualidade, prerrogativas de uso, fruição e defesa contra investidas de
terceiros (utilizando-se para tanto do desforço imediato ou dos interditos possessórios) está
compelido a repará-lo cumprindo uma ou mais obrigações de fazer. Essa sujeição obrigacional
por fato pretérito imputável a terceiro deriva do enquadramento na categoria jurídica de
“obrigações propter rem” (também referidas como “reais”, “mistas” ou “ambulatórias”), a
17 cujo respeito PABLO STOLZE GAGLIANO e RODOLFO PAMPLONA FILHO se referem como sendo
resultado “de um direito real sobre determinada coisa, aderindo a essa e, por isso,
acompanhando-a nas modificações do seu titular” (na obra “Novo Curso de Direito Civil”, vol.
II, 11. ed., p. 46). É ainda do magistério desses dois renomados civilistas a anotação de que as
obrigações propter rem “se transmitem automaticamente para o novo titular da coisa a que
se relacionam” (ob. cit., p. 46). O Superior Tribunal de Justiça tem, a propósito do assunto,
inúmeros precedentes enfatizando que o dever de reverter danos em áreas de vegetação
nativa é exigível em face do atual ocupante (a título dominial ou possessório), não
importando se o quadro ambientalmente danoso já existia em época anterior à ocorrência
da transmissão da propriedade ou posse. Ressalte-se que a obrigação propter rem se
transfere ainda que seja de natureza pecuniária, ressalvando-se apenas o caso de se tratar
de pena pecuniária, que não se transmite, diante do princípio da personalidade,
pessoalidade ou intranscendência da pena.
Portanto, temos que:
 Degradação ambiental: obrigação de reparar transfere ao adquirente.
 Penalidade administrativa: não transfere. Princípio da intranscendência.
 Prescrição para reparação de dano ambiental: imprescritível.
 Prescrição para aplicação de penalidade administrativa: prescreve em cinco anos a
contar da data de conhecimento dos fatos pela autoridade responsável.
 Prescrição para pagamento da penalidade administrativa: em cinco anos, contados
do término do processo administrativo, a pretensão da Administração Pública de
promover a execução da multa por infração ambiental” – Súmula n. 467

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Ainda, em relação à responsabilidade, a doutrina e a jurisprudência assentou o


entendimento de que o Estado é corresponsável pelo dano ambiental, quando verificada
determinadas situações. Isso geralmente ocorre quando não exigem as regras do
licenciamento ambiental adequado, quando desrespeitam, em suma, o princípio da
prevenção ou da precaução, falham nos licenciamentos, por culpa ou por dolo, não
interessa. De acordo com o entendimento dos tribunais e da jurisprudência majoritária, é
espécie de responsabilidade subjetiva, fundamentando-se na faute du servisse. Ou seja, sua
omissão enseja sua responsabilidade. É só a recuperação do meio ambiente. A multa não,
pois o próprio ente irá administrar o fundo de multas.
Lado outro, haverá também sua responsabilidade, segundo o STJ, quando o devedor
principal deixar de cumprir a obrigação. Vejamos: A responsabilidade solidária e de execução
subsidiária significa que o Estado integra o título executivo sob a condição de, como devedor-
reserva, só ser convocado a quitar a dívida se o degradador original, direto ou material (=
devedor principal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento patrimonial ou insolvência,
seja por impossibilidade ou incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da prestação
judicialmente imposta.
Há ainda uma outra hipótese de responsabilidade, oriunda do poluidor-pagador. É a
responsabilidade das instituições financeiras que bancam essas atividades. Os empresários,
quando vão exercer atividades, normalmente vão a uma instituição financeira pegar dinheiro
emprestado. Se a instituição financeira não se preocupar em exigir a confirmação de que as
regras ambientais estão sendo cumpridas e liberar o dinheiro sem a devida cautela, ela é
corresponsável. Isso vale também para qualquer instituição financeira privada, e não só para
18 as oficiais.
5.6. Princípio do Usuário Pagador
Com previsão na Lei 6.938/81, art. 4º, inciso VII, é uma evolução do princípio do poluidor-
pagador. Destaca que o uso gratuito de recursos naturais às vezes pode representar
enriquecimento ilícito por parte do usuário, pois a comunidade que não usa ou usa em menor
escala fica onerada. Tal princípio também não deve ser encarado como punição, pois poderá
ser implementado mesmo sem haver comportamento ilícito, dentro do permitido pelo
ordenamento.
Estabelece que o usuário de recursos naturais (escassos) deve pagar por sua utilização. A
ideia é de definição do valor econômico ao bem natural com intuito de racionalizar o seu uso e
evitar seu desperdício. Veja que difere do princípio do poluidor-pagador, pois neste há
poluição e a quantia paga pelo empreendedor também funciona como sanção
Leme faz uma correlação entre o princípio do usuário pagador e a compensação
ambiental, afirmando que "a compensação ambiental é uma das formas de implementação do
usuário pagador, antecipando possíveis cobranças por danos ambientais".
O usuário é aquele que não causa poluição. Paga por um direito outorgado pelo poder
público. Ex: cobrança pelo uso de água, art. 19 e 20 da Lei nº 9.433/97. Pagar é garantir o art.
225 CF, em benefício das futuras gerações.
Importante esclarecer que o STF reconhece expressamente o princípio do usuário-pagador
em seus julgados.

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POLUIDOR-PAGADOR X USUÁRIO-PAGADOR: o primeiro visa, primordialmente, a


responsabilizar o causador do dano, recompondo o meio ambiente. O segundo visa a evitar o
enriquecimento sem causa do usuário de um bem comum da coletividade. O usuário é aquele
que não causa poluição. Paga por um direito outorgado pelo poder público.
5.7. Princípio da Cooperação entre os povos
Tendo em vista que o meio ambiente não conhece fronteiras política, sendo a terra um
grande ecossistema, a única forma de preservá-la é a cooperação entre as nações, mormente
por meio de tratados internacionais, para se ter uma tutela global ambiental. O artigo 77 da Lei
9605/98 fala da cooperação internacional em matéria de crimes ambientais.

5.8. Princípio da Solidariedade Intergeracional


Está insculpido no Princípio 3 da RIO/92: “O direito ao desenvolvimento deve ser exercido
de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades das gerações
futuras.”
No mesmo sentido é a previsão do art. 225, CF. O legislador constituinte criou um sujeito
de direito indeterminado, ou seja, gerações futuras, que ainda não nasceram e para os quais
os recursos naturais devem ser preservados. A solidariedade ambiental é sincrônica (presentes
gerações) e diacrônica (futuras gerações). Não é justo utilizar recursos naturais que devem ser
reservados aos que ainda não existem.

19 5.9. Princípio da Obrigatoriedade de Atuação (princípio da natureza


pública da proteção ambiental)
Destaca-se a necessidade de intervenção do poder público, mas, ao mesmo tempo, aborda
a questão do aumento da função fiscalizatória/regulatória, via agências reguladoras. Esse
princípio decorre da declaração de Estocolmo (1972). Encontra-se na CF (art. 225) e na
declaração do Rio 92. Preconiza que é dever irrenunciável do Poder Público e da coletividade
promover a proteção do meio ambiente, por ser direito difusa, indispensável à vida humana
sadia.
O Estado deverá atuar como agente normativo e regulador da Ordem Econômica
Ambiental, bem como, exercer o Poder de Polícia de maneira vinculada, de modo que, em
regra, inexiste conveniência e oportunidade na escolha do melhor momento e maneira de sua
exteriorização.

5.10. Princípio da Participação Comunitária (Princípio


Democrático/Cooperação)
Inserido no caput do art. 225 da CF. Princípio nº 10 da Declaração do Rio de 1992. É dever
de toda a sociedade atuar na defesa do meio ambiente. As pessoas têm o direito de participar
ativamente das decisões políticas ambientais em decorrência do sistema democrático, uma
vez que os danos ambientais são transindividuais.
A participação consubstancia-se: a) no dever jurídico de proteger e preservar o meio
ambiente; b) no direito de opinar sobre as políticas públicas; e c) na utilização dos mecanismos

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de controle políticos (plebiscito, referendo, iniciativa popular), judiciais (ação popular, ação
civil pública) e administrativos (informação, petição, EIA).
Destaca-se aqui a atuação das ONGs e assento dos cidadãos nos conselhos ambientais e da
consulta pública para criação de algumas unidades de conservação.
Destaca Leme a deficiência de acesso das organizações nos tribunais internacionais para
fomentar o debate de temas ambientais. Na CIJ só Estados soberanos podem figurar como
partes contenciosas, não havendo legitimidade para Organizações Internacionais figurarem
nos litígios. Entretanto, no âmbito da competência consultiva, é possível o requerimento por
parte de org. internacionais, autorizadas pela Assemb. Geral (Rezek).

5.11. Princípio da Função Socioambiental da Propriedade

Segundo o art. 186 da CF, a função social da propriedade rural é atendida quando, além de
outros requisitos, haja utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação
do meio ambiente. Por outro lado, a propriedade urbana também deve respeitar a legislação
ambiental como forma de garantir sua função social, tendo em vista que o plano diretor
deverá necessariamente considerar a preservação ambiental, a exemplo da instituição de
áreas verdes.
Neste sentido, é importante esclarecer que tal princípio também está expresso no artigo
1228, §1º do Código Civil, determinando que o direito de propriedade deve ser exercitado em
20 consonância com suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o
equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e
das águas.
Importante ressaltar que, conforme sabido, a propriedade rural que não atende à função
socioambiental poderá ser desapropriada por interesse social, para fins de reforma agrária.
Nesse sentido, o STF entende que a própria Constituição da República, ao impor ao Poder
Público dever de fazer respeitar a integridade do patrimônio ambiental, não o inibe, quando
necessária a intervenção estatal na esfera dominial privada, de promover a desapropriação de
imóveis rurais para fins de reforma agrária, especialmente porque um dos instrumentos de
realização da função social da propriedade consiste, precisamente, na submissão do domínio à
necessidade de o seu titular utilizar adequadamente os recursos naturais disponíveis e de fazer
preservar o equilíbrio do meio ambiente.
Ainda, o STJ, em aplicação a tal princípio, entende que inexiste direito ilimitado ou
absoluto de utilização das potencialidades econômicas de imóvel, pois antes até da
promulgação da Constituição vigente, o legislador já cuidava de impor algumas restrições ao
uso da propriedade com escopo de preservar o meio ambiente. Isso se deve que, no regime
constitucional vigente, a propriedade fundamenta-se na função ecológica do domínio e posse.
É com base nesse princípio que se tem sustentado, por exemplo, a possibilidade de
imposição, ao proprietário rural, do dever de recomposição da vegetação em áreas de
preservação permanente e de reserva legal, mesmo sem ter sido ele o responsável pelo
desmatamento, pois se trata de uma obrigação real – propter rem, bastando para tanto a sua
simples condição de proprietário ou possuidor.
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5.12. Princípio da Publicidade ou da Informação


Toda informação sobre o meio ambiente é pública. Visa assegurar a eficácia do princípio
da participação. É necessária a devida publicidade das questões ambientais, sob pena de
impossibilidade de atuação do princípio democrático.
O art. 5º, XXXIII da Constituição Federal e a Lei 12.527/11, garantem o acesso à informação
de forma ampla, incluindo aquela que diz respeito ao meio ambiente. Assim,
independentemente da demonstração de interesse específico, qualquer indivíduo terá acesso
às informações dos órgãos ambientais, ressalvado o sigilo industrial e preservados os direitos
autorais.
No âmbito do direito ambiental, a PNMA criou o SINIMA – Sistema Nacional de
Informações, que visa facilitar o intercâmbio de informações sobre o meio ambiente.

5.13. Princípio do Limite ou Princípio do Controle do Poluidor pelo Poder


Público
Possui amparo constitucional: art. 225, § 1º, inciso V.
De acordo tal princípio, a Administração Pública tem a obrigação de fixar padrões
máximos de emissões de poluentes, ruídos, enfim, de tudo aquilo que possa implicar
prejuízos para os recursos ambientais e à saúde humana. É imprescindível para que se evite,
ou pelo menos se minimize a poluição e a degradação. Nesse contexto, faz-se necessária a
intervenção do Estado no controle de interesses particulares e na defesa em prol da maioria.
21 Ademais, o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental é um dos instrumentos
para a execução da Política Nacional do Meio Ambiente, conforme determinado pelo artigo 9º,
I, da Lei. 6.938/81.
Edis Milaré: “resulta de intervenções necessárias à manutenção, preservação e restauração
dos recursos ambientais com vista à sua utilização racional e disponibilidade permanente”.

5.14. Princípio do Protetor-recebedor


É a outra face da mesma moeda que contém o princípio do poluidor pagador. Se por um
lado é preciso se internalizar os danos ambientais a quem os causa, é também necessária a
criação de benefícios em favor daqueles que protegem o meio ambiente, com o intuito de
fomentar e premiar essas atividades.
Nesse sentido, o princípio indica que aquele agente público ou privado que protege um
bem natural em benefício da comunidade deve receber uma compensação financeira como
incentivo pelo serviço de proteção ambiental prestado. O princípio do protetor-recebedor
incentiva economicamente quem protege uma área, deixando de utilizar seus recursos,
estimulando assim a preservação.
O princípio possui previsão expressa no ordenamento jurídico brasileiro, no artigo 6, II, da
Lei 12.305/10, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Trata-se de um fundamento da ação ambiental que pode ser considerado o avesso do
conhecido princípio do usuário pagador, que postula que aquele que usa um determinado
recurso da natureza deve pagar por tal utilização.
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Um exemplo adotado em alguns municípios é a redução das alíquotas de IPTU para os


cidadãos que mantém áreas verdes protegidas em suas propriedades.
Há, ainda, o exemplo da previsão do artigo 10,§ 1o, II da Lei 9.393/96 que exclui da área
tributável do ITR alguns espaços ambientais especialmente protegidos.
5.15. Princípio da Proibição do Retrocesso Ecológico (ou non cliquet
ambiental)
Vedação ao retrocesso quando já existem medidas protetivas. Impede que qualquer um
dos Poderes ataque o núcleo essencial de direitos e garantias ambientais já positivados,
protegidos e implementados. Não é possível a edição de normas posteriores mais flexíveis,
pois comprometem a solidariedade intergeracional.
Enfim, as garantias de proteção ambiental, uma vez conquistadas, não podem retroagir.
Vale observar que doutrinadores entendem haver ferimento a tal princípio pelo novo
Código Florestal, quando, por exemplo, fixou hipóteses de APP mais liberais (menos restritivas)
que a previsão do código de 1965.
5.16. Princípio da responsabilidade comum, mas diferenciada
Tal princípio preceitua que todas as nações são responsáveis pelo controle da poluição e a
busca da sustentabilidade, mas os países mais poluidores deverão adotar as medidas mais
drásticas, pois são os principais responsáveis pela degradação ambiental na Biosfera, tendo
sido previsto no Protocolo de Kyoto e no artigo 3º da Lei 12.187/09, que aprovou a Política
Nacional de Mudança do Clima.
22 5.17. Princípio da gestão ambiental descentralizada, democrática e
eficiente
Conforme dispõe a Lei Complementar 140/11, que regula as competências ambientais
materiais comuns entre a União, os Estados, o DF e os municípios, a referida lei possui como
objetivo fundamental de todas as esferas de governo proteger, defender e conservar o meio
ambiente ecologicamente equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e
eficiente.
Há, portanto, uma descentralização política, em relação a possibilidade de todos os entes
poderem legislar sobre direito ambiental e normas protetivas ambientais. Ainda, há uma
participação democrática na gestão ambiental, quando, por exemplo, insere a população nos
processos decisórios ambientais. Ainda, o CONAMA, em sua composição, possui
representantes de entidades de trabalhadores e da sociedade civil. Já a eficiência na gestão
ambiental é a exigência de resultados positivos pela Administração Pública dos três poderes,
fruto de uma atuação moderna, extraindo-se mais com o menos
5.18. Princípio do Ambiente Ecologicamente Equilibrado
Reconhecido no art. 225 da CF e em Estocolmo (1972).Está intimamente ligado ao
direito fundamental à vida e à proteção da dignidade humana.

5.19. Princípio da Educação Ambiental


Embora não seja obrigação exclusiva do poder público, encontra-se constitucionalmente
previsto no art. 225, §1o, VI, CF. Para assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente
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equilibrado, incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental em todos os níveis de


ensino e a conscientização pública para a preservação. Não há obrigatoriedade de ter a
matéria ambiental como específica, salvo nos cursos técnicos ou superiores que sejam
relacionados com o meio ambiente.
Nesse sentido, também foi promulgada a Lei da Política Nacional da Educação Ambiental
(Lei nº 9.795/99, art. 6º), definindo educação ambiental como os processos pelos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à qualidade de vida. Todavia, está prevista sua "não implementação como disciplina
específica" no currículo de ensino (art. 10, § 1º), facultando-se apenas nos cursos de pós-
graduação (Celso Antônio Pacheco Fiorillo)

5.20. Princípio do Equilíbrio (ou proporcionalidade)


Consiste na ponderação de valores quando da prática de algum evento que possa
repercutir na esfera ambiental. Trata-se da necessidade de se analisar quais os prejuízos e
impactos, e ao contrário, quais os benefícios e ganhos. Nessa ponderação, tem-se de levar em
conta todas as condições ambientais, no sentido legal do termo, como as influências e
integrações de ordem química e biológica, quer permitem abrigar e reger a vida em todas as
formas.
Esse equilíbrio está atrelado ao desenvolvimento econômico e seus impactos ambientais,
guardando estreita relação com o desenvolvimento sustentável. Os aplicadores da política
23 ambiental e do Direito Ambiental devem pesar as consequências previsíveis da adoção de uma
determinada medida, de forma que esta possa ser útil à comunidade e não importar em
gravames excessivos aos ecossistemas e à vida humana. Não deve haver sobreposição das
necessidades e dos interesses econômicos. Ponderação entre os prejuízos/impactos e os
benefícios/ganhos que um empreendimento poderá causar ao meio ambiente. Mensuração
razoável dos efeitos de práticas que intervenham no meio ambiente.

5.21. Princípio do Acesso equitativo aos Recursos Naturais


A utilização saudável do meio ambiente deve ser partilhado de forma equitativa por toda a
humanidade. Estocolmo 1972: “As vantagens extraídas de sua utilização sejam partilhadas a
toda humanidade”.

5.22. Princípio da Ubiquidade (Princípio da Variável Ambiental no


processo decisório das políticas públicas)
O Meio ambiente é condição prévia para a existência e o exercício dos direitos humanos.
Os bens naturais, tendo caráter de onipresença, colocam-se em posição soberana a qualquer
limitação espacial ou geográfica. Visão holística: protege-se o todo para proteger a parte.
Princípio 17 da RIO/92. O meio ambiente deve ser considerado em toda decisão política (ex.
leis orçamentárias, PAC).

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5.23. Princípio do Direito à Sadia Qualidade de Vida


Destaca que, enquanto as primeiras constituições escritas colocavam o direito à vida entre
os direitos individuais, a partir do séc. XX foi inserido o "direito à qualidade de vida", não sendo
suficiente viver ou apenas conservar a vida. (A ONU mede tal qualidade de vida com base em
no mínimo três fatores: saúde, educação e PIB). Por fim destacou que graves atentados contra
o meio ambiente pode privar as pessoas até mesmo do gozo de seu domicílio, prejudicando a
vida privada e familiar.

5.24. Princípio da Reparação Integral


Invocado pelo STJ em seus julgados e melhor tratado no tópico que trata acerca da
reparação dos danos ambientais. Deve conduzir o meio ambiente e a sociedade a uma
situação, na medida do possível, equivalente àquela de que seriam beneficiários se o dano não
tivesse sido causado. Incluem-se os efeitos ecológicos e ambientais da agressão, as perdas de
qualidade ambiental, os danos ambientais futuros e danos morais coletivos. Positivado na
legislação civil (art. 944, CC).
5.25. Princípio do Progresso Ecológico (Canotilho)
Necessidade de avançar e aprimorar a legislação ambiental. “Cláusula de Progressividade”
do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (art. 2º, 1). Finalidade de
garantir a disponibilidade permanente e salubridade social. Enfim, tal princípio cria a obrigação
estatal de constantemente revisar a legislação ambiental a fim de mantê-la atualizada.
5.26. Princípio da Correção na Fonte (Canotilho)
24 A poluição deve ser corrigida no local em que foi produzida. Ao poluidor cabe corrigir o
dano, no local em que foi produzido, especialmente para que seja evitado o “turismo” da
poluição, ou seja, a migração das consequências em dada área para outra até então intacta.

OBSERVAÇAO:
O TRF1 já teve a oportunidade de cuidar do denominado princípio da MORALIDADE
AMBIENTAL, como consectário do desenvolvimento sustentável. Tal princípio (moralidade
ambiental) está ligado à ideia de que a incolumidade do meio ambiente não pode ser
comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole
meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica,
considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios
gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz
conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente
cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral.

6. Direito Econômico e sua relação com o Direito Ambiental


A apresentação do conceito de direito econômico se faz necessária para uma melhor
compreensão de sua abrangência, de seu relacionamento com o direito ambiental e do ponto
em que estes dois ramos do direito se mesclam.
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Entre os vários conceitos, merece particular atenção o trazido da doutrina alemã por
Cristiane Derani:
Direito econômico é a normatização da política econômica como meio de dirigir,
implementar, organizar e coordenar práticas econômicas, tendo em vista uma finalidade ou
várias e procurando compatibilizar fins conflituosos dentro de uma orientação
macroeconômica. Em primeiro plano está o funcionamento do todo e não a regulamentação
do comportamento individual isolado.
O direito econômico serve para indicar rumos para uma política econômica e para resolver
os conflitos decorrentes de determinada opção econômica. Assume, nitidamente, um caráter
de política econômica em sua essência, na medida em que visa a regular o relacionamento
entre economia e sociedade, para garantir um relacionamento harmônico, minimizando os
impactos do modelo capitalista, numa sociedade em desenvolvimento e buscando um modelo
de justiça social.
Sobre a política econômica, Fábio Nusdeo explica:
A própria noção de política econômica implica a existência de fins a cuja perseguição
deverá se adaptar todo o sistema, mediante distorções conscientemente impostas ao seu
funcionamento, devendo entender-se aqui a palavra distorções como querendo significar uma
forma de operação diversa daquela normalmente ditada pelos padrões do mercado.
Assim, o direito econômico, numa atuação atrelada com a política econômica, serve para
concretizar os fins desta, adaptar o sistema e corrigir as distorções, como bem explica Cristiane
Derani: "O direito econômico tem uma dupla dimensão: garantidor da iniciativa privada e
25 implementador do bem-estar social".
A relação entre direito econômico e direito ambiental é quase simbiótica, derivada da
forte interação entre economia e ecologia, sendo que a primeira procura sua sobrevivência na
segunda. Tal relacionamento pode ser simbiótico como seria o adequado ou pode ser
parasitário, quando a economia ocasiona a perda ou escassez dos recursos ambientais.
Segundo Fábio Nusdeo, "O sistema econômico atua como um mero intermediário entre o
sistema ecológico e o sistema ecológico". Destarte, a atividade produtora busca sua matéria
básica nos recursos ambientais, industrializa, agrega valor, movimenta e economia e devolve
ao meio ambiente na forma de poluição, resíduos sólidos e degradação ambiental, já que o
meio ambiente é o último receptor da cadeia produtiva.
Nesta linha, Ana Luiza de Brasil Camargo expõe: "Os sistemas humanos e os sistemas
ambientais encontram-se em dois pontos: onde as ações humanas causam diretamente
mudança ambiental e onde as mudanças ambientais afetam diretamente o que os seres
humanos valorizam". Deste modo, é necessário entender a interação entre estes sistemas e
buscar um ponto de equilíbrio entre ambos.
Logo, não há como entender ecologia e economia como coisas autônomas, elas possuem
uma íntima relação, que traz em si a necessidade de diálogo entre direito ambiental e direito
econômico, sob o enfoque do DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, que é o ponto em que
ambos convergem, para uma sadia qualidade de vida (humana e não humana) e um
crescimento econômico ordenado.

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Segundo Hutchison, citado por Ana Luiza de Brasil Camargo, "O impasse ambiental é uma
crise tripla: uma crise da ecologia, uma crise da economia e uma crise de consciência humana".
Assim, qualquer solução para uma questão ambiental deve, necessariamente, atentar-se para
os aspectos ecológicos, econômicos e sociais.
O direito econômico é um direito difuso, por defender interesses metaindividuais,
indivisíveis, de pessoas ligadas por uma mesma condição. É DIREITO TRANSVERSAL, o qual
permeia todo o ordenamento, corrigindo as distorções jurídicas do modelo econômico
adotado e adaptando a política econômica à realidade fática e jurídica, visa a implementação,
entre outras, de garantias que possibilitem o pleno emprego e o bem-estar de todos, em
conformidade com o meio ambiente.
Neste sentido, Fábio Nusdeo coloca:
No fundo o único grande objetivo da economia é o BEM-ESTAR DE SUA POPULAÇÃO,
entendido como o conjunto de condições, inclusive de ordem institucional e ambiental,
propiciadoras do bem comum, que é o bem de todos e de cada um.
Deste modo, direito econômico e direito ambiental se entrelaçam nitidamente, ambos são
DIREITOS DIFUSOS, que assumem a característica da TRANSVERSALIDADE com objetivos
comuns, a saber, uma sadia qualidade de vida, dignidade da pessoa humana, justiça social,
preservação dos recursos ambientais para a presente e futuras gerações, baseando-se numa
correta concepção de desenvolvimento3
"Também os juízes devem ter em mente que os instrumentos do Direito Ambiental não
corroem, nem ameaçam a vitalidade produtiva do Brasil e a velocidade de sua inclusão entre
26 as grandes economias do Planeta; tampouco pesam na capacidade financeira do Estado ou se
apresentam como contrabando legislativo, devaneio imotivado de um legislador desavisado ou
irresponsável. Ao contrário, se inserem no âmbito da função social e da função ecológica da
propriedade, previstas na Constituição de 1988 (arts. 5º XXIII, e 186, II, respectivamente).
Conseqüentemente, reduzir, inviabilizar ou revogar leis, dispositivos legais e políticas de
implementação de proteção da natureza nada mais significa, na esteira da violação ao
princípio da proibição do retrocesso ambiental, que conceder colossal incentivo econômico a
quem não podia explorar (e desmatar) partes de sua propriedade e, em seguida, com a
regressão, passar a podê-lo. Tudo às custas do esvaziamento da densificação do mínimo
ecológico constitucional. Retroceder agora, quando mal acordamos do pesadelo da destruição
ensandecida dos processos ecológicos essenciais nos últimos 500 anos, haverá de ser visto, por
juízes, como privatização de inestimável externalidade positiva (= os serviços ecológicos do
patrimônio natural intergeracional), que se agrega à também incalculável externalidade
negativa (= a destruição de biomas inteiros), que acaba socializada com toda a coletividade e
seus descendentes" (Herman Benjamin, in "o Princípio da Proibição do Retrocesso Ambiental"
- Ed. Do Senado Federal - 2011, pags. 70/72). (Citado pelo Des. Souza Prudente no julgamento
da Apelação Cível 0025999-75.2010.4.01.3900 / PA, publicado em 22.04.2014).

3
Desenvolvimento sustentável: o encontro do Direito Econômico com o Direito Ambiental:
Vanessa de Castro Rosa. http://jus.com.br/artigos/18465/desenvolvimento-sustentavel-o-
encontro-do-direito-economico-com-o-direito-ambiental/2#ixzz3B2aVJuMr

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6.1. O direito ambiental como direito econômico e como direito


fundamental4
O Direito Ambiental, portanto, tem uma dimensão humana, uma dimensão ecológica e
uma dimensão econômica que se devem harmonizar sob o conceito de desenvolvimento
sustentável. (ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 9ª Edição. Rio de Janeiro: Editora
Lúmen Júris, 2006. P. 11).
Este entendimento de que o Direito Ambiental deve fazer parte tanto do rol dos direitos
fundamentais como ser tratado pelo seu aspecto econômico não é exclusivo deste
ambientalista. Ele encontra ecos também entre doutrinadores de outros ramos do Direito,
como por exemplo, Ricardo Lobo Torres:
O desenvolvimento econômico deve ser justo para que se torne legítimo. Não é ele que cria
uma ordem econômica justa, senão que o ordenamento justo é que propicia as condições para
o desenvolvimento. Em nome do crescimento econômico, não se pode postergar a
redistribuição de rendas, nem ofender aos direitos humanos, nem atentar contra o meio
ambiente, nem justificar a corrupção dos políticos. Sendo questão de justiça, a problemática do
desenvolvimento econômico não se deixa aprisionar pelo cálculo utilitarista, embora não lhe
seja estranha a consideração do útil, que integra a idéia de justiça. O princípio do
desenvolvimento econômico não é um fim em si mesmo, mas deve se afinar com o
desenvolvimento humano. (...)
Conceito mais próximo dos direitos humanos é o de desenvolvimento humano, que vem
sendo discutido sob os auspícios da ONU, especialmente na forma de desenvolvimento
27 humano sustentável, em íntima relação com o meio ambiente sadio e com os direitos das
gerações futuras. ((TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e
Tributário. Volume II – Valores 13 e Princípios Constitucionais Tributários. Rio de Janeiro: Ed.
Renovar, 2005. P. 350 15 Obra citada, páginas 352-353)
Aqui também encontramos a proteção ao meio ambiente como interseção entre os
direitos humanos e o desenvolvimento econômico. Nesse mesmo sentido também advoga
Eros Grau em seu já clássico A Ordem Econômica na Constituição de 1988:
O princípio da defesa do meio ambiente conforma a ordem econômica (mundo do ser),
informando substancialmente os princípios da garantia do desenvolvimento e do pleno
emprego. Além de objetivo, em si, é instrumento necessário – e indispensável – à realização do
fim desta ordem, o de assegurar a todos existência digna. Nutre também, ademais, os ditames
da justiça social. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo – diz o art. 225, caput, da Constituição.
O desenvolvimento nacional que cumpre realizar, um dos objetivos da República
Federativa do Brasil, e o pleno emprego que impende assegurar supõem economia auto-
sustentada, suficientemente equilibrada para permitir ao homem reencontrar-se consigo
próprio, como ser humano, e não apenas como dão ou índice econômico. (GRAU, Eros. A

4
O Direito Ambiental e os Novos Paradigmas do Direito Econômico: a Ascensão do Estado Regulador.
Ana Paula Vasconcellos da Silva.
http://www.revistadireito.uerj.br/artigos/ODireitoAmbientaleosNovosParadigmasdoDireitoEconomicoa
AscensaodoEstadoRegulador.pdf
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Constituição; Direito
Econômico
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Ordem Econômica na Constituição de 1988. 11º edição. São Paulo: Malheiros Editores, 2006,
P. 251).
Percebe-se que doutrinadores de áreas distintas do Direito convergem para a conclusão de
que não é possível pensar o desenvolvimento econômico sem a proteção ao meio ambiente e
sem respeito aos direitos humanos. No entanto, também não é possível pensar a proteção ao
ambiente impedindo o desenvolvimento econômico, visto que a melhora dos indicadores
econômicos de um país é essencial para que outros direitos fundamentais também sejam
efetivados, como por exemplo, o acesso ao trabalho como forma de se garantir uma existência
digna.
Aliás, a compreensão de que um meio ambiente equilibrado como parte dos direitos
humanos fundamentais é pacífica, tendo sido assim reconhecido pela Conferência de
Estocolmo, de 1972, reafirmado durante a ECO 92, no Rio de Janeiro, e pela Carta da Terra, em
1997.
Além, é claro, do seu reconhecimento em sede constitucional, que, apesar de não estar
topograficamente localizado dentro do título de Direitos e Garantias Individuais, não perde em
conteúdo, visto que o art. 5º, §2º, admite a existência de outros direitos fundamentais
decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Carta Magna além daqueles tipificados
ao longo do Título de Direitos e Garantias Individuais.
"O Direito Ambiental contém uma substância estreitamente vinculada ao mais intangível
dos direitos humanos: o direito à vida, compreendido como um direito de sobrevivência em
face das ameaças que pesam sobre o Planeta, pelas degradações múltiplas do meio onde estão
28 os seres vivos. Essa substância, entretanto, é um conjunto completo, cujos elementos são
interdependentes. Daí, uma regressão local, mesmo que limitada, pode ensejar outros efeitos,
noutros setores do ambiente. Tocar numa das pedras do edifício pode levar ao seu
desabamento. É por isso que os juízes que terão o trabalho de mensurar até onde se poderá
regredir sem que isso implique condenar o edifício, deverão ir além da jurisprudência antiga,
relativa à intangibilidade dos direitos tradicionais, imaginando uma nova escala de valores,
para melhor garantir a sobrevivência do frágil equilíbrio homem-natureza, considerando a
globalização do ambiente" (Michel Prieur, in "o Princípio da Proibição do Retrocesso
Ambiental" - Ed. Do Senado Federal - 2011, pags. 19/20 e 48). (Citado pelo Des. Souza
Prudente no julgamento da Apelação Cível 0025999-75.2010.4.01.3900 / PA, publicado em
22.04.2014).
6.2. O Direito Ambiental como Direito Econômico. A natureza econômica
das normas de Direito Ambiental.
A relevância atribuída à questão ambiental na Constituição Federal de 1988 foi inovadora,
tendo em vista que o direito a uma vida saudável encontra-se vinculado ao próprio conceito de
dignidade humana. Por se tratar de direito fundamental de terceira geração, a importância de
sua preservação transcende o direito de cada Estado, passando a ocupar importante espaço
nos compromissos firmados no âmbito internacional, dentre eles as Declarações de
Estocolmo/1972 e do Rio de Janeiro/1992 e o Protocolo de Quioto.
O capítulo do meio ambiente é um dos mais importantes e avançados da Constituição de
1988, sendo considerado por princípio que é direito de todos e bem de uso comum do povo e
essencial a sadia qualidade de vida. O art. 225, §4º, declara alguns ecossistemas (mata
atlântica, mangues, etc.) como patrimônio nacional, não para torná-los estaticamente
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conservadas, por contrário, sua utilização econômica, inclusive quanto à utilização dos
recursos naturais, é admissível, na forma da lei, dentro das condições que assegurem a
preservação do meio ambiente. É, portanto, equivocada a ideia de preservação incondicional
do meio ambiente; esta cautela deve estar situada no “meio termo” almejado pelo chamado
desenvolvimento da economia ambientalmente sustentável para as gerações futuras. Este,
talvez seja o mais importante postulado do direito ambiental.
O direito econômico, por sua vez, é a normatização da política econômica como meio de
dirigir, implementar, organizar e coordenar práticas econômicas, tendo em vista uma
finalidade ou várias e procurando compatibilizar fins conflituosos dentro de uma orientação
macroeconômica. São princípios da constituição econômica formal, os relacionados no art.
170: soberania nacional, propriedade privada, função social da propriedade, livre
concorrência, defesa do consumidor, redução das desigualdades regionais e sociais, busca do
pleno emprego, tratamento favorecido para empresas nacionais de pequeno porte, e defesa
do meio ambiente, sinalizando desde já a Constituição econômica pela necessidade de
interação com a Constituição natureza, mesmo porque a base do desenvolvimento das
relações produtivas está na natureza. A cogitada antítese se desfaz desde o seu nascedouro.
A CF “econômica” impõe desde o início (como princípio) a preservação ambiental, e o
capítulo ambiental destaca a segurança da possibilidade de exploração econômica mesmo em
detrimento do meio ambiente desde que ex vi legis, compreendendo que o meio ambiente é
um valor preponderante (mas, não intolerante) que deve estar interligado ao
desenvolvimento, cabendo à lei a importante função de ditar os parâmetros desta convivência.
Assentadas tais premissas, é possível afirmar que o direito ambiental econômico procura
29 iluminar a relação entre produção econômica e conservação dos recursos naturais,
compreendendo o direito ambiental e o direito econômico individualmente e cumprindo o
objetivo básico de racionalização e democratização da atividade econômica, sendo certa a
indissociabilidade destes ramos do direito.
A decantada oposição entre economia e proteção ambiental - por consequência - oposição
entre os objetivos do direito econômico e do direito ambiental - deixa de existir plenamente,
quando a política econômica adotada traz de volta o relacionamento da economia com a
natureza de uma forma integrativa, e não por uma atuação de pilhagem. Natureza precisa ser
entendida, economicamente: por que economia não poderia ser entendida em termos de
reprodução da natureza.
O Direito Ambiental na qualidade de possuir em seu bojo natureza econômica interfere de
modo significativo nesta ordem. Podem-se notar tanto no capítulo destinado à proteção do
meio ambiente, como nas legislações infraconstitucionais essas interferências, que têm como
objetivo comum alcançar o desenvolvimento de forma sustentável. Com isso, as normas
ambientais são dotadas da capacidade de interferência na ordem econômica, e podemos citar
algumas dessas intervenções, tais como: a) necessidade de planejamento ambiental, através
do estudo prévio de impacto ambiental para evitar atividades potencialmente destruidoras
(art. 225, § 1º, IV); b) a sanção imposta pelo princípio ambiental do Poluidor-Pagador, o qual
impõe a responsabilidade àqueles que causam danos ambientais de arcarem com o custos de
recuperação do ato lesivo (art. 225, § 3º); c) a necessidade do Plano Diretor como instrumento
legal que possibilita o limite ao direito de propriedade mediante o zoneamento urbano,
controlando assim, as atividades potencialmente degradantes (lei 6938/81, art. 2º, V); d)

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função social necessária ao direito de propriedade, retirando sua característica de direito


soberano, em prol da transindividualidade (art. 170, II e III).
Sendo a síntese do entrelaçamento entre o Direito Ambiental e o Direito Econômico o
PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, faz-se necessário examiná-lo mais
detidamente:
O desenvolvimento é sustentável quando satisfaz as necessidades presentes sem
comprometer a habilidade das futuras gerações em satisfazer as suas próprias necessidades,
ou seja, sem inviabilizar os recursos equivalentes de que farão uso no futuro outras gerações.
Este princípio certamente é o que melhor sintetiza o espírito da Carta Fundamental, e bem
assim o das mais modernas legislações do mundo.
O desenvolvimento sustentável, de acordo com Cristiane Derani, visa obter um
desenvolvimento harmônico da economia e da ecologia, numa correlação máxima de valores,
onde o máximo econômico reflita igualmente um máximo ecológico, impondo um limite de
poluição ambiental, dentro do qual a economia deve se desenvolver, proporcionando,
consequentemente, um aumento no bem-estar social. Portanto, a defesa do meio ambiente
na ordem econômica expressa claramente o princípio do desenvolvimento sustentável, pois
que estabelece um controle do Estado sobre as atividades econômicas que ultrapassem os
limites razoáveis de exploração ambiental, obrigando uma harmonização entre esferas até
pouco tempo considerada independentes, de modo a alcançar uma qualidade de vida saudável
para todos, lembrando que a intensificação ou diminuição deste controle é um assunto político
vinculado às prioridades de quem estiver no exercício do governo.

30 Tal princípio não deve ser compreendido como óbice ao desenvolvimento tecnológico ou
econômico, mas como forma de gestão racional de recursos naturais apta a impedir uma
devastação ambiental desenfreada, de modo que as necessidades atuais possam ser atendidas
sem causar prejuízos irrecuperáveis às futuras gerações.
O fato de que a defesa do meio ambiente foi elevada ao nível de princípio da ordem
econômica, tem o efeito de condicionar a atividade produtiva ao respeito do meio ambiente e
possibilita ao poder público interferir drasticamente, se necessário, para que a exploração
econômica preserve a ecologia.
É legítimo se concluir que não há essencialmente uma separação material entre economia
e ecologia, porque a base do desenvolvimento das relações produtivas está na natureza, e a
natureza só pode ser compreendida enquanto integrante das relações humanas - aqui
inseridas, com todo o seu peso, as relações econômicas. Esta união visceral, necessariamente
tem de se fazer sentir no interior do ordenamento jurídico. São estes os elementos que
suportam a tese de que a realização do art. 225 da Constituição Federal passa pela efetivação
do art. 170 e vice-versa.
O direito brasileiro não faculta a escolha entre princípios fundamentais como o da livre
iniciativa / econômico e o do meio ambiente ecologicamente equilibrado / ambiental, quando
são igualmente necessários para a consecução de uma finalidade essencial do texto
constitucional: o da realização de uma existência digna.
Enfim, a natureza econômica do Direito Ambiental deve ser percebida como o simples fato
de que a preservação e sustentabilidade da utilização racional dos recursos ambientais (que
também são recursos econômicos, obviamente) deve ser encarada de forma a assegurar um

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padrão constante de elevação da qualidade de vida dos seres humanos que, sem dúvida
alguma, necessitam da utilização dos diversos recursos ambientais para a garantia da própria
vida humana.
Em última análise, sendo o Direito Econômico o ramo do Direito que trata, grosso modo,
da intervenção do Estado na Economia, vê-se que a Legislação Ambiental, salvo normas
específicas que objetivam tão somente a preservação de espécies animais e vegetais em
extinção, ou que objetivam apenas a qualidade da vida humana, está voltada à regulação da
atividade empresarial que se utiliza diretamente, ou expõem a risco o meio ambiente,
impondo limites e formas de atuação específicas aos agentes econômicos, buscando atingir
aquilo que se denominou de desenvolvimento sustentável, isto é, usar o meio ambiente sem
esgotá-lo, destruí-lo ou inutilizá-lo.
É justamente a busca pela qualidade de vida o elemento que une os Direitos Econômico e
Ambiental, uma vez que deve haver um equilíbrio entre o bem-estar econômico (aspecto
quantitativo – ex: acumulação de bens materiais) e o bem-estar ambiental (aspecto qualitativo
– ex: saúde física e psíquica). Neste sentido são as lições de André Ramos Tavares:
A busca por uma boa qualidade de vida é objetivo último tanto do Direito econômico
quanto do direito ambiental. Ocorre que, além da finalidade comum, também os meios de
alcançá-la devem guardar correspondência entre si. É que, dada a escassez dos recursos
naturais, ou, mais propriamente, sua quantidade finita, e tendo em vista as infinitas
necessidades humanas, é preciso uma abordagem desenvolvimentista consciente com relação
ao meio ambiente, sob pena de, invocando-se a busca de uma suposta melhoria da qualidade
de vida, gerar efeitos exatamente opostos. (TAVARES, 2003, p. 199)
31
6.3. Princípio Ubiquidade ou Transversalidade
Visa demonstrar qual é o objeto de proteção do meio ambiente quando tratamos dos
direitos humanos, pois toda atividade, legiferante ou política, sobre qualquer tema ou obra,
deve levar em conta a preservação da vida e principalmente, a sua qualidade. Esse princípio
dispõe que o objeto de proteção do meio ambiente, localizado no epicentro dos direitos
humanos, deve ser levado em consideração toda vez que uma política, atuação, legislação
sobre qualquer tema, atividade, obra, etc., tiver que ser criada.
Paulo Affonso Leme Machado cita em sua obra a noção de interação do Direito
Ambiental com outros ramos do direito dada pelo jurista francês Michel Prieur:5
“Na medida em que o ambiente é expressão de uma visão global das intenções e das
relações dos seres vivos entre eles e com o seu meio, não é surpreendente que o Direito do
Ambiente seja um Direito de caráter horizontal, que recubra os diferentes ramos clássicos do
Direito (Direito Civil, Direito Administrativo, Direito Penal, Direito Internacional), e um direito
de interações, que se encontra disperso nas várias regulamentações. Mais do que um novo
ramo do direito com seu próprio corpo de regras, o Direito do Ambiente tende a penetrar todos
os sistemas jurídicos existentes para os orientar num sentido ambientalista”.

5
A Aplicação do Princípio do Poluidor-Pagador ao Pedido das Ações Ambientais.
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Temos, desse modo, que o Direito Ambiental é um direito de interações que, dada a
sua natureza, influencia e é influenciado por todos os demais ramos do direito: direito
administrativo, penal, processual, civil, etc.
Para Paulo de Bessa Antunes (2007, pp. 22 a 23):
Há que se observar que a relação do DA [Direito Ambiental] com os demais ramos do
Direito é transversal, isto é, as normas ambientais tendem a se incrustar em cada uma das
demais normas jurídicas, obrigando que se leve em conta a proteção ambiental em cada um
dos demais “ramos” do Direito [...] o DA penetra em todos os demais ramos da Ciência Jurídica
[...], não se encontra em “paralelo” a outros “ramos”, e, nesta condição, é um Direito que
impõe aos demais setores do universo jurídico o respeito às normas que o formam, pois o seu
fundamento de validade é emanado diretamente da Norma Constitucional.
6.4. Tributação ambiental e a sua função extrafiscal6
Os tributos não são utilizados apenas na sua função fiscal de arrecadação. No âmbito do
Direito Ambiental, geralmente, os tributos são utilizados na sua função extrafiscal como forma
de promover objetivos políticos, sociais, econômicos ou de desenvolver políticas ambientais.
Conforme ensinamentos do doutrinador Hely Lopes a função extrafiscal dos tributos
consiste na:
“utilização do tributo como meio de fomento ou de desestímulo a atividades reputadas
convenientes ou inconvenientes à comunidade. É ato de polícia fiscal, isto é, de ação de
governo para o atingimento de fins sociais através da maior ou menor imposição tributária”.

32 O ICMS Ecológico é um dos tributos ambientais que possuem nitidamente a natureza


extrafiscal, sendo utilizado com a finalidade de desestimular práticas danosas ao meio
ambiente e aos interesses sociais, garantindo um tratamento favorecido aos Municípios que
adotem a postura de priorizar o Saneamento Básico e as Unidades de Conservação.
6.5. RIO + 20
O que é a Rio+20?
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, tem por
objetivo “a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio
da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas
principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes.”
A reunião oficial ocorre entre os dias 20 e 22 de junho e contará com a presença de chefes
de estado e de governos dos países-membros das Nações Unidas. O principal objetivo é a
adoção de um documento final que deverá nortear os rumos da governança verde em todo o
mundo.
A Rio+20 tem potencial para ser o maior evento de política internacional dos próximos
anos. Os debates buscam uma economia justa e devem abranger questões sociais, ambientais
e econômicas.
As Nações Unidas definiram os seguintes temas para esta conferência:
• Economia verde

6
DIREITO ECONÔMICO E A SUA RELAÇÃO COM O DIREITO AMBIENTAL. Thaís Guedes Braz Monteiro
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No contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, os debates


acerca deste tema devem repensar o desenvolvimento de forma que seja ambientalmente
sustentável, socialmente igualitário e economicamente acessível.
Para a economia verde é preciso uma análise global e um entendimento geral dos
fenômenos naturais para ações eficazes em todos os níveis. Referente a economia, trata-se de
condições favoráveis a todas as gerações futuras e presentes. Além do fator ambiental e
econômico há ainda as questões sociais a serem tratadas. O conceito de economia verde está
focado na junção de ambiente com economia, questões apontadas na conferência Rio 92.
• Estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável
Possui como principal objetivo inserir o multilateralismo como instrumento para
solução de problemas globais, além de pressionar as instituições internacionais para os
problemas relacionados aos três pilares do evento: social, ambiental e econômico.
Foi elaborado um documento de contribuição brasileira à conferência da Rio+20 a
partir dos trabalhos da Comissão Nacional para a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, com base em extensas consultas à sociedade e a órgãos do
Governo.
Por que o nome “RIO+20”?
O nome se refere aos 20 anos que se passaram desde a Eco 92.
O que foi a Eco 92?

33 A primeira conferência mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente foi realizada em


Estocolmo, no ano de 1972. Após a apresentação de diversas pesquisas e o pronunciamento
de diversos chefes de Estado, foi proposto um documento referente a preservação dos
recursos ambientais. Foi a primeira vez que o mundo inteiro se voltou para o tema. Após vinte
anos foi realizada, na cidade do Rio de Janeiro, juntamente com eventos paralelos pelo país, a
Eco 92 ou Rio 92 que contou com a participação de delegados de 172 países e 108 chefes de
Estado, além de mais de dez mil jornalistas e representantes de 1.400 ONGs. Ficou conhecida
como a mais importante conferência sobre meio ambiente da história. Os temas dos debates
foram: proteção aos solos, por meio do combate ao desmatamento, desertificação e seca;
proteção da atmosfera, por meio do combate às mudanças climáticas; proteção das áreas
oceânicas e marítimas; conservação da diversidade biológica, controle de biotecnologia,
controle de dejetos químicos e tóxicos; erradicação de agentes patogênicos e proteção das
condições de saúde. Neste evento, os principais avanços foram:
• Convenção sobre Diversidade Biológica;
• Conferência das Partes (COPs);
• Declaração do Rio
• Agenda 21
• Declaração sobre princípios de floresta
• Carta da Terra

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7. Jurisprudência do Dizer o Direito


Direito de terceira geração
O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de terceira geração – constitui
prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos
direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo
identificado em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, à
própria coletividade social. Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos)
– que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da
liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que se
identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da
igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva
atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade
e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e
reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais
indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade. STF. Plenário. MS 22.164, Rel. Min.
Celso de Mello, julgado em 30/10/1995.
Princípio do desenvolvimento sustentável
O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente
constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo
Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da
economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando
34 ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição
inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos
mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que
traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das
presentes e futuras gerações. STF. Plenário. ADI 3540 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
01/09/2005.
Princípio da precaução, campo eletromagnético e legitimidade dos limites fixados pela Lei
11.934/2009
No atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de efeitos
nocivos da exposição ocupacional e da população em geral a campos elétricos, magnéticos e
eletromagnéticos gerados por sistemas de energia elétrica, não existem impedimentos, por
ora, a que sejam adotados os parâmetros propostos pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), conforme estabelece a Lei nº 11.934/2009. STF. Plenário. RE 627189/SP, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 8/6/2016 (repercussão geral) (Info 829).

8. Anotações do meu caderno

● Meio ambiente não é um bem público de uso comum. É bem de uso comum do povo. É um
patrimônio público (PNMA) de titularidade coletiva, e não de domínio estatal. Direito de
terceira geração de titularidade coletiva.

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● FAB MATA SERRA PANTA ZONA – só são patrimônio nacional de utilidade disciplinada em lei.
NÃO SÃO UNIDADES DE CONSERVAÇÃO. (Floresta Amazoniga, Mata Atlântica, Serra do Mar,
Pantanal, Zona Costeira
● Quando há parâmetros aceitos pela OMS, sendo incerto a existência de efeitos nocivos que
comprometam o meio ambiente, não há que se utilizar do princípio da precaução para impor
novos padrões de exigência.
● Segundo o princípio do protetor-recebedor, as pessoas físicas ou jurídicas que adotarem
medidas para preservação ambiental deverão receber uma vantagem econômica
(compensação financeira) considerando que estão atuando em prol de toda a comunidade.
Não está previsto na PNMA, mas na lei de resíduos sólidos e no código florestal.
● Instrumentos de participação e controle popular nas políticas ambientais: Ação Popular,
Audiências Públicas obrigatórias em empreendimentos potencialmente causadores de
degradação ambiental; iniciativa popular de lei; direito de petição em matéria ambiental;
realização de consulta pública quando da criação de unidades de conservação.
● Toda atividade nuclear em Território Nacional somente será admitida para fins pacíficos e
mediante aprovação do Congresso Nacional.
● Só cabe a União autorização ou concessão para pesquisa e lavra de recursos minerais.
Entretanto, os municípios podem fiscalizar o cumprimento das normas ambientais art. 23: XI -
registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de
recursos hídricos e minerais em seus territórios;
● Segundo o STJ, aquele que cria ou assume o risco de causar danos ambientais tem o dever de
reparar os danos causados e, em tal contexto, transfere-se a ele todo o encargo de provar que
sua conduta não foi lesiva. Cabe, portanto, a inversão do ônus da prova, que se dá em prol da
35 ●
sociedade.
Ainda que determinado empreendimento tenha se dado em respeito às normas ambientais, o
órgão ambiental competente pode modificar, suspender ou cancelar licenças ambientais caso
haja superveniência de graves riscos ambientais ou à saúde, nos termos da Resolução do
CONAMA, art. 19. Caso o próprio órgão não realize tais modificações, é juridicamente possível
a pretensão de obrigar a empresa à implementação de certos critérios mais rigorosos, com
base em estudos científicos.
● A captação de energia solar prescinde de autorização prévia do órgão ambiental. Ainda, na
hipótese em que determinada propriedade que capte energia solar tenha reduzido o seu
potencial de captação em virtude de construção de prédio ao lado desta, é possível
indenização.
● O direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado afasta eventual tentativa
de desafetação ou destinação indireta, que consiste no ato jurídico administrativo ou legal,
pelo qual se extraio bem de sua destinação pública (ambiental), para retorná-lo à categoria de
propriedade privada, o que é prejudicial ao meio ambiente.

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